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(1)1. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. ÉLCIO VALMIRO SALES DE MENDONÇA. A DINASTIA OMRIDA: Reconstrução do Primeiro Estado Independente de Israel a partir da Bíblia e da Arqueologia. São Bernardo do Campo Junho de 2017.

(2) 2. ÉLCIO VALMIRO SALES DE MENDONÇA. A DINASTIA OMRIDA: Reconstrução do Primeiro Estado Independente de Israel a partir da Bíblia e da Arqueologia. Prof. Dr. José Ademar Kaefer (Orientador) Tese de Doutorado apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Doutor.. São Bernardo do Campo Junho de 2017.

(3) 3. FICHA CATALOGRÁFICA. M523d. Mendonça, Élcio Valmiro Sales de A Dinastia Omrida : reconstrução do primeiro Estado independente de Israel a partir da Bíblia e da arqueologia / Élcio Valmiro Sales de Mendonça - São Bernardo do Campo, 2017. 356fl. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) – Universidade Metodista de São Paulo - Escola de Comunicação, Educação e Humanidades Programa de PósGraduação em Ciências da Religião São Bernardo do Campo. Bibliografia Orientação de: José Ademar Kaefer 1.. Arqueologia bíblica 2. Israel 3. Exegese I. Título CDD 220.93.

(4) 4 A tese de doutorado sob o título “A DINASTIA OMRIDA: RECONSTRUÇÃO DO PRIMEIRO ESTADO INDEPENDENTE DE ISRAEL A PARTIR DA BÍBLIA E DA ARQUEOLOGIA”, elaborada por Élcio Valmiro Sales de Mendonça, foi defendida e aprovada perante banca examinadora composta por Prof. Dr. José Ademar Kaefer (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira (Titular/UMESP), Prof. Dr. Edson de Faria Francisco (Titular/UMESP), Prof. Dr. Luis José Dietrich (Titular/PUC-PR) e Prof. Dr. Haroldo Reimer (Titular/UEG).. Prof. Dr. José Ademar Kaefer Orientador e Presidente da Banca Examinadora. Prof. Dr. Helmut Renders Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Ciências da Religião Linha de Pesquisa: Linguagens da Religião Área de Concentração: Literatura e Religião no Mundo Bíblico.

(5) 5. Esta pesquisa foi realizada com financiamento da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

(6) 6. DEDICATÓRIA.

(7) 7. AGRADECIMENTOS Agradeço ao Eterno. Meu agradecimento a Jannine Ferreira Cosmo de Mendonça, minha esposa, pela paciência e apoio. Aos meus pais Amaro Cabral de Mendonça e Severina Maria Sales de Mendonça que sempre me inspiraram ter uma vida íntegra, e a buscar e batalhar pelos meus objetivos. À minha irmã Viviane e Rodrigo Scura por todos os momentos e pela colaboração a esta pesquisa. Ao meu orientador prof. Dr. José Ademar Kaefer que se tornou um amigo nesta caminhada, e sempre me apoiou e me encorajou a prosseguir avançando nas pesquisas sobre Israel Norte, sem me esquecer do povo das comunidades e em como levar esse conhecimento a ele. Ao prof. Dr. Tércio Machado Siqueira que foi meu orientador no Mestrado, e ao prof. Dr. Edson de Faria Francisco, estudiosos da área de Bíblia, grandes amigos e incentivadores. Também ao prof. Dr. Paulo Nogueira, por suas observações ao meu projeto no exame de qualificação. Ao prof. Ms. Silas Klein Cardoso, amigo, pelas conversas e discussões sobre as pesquisas, pelos artigos e obras que compartilhou comigo. Também a Ms. Cecilia Toseli, que junto com o Silas Klein, contribuiu muito para o amadurecimento desta tese. Aos pesquisadores do Grupo de Pesquisa Arqueologia do Antigo Oriente Próximo, que de alguma forma também contribuíram com esta pesquisa. Finalmente, meus agradecimentos a Regiane (Coordenação) e a Camilla (Secretaria) pelo atendimento sempre muito bom e pelos serviços prestados. Ao prof. Dr. Haroldo Reimer e prof. Dr. Luis José Dietrich. À Fapesp, pelo financiamento da pesquisa, e ao IEPG pelo importante auxílio no início e no final da pesquisa..

(8) 8. RESUMO Esta pesquisa tem por objetivo analisar a dinastia omrida como a fundadora do primeiro Estado independente de Israel, no séc. IX AEC. Este foi o único momento da história que Israel governa de modo totalmente independente. Ao invés de ser dominado era Israel quem dominava. A dinastia dos reis omridas expandiu seu território alcançando a costa do mar Mediterrâneo, o sul da Síria, a Transjordânia e dominando sobre Judá. A fundação de Samaria por Omri foi o início do primeiro estado israelita. Omri edificou a cidade e realizou grandes obras unindo vários aspectos arquitetônicos existentes e inovando com outros, de forma que formou um modelo arquitetônico para todas as construções omridas pelo vasto território. Israel Norte possui todas as características de um estado desenvolvido, conforme as teorias de formação dos estados de Childe e Liverani. Palácios suntuosos, edifícios públicos e administrativos, mão-de-obra especializada, cobrança de tributos, templos, produção excedente, indústrias, corpo de escribas e escrita desenvolvida. Judá não possuía nada disso, ao contrário, durante o séc. IX AEC era pequeno e sem recursos. Judá se tornou um estado desenvolvido somente no séc. VIII AEC, depois que Israel Norte foi destruído pelos assírios. Mas apesar de tudo isso, a dinastia omrida é vista com a pior, mais pecadora e mais perversa de todas, seus reis, principalmente, Omri e Acab são avaliados nas narrativas bíblicas como os piores reis de Israel. Isso porque a história de Israel como a temos na Bíblia, foi editada e compilada por Judá, quando Israel Norte já não existia, isto favoreceu Judá na história bíblica. Esta pesquisa pretende fazer o caminho inverso, entender a história de Israel a partir de Israel Norte. E para isso, o método utilizado será a análise exegética e a análise dos achados arqueológicos. A exegese com a arqueologia para desvendar a história de Israel Norte do séc. IX AEC, que não foi registrada nos textos bíblicos. Para isso, foram realizadas visitas de estudo em quase todos os sítios analisados nesta pesquisa (sítios de Israel, Palestina e Jordânia), também foram realizadas escavações no sítio arqueológico de Tel Megiddo (2016), com o arqueólogo Israel Finkelstein, um dos referenciais desta pesquisa. Quanto aos resultados, Israel Norte, no período da dinastia omrida, de fato foi o primeiro estado israelita e o único de toda a história de Israel a existir e governar de forma independente. O vasto território dominado pela dinastia omrida é praticamente o mesmo da Monarquia Unida de Davi e Salomão. Há grande possibilidade de que a ideia de Monarquia Unida tenha vindo das memórias de um reino poderoso, próspero e extenso que governou o Norte e o Sul, a Transjordânia e chegou até a Síria, que tinha fortes ligações comerciais com a Fenícia. Enfim, o único reino que fez tudo isso foi o da dinastia omrida. Palavras-Chave: Dinastia Omrida, Monarquia Unida, Israel Norte, Arqueologia, Exegese.

