• Nenhum resultado encontrado

Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 8735/11.6TBOER.L1-2

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 8735/11.6TBOER.L1-2"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 8735/11.6TBOER.L1-2 Relator: FARINHA ALVES

Sessão: 06 Dezembro 2012 Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: PROCEDENTE

SEPARAÇÃO JUDICIAL DE BENS

Sumário

A separação de bens requerida na sequência da citação do cônjuge do

executado nos termos e para os efeitos do art. 825.º do CPC, ou do art. 220.º do CPPT, reconduz-se a um simples inventário, com as especialidades

previstas nos art. 1404.º a 1406.º do CPC, não se confundindo com a acção declarativa prevista no art. 1767.º do C. Civil, salvo na parte em que, uma vez decretada a separação de bens, se segue a efectivação da partilha.

Se, na sequência dessa citação, foi intentada uma acção autónoma de

separação judicial de bens, fundada no art. 1767.º do C. Civil, na verificação dos pressupostos da sua procedência também deve ser ponderado que a ora apelante podia ter-se limitado a requerer a separação de bens, nos termos dos art. 825.º e 1406 do CPC, sem necessidade de invocar e de provar, qualquer outro fundamento.

O conceito de “má administração”, para efeitos de aplicação do art. 1767.º do C. Civil, deve ser entendido com alguma amplitude, de modo a abranger

situações como a dos autos em que, por actos de um dos cônjuges, a que o outro é inteiramente estranho, estão a ser executados bens comuns do casal de valor extremamente significativo.

(Sumário elaborado pelo Relator)

Texto Integral

Maria propôs contra seu marido, Leonel, residente na mesma morada, a presente acção declarativa constitutiva pedindo que fosse decretada, entre eles, a separação judicial de bens.

Para tanto, alegou que, sendo casada com o réu no regime de comunhão de

(2)

adquiridos, pendem, contra este, três acções executivas para pagamento de dívidas deste à Administração Fiscal, a Bancos e a fornecedores, que somam € 206.552,28, onde foi penhorada a casa do casal e o respectivo recheio, bens comuns do casal.

Encontrando-se, assim, em perigo de perder o seu património em virtude da má administração do seu cônjuge, aqui réu.

Citado, o réu não contestou.

Os autos prosseguiram para julgamento.

A matéria de facto foi decidida sem reclamação.

Seguiu-se a sentença, onde a acção foi julgada improcedente.

Inconformada, a autora apelou do assim decidido, tendo apresentado alegações onde formula as seguintes conclusões:

1- Não se conforma a A., ora Apelante, com a Douta Sentença, porquanto entende que se mostravam reunidos todos os requisitos e pressupostos necessários à procedência da acção.

2- Considerou o Douto Tribunal "a quo" que não se encontra preenchido o requisito de que o "perigo provenha da má administração do outro".

3- Os requisitos da acção centram-se no perigo do cônjuge requerente perder o que é seu, perigo avaliado à luz da actuação do outro cônjuge, quando

estiver justificado o sério receio da perda dos bens do requerente devido à má administração do requerido e não de qualquer causa estranha à idoneidade da sua gestão patrimonial.

4- Da audiência de Julgamento resultou que o R. não tem honrado os seus compromissos financeiros, relativos à actividade profissional que exerce que culminou com os processos executivos referidos.

5- Tal revela o inêxito da actividade empresarial do R. e que aponta para a sua má administração.

6- Os factos apurados registam actos do R. reveladores de prodigalidade ou inépcia e que permitem, nesses casos concretos, ajuizar por má administração.

7- Estão directamente em risco os bens comuns, pois o R. colocou-os em perigo, de os perder.

8- É entendimento jurisprudencial que a má administração dos bens pode resultar da afectação dos bens do casal ao pagamento das dívidas contraídas por um dos cônjuges numa actividade comercial a que o outro é

completamente alheio.

9- Vale por dizer que é irrelevante para o perigo de perda dos bens que as dívidas tenham ou não conexão directa com a má administração, pois esta pode derivar do endividamento que comprometa o património comum e até os

(3)

bens próprios do outro.

10- Encontram-se, assim, preenchidos os requisitos previstos no art. 1767° do C.Civil, devendo a simples separação de bens ser decretada.

11- Deve a Douta Sentença ser revogada e substituída por outra que declare procedente a acção, com as legais consequências.

Não foram apresentadas contra-alegações.

Cumpre decidir.

