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P.º n.º R.P. n.º 32/2010 SJC-CT Registo predial online.

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P.º n.º R.P. n.º 32/2010 SJC-CT Registo predial online. Falta de indicação da chave de acesso ao documento particular autenticado. Suprimento de deficiências.

PARECER

1. Através do sítio www.predialonline.pt, foram requeridos os registos de aquisição e de constituição de usufruto sobre o prédio …/…, da freguesia de …, concelho do …, mas não se enviou o título respectivo nem se indicou qualquer chave de acesso a documento particular autenticado depositado electronicamente, conforme o disposto no artigo 18.º da Portaria n.º 1535/2008, de 30 de Dezembro.

2. Os registos, anotados no diário sob as apresentações … e … de .../…/…, foram recusados por falta de título e com fundamento no artigo 69.º/1/b) do Código do Registo Predial (CRP), todavia, não se desencadeou o sub-procedimento de suprimento de deficiências a que alude o artigo 73.º do CRP.

3. No recurso hierárquico, aduz-se apenas que o título existe, é bastante para o registo e foi depositado electronicamente no mesmo dia em que foi outorgado, pelo que foram cumpridos todos os preceitos legais aplicáveis para que os registos em causa sejam lavrados definitivamente.

4. No despacho de sustentação, insiste-se na falta de apresentação do documento que faz prova dos factos sujeitos a registo e na ausência de qualquer menção ou referência à sua existência na requisição, dando-se conta do entendimento que vem sendo seguido a propósito do disposto no n.º 6 do artigo 73.º do CRP, o qual se interpreta como estando confinado aos casos de título incompleto.

5. Na proposta de remessa do processo ao Conselho Técnico, coloca-se a questão de saber de que modo pode o incumprimento do disposto no artigo 73.º do CRP influir na conta de um novo pedido de registo, já que, no caso em apreço, a decisão recorrida não foi precedida da comunicação a que alude o artigo 73.º/2 do CRP. Vejamos.

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1. Compulsado o pedido de registo, temos que o mesmo foi enviado por advogado através do sítio a que se refere o artigo 2.º da Portaria n.º 1535/2008, de 30 de Dezembro, e, ao que tudo indica, foi precedido da prestação de serviço em regime de «balcão único», traduzida na autenticação de documento particular contendo o negócio jurídico de que decorrem os efeitos jurídicos relevantes para o registo (aquisição do direito de propriedade e constituição de usufruto) e subsequente depósito electrónico, nos termos previstos nos artigos 4.º e seguintes da dita Portaria.

1.1. Contudo, este depósito electrónico não foi feito no fluxo do pedido de registo, como permite o n.º 3 do artigo 4.º da Portaria n.º 1535/2008, dado que, para o registo, cabia demonstrar o cumprimento das obrigações fiscais e o mesmo só ocorreu em .../…/…, como se retira do comprovativo da participação de transmissões gratuitas apresentado. 1.2. Assim, quando o pedido de registo foi feito, em …/…/…, importava ter indicado o documento depositado electronicamente, através da disponibilização do código de identificação referido no artigo 12.º da Portaria, de modo a permitir a consulta electrónica do documento pelo serviço de registo (artigo 15.º), substituindo a apresentação do documento em suporte papel (artigo 24.º/5 do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho).

1.3. Como, no pedido de registo online, nada se indicou ou ficou validado1 quanto ao

título oferecido para prova legal dos factos (artigo 43.º do CRP), foram os registos recusados ao abrigo do disposto no artigo 69.º/1/b) do CRP que justamente comporta uma situação como a dos autos, em que, realmente, os factos não estão titulados nos documentos apresentados, visto que estes se reportam apenas à matéria fiscal pertinente ao negócio jurídico realizado.