(9) 9. ABSTRACT This research aims to analyze the Omride Dynasty as the founder of the first independent state of Israel in the ninth century BCE. This was the only time in history that Israel rules completely independently. Instead of being dominated, it was Israel who dominated. The kings of the Omride Dynasty expanded their territory, reaching the shores of the Mediterranean Sea, southern Syria, Transjordan and dominating over Judah. The founding of Samaria by Omri was the beginning of the first Israelite state. Omri built the city and made great works by uniting various architectural aspects and innovating with others, in a way that formed an architectural model for all buildings omridas by the vast territory. Northern Israel has all the characteristics of a developed state, according to the theories of the establishment of the states of Childe and Liverani. Sumptuous palaces, public and administrative buildings, specialized labor, collection of taxes, temples, surplus production, industries, body of scribes and developed writing. Judah had none of this, on the contrary, during the ninth century BCE, was small and without resources. Judah only becomes a developed state in the eighth century BCE, after Israel North was undone by the Assyrians. But despite all this, the Omride Dynasty is seen with the worst, most sinful and most perverse of all, its kings, especially Omri and Ahab, are evaluated in the biblical narratives, as the worst kings of Israel. This is because the history of Israel as we have it in the Bible was edited and compiled by Judah, when Northern Israel was destroyed, this favored Judah in biblical history. This research intends to do the opposite way, understanding the history of Israel from Northern Israel. And for that, the method used will be the exegetical analysis and the analysis of the archaeological findings. Exegesis with archeology to unravel the history of northern Israel from the ninth century BCE, which was not told in the biblical texts. For this, study visits were carried out in almost all the sites analyzed in this research (sites of Israel, Palestine and Jordan), excavations were also carried out at the archaeological site of Tel Megiddo (2016), with archaeologist Israel Finkelstein, one of the references of this search. As for the results, Israel North was in fact the first Israeli state, and the only one in all of Israel's history to exist and govern independently. The vast territory dominated by the Omride Dynasty is practically the same as the United Monarchy of David and Solomon. There is a strong possibility that the idea of the United Monarchy came from the memories of a powerful, prosperous and extensive kingdom that ruled North and South, Transjordan, and reached Syria, which had strong trade links with the Phoenician. At last, the only kingdom that did all this, was the one of the omrida dynasty. Key words: Omride Dynasty, United Kingdom, Northern Israel, Archeology, Exegesis.

(10) 10. RESUMEN Esta investigación tiene por objetivo analizar la dinastía omrida como la fundadora del primer Estado independiente de Israel, en el siglo IX AEC. Este fue el único momento de la historia que Israel gobierna de manera totalmente independiente. En vez de ser dominado, era Israel quien dominaba. La dinastía de los reyes omridas expandió su territorio, alcanzando la costa del mar Mediterráneo, el sur de Siria, la Transjordania y dominando sobre Judá. La fundación de Samaria por Omri, fue el inicio del primer estado israelí. Omri edificó la ciudad y realizó grandes obras uniendo varios aspectos arquitectónicos existentes e innovando con otros, de forma que formó un modelo arquitectónico para todas las construcciones omridas por el vasto territorio. Israel Norte posee todas las características de un estado desarrollado, según las teorías de formación de los estados de Childe y Liverani. Palacios suntuosos, edificios públicos y administrativos, mano de obra especializada, cobro de tributos, templos, producción excedente, industrias, cuerpo de escribas y escritura desarrollada. Judá no tenía nada de eso, por el contrario, durante el siglo IX AEC, era pequeño y sin recursos. Judá sólo se convierte en un estado desarrollado en el siglo AEC, después de que Israel Norte fue deshecho por los asirios. Pero a pesar de todo esto, la dinastía omrida es vista con la peor, más pecadora y más perversa de todas, sus reyes, principalmente Omri y Acab, son evaluados en las narrativas bíblicas, como los peores reyes de Israel. Porque la historia de Israel como la tenemos en la Biblia fue editada y compilada por Judá, cuando ya no existía Israel, esto favoreció a Judá en la historia bíblica. Esta investigación pretende hacer el camino inverso, entender la historia de Israel desde Israel Norte. Y para eso, el método utilizado será el análisis exegético y el análisis de los hallazgos arqueológicos. La exégesis con la arqueología para desentrañar la historia de Israel Norte del siglo IX AEC, que no fue contada en los textos bíblicos. Para ello, se realizaron visitas de estudio en casi todos los sitios analizados en esta investigación (sitios de Israel, Palestina y Jordania), también se realizaron excavaciones en el sitio arqueológico de Tel Megiddo (2016), con el arqueólogo Israel Finkelstein, uno de los referenciais de la investigación. Sobre los resultados, Israel Norte de hecho fue el primer estado israelí, y el único de toda la historia de Israel a existir y gobernar de forma independiente. El vasto territorio dominado por la dinastía omrida es prácticamente el mismo de la Monarquía Unida de David y Salomón. Hay gran posibilidad de que la idea de Monarquía Unida haya venido de las memorias de un reino poderoso, próspero y extenso, que gobernó el Norte y el Sur, la Transjordania y llegó hasta Siria, que tenía fuertes vínculos comerciales con la fenicia. Por fin, el único reino que hizo todo eso, fue el de la dinastía omrida. Palabras Clave: Dinastía Omrida, Monarquía Unida, Israel Norte, Arqueología, Exégesis.

(11) 11. SUMÁRIO. ABREVIATURAS ................................................................................................14 INTRODUÇÃO ....................................................................................................16 1. As fontes bíblicas ....................................................................................... 16 2. As fontes arqueológicas ............................................................................. 17 3. O Método ................................................................................................... 19 4. As Hipóteses .............................................................................................. 20 5. Estrutura da Pesquisa ................................................................................ 21 PARTE 1: ESTADO ATUAL DA PESQUISA .....................................................23 Capítulo 1 - A Situação Atual da Pesquisa sobre Israel Norte ......................24 1. Abordagens sobre a dinastia Omrida publicadas até 1980 ........................ 25 2. Abordagens sobre os omridas publicadas entre 1980 e 2000 ................... 35 3. Abordagens sobre a dinastia omrida publicadas após 2000 ...................... 41 PARTE 2: LITERATURA ....................................................................................64 Capítulo 2 - A Ascensão da Dinastia Omrida: Estudo Exegético de 1Rs 16.15-33. ...........................................................................................................65 Introdução .........................................................................................................65 1. Tradução Literal Interlinear de 1 Reis 16.15-33 ............................................66 2. Crítica Textual ...............................................................................................69 3. Delimitação da Perícope ...............................................................................77 4. Estrutura da Perícope ...................................................................................79 5. Coesão da Perícope .....................................................................................82 6. Gênero Literário ............................................................................................86 7. Análise do Conteúdo de 1Rs 16.15-33 .........................................................89 7.1. A Ascensão de Omri (16.15-22) .................................................................90 7.1.1. Zimri usurpa o trono de Israel Norte (v.15) ........................................ 90 7.1.2. Omri, comandante do exército de Israel Norte (v.16) ........................ 94 7.1.3. Omri sitia a cidade de Tirza, capital de Israel Norte (v.17)................. 97 7.1.4. A morte de Zimri no palácio real (v.18) .............................................. 98 7.1.5. Avaliação negativa do reinado de Zimri (v.19-20) .............................. 99 7.1.6. Um concorrente de Omri ao trono de Israel Norte, Tibni (v.21) ....... 102 7.1.7. A morte de Tibni e a ascensão de Omri ao trono (v.22) .................. 104 7.2. O Reinado de Omri e a Fundação de Samaria (16.23-28) .......................106 7.2.1. Omri começa a reinar sobre Israel Norte a partir de Tirza (v.23) ..... 107 7.2.2. A fundação de Samaria, a nova capital de Israel Norte (v.24) ......... 111 7.2.3. Avaliação negativa do reinado de Omri (v.25-26) ............................ 115 7.2.4. O fim do reinado de Omri (v.27-28) ................................................. 121 7.2.5. Acréscimo no texto grego da LXX (Ralphs) em 3Rns 16.28: ........... 125 7.3. O Reinado de Acab, Filho de Omri (16.29-33) .........................................130 7.3.1. Início do reinado de Acab (v.29) ...................................................... 131.

