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Diamantina : análise de uma coleção de livros

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Academic year: 2022

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Universidade de Brasília (UnB) Faculdade de Ciência da Informação Curso de Graduação em Museologia

DANTE BRESOLIN

DIAMANTINA: ANÁLISE DE UMA COLEÇÃO DE LIVROS

BRASÍLIA, DF

2015

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DANTE BRESOLIN

DIAMANTINA: ANÁLISE DE UMA COLEÇÃO DE LIVROS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Museologia da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília como parte dos requisitos parciais para a obtenção do título de Bacharel em Museologia.

Orientadora: Profª. Msc. Silmara Küster de Paula Carvalho

BRASÍLIA, DF

2015

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Dedico este trabalho à minha esposa,

Rosa Maria, e às minhas filhas, Diana,

Helena e Beatriz.

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AGRADECIMENTOS

É hora de agradecer e de citar nomes. Mas, como já sou septuagenário, acho que serei perdoado pelos inúmeros lapsos de memória. Dos que se sentirem esquecidos, espero a magnanimidade dos seus perdões. Mas vamos lá, agradeço penhoradamente:

Aos que me trouxeram à vida, minha querida mãe, Nice, por tanto desvelo e carinho, e meu extremado pai, Antônio, que me ensinou a amar os livros;

À minha esposa, Rosa Maria, meu pedaço de Diamantina, e às minhas filhas, Diana, Helena e Beatriz, verdadeiros brilhantes, lapidados pelas minhas ausências;

A todos os irmãos, parentes, colegas e amigos, pelo constante suporte;

Aos prezados professores, homens e mulheres, de todas as minhas conquistas acadêmicas, pelas manifestações de bondade comigo;

À Profª. Silmara Küster de Paula Carvalho, orientadora deste trabalho, que diz não possuir coleções, mas tem um gigantesco acervo de alunos gratos e devedores;

Às professoras Ana Lúcia de Abreu Gomes, Maria de Jesus Evangelista e Celina Kuniyoshi, membros da banca examinadora, que fazem o que fazem, com alegria, intensidade, amor e dedicação admiráveis;

Ao brilhante amigo Erick Guilhon, pela primorosa revisão deste trabalho e à Srta. Jéssica Medeiros pela caprichosa preparação da apresentação;

Aos dedicados amigos, jornalista Joaquim Ribeiro Barbosa e ao historiador Antônio de Paiva Moura, pelas constantes contribuições e conselhos;

A todos os autores de livros, por terem dedicado partes das suas vidas a enaltecer as histórias, as belezas e as heranças culturais da velha Diamantina;

Aos desenhistas Guignard, Percy Lau e outros, pelas preciosas e belas ilustrações nos livros de Diamantina;

Aos seresteiros Genaro Cruz, Expedito Silvério da Silva e Boanerges Vieira, pelas aulas de admiração à Lua e a Diamantina, e

Aos silenciosos livros da Coleção Diamantina, que, quietos e perfilados nas

suas prateleiras, estão sempre dispostos, em qualquer momento, a abrirem suas

páginas, porque não dizer seus corações, e compartilharem comigo todas as suas

riquezas, suas músicas, seus poemas, seus aromas, seus sofrimentos, suas

histórias e seus amores.

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“Becos estreitos, tortuosos, aladeirados. Esquinas ora convenientes ora inoportunas. Treliças, muxarabiês, chafarizes. Portas de rangidos conspiratórios. Rótulas que se fecham e abrem furtivamente. Cochichos reprimidos, olhares de soslaio. – A que lembranças me remetem esses recantos obscuros, esses pormenores de construção, esses viveres cautelosos? Que época me evoca esse clima tenso de conversas entrecortadas, de silêncios reveladores? Que gentes povoariam esses nascentes arruamentos? Escravos, mucamas, reinóis, degredados, galés, tropeiros, mascates, garimpeiros, padres, prostitutas, contrabandistas, intendentes, contratadores? Todos estes personagens me parecem familiares. Assim como os ambientes que impunham a escolha de palavras, o sopesar de assuntos, a mania da dissimulação. Só vislumbro um cenário com tais peculiaridades: o Arraial do Tijuco.”

Joaquim Ribeiro Barbosa

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RESUMO

Este trabalho analisa as características da cidade de Diamantina – MG, a partir dos conteúdos existentes em um conjunto de livros sobre o velho burgo. Trata-se de um acervo do autor da presente pesquisa, denominado Coleção Diamantina, e está localizado em Brasília, DF. A coleção compreende 705 livros e ainda existem ao redor de 392 a serem procurados, totalizando uma lista de 1097 livros. A coleção foi iniciada em 1966 e chega até a atualidade. Foi gerada uma lista de 172 vultos e personalidades de Diamantina. Quanto aos autores de livros, uma listagem mostra que 392 são do gênero masculino e 104, do feminino. Os dados que a leitura dos livros da Coleção Diamantina propicia dizem respeito a sua história, personalidades, escravidão, mineração de diamantes, Chica da Silva, Juscelino Kubitschek, música, alimentos, carnaval, serestas, vesperatas e todas as razões que levaram a cidade a ser considerada pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Palavras-chave: Capistrana. Diamante. Passadiço. Serenata. Vesperata.

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ABSTRACT

This paper analyzes the characteristics of Diamantina - MG, from the existing content into a set of books on the old village. This is a collection of the author of this research, called Diamantina Collection, which is located in Brasília, DF. The collection comprises 705 books and there is still around 392 to be researched, completing a list of 1097 books. The collection began in 1966 and comes up to the present day. It was generated a list of 172 figures and personalities of Diamantina.

Regarding to the authors, a list shows that 392 are male and 104 are female. The data that the reading of the books in the collection give us, presents its history, personalities, slavery, diamond mining, Chica da Silva, Juscelino Kubitschek, music, food, carnival, serenades, vesperatas and all the reasons that led the city to be considered by UNESCO as Cultural Heritage of Humanity.

Keywords: Capistrana. Diamond. Passageway. Serenade. Vesperata.

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NOTA EXPLICATIVA

A relação dos livros da Coleção Diamantina está no Apêndice A. Naquela listagem, os livros estão arrolados por ordem alfabética dos seus títulos e são numerados com três algarismos, exemplo: 079, 080, 081. No texto deste estudo, as citações dos livros da Coleção Diamantina aparecem entre parênteses com a letra do apêndice seguida do número do livro, desta forma (A-079). A mesma lista do Apêndice A contempla a referência a livros que ainda são Procurados e a relação desses livros, mostra-os com as numerações precedidas da letra P antes do número, por exemplo: P166, P167, P168 em diante. Nesses casos, ao longo do texto, as citações desses livros da coleção aparecem entre parênteses, precedidas da letra do apêndice, assim: (A-166) ou (A-P166).

As citações das referências bibliográficas obedecem às normas da ABNT.

O texto desta pesquisa, portanto, apresenta duplo referenciamento: o dos

livros da Bibliografia Consultada e o dos livros da Coleção Diamantina.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...11

2. DESENVOLVIMENTO...14

2.1 Coleções...14

2.2 A Coleção Diamantina e sua história...16

2.3 Análise da coleção...21

2.3.1 Características quantitativas...21

2.3.2 Características qualitativas...22

2.4 Os ensinamentos da Coleção Diamantina...22

3. CONCLUSÕES...35

4. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA...37

APÊNDICES...I

Apêndice A...II

Apêndice B...LIX

Apêndice C...LXIII

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1. INTRODUÇÃO

O estudo de coleções pode gerar informações e conhecimentos fundamentais para a interpretação e o entendimento das características de uma determinada realidade. Para Regina Abreu (2005):

A prática de colecionamento pode ser considerada universal. Em todas as culturas humanas, os indivíduos formam coleções, sejam particulares, sejam coletivas. O ato de colecionar pode ser mesmo pensado como uma operação mental necessária à vida em sociedade, expressando modos de organização, hierarquização de valores, estabelecimento de territórios subjetivos e afetivos. Colecionar, neste sentido, significa estabelecer ordens, prioridades, inclusões, exclusões e está intimamente associado à dinâmica da lembrança e do esquecimento, sem a qual os indivíduos não podem mover-se no espaço social (ABREU, 2005, p. 103).

