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Mudanças climáticas e recursos hídricos: considerações para pesquisa. - Portal Embrapa

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Academic year: 2021

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M u d a n ças clim áticas e re cu rso s h íd rico s: con sid e raçõ es p a r a p esquisa

E m ilia H am ada E m brapa M eio Am hienle emilia@ cnpm a.em brapa. br

G erson A ra ú jo d e M ed eir o s

Centro Universitário Salesiano de Sào Paulo - UNISAL gerson.m edeiros@ am .unisal.br

Resumo: A água é elemento essencial e estratégico para o desenvolvimento de uma região,

pois é um recurso finito, vulnerável e essencial para a conservação da vida e do meio

ambiente. A bacia hidrográfica, por sua vez, é adotada na gestão de recursos hídricos como a

unidade básica de planejamento e de gestão territorial. Os padrões de precipitação estão

mudando no mundo e prevê-se como impacto das mudanças climáticas a alteração na

freqüência e intensidade da precipitação e secas mais intensas e longas, particularmente nos

trópicos e sub-trópicos. Para o Brasil, a maior vulnerabilidade aos efeitos adversos das

mudanças climáticas é reforçada pela sua economia fortemente dependente de recursos

naturais diretamente ligados ao clima na agricultura, na geração de energia hidroelétrica,

entre outros setores. Essa característica do país evidencia a premente necessidade de se

estudar a vulnerabilidade e os impactos da potencial modificação climática sobre os recursos

hídricos no Brasil, tomando-se um assunto estratégico, e possibilitando planejar potenciais

medidas mitigadoras em associação com as ações existentes de gerenciamento dos recursos

hídricos. O objetivo do presente trabalho fo i apresentar uma revisão e discussão sobre

algumas abordagens de pesquisa relacionadas ao impacto das mudanças climáticas globais

na agricultura e recursos hídricos.

Palavras-chave: Mudanças climáticas: bacia hidrográfica: recursos hídricos.

1. In trod u ção

A m u d an ça clim ática glo b al co m eço u a se r d isc u tid a e m finais d a d éc ad a d e 1980, no âm bito d o P ro g ra m a d as N aç õ e s U n id as p a ra o M eio A m b ie n te e d a O rg an ização M eteo ro ló g ica M undial, com o a p o io do s estu d o s do P ain el In je rg o v em am en tal so b re M u d an ça C lim ática, c o n h ecid o p e la su a sig la e m inglês, IPC C . N o T erceiro R elató rio de A v aliação (T A R ), o IP C C (2 0 0 1 ) con clu iu q u e a te m p eratu ra m é d ia d a a tm o sfera a u m en to u em 0 ,6 °C ± 0,2°C d u ra n te o sécu lo X X . P ro je ta -se um a u m en to p ro v áv el n a te m p e ra tu ra glo b al e n tre 2 °C e 4 ,5 °C a m ais d o q u e o s n ív e is reg istrad o s antes da era Pré-IndustriaL, seg u n d o o Q uarto R elatório de A valiação (A R 4 ) (IP C C , 2007).

N o B rasil, a lg u n s trab alh o s têm apo n tad o p a ra u m a v a ria b ilid a d e c lim ática e aum e n to d a tem p eratu ra (P in to et al., 20 0 3 ; S ala ti et al., 2006). P in to e t al. (2 0 0 3 ) a v aliaram a ev o lu ção da te m p e ratu ra m ed id a no p o sto m e teo ro ló g ico d o C e n tro E xperim ental d o In stitu to A gro n ô m ico de C am p in as, no p erío d o d e 1890 a 2 002, e v erificaram u m a c réscim o sig n ific a tiv o de cerca de 0 ,0 2 °C /an o na te m p eratu ra m é d ia m ín im a anual, o u seja, u m a u m en to d e 2°C n o s ú ltim o s 100 anos. O s m e sm o s au to res o b serv aram a v aria ç ã o n a te m p era tu ra m ín im a n a c id ad e d e P elotas - R S n o p erío d o de 1895 a 2 0 0 2 , e v e rific a ra m u m a u m en to de 0,0 0 9 °C /an o , o q u a l é inferio r a o v e rific ad o e m C am p in as, p ro v av e lm en te d ev id o à m a io r fre q ü ê n c ia d e en tra d a de frentes fria s n o Sul d o P aís (P in to et al., 20 0 3 ). J á S alati e t al. (2 0 0 6 ) o b serv aram u m a e lev aç ão d a tem p eratu ra m é d ia m en sal d e 0 ,7 8 °C no m u n icíp io de P iracic ab a - S P , no p erío d o d e 1989 a 2 0 0 3 , q u a n d o c o m p arad o a o p e río d o d e 1917 a 1988.