2. Acontece que, antes da recusa, teria andado bem o serviço de registo se tivesse convidado o interessado a apresentar o título em falta (a indicar o código de identificação do documento depositado), dando assim cumprimento ao disposto no artigo 73.º do CRP, 1 Aparentemente, este será mais um caso de falta de familiaridade com a aplicação informática e de deficiente

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que agora abrange todas as deficiências que não envolvam um novo pedido de registo nem constituam motivo de recusa nos termos das alíneas c) a e) do n.º 1 do artigo 69.º do CRP e cuja aplicabilidade, in casu, não parece reclamar grande esforço interpretativo. 2.1. Não é a primeira vez que dizemos que à perspectiva de simplificação e modernização da actividade registral ínsita no Código do Registo Predial de 1984 (dando origem à criação de um procedimento de suprimento de deficiências que, sem pôr em causa a coerência do sistema, é de molde a permitir o aproveitamento do pedido e, com isso, uma economia de tempo e de esforços para o interessado e para os serviços), se alia agora, com a reforma do registo predial levada a cabo pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, um intuito de «coincidência entre a realidade física, a substantiva e a registral», que justifica a obrigatoriedade do registo e, de algum modo, explica o reforço do elenco das deficiências que admitem de suprimento.

2.2. Contudo, também se tem dito que o suprimento de deficiências radica num dever de assessoria dos interessados2 cuja coercibilidade não se reflecte no desenvolvimento do

2 Para nós, a actuação prevista no artigo 73.º do CRP continua a poder ser descrita como uma sucessão de

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processo registral nem é de molde a inquinar os actos subsequentes3-4, pois o registo

não deixa de ser qualificado em face dos documentos que o apresentante, enquanto responsável pela instrução do processo, julgou suficientes para o efeito, não ficando coarctado o direito de o interessado impugnar a decisão registral ou repetir o pedido, já sem deficiências.

2.3. Donde parece impertinente emprestar ao pedido de remoção da provisoriedade ou à

repetição do pedido que venha ocorrer pelo facto de não ter sido possível obter ab initio

a qualificação pretendida (designadamente, por haver deficiências no processo de registo 3

Não obstante a letra da lei, por si só, poder inculcar agora não uma ideia de assessoria dos interessados, mas um plano de densificação dos pressupostos da qualificação (o registo só pode ser recusado ou efectuado como provisório quando não for possível suprir as deficiências), certo é que em nenhum passo do CRP se localiza um mecanismo impugnatório que permita considerar a intempestividade da qualificação (com fundamento na omissão do acto processual intermédio previsto no artigo 73.º do CRP) e a anulação do processado, com a consequente «eliminação» da tradução tabular do mesmo (registo provisório ou anotação da recusa) e da qualificação e execução dos registos posteriormente lançados na ficha. Com efeito, não descortinamos, no Código do Registo Predial ou no direito subsidiário, quaisquer preceitos que imponham a nulidade ou a anulação do despacho de qualificação e/ou do assento de registo com fundamento na omissão do dever de assessoria contido no artigo 73.º do CRP, ou na preterição de formalidades devidas no âmbito do procedimento aí regulado, sendo que, na nossa opinião, das alterações legislativas levadas a cabo pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, tanto no âmbito da instrução do processo de registo como em matéria de suprimento oficioso de deficiências, ressalta mais uma ideia de «consulta» ou «recolha» dos elementos que se encontram já na esfera de disponibilidade do serviço de registo, enquanto unidade integrante da Administração Pública, do que a consagração de um princípio de posição activa do órgão administrativo na instrução do processo de registo. Embora esteja presente um interesse público de segurança do comércio jurídico imobiliário, o efeito externo que primariamente se procura com o processo de registo é de índole privada (artigo 5.º do CRP), daí que se mantenha, como regra, o princípio da instância (artigo 41.º do CRP) e que, em face das disposições conjugadas dos artigos 2.º/5, 3.º, 5.º/5, e 6.º da Portaria n.º 622/2008, de 18 de Julho, e do artigo 18.º/1, da Portaria n.º 1535/2008, de 30 de Dezembro, perdure o entendimento de que o processo de registo não se guia pela inquisitoriedade e que, portanto, fora dos casos excepcionais de oficiosidade, a iniciativa da instrução do processo registral compete desde logo ao interessado, competindo-lhe igualmente a recolha da prova e a sua integração no processo de registo.