Provavelmente, as mais antigas coleções originalmente estavam guardadas em cavernas ou residências primitivas, que são motivo de interessantes achados arqueológicos. O ímpeto de guardar, organizar, estruturar, arquivar, restaurar e manter grupos de objetos perde-se na memória dos tempos. De acordo com Klein (2011, p. 50), “colecionar é uma das formas mais antigas – e perduráveis – de tentar enxergar uma ordem no caos”. E continua o autor: “A coleção é uma arte da memória, uma tentativa de aglutinar tempos que normalmente não se aproximam.

Tempos paralelos. A coleção é a oportunidade de prestar atenção nas impurezas do tempo, que às vezes parece não funcionar de forma linear e sim de forma irregular, caprichosa” (KLEIN, 2011, p. 51). Em consonância com esse pensamento, o autor desta pesquisa também vive, enquanto colecionador, num caos livresco e tenta organizá-lo. Mas, como acontece com qualquer colecionista, faz isso de uma forma irregular, caprichosa, ao seu próprio gosto, tentando dar uma linearidade à coleção.

Esse antigo hábito de coletar e organizar objetos deu origem aos gabinetes de curiosidades e, mais tarde, aos museus. Segundo Rússio (1984, p. 62), “a musealização é uma das formas da preservação”. E preservação aqui tem o sentido de guarda, conservação e mostra. O museólogo Mário Chagas (2009), por seu turno, admite que, mesmo que nem tudo possa ser musealizado, tudo passou a ser museável. Os livros, no caso, podem ser museáveis e musealizados.

A arte de colecionar, mais modernamente, além dos objetos e bens materiais,

inclui os bens imateriais. Em consequência, surgiram os museus de patrimônios

imateriais ou intangíveis. Quem coleciona objetos acaba atribuindo a eles uma

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significação. No caso da coleção de livros, essa significação já foi feita pelos próprios autores, e não há como desafiá-las. Como a um sommelier, não cabe a ele atribuir bouquet a um vinho: cabe identificar e apreciar.

Interpretações psicológicas deste tipo de comportamento do colecionador procuram explicá-lo como uma tentativa de retorno e manutenção de experiências prazerosas do passado ou mesmo de reforço de condutas que não se querem ver repetidas. Outros ainda veem o ato de colecionar como uma forma de empoderamento pessoal, uma posição privilegiada que se atinge quando se possui alguma coisa não acessível a todos os outros.

A análise detalhada das coleções, sejam quais forem, pode servir de referência ao estudo das comunidades e dos grupamentos humanos a elas relacionados, tanto no seu passado como no seu presente.

A coleção-tema desta avaliação é um extenso e significativo conjunto de livros que se imagina sejam representativos do modo de ser e de pensar dos habitantes da histórica cidade de Diamantina – MG.

A justificativa para esta investigação é a crença generalizada de que Diamantina, cognominada a Atenas do Norte (A-024, 211, 220 e 649), porque rica de cultura e localizada no norte de Minas Gerais, representa a realidade colonial e escravista do Brasil dos séculos XVIII e XIX. Os livros, escritos por diamantinenses natos ou não, podem se constituir em um rico veio de informações do seu passado, do seu presente e até de exercícios especulativos sobre o seu futuro (A-P316).

Segundo Figueiredo (1998), na construção de uma biblioteca, há a preocupação de que os livros, em sua totalidade, devam pertencer a uma das seguintes divisões: livros de inspiração, livros de informação e livros de recreação.

Na constituição de uma coleção de livros, entretanto, esses requisitos não servem de base para ela mesma, pois o acervo não é construído dentro desses parâmetros.

Uma coleção de livros sobre poesia, por exemplo, nunca atenderia os três quesitos acima. Nesse contexto, Chartier (1999) sustenta que:

Desde Alexandria, o sonho da biblioteca universal excita as imaginações ocidentais. Confrontadas com a ambição de uma biblioteca onde estivessem todos os textos e todos os livros, as coleções reunidas por príncipes ou por particulares são apenas uma imagem mutilada e decepcionante da ordem do saber (CHARTIER, 1999, p. 117).

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Cada coleção de livros tem sua razão de ser e suas próprias características, na maioria das vezes, representam a personalidade, os anseios do seu próprio dono.

O objetivo geral desta pesquisa é analisar uma coleção de livros sobre Diamantina, formada no período de 1966 a 2015, abrangendo livros e publicações diversas sobre a cidade ou seus habitantes. Identificam-se, assim, diferentes temas presentes na coleção, bem como sua importância para a história cultural da cidade em questão.

Os objetivos específicos desta investigação são:

1) Criar uma lista dos livros, trabalhos acadêmicos, discos musicais e publicações diversas constituintes da Coleção Diamantina e dos livros a serem ainda procurados;

2) Gerar uma lista das pessoas mais relevantes citadas na Coleção Diamantina;

3) Produzir listas dos autores dos livros que constituem a Coleção Diamantina;

4) Determinar as características quantitativas da representação dos autores dos gêneros masculino e feminino;

5) Verificar a qualidade da produção intelectual dos autores diamantinenses e em que medida sobrevivem as tradições do passado e o culto à sua memória.

A metodologia de investigação utiliza processos quantitativos e qualitativos,

uma vez que abrange a revisão bibliográfica e o estudo daquilo que é mais

representativo da história biográfica, da memória cultural de Diamantina, e que

justificou o seu credenciamento como Patrimônio Cultural da Humanidade pela

UNESCO (A-P128, 568 e 667).

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Coleções

Uma coleção é o resultado de uma vontade férrea de alguém em escolher um tema que possa motivá-lo a juntar, ao longo da vida ou de um período dela, um acervo o mais amplo possível. Coleções podem ser mais ou menos interessantes, ricas, curiosas, desportivas, heráldicas, fotográficas, automobilísticas, numismáticas, exóticas, de armarias, raras, filatélicas, bizarras, artísticas, miniaturistas, horríveis, honoríficas, macabras, divertidas ou o que quer que sejam. Silva (2003) cita o acervo da Câmara artística do Kunsthistoriches Museum de Viena, o qual comportava:

[...] vasos de cristal de rocha ou de pedras ornamentais em ricas montagens de ouro e pedraria; toda uma série de objetos artísticos em ouro, alguns deles com elementos exóticos como cornos de animais, dentes de tubarão, cornos de rinoceronte e conchas, entre muitos outros; relógios artísticos, os instrumentos astronômicos, óticos ou matemáticos; objetos em marfim, em que se destacavam várias trompas afro-portuguesas e peças exclusivamente em corais. Também se podiam observar curiosidades das mais diversas origens, como a corda com que Judas se enforcou e um dos troncos de cedros do Líbano do templo de Salomão [...] (SILVA, 2003, p. 12- 13).

Uma coleção representa, quase sempre, a cultura, os amores, a profissão e até as idiossincrasias do colecionador. O colecionador inglês de livros Grant Uden (1997) escreveu um muito apropriado livro chamado Understanding book-collecting, no qual, numa confissão muito franca, asseverou que “esperava poder persuadir pelo menos alguns colecionadores de que existe mais prazer na obtenção de um certo livro do que na acumulação de livros, cartas e documentos, assim como existe mais prazer na viagem do que na chegada”.

Walter Benjamim (apud Blom, 2003, p. 17), falando sobre a cabeça confusa

de um colecionista, chegou a dizer que “Toda paixão beira o caos, a do colecionador

beira o caos da memória”. O amor aos livros tem merecido inúmeras publicações

que tentam entender esse inexplicável estado de espírito. Eurico de Goes (1932)

publicou interessante livrinho a que denominou “O culto e o amor ao livro”, relatando

situações incríveis, a que se pode chegar, como a de São Kyliano, santo irlandês,

que colocou um livro com iluminuras que fez, dentro do sua mortalha, levando-o

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consigo para o seu túmulo. Passados mais de 300 anos, hoje é a mais valiosa relíquia da Irlanda.

Em seu livro “Curiosidades da Literatura”, Isaac D’Israeli (apud Uden, 1982, p.

10) disse que “A Bibliomania, ou a coleção de uma enorme pilha de livros sem curiosidade inteligente, tem, desde que as livrarias existem, infectado mentes fracas, as quais imaginam que eles próprios adquirem conhecimento quando os mantêm em suas prateleiras”. Com essa afirmação, D’Israeli provavelmente faz referência àqueles que, não sendo leitores contumazes, compram livros a metro, simplesmente para ostentá-los em suas prateleiras e dar um ar “cult” às suas residências e às suas próprias personalidades.

