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Rev. esc. enferm. USP vol.13 número3

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Academic year: 2018

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A S P E C T O S J U R Í D I C O S D O C Ó D I G O D E D E O N T O L O G I A D A E N F E R M A G E M *

Talca Oguisso *••'

O G U I S S O , T. A s p e c t o s jurídicos d o C ó d i g o de D e o n t o l o g i a d a enfermagem. Rev. Esc. Enf. USP, S ã o P a u l o , 7 5 ( 3 ) : 2 2 5 - 2 3 2 , 1 9 7 9 .

A autora compara as regras do Código de Deontologia do Conselho Federal de Enfermagem e do Código de Ética da Associação Brasileira de Enfermagem com dispositivos equivalentes do Códigos Civil e Penal.

A década de 1 9 7 0 f i c a r á m a r c a d a n a H i s t o r i a da E n f e r m a g e m B r a s i l e i r a pelo f a t o de i m p o r t a n c i a f u n d a m e n t a l q u e foi a c r i a ç ã o dos Conselhos F e d e r a l e Regionais de E n f e r m a g e m , consubstanciada n a Lei n.° 5 . 9 0 5 , de 1 2 de j u l h o de 1 9 7 3 .

P a r a q u e esse f a t e se tornasse n a r e a l i d a d e q u e é, f o r a m necessários v i n t e e oito anos de t r a b a l h o e l u t a s d e u m p e q u e n o g r u p o de e n f e r m e i r a s da Associação B r a s i l e i r a de E n f e r m a g e m .

Essa r e a l i d a d e está o b r i g a n d o os e n f e r m e i r o s a se i n t e r e s s a r e m p e l o estudo da legislação. A i m p o r t â n c i a desse estudo justifica-se pelos seguintes fatores: 1 ) é p o r v i a da legislação q u e se c r i a m ou se e x t i n g u e m direitos e d e v e r e s ; 2 ) " n i n g u é m se excusa de c u m p r i r a lei, alegando q u e n ã o a conhece" é o

q u e dispõe o Código C i v i l B r a s i l e i r o , a r t . 3 . ° ;

3 ) esse dispositivo do Código C i v i l é r a t i f i c a d o pelo Código P e n a l a r t . 1 6 , q u e estabelece: "a i g n o r â n c i a ou a e r r a d a c o m p r e e n s ã o da lei n ã o e x i m e m da p e n a " ;

4 ) o estudo da legislação específica f a v o r e c e m e l h o r e m a i o r p a r t i c i p a ç ã o no de-s e n v o l v i m e n t o da p r ó p r i a profide-sde-são.

S e g u n d o M o n t e s q u i e u , lei é a " r e l a ç ã o necessária que d e r i v a da n a t u r e z a das coisas". P a r a C o m t e , são "as relações constantes de sucessão e s e m e l h a n ç a e n t r e os f e n ô m e n o s , e m v i r t u d e das q u a i s nos é p e r m i t i d o p r e v e r certos f e n ô m e n o s " . Cada g r u p o ou série d e f e n ô m e n o s , c o n s t i t u i n d o u m a ciência, traz consigo suas p r ó p r i a s leis. Estas se dizem, segundo d e n o m i n a ç ã o da m a t é r i a a q u e p e r t e n c e m , leis físicas, leis biológicas, leis sociais, leis econômicas, etc.

No conceito j u r í d i c o , o r i g i n á r i o de lex-legere do l a t i m , lei é a n o r m a ou r e g r a j u r í d i c a , escrita e o b r i g a t ó r i a , p o r m a i s restrito q u e seja o c a m p o de sua

* Trabalho apresentado na I Jornada Regional de Ética da Associação Brasileira de Educação em Enfermagem (ABEE) e da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) Seção São Paulo.

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aplicação; e m a n a d a de q u e m — poder o u pessoa investida de a u t o r i d a d e — possa g a r a n t i r ou assegurar essa obrigatoriedade; c o m vigência por d e t e r m i n a d o espaço de t e m p o n u m a certa coletividade ou g r u p o social.

É a lei que institui a o r d e m j u r í d i c a . J u r í d i c o v e m de juridicus, direito e dicere, dizer. A q u a l i d a d e de j u r í d i c o e x p r i m e o sentido de legítimo, j u s t o , legal, segundo as circunstâncias e m que seja aplicado, ao m e s m o t e m p o que r e v e l a o ato ou tudo o que se apresenta apoiado n a lei ou no d i r e i t o .