4 O que se afirma no texto não significa que a omissão do suprimento de deficiências, quando devido, não deva

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que não se logrou conhecer no âmbito próprio do suprimento a que alude o artigo 73.º do CRP) a ausência de tributação emolumentar do procedimento de suprimento de deficiências, desde logo por falta de base legal bastante (já que nenhuma gratuitidade ou isenção se preconiza para a repetição do pedido, ou para a remoção da provisoriedade, assente nas vicissitudes da instância antecedente) e porque, no iter processual do registo, a instrução continua a ser, em regra, um acto do apresentante, ou seja, daquele que tem a iniciativa da relação registal.

2.4. Por outro lado, um tratamento emolumentar mais favorável, em caso de repetição da instância ou de remoção da provisoriedade suscitada em processo de registo anterior, para ser inteiramente devido, teria sempre de depender de uma apreciação casuística, nomeadamente de prova no sentido de que o mesmo resultado (a realização do registo nos termos pretendidos) podia ter sido atingido por via do suprimento de deficiências e no tempo concedido para o efeito, o que dificilmente se compagina com os critérios de objectividade e de transparência que vêm sendo reivindicados em matéria de tributação emolumentar.

2.5. E também não nos parece ajustada uma interpretação extensiva do n.º 7 do artigo 73.º do CRP, para alargar a transferência de emolumentos nele prevista aos casos em tabela, porquanto, na nossa opinião, a solução aí encontrada radica numa ideia de economia processual com reflexos ao nível do custo efectivo do acto, não na vontade de beneficiar o requerente que não colocou na instância o cuidado devido5.

3. Outra face do problema radica em saber se, no âmbito da impugnação hierárquica, cabe reformular o procedimento registal, prestando-se aqui a assessoria que não foi oportunamente oferecida pelo serviço de registo.

3.1. Ora, a publicidade registral actua-se como relação, mas concretiza-se num encadear

de actos, cada um dos quais é consequência do acto anterior e pressuposto do seguinte6,

e neste devir processual só participam, em regra, o apresentante e a pessoa que, dentro do serviço de registo, é competente para a qualificação (artigo 75.º-A do CRP).

5 Cfr. o parecer proferido no processo C.P. 152/2009 SJC-CT, onde se procura pôr o enfoque no objecto da

tributação emolumentar, que deixou de ser o resultado (registo, recusa, desistência) para passar a ser o pedido, ou seja, o impulso processual, independentemente do seu desfecho, fazendo, por isso, sentido que, para os casos previstos no n.º 7 do artigo 73.º do CRP, se preveja a transferência de emolumentos, porque não deixa de se tratar de um único pedido: a instância, em vez de renovada ou repetida, é aproveitada, numa lógica de economia processual, dando origem a duas anotações no diário.

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3.2. Qualquer intervenção externa, designadamente ao nível hierárquico, há-de ter por objecto uma pretensão impugnatória e por antecedentes uma decisão, de conteúdo negativo, e um resultado ou uma consequência dessa decisão, que pode ser o registo provisório ou a sua recusa (artigos 140.º e seguintes do CRP) 7.

3.3. Na verdade, o percurso seguido até à decisão final do qualificador não pode ser recomposto pela entidade ad quem, designadamente de modo a obter dos interessados os documentos que permitiriam redefinir a factualidade e conduzir a uma decisão diversa, porquanto o recurso hierárquico a que aludem os artigos 140.º e seguintes do CRP é de grau sucessivo, versando não sobre o pedido de registo mas sobre o modo como o mesmo foi decidido ou conformado por decisão anterior (proferida e/ou sustentada pelo conservador).

3.4. Não se trata apenas de eliminar ou revogar a decisão do conservador, sem nada mais acrescentar (como num recurso administrativo puro de revisão), mas também não vale decidir de novo o pedido, substituindo a decisão do conservador por outra, da entidade ad quem,8 porquanto o objecto do recurso é a decisão do conservador e, em

regra, a apreciação daquela entidade tem como limite as deficiências suscitadas em sede de qualificação9, nisto residindo a especialidade do processo de impugnação previsto e

regulado nos artigos 140.º e seguintes do CRP10.

