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II. Revisão Bibliográfica

2. Produção de bovinos de carne no Alentejo

2.3. Sistema de produção extensivo

2.3.2. Maneio Reprodutivo

Numa exploração de bovinos de carne, o principal produto rentável é o vitelo após a fase de desmame. Assim sendo, a reprodução é a principal causa que limita a eficiência produtiva das vacadas (Dickerson 1970, citado por Short et al., 1990) e o número de vitelos produzidos por vaca por ano é um dos factores com maior importância na eficiência biológica e económica na produção de bovinos de carne (Dickerson, 1978 citado por Carolino e colaboradores, 2000). Posto isto é imprescindível que o controlo reprodutivo e o seu maneio sejam o mais eficientes possível de maneira a que o sistema atinja a produtividade máxima. Qualquer falha inerente ao maneio se reflete na rentabilidade da exploração representando perdas económicas.

Uma das principais preocupações dos produtores hoje em dia é diminuir o intervalo entre partos, pois trata-se de um factor que influencia diretamente a produtividade. Melhorar os índices produtivos é também uma preocupação, podemos destacar por exemplo os índices de conversão alimentar, os ganhos médios diários e os índices reprodutivos como o aumento da taxa de fertilidade (Lopes da Costa, 2008).

Um bom maneio reprodutivo está dependente da relação e do equilíbrio entre a sanidade, a nutrição o ambiente e as características genéticas de cada animal.

De forma a melhorar a eficiência reprodutiva das vacadas é fundamental estabelecer objectivos e implementar estratégias que nos vão permitir alcançá-los. Como objetivos reprodutivos gerais a todas as explorações temos a preocupação em conseguir produzir um vitelo por ano por vaca e reduzir a idade ao primeiro parto.

As raças autóctones são a melhor opção no que respeita à escolha da linha mãe uma vez que são animais naturalmente bem adaptados às condições da região onde se inserem. As raças autóctones garantem que em regimes extensivos de pastoreio, em que a disponibilidade nutricional das pastagens depende das condições climáticas, os índices reprodutivos se mantenham aceitáveis.

Segundo Palhano (2008) um bom maneio reprodutivo visa um conjunto de medidas que orientam o produtor de modo a criar um planeamento reprodutivo da vacada melhorando o desempenho zootécnico do sistema. Aspetos como o maneio alimentar e sanitário bem como o potencial genético dos reprodutores influenciam diretamente a

No Alentejo, a época crítica da região acontece durante os meses de verão em que as temperaturas elevadas e a falta de água limitam a disponibilidade e qualidade do alimento afetando também a produtividade, uma vez que diminui a eficiência reprodutiva. Assim sendo, a taxa de fertilidade diminui quando a época de cobrição coincide com os meses de maior calor. As temperaturas elevadas fazem com que o comportamento sexual dos touros não tenha a normalidade habitual, além de que interferem com os mecanismos endócrinos das fêmeas afetando o ciclo éstrico.

2.3.2.1. Controlo reprodutivo

Num sistema de produção de bovinos de carne, a reprodução é o parâmetro fundamental para a rentabilidade económica do sistema. Um bom maneio reprodutivo permite aumentar a rentabilidade da atividade sendo que a produtividade destas explorações está diretamente dependente da eficiência reprodutiva que se pratica. Tal como já foi mencionado, o principal objetivo do sistema é obter um vitelo por ano e por vaca. Assim sendo, para que isso aconteça, é imprescindível adoptar estratégias de modo a maximizar as taxas reprodutivas aliando uma eficaz gestão das explorações (Romão, 2014).

Segundo (Madureira, 2001) os índices reprodutivos são considerados ferramentas essenciais para que seja feito um eficiente controlo reprodutivo da vacada. Quanto mais completas, rigorosas e fidedignas forem as informações obtidas nas explorações, maior será a possibilidade de obter índices de qualidade possibilitando um controlo reprodutivo eficiente.

Face aos dados gerais que se conhecem, os índices reprodutivos dos efetivos bovinos em Portugal, ficam bastante aquém dos valores possíveis de alcançar, fazendo uma gestão mais eficiente das questões reprodutivas ou utilizando tecnologias de reprodução (Lopes da Costa, 2011; Bettencourt, 2012).