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V I S IM P Ó S IO D E EN G EN H A R IA A M BIENTAL

3 0 d e a b r il a 3 d e m a io d e 2 0 0 8 , S e r r a N e g r a , S P

C e n á rio s SRES

I » Regonal

/;° 'ra s conduto'®*

FIGURA 1. Ilustração esquem ática dos cenários SRES, representando a s quatro "fam ílias" (A l, A 2, B I e B2) de form a sim plificada. Fonte: A daptado de IPCC (2005).

H am a d a e t al. (2 0 0 8 ) a v aliaram o s ce n á rio s c lim ático s futuros p ara o B rasil. F o ram escolh id o s dois cen á rio s p a ra o B rasil, A 2 (m ais p e ssim ista) e B 2 (m ais o tim ista), p a ra as d écadas ce ntradas em 2 0 2 0 (2 0 1 0 - 20 3 9 ), 2 0 5 0 (2 0 4 0 -2 0 6 9 ) e 2 0 8 0 (2 0 7 0 - 2099). O s m apas dos cenários futuros foram resu ltan tes da m é d ia d as re sp o stas de se is m o d e lo s c lim ático s globais de p revisões futuras: C C S R /N IE S (C en tre fo r C lim ate R esearch S tu d ies M o d el), C G C M 2 (C anadian G lo b al C o u p led M odel ve rsio n 2), C S IR O -M k 2 (C o m m o n w ealth S cien tific and Industrial R esearch O rg an iz atio n G C M m ark 2), E C H A M 4 (E u ro p ean C en tre H am burg M odel versio n 4), G F D L -R 3 0 (G e o p h y sical F luid D yn am ics L abo rato ry , R -30 resolu tio n m odel) e H a dC M 3 (H ad le y C en tre C o u p le d M odel versio n 3), d isp o n ib ilizad o s em IPC C (2006). O s au to re s verificaram q u e n o B rasil h a v e rá no futuro aum en to d a te m p eratu ra m éd ia d a su perfície, p o rém esse s ac ré sc im o s n ã o serão u n ifo rm es p ara to d o o P aís e v a riarã o ao lo ngo d o s m eses do an o (F ig u ra 2).

FIG U RA 2. Tem peratura média (°C) d e Julho e A gosto para os anos de 2020, 2050 e 2080, dos cenários A 2 e B2, representada pela média de seis modelos clim áticos globais do Terceiro Relatório de A valiação (TAR ) do IPCC. Fonte: A daptado de H am ada e t al. (2008).

2020

B2i A2a

4

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H á um raz o áv el con sen so (a té 9 0 % d e ch an c e) q u e essas alteraçõ es no clim a glo b al sâo em co n seq ü ên c ia d o aum e n to da c o n ce n traç ão d e g ases d e efeito e stu fa n as últim as d écadas ocasio n a d as p e la s ativ id a d es antró p icas e n ão p o r eventual v a riab ilid ad e n atu ral d o clim a (IP C C , 2007). D en tre as dive rsa s m anifestaçõ es da m u d a n ça global d o p la n e ta d estacam -se não som ente o aq u e cim en to glo b al, m as tam b é m significativ as alteraçõ es n o c lim a p ela m aio r freqüência e inte n sid ad e de e v en to s e x trem o s n a form a de enc h en tes, o n d a s de calor, secas, fu racões e tem p e stad es, etc.

