2018
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Disciplina de Farmacognosia I - (FBF-0428)
TÓPICO 4
Glicosídeos Antraquinônicos
Profa. Dra. Dominique C H FischerAç-OH + OH-R Aç - O- R + H
2O
São compostos originados da condensação de uma
molécula de açúcar (ou substância derivada de açúcar) com uma molécula de composto orgânico hidroxilado.
O que são Glicosídeos?
Açúcar Genina ou Aglicona
Glicosídeo/ =Heterosídeo
Açúcares mais comuns em glicosídeos:
glicose, frutose, eritrose, galactose, L-ramnose, D-digitoxose, D-cimarose, ácido glicurônico
- C- H + HO- AÇÚCAR -C-C - - C- O-H + HO- AÇÚCAR -C-O-C -
Classes de Glicosídeos
- ligação açúcar-aglicona
O- GLICOSÍDEOS
Classes -Antraquinônica -Esteroidal -Triterpênica -Flavonoídica -Cumarínica
Geninas
Propriedades Químicas/Físicas
1) Hidrólise
- Hidrólise enzimática
– pelas glicosidases
- especificidade (ligações alfa,beta)->
Cuidados na extração (estabilização da
droga vegetal)
-
Hidrólise ácida
- ácidos minerais
diluídos
Propriedades Químicas/Físicas
2) Solubilidade
Extração: com misturas hidroetanólicas
Purificação: solventes orgânicos, acetato de
chumbo (retirada de
substâncias de baixa polaridade e interesse)
Propriedades Farmacodinâmicas
- Saponínicos - expectorantes,
-
Flavonoídicos - aumentam a resistência
dos vasos capilares,
- Cardiotônicos
- inotropismo positivo do
coração,
- Outros
Glicosídeos Antraquinônicos
= Glicosídeos antracênicos - Antraderivados (estrutura relacionada ao antraceno)
- São compostos de origem vegetal, derivados da
3-metil- antraquinona e possuem ação
catártica*.
antraceno 3-metil- antraquinona
[*Substâncias que produzem evacuação intestinal]
O O
CH
3 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Glicosídeos Antraquinônicos
Formas encontradas nas espécies vegetais:
- Livres (geninas = agliconas)
-Condensadas com açúcares [O e C-
glicosídeos]
- Oxidadas - Reduzidas
H O OH OH O OH CH3 C6H11O5 - O O
Glicosídeos Antraquinônicos
Geninas condensadas com açúcares (oses)
O- glicosídeos
Glicosídeos Antraquinônicos
Formas Oxidadas/ ReduzidasO O 1 2 3 4 5 6 7 8 ANTRAQUINONA OH H O H H ANTRONA ANTRANOL
O O 1 2 3 4 5 6 7 8 OH H O H H O H OH
Níveis de oxidação das antraquinonas
ANTRAQUINONA ANTRONA ANTRANOL
OXANTRONA DIANTRANOL O O OH OH red DIANTRONA red red red ox ox ox ox red ox red ox
H O
OH OH
1) Hidrólise :
- C-glicósideos – difíceis de hidrolisar
- O-glicosídeos – por ácidos, enzimas, hidróxidos
aloína polifenóis 2) Formação de fenolatos [genina] Propriedades químicas
Exemplos de Glicosídeos Antraquinônicos Núcleo estrutural básico Compostos polifenólicos Compostos ativos Grupamentos 1 3 6 8 crisofanol OH CH3 - OH barbaloína OH CH2OH - OH reína OH COOH - OH emodina OH CH3 OH OH reocrisol OH CH3 OCH3 OH O O
CH
3 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Outros exemplos de compostos encontrados no sene => senosídeos A e B DIANTRONAS O O OH COOH COOH OH C6H11O5 - O C6H11O5 - O H H
Glicosídeos Antraquinônicos
-Localização no vegetal – suco celular, coloração amarela/vermelha- Ocorrem em diversas partes vegetais