Sendo o objecto dos recursos delimitado pelas respectivas conclusões,

ressalvadas as questões que sejam do conhecimento oficioso do tribunal, está em causa na presente apelação saber se estão verificados todos os requisitos da acção de separação judicial de bens, previstos no art. 1767.º do C. Civil, devendo ser revogada a decisão recorrida e decretada a separação.

Mais concretamente, está em causa saber se o risco em que a autora se encontra de perder os seus bens, já penhorados em três acções executivas, é imputável a má administração do réu.

Na decisão recorrida foram julgados provados os seguintes factos, que não vêm impugnados:

a) Autora e Réu são casados entre si desde 10 de Setembro de 1994, sob o regime de comunhão de adquiridos.

b) Corre termos no serviço de Finanças de … – o processo de execução fiscal n.º (…) contra o Réu marido sendo a quantia exequenda de €176.031,00.

decorrentes de dívidas de IVA, IRC e coimas aplicadas em anos anteriores de 2002 a 2008.

c) No âmbito do processo fiscal referido em b) foi penhorado o imóvel urbano inscrito sob o n.º (…), da freguesia de ..., cuja aquisição se encontra inscrita a favor da A. e do Réu.

d) Corre termos, pelo 3° Juízo cível no Tribunal de Família, Menores e Comarca do Seixal, o processo de execução n.º (…), no qual figuram como executados o Réu e outros, pela quantia de € 2809,52, tendo sido pedida a penhora do recheio da casa do mesmo.

d) Corre termos, pelo 3.º Juízo Cível do Tribunal da Comarca da Grande Lisboa Noroeste, o processo de execução n.º (…), para pagamento da quantia de

€25.030,16, acrescida das despesas prováveis de €2.681,51, figurando como executado o Réu e tendo sido aí penhorado o imóvel referido em c).

d) O recheio da casa referida também pertence à A mulher.

Resulta ainda dos autos que, no âmbito do processo fiscal referido em b), a ora

(4)

apelante foi citada, “nos termos e para os efeitos previstos nos art. 220.º e 239.º n.º 1 do Código de Procedimento e Processo Tributário, para, querendo, no prazo de trinta dias, requerer a separação judicial de bens”, por ofício datado de 01-09-2011, dado por reproduzido na petição inicial, e de que está cópia a fls. 11.

E que a presente acção foi intentada a 30-09-2011, dentro do prazo assinalado naquela citação.

O Direito

Como se viu, na presente acção está fundamentalmente em causa saber se o risco em que a ora apelante se encontra de perder os seus bens, já penhorados em três acções executivas em que o seu marido é executado, é imputável a má administração deste.

De facto, o risco de a apelante perder os seus bens já se mostra evidenciado pelas penhoras já efectuadas em bens comuns do casal. Os bens já penhorados serão, sem mais, executados, se a presente acção de separação não tiver

seguimento.

E, nos termos acima referidos, a ora apelante até foi citada para, querendo, requerer a separação de bens, nos termos dos art. 220.º e 239.º, do Código de Procedimento e Processo Tributário, (CPPT), disposições legais equivalentes às dos art. 825.º e 864.º do Código de Processo Civil, sendo nestas que se contém o regime processual aplicável.

Parecendo que a presente acção de separação judicial de bens foi intentada em resposta a essa citação, ou visando dar-lhe seguimento, de modo a obter a efectiva separação de bens do casal e, na medida do possível, evitar o

prosseguimento da execução sobre os bens penhorados.

Só que, a separação de bens requerida na sequência da citação do cônjuge do executado nos termos e para os efeitos do art. 825.º do CPC, ou do art. 220.º do CPPT, reconduz-se a um simples inventário, com as especialidades

previstas nos art. 1404.º a 1406.º do CPC, não se confundindo com a acção declarativa prevista no art. 1767.º do C. Civil, salvo na parte em que, uma vez decretada a separação de bens, se segue a efectivação da partilha.

Ou seja, no caso dos autos, a ora apelante podia, no seguimento da citação que lhe foi feita no processo de execução fiscal, ter-se limitado a requerer a partilha dos bens comuns do casal, sem necessidade de invocar, e de provar, qualquer outro fundamento para ver declarada essa separação. E, com isso, atingiria o seu objectivo, que é evitar, na medida do possível, a execução de bens comuns, por dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges.

Não foi esse o caminho seguido pela ora apelante, que, nos termos já

(5)

referidos, intentou uma acção autónoma de separação judicial de bens, fundada no art. 1767.º do C. Civil, cuja procedência depende da prova dos respectivos pressupostos, ali enunciados.