S eus im p acto s no s sistem as natu rais e hu m an o s a p rese n tam , n o e n tan to , efe ito s diferen te s, d epen d en d o d o n ív el de v u ln erab ilid ad e d o sistem a. N e ste sentido, o s p aíses em d esen v o lv im en to são o s m ais v u ln eráv e is a essas m u danças d o c lim a, p o d en d o se r d u ram en te atin g id o s p e lo s seu s e fe ito s a dversos. P ara o B rasil, isso é reforçado p e la su a e c o n o m ia fortem en te d e p en d en te d e recu rso s natu rais diretam e n te ligados ao clim a n a agricu ltu ra, na g eração de energ ia h id ro elétrica, entre o u tro s s e to res ( M U D A N Ç A D O C L IM A , 2005). S im u laçõ es so b re o e fe ito do a u m en to d a tem p eratu ra e p recip ita ção s o b re a p oten cialid ad e da c a fe icu ltu ra no s estad o s de G o iás, M in a s G erais, S ão P au lo e P araná, foram realizad as p o r A ssad e t al. (2004). O s resu ltad o s ob tid o s p o r esses au to re s indicaram u m a redução de área a p ta p a ra a cultu ra d o cafeeiro su p erio r a 95 % em G oiás, M in as G erais e S ã o P aulo, e de 75 % n o P a ran á, n o ca so d e u m a u m en to na te m p eratu ra de 5,8°C . T al m ud an ça afetaria fortem ente a e c o n o m ia d essas re g iõ e s p rodutoras.

O u tro im p a cto d a m u d a n ça c lim ática na ag ric u ltu ra foi sim u lad o so b re a ág u a d isp o n ív el do solo em ag ro eco ssiste m as de soja, m ilh o e trig o n as condiç õ es a m b ien tais de S an ta M aria - R S (S T R E C K , A L B E R T O , 2006). E sses au to res criaram cen ário s m eteo ro ló g ico s no s q u a is a q u a n tid a d e d e C O 2 foi d u p lic a d a e av aliad a c o m d iferen tes au m en to s de te m p eratu ra d o ar e sem aum en to d a p rec ip itaçã o total. O s resu ltad o s d e sse trab alh o dem o n straram q u e 0 aum en to da tem p era tu ra dim in u iu a fração de á g u a tra n sp iráv el do so lo pelas p lan tas, to m ando vulnerá v eis a p ro d u ç ão d as cu ltu ra s d e s o ja e m ilh o , n as c o n d içõ es d e c u ltiv o d e verão. T a is resu ltad o s evid en ciam a p re m en te necessid ad e de se estu d a r a v u ln era b ilid ad e e risco clim ático , conh e cen d o p ro fu n d am en te as suas cau sas, a fim d e su b sid ia r p o lític a s p ú b lic a s de m itigação e d e ad a p taç ão a o s efe ito s d as m u d an ças clim áticas.

O obje tiv o d o p resente trabalho foi a p resen tar u m a revisão e d iscu ssão sobre algum as abo rd ag e n s d e pesq u isa endereçan d o so b re o im p acto d a s m u danças clim áticas g lo b ais na a g ricu ltu ra e recursos h ídricos.