(12) 12 7.3.2. Avaliação negativa e severa do reinado de Acab (v.30) .................. 133 7.3.3. O casamento com a princesa Jezabel, a fenícia (v.31) ................... 134 7.3.4. Avaliação negativa de Acab, rei de Israel Norte (v.32-33) ............... 138 8. Propondo Data e Lugar ...............................................................................141 Capítulo 3 - O Conjunto Literário sobre a Dinastia Omrida .........................148 Introdução: Os Reis Omridas (1Rs 16.23 – 2Rs 11.13) ................................ 148 1. Omri e a Fundação de Samaria (1Rs 16.15 – 28) ................................... 150 2. O Reinado de Acab (1Rs 16.29 – 22.40) ................................................. 151 3. O Reinado de Acazias (1Rs 22.52 – 2Rs 1.18) ....................................... 156 4. O Reinado de Jorão (2Rs 3.1 – 9.29) ...................................................... 156 5. Dois Reis em Israel Norte e em Judá com os mesmos Nomes (2Rs 8.1629) ................................................................................................................ 157 6. A Revolta de Jeú: o Extermínio da Dinastia Omrida (2Rs 9-10) .............. 158 7. Atalia: uma Rainha Omrida em Jerusalém (2Rs 11.1-3, 13-16) .............. 160 8. Os Omridas e o Domínio sobre Judá em 1 e 2 Reis ................................ 161 9. A Dinastia Omrida nos livros das Crônicas (2Cr 18.1 – 23.15) ................ 164 10. O Domínio da Transjordânia ................................................................... 168 11. O Território Omrida na Transjordânia no livro de Juízes (Jz 11.12-22) .. 170 PARTE 3: ARQUEOLOGIA ..............................................................................173 Capítulo 4 - A Fundação de Samaria a partir da Arqueologia .....................174 Introdução ..................................................................................................... 174 1. Localização do sítio arqueológico de Sebastia (Samaria) ....................... 174 2. Geografia e Topografia de Samaria e Região ......................................... 176 3. História da Pesquisa Arqueológica em Samaria ...................................... 177 3.1. Harvard Excavations at Samaria (1908-1910) ................................... 178 3.2. Os Achados Referentes ao séc. IX AEC ............................................ 182 3.3. O Palácio de Omri (Fase I) ................................................................. 183 3.4. O Palácio de Acab (Fase II) ............................................................... 187 3.5. Palácio de Acab – Parte Oeste: A Casa dos Óstracos....................... 189 3.6. Os Óstracos e a Escrita em Samaria – Israel Norte ........................... 197 3.6.1. A Estela Israelita de Samaria ...................................................... 200 3.6.2. A Inscrição hyl (‫ליה‬, lyh)............................................................ 202 3.7. Os Túmulos dos Reis de Israel em Samaria ...................................... 203 3.8. Joint Expedition at Samaria (1931-1935) ........................................... 205 3.9. A Arquitetura de Samaria ................................................................... 207 4. A Capital do Primeiro Estado Israelita ..................................................... 210 Capítulo 5 - O Território Dominado pelos Omridas a partir da Arqueologia ...................................................................................................217 Introdução ..................................................................................................... 217 1. As 7 Principais Características Arquitetônicas das Cidades e Fortalezas Omridas ........................................................................................................ 219 2. Arquitetura Omrida em Israel Norte ......................................................... 221.

(13) 13 3. Arquitetura Omrida na Transjordânia: As Estelas de Mesha e de Tel Dan .................................................................................................................240 5. Território dominado por Israel Norte ........................................................ 257 PARTE 4: RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA ......................................................260 Capítulo 6 - O Primeiro Estado Independente: Monarquie Unida ...............261 Introdução ..................................................................................................... 261 1. A Primeiro Estado de Israel Norte e Judá ................................................ 262 2. Um Estado Independente ........................................................................ 272 3. Dinastia Omrida: A Monarquia Unida ....................................................... 277 4. Omri e Acab / Davi e Salomão ................................................................. 288 Considerações finais .................................................................................... 293 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................296 ANEXO I – ARQUITETURA OMRIDA ..............................................................304 ANEXO II – FORTALEZAS OMRIDAS .............................................................315 ANEXO III – MARCAS DE PEDREIRO ............................................................321 ANEXO IV – INSCRIÇÕES HEBRAICAS E ARAMAICAS...............................326 ANEXO V – CÓDICES MASSORÉTICOS ........................................................328 ÍNDICE REMISSIVO .........................................................................................331 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................337.

(14) 14. ABREVIATURAS AEC ANET. ARA. ATI. BHS BJ Cf. Códice A Códice L EC Fig. impf. K LXX Mm Mp NBP séc. part. PEF pes. pf. pl. Q sing. v.. Ante da Era Comum. Ancient Near East Texts. [PRITCHARD, James B. (ed.). Ancient Near Eastern Texts: relating to Old Testament. ANET. Third Edition with Supplement. Princeton: Princeton University Press, 1969]. Almeida Revista e Atualizada. [Bíblia Sagrada com Concordância. Ed. Revista e Atualizada. Trad. João Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade Bíblia do Brasil, 2008]. Antigo Testamento Interlinear. [FRANCISCO, Edson de Faria. Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português. Vol.2. Profetas Anteriores. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2014]. Biblia Hebraica Stuttgartensia. [ELLIGER, Karl; RUDOLPH, Wilhelm (eds.). Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. Ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997]. Bíblia de Jerusalém. [Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 1995]. Conferir. Códice de Alepo A (925 ou 930). Códice de Leningrado B19a (1008 ou 1009) Era Comum. Figura. imperfeito. Ketiv (‫ )כתיב‬indicado na massorá como ‫כת‬ ׄ Septuaginta ou Setenta Masora Magna Masora Parva Nova Bíblia Pastoral. [Nova Bíblia Pastoral. São Paulo: Paulus, 2014]. Século. particípio. Palestine Exploration Fund pessoa. perfeito. plural. Qerê (‫ )קרי‬indicado na massorá como singular. versículo.. ׄ‫ק‬.

(15) 15. Alfabeto Hebraico – Paleohebraico – Árabe – Transliteração Quadrado. Qumran. Mesha. Tel Dan. Samaria. (Idade Média e atual). (Séc. II AEC e II EC). (Séc. IX AEC ). (Séc. IX AEC ). (Séc. IX e VIII AEC ). Árabe. Transliteração. ‫א‬ ‫בּ‬/‫ב‬ ‫ג‬ ‫ד‬ ‫ה‬ ‫ו‬ ‫ז‬ ‫ח‬ ‫ט‬ ‫י‬ ‫כ‬ ‫ל‬ ‫מ‬/‫ם‬ ‫נ‬/ ‫ן‬ ‫ס‬ ‫ע‬ ‫פ‬/ ‫ף‬ ‫צ‬/ ‫ץ‬ ‫ק‬ ‫ר‬ ‫שׂ‬/‫שׁ‬ ‫ת‬. a b g d h u z H T i. a b g d h W z x j Y K l M N s [ p C Q r f T. ‚ b G D H W Z x j Y % L m n s [ p # Q R v t. A B G d h w z x j y & l m N S { p C s r V t. ‫ا‬ ‫ب‬ ‫ج‬ ‫د‬ ‫ھ‬ ‫و‬ ‫ز‬ ‫ح‬ ‫ط‬ ‫ي‬ ‫ث‬ ‫ل‬ ‫م‬ ‫ن‬ ‫س‬ ‫ع‬ ‫ف‬ ‫ص‬ ‫ق‬ ‫ر‬ ‫س‬/‫ش‬ ‫ت‬. ’. k l m. M s o. p P N X q r w t. b / ḇ g d h w z ḥ ṭ y k/ḵ l m n s ‘ p ṣ q r ś / š t.

(16) 16. INTRODUÇÃO. Esta pesquisa está baseada na análise exegética do texto Bíblico e na arqueologia do antigo Israel. O ponto de partida será a análise exegética, baseada no método da Crítica da Forma, dos textos da Bíblia Hebraica, especificamente, daqueles que se referem ao período da dinastia omrida. Também está baseada na análise de vestígios arqueológicos, levando em consideração as novas abordagens da arqueologia referentes à história de Israel Norte, presentes na obra de Israel Finkelstein, Amihai Mazar e outros. O objetivo principal é estudar a história de Israel a partir do Norte. Entender como foi o desenvolvimento histórico que levou ao surgimento da primeira monarquia israelita. Esta monarquia foi duramente rejeitada pelos redatores e compiladores das narrativas dos livros dos Reis e, posteriormente, pelos dois livros das Crônicas, isto porque foi Judá, não Israel Norte, quem concluiu a redação da história de Israel. Mesmo assim, é possível encontrarmos vestígios nos textos que nos dão ideia de como teria sido Israel Norte, e nisso, a arqueologia tem ajudado muito. Com relação às fontes utilizadas nesta pesquisa, estas podem ser divididas em dois grandes grupos: 1. As fontes bíblicas, e, 2. As fontes arqueológicas. 1. As fontes bíblicas: Serão utilizadas as duas principais fontes bíblicas: 1) a Bíblia Hebraica e, 2) a Septuaginta (LXX). Para a Bíblia Hebraica, estou utilizando a Biblia Hebraica Stuttgartensia1, que representa do Códice de Leningrado B19a, um códice massorético datado em 1008-1009 (FRANCISCO, 2008, p. 315). Este texto da Bíblia Hebraica será a base desta pesquisa para a análise exegética da história de Israel contida principalmente nos livros de 1 e 2 Reis. Outra importante fonte bíblica é a Septuaginta (LXX)2, que é a primeira tradução da Bíblia do hebraico para o grego. Esta tradução é o mais antigo testemunho da transmissão do texto bíblico e é considerada como uma das 1. ELLIGER, Karl; RUDOLPH, Wilhelm (eds.). Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. Ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. 2 RAHLFS, Alfred (ed.). Septuaginta: Id est Vetus Testamentum graece iuxta LXX interpretes. vols. 1 e 2. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1979..