Rubens Borba de Moraes (1998), em seu delicioso livro “O Bibliófilo Aprendiz”, informa que “Existe entre livreiro e colecionador um denominador comum:

o amor aos livros. Ambos acabam amigos, embora um viva à custa do outro. Um bom livreiro é o melhor guia que pode ter um colecionador. A recíproca é verdadeira”

(MORAES, 1998, p. 30).

Alguns colecionadores de livros procuram somente primeiras edições; outros, livros com ex libris; e outros ainda, livros sobre um determinado recorte de tempo (ESTEVES, 1956; FADIMAN, 2002). José Mindlin (1997), um dos maiores colecionadores de livros que o Brasil já teve, disse que certos colecionadores deixam cada novo livro no porta-malas do carro. E que, tarde da noite, quando a esposa já foi dormir, colocam o livro na prateleira. Mas admitiu que esse não foi o seu caso, pois, com sua esposa Guita, iam juntos à Europa à procura de livros raros.

O fato mais meritório foi que doou todos os seus livros à Universidade de São Paulo (LANNA, 2003). Aliás, o livro Catálogo das Coleções Especiais e Acervos Museológicos da USP (2003) registra, outrossim, a doação de 1500 livros da museóloga Waldisa Rússio. Demais disso, reconhece-se a forte inter-relação entre as coleções e os museus, destino final e justo da maioria das coleções, sejam eles públicos ou privados (BORGES, 2011).

Um visitante que adentrou a casa do colecionador Wolf Stein (BLOM, 2003), em Amsterdã, disse que:

[...] os livros cobriam quase tudo, como musgo em pedra úmida. Pilhas de livros enfileiravam-se pelo corredor de entrada, e pelos degraus da escada para o segundo andar. Livros estavam encostados nas paredes, e ocupavam cada centímetro de espaço livre no assoalho, nas mesas, nas cadeiras e no resto da mobília. Só se tinha acesso aos quartos passando

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pelos estreitos canais naquela paisagem montanhosa de material de leitura de tudo quanto era forma e tamanho. Ele me mostrou a casa. Havia livros ao redor da cama, livros em prateleira em cima da cama, livros junto à banheira e livros em seu estúdio [...] (BLOM, 2003, p. 23).

Com este colecionista, ocorreu algo semelhante. Em uma ocasião, sabedor da coleção de livros do Prof. Cassiano Nunes, conseguiu agendar uma visita à residência do mestre. Uma vez lá, numa casa da Av. W3 Sul, em Brasília, o famoso professor conduziu-lhe por quartos, salas, escadas e subsolo abarrotados de livros.

E o melhor, as suas serviçais aprontaram uma mesa onde os dois degustaram um chá de camomila com bolo de cenoura, em meio a conversas apaixonadas sobre livros. Foi um momento de forte emoção para este colecionador-visitante. Hoje, os livros do Prof. Cassiano ocupam um recinto especial e respeitoso na Biblioteca de Brasília, o Espaço Cassiano Nunes

1

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2.2 A Coleção Diamantina e sua história

Coleção Diamantina é o nome que o colecionador deu a sua coleção de livros relativos à cidade de Diamantina. O proprietário da coleção é o autor deste estudo.

De acordo com Cunha e Cavalcanti (2008, p. 92), o “colecionador é a pessoa, família ou instituição responsável pela formação ou organização de uma coleção de objetos ou documentos” e a pessoa que coleciona livros é um bibliófilo. Portanto, em 1966, o futuro bibliófilo saiu do Rio Grande do Sul, sua terra natal, e foi residir em Diamantina - MG, para cursar Odontologia (BRESOLIN, 1969). A convivência com a cidade antiga e com as coisas raras e tradicionais, ricas em conteúdo histórico, fascinou o jovem acadêmico. Quase um estrangeiro naquelas plagas, foi recebido com consideração pelos hospitaleiros habitantes do antigo Tejuco.

Como acontece com todos que bebem da água daquelas serras e grupiaras (A–291), foi amor à primeira vista. Não foi possível resistir aos encantos do lugar e da sua gente. Exagero do autor desta pesquisa? Talvez, mas nem tanto. Diamantina é capaz de provocar encantamento, deslumbramento ou até arrebatamento nas pessoas que lá chegam. Vários autores e cantares atestam isso (A–039, 059, 092, 154 e 195). Gustavo Fernandes chegou a publicar um livro intitulado “Que Gente Boa!” (A–598). Filho de um jornalista e parlamentar amante de livros, o colecionador

1Dante Bresolin em visita a Cassiano Nunes em maio de 2005.

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seguiu os passos do seu genitor (BRESOLIN, 1985). Pronto, estava assim atendido o primeiro quesito para se iniciar uma coleção: amor inexplicável ao que se pretende colecionar, neste caso, os livros sobre Diamantina.

O primeiro exemplar da coleção foi adquirido em 1966 e é o livro “Memórias do Distrito Diamantino”, do renomado escritor Joaquim Felício dos Santos (A-415), um dos principais escritores daquelas lavras diamantinenses. Depoimentos históricos do passado registraram que antigos viajantes observavam que Diamantina era um local com muitos livros (A–088, 136, 267 e P279), isto é, um lugar de pessoas sensíveis e cultas.

Outras lembranças e livros foram sendo lentamente agregados ao acervo.

Sabedora do gosto do seu aluno-colecionador por livros e pela cidade, a professora e paraninfa Maria Apparecida Pourchet-Campos, ex-reitora da USP, em 1970, doou- lhe um exemplar de “O Negro e o Garimpo em Minas Gerais”, de autoria do Prof.

Aires da Mata Machado Filho (A-521), um dos luminares das letras diamantinenses.

Ao redor da década de 1980, o colecionista tomou a decisão de incrementar o então incipiente ajuntamento de livros.

Desde os primeiros momentos, a coleção teve o objetivo de reunir livros escritos por diamantinenses natos ou por pessoas que, mesmo não sendo diamantinenses natas, ocuparam-se de temas relativos à cidade de Diamantina, de seus filhos, dos seus bens e da sua rica cultura. Em algumas situações, uma mera citação a Diamantina é razão suficiente para incluir um livro na coleção, como é o caso do “O Burrinho Pedrês”, de João Guimarães Rosa (A-485). De fato, na sua página 47, dois personagens comentam as “revoltosas correntes do Rio Jequitinhonha”, o principal rio que corre no Tijuco. E Bernardo Guimarães, em “O Garimpeiro” (A-507), na página 65, refere-se aos “terrenos diamantinos, iguais aos encontrados em Diamantina”.

Em situações especiais, como a do jornalista Theódulo Amaury da Motta, nascido em Diamantina, radicado em Belo Horizonte, que nunca produziu um livro, mas cuja imensa produção jornalística amorosa à sua cidade natal é tão intensa, este colecionador sentiu-se na obrigação de abrir uma pasta especial para os artigos. Por conta própria, e isso é permitido aos colecionadores, deu o nome de

“Amor a Diamantina” (A-039), parodiando o também mineiro Afonso Arinos de Melo

Franco (sobrinho) (1982), que escreveu “Amor a Roma”, conhecido palíndromo das

letras nacionais. Aliás, seu tio, Affonso Arinos, deu uma importante contribuição à

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literatura diamantinense ao escrever a peça teatral em três atos intitulada “O Contratador de Diamantes”, em 1917, retratando o Tijuco de 1751 a 1753 (A-494 e 495).

Existem escritores que não são diamantinenses, mas que se enamoraram pela cidade da Rainha Negra (A-603). O historiador Hélio Gravatá (A-175) nasceu em Sabinópolis – MG e publicou um opúsculo bastante completo chamado

“Contribuição Bibliográfica Sobre Diamantina”. Um exemplo importante é o do historiador e fotógrafo Antônio de Paiva Moura (A-268), natural de Moeda – MG. Ele escreveu a substanciosa obra “As Minas Gerais: Dicionário Bibliográfico” (A-071), com 304 páginas de utilíssimas fontes bibliográficas mineirianas. Em sua obra conjunta, o autor deixa manifesta a simpatia pelos assuntos diamantinenses, principalmente sobre a cultura negra (A-020, 021, 027, 214). Publicou tantos artigos que este colecionador também os agrupou numa pasta a que denominou “De um Amante a Diamantina” (A-195).