A o r d e m j u r í d i c a i n s t i t u í d a pela lei é, p o r t a n t o , onde se baseia a r e g u l a -m e n t a ç ã o , e v o l u t i v a -m e n t e estabelecida, p a r a -m a n t e r o e q u i l í b r i o e n t r e as relações do h o m e m n a sociedade, n o tocante a seus direitos e a seus deveres. Na o r d e m j u r í d i c a está assentado o c o n j u n t o de r e g r a s obrigatórias, f o r m u l a d o p a r a prote-ção de todos os interesses e p a r a n o r m a de c o n d u t a de todas as ações; e p o r q u e âão estabelecidas pelo p r ó p r i o h o m e m , impondo-se ao respeito e obrigatoriedade de todos, diferenciam-se das leis n a t u r a i s .

A s leis j u r í d i c a s caracterizam-se essencialmente pela sua generalidade o u u n i v e r s a l i d a d e e obrigatoriedade.

O caráter e g e n e r a l i d a d e evidencia-se n o p r i n c í p i o de que as leis n ã o se estabelecem ou se p r e s c r e v e m p a r a cada pessoa, m a s s i m , p a r a todos e m g e r a l . A obrigatoriedade da lei decorre da p r ó p r i a o r d e m j u r í d i c a pré-existente e firma-se n a sanção ou coercibilidade imposta p a r a fazer v a l e r a r e g r a q u e n e l a se i n s t i t u i . É, assim, p o r excelência, m a n i f e s t a ç ã o de p o d e r . Esse poder o r i g i n á r i o do pró-p r i o g r u pró-p o social, como u m todo, traduz-se, n o Estado, pró-pela soberania, ou s e j a , pelo exercício de u m a r b í t r i o , nos l i m i t e s de u m t e r r i t ó r i o , e sobre seus habi-tantes.

A inflexibilidade da lei e m relação à sua obrigatoriedade e generalidade é r e v e l a d a n o aforismo dura lex, sed lex, isto é, a lei é d u r a , m a s é lei. Q u e r isto significar que a lei deve ser obedecida, n ã o i m p o r t a n d o a r e g r a q u e v e n h a ins-t i ins-t u i r ou o p r i n c í p i o q u e v e n h a esins-tabelecer.

S e m e l h a n t e assertiva, e n t r e t a n t o , n ã o significa q u e q u a l q u e r disposição pos-sa ser imposta pela lei. Esta h á q u e obedecer aos p r i n c í p i o s da o r d e m j u r í d i c a , sem i m p o r r e g r a s o u n o r m a s i r r e g u l a r e s e absurdas, q u e f u j a m aos f u n d a m e n t o s do p r ó p r i o D i r e i t o , f i r m a d o s e m seus preceitos n a t u r a i s . P o r t a n t o , as leis d e v e m s e m p r e v i s a r o b e m c o m u m e a t e n d e r às exigências de b e m do p r ó p r i o h o m e m , c o m base nas exigências da n a t u r e z a .

A elaboração f o r m a l da lei no B r a s i l , d e n t r o do r e g i m e b i c a m e r a l , composto de S e n a d o F e d e r a l e C â m a r a dos Deputados, obedece a dispositivo constitucional sobre processo legislativo.

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Constituição é depositária d a soberania. Não pode o Congresso N a c i o n a l , m e d i a n -te lei o r d i n á r i a , c o n t r a r i a r dispositivo constitucional. A r e v o g a ç ã o d e u m inciso da C a r t a M a g n a d e v e r á s e g u i r o r i t o c o m p l e x o da p r ó p r i a elaboração consti-t u c i o n a l .

Q u a l q u e r lei q u e se p r e t e n d a e l a b o r a r , m e s m o u m a n o v a Constituição, j á e n c o n t r a e m v i g o r u m u n i v e r s o de n o r m a s legais; p o r t a n t o a criação legislativa será s e m p r e u m t r a b a l h o d e c o m p l e m e n t a ç ã o , com a f i n a l i d a d e de r e v i g o r a r a e s t r u t u r a j u r í d i c a ,aperfeiçoá-la, s u p l e m e n t á - l a , atualizá-la o u c o n f o r m á - l a à evo-l u ç ã o sociaevo-l.