7

Tendo em conta o disposto no artigo 140.º do CRP, no âmbito do processo de registo, só a decisão final que

recuse a prática do acto nos termos requeridos é susceptível de impugnação. O que não quer dizer que os actos processuais subsequentes à decisão não possam merecer garantia impugnatória (por exemplo, a feitura da conta ou a recusa de notificação da qualificação), ou que as omissões do serviço de registo ou a falta de resposta a uma pretensão formulada não possam ser aduzidas junto do superior hierárquico, só que, nestes casos de omissão, o efeito positivo da «denúncia» há-de traduzir-se, não na prolação da decisão ou na feitura do acto em falta, mas na intimação do serviço de registo para apreciar ou decidir em conformidade com a lei.

8 Como se de uma espécie de «segunda primeira instância» se tratasse.

9 Dizemos «em regra» porque temos vindo a admitir o agravamento da qualificação nos casos em que mais do

que garantir que a impugnação não torne pior a posição do recorrente, importa preservar o escopo essencial do registo (artigo 1.º do CRP) e o interesse público subjacente obstando, por exemplo, à feitura de registos nulos ou à duplicação de descrições.

10 Faz-se notar que, à luz do disposto no artigo 149.º do CRP, a impugnação não pode facilmente ser lida como

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3.3. Logo, os dados de facto susceptíveis de ser apreciados pela entidade de recurso são os que resultam dos documentos juntos ao processo de registo e os que se encontravam na esfera de disponibilidade do serviço de registo, ainda que não se tenha feito uso deles, como é o caso das informações existentes em documentos arquivados ou em bases de dados às quais se tenha acesso (artigo 73.º/1 do CRP), porquanto era esse o acervo material de cognição presente no momento da qualificação que se impugna. 3.4. Sendo que a abertura do suprimento de deficiências a que alude o n.º 2 do artigo 73.º do CRP em fase de recurso pode bem significar a perda da garantia do duplo grau ínsita nos artigos 140.º e seguintes do CRP, já que dos documentos posteriormente juntos podem nascer novas questões sem que a entidade competente para a qualificação possa, sobre elas, primariamente pronunciar-se.

3.5. Com dificuldade se compreende também uma solução que passe por ordenar ao serviço de registo o cumprimento superveniente do disposto no artigo 73.º do CRP11, isto

é, o impulso tendente à superação das deficiências já consolidadas em despacho e reflectidas na ficha de registo (através da inscrição provisória ou da anotação da recusa), porquanto tal decisão, tomada em sede da impugnação prevista no artigo 140.º do CRP, ao invés de produzir os efeitos previstos no artigo 148.º do CRP, tem como resultado imediato um retrocesso processual e uma nova decisão de qualificação (que até pode ser, mais uma vez, de conteúdo negativo, bastando para tanto que não se alcance o suprimento) e, eventualmente, um novo processo de impugnação12, tornando um

processo que se pretendeu célere e «enxuto»13 (com superação dos vícios da decisão

inicial no âmbito da própria impugnação) numa teia sucessiva de episódios de qualificação/ impugnação, com reflexos negativos óbvios na publicidade registral (basta 11 Cfr. Ac. da RC de 02-03-2010 (processo 593/09.7TBAVR.C1).

12 A menos que se entenda que os efeitos da qualificação inicial ficam condicionados à superação das

deficiências nela apontadas, extinguindo-se no caso de o suprimento de deficiências ser bem sucedido, ou assumindo eficácia na hipótese contrária, embora com o conteúdo ou a modelação resultante da decisão da entidade ad quem (que, por exemplo, pode entender que as deficiências demandam não a recusa, mas a provisoriedade). Contudo, esta solução dificilmente se compagina com o modo como está estruturada a relação de conhecimento registal, não se articula com o alcance preconizado para a impugnação das decisões do conservador e nem sempre se mostra infalível: figuremos um caso de recusa como o dos autos, em que não foi apresentado o título nem foi despoletado o procedimento tendente à sua junção posterior (artigo 73.º/2 do CRP), e uma impugnação que culmine com uma ordem no sentido de se proceder ao suprimento em falta. Que fazer quando do título posteriormente junto resultem outros motivos de recusa, por exemplo, a nulidade manifesta do negócio jurídico? Caberão, ou não, uma nova qualificação e uma nova impugnação? O mesmo processo de registo consentirá sucessivas qualificações e impugnações?

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pensar na «instabilidade» criável na ficha de registo) e, acima de tudo, sem correspondência na estrutura e nos efeitos definidos nos artigos 140.º e seguintes do CRP.

