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Efeito do ano de parto e da época de parto no IEP

III. Trabalho experimental

3.6 Efeito do ano de parto e da época de parto no IEP

No que diz respeito ao ano e época de parto, observou-se que ambos os fatores têm efeito altamente significativo no IEP (p<0,0001). A partir da análise da Tabela 13, podemos concluir que o IEP tem vindo a aumentar ao longo dos anos em estudo apesar da ligeira diminuição que ocorreu no último ano. Este cenário mostra que houve uma diminuição da eficiência reprodutiva nos anos em estudo. O ano em que as fêmeas apresentaram pior performance reprodutiva foi 2014 cujo valor de IEP encontrado foi de 452,12 dias ou seja, 87 dias acima do valor ideal para o IEP.

Tabela 13. Intervalo entre partos (IEP) médio por ano de parto e número de partos por ano.

Ano de parto Nº de registos IEP (dias)

2012 198 328,32 d

2013 8819 425,88 c

2014 13002 452,12 a

2015 14514 430,64 b

* Níveis não relacionados pela mesma letra são significativamente diferentes (p<0,01).

Carolino (2006) afirmou que o efeito do ano de parto sobre o IEP que se verifica, normalmente se deve ao maneio praticado em cada ano, associado às disponibilidades alimentares que diferem bastante entre anos, particularmente nos sistemas extensivos, por estarem mais sujeitos ao efeito da variabilidade das condições climáticas. Num sistema de produção em extensivo, a alimentação dos animais depende fortemente das condições ambientais que se vivem na região, especialmente quando a alimentação dos animais se faz à base de pastagens.

No presente estudo não foi estudada a diferença entre o IEP de vacas primíparas e multíparas, porém em outros estudos, alguns autores concluíram que existem diferenças entre elas (Buxadé, 1995 e Liénard et al., 2002 citados por ANCGVM, 2016). Um IEP superior em vacas primíparas poderá estar associado a uma dificuldade de recuperação pós-parto das fêmeas que ainda não atingiram a plenitude do seu desenvolvimento fisiológico (Abreu et al., 1998 citados por Vieira, 2010), de uma deficiência nutricional, graças a fatores do meio ambiente ou ainda devido ao stresse provocado pela lactação que influencia principalmente as primíparas. Outros autores verificaram que não existem diferenças entre vacas primíparas e multíparas, (Legide, 1996 citado por ANCGVM, 2016). A ANCGVM acredita que a razão de não terem sido identificadas diferenças no IEP entre vacas primíparas e multíparas, se deve ao facto dos

acasalamentos se iniciarem numa idade tardia, o que permite que as fêmeas tenham completado o seu desenvolvimento e crescimento, e à eficiente gestão de suplementação dos animais em épocas críticas. Outra forma de gerar melhores valores para a IPP das primíparas, pode ser conseguido a partir de um maneio em que as novilhas são recriadas em grupo separado do restante efetivo e assim permanecendo até à segunda cobrição. Tal acontece uma vez que é necessário recorrer à suplementação alimentar das jovens fêmeas, permitindo um aumento da eficácia desta prática, uma vez que as novilhas não têm de competir pelo alimento com as fêmeas mais velhas. Estas práticas de maneio evitam que as fêmeas apresentem problemas que mais tarde se venham a refletir na eficiência reprodutiva, causados pelas suas necessidades de crescimento durante a gestação.

Outros estudos averiguaram que a longevidade produtiva tem efeito sobre o IEP. Vários autores concluíram que a partir de um determinado número de partos as fêmeas diminuem a sua eficiência produtiva apresentando intervalos maiores entre um parto e o parto seguinte. Vieira e colaboradores (2010) chegaram à conclusão de que a partir do oitavo parto as vacas tendem a apresentar IEP superiores. As razões para isto acontecer podem ser devidas, a problemas de partos anteriores, como partos distócicos, retenções placentárias e infeções que podem comprometer progressivamente a fertilidade das fêmeas. Determinados surtos de doenças ou alterações no maneio da exploração podem também afetar o IEP das fêmeas que constituem o efetivo.

Tendo em conta estes resultados obtidos em outros estudos, podemos adaptar o maneio que é feito nas nossas explorações, tendo como certo que, esta adaptação vai melhorar o IEP das explorações em geral. É importante ter presente que quanto maior for o primeiro IEP de uma fêmea, maior será o valor médio da exploração para este parâmetro. Não existem, até hoje, dados sobre a quantificação deste tipo de maneio nas novilhas de substituição, mas pensa-se que são muito poucos os criadores que o praticam.