A L E I N.° 5 . 9 0 5 / 7 3

T r a n s f e r i d o s esses p r i n c í p i o s gerais p a r a a legislação específica da E n f e r m a -g e m , verifica-se q u e a L e i n.° 5 . 9 0 5 / 7 3 constitui u m a n o r m a j u r í d i c a escrita obrigatória, e m a n a d a do P o d e r competente, v i g e n t e p o r d e t e r m i n a d o espaço de tempo sobre u m g r u p o social, q u e é o d a e n f e r m a g e m , nos l i m i t e s d o t e r r i t ó r i o q u e é considerado b r a s i l e i r o .

C o m o m a n i f e s t a ç ã o l e g í t i m a de p o d e r do Estado, a L e i n.° 5 . 9 0 5 / 7 3 traz em si m e s m a a sanção, isto é, a f o r ç a de obrigatoriedade q u e i n d u z ao c u m p r i m e n -to d e seus dispositivods. E m d e c o r r ê n c i a da p r o m u l g a ç ã o desta L e i , o M i n i s t r o

de Estado do T r a b a l h o b a i x o u u m a P o r t a r i a , q u e t a m b é m é u m a n o r m a j u r í d i c a , com força de lei n a sua esfera de ação, n o m e a n d o os profissionais q u e c o m p o r i a m o p r i m e i r o P l e n á r i o do C o n s e l h o F e d e r a l de E n f e r m a g e m , c u j a posse o c o r r e u n o G a b i n e t e d o p r ó p r i o M i n i s t r o . A s s i m , os M e m b r o s do C o n s e l h o f o r a m investidos de a u t o r i d a d e e competência legal p a r a p r o c e d e r aos atos a d m i n i s t r a t i v o s neces-sários à disciplina e c o n t r o l e do exercício profissional, o b j e t i v o p r i n c i p a l da en-t i d a d e .

U m Conselho o u O r d e m é u m t r i b u n a l de ética c o m f u n ç ã o de dizer quais as pessoas q u e p o d e m exercer a profisão o u ocupação de acordo c o m a legislação p e r t i n e n t e e m v i g o r ; d e coibir aqueles q u e a e s t i v e r e m exercendo i l e g a l m e n t e e, ain-da, de c o n t r o l a r aqueles q u e a e x e r c e m l e g a l m e n t e , p a r a v e r i f i c a r se c u m p r e m com exação suas obrigações, p u n i n d o os q u e se a f a s t a m da ética profissional com u m a das penas q u e a L e i f a c u l t a .

E m b o r a o P a í s t e n h a o seu Código P e n a l , q u e i n c l u i dispositivos sobre a saúde p ú b l i c a p a r a proteção do cidadão c o n t r a profissionais incompetentes, a le-gislação específica, p o r ser m a i s estrita, visa c o n t r o l a r m e l h o r as atribuições de tais profissões ou ocupações, c u j o exercício oferece m a i o r e s riscos p a r a os consu-midores desses serviços.

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O C Ó D I G O D E D E O N T O L O G I A D E E N F E R M A G E M E S E U A S P E C T O J U R Í D I C O

A Lei n.° 5 . 9 0 5 / 7 3 i n s t i t u i u a o r d e m j u r í d i c a que r e p r e s e n t a a expressão da l e g i t i m i d a d e , legalidade e j u s t i ç a , base da r e g u l a m e n t a ç ã o , e v o l u t i v a m e n t e es-tabelecida p a r a m a n u t e n ç ã o do e q u i l í b r i o social nas relações e n t r e os profissionais e ocupacionais da e n f e r m a g e m e a sociedade, no que tange a seus direitos e deveres.

P a u t a d o nos p r i n c í p i o s legais e m que foi c r i a d o , o Conselho F e d e r a l de E n f e r m a g e m ( C O F E N ) a p r o v o u o Código de Deontologia de E n f e r m a g e m , bai-xado pela Resolução C O F E N n.° 9 / 7 5 , p u b l i c a d o n o D i á r i o Oficial da U n i ã o ( D O U ) , de 2 9 de m a r ç o de 1 9 7 6 . A m a t é r i a dessa Resolução constitui "documen-to balizador da conduta ética do pessoal de e n f e r m a g e m n o exercício de suas ati-v i d a d e s " . A l é m desse Código, o C O F E N baixou a i n d a duas outras Resoluções, a de n.° 1 0 / 7 5 e de n.° 1 9 / 7 5 , a m b a s publicadas n o D O U , j u n t a m e n t e com o Código de Deontologia de E n f e r m a g e m , n o dia 2 9 de m a r ç o de 1 9 7 6 . A Resolução C O F E N n.° 1 0 / 7 5 c o n t é m o Código de Processo Ético de E n f e r m a g e m e a de n.° 1 9 / 7 5 , o Código de Transgressões e P e n a l i d a d e s .