4. Seja como for, no caso em apreço, ainda que o título tivesse sido oferecido no tempo próprio e na sede devida, que é o processo de registo, não parece que o pedido pudesse resistir a outros motivos de recusa, agora, por causa do documento apresentado.

4.1. É que o documento existente, pretendendo ser um documento particular autenticado que titula a aquisição e a constituição de usufruto, apresenta-se, afinal, como um documento particular ao qual se anexou um print do registo em sistema informático efectuado nos termos previstos na Portaria n.º 657-B/2006, de 29 de Junho, tendo sido este o conjunto documental depositado electronicamente.

4.1.1. Ora, como se aduziu nos processos R.P. 83/2009 SJC-CT e R.P. 84/2009 SJC-CT perante documentos nas mesmas condições, para nós, não é a prova dos dizeres do registo no sistema informático, aliás desnecessário face ao disposto no artigo 6.º/2 da Portaria n.º 1535/2008, o que realmente pode consubstanciar o termo de autenticação previsto no artigo 22.º do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho14.

4.1.2. Com efeito, o termo de autenticação, que agora concorre com a escritura pública como formalidade necessária à exteriorização dos actos sujeitos a registo predial elencados no mencionado artigo 22.º, há-de corresponder a um documento, elaborado no próprio documento particular ou em folha anexa (artigo 36.º/4 do CN), que, além de satisfazer, na parte aplicável e com as devidas adaptações, o disposto nas alíneas a) a n) do n.º 1 do artigo 46.º do CN, deve conter as menções previstas nas alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo 151.º e, se for o caso, os requisitos especiais mencionados no artigo 152.º do mesmo Código.

4.1.3. Sendo que em termos de conteúdo, por se tratar de um termo de autenticação de documento particular relativo a acto que, até 31 de Dezembro de 2008, merecia a 14 Não obstante a letra do artigo 38.º/3 do Decreto-Lei n.º 76-A/2006, por si só, consentir o entendimento de

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solenidade e a cautela formal da escritura pública, recebe exigências legais acrescidas, dado que, no artigo 23.º/3 do Decreto-Lei n.º 116/2008, se impõe às entidades tituladoras a observância de toda a actividade de fiscalização ou de controlo de legalidade que sobre o mesmo tipo de acto recai quando lavrado por escritura pública e que, no artigo 24.º/1 do mesmo diploma legal, expressamente se ressalvam todos os requisitos legais a que estão sujeitos os negócios jurídicos sobre imóveis, demandando-se que subsidiariamente demandando-se aplique o Código do Notariado15.

4.1.4. Vale, por isso, dizer que um acto com os efeitos previstos no artigo 22.º do Decreto-lei n.º 116/2008 lavrado por escritura pública se distingue daquele que é formalizado por documento particular autenticado pelo facto de ser o notário, e não as partes, a redigir o documento, depois de indagar, interpretar e adequar ao ordenamento jurídico a vontade negocial em causa, mas os pressupostos e os requisitos legais especiais demandados pelo tipo negocial e pela natureza dos bens envolvidos têm, em qualquer caso, de ser observados e fiscalizados pela entidade tituladora: o notário, no caso da escritura pública, ou o notário ou qualquer entidade que autentique o documento particular 16.

4.1.5. A esta entidade tituladora competirá fiscalizar a legalidade do acto (artigos 173.º/1 e 174.º do CN) e verificar, comunicar e participar com o mesmo grau de dever imposto ao notário quando o acto é praticado por escritura pública, residindo o benefício desta fiscalização nas mesmas razões que a determinam quando o acto é lavrado na forma mais solene, ou seja, uma razão de ordem de pública, traduzida na necessidade

de assegurar o prestígio da lei, e também uma razão de ordem particular, tendo aqui em vista evitar às partes a desvantagem de praticarem actos que mais tarde não podem produzir os efeitos por elas pretendidos17.