O mês de parto é outro parâmetro com efeito sobre o IEP. A partir do estudo dos registos foi possível concluir que existem diferenças altamente significativas entre o mês de parto e o IEP, (p<0,0001). Analisando a Figura 20, podemos verificar que os animais cujos partos ocorrem nos primeiros meses do ano apresentam menores valores de IEP relativamente aqueles que parem no final do ano. Os meses com valores de IEP inferiores são março e abril sendo setembro e novembro aqueles cujos IEP são superiores. Porém, entre setembro e dezembro, não se verificaram diferenças entre as médias.

Figura 20. Intervalo entre partos médio por mês de parto nos quatro anos em estudo.

Nos partos que ocorrem em março e abril beneficia-se a capacidade leiteira da mãe, uma vez que a disponibilidade de alimento é superior, o que se traduz num melhor crescimento do vitelo durante a amamentação. Para as vacas paridas em setembro e novembro existe uma maior tendência de perda de condição corporal uma vez que nesta altura a disponibilidade alimentar é reduzida, havendo a necessidade de suplementação dos animais, para que a eficiência reprodutiva futura não seja comprometida. Porém, os vitelos que são desmamados na fase de desmame associada a esta época de partos, irão beneficiar de maior disponibilidade alimentar durante fase de recria uma vez que esta coincide com a primavera onde há abundância de pastagens de qualidade.

Apesar de ter havido algumas variações ao longo dos anos em estudo, os meses onde o valor de IEP foi mais alto e mais baixo, coincidem quase sempre. Em média, os partos que ocorrem no início do ano apresentam menores IEP, contrariamente aos partos que ocorrem no final do ano (Figura 21). O ano 2013 foi o que apresentou IEP mais baixos, em relação aos outros anos, até ao mês de julho, a partir do qual, o IEP aumentou, possivelmente porque a disponibilidade de alimento começou a diminuir. Este ano poderá ter apresentado condições favoráveis para a produção agrícola e de pastagens tendo-se refletido numa melhor eficiência reprodutiva comparativamente com os outros anos.

A partir desta análise (Figura 21), podemos concluir que os partos que ocorrem numa época em que a disponibilidade alimentar é maior, correspondendo aos meses de

441,23 426,06 421,36 418,07 430 435,11 438,8 446,44 453,02 448,12 451,88 449,6 400 410 420 430 440 450 460 J F M A M J J A S O N D IE P ( di as ) Mês de Parto

primavera, as fêmeas apresentam IEP inferiores. Assim sendo, conclui-se que o reinício da atividade cíclica é mais precoce para estes animais.

Figura 21. Intervalo entre parto médio por mês e por ano de parto.

As flutuações de disponibilidade alimentar que se verificam ao longo dos meses poderão ser a principal causa para estas diferenças entre meses de parto. Aqui, existe uma forte influência das condições climáticas vividas ao longo dos meses, nomeadamente as variações dos índices pluviométricos e de temperaturas. A disponibilidade e qualidade de alimento para os animais depende diretamente destes fatores. Nos meses onde o nível de precipitação é superior, o IEP é menor. Esta evidência tem a ver com o facto de que nos meses onde a abundância de água é maior, existe maior disponibilidade de erva e de melhor qualidade permitindo que os animais recuperem a sua condição corporal pós-parto e consequentemente que retomem a sua atividade cíclica mais cedo. Além da disponibilidade de água, também a temperatura tem influência na performance reprodutiva dos animais. Nos meses mais secos e quentes que correspondem aos meses de verão (junho, julho, agosto) o IEP é superior. Os animais que parem nestes meses demoram mais tempo a reiniciar a atividade cíclica. Contrariamente à conclusão a que Carolino e colaboradores (2000) chegaram. Apesar de terem verificado que o IEP era influenciado pelo mês de parto da fêmea, concluíram que os partos que ocorrem no verão têm IEP mais curtos. Assim, partiram do pressuposto de que o reinício da atividade cíclica é antecipado para vacas cujos partos ocorrem entre julho e outubro e mais tardio para aquelas cujos partos ocorrem no inverno. Outro estudo

320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 J F M A M J J A S O N D IEP (d ia s ) Mês de Parto Geral 2013 2014 2015

realizado por Horta e colaboradores (2000), revelou resultados em concordância com o estudo acima referido.

Também o trimestre de parto teve efeito sobre o IEP. Os resultados da ANOVA permitiram concluir que existem diferenças altamente significativas entre os trimestres de parto (p<0,0001). Neste tópico verificou-se que as vacas que parem no primeiro e segundo trimestre apresentam IEP menores em relação às que parem no terceiro e quarto trimestre. Não há diferença significativa de médias entre o primeiro e segundo trimestre assim como não é significativa a diferença entre o terceiro e quarto trimestre. Relativamente a este estudo, verificámos mais uma vez que 2014 foi o pior ano em termos de performance reprodutiva uma vez que em todos os trimestres o IEP foi superior em relação aos outros anos (Figura 22).