2. C en á rio s c lim á tic o s futuros

P ara p ro je ta r ce n ário s p ro v áv eis de alteraçõ es clim áticas p a ra 0 futuro, 0 IP C C tem adotado m o d e lo s m atem á tic o s d o sistem a c lim ático global, d e n o m in a d o s d e m o d elo s clim áticos g lobais. E sse s m o d elo s são c o n sid erad o s p e la m aio ria d a co m u n id ad e c ien tífica co m o a m e lh o r ferram enta, p o is le v am e m c o n ta d e fo rm a q u a n titativ a (n u m érica) 0 co m p o rtam en to d o s co m p a rtim en to s clim ático s (a tm o sfera, ocean o s, crio sfera, v eg etação , solos, etc .) e su as inte rações, p e rm itin d o q ue se sim u lem pro v áv eis cen ário s de e v o lu ção d o clim a p ara difere ntes concen traçõ e s de em issõ es d o s g ases d e efeito e stu fa (M U D A N Ç A D O C L IM A , 2005). O s cen á rio s clim á tico s do IP C C , co n h ecid o s co m o S R E S (“ S pecial R eport on E m issio n s S cenarios” ) são b a se ad o s em q u atro p ro jeç õ es d iferen tes d e e m issõ es de g ases de efe ito e stu fa p a ra 0 futuro, relacio n ad o s com asp e c to s d e d e se n v o lv im en to so cial, econ ô m ico e tecn o ló g ico , c re sc im e n to populac io n al, p reo cu p a ção c o m 0 m eio a m b ien te e diferen ças reg io n ais, d efin id o s n as q u atro fam ílias, d e n o m in a d as A l , A 2, B I e B 2 (IP C C , 2 0 0 1 ) (F igura 1). O s resultados d e sses m o d e lo s são d isp o n ib ilizad o s p e lo C e n tro de D istrib u ição de D ados (D D C , na s ig la em in g lês) d o IPC C .

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A te m p eratu ra m éd ia v a rio u en tre o s diferentes m o d e lo s c lim ático s g lo b a is, p orém em todos e le s v e rific o u -se u m a u m en to d a te m p eratu ra m é d ia no futuro. A lém d isso , o s m aio res v alores d e te m p eratu ra m éd ia foram ob serv a d o s no cen ário A 2 , c o m p a ra d o a o c en ário B2. A o co n trário d o s p ad rõ e s de tem peratura, o nde to d a s a s p ro jeçõ es indicam a q u ecim en to , os v ário s m o d elo s c lim ático s m ostram d iferen ças sig n ificativ a s d e p ad rõ es pluv io m étrico s, à s v ezes com pro jeçõ es q u a se q u e d iam etralm en te o p o stas (M U D A N Ç A D O C L IM A , 2005). P o r e sse m o tiv o , a prec ip itaçã o , particu la rm en te, é po b rem en te rep resen tad a em m o d elo s c lim ático s g lobais, ta n to e sp a cialm en te q u a n to tem p o ralm en te, o q u e lim ita a sim u la ção e x ata d as m u d an ças clim áticas so b re a r e sp o sta d as c u ltu ras ag ríco las (P A R R Y et a l„ 2004). D e sta form a, as p ro jeçõ es d e m u d an ça no s reg im es e distrib u ição de c h u v a, deriv ad as do s m o d elo s g lo b ais d o T A R e A R 4 d o IP C C p a ra clim as m a is q u en tes no futuro não são c o n clu siv as e a s in ce rtez as são a in d a g ran d es, p o is dep en d em do s m o d e lo s e d as regiões co n sid erad as (M A R E N G O e t al., 2007).

A fim de d im in u ir essas incerteza s, H a m ad a e t al. (2 0 0 8 ) ob tiv eram a m éd ia de to d o s os m o d elo s c lim ático s g lo b ais e c o n clu íram h a v e r u m in d icativ o de alteraçõ es no s p ad rõ es de p recip itação no B rasil, c o m m u d an ça na su a d istrib u ição , c o m co m p o rtam e n to dife ren ciad o n as d iv ersas reg iõ es d o P a ís e ao longo d os m ese s d o ano (F ig u ra 3). D estacam -se , no fiituro, red u çõ es de p re cip itaç ão n a s re g iõ es N o rte e N o rd este d o B rasil, m a is intensas no c en ário A2, c o m p arad o ao B2. O IP C C (2 0 0 7 ) ale rta tam b ém p ara possív eis au m en to s na freqüência de e v en to s intensos de p re cip itaç ão so b re a m aio ria d a s áreas c o n tin en tais, o q u e é consistente com a q u ecim en to e a u m en to d o v a p o r d ’ág u a n a atm o sfe ra e se cas m ais inten sas e m ais longas, p a rtic u larm en te n o s tró p ico s e su btrópicos.