Outro exemplo foi o caso do médico de Sete Lagoas – MG, Theresino Caldeira Brant (A-002), conhecedor das belezas do mundo. Entretanto, extravasou os seus sentimentos sobre Diamantina ao compor os seguintes singelos sonetos:

Os telhados de beirais As igrejas e museus Que casarões magistrais São todos encantos teus.

******

De te deixar tenho dó Querida Diamantina Sois barroco e rococó Cidade peregrina.

******

Na friagem vespertina

Transpomos os teus umbrais Ó linda Diamantina

De construções coloniais.

Alguns escritores de Diamantina não se ocuparam de assuntos do lugar nem

mesmo dos seus personagens, mas mostraram o valor de seus escritos quando

trataram, de forma geral, de filosofia (A–030, 035, 250 e 644), indigenismo (A–P037,

540 e 542), medicina (A–198, 258, 321, 330, 398, 404 e 488), neurologia (A–008,

009 e 010), odontologia (A–P096, P151 e 592), psiquiatria (A-008 e 030), história

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geral (A-312, 411, 457, 535, 552, 582, 613, 638 e 657), português (A-018, 111, 177, 182, 233 e 235), religião (A–013, 306), botânica (A-P163), matemática (A-P003, P020 e P326), psicologia (A-595), outras cidades (A-004, 005, 103, 104, 105 e 166) e assuntos diversos (A-026, 030, 045, 057, 076, 078, 089, 109, 114, 119 e 129), só para dar alguns exemplos. Por isso mesmo, centenas de livros têm sido incluídos no extenso acervo e outros compõem uma lista de livros a serem Procurados. Não possuir determinados livros, mas saber de suas existências, de autores e conteúdos, também é considerado importante para relacioná-los na Coleção Diamantina, na categoria de “livros a serem Procurados”.

Uma experiência interessante pela qual se passa ao manipular livros antigos é o achado de coisas deixadas dentro de suas páginas pelos antigos proprietários ou leitores. Em seu livro “Cartografia Sentimental de Sebos e Livros”, Márcia Cristina Delgado (A–136) chega a recomendar que não se retirem tais coisas, pois passam a fazer parte dos livros e permitem ao colecionador “conversar” com os proprietários que o precederam. Pode julgá-los caprichosos, descuidados, relapsos, organizados, religiosos, poetas, sensíveis ou insensíveis, principalmente quando cometem a insensatez de dobrar as pontas das folhas dos livros para marcar as interrupções de leituras. Dentre os achados, citam-se fitinhas, cartões profissionais, bilhetinhos, apontamentos curiosos, ex libris, dedicatórias, marcadores de páginas, cédulas, notas, “santinhos”, fotografias e muitas outras coisas. No caso específico da Coleção Diamantina, essa “fauna”, quando encontrada, foi mantida no interior dos livros, seguindo a recomendação da escritora.

Muitas histórias, assim, formam o folclore de uma coleção. Com este colecionista aconteceu de entrar em um sebo de Brasília e perguntar ao livreiro se possuía a primeira edição do clássico diamantinense “Minha Vida de Menina”, de Helena Morley (A-432). A um não do vendedor, o colecionador foi saindo cabisbaixo da livraria quando notou em uma prateleira um livro com uma capa estranha. Ao folheá-lo, surpreso, constatou que era a procurada primeira edição de “Minha Vida de Menina”, encadernada e com a capa original perfeitamente preservada. O mais bizarro, contudo, foi verificar que a nova capa era coberta com tiras de couro de cobra, algo que ele nunca imaginou ser possível. E o melhor, seu preço foi uma pechincha

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2Dante Bresolin em visita à Livraria Pindorama em 2005.

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Um número grande de escritores, historiadores, estudiosos, livreiros e amigos são sabedores da existência da “Coleção” e colaboram fazendo doações ou sugerindo aquisições. Em uma certa ocasião

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, este pesquisador chegou a publicar anúncios no jornal Voz de Diamantina procurando livros dos autores da cidade.

Alguns descendentes de escritores antigos enviam-lhe livros de seus antepassados ou prometem procurá-los (A-014, 072, 076, 132, 179, 236 e 504). O crescimento da coleção tem sido possível, mais modernamente, graças a sites de procura na internet, que trazem a lume a existência de milhares de sebos, os quais oferecem milhões de livros usados e raridades. Para acomodar seus livros, encomendou-se a feitura de uma grande estante, que, entretanto, foi logo locupletada. Fez, o colecionador mesmo, uma segunda estante, bem maior, que, até agora, tem conseguido incorporar os novos exemplares.

O controle das entradas e saídas de livros da coleção dá-se por duas listas mescladas, em computador. Uma das listas enumera os livros da coleção propriamente dita. Os livros estão listados por ordem alfabética rigorosa dos seus títulos, seguida do nome dos autores, informações sobre edição, conteúdo temático, cidade da editora, nome da editora e ano da edição. A seguir, sob a abreviatura

“Obs.:”, são registradas informações não bibliográficas, mas importantes para o colecionador, como a forma de entrada dos livros na coleção, se por herança, doação ou aquisição, a data em que isso se efetuou ou qualquer outra informação pertinente à publicação. A listagem de livros não segue as normas bibliográficas da ABNT, que dão ênfase, em primeiro lugar, aos nomes dos autores, seguidos do nome da publicação. No caso da relação dos livros da coleção, o colecionador lista em primeiro lugar os nomes dos livros, seguidos do(s) nome(s) do(s) autor(es), pois os livros são a razão da coleção. Por isso mesmo, o colecionista adotou registros próprios e pessoais, que facilitam, no seu ver, o acesso aos livros nas prateleiras.

Uma segunda lista, também no Apêndice A, com caracteres vermelhos e numeração antecedida pela letra P (=livros Procurados) arrola os livros de que se tem ciência que foram editados, mas ainda não foram anexados à coleção por não terem sido encontrados. Ambas as listas de livros, no passado, estavam separadas, mas, atualmente, estão mescladas (vide a primeira página, colorida, do Apêndice A).

À medida que um novo livro é incorporado à coleção, simplesmente troca-se a cor

3Depoimento pessoal de acontecimento em 2000.

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da fonte, de vermelha para preta, e dá-se à referência do nome do livro um novo número, refazendo-se a sequência numérica dali em diante.

Nesse contexto, a atribuição de números só tem sentido porque facilita a avaliação imediata do tamanho da coleção, evitando a contínua recontagem. A leitura de livros ou de suas referências bibliográficas contribui para o crescimento da lista dos livros a serem procurados. Antigamente, era muito comum os livros apresentarem nas contracapas ou nas primeiras ou últimas páginas a informação

“Outros livros do mesmo autor” (A-178, 586). Isso ajuda muito na elaboração das listas dos livros a serem procurados para compor a coleção. Em muitas situações, os textos acadêmicos ou artigos de revistas são encontrados na internet, mas sempre é dada preferência aos livros propriamente ditos. Assim, por um determinado tempo, as cópias de livros são mantidas na coleção, constituindo-se em um estímulo para serem trocadas por livros originais, que é o espírito da coleção.

2.3 Análise da coleção

A análise da Coleção Diamantina envolveu procedimentos de estatística básica que resultaram em informações numéricas quantitativas e apreciações qualitativas, as quais geraram outros tipos de informações ou comentários.

2.3.1 Características quantitativas

Até maio de 2015, a coleção comportava 705 exemplares, de acordo com o constante no Apêndice A. A coleção é eminentemente de livros, mas, como costuma acontecer com toda coleção, também incorpora outras formas assemelhadas de registro impresso, tais quais artigos de revistas (A–199, 573, 614, 615 e 649), artigos em jornais (A-204), entrevistas (A–025), trabalhos acadêmicos (A-608), fotografias históricas (A–210, 373, 525 e 618), guias (A-292 e 293), composições musicais (A- 212), poesias avulsas (A–572), textos datilografados (A–641), discos (A-344, 345, 369, 372 e 429) e filmes (A-263 e 702), embora em quantidade menor.

