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II. Revisão Bibliográfica

3. Eficiência de produção

3.1. Eficiência na produção de bovinos de carne

O sector da produção animal é responsável por empregar cerca de 1,4 biliões de pessoas por todo o mundo, assegurando a subsistência de 600 milhões de pequenos agricultores pobres nas regiões em desenvolvimento (Thornton et al., 2006).

A eficiência na produção animal é um parâmetro de particular importância, uma vez que, dela depende a optimização da produção de alimentos necessários para responder, de forma sustentável, ao desafio de alimentar a população mundial em permanente crescimento.

A forma como a produção animal é gerida e optimizada, tem particular relevância na questão da eficiência produtiva (Thornton, 2010).

Como em qualquer tipo de produção animal, a produção de bovinos de carne deve obedecer a critérios e estratégias de gestão que permitam atingir a rentabilidade económica da atividade. Para que tal aconteça, é fundamental gerir os custos e as receitas, de modo a que as receitas sejam sempre superiores aos custos (Romão, 2014).

Os custos inerentes à obtenção de produtos de origem animal, dependem em primeira instância da eficiência de três parâmetros básicos: da fêmea, da reprodução e do crescimento da cria. A otimização dos sistemas de produção, é uma oportunidade para baixar os custos de produção e rentabilizar o produto obtido. Assim, para que tal aconteça devem ser adoptadas estratégias como técnicas de maneio alimentar, reprodutivo, melhoria das condições sanitárias e implementação de planos de melhoramento genético de forma a baixar os custos de produção.

Relativamente à produção de bovinos de carne em regime extensivo, Vinatea e Madrigal (2010), assumem que os maiores custos de produção estão relacionados com a alimentação, mão-de-obra e com a taxa de reposição das fêmeas adultas.

Neste sistema, a eficiência do desempenho reprodutivo afeta diretamente a sua rentabilidade, uma vez que está diretamente relacionada com a obtenção de um vitelo desmamado por ano e por vaca, tratando-se de um sistema cuja eficiência é óptima (Bettencourt e Romão, 2009b; Vinatea e Madrigal, 2010).

De maneira a melhorar a eficiência produtiva dos sistemas de produção de bovinos de carne, é importante que se faça um ajustamento das características genéticas da vacada às condições dos locais onde se inserem (Nielsen et al., 2013). É neste ponto que as raças autóctones tomam especial atenção. Definir objetivos claros de melhoramento genético nestas raças, permite maximizar o ganho genético obtido (Amer et al., 2001).

Paralelamente definir estratégias reprodutivas eficazes contribui, também, para um aumento da rentabilidade e eficiência do sistema de produção.

Em explorações de bovinos em extensivo, é importante que sejam traçados objetivos que permitam alcançar a otimização do desempenho produtivo e reprodutivo da vacada mantendo a viabilidade económica e evitando o máximo possível a degradação do ambiente (Valle et al., 1998).

A partir da análise dos parâmetros produtivos e reprodutivos é possível analisar as populações de animais e estudar a eficiência do sistema. Neste sistema, os índices de seleção devem incluir tanto a performance da fêmea como do vitelo. Assim, importa que o produtor tenha um controlo eficiente de todo o efetivo e proceda ao registo dos parâmetros, para que posteriormente seja seguido o caminho com fim a melhorar toda a rentabilidade do sistema produtivo.

3.2. Raças autóctones e desenvolvimento rural

A abertura do mercado mundial de carne de bovino e o aumento da competitividade tanto por outros países, como por outras espécies animais, tornou necessário aumentar a eficiência do sector pecuário, nomeadamente da produção de bovinos de carne. Para que a eficiência do sistema aumentasse, foram usadas estratégias de melhoramento de raças tornando-as mais produtivas.

O cruzamento industrial é uma técnica que visa o cruzamento de raças diferentes com o objetivo de obter animais com características complementares de ambas as raças e ainda tirar partido da heterose. A combinação das qualidades desejáveis das raças parentais permite a obtenção de descendentes de nível superior, aumentando assim a eficiência na produção de carne.

