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Número de vitelos nascidos e tipos de cruzamento

III. Trabalho experimental

3.1 Número de vitelos nascidos e tipos de cruzamento

Relativamente ao efetivo das explorações que deram origem aos registos usados no presente estudo, podemos notar, a partir da análise da Tabela 8 e Figura 13, que a percentagem de animais que nascem em linha pura (41,27%) é inferior à percentagem de animais cruzados (58,73%).

A maior percentagem de animais que constitui o efetivo de bovinos não tem raça definida, sendo considerados animais indiferenciados assim como a carne a que dão origem. Isto significa que estes animais surgem de cruzamentos entre animais de diversas raças. A razão pela qual a percentagem de animais indiferenciados é tão

elevada, poderá advir do fraco controlo reprodutivo que é efetuado nas explorações em regime extensivo nesta região, o que possibilita que os cruzamentos entre animais de diferentes raças, presentes no efetivo, sejam aleatórios e desconhecidos pelo produtor. Neste regime de produção, a maioria dos touros usados no cruzamento com a raça Mertolenga são animais de raça indeterminada. Assim sendo, os seus produtos não podem ser considerados cruzados de Limousine, Charolês ou outro. A preferência em criar animais provenientes de cruzamentos entre raças mais produtivas, cujos ganhos médios diários são superiores, pode ser outra razão que justifique o facto da percentagem de animais cruzados que nascem ser superior aos de linha pura.

Através das tabelas 8 e 9, podemos também tirar conclusões acerca das principais raças usadas em cruzamento com a raça Mertolenga e saber quais as suas proporções. Durante estes anos, a raça mais usada para cruzamentos foi a Limousine (3,07%) seguindo-se a raça Charolesa (1,81%). Estes valores estão de acordo com a bibliografia encontrada relativamente ao tipo de cruzamentos usados na região do Alentejo (SPREGA, 2004; Barata, 2013).

Tabela 8. Número de animais nascidos em linha pura e em cruzamento.

Identificação do genótipo do vitelo no SNIRA Nº de partos % de partos

Mertolenga 26427 41,27

Animais Cruzados 32733 51,12

Cruzado Blanc-Blue-Belge 311 0,49

Cruzado de Charolês 1158 1,81

Cruzado de Aberdeen-Angus 514 0,80

Cruzado de Blonde de Aquitaine 924 1,44

Cruzado de Limousine 1964 3,07

Figura 13. Número de animais nascidos em linha pura e em cruzamento.

Relativamente ao efetivo total ao longo dos anos, podemos concluir a partir da Tabela 9 e Figura 14, que o número de animais explorados em linha pura (raça Mertolenga) é, em todos os anos, inferior ao número de animais cruzados. Os animais de raça Mertolenga representam aproximadamente 40% do efetivo total e os animais cruzados aproximadamente 60%.

Em 2015 verificou-se uma ligeira variação, sendo que os animais em linha pura aumentaram cerca de 2% no efetivo e os animais cruzados diminuíram na mesma medida, no entanto, esta variação praticamente não tem significado relativamente ao tamanho do efetivo.

Como foi possível concluir pela análise dos dados das explorações da raça Mertolenga, os nascimentos registados são maioritariamente de animais cruzados.

Tabela 9. Número de nascimentos registados em linha pura e em cruzamento ao longo dos anos.

Partos 2012 2013 2014 2015 N % N % N % N % Mertolenga 6442 40,83 6257 40,50 7264 40,91 6464 42,96 Cruzados 9337 59,17 9193 59,50 10491 59,09 8583 57,04 Mertolenga Animais cruzados Cruzado BB Cruzado de Charolês Cruzado de Aberdeen-Angus Cruzado de Blonde de Aquitaine Cruzado de Limousine

41,27%

Figura 14. Percentagem de animais nascidos em linha pura e cruzados em cada ano.

Segundo Horta e colaboradores (2013), no Alentejo, nos efetivos reprodutores atuais predominam, fêmeas cruzadas de raças autóctones com raças exóticas e, concretamente em relação à raça Mertolenga, parte considerável das fêmeas desta raça são exploradas em cruzamento industrial, assim, a grande maioria dos animais que vão para abate são cruzados. Esta tendência está de acordo com a Tabela 9.

As raças autóctones como a Mertolenga, apresentam relativamente às raças exóticas menor eficiência produtiva (peso ao nascimento, ganho médio diário, rendimento de carcaça, índice de conversão) (Horta et al., 2013), por essa razão os produtores optam por fazer cruzamentos industriais de maneira a conjugar a boa adaptabilidade das raças autóctones com os índices produtivos superiores das raças exóticas.

No Alentejo, é frequente o uso de cruzamentos terminais com raças de carne com potenciais de crescimento superiores às raças autóctones. Aqui, são efetuados cruzamentos maioritariamente entre fêmeas de raça Mertolenga com touros de raça Limousine e/ou Charolês. Estes cruzamentos têm como finalidade tirar partido da conjugação de dois patrimónios genéticos distintos, potenciando a manifestação da heterose, isto é, tem como objetivo que os descendentes adquiram as melhores características de cada um dos progenitores caracterizando-se por serem animais maiores e melhores do ponto de vista produtivo, do que aqueles que lhes deram origem (Ferreira, 2014). O cruzamento entre reprodutores de diferentes raças dá origem a uma descendência F1 onde todos os animais provenientes destes cruzamentos destinam-se ao abate, não sendo utilizados como reprodutores.

Nas explorações do Alentejo, as raças autóctones como a Mertolenga são criadas como linha mãe graças às suas características vantajosas de adaptabilidade às condições climáticas da região, boas características reprodutivas e boa capacidade maternal, relativamente às raças exóticas (Bettencourt e Carolino, 2008). Porém, estes

40,83 40,5 40,91 42,96 59,17 59,5 59,09 57,04 0 10 20 30 40 50 60 70 2012 2013 2014 2015 % d e Pa rto s Ano de Parto Mertolenga Cruzada

cruzamentos põe em causa a continuidade da exploração de raças autóctones em linha pura, sendo assim necessário desenvolver estratégias que valorizem no mercado, os produtos com origem neste tipo de raças. Segundo os mesmos autores, a raça Mertolenga pertence a esta problemática da região sul, as fêmeas da raça apresentam boas características maternas sendo capazes de produzir bons vitelos e podem ser exploradas em linha pura dando origem a produtos DOP ou em cruzamento com raças exóticas.

Relativamente a um estudo realizado por Carolino e colaboradores (2000), estes verificaram que o número de animais nascidos em linha pura numa vacada Mertolenga da Sociedade Agrícola da Herdade de Porches era superior ao número de animais cruzados. Isto porque os responsáveis pela exploração têm vindo a optar por explorar fêmeas em linha pura em detrimento dos animais cruzados, devido a uma maior valorização da raça Mertolenga, tanto dos machos vendidos, como dos produtos DOP obtidos a partir de animais da raça. Também as novilhas Mertolengas, servem como fonte de rendimento à exploração por serem vendidas a outros produtores para substituição dos seus efetivos. Torna-se por isso importante avaliar os prós e contras quando se trata de escolher o tipo de efetivo e cruzamentos que se pretende obter na exploração e quais poderão dar origem a um retorno económico mais atraente.

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