A relação dos livros a serem Procurados, também no Apêndice A, perfaz um total de 392 livros.

Nesse cenário, o total de livros sobre Diamantina conhecido pelo autor,

portanto, chega a 1097. Entretanto, a experiência de colecionar livros ensina que,

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potencialmente, podem ser muitos mais. A procura dos livros faltantes ou o descobrimento de novas referências é uma das atividades mais prazerosas para este colecionista. Se 1097 livros é a totalidade de “livros” sobre Diamantina, então é possível afirmar que a Coleção Diamantina acumula 64,26% dos exemplares existentes, o que é um valor considerável. E também é possível afirmar que os livros a serem procurados chegam a 35,74% da totalidade conhecida. Considerado o fato de que os livros faltantes são mais raros e dispendiosos, releva-se aqui que o crescimento da coleção, a partir do presente estágio, será bastante lento.

2.3.2 Características qualitativas

As estantes com os livros da Coleção Diamantina estão no andar térreo da casa do colecionador, na Asa Sul, em Brasília. Elas estão em local arejado, protegidas da chuva, de infiltrações e inundações, recebendo luz natural. Cuidados quase museológicos foram tomados na disposição das estantes, para que os livros não recebam raios solares diretos em qualquer momento da manhã ou da tarde.

Duas luminárias com luz fria foram nelas instaladas. Ainda assim, ao lado, colocaram-se uma mesa de trabalho e uma cadeira de escritório, próprias para longas horas de leitura, como costumava fazer Petroski (1999, p. 4). Uma das prateleiras das estantes comporta pequenas peças artesanais e decorativas relativas a Diamantina. Enfim, trata-se de um ambiente apropriado para as fugas deste colecionador, onde, quando consulta os livros, sente-se como se estivesse respirando os ares de montanha da velha cidade mineira.

2.4 Os ensinamentos da Coleção Diamantina

O ato de colecionar provoca ambiguidades no colecionador. Ao mesmo tempo em que enriquece seus conhecimentos sobre o assunto colecionado, ajuda-o na coleta, organização e, finalmente, na exposição da coleção.

Explorando o tema Diamantina (A–P325, 641 e 697), este pesquisador

procurou esquecer-se do que conhece do lugar, mas reconhece que isso não

aconteceu, pelo fato de ter residido na cidade por quatro anos e por estar casado

com uma diamantinense, além de lá ter retornado várias vezes. A simples

manipulação dos livros da coleção é suficiente para permitir-lhe explorar muitos e

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diversos aspectos da região, da cidade (A-231), da história (A-312, 411, 457, 535, 552, 582, 613, 638 e 657), dos personagens (A-658) e dos costumes (A-047, 231, 086 e 657).

A arquitetura de Diamantina é tipicamente colonial portuguesa (A–206, 656 e 697). De acordo com Moura e Cyrillo (A-211), “Diamantina foi a cidade mais luxuosa das Minas Gerais e também onde houve maior sofrimento”. Possui casas pequenas e multicoloridas, em sua maioria térreas (A-284), sendo algumas assobradadas (A- 210), que possuem inúmeras portas altas e outras tantas janelas retangulares, sacadas em ferro torcido com enfeites nos seus cantos, chamados abacaxis, mangas, pinhas ou bolas de sacada (A-202), como definem Moutinho, Prado e Londres (2011). Uma das janelas da Biblioteca Antônio Torres ainda tem uma treliça, também chamada muxarabiê ou gelosia (A-P244), um trançado de madeira que permite que as pessoas, estando dentro de casa, vejam o exterior sem serem vistas por quem está do lado de fora. Conforme Lígia Machado de Almeida (A-565), é o único muxarabiê completo e intacto do Brasil. A casa de Chica da Silva (A-202) também tem treliças em todo o lado que dá para o sol da manhã, mas não são exatamente muxarabiês.

O interior das casas é simples, mas sóbrio, com cadeiras, baús e armários tipicamente coloniais (A–P240 e 510), os móveis da cozinha com pinturas de aves (patos e galinhas), como se pode observar nos armários da Tratoria La Dolce Vita (A-475), cortinas de renda, assoalhos de madeira encerada, cozinhas com forno, fogão de barro e chaminés, camas de lastro ou dossel (A-519), mesas para refeições com gavetas e portas pesadas com tramelas ou grossas chaves. As portas das casas para a rua são quase sempre em madeira, partidas horizontalmente em duas metades: de dia, a de baixo está sempre trancada, mas a de cima, às vezes, está aberta, permitindo a conversa com os vizinhos debruçados na metade inferior (A-226). Do lado de fora, as calçadas, algumas estreitas, outras estreitíssimas, mal comportam uma pessoa, e com degraus acompanham os declives das ruas.

A tortuosidade das ruas de Diamantina motivou o livro “Estas Ruas

Serpeantes”, do saudoso Pe. Celso de Carvalho (A-270). Elas são estreitas, com

subidas ou descidas, raramente planas, algumas com nomes típicos, como a do

Burgalhau, o primeiro arruamento de Diamantina (A-211, 240), a do Jogo da Bola (A-

253), a das Beatas (A-220), os becos da Tecla (A-678), das Caveiras, da Farinha

Seca (A-240) e a ladeira do Pão (A-220). Os calçamentos das ruas merecem

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algumas considerações. Algumas ruas, mais antigas, foram calçadas com pedras arredondadas e chamadas de pés-de-moleque (A-211, 226 e 268). A maioria, no entanto, recebeu um calçamento com pedras grossas, largas, grandes e achatadas, chamadas capistranas (A–128), com caminhos e desenhos geométricos de assentamento. Esses caminhos dão mais conforto aos caminhantes e a palavra capistrana, com o tempo, adquiriu outros significados, como, por exemplo, o lugar do trottoir das mocinhas que, antes do aparecimento da televisão, andavam em grupos de duas ou três, de braços dados, para lá e para cá, sobre o piso de pedras largas.

Até hoje, encontros são marcados para ocorrerem “na capistrana”, e todos sabem a que trecho dela estão se referindo, aquele que atravessa em largura a Rua da Quitanda, também conhecido como Ponto Chic (A-226). Alguns dizem que esse estilo de calçamento é assim chamado por causa de outro do mesmo modo feito em Ouro Preto, quando foi Presidente da Província o Dr. João Capistrano Bandeira Melo (A–128), o que pode ser a razão mais óbvia.

A seguir, imagina-se uma pequena caminhada de um diamantinense, somente para exemplificar a riqueza da coleção de livros. Todos os passos do caminhante encontrarão suporte no acervo de livros da Coleção Diamantina.

Caminhando lentamente pelas capistranas, pode ser que o hipotético

diamantinense saia, por exemplo, do Largo do Bonfim (A-678), onde se situa a Igreja

N. Sr. do Bonfim (A-678) e continue pela estreitíssima Rua Campos de Carvalho (A-

240), com forte comércio. À direita, logo na curva da rua, poderá admirar, nas

vitrinas da Joalheria Pádua (A-231), crucifixos, braceletes ou brincos de coco e ouro,

de sua tradicional e exclusiva produção. Ao final desta rua, à sua esquerda, poderá

tomar um cafezinho no conhecido café A Baiúca (A-268), tradicional bar, onde,

dizem (A-268), se pratica o melhor bate-papo do centro da cidade. Se virar para o

lado direito, encontrará a Boutique Cyrillo (A-240), lugar de exposição permanente

das pinturas da artista local Marta Moura (A-533). Neste exato local, o imaginário

caminhante adentrará a Rua da Quitanda (A-678), local do tradicional Clube

Acayaca (A-226), da Biblioteca Antônio Torres (A-210), com a sua janela com

muxarabiê (A–211 e 678), e onde, nos fins de semana, é vedado o uso de

automóveis, pois na sua parte mais larga, popularmente chamada Largo da

Quitanda, a rua se enche de mesinhas e cadeiras para os transeuntes bebericarem

e admirarem a colorida, rica e variada arquitetura colonial.