Mas, na verificação desses pressupostos, também deve ser ponderado,

segundo se julga, o facto de a ora apelante poder ter limitado a sua acção ao pedido de separação de bens, nos termos dos art. 825.º e 1406 do CPC, por estarem verificados os respectivos pressupostos. Pois que se a apelante

poderia ter requerido directamente a partilha, que é o principal efeito prático pretendido com a instauração da presente acção, julga-se que deve ser

encarada positivamente a possibilidade de declarar verificado o fundamento invocado para se proceder a essa partilha.

Em causa está a verificação da previsão do art. 1767.º do C. Civil, que estabelece:

“Qualquer dos cônjuges pode requerer a simples separação judicial de bens quando estiver em perigo de perder o que é seu pela má administração do outro cônjuge.”

Como já se referiu, o perigo de a ora apelante perder bens, já está evidenciado na efectivação das penhoras, designadamente a que incide sobre o prédio referido em c), um bem comum do casal. Que, aliás, rectificando-se neste ponto a matéria de facto, se mostra penhorado nos três processos de execução referidos, conforme resulta do documento de registo junto a fls. 15 e

seguintes. Como é evidente, as execuções prosseguirão sobre o bem penhorado se não for dado seguimento à presente acção de separação.

Importando ainda saber se esse risco em que a ora apelante se encontra de perder os seus bens já penhorados acções executivas requeridas contra seu marido, é imputável a má administração deste. Ou seja, se deve ser

reconhecido à apelante o direito a ver decretada a separação de bens.

A resposta a esta questão não será inequívoca, mas, se tivermos em conta que, na situação presente, a autora se podia ter limitado a requerer a separação de bens, nos termos dos art. 825.º e 1406.º do CPC, evitando a instauração da presente acção, propendemos a responder afirmativamente. De facto, não faz sentido recusar-lhe, na acção declarativa que a mesma instaurou, o

reconhecimento de um direito que, ainda que por outra via, a lei lhe

reconhece directamente. Sendo que, em qualquer dos casos, no final o regime de bens passa a ser o da separação.

Além disso, o conceito de “má administração”, para efeitos de aplicação do art. 1767.º do C. Civil, deve ser entendido com alguma amplitude, de modo a abranger situações como a dos autos em que, por actos de um dos cônjuges, a que o outro é inteiramente estranho, estão a ser executados bens comuns do casal de valor extremamente significativo.

(6)

De resto, a parte mais substancial das dívidas aqui consideradas, perfazendo o montante de € 176.031,00, em execução no processo de execução fiscal, é relativa a IVA, IRC e coimas dos anos de 2002 a 2008. Situação que,

traduzindo a falta reiterada de pagamento de impostos devidos, deve ser considerada má administração, aliás sancionada com a aplicação de coimas.

Conclui-se, pois, que o presente recurso deve ser julgado procedente, sendo decretada a separação de bens entre os cônjuges, ora apelante e apelado

Termos em que se acorda em julgar procedente a apelação e se altera a decisão recorrida, julgando-se procedente a acção e decretando-se a separação de bens entre os cônjuges, ora apelante e apelado.

Custas, em ambas as instâncias, pelo réu.

Lisboa, 6 de Dezembro de 2012

Farinha Alves Ezagüy Martins Maria José Mouro

Referências

Documentos relacionados

Musculatura do Assoalho Pélvico como intervenção principal para prevenção da incontinência urinária e os resultados das intervenções apontaram para um efeito positivo e efi caz

A relação contratual criada entre o fundador, o criador ou titular do centro comercial e cada um dos logistas não coincide com as lides singelas do arrendamento do prédio urbano

Revertendo ao caso em recurso, recorde-se que a Mmª Juiz a quo entendeu que o processo de justificação era o adequado à pretensão deduzida pela recorrente por entender que

IV - Em 5 de Abril de 1993, a inventariada outorgou escritura de doação a favor de seu filho João - o objecto desta doação foi o mesmo que compunha o legado a favor deste seu filho

Com efeito, em face do regime específico a que nos referimos - que atribui ao IDICT a competência para emitir a declaração comprovativa da situação de desemprego, nos casos

territorial do Tribunal de Família e de Menores do Barreiro, alegando que correu termos no Tribunal de Família e de Menores de Sintra acção de regulação do poder paternal, sendo

Analisou-se inclusive a utilização de abordagens de desenvolvimento de software e verificou-se que o TDD é a abordagem mais utilizada (33% dos respondentes) e que, ainda,

O vencimento dos boletos acontece no dia 10 de cada mês, vencendo a primeira mensalidade nos meses de fevereiro (para alunos ingressando no 1 o semestre de cada ano)