Ao se confrontarem os valores médios de IEP constatou-se que as vacas cujos partos ocorrem no último trimestre do ano (outubro, novembro e dezembro) apresentaram valores médios de IEP superiores comparativamente com aquelas que pariram no primeiro trimestre do ano concretamente durante os meses de fevereiro e março cujos valores médios de IEP foram inferiores. Assim sendo, podemos concluir que concentrando os partos durante o primeiro trimestre do ano irá favorecer a eficiência reprodutiva do sistema uma vez que irá diminuir o IEP e consequentemente será obtido um maior número de animais produzidos por ano.

Figura 22. Intervalo entre partos médio por trimestre e por ano de parto. 430 427 447 450 366 401 438 468 451 448 462 450 429 422 439 437 340 360 380 400 420 440 460 480 T1 T2 T3 T4 IE P ( di as ) Trimestre de Parto Geral 2013 2014 2015

A estação do ano em que o parto ocorre tem, também, efeito altamente significativo sobre o tempo que decorre entre um parto e o parto seguinte (p<0,0001).

A partir da Figura 23, podemos constatar que o IEP é inferior para vacas cujos partos ocorrem na primavera e maior para aquelas que parem no outono.

Figura 23. Intervalo entre partos médio por estação de parto e por ano.

O efeito da sazonalidade sobre as raças de bovinos domésticas é referido há muitos anos por Hammond (1927) mostrando que o IEP é maior para vacas paridas no inverno em oposição aquelas que parem no verão.

Existem fatores diretos e indiretos que afetam o início da atividade ovárica após o parto. Podemos dar ênfase a aspetos como a amamentação, a produção de leite, involução uterina, problemas pós-parto, maneio nutricional e fatores relacionados com a estação do ano, nomeadamente o fotoperíodo (Peters e Lamming, 1984).

Em Portugal, concretamente na região do Alentejo em que a produção de bovinos de carne em linha pura e em cruzamento é feita essencialmente em regime extensivo, a reprodução é feita durante todo o ano, o que significa que não existem épocas de cobrição/parto bem definidas. Neste regime, as principais estações de reprodução situam-se entre outubro e março (Horta et al., 2000).

Num estudo realizado pelos mesmos autores, constatou-se que as vacas de raça Alentejana que parem no inverno, devido aos dias curtos desta estação e à nutrição deficiente na parte final de gestação, interagindo entre si, prejudicam o reinício da atividade ovárica pós-parto e consequentemente aumentando o IEP nesta altura.

Relativamente ao mesmo parâmetro em estudo Reis (2010) ao estudar o efeito da estação de parto no IEP, verificou que existem diferenças entre explorações com e sem

423 441 451 438 393 424 460 424 447 457 456 451 414 436 441 437 360 380 400 420 440 460 480

Primavera Verão Outono Inverno

IE P ( di as ) Estação de Parto Geral 2013 2014 2015

épocas reprodutivas definidas. A autora verificou que apenas nas explorações com épocas definidas existem diferenças significativas entre o IEP, sendo o verão e o outono aquelas cujo intervalo é maior. Os resultados encontrados foram semelhantes aqueles que se apresentam neste estudo, o que nos pode levar a concluir que nas explorações que deram origem aos registos em estudo existiam épocas reprodutivas definidas.

Por último, a partir da Tabela 14, onde se estudou a influência do sexo do vitelo nascido sobre o IEP, constatou-se que esta não existe (p>0,1).

Tabela 14. Efeito do sexo do vitelo nascido no intervalo entre partos (IEP). SEXO

Valor de P

M F Erro Padrão

Nº Observações 18375 18158 0,4450

IEP (dias) 437,90 437,04 0,80

Outros autores em estudos semelhantes encontraram resultados diferentes. Alguns estudos sugerem que os machos aumentam a intensidade de amamentação e como consequência retardam a atividade ovárica pós-parto o que leva a um prolongamento do IEP (Martin, 1985; Galeano e Manrique, 2010). Em contrapartida, existem autores que chegaram a resultados, que estão de acordo com o presente estudo, onde não houve influência do sexo do vitelo nascido sobre o IEP (Daza et al., 1997; Vergar et al., 2009; Vieira et al., 2010; Ferreira, 2014).

Existem outros motivos que levam a que outros autores considerem que o sexo do vitelo influencia o IEP. Laster e colaboradores (1973), afirmaram que quando o vitelo nascido é macho, há uma maior dificuldade de parto, o que contribui de forma significativa para o retorno em cio e interfere na futura taxa de conceção. Além disso, os vitelos machos apresentam em relação às fêmeas maiores ganhos médios diários. Uma vez que existe uma correlação positiva entre o ganho de peso do vitelo e a perda de peso da mãe, isto faz com que a condição corporal da fêmea seja menor (Marlowe e Gaines,1958). Uma vaca com baixa condição corporal demora mais tempo a retomar o cio pós-parto o que leva a um maior IEP (Belo, 2013).

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