-Distribuição no Reino Vegetal – Ocorrência nas Famílias Poligonaceae, Rubiaceae, Fabaceae, Liliaceae. (Ocorrência também em Algas e líquens)
-No Reino Animal – Cochonilha - fêmea hemípteros Coccus cacti - ácido carmínico
Propriedades físicas
Glicosídeos -Cristalinos, amarelos -Solúveis em água, etanol -Insolúveis em solventes orgânicos -Não sublimáveis Geninas -Cristais amarelos ou avermelhados, -Insolúveis em água, -Solúveis em etanol, benzeno, éter, clorofórmio -SublimáveisCARACTERIZAÇÃO
1) Microssublimação das geninas - Antraquinonas - amarelas
- Antranóis: Incolores / amarelados 2) Reação no microssublimado -Com KOH:
-Antraquinona – vermelha
-Antranol - amarelo
Pó da droga vapor de H2O Sublimação da antraquinona sol. KOH Antraquinona Microssublimação e Reação
Cobre o anel com lâmina microscópica
Preechimento do anel metálico com droga
Aquecimento
Troca de lâminas até sublimação
CARACTERIZAÇÃO
REAÇÃO
DE
Caracterização genérica
Glicosídeos antraquinônicos (GA)
1) Extração da droga com solvente polar [ GA + geninas
livres]
2) Hidrólise do GA [ sol. ácida+] => genina + açúcar
3) Obtenção da genina => partição c/ solvente orgânico
4) Separação da fase orgânica, transferência para tubo
de ensaio
REAÇÃO DE BORNTRÄEGER
5) Adição de sol. de base forte à fase orgânica (tubo) ->
Agitação
6) Separação das fases - fase aquosa (superior) adquire
coloração vermelha => Reação POSITIVA
FUNDAMENTO
REAÇÃO DE BORNTRÄEGER
1 1 2 2 : coloração vermelha 2 NaOH 2 Na+ OH -: OH-Fundamento
REAÇÃO DE BORNTRÄEGER
-
Formação
de
fenolatos
de
cor
rósea
/
avermelhada
a partir das geninas
livres ou liberadas por hidrólise
OBS: A coloração intensifica-se com a oxidação gradual das formas reduzidas [antronas e antranóis] para antraquinonas
Propriedades farmacológicas
Glicosídeos
antraquinônicos
A porção açúcar contribui para o transporte até o intestino grosso, onde as geninas atuam.
Glicosídeos inativos -> Genina/Aglicona ativa
Propriedades farmacológicas
*Purgantes –> Aumentam intensamente o
peristaltismo ocasionando
fezes aquosas ou semifluidas
Drogas clássicas: Sene, Ruibarbo, Cáscara sagrada, Frângula, Áloe
Não causam dependência
Principais: Laxantes, Purgantes* (ação drástica)
Outras propriedades (secundárias): emética, emenagoga, abortiva
Como dá-se a atividade laxante?
- Ao chegarem ao cólon, os
glicosídeos
antraquinônicos são
hidrolisados
pelas
enzimas da
flora bacteriana
, liberando
as geninas.
- As
geninas agem nas
terminações
nervosas
da
parede
intestinal,
estimulando o
peristaltismo
e
Mecanismos de ação
- Produção de
histamina
e outros
mediadores
que
aumentam a contração
da musculatura lisa do intestino
-
Inativação da enzima
ATPase
da
bomba de Na
+/K
+e
inibição dos
canais
de cloro
=> reduzindo a reabsorção de
água
Propriedades farmacológicas
das formas reduzidas/oxidadas
-ANTRANÓIS, DIANTRONAS E
OXANTRONAS - Formas antraquinônicas
reduzidas apresentam atividade mais intensa.
- EFEITOS SECUNDÁRIOS: Causam vômitos,
cólicas e congestão dos órgãos abdominais
(via reflexa)
- FORMAS OXIDADAS – ação mais branda
- Não devem ser usadas drogas coletadas,recentemente.