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Aqui, vale abrir um parágrafo para informar que, no Largo da Quitanda, que também é o Ponto Chic, o caminhante fica sabendo que, em certas noites do ano, na temporada da seca, ocorre emocionante evento conhecido como vesperata (A- 392-393), um tipo de serenata invertida. Nas vesperatas (A-392 e 393), em alguns sábados à noite, jovens cadetes músicos da Polícia Militar, em seus belos trajes de gala, aparecem nas sacadas dos prédios e, sob a batuta de um maestro que está no meio do largo, executam músicas regionais e contemporâneas. Um espetáculo inesquecível. As sessões das vesperatas obedecem a um calendário, organizado todos os anos, regularmente anunciado no jornal Voz de Diamantina (A-253).

Voltando ao percurso, se o caminhante quiser, munido de muita precaução, poderá descer à direita o estreitíssimo e curto Beco da Tecla (A-678). Lá, encontrará lojas de lembranças, bares e bistrô, um restaurante com música ao vivo e uma surpreendente e rica delicatessen. Poderá adentrar a Livraria Espaço B, que também é sebo e restaurante, parada obrigatória de todo turista europeu, jornalista ou historiador sedento por literatura sobre o local, e concluirá a descida do beco enfrentando degraus, tal a inclinação deste. Chegará ao Mercado dos Tropeiros (A- 678), popularmente conhecido como Mercado Velho ou Mercado Municipal (A-210), de cuja arquitetura, dizem, foram concebidas as colunas do Palácio da Alvorada, em Brasília (A-240). Nesse mercado, em outros tempos, chegavam as tropas de burros, carregados de mantimentos, liderados por uma mula cujo cincerro fazia um barulho ritmado, que já foi descrito como soando, mais ou menos, como tererém, tererém, tererém, tererém (A-268). Uma singular história é narrada pelo jornalista Joaquim Ribeiro Barbosa, editor da Voz de Diamantina. Em seu livro “Espiando Diamantina”

(A-268), ele conta que veio de Rio Vermelho - MG para Diamantina, aos quatro anos de idade, dentro de um balaio dependurado numa mula, contrabalançando-se com seu irmão Juventino, também menino, noutro balaio, do outro lado da mula. Até hoje ele se lembra dos barulhos dos arreios e do cheiro de suor das bestas.

Se não descer o Beco da Tecla, o hipotético diamantinense sairá da Rua da Quitanda (A-678) e passará ao lado da imponente Catedral Metropolitana de Santo Antônio (A-211 e 240), o maior templo da cidade e local de muitas festas religiosas.

Se ultrapassar a Catedral pelo lado direito, passará pela casa 36 da Rua Direita (A-

618), com seu teto em gamela, pintado com cenas bucólicas e campestres, pintura

de autor desconhecido, provavelmente mandada construir pelo Intendente Câmara

(A-678). Continuando a descida, encontrará o renomado Museu do Diamante (A–

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460), antiga residência do Pe. Rolim (A–017 e 264), controverso inconfidente. Se descer pelo lado esquerdo da Catedral, chegará ao majestoso prédio da Prefeitura Municipal, a antiga Intendência (A-210 e 211), na Praça Conselheiro Mata (A-210).

Ainda descendo, o caminhante poderá saciar a sua sede no chafariz da Câmara (A- 210), passará pelo prédio do Fórum (A-656) e chegará a um novo largo, onde está a estátua de Juscelino Kubitschek de Oliveira (A-201), filho da cidade, o qual alcançou a Presidência da República (A-347, 351, 355, 356 e 358).

Defronte à estátua, subirá, com muito sacrifício, a Rua São Francisco (A-240), onde, a meio caminho, encontrará a casa em que residiu Juscelino Kubitschek (A- 615), um misto de museu e ponto de memória. Lá funciona o Bar do Nonô (A-216).

Mas, se não subir a íngreme rua, encontrará à frente três ruas divergentes, a Macau de Cima (A-240), a Macau do Meio (A-240) e a Macau de Baixo (A-240). Se seguir a Rua Macau de Cima, à esquerda, passará logo de início ao lado da Igreja de São Francisco de Assis (A-P016) e, mais acima, alcançará a Santa Casa de Misericórdia (A-656). Se seguir a Rua Macau de Baixo (A-240), à direita, encontrará em primeiro lugar a antiga residência do Dr. Lomelino Ramos Couto (A-220), atual pousada Relíquias do Tempo (A-589), que abriga o Museu Daniel Luiz do Nascimento (A- 459). Provavelmente, o diamantinense resolva seguir pela Rua Macau do Meio (A- 240). Logo no seu primeiro quarteirão encontrará a residência do Dr. João Antunes (A-202 e 362), ex-prefeito; a seguir, passará ao lado do Hotel Tijuco (A-202 e 566), um projeto de Oscar Niemayer, pela residência do Prof. Walmy Lessa Couto (A–667) e pelo antigo Grupo Escolar “Mata Machado”.

Ainda neste caminho, ao subir a Rua da Glória (A-619) passará pela casa da escritora e professora Dulce Baracho Ramos (A-480), continuará ascendendo e passará pelo Ginásio Diamantinense (A-220), pela renomada Faculdade de Odontologia (A-P151), onde se graduou este colecionador, e pela residência do clarinetista maior de Diamantina, o bom Expedito. Se virar à direita ingressará na Rua Prof. Paulino Guimarães Júnior (A–253 e 674), mas, se seguir reto, passará debaixo de um dos maiores monumentos da cidade, o Passadiço, obra do inglês John Rose (A–479). O passadiço une dois prédios que antigamente foram as residências dos intendentes e do 1º Bispo de Diamantina; depois, Colégio N. S. das Dores; e, atualmente, abrigam o Instituto de Geologia Eschwege (A-100 e 211).

Todo este trajeto encontra referência nos livros do acervo da Coleção Diamantina.

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Esta caminhada foi usada como exemplo do que se pode colher de ensinamentos na coleção.

Tida por muitos como um presépio, Diamantina esparrama-se sobre suas acidentadas colinas. Aqui e ali salpicam as torres das inúmeras igrejas. Quem estiver numa posição privilegiada poderá observar ao longe, no horizonte, o farol dos bandeirantes, que é o Pico do Itambé, uma das montanhas mais altas do interior de Minas Gerais, com 2044 metros de altura. Mais proximamente à cidade, eleva-se um paredão de pedras, a Serra dos Cristais, parte da Serra do Espinhaço, que, com os raios solares da tarde, assume diversos tons de vermelho, típicos de concentrações diferentes de óxido de ferro. E, no alto dos Cristais, à noite, um cruzeiro (A-221) luminoso lembra a todos os crentes de que estão sob a proteção de Deus.

Contrastando com a escuridão da serra, o luminoso cruzeiro parece flutuar no céu.

Casais apaixonados costumam subir a serra de carro e achegar-se aos pés do Cruzeiro, onde ocorre a libação de bons vinhos entre outras iniciativas românticas testemunhadas pelo olhar complacente da lua prateada. E por falar em lua, o jornalista Joaquim Ribeiro Barbosa compôs os seguintes versos (A-268):

Plenilúnio em Diamantina

Como é belo o luar em Diamantina!...

A Serra transfigura-se em ribalta E, em pálido rubor, liberta e incauta, Já despe à noite as roupas de menina.

Debruçada na encosta fronteiriça, As formas curvilíneas sob a prata, Dengosa, sensualmente se espreguiça A cidade, a sonhar com a serenata.

Daqui, dali, já soam dedilhares De violões que o seresteiro afina, Bandolins, clarinetas, na surdina, Choram duetos, despertando os bares.

E, como estrelas pontilhando os céus, Pupilas tremeluzem nas janelas;

Muxarabis, escondem mil donzelas

Sob as treliças de mouriscos véus.

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De madrugada, a lua enfim declina Em meigo e triste brilho de pesar, E as estrelas suspiram a apagar:

-“Ah... que bom ser luar em Diamantina...”