VI S IM P Ó S IO D E EN G EN H A R IA A M BIENTAL

3 0 d e a b r il a 3 d e m a io d e 2 0 0 8 , S e r r a N e g r a , S P

FIGURA 3. Precipitação média diária (m m /dia) de N ovem bro e D ezem bro para os anos de 2020, 2050 e 2080, dos cenários A2 e B2, representada pela média de 6 modelos clim áticos globais do Terceiro Relatório de A valiação (TAR ) do IPCC. Fonte: A daptado de H am ada e t al. (2008).

O IP C C (2 0 0 7 ) a le rta tam b ém p ara o s p o ssív eis aum e n to s na freq ü ên cia d e e v en to s intensos de p re cip itaç ão so b re a m aio ria d as área s con tin en tais, o q u e é co n sisten te co m o aquecim en to e o aum en to do v a p o r d ’ág u a n a atm o sfe ra e secas m ais inten sas e m ais longas, particu larm en te n o s tró p ico s e su btrópicos.

O s d a d o s ou saíd a s d isp o n ib ilizad o s p o r esses m o d elo s possu em e n tre su as c a ra cterísticas, a b a ix a reso lu ç ão esp acial (e scala globa l) e a b aix a reso lu ção tem poral (m éd ias m en sais representando m éd ia de intervalo d e décad as), m e sm o a p esar d o s avan ço s a lcan çad o s d esd e 1990 até rece n tem en te (F ig u ra 4).

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F IG U RA 4. Ilustração esquem ática das características d e resolução geográfica das geraçfies de modelos clim áticos utilizados nos relatórios do IPCC: Prim eiro Relatório d e A valiação (FA R), Segundo Relatório de A valiação (SA R), Terceiro Relatório de A valiação (TA R ) e Q uarto Relatório de A valiação (AR4). Fonte: A daptado de IPCC (2007).

P or outro lad o , m u ito s do s tem a s d e e stu d o necessitam d e u m a e sc a la m ais d etalh ad a, c o m o o regional e o local e, alg u m as v ez es, tam b ém em in terv a lo s d e te m p o m aio res. N e ste sen tid o , a fim d e se ob ter cen ário s m a is c o n fiáv eis em escala e sp acial e em e sc a la tem poral m ais d etalhadas, o C en tro d e P rev isão d e T em p o e E stu d o s C lim ático s (C P T E C ) d o Instituto N acio n al de P e sq u isas E spaciais (IN P E ) v e m trab alh an d o c o m m o d elo s re g io n alizad o s p ara o B rasil, c o m b o a e x p ectativ a q u e lo g o e sse s d ad o s e starão d isp o n ív e is p a ra o s estudos. 3 . M u d an ças clim áticas e ág u a

A o lo n g o d as últim as décad as, a cresce n te c o n sciê n cia d a ág u a c o m o recu rso lim itad o e a p re o cu p aç ão c o m o s p ro b lem as re su ltan tes d a ráp id a u rb an ização e c o m o s risco s d e escassez h íd rica, c o n d u z iram a um a re fo rm u lação d o m o d elo tra d icio n al d e g e stão de recursos h ídricos (V IE IR A & R IB E IR O , 2005).

O s c o n flito s p elo u so da ág u a po d em se a ltera r c o m o c o n seq ü ên cia d a s m u danças d o clim a, p o r ex em p lo , p e la alteraç ão d a d e m an d a d e ág u a , e x ig in d o o le v an tam e n to d a s q u e stõ es de g e ren ciam e n to h ídrico.

A p rec ip itaçã o é um d o s p a râ m e tro s h id ro ló g ico s cu ja s p re v isõ e s têm a p o n ta d o p a ra um a m udança no s se u s v alo re s s azonais.

Salati e t al. (2 0 0 6 ) a v a lia ram a rela ção e n tre a p recip itação m é d ia m en sal v e rificad a em P iracicaba, SP , n o p e río d o de 1989 a 2 0 0 3 , e aquela o b serv ad a de 1917 a 1988. O s resultados indicaram u m a u m e n to d as precip ita çõ es, esp e c ia lm e n te no s m ese s d o v erão e d a p rim avera. E sse a u m en to a tingiu u m v a lo r d e 144 m m ao an o , o u de 11,4% .