Obedece, pois, o Código de Deontologia de E n f e r m a g e m , assim como os dois outros Códigos que o a c o m p a n h a m , a todos os requisitos legais q u e os t o r n a m , t a m b é m , u m a r e g r a j u r í d i c a f o r m a l , obrigatória no espaço de t e m p o de sua vigên-cia, p a r a toda a coletividade específica p o r eles a b r a n g i d a .

O Código de Deontologia de E n f e r m a g e m t e m p o r base os postulados da De-claração U n i v e r s a l dos Direitos do H o m e m , p r o m u l g a d a pela Assembléia G e r a l das Nações U n i d a s , e m 1 9 4 8 . Estes postulados f o r a m adotados p e l a C o n v e n ç ã o de G e n e b r a da C r u z V e r m e l h a , de 1 9 4 9 , e estão contidos nos Códigos de Ética do Con-selho I n t e r n a c i o n a l de E n f e r m e i r a s ( I C N ) , do C o m i t ê I n t e r n a c i o n a l Católico de E n f e r m e i r a s e Assistentes Médico-Sociais ( C I C I A M S ) e da Associação B r a s i l e i r a de E n f e r m a g e m ( A B E n ) .

A C o n v e n ç ã o de G e n e b r a da C r u z V e r m e l h a , de 1 9 4 9 , t r a t a da proteção das pessoas civis e m t e m p o de g u e r r a , q u a n d o e n f e r m e i r o s poderão ser i n t e r m e d i á r i o s e n t r e as forças de ocupação e as pessoas necessitadas de assistência. A proteção p r e v i s t a n a C o n v e n ç ã o i n c l u i m i l i t a r e s e civis e n f e r m o s ou f e r i d o s , i n v á l i d o s , crian-ças, gestantes e anciãos, a l é m de pessoal c i v i l m é d i c o e de e n f e r m a g e m q u e assis-t e m a essas pessoas e m esassis-tabelecimenassis-tos públicos, designados p a r a esse f i m pelo p r ó p r i o g o v e r n o .

A Declaração U n i v e r s a l dos Direitos H u m a n o s , os Códigos de Ética das enti-dades i n t e r n a c i o n a i s de classe e o da Associação B r a s i l e i r a de E n f e r m a g e m t r a ç a m os princípios básicos da conduta profissional, o q u e n ã o só supõe a estrita obediên-cia às leis m a i o r e s do P a í s , como t a m b é m i m p õ e aos profissionais e ocupacionais da e n f e r m a g e m u m tipo de c o m p o r t a m e n t o elevado, baseado n a m o r a l cristã.

O C a p í t u l o I do Código de Deontologia de E n f e r m a g e m trata das responsabi-lidades f u n d a m e n t a i s do e n f e r m e i r o .

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Os C a p í t u l o s I I I e I V c o n t é m os deveres do e n f e r m e i r o c o m r e l a ç ã o à classe e d e m a i s m e m b r o s da equipe de saúde.

Todos os dispositivos legais do Código são aplicados, p o r extensão, n o que coube, ao pessoal das o u t r a s categorias c o m p r e e n d i d a s nos serviços de e n f e r m a g e m . C o t e j a n d o a m a t é r i a s u b s t a n t i v a do Código de Deontologia e a legislação or-d i n á r i a contior-da n a Constituição e nos Cóor-digos C i v i l e P e n a l vigentes n o B r a s i l , ve-rifica-se q u e e m todos são e n c o n t r a d a s n o r m a s de c o n d u t a disciplinadoras.