Devido à substituição das raças autóctones por raças mais produtivas, com melhores índices produtivos e reprodutivos, bem como devido à expansão da mecanização agrícola, o número de animais de raças autóctones atingiu valores próximos da extinção. Felizmente, a crescente preocupação em preservar o ambiente e a maior preocupação com o bem-estar animal por parte da sociedade, fez com que fosse desenvolvido um esforço em encontrar novas formas de produção pecuária compatíveis com uma agricultura sustentável. A partir deste momento, as raças autóctones voltam novamente a ter expressão pelas suas características de boa adaptação às condições edafoclimáticas desfavoráveis das regiões onde se inserem, à sua capacidade maternal, facilidade de partos, qualidade dos vitelos desmamados e resistência a doenças e

As raças autóctones portuguesas fazem parte do património nacional a nível histórico e cultural. Estas raças são maioritariamente encontradas no meio rural onde desempenham um papel fundamental na fixação das populações a estes locais, bem como no seu equilíbrio ecológico. Adicionalmente representam uma atração de carácter gastronómico, cultural e social. Foi devido aos seus baixos níveis produtivos que estas raças começaram a ser substituídas por raças exóticas mais produtivas. No entanto, estas raças têm capacidades únicas de adaptação ao meio onde se inserem, tirando partido das condições ambientais adversas e restritivas a nível alimentar. Características com as quais as raças exóticas não conseguem competir.

Portugal possui quinze raças autóctones de bovinos oficialmente reconhecidas (SPREGA, 2004), sendo que ainda muitas delas enfrentam risco de extinção. Na região do Alentejo, existem quatro raças autóctones a partir das quais se produz carne de bovino. Aquelas com maior expressão são a raça Alentejana e Mertolenga, seguindo-se a raça Brava de Lide com 7505 fêmeas inscritas no livro genealógico, (5787 das quais em linha pura) (SPREGA, 2016a) e a raça Preta com 4636 fêmeas inscritas no LG (1736 das quais em linha pura) (SPREGA, 2016b), sendo que as duas primeiras são aquelas cuja expressão é mais significativa na produção de bovinos em regime extensivo na região.

As questões de otimização e eficiência, são dois pontos fundamentais em qualquer sistema de produção, e a produção de bovinos de carne não é exceção.

Numa vacada, o principal fator que limita a eficiência produtiva para a produção de carne é a reprodução (Short et al., 1990), sendo que a obtenção de um vitelo por ano e por vaca representa um dos fatores com maior importância na eficiência biológica e económica da exploração (Carolino e colaboradores, 2000).

De maneira a que os sistemas de produção sejam eficientes e rentáveis, é importante ter conhecimento dos índices produtivos e reprodutivos das raças usadas na produção e saber qual a influência que estes parâmetros têm na produção de carne e sobretudo na sua eficiência. Sendo assim, existem determinados índices que devemos avaliar e comparar com os valores biologicamente possíveis, de maneira a avaliar a eficiência reprodutiva de uma exploração. Segundo Robalo Silva (2003), os parâmetros mais utilizados para medir esta eficiência são:

(a) a distribuição de partos ao longo da época de parto (caso exista), ou no caso de um regime de cobrição livre deve ser avaliado o IEP;

(b) a taxa de fertilidade; (c) a taxa de gestação; (d) a taxa de desmame; (e) a idade ao primeiro parto.

Relativamente a estes índices, o IEP (a), corresponde ao tempo que decorre entre um parto e o parto seguinte (Romão, 2014). Nos casos em que o IEP é superior a 365 dias, significa que a vaca não irá produzir um vitelo por ano como é desejável. Se considerarmos que o tempo médio de gestação desta espécie varia entre 285 a 290 dias e a duração de cada ciclo éstrico é de 21 dias, para que o IEP seja de 365 dias, o período de anestro ocorre entre 75 a 80 dias (Bettencourt e Romão, 2009b). Segundo Fernandes (2011) para que o IEP seja inferior a um ano, o intervalo entre o parto e a concepção não deve ultrapassar os 83 dias.