Enquanto isso, nas residências, restaurantes e dezenas de “butecos”, principalmente se for numa noite de sexta-feira, ocorre o consumo de comidas típicas (A-417 e 475), em que imperam a carne de porco, a leitoa à pururuca, o feijão tropeiro, a linguiça mineira, o arroz de forno, o brócolis com carne moída, a couve refogada, o jiló, o vinagrete, as pimentas, o frango a molho pardo, a munheca de samambaia, a galinha caipira, o angu com pequi ou quiabo, o tutu de feijão, a farofa rica, os torresmos, as iscas de fígado, os ovos de codorna, a carne picadinha com palma, o feijão com ora-pro-nóbis, a paçoca de carne, o pernil de panela, os queijos do Serro, os bolinhos de mandioca e de sobras de arroz, a carne seca com mandioca, tudo regado a muita cerveja, vinhos e a branquinha dos melhores alambiques regionais. E o clima se completa com o dedilhar da viola, os arpejos de violino e os sons de clarineta (A-P348), momentos imperdíveis. Como coroamento, já tarde da noite, algumas turmas de noctívagos se arrastam pelas ruas em memoráveis e românticas serenatas (A-063, 064, 090, 106, 429 e 634), cantadas e tocadas (A-464) para as moças bonitas da cidade. Aliás, Juscelino (A-211) chegou a dizer que “uma serenata em Diamantina é mais bela que uma Noite de Trovadores em Nápoles. A cidade toda canta, despreocupada, diluindo na beleza dos sons as angústias comuns da vida”.

No dia seguinte, sábado ao meio dia, passada a ressaca, pode-se ir ao

Mercado Velho, onde, ao som de música ao vivo (A-P173), podem ser saboreadas

deliciosas “quitandas” locais, como biscoitinhos de goma, biscoito frito, peta, broa de

fubá, bolos de todos os tipos, craquinés (A-689), pastéis, requeijão caipira, caldo de

feijão ou de mocotó, salgados, torresmo frito e “rebater” com uma cervejinha gelada,

uma cachacinha ou, para os menos fortes, um suco de cagaita ou de mangaba, uma

garapa de cana com limão e um encontro com os amigos. É também momento de

provar ou adquirir os inúmeros doces e compotas locais, como ambrosia, amor aos

pedaços, arroz doce, angu doce com banana, bolos, cocadas, compotas em geral,

doce de laranja da terra, doce de leite com queijo, doces de abóbora com coco e

doce de batata doce, geleias (A-226), pamonhas doces ou salgadas, curaus,

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goiabada cascão com queijo, marmelada, melado, pé-de-moleque (A-417) e rapadura batida.

Depois, se ainda houver apetite, no Restaurante do Raimundo-Sem-Braço, localizado no prosaico lugarejo Biribiri, saboreia-se um frango ao molho pardo com caipirinha, um frango com quiabo ou uma deliciosa dobradinha com feijão branco e linguiça calabresa. Em sequência, um saboroso licor de pequi ou jabuticaba (A-211) e, para relaxar, uma modorrenta estirada debaixo de uma majestosa gameleira (A- 268) ou sob o ranger de uma centenária touceira de bambus. Passadas umas horas de sono restaurador, o diamantinense desperta e, espreguiçando-se, pergunta a si mesmo: “On co tô? Quem co sô? Pron co vô?”, expressões condizentes com o dizer mineiro que está escrito atrás da sua camiseta do último carnaval (A-520). E a brisa fresca do entardecer lembra-lhe: “Tenho que tomar um banho e aprontar-me. Hoje à noite, em frente ao Clube Acayaca, vai ter vesperata (A-392 e 393). E mais tarde, vou tomar umas branquinhas nos botecos do Beco do Mota” (A-401 e 624).

Sobre o nacionalmente conhecido Beco do Mota, Douglas Koscky Fernandes (A-226) versejou:

Velho Beco do Mota

Velho Beco do Mota, falado, Que foi palco de baixos papéis, Beco estranho, curtido em pecado, Vaga lembrança de Bordéis.

Ontem, beco de má fama.

Afundado na lama Do mal,

Hoje, um beco simplesmente, Aonde vai toda gente,

Afinal.

Nada mais resta da zona

Da cachaça com cheiro de briga, Já não tem cabaré de sanfona, Nem falso amor de rapariga.

Enfeitou-se com a “Senzala”, Conheceu rodas mais elegantes, De seu nome já se fala

Até mesmo em jornais importantes.

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Só que, apesar de mudado, Esse beco não deixa a mania De ficar toda noite acordado, A cortejar a boemia.

Os livros da coleção ensinam também coisas mais sérias. O Mercado dos Tropeiros e as lojas de lembranças expõem arranjos florais, bonecas de barro e cerâmica (A-240) das artesãs do Vale do Jequitinhonha (A–478), peças de couro, cristais e entalhes de madeira. Os tapetes arraiolos (A-656) foram introduzidos recentemente na cidade, vindos de Portugal, para dar ocupação às mulheres desempregadas e cumprem uma importante função social e econômica.

Asilos e instituições de caridade abundam, mostrando a generosidade do diamantinense aos mais necessitados. Destacam-se as ações da Amparo à Juventude Para Inserção Rápida (AJIR), Apae Diamantina, Associação dos Voluntários da Irmandade de Nossa Senhora da Saúde (ANVISS), Casa de Caridade de Santa Isabel, Irmãos da Santa Casa de Caridade, Pão de Santo Antônio (A-084), Santa Casa de Caridade de Diamantina (A-656), Sociedade Beneficente N. S. do Perpétuo Socorro e Sociedade Protetora da Infância. E por falar em amparo aos necessitados, José Moreira de Souza (A-155) comenta que, em função de uma antiga peça teatral chamada “Pedro Sem”, até hoje persistem em Diamantina os seguintes versinhos:

Dá esmola a Pedro Sem Que já teve e hoje não tem.

Quem quiser dar, dá.

Quem não quiser, Eu vou andando.

Diamantina teve participação importante em vários conflitos regionais ou internacionais. Jornais de época e livros diversos testemunham o envio dos filhos do lugar à Guerra do Paraguai (A-325) e importantes participações na 2ª Guerra Mundial, inclusive com destacados pilotos de guerra (A– 068 e 631).

Dentre as flores, Diamantina destaca-se pelas espécies de orquídeas (A-

P300) e a famosa florzinha chamada sempre-viva (A-180, 630, 678 e 700), presente

nos arranjos florais e nas poesias. A cidade é rica também em frutas de montanha,

algumas delicadas e outras silvestres, como a guabiroba e o araçá (A-226), a

carambola, o exótico panã, o marolo ou a fruta-do-conde, o tamarindo, a seriguela, a

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goiaba e a ameixa (A-226), a carambola, as deliciosas amoras (A-231), a jabuticaba- torta (A-226), as mangas de todos os tipos, os morangos e as pitangas (A-226), as suculentas laranjas e mexericas, o romã e o maracujá. E, mais recentemente, até parreirais estão sendo plantados para a produção de vinhos finos, de comprovada qualidade (A-695).

Outra riqueza regional está manifesta por 221 espécies de plantas, todas com as suas indicações terapêuticas, descritas no importante livrinho chamado “Plantas Medicinais de Diamantina” (A-576).

Uma das principais características arquitetônicas de Diamantina, as igrejas (A-232), são bem representadas pela presença da Igreja N. S. do Amparo, da Igreja N. S. da Soledade, antiga Capela do Bambães, demolida em 1918 (A-268), da Igreja do Bom Jesus, da Igreja do Carmo (A-566), para os brancos – Chica da Silva teve sua admissão negada –, da Catedral Metropolitana de Santo Antônio (A-211), da Igreja da Luz (A-211), da Igreja N. S. das Mercês (A-211), da Igreja de São Francisco de Assis, da Capela do Senhor do Bonfim dos Militares (A-211), da Igreja da Palha, da Igreja de Santana, da Capela N. S. do Rosário dos Pretos (A-566) e da Basílica do Sagrado Coração (A-069, 211, 323 e 541). Diamantina conta também com uma antiga e dinâmica loja maçônica, chamada Atalaia do Norte (A-253). E em função de tantas igrejas (A-085), a realização de inúmeras festas religiosas tornou- se uma das tradições antigas ainda cultivadas pela população. É o caso das festas do Império e de N. S. do Amparo, do Reinado do Rosário, da Folia de Reis, da procissão de Corpus Christi e da Semana Santa com a tradicional Guarda Romana (A-044). Sobre a tradicional Festa do Divino Espírito Santo, o autor Theódulo Amaury da Motta (A-039) relembra os versinhos entoados pelos carregadores da bandeira ao recolherem donativos:

Bate tambor, Toca viola

A Bandeira do Divino Vem pedir a sua esmola.