Ao longo dos anos, o controlo reprodutivo nas explorações em regime extensivo do sul, tem vindo a aumentar. Entre 2001 e 2008, o controlo reprodutivo era muito reduzido ou nulo, porém, hoje em dia, a realidade é diferente. Atualmente todas as clínicas veterinárias da região oferecem aos produtores planos de controlo reprodutivo, nomeadamente a realização de exames andrológicos aos machos. Estes planos têm uma adesão significativa por parte dos produtores e a tendência é para que esta aumente graças ao incremento na eficiência reprodutiva que se tem verificado.

Na produção de bovinos de carne em extensivo, um dos principais objetivos que pretendemos alcançar é a otimização da taxa de fertilidade anual, isto significa que as

fêmeas têm que ficar gestantes, após o parto, num período não superior a 90 dias (Vinatea, 2009). Relativamente aos índices reprodutivos, o intervalo entre partos (IEP) é considerado um dos mais importantes (Madureira, 2001; Lopes da Costa, 2008; Vinatea, 2009). Este pode ser calculado para toda a vacada ou para cada fêmea em produção e o seu valor ideal é de 365 dias (Madureira, 2001; Lopes da Costa, 2008; Vinatea, 2009). Para que este número seja alcançável, o intervalo entre o parto e a fecundação não pode ser superior a 85/90 dias (Lopes da Costa, 2008). Segundo Vinatea (2009) para que o IEP seja de 365 dias, o período de anestro pós-parto não pode ser superior a 60 dias.

Existem determinados parâmetros que devem ser tidos em consideração para efetuar um controlo reprodutivo adequado. Segundo Robalo Silva (2003), para uma eficiente gestão reprodutiva deve ter-se em conta a idade média ao primeiro parto, a fertilidade anual, a distribuição de partos ao longo da época de parição, o IEP, a taxa de desmame bem como o peso médio dos vitelos ao desmame.

Para que se tenha acesso aos índices produtivos que nos transmitem a eficiência do sistema é essencial sensibilizar os produtores para a necessidade da recolha e tratamento de registos fidedignos da exploração. Segundo Carolino e colaboradores (2000) o IEP é uma forma simples e eficaz de medir a eficiência reprodutiva das vacas, sendo que, a partir dele é possível determinar o intervalo entre o parto e o primeiro cio, o número e duração dos ciclos éstricos que decorrem até à concepção e o tempo de gestação. O IEP está relacionado com o número total de vitelos desmamados e vendidos. Um valor superior deste índice corresponde a um número inferior de vitelos desmamados e consequentemente vendidos e vice-versa.

Sendo o IEP um dos índices mais importantes no que diz respeito à avaliação da eficiência reprodutiva, importa definir quais os factores que têm influência neste parâmetro. Segundo Leal da Costa (2012), o IEP é influenciado pelo maneio nutricional, condição corporal das fêmeas, fertilidade dos touros, estado sanitário dos animais e pelo maneio geral da exploração. Ferreira (1991) aponta a subnutrição, as doenças debilitantes e infecto-contagiosas bem como o maneio inadequando da vacada como as principais causas responsáveis por uma má performance reprodutiva. Todos estes fatores externos têm impacto direto na performance reprodutiva dos animais.

No âmbito da melhoria dos índices reprodutivos é importante que haja um programa de controlo reprodutivo nas explorações. Para que tal seja possível o criador tem que estar disponível e receptivo a um técnico sensibilizado e habilitado para o efeito (Lopes da Costa, 2008).

explorações, para que seja feito um acompanhamento periódico da condição corporal das fêmeas, garantir as necessidades nutricionais dos animais e reduzir o anestro pós-parto. Tendo em conta que também a fertilidade dos machos afeta os índices reprodutivos, é importante que seja feita anualmente, uma avaliação andrológica dos machos. Desta forma é possível eliminar machos sub-férteis salvaguardando a eficácia dos touros e um adequado rácio touro/vaca.