15 Na nossa opinião, o preceituado nos artigos 22.º a 25.º do Decreto-Lei n.º 116/2008 não deixa de pôr a claro

que, neste âmbito, não se procurou a simplificação do conteúdo dos actos negociais ou o abandono dos requisitos e pressuposições legais a que os mesmos se acham injuntivamente subordinados, antes se permitiu aos interessados prescindir da formalidade mais solene da escritura pública mediante a estipulação de forma legal preenchida pela autenticação do documento particular perante ou notário ou uma das entidades previstas no artigo 38.º do Decreto-Lei n.º 76-A/2006. Só que esta autenticação, para ser válida, tem de ser reduzida a termo que contenha os requisitos privativos da espécie de documento em causa e os requisitos especiais inerentes ao tipo negocial documentado, e tem de ser validamente depositada na plataforma electrónica criada para o efeito (artigo 24.º/2 do Decreto-Lei n.º 116/2008).

16Cfr., neste sentido, o processo C.P. 81/2009 SJC-CT.

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4.2. No caso dos autos, para além de se tratar de um documento que não tem a aparência externa de um termo de autenticação e que, não fora o facto de nele terem sido apostas as assinaturas autógrafas da doadora e rogada do doador18, do donatário e

do advogado, faria supor apenas a falta de depósito electrónico do acto notarial (documento contendo o termo de autenticação elaborado pela entidade tituladora em folha anexa ao documento particular) a que respeitaria aquele registo informático, em nenhum passo do mesmo se detecta a intervenção fiscalizadora atrás referida, dado que nenhuma menção relativa à legitimação dos direitos dos transmitentes, à exibição da prova referida no artigo 54.º/4 do CN ou à prova do artigo matricial (artigo 57.º/2 do CN) se detecta no conteúdo do print depositado electronicamente com o documento particular19.

4.3. Entendemos, por isso, que a actuação desenvolvida pela entidade tituladora não consubstancia o acto de autenticação a que aludem os artigos 22.º e seguintes do Decreto-Lei n.º 116/2008 e que, portanto, o documento particular não chegou a adquirir a natureza de documento particular autenticado, não estando o facto titulado nos documentos apresentados (artigo 69.º/1/b) do CRP).

Termos em que propomos a improcedência do recurso e, em conformidade, firmamos aos seguintes

CONCLUSÕES

I - O suprimento oficioso de deficiências do processo de registo previsto no artigo 73.º do Código de Registo Predial radica num dever geral de assessoria dos interessados cujo incumprimento, podendo merecer censura do ponto de vista disciplinar, não é, contudo, de molde a suscitar a invalidade dos actos subsequentes, designadamente do despacho de qualificação e do registo.

18

No termo de autenticação, a menção de que o doador não pode assinar (artigo 46.º/1/m) do CN) haverá de fazer-se acompanhar da impressão digital ou das exigências a que aludem o artigo 51.º do CN, e bem assim dos requisitos especiais previstos no artigo 152.º do CN.

19

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II - A autenticação dos documentos particulares que titulem actos sujeitos a registo predial, nos termos previstos nos artigos 22.º e seguintes do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, deve ser feita mediante termo de autenticação, elaborado nos termos do Código do Notariado, e depósito electrónico realizado de acordo com o preceituado na Portaria 1535/2008, de 30 de Dezembro, ficando a entidade tituladora, que seja advogado, solicitador ou câmara de comércio e indústria, dispensada de proceder ao registo em sistema informático previsto na Portaria n.º 657-B/2006, de 29 de Junho.

III - Assim, nem a execução do registo em sistema informático previsto na Portaria n.º 657-B/2006 pode consubstanciar a prática do acto de autenticação dos documentos particulares que titulem actos sujeitos a registo predial, nem o

print extraído daquele sistema informático electronicamente depositado, com o

documento particular, constitui documento bastante para a prova legal do facto (artigo 43.º/1 do Código do Registo Predial).

Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 23 de Junho de 2010.

Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Maria Eugénia Cruz Pires dos Reis Moreira, Luís Manuel Nunes Martins, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, António Manuel Fernandes Lopes, João Guimarães Gomes Bastos, José Ascenso Nunes da Maia.

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FICHA – P.º R.P. 32/2010 SJC-CT

SÚMULA DAS QUESTÕES TRATADAS

Omissão de dever de suprimento de deficiências:

Reflexos emolumentares na repetição do pedido ou na remoção da provisoriedade

• Ponderação da omissão do dever de assessoria em sede de impugnação da qualificação

Documento particular autenticado

Referências

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