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A lém d a precip itaç ão , o u tro s fatores co m o a tem p eratu ra, a evap o tran sp ira ção d e referên cia, a u m id ad e d o solo etc. influ e n ciam n a d isp o n ib ilid ad e h íd rica d as bacias h idrográficas. E m e stu d o s c o m b a c ia s hid ro g ráfic as, a lém d a s lim ita çõ es dad as p e la s características do s m od elo s clim ático s g lobais, con sid ere-se ta m b ém a dificu ld ad e ao an a lisa r po ten ciais im p acto s neste n ív el d e plan ejam en to te rrito rial ad v in d a d a in certeza so b re o com p o rtam en to fu tu ro d o r eg im e d e c huvas.

B o u w er et al. (2 0 0 4 ) em e stu d o d e im p acto h id ro ló g ic o e m u m a m icro b a cia h idrográfica, p ropuseram “d o w n scalin g ” a p lic a d o ao s d ad o s d o s m o d elo s de m u d an ç a clim ática, utilizan d o m éto d o s de in terpolação e estatístico s, co m v alid aç ão p ara ca d a caso, em particular, e x ig in d o u m a g ran d e q u an tid a d e d e d ad o s locais.

S am p er et al. (2007) a v aliara m o s im p acto s d a m u d an ça c lim átic a no s recu rso s h íd rico s da b a cia h id ro g ráfic a d o rio A lcanadre, n o rte d a E spanha. O s autores defin iram o p erío d o de calib ração en tre o s a n o s de 1970 e 2 0 0 0 e, tam b ém , três p e río d o s de sim ulação c o m p reen d en d o o s an o s e n tre 2 0 1 0-2040, 2040 -2 0 7 0 e 207 0 -2 1 0 0 . O s resu ltad o s das pro jeçõ es do m od elo d e circu laçã o glo b al C G C M 3 foram usad o s p a ra o s cen ário s A 1 B , A 2, B I e C o m m it do IP C C . O c en ário p ro p o sto p rev iu u m a dim in u ição sig n ificativ a d a p recip itação m éd ia anual, c o rresp o n d en te a 1,4% , 9 ,0 % , 9 ,2 % para o s p e río d o s de sim u lação en tre 2 0 10-2040, 2 0 4 0 -2 0 7 0 e 2 0 7 0-2100, respectivam ente. A tem p eratu ra m é d ia anual foi e lev ad a de 1,1°C, 2,0°C e 2,7°C p ara cad a p erío d o de sim ulação. O s re su ltad o s ob tid o s p elos au to res indicaram p ro je çõ es de d im in u içõ es n as vazõ es de ap ro x im ad am en te 9 ,6 % , 25 ,0 % e 2 6 ,4 % p a ra ca d a p erío d o de sim ulação.

T u cc i (2002), ap resen ta u m a e x te n sa rev isão s o b re o s im pactos d a v ariab ilid ad e clim ática e d o uso do so lo sobre o s rec u rso s h ídricos. N esse estu d o , re su ltad o s de levantam entos h id ro ló g ic o s e m eteo ro ló g ico s re a lizad o s e m g ran d es bacias d a reg iã o su d este, co m o a d o R io P araná, R io Paraguai e Rio U ruguai, dem o n stram a gra n d e d ificu ld ad e de se d e lim ita r a real in flu ên cia d as m u d an ç as c lim ática s no s recu rso s híd rico s. D en tre o s fatores q u e dificu ltam a ob te n ção de d a d o s c o n c lu siv o s estão a s p ro fu n d as alterações no uso do so lo , o co rrid as n os ú ltim o s q u a re n ta an o s e m estad o s co m o o P aran á e R io G ra n d e d o S u l, e o aum en to d a precip ita ção , m ais lig ad o à v a riab ilid ad e clim ática.