2.3.2.2. Época de cobrição

Na região sul de Portugal as cobrições baseiam-se num regime livre onde cada produtor decide o tempo de permanência dos touros na vacada (Robalo Silva, 2004).

A escolha por parte do produtor em ter ou não época de cobrição e o tempo de permanência dos touros na vacada, trata-se de uma técnica de maneio de fácil adaptação que não acarreta custos ao produtor (Valle et al., 1998) e que lhe permite optar por ter animais para venda durante todo o ano ou em épocas definidas. Segundo os mesmos autores, a opção de definir épocas de cobrição/parto e o encurtamento deste período, permite fazer coincidir o momento de maiores exigências nutricionais dos animais, com a altura de maior qualidade e disponibilidade forrageira, permitindo reduzir ou eliminar a necessidade de suplementação dos animais em épocas críticas.

Segundo Bettencourt e Romão (2008) o tempo de permanência dos touros na vacada designa-se por época de cobrição. Esta permanência pode ser contínua, onde os touros estão junto das vacas durante todo o ano, ou descontínua, em que são estipuladas determinadas épocas do ano em que o touro faz parte da vacada. Neste caso, a época de cobrição pode ter a duração de 6 a 7 meses, 3 a 4 meses ou apenas 2 meses.

Segundo Bento (2006) a maioria das explorações destinadas à produção de bovinos de carne no Alentejo opta por não ter uma época de cobrição definida, admitindo um regime contínuo de cobrição. Como consequência desta técnica de maneio, é impossível definir uma época de partos uma vez que estes se distribuem ao longo de todo o ano.

Existem porém vantagens e desvantagens em ter uma época de cobrição contínua. Podemos apontar como vantagens o facto de existirem vitelos para venda durante todo o ano (Lopes da Costa, 2011). Porém, neste tipo de sistema torna-se difícil calendarizar e gerir as diferentes ações de maneio durante o ano. Existe por exemplo, a necessidade permanente de identificar os vitelos ao nascimento durante o ano, que neste sistema induz ao desleixo e consequente atraso no registo do animal. Outra desvantagem é a dificuldade no maneio referente ao desmame e à possibilidade de criar lotes que facilitem

a suplementação dos animais, caso seja necessário. Num sistema com uma época de cobrição contínua é vulgar as fêmeas apresentarem IEP mais longos, existe o problema da variação sazonal da disponibilidade alimentar, a impossibilidade de padronizar o ciclo reprodutivo e a impossibilidade de criar lotes de animais de maneira a introduzir práticas de maneio como intervenções profilácticas, acompanhamento nutricional, desmames, diagnósticos de gestação e seleção de fêmeas para refugo.

Em 1995, Vaz e Robalo Silva afirmaram que os produtores de bovinos do Alentejo, utilizavam nos seus efetivos épocas de cobrição no outono com início em novembro e término em abril, permanecendo os touros na vacada durante 6 meses (Figura 2). Segundo estes autores, a escolha por esta época de cobrição tem como objetivo escapar às condições climáticas adversas coincidentes com os desmames de verão.

Figura 2. Modelo do ciclo reprodutivo típico do Alentejo (Fonte própria).

Determinando a época de cobrição com início em novembro e duração de 6 meses, os partos irão decorrer entre agosto e janeiro e a época de desmame irá coincidir com a primavera onde a disponibilidade alimentar é superior (Figura 2). Porém, segundo Robalo Silva (1999) esta época de cobrição não é a mais aconselhada uma vez que corresponde à fase em que as fêmeas apresentam pior condição corporal.

De acordo com Rodrigues (1998) no Alentejo existem duas épocas de cobrição e consequentemente de parto características. A época tradicional de partos que ocorre no verão, de agosto a outubro e a época de inverno onde os partos acontecem entre janeiro e março.