A taxa de fertilidade (b) ou fertilidade média anual define-se como o número de fêmeas paridas no total de fêmeas colocadas à cobrição (Romão, 2014). Este índice permite ao produtor conhecer a percentagem de vacas que deu origem a um vitelo durante uma determinada época de cobrição e assim avaliar a produtividade das fêmeas. A taxa de gestação (c), é feita comparando o número de fêmeas com gestação confirmada com o número total de fêmeas postas à cobrição a data do exame de gestação com a taxa de fertilidade (Romão, 2014). Este índice permite ao produtor detetar problemas de aborto que existam na exploração. O exame de diagnóstico de gestação é feito através da palpação transrectal com recurso à ecografia e deve ser feito a partir dos 30-40 dias após a saída do touro da vacada.

A taxa de desmame (d) segundo o autor anteriormente referido, define-se como o número de vitelos desmamados a dividir pelo número total de vacas colocadas à cobrição. Ao comparar este índice com a taxa de fertilidade, podemos identificar problemas nados-mortos ou de mortalidade peri-natal.

A idade ao primeiro parto (IPP) (e), corresponde à idade média das fêmeas primíparas aquando do primeiro parto. A gestão eficiente da recria das novilhas de substituição, permite que os valores obtidos de IPP sejam melhorados, tanto nas raças autóctones como nas raças exóticas. A alimentação é o fator decisivo no que respeita a uma recria adequada das novilhas de substituição. O sistema extensivo de produção de bovinos, não deve ser associado a um sistema do tipo “passa-fome”. Havendo a necessidade de suplementar os animais em determinas épocas do ano é fundamental que tal seja feito, para que a eficiência reprodutiva das fêmeas não seja comprometida.

3.3. Indicadores produtivos e reprodutivos

Como foi referido no tópico anterior, a avaliação da eficiência de uma exploração é determinada a partir da comparação de determinados índices produtivos e reprodutivos

A eficiência do desempenho reprodutivo afeta diretamente a rentabilidade da exploração, assim, é importante ter conhecimento dos índices que servem de base à avaliação da eficiência da exploração.

De seguida vão ser apresentadas algumas características produtivas e reprodutivas da raça Alentejana e Mertolenga uma vez que são as duas raças autóctones de bovinos mais representativas dos efetivos da região sul (Tabela 3).

Tabela 3. Características produtivas e reprodutivas das raças Alentejana e Mertolenga.

REPRODUTIVOS

PARÂMETROS RAÇAS AUTÓCTONES

Alentejana Mertolenga

IPP 36,5±7,4 meses (e) 36 meses (b)

IEP 442±137 dias (e) 449±140 (f)

Fecundidade 70-80% (d) Taxa de fertilidade 70-80% (b) 93 (g) -95% (h) Idade média ao desmame 6 – 8 meses (d) 6-8 meses (a)

Peso médio dos vitelos ao desmame

213,1 kg PV (d) 163,2±37,1 kg (f)

Peso médio dos vitelos ao

desmame por 100 kg de PV da mãe

26 kg (a) 29 kg (a)

PRODUTIVOS

Peso médio dos vitelos ao nascimento

Machos 35,4 kg (d) 25,8 kg (b)

Fêmeas 32,1 kg (d) 23,1 kg (b)

Peso médio dos bovinos adultos Machos 900-1100 kg (d) 900 kg (f) Fêmeas 600-700 kg (d) 450-500 kg (f) Ganho médio diário 1253,52 g/dia (d) 935±188 g/dia (f) Idade média de refugo

Machos 4 - 8 anos (e)

Fêmeas 12 anos (e)

(a) Rodrigues, 1998; (b) Rodrigues el. al., 1998; (c)Dias,. 2008; (d) Carolino 2006 citado por ACBRA, 2017f; (e) ACBRA, 2017e; (f) ACBM, 2017c; (g) Barbosa, 2001; (h) Ventura-Lucas et al., 1999.

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