A s s i m , a C a r t a M a g n a , a r t . 1 5 3 , assegura, aos brasileiros e aos estrangeiros re-sidentes n o P a í s , a i n v i o l a b i l i d a d e dos direitos concernentes à v i d a ,liberdade, se-g u r a n ç a e p r o p r i e d a d e , dispondo q u e "é l i v r e o exercício d e q u a l q u e r t r a b a l h o , ofício ou profissão, observadas as condições de capacidade q u e a lei estabelece".

Essas condições de capacidade são estabelecidas pelas leis específicas, q u e é o caso da legislação do C O F E N com suas Resoluções.

0 Código C i v i l B r a s i l e i r o , a r t . 3.°, dispõe q u e " n i n g u é m se escusa de c u m p r i r a lei, alegando q u e n ã o a conhece".

A responsabilidade c i v i l e m casos de ofensa à v i d a ou à saúde a i n d a n ã o está tão desenvolvida como nos Estados U n i d o s ou C a n a d á , p o r e x e m p l o , m a s o Código C i v i l ( a r t . 1 5 4 ) p r e v ê indenização ou satisfação do dano causado p o r médicos, ci-rurgiões, f a r m a c ê u t i c o s , p a r t e i r a s e dentistas, s e m p r e q u e , da i m p r u d ê n c i a , ne-gligência ou i m p e r i c i a e m atos profissionais, r e s u l t a r m o r t e , i n a b i l i t a ç ã o de ser-v i r o u f e r i m e n t o .

A p e c u l i a r i d a d e das atribuições do pessoal d e saúde q u e l i d a com v i d a s h u -m a n a s obriga a q u e sua atuação se coadune co-m os preceitos do Código P e n a l , q u e estabelece os l i m i t e s de l i c i t u d e , a l é m dos quais o ato passa a ser p u n í v e l .

Constitui p r i n c í p i o básico do D i r e i t o P e n a l a a n t e r i o r i d a d e da l e i . Esse p r i n -cípio está consagrado n o Código P e n a l , c u j o a r t i g o l J0 1 dispõe que "não h á c r i m e

sem lei a n t e r i o r que o d e f i n a . Não h á p e n a sem p r é v i a c o m i n a ç ã o legal"; m a s , a d v e r t e n o a r t . 1 6 q u e "a i g n o r â n c i a o u a e r r a d a compreensão da lei não e x i m e m de p e n a s " .

A l g u m a s disposições do Código P e n a l t ê m v i n c u l a ç ã o m a i s direta e n t r e a nor-m a p e n a l e o exercício d a e n f e r nor-m a g e nor-m .

0 a r t . 1 5 desse d i p l o m a legal diz que o c r i m e é culposo " q u a n d o o agente d e u causa ao r e s u l t a d o p o r i m p r u d ê n c i a , negligência o u i m p e r i c i a " .

C u l p a , n o sentido j u r í d i c o , é a v o l u n t á r i a omissão de diligência e m c a l c u l a r as conseqüências possíveis e p r e v i s í v e i s do p r ó p r i o f a t o . S ã o m o d a l i d a d e s de c u l p a : negligência, i m p r u d ê n c i a e i m p e r i c i a .

Negligência é expressão a m p l a q u e significa inação, i n é r c i a e passividade. Ne-gligente é q u a n d o a pessoa, podendo e d e v e n d o a g i r de d e t e r m i n a d o m o d o , p o r in-dolência ou p r e g u i ç a m e n t a l n ã o age ou se c o m p o r t a de m o d o d i v e r s o .

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a l i ç ã o dos fatos o r d i n á r i o s n e m a t e n d e r às c i r c u n s t â n c i a s especiais do caso, etc. R I C C I O diz q u e n a negligência n ã o se u s a m os poderes d e a t i v i d a d e e n a i m p r u -dência f a l t a m os poderes inibitórios.

I m p e r i c i a supõe arte ou profissão. Consiste n a incapacidade, n a f a l t a d e co-n h e c i m e co-n t o o u habilitação p a r a o exercício de d e t e r m i co-n a d o m i s t e r . P o d e p r o v i r da f a l t a de p r á t i c a o u da ausência de conhecimentos técnicos da profissão, ofício o u a r t e . Não se c o n f u n d e i m p e r i c i a c o m e r r o profissional. I m p e r i t o é q u e m não possui cabedal n o r m a l m e n t e indispensável ao exercício de u m a profissão. Não existindo essa i g n o r â n c i a n ã o h á i m p e r i c i a , m a s e r r o profissional.