- Deixar as drogas secando por maior tempo
(envelhecimento) p/ que os compostos antraquinônicos estejam na forma oxidada
CONTRA-INDICAÇÕES
- Doenças inflamatórias do intestino, oclusão intestinal, apendicite aguda
- Gravidez e aleitamento
- Crianças com menos de 10 anos
Interação com medicamentos
- Não usar com cardiotônicos – perda de K+
pode potencializar esta ação
- Contraceptivos orais - risco de menor absorção intestinal
- Doses excessivas – hipersensibilidade (cólicas intestinais e vômitos)
USO CONTÍNUO
Pode levar à destruição dos plexos nervosos
intramurais no cólon (efeito irritante)
=> Resultado: intestino atônito, sem haustras (-> aspecto tubular)
H O
OH OH
Relação Estrutura-Atividade/ Usos
- Propriedade laxativa – OH posições 1 e 8 do núcleo fundamental
- Propriedade corante- alizarina nas raízes de Rubia tinctorium L. – em função da OH nas posições 1 e 2
O O OH OH alizarina OH em 1 e 2 aloína OH em 1 e 8
- Geralmente, no início do período vegetativo e nos frutos, os GA ocorrem na forma reduzida
- Posteriormente, predominam as formas
oxidadas
-Formas reduzidas causam desconforto, cólicas
-Formas oxidadas- uso preferencial das drogas - Armazenamento por um ano – ex: cascas de
caule de Cáscara Sagrada.
- Colheita tardia (outono) – ex: Ruibarbo
Cuidados no preparo das
drogas que contêm GA
Drogas vegetais contendo
Glicosídeos antraquinônicos
A droga é constituída de cascas de
caule e ramos secos, contendo, no
mínimo, 8% de heterosídeos hidroxiantracênicos, dos quais, no
mínimo, 60% consistem de
cascarosídeos, calculados em
cascarosídeo A. Não deve ser utilizada antes de decorrido um ano de sua
coleta, salvo se for submetida a processo de oxidação acelerada, em estufa a 100-105 oC, durante 1 hora.
CÁSCARA SAGRADA
Nome científico: Rhamnus purshiana DC.Família: Rhamnaceae
Partes utilizadas: Cascas de caule e ramos
(Farmacopeia Brasileira) “ SUBCLASSE DE GLICOSÍDEO R Configuração C-10 cascarosídeo A OH S cascarosídeo B OH R cascarosídeo C H S cascarosídeo D H R
Principais Glicosídeos antraquinônicos
cascarosídeos A a D
Cáscara sagrada
Rhamnus purshiana DC
(Rhamnaceae)
Parte usada: cascas de caule
Planta medicinal
A droga é constituída de frutos dessecados, contendo, no mínimo, 4% de derivados hidroxiantracênicos, calculados em senosídeo A, ou pelos folíolos dessecados contendo, no mínimo, 2,5 % de heterosídeos, calculados como senosídeo B. Não deve ser utilizada antes de um ano após sua coleta.
SENE
Nome científico: Senna alexandrina Mil. Família: Leguminosae
Principais glicosídeos antraquinônicos
COMPOSTO R1 R2 Configuração C-10-10’ senosídeo A COOH H treo
senosídeo B COOH H eritro senosídeo C CH2OH H treo senosídeo D CH2OH H eritro senosídeo E COOH HOOC-CO treo senosídeo F COOH HOOC-CO eritro
(Farmacopeia Brasileira)
Sene
Senna alexandrina Mil.
(Leguminosae)
Parte usada:folíolos, folículos
Folículos
(frutos)
Folíolos
Frângula
Rhamnus frangula L.
(Rhamnaceae)
Parte usada: casca de caule
Droga vegetal (cascas de caule)
Aloe sp.
(Asphodelaceae)
Parte usada: folhas
Profa Dra. Dominique C H Fischer - FARMACOGNOSIA I- FCF/USP
Figuras (Internet/Profa. Dominique).
Estruturas químicas (Chem Sketch®)
Montagem – Profa. Dominique
Referências para estudo
PROENÇA DA CUNHA. Farmacognosia e fitoquímica. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian. 2009. p. 318
BRUNETON, J. Farmacognosia, fitoquímica, plantas medicinales. Zaragoza: Editorial Acribia, [2001]. xvi, 1099 p.
EVANS, W.C. Trease and Evans’ pharmacognosy 16 ed. Edinburgh: Saunders/Elsevier, 2009. New York. 603 p.