(17) 17 principais versões da Bíblia Hebraica. A tradução é datada do séc. III AEC, feita em Alexandria, Egito. (FRANCISCO, 2008, p. 432-433). A LXX será utilizada para comparações com o texto da Bíblia Hebraica, especificamente nos casos de palavras com tradução incerta e nos casos de acréscimos contidos na versão grega que não aparecem na Bíblia Hebraica. 2. As fontes arqueológicas: Serão trabalhadas três fontes arqueológicas escritas relacionadas diretamente com a dinastia omrida de Israel Norte. Estas fontes são duas inscrições em paleohebraico (Estela de Mesha e de Tel Dan) e uma em cuneiforme (Obelisco Negro de Salmaneser III): 2.1. Estela de Mesha: Também chamada de Estela de Mesha, ou ainda Estela Moabita. Ela foi encontrada na cidade de Diban, na Jordânia, em 1868, pelo missionário alemão Friederich Klein. A estela mede 1,10m de altura por 0,60m de largura, e está atualmente no Museu do Louvre, Paris. (KAEFER, 2015, p.74-76; GALLEAZO, 2008, p. 12). Há uma réplica desta estela no Museu de Arqueologia do Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, da qual fiz vários registros fotográficos. Esta estela mostra como Israel Norte expandiu seu domínio a leste do Jordão, na Transjordânia, territórios de Amon e Moab. Este é um testemunho extra bíblico importante da expansão omrida nos territórios da atual Jordânia. Ela menciona importantes localidades que indicam fortalezas omridas de fronteira, como: Atarote e Jahaz, além de mencionar Madaba e Monte Nebo, que estavam sob o domínio omrida. Esta estela é importante para esta pesquisa, pois ela indica os territórios dominados pelos omridas na região da Transjordânia, e o ponto de vista transjordaniano a respeito de Israel Norte. 2.2. Estela de Tel Dan: Foram encontrados três fragmentos (A, B1 e B2) de basalto desta estela durante as escavações realizadas nos anos de 1993-1994 no sítio de Tel Dan3, extremo norte de Israel. O fragmento A foi descoberto em 21 de julho de 1993, o fragmento B1, em 20 de junho de 1994, e o fragmento B2 em 30 de junho de 1994 (ATHAS, 2003, p.1,6,13-14; KAEFER, 2015, p. 78).. 3. Veja os relatórios das escavações em Tel Dan em: http://teldan.wordpress.com/ e http://www.ngsba.org/en/excavations..

(18) 18 Esta estela se tornou conhecida por causa de uma expressão que aparece escrita no fragmento A, dwdtyB “Casa de Davi”. Mas para esta pesquisa, a importância desta estela está no fato de ela revelar novas e relevantes informações para a compreensão da história de Israel Norte. Ela revela que foi Hazael (possível autor do escrito), quem matou Jorão, rei de Israel e Acazias, rei de Judá, e quem colocou Jeú no poder. Ela também mostra que os omridas ocuparam territórios que Hazael, rei de Damasco, afirmava ter sido do pai dele, Ben Hadad. Isto ajuda a compreender as fronteiras omridas ao norte e nordeste, contra Aram-Damasco, região de Gilead e Ramot-Gilead (KAEFER, 2015, p.8082). 2.3. Estela de Kurkh de Salmaneser III: A inscrição está em caracteres cuneiformes, e foi encontrada em 1861 pelo britânico John George Taylor, na antiga cidade de Kurkh, leste da Turquia. Nesta inscrição, o rei Salmaneser III (858-824 AEC), da Assíria, relata sua vitória em Qarqar sobre a coalizão anti-assíria formada por doze reis, entre eles, Acab, Aḫabbu, rei de Israel Norte. (KAEFER, 2015, p. 70-71; GRAYSON, 2002, p. 23-24; PRITCHARD, 1950, p. 278-279). A Estela de Kurkh de Salmaneser III foi datada em 853-852 AEC4 A importância desta inscrição está nas informações que ela fornece a respeito do rei Acab, mostrando seu poderio bélico, seu destaque entre os demais reis da coalizão, e sua força de organização e planejamento de guerra. Além da citação do nome de Acab, Aḫabbu, e da sua expressiva quantidade de carros de guerra e soldados a pé, os assírios conheciam o reino de Israel Norte através da expressão “Casa de Omri”, Bit-Ḫumrii, inclusive anos após o extermínio de sua dinastia. Tal expressão ocorre pelo menos cinco vezes nos textos assírios de Salmaneser III (GRAYSON, 2002, p. 48, 54, 60, 149). 2.4. Sítios arqueológicos omridas estudados in loco: Foram visitados quase todos os sítios arqueológicos pertencentes ao período da dinastia de Omri. São sítios de Israel, Palestina e Jordânia que apresentam evidências das características arquitetônicas omridas, as quais ajudam a reconstruir as dimensões geopolíticas do reino de Israel Norte. Os sítios 4. The British Museum. The Monolith stelae of Shalmaneser III. Disponível em: http://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details/collection_ima ge_gallery.aspx?assetId=150815&objectId=367117&partId=1. Acesso em 14/10/2015..

(19) 19 visitados e estudados são: Samaria, Tel Jezreel, Tel Megiddo (estrato VA-IVB), Ḥazor (estrato X), Tel Dan, Tell el-Farah [Tirza] (estrato VIIB), Tel Gezer (estrato VII), Tel Reḥov (estrato VI-IV), En Gev (estrato IV, área A, e estrato III, área BC), Tell Ballata (Siquém) e Pella, Tell Hisban (Hesbon), Khirbet ‘Ataruz5 (Atarote) e Khirbet ‘Ara‘ir (Aroer). Também serão trabalhados outros sítios omridas que foram analisados a partir dos seus relatórios de escavação, em livros ou nos websites das expedições arqueológicas. Os sítios são: Abel-Bet-Maacah6, Khirbet alMudayne7 (Jahaz), Kuntillet ‘Ajrud, Tel Ḥarashim, Taanak (período IIA e IIB), Horvat Rosh Zayit (estrato 3-2), Har Adir (equivalente ao estrato X de Ḥazor), Tel ‘Amal, Tell el-Hammah e Dibon.. 3. O Método A presente pesquisa foi realizada a partir de levantamento bibliográfico, análise exegética do texto bíblico e da pesquisa arqueológica. As obras analisadas e estudadas aqui trazem informações sobre o estado atual das pesquisas sobre o reino de Israel Norte e lançam luzes às novas pesquisas sobre o período da dinastia de Omri. Do levantamento bibliográfico, há uma quantidade de materiais produzidos principalmente fora do Brasil sobre a história de Israel. Mas suas abordagens são fragmentadas e do modo como são apresentadas não é possível enxergar o todo, só partes de um contexto maior. A pesquisa bibliográfica consiste em obras clássicas sobre o tema de estudiosos, como William Foxwell Albright, John Bright, Thomas Thompson, Israel Finkelstein entre outros. Os relatórios das escavações tanto em obras impressas como em relatórios publicados online nos websites das expedições. A análise exegética de 1Rs 16.15-33 é o ponto de partida. Uma das principais fontes de análise será o texto hebraico dos livros de 1 e 2 Reis. O método exegético utilizado nesta pesquisa é baseado na Crítica das Formas, um dos passos do complexo método Histórico-Crítico. Este método segue uma estrutura de certo modo fixa: a tradução “literal” do texto hebraico, a análise da 5. http://www.ataruz.org. http://www.abel-beth-maacah.org. 7 https://mudaynathamad.wordpress.com. 6.