Cabe a cada produtor a escolha da época ou épocas de partos, devendo coincidir com o período de maior disponibilidade alimentar dependendo daquilo que se pretende privilegiar, se a capacidade leiteira da mãe ou o crescimento do vitelo após o desmame. O destino a dar aos vitelos após o desmame é também um fator a ter em conta na escolha das épocas de cobrição/parto (Rodrigues, 1998). Segundo o mesmo autor, a opção de ter época de cobrição/parto permite que os partos sejam concentrados num determinado período de tempo obtendo-se lotes homogéneos de animais para venda. Para que isto se verifique, é necessário um controlo reprodutivo eficiente nomeadamente

Segundo Valle e colaboradores (1998) e Bento (2006) a época de cobrição não deve ter uma duração superior a 3 meses para vacas adultas e 2 meses para vacas jovens. Uma duração superior terá implicações nomeadamente na perda de eficiência. Num sistema com época de cobrição, pretende-se que haja concentração dos partos num período de 2 a 4 meses, para isso a época de cobrição não deve ir além dos 3 meses.

Segundo Jainudeen e Hafez (2000) uma época de cobrição, tem de ter no mínimo a duração de 3 ciclos éstricos, sendo que 3 meses é o período de cobrição ideal, pois permite ao produtor identificar as fêmeas que apresentam melhor desempenho reprodutivo sendo que estas são as primeiras a parir na época de partos e desmamam os vitelos mais pesados (Valle et al., 1998). A utilização de épocas de cobrição mais curtas, em que o touro permanece na vacada apenas durante 3 ciclos éstricos, permite que sejam feitas suplementações alimentares estratégicas, intervenções profilácticas no momento adequado do ciclo reprodutivo, aplicação de tecnologias reprodutivas e a monitorização da condição corporal da fêmea e da sua eficiência reprodutiva (Lopes da Costa 2008). Também Romão (2014) considera que a opção por épocas de parto mais curtas é mais favorável em termos de comercialização e de gestão de mão de obra, pois permite uma homogeneidade dos lotes de vitelos e melhor qualidade daqueles em termos de conformação, representando um produto superior em termos de mercado. Apesar das vantagens em ter épocas de cobrição mais curtas, no caso de haver subnutrição severa durante o verão levando à perda acentuada de condição corporal, faz com que as fêmeas entrem num período de anestro bastante acentuado, que condiciona a probabilidade de gestação em sistemas com cobrição de 3 meses (Robalo Silva, 1999).

Como referido anteriormente, a escolha da época de cobrição, depende de quem se quer favorecer na altura de maior disponibilidade alimentar. No caso de se pretender privilegiar a capacidade leiteira da mãe para que o crescimento do vitelo durante a amamentação seja superior e consequentemente o seu peso ao desmame seja maior, os partos devem acontecer no inverno/primavera. Neste caso a época de cobrição deve acontecer entre abril e junho fazendo com que os partos ocorram entre janeiro e março (Figura 3).

Figura 3. Modelo do ciclo reprodutivo com época de parto no inverno (Adaptado de Lopes da Costa, 2011).

Para que a os partos ocorram durante esta altura e as fêmeas não cheguem à época de parto com uma condição corporal muito baixa, comprometendo a eficiência reprodutiva na época de cobrição, é necessário suplementar as fêmeas durante a fase de gestação que coincide com a época de disponibilidade alimentar mais baixa. Se pelo contrário se pretende privilegiar o crescimento do vitelo após o desmame, a época de parto deve decorrer entre o verão e o outono, de maneira a que o pico de produção de pastagens entre março e junho, coincida com a época de desmame dos vitelos (Bento, 2006) (Figura 4).

Figura 4. Modelo do ciclo reprodutivo com época de parto no verão (Adaptado de Lopes da Costa, 2011).

Neste sistema, o tempo necessário para suplementação quer das fêmeas quer dos vitelos é inferior, o que se traduz num menor gasto para o produtor.

Em suma, segundo Lopes da Costa, (2008) e Bettencourt e Romão (2009a) definir épocas de reprodução é o passo mais relevante para a obtenção de uma boa eficiência reprodutiva uma vez que permite ajustar a melhor época de disponibilidade alimentar aos períodos críticos do ciclo reprodutivo das fêmeas. Além disso, deve ter-se em conta o genótipo da fêmea e a sua capacidade reprodutiva em condições de carência alimentar, o clima e as variações sazonais onde o sistema se insere bem como a variação do mercado face ao preço e procura destes produtos devem ser também fatores a ter em consideração.

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