P o r ser preceito g e r a l , esse a r t . 1 5 do Código P e n a l a t i n g e q u a l q u e r i n d i v í -d u o , i n -d e p e n -d e n t e m e n t e -de sua profissão o u ocupação. A b r a n g e , p o r t a n t o , o pes-soal de e n f e r m a g e m . 0 Código de Deontologia, c o n t u d o , v a i , a l é m , ao estabelecer q u e "a responsabilidade d o e n f e r m e i r o p o r f a l h a cometida e m seu t r a b a l h o n ã o é d i m i n u í d a pelo f a t o de t e r sido este executado c o l e t i v a m e n t e ou e m e q u i p e " . E , a i n d a , diz o a r t . 1 2 q u e "o e n f e r m e i r o protege o cliente c o n t r a danos decorrentes de i m p e r i c i a , negligência, omissão ou i m p r u d ê n c i a p o r p a r t e de q u a l q u e r mem-b r o da equipe de saúde, a l e r t a n d o o profissional faltoso e, e m ú l t i m a i n s t â n c i a , r e c o r r e n d o à chefia i m e d i a t a , a f i m d e que s e j a m t o m a d a s m e d i d a s p a r a salva-g u a r d a r a sesalva-gurança e o conforto do c l i e n t e " .

Os arts. 1 2 4 a 1 2 7 do Código P e n a l t r a t a m do a b o r t a m e n t o como u m dos crimes c o n t r a a v i d a . Todos esses artigos j á p r o v o c a r a m g r a n d e s m o v i m e n t o s por p a r t e de g r u p o s de médicos e e n f e r m e i r a s , n o sentido de r e v o g a r esse dispositivo. 0 progresso da ciência r e d u z i u os casos de indicação de a b o r t a m e n t o terapêutico. N a v e r d a d e h á u m c o n f l i t o e n t r e o Código C i v i l e o P e n a l , n o q u e se r e f e r e à proteção da v i d a do n a s c i t u r o . 0 Código C i v i l ( a r t . 4 . ° ) g a r a n t e p l e n a m e n t e os direitos do n a s c i t u r o , p e r m i t i n d o até nomeação de c u r a d o r que t o r n e efetiva a defesa desses direitos. 0 Código P e n a l autoriza a violação do direito de v i v e r ! E a violação é m a i s a b e r r a n t e q u a n d o n ã o h á o "hipotético risco p a r a a v i d a da m ã e " como é o caso da g r a v i d e z r e s u l t a n t e de e s t u p r o . D e n t r o de u m a sistemática j u -r í d i c a , cabe especificamente à lei p e n a l p o l i c i a -r os atos anti-sociais, isto é, estabe-lecer as sanções adequadas à repressão dos atos q u e v i o l a m os direitos do cidadão, garantidos por o u t r a s leis substantivas. Essa é a sua f u n ç ã o , d e c o r r e n t e da p r ó p r i a n a t u r e z a da lei p e n a l . Não p o d e r i a , p o r t a n t o , o Código P e n a l assegurar a a l g u é m a f a c u l d a d e de v i o l a r o direito de o u t r e m , g a r a n t i d o pela lei c i v i l . E q ü i v a l e r i a isto a a d m i t i r a subversão da o r d e m j u r í d i c a e m n o m e da p r ó p r i a l e i .

P e l a e n f e r m a g e m n ã o pode ser esquecido o a r t . 2 5 do Código P e n a l q u e dis-põe: "Quem, de q u a l q u e r m o d o , concorre p a r a o c r i m e , incide nas penas a este c o m i n a d a s " . É o c r i m e da co-autoria, q u e o Código de Deontologia capitula n o a r t . 2 4 : "É proibido ao e n f e r m e i r o ser c o n i v e n t e , a i n d a q u e a título de solidarie-dade, com c r i m e , c o n t r a v e n ç ã o p e n a l , ou ato p r a t i c a d o p o r colega, que i n f r i n j a postulado ético profissional".

(7)

P a r a n ã o i n c o r r e r e m co-autoria, o e n f e r m e i r o d e v e r e c u s a r cooperar n u m a i n t e r v e n ç ã o i l í c i t a . Esta ação seria j u s t i f i c a d a pelos dispositivos do Código de Ética da A B E n e pelo de Deontologia do C O F E N , q u e diz e x p r e s s a m e n t e "ser p r o i -b i d o p r o v o c a r a -b o r t o , o u cooperar e m p r á t i c a destinada a i n t e r r o m p e r a gestação".