(20) 20 crítica textual, a delimitação, estrutura e coesão da perícope, o gênero literário, datação e lugar vivencial do texto. Depois disso tudo, vem a análise dos conteúdos do texto, onde são estudadas as frases e parágrafos da perícope, com base no texto bíblico hebraico. O método de pesquisa da arqueologia de Israel Norte é a análise dos relatórios das escavações, as fontes primárias da pesquisa, bem como as visitas aos sítios arqueológicos estudados aqui somam um total de 42 sítios arqueológicos visitados em 2014 e 2016, e a participação nas escavações em Tel Megiddo (2016). Outra fonte importante, são as recentes pesquisas de arqueólogos da atualidade, como Israel Finkelstein (Universidade de Tel Aviv), Amihai. Mazar. (Universidade. Hebraica. de. Jerusalém),. Norma. Franklin. (Universidade de Haifa), entre outros. Também fazem parte analisadas as obras e os diários de escavação de George Reisner e Clarence Fischer (Universidade de Harvard).. 4. As Hipóteses A partir de levantamento bibliográfico do estado atual da pesquisa sobre os reis omridas e das análises das evidências arqueológicas dos sítios omridas, a hipótese que será verificada nesta pesquisa é a de que a dinastia omrida foi a fundadora do primeiro Estado desenvolvido israelita, e que a fundação de Samaria foi essencial para esse processo de estabelecimento do Estado, por sua localização geográfica estratégica e por ter se tornado o centro da administração de todo o reino de Israel Norte. Desta forma, outra hipótese que será verificada nesta pesquisa é a de que o único período em que Israel reinou de modo independente, que ao invés de ser dominado dominava, foi durante o governo da dinastia omrida. Por fim, serão analisadas as evidências das dimensões territoriais de Irsael Norte no séc. IX AEC, comparando com o território atribuído à Monarquia Unida, com o objetivo de verificar se é o mesmo território e se a ideia de Monarquia Unida não seria do período dos reis omridas, durante o séc. IX AEC..

(21) 21. 5. Estrutura da Pesquisa Esta pesquisa possui seis capítulos divididos em quatro partes: 1. Bases, 2. Literatura, 3. Arqueologia, e 4. Reconstrução Histórica. Na parte 1. Bases, está o capítulo um, que aborda o estado atual das pesquisas sobre Israel Norte, especificamente sobre os reis da dinastia omrida. Neste capítulo há uma seleção de obras publicadas durante o séc. XX e XXI. No total são quinze estudiosos: 1. William Foxwell Albright, 2. George Ernest Wright, 3. John Bright, 4. Martin Noth, 5. Werner Keller, 6. James Pritchard, 7. Herbert Donner, 8. Thomas Thompson, 9. Jorge Pixley e 10. Milton Schwantes), 11. Ildo Bohn Gass, 12. Mario Liverani, 13. José Ademar Kaefer, 14. Amihai Mazar, e 15. Israel Finkelstein). A partir destes estudiosos, com seus pontos de vistas diferentes conforme suas épocas, formam a base da visão sobre os reis da dinastia omrida nesta pesquisa. A parte 2, (Literatura) possui dois capítulos: cap. 2 = A exegese de 1Rs 16.15-33, que segue em parte a Crítica das Formas, analisando a partir do texto da Bíblia Hebraica e sua tradução e o conteúdo da perícope; e, cap. 3 = A análise do conjunto literário sobre a dinastia omrida. Esta é a análise literária da dinastia, desde seu surgimento e formação da dinastia por Omri, rei de Israel. O estabelecimento da monarquia norte-israelita, a expansão do seu domínio territorial, a vassalagem de outros povos, as listas de cidades transjordanianas sob seu domínio e a indústria de cobre/bronze conquistada por eles. São analisados os livros de 1 e 2 Reis, 2 Crônicas, as listas de cidades apresentadas nos livros de Números, Deuteronômio, Josué e Juízes. A parte 3, (Arqueologia) é composta por dois capítulos: o cap. 4 = A fundação de Samaria a partir da Arqueologia, e cap. 5 = O território dominado pelos omridas a partir da arqueologia. Nesta parte a análise é feita tendo como base os relatórios e as visitas aos sítios arqueológicos dominados pelos omridas no séc. IX AEC. Primeiro a análise dos relatórios das escavações em Samaria, bem como dos diários de escavação de George Reisner e David Gordon Lyon, informando com detalhes o que aconteceu e o que foi encontrado em cada dia das temporadas de 1909-1910. Depois, no cap. 5 foi trabalhado o território dominado pelos omridas, a partir de levantamento dos sítios de fronteira que foram construídos ou dominados pelos omridas no séc. IX AEC. Com isso, podese reconstruir as possíveis fronteiras do antigo reino de Israel Norte..

(22) 22 A parte 4, (Reconstrução Histórica) é composta por um capítulo, o cap. 6 = A primeira monarquia independente. Neste capítulo são trabalhadas em conjunto todas as informações vistas nos capítulos anteriores, é a discussão do tema propriamente dito. A proposta de que a fundação de Samaria proporcionou a Israel Norte fundar a primeira monarquia de fato, com todas as características de um estado é uma nova no Brasil. A novidade em olhar a história de Israel a partir do norte, é de fato uma nova visão da história israelita. Todo o território dominado pelos reis omridas na Transjordânia e na costa litorânea, o domínio político e comercial sobre a Síria e o domínio sobre Judá, mostram a extensão do reino de Israel Norte..

(23) 23. PARTE 1 ESTADO ATUAL DA PESQUISA.

(24) 24. Capítulo 1 A SITUAÇÃO ATUAL DA PESQUISA SOBRE ISRAEL NORTE. Introdução Neste capítulo será apresentada uma revisão de bibliografia de alguns dos principais estudiosos da área bíblica do séc. XX, mostrando a situação atual da pesquisa sobre a dinastia omrida. São as bases para o prosseguimento da pesquisa sobre os reis omridas (Omri, Acab, Acazias, Jorão e Atalia). Este capítulo está estruturado em duas partes principais: 1. Abordagens sobre a dinastia omrida no séc. XX, e 2. Abordagens sobre a dinastia omrida no séc. XXI. Cada uma desta partes são apresentadas obras selecionadas e publicadas em cada período. Desta forma, pode haver estudiosos que viveram também na época anterior, mas que produziram obras importantes no período seguinte. Assim, o foco está nas obras publicadas sobre a história e arqueologia de Israel, restringindo ainda mais para o Israel Norte do período da dinastia omrida, séc. IX AEC. Autores como William Foxwell Albright, um dos pioneiros nas pesquisas sobre a história e arqueologia de Israel, John Bright, seu discípulo, James Pritchard, Herbert Donner e Thomas Thompson. Estudiosos latinoamericanos, como: Jorge Pixley, Milton Schwantes e José Ademar Kaefer, e estudiosos israelenses na área da arqueologia, como Amihai Mazar e Israel Finkelstein. As obras apresentadas aqui fornecem uma visão geral do tema da dinastia omrida, de forma que é possível perceber as tendências e as mudanças de abordagem no decorrer do séc. XX e XXI. As abordagens oscilam entre as visões maximalistas e as minimalistas, mas também é possível perceber a ascensão da visão centrista da história de Israel e seus principais expoentes..

(25) 25. 1. Abordagens sobre a dinastia Omrida publicadas até 1980 A busca pelo conhecimento e pela comprovação dos relatos bíblicos durante a primeira metade do séc. XX, levou teólogos, historiadores e arqueólogos a olhar a dinastia omrida sempre de modo negativo. Esta busca tornou estas disciplinas científicas em servas da história bíblica. A própria arqueologia em seus primórdios foi surgindo no cenário das ciências modernas como uma ferramenta para a fundamentação dos fatos bíblicos. Por outro lado, estas pesquisas iniciais deram grande impulso à investigação bíblica e ao estudo da geografia da Palestina, como era chamado o território no início do séc. XX. Duas escolas foram se distinguindo: o grupo maximalista e o minimalista8. A escola maximalista segue o texto bíblico de perto e entende a história de Israel de modo literal. Para eles a Bíblia é um registro inteiramente histórico e em ordem cronológica de seus fatos (KAEFER, 2015, p.12; KAEFER, 2014, 153-154). Os que pertencem à escola minimalista, também chamados de “desconstrucionistas”, defendem que os materiais entendidos como “históricos” da Bíblia são na verdade composições tardias do período pós-exílico, persa ou mesmo helênico. Há quem defenda que a maior parte da “história” de Israel, teria sido escrita no período Hasmoneu, para a legitimação do governo dos sacerdotes. A escola minimalista afirma que grande parte dos textos são construções imaginárias e escritas com motivações puramente teológicas. Desta maneira, os textos seriam apenas construções de habilidosos escribas, que produziram e reuniram antigos mitos e narrativas lendárias juntamente com algumas memórias de fatos históricos do séc. IX ao VI AEC. (FINKELSTEIN, 2007, p. 12; KAEFER, 2014, p. 154-157). Nas últimas décadas um grupo considerado “centrista” tem se fortalecido nas pesquisas sobre a história bíblica. Este grupo de estudiosos tem adotado como período de redação de grande parte do Pentateuco e muito da História Deuteronomista o período tardio da monarquia, o período exílico e pós-exílico.. 8. Sobre este assunto, veja: SCHMITH, Bryan (ed.). The Quest for the Historical Israel: Debating Archaeology and the History of Early Israel – by Israel Finkelstein and Amihai Mazar. Number 17. Leiden-Boston: Brill, 2007. Veja também MENDONÇA, Elcio V. S. “O Novo Paradigma Arqueológico e os Estudos Bíblicos”. Em: VIGIL, Jose Maria (ed.). Revista Voices. The New Biblical Archaeological Paradigm. EATWOT, 2015, p. 25-37..