E stu d ar a v u ln e rab ilid ad e e o s im p ac to s d a p o ten cial m o d ificaç ão clim ática sobre o s recursos híd ric o s no B ra sil, te n d o co m o b ase a un id ad e d a b a c ia h id ro g ráfica é u m assu n to estraté g ico p a ra o P aís, perm itin d o , se gundo T u cci (2002), p la n e ja r p o te n cia is m edidas m itigadoras em asso cia ção c o m a s a çõ es ex iste n te s d e geren ciam en to do s recu rso s h ídricos. Esse a u to r av alio u o d e sem p e n h o de q u a tro m od elo s c lim ático s g lo b ais p ara a p re v isã o c lim ática n as sub bacias do rio U ruguai.

O s m o d elo s u tiliza d o s foram o G IS S (G o d d ard Institute fo r S p ace S tu d ies), G F D L (G eo p h y sical Flu id D yn a m ic L abo ra to ry ) e U K M O ( U n ited K ingdom M eteorological O ffice). J á o s ce n ário s a v aliad o s co rre sp o n d e ram a 1 x C O 2, q u e re p resen ta a q u an tid ad e de C O 2 ex isten te n a a tm o sfera n os an o s sessen ta e; 2 x C O 2 0 qual represen ta a d u p licação d o C O i na atm o sfe ra, p re v isto p ara a m etad e d o pró x im o século. A s saíd as d o s m o d elo s referente s à te m p e ratu ra e p re cip itaç ão foram u sad a s p a ra e stim ar 0 esco am en to su p erficial em s u b bacias d o R io U ru g u ai, p o r m eio d o m o d elo h id ro ló g ic o IP H -II (T U C C I e t a l., 1998).

O s re su ltad o s o b tid o s p o r T u cc i (2 0 0 2 ) d e m o n stram a discrep ân cia nas a v aliaçõ es re alizad a s a p a rtir d e d iferen tes m od elo s m atem ático s, p o is e n q u an to o m o d elo G IS S prev iu u m a red u ção de 9 ,62 a 14,14% , o m odelo G F D L pre v iu um a u m en to d e 13,9 a 3 2,5% , princip a lm en te dev id o à elevação sig n ificativ a da p rec ip itação d e o u tubro. J á a s p re v isõ e s do m od elo U K M O apon ta ram u m a red u ç ão d e 2 ,4 a 2 ,6 % p a ra as bacias de m o n tan te e aum en to d e 4 ,8 a 2 1 ,2 % p a ra a s b a c ia s de jusan te.

VI S IM P Ó S IO D E EN G EN H A R IA A M BIENTAL

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4. C on sid er a çõ es finais

A p a rtir d a rev isã o rea liz ad a, p o d e -se ch e g a r à s s eg u in tes co nclusões:

O s cen ário s de m u d an ç as clim átic as a p o n tam p ara u m a v u ln erab ilid ad e d a p ro d u ção agríco la e e c o n o m ia n o s p a íse s e m d e sen v o lv im en to , co m o o B rasil;

U m a m e lh o r a ferição d o im p acto d as m u d a n ças clim áticas so b re o s rec u rso s híd rico s, n o tad am e n te a vazão, te m s id o d ificu ltad a p e la sep a ra ç ã o e n tre a m u d an ça e a variab ilid ad e clim ática; p e la in flu ên c ia de o u tro s fatores d e term in an tes n o reg im e h íd ric o do s rios, co m o a m u d an ça d o u so e o cu p ação do so lo e p e la c a rê n c ia de d a d o s h id ro ló g ico s, e m especial nas m icro e p eq u e n a s b a c ia s hidrog rá ficas;

O s m o d elo s c lim á tic o s g lo b ais, ap e sa r d e ap rese n tarem p o r v ezes re su ltad o s conflitan tes, têm d em o n strad o se r u m a p o d ero sa ferram enta p a ra a ela b o ra ç ã o de cen á rio s d e m u danças clim áticas, av a lia ç ã o d e im p acto s a m b ien tais e in stru m e n to p ara a to m ad a d e decisão. R eferên cias

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