O a r t . 1 2 9 do Código P e n a l t r a t a das lesões c o r p o r a i s . Estas c o m p r e e n d e m n ã o só a lesão a n a t ô m i c a , física, m a s toda p e r t u r b a ç ã o d o e q u i l í b r i o f u n c i o n a l do o r g a n i s m o , o u s e j a , da saúde física o u m e n t a l . O c r i m e pode ser p r a t i c a d o p o r omissão ou comissão. Omissão seria o caso, p o r e x e m p l o , de d e i x a r de a l i m e n t a r u m a pessoa, de z e l a r pela sua h i g i e n e , de i m p e d i r a ação de fatores externos, etc. A s lesões p o d e m ser: leves (escoriações, h e m a t o m a s , provocação de náuseas, vô-m i t o s , e t c ) ; g r a v e s ( f r a t u r a s , luxações, e n f r a q u e c i vô-m e n t o , r e d u ç ã o o u d i vô-m i n u i ç ã o de c a p a c i d a d e ) ; g r a v í s s i m a s e seguidas de m o r t e .

No exercício da e n f e r m a g e m p o d e m o c o r r e r essas lesões c o r p o r a i s tais como f r a t u r a s , luxações p o r quedas do leito, m a c a o u c a d e i r a ; q u e i m a d u r a s p o r bolsa de á g u a q u e n t e , b i s t u r í elétrico, h e m a t o m a s p o r injeções m a l aplicadas; e m geral como d e c o r r ê n c i a de f a l t a de v i g i l â n c i a , supervisão ou t r e i n a m e n t o de pessoal.

A omissão de socorro é o u t r o c r i m e c a p i t u l a d o e m lei, n o a r t . 1 3 5 . Esse ar-tigo t r a z u m a n o r m a de solidariedade sob i m p e r a t i v o legal. O Código de Ética da A B E n , a r t . 9.°, assim como o Código de Deontologia do C O F E N , a r t . 9.°, I I , dispõe sobre a proibição do e n f e r m e i r o a b a n d o n a r o paciente e m m e i o a trata-m e n t o , setrata-m a g a r a n t i a de c o n t i n u i d a d e de assistência.

0 a r t . 1 5 4 do Código P e n a l t r a t a da violação do segredo profissional. Na v i d a e m sociedade o i n d i v í d u o necessita r e c o r r e r f r e q ü e n t e m e n t e a outros buscando seus conselhos, serviços, assistência, e t c , ocasião e m q u e pode r e v e l a r fatos q u e n ã o q u e r desvendados o u expostos ao conhecimento de terceiros. T u t e -la-se a l i b e r d a d e i n d i v i d u a l r e l a c i o n a d a à i n v i o l a b i l i d a d e de segredos.

O segredo profissional n ã o d e v e ser r e v e l a d o , m s m o q u a n d o o profissional o u ocupacional é c h a m a d o a d e p o r ; C ó d i g o C i v i l , a r t . 1 4 4 , dispõe que " n i n g u é m pode ser obrigado a depor de fatos a c u j o respeito, p o r estado o u profissão, deva g u a r d a r segredo".

A r e v e l a ç ã o do segredo profissional constitui c r i m e p r e v i s t o n o Código P e n a l , q u e diz ser c r i m e " r e v e l a r a a l g u é m , sem j u s t a causa, segredo, de q u e t e m ciência e m r a z ã o de f u n ç ã o , m i n i s t é r i o , ofício o u profissão, e c u j a r e v e l a ç ã o possa pro-d u z i r pro-d a n o a ou t r e m " .

P a r a c o n f i g u r a r o c r i m e , d e v e h a v e r nexo causai e n t r e o exercício d a a t i v i -dade e o c o n h e c i m e n t o d o f a t o . A lei n ã o se i m p o r t a com os meios pelos q u a i s se r e v e l a o segredo. Não h á necessidade da i n t e n ç ã o de p r e j u d i c a r . S ã o i r r e l e v a n -tes os f i n s e os m o t i v o s , a n ã o ser a j u s t a causa o u estado de necessidade, c o m o p o r e x e m p l o , o caso de moléstia de notificação c o m p u l s ó r i a .