(26) 26 Assim, este grupo entende que os textos têm valor e que podem ter preservado provas confiáveis sobre a história de Israel nos tempos monárquicos, o que não os isenta de possuírem conteúdo altamente ideológico, adaptado ao seu período de compilação. (FINKELSTEIN, 2007, p. 14; KAEFER, 2015, p. 20-21; KAEFER, 2014, 157-158). Vejamos, a partir de agora, como foram e tem sido as abordagens de alguns dos principais estudiosos bíblicos referentes à dinastia dos reis omridas do séc. XX, entre teólogos, historiadores e arqueólogos. 1.1. William Foxwell Albright (1891-1971) O período entre as duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) marcou de forma significativa os estudos bíblicos e os estudos da arqueologia bíblica. Pode-se dizer que até a Segunda Guerra Mundial as expedições arqueológicas que stavam se destacando pertenciam às potências da época, como a Inglaterra, Alemanha e França. Isto pode ser constatado nas iniciativas de pesquisa bíblica e arqueológica na Palestina desde o final do séc. XIX e início do séc. XX. Várias instituições de ensino e pesquisa foram fundadas e estabelecida nos arredores da Cidade Velha de Jerusalém, dentre estas instituições, podemos citar como exemplo, a francesa École Biblíque et Archeologique Française de Jérusalem9 (RODRIGUES; FUNARI, 2009, p. 9899). Nos anos entre as guerras mundiais, as instituições de pesquisa bíblica e arqueológicas norte-americanas passam a dominar os estudos na Palestina. Nesta época, William Foxwell Albright se destacou e, posteriormente, foi considerado o “pai da arqueologia bíblica”, graças aos seus métodos e considerações epistemológicas da arqueologia bíblica desenvolvidos por ele. Segundo Mazar, os trabalhos de Albright durante os vinte anos entre as guerras mundiais foram extremamente significativos, especialmente suas escavações em Tell el-Ful (1922-1923, 1933), Betel (1927) e Tell Beit Mirsim (1926-1932). Albright “teve grande impacto sobre as gerações posteriores de estudiosos americanos e israelenses” (MAZAR, 2003, p. 34-35). Albright também sugeriu a. 9. Para mais informações sobre a École Biblique et Archeologique Française de Jérusalem, veja http://www.ebaf.edu/?cat=78&lang=en..

(27) 27 localização de Tirza na colina chamada Tell el-Far‘ah, à onze quilômetros de Nablus em 1930, e em 1947 escavou em Tirza sob a direção de Roland de Vaux (WRIGHT, 1956, p. 219). Uma das obras clássicas de Albright é The Archaeology of Palestine cuja primeira publicação se deu em 1949, é uma obra condensada, onde ele apresenta suas interpretações arqueológicas de diversos sítios já pesquisados e as relaciona com as narrativas bíblicas. Ele divide a obra por períodos que vão desde a pré-história até o período do Novo Testamento. A parte que nos interessa aqui é a do período do Ferro I e Ferro II, onde ele trabalha a arqueologia e a história de Israel na época da monarquia. Seguindo uma linha tradicionalista e literalista do texto bíblico, Albright parece entender a Bíblia como um livro histórico, o que o levou a pesquisar através da arqueologia os vestígios históricos que comprovariam tal historicidade bíblica. Deste modo, ele vê a história da ascensão e queda de Saul e a ascensão de Davi como rei, como uma história legítima e com comprovações históricas, bem como a construção da chamada Monarquia Unida. Para ele (1949, p. 120122), Davi fortificou o reino de Judá em suas constantes lutas contra os filisteus e a conquista de Jerusalém das mãos dos Jebuseus, como o ponto inicial da formação do grande império de Davi e de Salomão durante o séc. X AEC. Albright, nesta obra aborda um pouco mais a história sobre Salomão, e se baseia no texto de 1Rs 9.15 para interpretar as evidências arqueológicas de Gezer, Megiddo e Ḥazor. Ele utiliza das descobertas de P. L. O. Guy sobre os estábulos de Megiddo do estrato IV e V para afirmar que são edificações de Salomão, sendo este período o mais florescente da civilização material da história da Palestina (ALBRIGHT, 1949, p. 123). Segundo ele, ao se examinar as evidências arqueológicas de Megiddo encontradas por Schumacher com as evidências de Macalister encontradas em Gezer, fica clara a ligação das edificações realizadas por Salomão. O mesmo aconontece ao se comparar as construções em Tell el-Hesi (estrato V), com as de Ḥazor e as de Taanac. A conclusão seria que todas elas foram, de fato, construções feitas por Salomão (ALBRIGHT, 1949, p. 124-125). Os portões de seis câmaras, segundo Albright (1949, p. 126-127), já eram utilizados em Carquemis, norte da Síria, desde o final do séc. XI AEC. Tais.

(28) 28 portões teriam se tornado o estilo padronizado por Salomão em várias das suas fortalezas, tanto em Megiddo com em Gezer e Ḥazor, também em Laquish e em Ezion-Geber, no Golfo de Aqaba. Mesmo assim, Albright não está totalmente convicto, pois ele mesmo diz que “tem quase certeza que datam de Salomão”. Sobre os omridas, Albright reserva poucas páginas de sua importante obra, três ou quatro páginas onde são citados os nomes de Omri e Acab. Quando ele cita a Estela de Mesha, ele o faz em poucas linhas, e não menciona os reis omridas (p. 128-129, 137). Em outra obra de referência de Albright The Archaeology of Palestine and the Bible, de 1932, ele menciona Acab e a dinastia omrida somente em três páginas (p.31-33). Ele não fornece muitas informações sobre os omridas, apenas menciona os arqueólogos e as expedições que trabalharam em Samaria, como é o caso de George A. Reisner e C. S. Fischer, nada mais. O mesmo acontece em outra importante obra de Albright, Archaeology and the Religion of Israel, cuja primeira edição foi impressa em 1942. Nesta obra, o tema central é a religião no Antigo Oriente Próximo, e aborda principalmente a religião no antigo Israel e de Canaan. Embora haja muito a se dizer da religião em Israel Norte, Albright se limita a mencionar brevemente o período de Omri e Acab, somente para se referir aos óstracos de Samaria, que já na época desta edição eram datados no período de Jeroboão II, e a Estela da Mesha, para tratar da escrita hebraica em Israel e por citar o nome de Javé, o tetragrama (ALBRIGHT, 1956, p.41). Outra ocorrência dos omridas nesta obra acontece no capítulo cinco, quando trata do ciclo de Elias/Eliseu e do conflito entre os profetas de Baal e de Aserá (ALBRIGHT, 1956, p. 157). A escassez de referências aos omridas na obra de Albright, demonstra a pouca importância que se dava à história desta dinastia ainda na primeira metade do séc. XX. 1.2. George Ernest Wright (1909-1975) Wright se tornou muito conhecido por sua experiência em Arqueologia do Antigo Oriente Próximo, especificamente em sua metodologia para datação da cerâmica. Wright foi um pastor presbiteriano e se especializou nos estudos do Antigo Testamento, estudando com William Foxwell Albright, com quem fez seu.