E, falando em religião, merecem destaque as organizações religiosas (A-119), os párocos (A-633 e 527), alguns de grande prestígio popular como o renomado Pe.

Belchior Pinheiro de Oliveira (A-024, 145 e 554), D. Joaquim (A-056, 112 e 530), D.

João Antônio dos Santos (A-221), D. José Newton de Almeida (A-P127), D. Geraldo

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de Proença Sigaud (A-253), Monsenhor Sebastião Fernandes (A-226), Pe. Rolim (A- 264) e outros.

Inúmeros jornais (A-028) foram publicados no passado, com vida mais ou menos efêmera. Muitas das citações históricas referem-se a esses jornais, entre os quais devem ser citados Diamantina, Ecos do Serro, A Esperança, A Estrela Polar (A-253), Ibitura, Ideia Nova, O Jequitinhonha, O Norte, Pão de Santo Antônio (A-253 e 559), Tribuno de Serro e a atual Voz de Diamantina (A-253).

Diversos outros aspectos culturais da cidade encontram suporte referencial nos livros da Coleção Diamantina, mas é impossível detalhá-los dentro dos limites deste trabalho. Assim, o leitor encontrará bibliografia sobre diversos festivais (A-158, 279 e 280), lenda da Acayaca, que trata da criação dos diamantes (A-007 e 473), aspectos da escravidão (A-304, 331, 502, 521, 524, 603 e 637), teatro Santa Isabel (A-548 e 608), musicalidade (A-044, 308, 369, 372, 429 e 464), mineração de ouro e diamantes (A-121, 154, 174, 209, 224, 394, 494, 495, 507, 517 e 557), monumentos e lugares públicos (A-089, 271, 272 e 273), Santos Dumont e suas origens diamantinenses (A-070, 599, 621 e 622), museus da cidade (A-163, 460, 461, 462 e 463) e vida universitária (A-129).

O escritor da terra, o filólogo nacionalmente conhecido Prof. Aires da Mata Machado Filho, publicou um interessante livrinho intitulado “Dias e Noites em Diamantina” (A-231), em que discorre sobre as diferentes características e atividades culturais do burgo. Conta, por exemplo, que, quando alguém sacrifica uma galinha caipira, abre com cuidado o papo, pois já encontraram diamantes em seu interior, e isso pode se repetir.

A presença de viajantes estrangeiros no velho Tijuco, principalmente europeus, está registrada num grande número de livros. Para citar os mais conhecidos, que escreveram suas impressões, estão relacionados August de Saint- Hilaire (A-689), Elizabeth Bishop (A-665), George Gardner (A-691), John Mawe (A- P371 e 386), Johann Moritz Rugendas (A-690), Spix e Martius (A-688), Max de Neuwid, Johann Jakob von Tschudi (A-P385), Richard Burton (A-687), Roger Teulieres (A-P208), e Wilhelm Ludwig von Eschwege (A-100), também conhecido como Guilherme Ludwig von Eschwege, Willhelm Ludwig Freiherr von Eschwege ou Barão de Eschwege.

O Apêndice B arrola 162 nomes de pessoas relevantes da cidade de

Diamantina, das quais este colecionador vai fazer justiça ou injustiça, discorrendo,

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de modo breve, somente sobre cinco nomes, dadas as limitações deste trabalho.

São pessoas que alcançaram repercussão internacional.

Xica da Silva (A-202, 203, 204 e 205), a Soberana do Tijuco (A-001), é uma delas, mais modernamente Chica da Silva (A-146, 147, 148, 149, 158 ou 560), ou, como a chamavam na época, Chica Que Manda (A-151 e 152) ou simplesmente Quemanda (A-253, p.70). Francisca da Silva de Oliveira foi uma escrava do Pe.

Rolim (A-264). Para uns autores, não era exatamente bonita ou graciosa. Outros, no entanto, discordam disso e acham que ela era, na verdade, muito atraente e, por essas coisas do destino, foi comprada e alforriada pelo Comendador João

Fernandes de Oliveira (A–148, 149 e 150). Tornou-se sua concubina, adquirindo fortuna e status de Rainha do Tijuco como Rainha Negra (A–604 a 607). Muitos autores discorrem sobre a irascível e temperamental (A-253, p. 70) primeira dama, dentre os quais Júnia Ferreira Furtado (A-146, 201, 203 e 203), Viriato Correia (A- 147), Flávia Ribeiro (A-148), Nelson Cruz (A-150), Agripa Vasconcelos (A-151 e 152) e Paulo Amador (A-603). O certo é que a figura de Chica da Silva até hoje é motivo de estudos e pesquisas.

Outra pessoa de vulto foi Domingos José de Almeida (A-245), tropeiro diamantinense que, ao redor de 1819, foi ao Rio Grande do Sul adquirir muares para a mineração em Diamantina. Encantou-se pelo Sul, virou empresário, desenvolveu a cidade de Pelotas (A-011), fundou Uruguaiana (A–P379 e 506) e foi o segundo homem mais importante da Revolução Farroupilha, vindo a ser Ministro do Interior da República Piratini (A–287), sob o governo de Bento Gonçalves, sem contar outras dignificantes atividades. Para ter uma ideia de sua importância, o gaúcho Cel.

Cláudio Moreira Bento (A–244) fez seu discurso de posse na Academia Mineira de Letras intitulando-o “Domingos José de Almeida – O diamantinense que foi o cérebro e o maior estadista da República Rio-Grandense”.

O terceiro nome é o de Marco Antônio de Araújo Abreu, Visconde de Itajubá, nascido em Diamantina em 1805. Diplomata do Regime Imperial, foi designado pela Princesa Isabel, a Princesa Imperial Regente do Império do Brasil na ausência de D.

Pedro II, para compor a equipe internacional de arbitragem da Questão Alabama (A-

700 e 701). A Questão Alabama diz respeito a uma querela diplomática entre a

Inglaterra e os Estados Unidos. “Escolhido o Brasil como árbitro, coube ao ilustre

diamantinense, depois de um brilhante e inteligente parecer, condenar a Inglaterra a

pagar vultosa importância aos Estados Unidos” (A–221). Sua conduta foi

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amplamente elogiada pelos dois países litigantes. Não se conhecem livros seus, mas em sua rica vida diplomática com certeza comportou-se como um digno representante da Atenas do Norte.

Na área da literatura, não se pode omitir o nome de Helena Morley, pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant, que publicou “Minha Vida de Menina”, obra de memória que alcançou ao redor de 20 edições no Brasil (A–432 a 449). Foi vertida para o inglês pela poetisa norte-americana Elizabeth Bishop (A–281 e 665) e teve versões publicadas em Portugal (A–P238), Estados Unidos (A–P361), Canadá (A–P363), Inglaterra (A–653 e 654), França (A–P199) e Itália (A–377). Sua obra virou um belo filme chamado Vida de Menina (A-388).

E a quinta pessoa a ser citada é a figura de Juscelino Kubitschek de Oliveira (A-338), conhecido como JK. De origem tcheca por parte de sua mãe, filho de pessoas simples, o Sr. João César de Oliveira, um caixeiro-viajante, e da Profª. Júlia Kubitschek (A-350), professora primária. Com educação primorosa e dono do seu destino, JK formou-se em medicina em Belo Horizonte (A-380), especializou-se na França, exerceu os cargos de taquígrafo dos Correios e Telégrafos (A-557) e depois foi médico da Polícia Militar de MG. Vocacionado para a vida pública, abriu seu caminho e, de vitória em vitória, alcançou o cargo de Presidente da República. Este colecionador teve a oportunidade

4

de acompanhar uma das últimas serestas com a presença de JK, nas escadas da Igreja de São Francisco, em Diamantina, onde ele muito se emocionava ao escutar o Peixe Vivo, acompanhado por uma multidão de diamantinenses e violeiros, pelo flautista Boanerges (A-344 e 345), pelo compadre Genaro Cruz, seu sanfoneiro predileto, e por Expedito, o saudoso clarinetista da cidade. A figura de JK tem significativa participação, para não dizer ad nauseum, na Coleção Diamantina. São tantos os livros que 32 deles têm seus títulos iniciados pela sigla JK e 25 pelo nome Juscelino, isso sem contar todos os outros livros sobre o construtor de Brasília.

4Depoimento pessoal de acontecimento em 1968.

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