O Código de Ética da A B E n , a r t . 8.°, e o de Deontologia do C O F E N , a r t . 8.°, I I , dispõem expressamente sobre a m a t é r i a , constituindo-os como u m dos sagrados deveres do pessoal de e n f e r m a g e m .

(8)

d e v i a constar, o u nele i n s e r i r ou fazer i n s e r i r declaração falsa ou d i v e r s a da q u e devia ser escrita, com o f i m de p r e j u d i c a r d i r e i t o , c r i a r obrigação ou a l t e r a r a v e r -dade sobre fato j u r i d i c a m e n t e r e l e v a n t e : p e n a r e c l u s ã o , de u m a c i n c o a n o s .

A f a l s i d a d e ideológica ou i n t e l e c t u a l referese a d o c u m e n t o c u j a m a t e r i a l i d a -de é p e r f e i t a , m a s c u j o conteúdo substancial é falso, i n v e r í d i c o . Na e n f e r m a g e m o c o r r e n a s anotações i n c o r r e t a s , i n c o m p l e t a s , falseadas e m p r o n t u á r i o , dos fatos relacionados com o cliente ou p a c i e n t e ; p o r t a n t o , o agente pode cometer esse c r i m e , q u e r o m i t i n d o declaração q u e d e v i a f a z e r , q u e r i n s e r i n d o o u fazendo i n s e r i r de-claração falsa ou d i v e r s a da q u e d e v i a ser escrita.

A L e i n.° 2 . 6 0 4 / 5 5 , r e g u l a m e n t a d a p e l o D e c r e t o n.° 5 0 . 3 8 7 / 6 1 , q u e r e -g u l a o exercício profissional de e n f e r m a -g e m , a i n d a e m v i -g o r , c a p i t u l a n o a r t . 1 4 : " S ã o deveres do pessoal de e n f e r m a g e m : m a n t e r p e r f e i t a anotação nas papeletas clínicas de t u d o q u a n d o se r e l a c i o n a r c o m o doente e com a e n f e r m a g e m " .

C O N C L U S Õ E S

Este estudo, a i n d a q u e i n c o m p l e t o , d e m o n s t r a ser essencial q u e os e n f e r m e i -ros se f a m i l i a r i z e m com a legislação profissional específica e com todas as suas implicações.

O propósito da legislação de e n f e r m a g e m é, p r i n c i p a l m e n t e , a proteção do p ú -blico e a do e n f e r m e i r o e de sua e q u i p e .

O e n f e r m e i r o , como profissional l e g a l m e n t e h a b i l i t a d o , d e v e p r e p a r a r - s e p a r a a s s u m i r responsabilidade c o m p a t í v e l c o m seu n í v e l de f o r m a ç ã o u n i v e r s i t á r i a , se q u i s e r ser v a l o r i z a d o e reconhecido e m seus direitos; m e s m o p o r q u e os conheci-m e n t o s científicos h o j e s ã o de d o conheci-m í n i o p ú b l i c o e a sociedade conheci-m o d e r n a está cada v e z m a i s conscientizada d e seus direitos.

F i n a l m e n t e , é preciso r e p e t i r q u e a q u a l i d a d e do p r e p a r o d e t e r m i n a a quali-d a quali-d e quali-dos serviços quali-de e n f e r m a g e m . A competência profissional poquali-de ser afetaquali-da o u d i m i n u í d a no d e c o r r e r do t e m p o e pela a p a r i ç ã o de novos conhecimentos e técnicas. S o m e n t e a educação c o n t i n u a d a a t r a v é s de cursos, congressos, s e m i n á r i o s , j o r -n a d a s o u e-nco-ntros p a r a e -n f e r m e i r o s e d e m a i s categorias de e -n f e r m a g e m m a -n t e r á atualizados os conhecimentos e elevado o n í v e l de competência.

O G U I S S O , T. L e g a l aspects of the C o d e of D e o n t o l o g y f o r nursing personnel. Rev. Esc. Enf. USP, S ã o P a u l o , 13(3) : 2 2 5 - 2 3 2 , 1 9 7 9 .

The author compares the rules contained in the Code of Deontology, of the Nursing Federal Council, and in the Code of Ethics, of the Brazilian Nurses' Association, with the equivalent precepts of the Civil Code and Penal Code of Brazil.

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Referências

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