(29) 29 mestrado e doutorado10. Wright dirigiu algumas expedições arqueológicas na Palestina, como por exemplo, as escavações em Siquém11, atual Nablus, entre os anos de 1956 e 1957, através da Joint American Expedition (TAHA; VAN DER KOOIJ, 2014, p. 8-9). Com relação às histórias bíblicas e, especialmente, sobre as narrativas acerca de Davi, Salomão e os omridas, Wright segue os mesmos passos de Albright, seu mestre. Ele procura provas arqueológicas que deem historicidade ao relato bíblico acerca de Davi e Salomão. Isto não quer dizer que tais relatos não são confiáveis, mas que necessitam de uma análise crítica, para que se perceba as influências de redatores tardios deuteronomistas. Para ele, Davi foi estabelecido como rei em lugar de Saul, porque ele tinha dotes extraordinários e grande carisma dado pelo próprio Deus (WRIGHT, 1956, p. 178). Isto fez com que o reino de Saul ruísse e Davi fosse colocado como rei. Segundo Wright, Davi montou um aparato burocrático e administrativo, e escolheu escribas para trabalharem para ele, o que indica que Davi estabeleceu um estado bem estruturado, capaz de organizar e manter um grande império (p. 180). Com relação a Salomão, Wright reserva um bom número de páginas para expor toda a glória de Salomão (p. 186-209). Segundo ele, Davi expandiu todo o território de Israel, o qual se denomina Monarquia Unida, e Salomão deu toda a glória a essa monarquia. Wright chama esse período de Idade de Ouro. Segundo ele, Salomão teria fortificado Jerusalém, construído edifícios administrativos, cidades com capacidade de armazenamento e cidades com estábulos para os carros e cavalos de guerra. Também, Salomão teria sido um grande comerciante, que negociava carros de guerra e cavalos para os povos vizinhos. Para Wright, Salomão queria controlar o comércio com a Arábia e a Mesopotâmia, e para isso, mandou construir Ezion-Geber no Golfo de Aqaba, para fazer a cada três anos, uma viagem comercial para a região da Etiópia e Iêmen, tais navios retornavam carregados de ouro, prata, marfim e animais (WRIGHT, 1956, p. 186).. 10. Veja, http://oasis.lib.harvard.edu/oasis/deliver/~div00667. Acesso em 19/09/2016. Veja mais informações sobre as escavações em Siquém (Tell Balata) http://www.tellbalata.com/. 11. em:.

(30) 30 Além disso, as cidades de Megiddo, Gezer e Ḥazor, com suas muralhas de casamata, armazéns, palácios e portões de seis câmaras, levaram também Wright a acreditar, como seu mestre Albright, que eram de fato cidades salomônicas do séc. X AEC. Isto é perceptível quando se lê as páginas 187-195, onde Wright trabalha as evidências arqueológicas e os textos bíblicos referentes ao período. Sobre a dinastia omrida, Wright trabalha um pouco mais que seu mestre Albright, fornecendo e discutindo diversas informações sobre as escavações em Samaria e a história bíblica de 1Rs 16. Samaria de fato foi fundada por Omri, pois a arqueologia apresenta as primeiras edificações nos anos de Omri, rei de Israel. Muitas evidências encontradas em Samaria, como os muros de casamata e os capitéis proto-iônicos, foram logo comparados com os de Megiddo, por sua grande semelhança, mas atribuídos sempre à Salomão, e que Omri e Acab teriam feito semelhantemente aos de Megiddo, construídos por Salomão. Wright atribui as peças de marfim encontradas em Samaria à dinastia omrida, especificamente de Acab. É interessante que já na década de 1950, Wright tenha mencionado a possibilidade de os estábulos e outras edificações de Megiddo e Ḥazor, comumente atribuídas a Salomão, serem de Acab, no séc. IX AEC. Isto vai contra seu mestre Albright, que datou estes edifícios no período de Salomão, séc. X AEC. No caso de Ḥazor, ele diz que o palácio-fortaleza do estrato VIII, que fora posteriormente destruído por Tiglate-Pileser III em 733-732, teria sido construído por Acab no séc. IX AEC (WRIGHT, 1956, p. 222-226). Estas informações foram inovadoras, mas permaneceram em silêncio até os dias atuais. Wright também menciona a Estela de Mesha, mas sem mencionar o território ocupado pelos reis omridas, e faz um breve comentário sobre o Obelisco de Salmaneser III, o qual cita Jeú como vassalo da Assíria (p. 226-227). 1.3. John Bright (1908-1995) John Bright, um teólogo e pastor presbiteriano, estudou e trabalhou no Union Theological Seminary até o final de sua carreira como professor. Nos anos.

(31) 31 de 1931 e 1932, Bright viajou para participar das escavações em Tell Beit Mirsim, na quarta e última temporada. As expedições neste sítio eram lideradas por William Foxwell Albright, e lá John Bright o conheceu e se tornou seu profundo admirador e discípulo, ao lado de George Ernest Wright. Bright se encontrou com Albright novamente nas escavações em Betel, em 1935, e neste mesmo ano iniciou o doutorado sob a orientação de Albright na John Hopkins University, cuja tese foi concluída em 1940 com o título The Age of King David: A Study in the Institutional History of Israel. Tal tese foi publicada em 1959 sob o título History of Israel, a qual foi traduzida para vários idiomas (BRIGHT, 2003, p. 15-16). Bright foi mais historiador que arqueólogo, e trabalhou uma metodologia que fosse satisfatória para o estudo da história do antigo Israel. Ele classificou como insatisfatórios os trabalhos de Martin Noth e Yehezkel Kaufman, por causa da análise crítica da história de Israel, que segundo ele, deixava a fé de lado (BRIGHT, 2003, p. 19). Por isso, ele passou a utilizar a arqueologia na linha de frente de sua pesquisa sobre a história de Israel, pois segundo ele, a arqueologia ajudaria a compreender de forma mais objetiva os eventos históricos narrados nos textos bíblicos. Bright teve a tendência de estabelecer datações para as narrativas bíblicas conforme a época que elas narram, ou seja, as narrativas sobre Abraão são datadas no período do Bronze, talvez do Bronze Médio ou Tardio. Moisés e os textos de Josué e de Juízes, como sendo narrativas escritas antes do período da monarquia israelita. Isto causa certos problemas metodológicos quando trabalhados ao lado de outras disciplinas, como a arqueologia moderna. 1.4. Martin Noth (1902-1968) Martin Noth foi um estudioso que se especializou em Bíbia Hebraica e história de Israel, principalmente no período anterior à monarquia. Noth propôs a ideia de anfictionia ou da liga das tribos israelitas organizadas em torno de um santuário central, baseando-se num paralelo com a anfictionia grega. Tal ideia foi duramente criticada por estudiosos posteriores e atuais, como Thomas Römer (2008) e Jean-Louis Ska (2016). Ele seguiu a história de Israel levando em conta a existência de um período pré-monárquico tribal, iniciando a.

(32) 32 monarquia com Saul, Davi e Salomão, com a monarquia unificada e, posteriormente, a monarquia dividida entre Norte e Sul. Noth comenta sobre a dinastia omrida, mas sem aprofundamentos. Ele é levado pela sintonia do texto bíblico dos Reis a ver tal dinastia como ruim, adoradora de Baal e desobediente a Javé. Ele diz que Omri foi o fundador da primeira dinastia israelita, que, embora por pouco tempo, emplacou cinco reis, mas não trabalha as questões do reinado dos reis desta dinastia. Atalia é apresentada por ele somente como uma mulher que interrompeu a dinastia davídica. Embora Noth tenha dado sua contribuição às pesquisas bíblicas sobre o Antigo Testamento no séc. XX, sobre o período da dinastia omrida, especificamente, ele não proporcionou grandes avanços. 1.5. Werner Keller (1908-1980) Werner Keller nasceu em 1909 na Alemanha, e viu de perto o horror das duas grandes guerras mundiais, bem como seus desdobramentos para a cultura religiosa cristã em toda a Europa. Dentro do pensamento positivista do pósguerra, em 1955 lançou sua obra intitulada A Bíblia Tinha Razão12, que foi publicada pela primeira vez em português em 1958. Keller teve grande repercussão nas décadas seguintes, sendo muito utilizado em faculdades e seminários de Teologia em diversas partes do mundo. Em seu relato introdutório, ele afirma ter sido inspirado por arqueólogos franceses que escavaram Mari e Ugarit em 1950, resolveu escrever um livro sobre a Bíblia, cujo objetivo principal era claramente apresentar provas da historicidade dos relatos bíblicos, diante da “crítica cética” desde o iluminismo até seus dias (KELLER, 1964, p.7-9). A importância da sua obra está em reunir os resultados das expedições arqueológicas realizadas até a década de 1950 com o texto bíblico, dando fundamento histórico cronológico para diversas passagens da Bíblia, mesmo a relatos míticos como, por exemplo, os relatos de Gn 1-11. Keller reserva quatro capítulos inteiros para falar sobre a Monarquia Unida, chamada por ele de Grande Reino (p.161-193). A ideia de Davi e Salomão como grandes monarcas e que dominaram um vasto território, é fortemente trabalhado 12. O título original da obra é “Und die Bibel hat Doch Rech” (E a Bíblia ainda está Certa)..

(33) 33 nesses capítulos. Ele classifica o reinado de Davi como uma grande potência (KELLER, 1964, p. 162). Segundo ele, a despeito da grandeza e do poderio egípcio, Davi foi alargando suas fronteiras para todos os lados, conquistando ao leste o território além do Jordão, Amon e Moab, e ao sul, descendo pelo deserto de Arabá, até o Golfo de Ácaba. Para Keller, o objetivo de Davi era o de controlar o comércio de cobre e minério de ferro e a Estrada Real que seguia pelo território de Edom. Davi teria ainda avançado para o leste, conquistando as terras do vale do Jarmuk e o planalto de Gilead, seguindo para o norte. Isto deve ter incomodado o avanço assírio. Mesmo assim, Davi avançou para o norte até Orontes, e a ideia era expandir o império davidida até o rio Eufrates. Para Keller, Davi avançou para o território sírio e derrotou o rei de Damasco, prestando grande auxílio, sem saber, ao avanço do império assírio, que mais tarde aniquilaria o reino de Israel. Davi, portanto, estendeu suas fronteiras ao norte até o vale do Orontes (região onde ocorrera a batalha de Qarqar, quando a coalisão antiassíria encabeçada por Acab enfrentou o poderoso exército assírio), ocupando territórios do Líbano, descendo até Ezion-Geber, no Mar Vermelho, uma distância de aproximadamente 600 km (KELLER, 1964, p. 161-165). Keller descreve o território dominado por Davi como um aglomerado de tribos que passou a ser um grande império, ocupando todo o território israelita e sírio. Com prédios públicos e um sofisticado aparato burocrático com escribas ocupando o segundo posto da hierarquia do Estado (KELLER, 1964, p. 166168). De igual forma, Keller reservou várias páginas (p. 169-181) para abordar a história de Salomão. Ele inicia falando da historicidade dos textos bíblicos referentes a Salomão, principalmente 1Rs 9, que traz várias informações sobre as cidades edificadas por Salomão (1Rs 9.15) e a citação de Ezion-Geber e o comércio de ouro com Ofir (1Rs 9.26-28). O arqueólogo Nelson Glueck13, rabino norte-americano, escavou na região do Golfo de Aqaba, junto ao Mar Vermelho, encontrando as ruínas de Tell elKheleifeh. Glueck encontrou vários vestígios de cobre e edificações feitas em blocos e pedras, logo ele identificou os achados de Tell el-Kheleifeh como sendo 13. Para mais informações sobre Nelson Glueck, veja http://www.ngsba.org/en/about/our-foundernelson-glueck..

(34) 34 a bíblica Ezion-Geber, nas proximidades de Eilat, conforme descrito em 1Rs 9.26, e ligou o comércio de cobre ao domínio de Salomão (KELLER, 1964, p. 170-172). Depois dos achados em Tell el-Kheleifeh, Glueck passou a se referir a Salomão como “o rei do cobre”, mas ele não consegue fazer uma ligação clara, baseada nos vestígios arqueológicos, a ligação entre a Fenícia e Salomão, ele apenas faz a ligação entre ambos, baseando-se especificamente em textos bíblicos (Dt 8.7,9; 1Rs 7.13-14; 9.27). À esta indústria de cobre do rei Salomão, Keller chama de “coluna do rei Salomão” (KELLER, 1964, p. 171-177). Keller, depois de apontar para estas evidências no Golfo de Aqaba e ao trabalho de Nelson Glueck, passou a apresentar outras evidências, que segundo ele, comprovariam a existência do grande império de Davi e Salomão. Ele passou a estudar o sítio de Tell el-Muteselim, atualmente chamada como Tel Megiddo. Como havia diversas barreiras para a realização de escavações, sendo necessário autorizações dos donos das terras ou até mesmo do governo, o Instituto Oriental da Universidade de Chicago, com recursos levantados de iniciativas privadas, comprou em 1925, a colina de Tell el-Muteselim, afim de que pudessem escavar livremente o sítio (KELLER, 1964, p. 177). Tell Muteselim foi escavada inicialmente pela Sociedade Alemã do Oriente, sob a direção de Gottlieb Schumacher, entre os anos de 1903-1905 (SCHUMACHER, 1908). Em 1925, o arqueólogo Clarence S. Fischer começou a escavar a colina com seu método modelo. Sua expedição escavou a colina em “fatias”, cavando centímetro por centímetro. Ele encontrou pelo menos quatro estratos, chegando até o período israelita. Depois de Fischer, vieram os arqueólogos Gordon Loud e P. L. O. Guy, que continuaram a escavar o estrato IV do período israelita. Segundo Keller, todos eles encontraram “surpresas sensacionais do tempo do rei Salomão” (KELLER, 1964, p. 178). E os omridas? Para os reis omridas, Keller reservou as páginas 197-207. Keller não faz uma apresentação tão empolgante quanto a apresentação que ele fez sobre Davi e Salomão, mas apresenta alguns fatos que são, de certa forma importantes para a pesquisa sobre Israel Norte e os omridas..

(35) 35 Ele fala que Omri (chamado por Keller de Amri), pressentindo a ameaça assíria, comprou uma colina e construiu Samaria, uma colina rodeada por montanhas, junto a um fértil vale que liga o Vale do Jordão à costa litorânea. Segundo ele, Omri teria construído a plataforma alta e Acab, seu filho, a plataforma baixa, ambas no topo da colina, com cerca de cem metros de altura. O rei Acab fez aliança com Ben-Hadad, rei de Damasco, com a finalidade de fortalecer a barreira contra a Assíria. Keller menciona as inscrições de Salmaneser III, que cita Acab e sua força bélica na batalha da coalisão antiassíria. Mas esta aliança durou até a retirada temporária das forças assírias, quando numa nova batalha contra Damasco Acab morre e Hazael, rei de Damasco, toma de volta grande parte do território ocupado por Israel. Acab é apresentado por Keller como sendo um rei idólatra, tal qual era e é a tendência da teologia cristã (KELLER, 1964, p. 199-200). Keller. menciona. as. escavações. realizadas. em. 1908-1910,. pela. Universidade de Harvard, dirigidas inicialmente por George A. Reisner, seguido por Clarence S. Fischer e D. G. Lyon, em 1931-1935 pela equipe dirigida pelo arqueólogo inglês J. W. Crowfoot. Pelo menos com relação a Samaria, Keller não teme em afirmar que foram os omridas que a construiram, diferentemente de Megiddo, Ḥazor e Gezer, as quais Keller insiste em afirmar que são cidades edificadas por Salomão, como era a tendência da época, inicialmente dos arqueólogos cristãos, e depois de 1948, dos arqueólogos israelenses. Ele menciona a Estela de Mesha, mas não enfatiza o domínio de Israel Norte sobre o leste do Jordão. Sua ênfase está no ponto em que a estela e a Bíblia concordam na derrota dos omridas. O comentário sobre os reis omridas se encerra na menção da revolta de Jeú e da inscrição onde ele aparece, prostrando-se diante de Salmaneser III e pagando-lhe tributo (KELLER, 1964, p. 205-207).. 2. Abordagens sobre os omridas publicadas entre 1980 e 2000 2.1. Herbert Donner (1930-2016) Uma das obras mais importantes de Donner são os dois volumes de História de Israel e dos Povos Vizinhos. A obra foi lançada primeiramente em alemão, em 1986, e traduzida para o português em 1997, numa parceria entre.

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