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Tecnologia social geradora de inovação social: limites e potencialidades da experiência do Social Good Brasil em Florianópolis

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ALEX DARONCH LOPES

TECNOLOGIA SOCIAL GERADORA DE INOVAÇÃO SOCIAL: LIMITES E POTENCIALIDADES DA EXPERIÊNCIA DO SOCIAL GOOD BRASIL EM

FLORIANÓPOLIS Florianópolis - SC 2019

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ALEX DARONCH LOPES

TECNOLOGIA SOCIAL GERADORA DE INOVAÇÃO SOCIAL: LIMITES E POTENCIALIDADES DA EXPERIÊNCIA DO SOCIAL GOOD BRASIL EM

FLORIANÓPOLIS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração da

Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL – como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Nei Antonio Nunes

Florianópolis - SC 2019

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Esta dissertação analisa a metodologia Startup Enxuta utilizada no Social Good Brasil e as iniciativas, vencedoras do Festival Social Good Brasil 2017, como práticas de Tecnologia Social geradora de Inovação Social. Trata-se de um estudo de caso qualitativo, com enfoque exploratório e descritivo. Foi constituído a partir da revisão da literatura, utilizando-se os construtos teóricos da Tecnologia Social e Inovação Social. Além disso, realizou-se a pesquisa documental e entrevistas com os gestores e empreendedores engajados nesta organização do terceiro setor, participantes do Festival SGB 2017. A análise foi executada com base nos doze aspectos definidos pelo Instituto de Tecnologia Social (ITS). É fato que o SGB proporciona avanços significativos na capacitação para negócios sociais e para os empreendedores. Contudo, constatou-se, por meio da literatura crítica e da análise sistêmica, que é restrita a conexão da metodologia Startup Enxuta aos preceitos orientadores da TS, tendo em vista os valores sociais e emancipatórios que orientam a dimensão crítica e propositiva da Tecnologia Social. Isto é, o estudo evidenciou que pouco há na metodologia utilizada pelo SGB que possa ser identificado como saber e prática de Tecnologia Social.

Palavras-Chave: Tecnologia Social, Inovação Social, Terceiro Setor, Social Good Brasil, Startup Enxuta.

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This dissertation analyzes the Lean Startup methodology used in Social Good Brazil and the initiatives that won the Good Social 2017 Social Festival as Social Technology practices that generate Social Innovation. This is a qualitative case study, with an exploratory and descriptive approach. It was constituted from the literature review, using the theoretical constructs of Social Technology and Social Innovation. In addition, documentary research and interviews with the managers and entrepreneurs engaged in this third sector organization, participants of the SGB 2017 Festival were carried out. The analysis was performed based on the twelve aspects defined by the Institute of Social Technology (ITS). It is a fact that the SGB provides significant advances in training for social businesses and for entrepreneurs. However, through the critical literature and systemic analysis, it has been observed that the connection between the Startup Enxuta methodology and the TS guiding principles is restricted, considering the social and emancipatory values that guide the critical and propositional dimension of Social Technology. That is, the study showed that there is little in the methodology used by the SGB that can be identified as knowledge and practice of Social Technology.

Keywords: Social Technology, Social Innovation, Third Sector, Social Good Brazil, Lean Startup.

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Figura 1 Percurso de Pesquisa ... 13 Figura 2 Ciclo de Feedback Construir-Medir-Aprender ... 50 Figura 3 Festival SGB 2017 ... 58

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Quadro 1 Diferenças entre Inovação Tecnológica e Inovação Social ... 23

Quadro 2 Panorama Conceitual de Inovação Social ... 26

Quadro 3 Aspectos da Tecnologia Social ... 43

Quadro 4 Encontros do SGB LAB ... 52

Quadro 5 Resultados do Festival SGB ... 58

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...10

1.1.1. Problema de Pesquisa ...13

1.1.2. Objetivo Geral ...13

1.1.3. Objetivos Específicos ...14

1.2. Percurso da pesquisa: estudo crítico e objeto de estudo ...14

1.3. Justificativa do estudo ...16

2. REFERENCIAL TEÓRICO ...17

2.1. Terceiro setor ...17

2.2. Inovação ...20

2.3. Inovação social ...25

2.4. Tecnologia social: tecnologia apropriada (ta) ...32

2.5. Aspectos de uma tecnologia social: fatores sistêmicos para o processo emancipatório ...41

2.6. O modelo startup enxuta ...48

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...53

3.1. Abordagem de pesquisa ...53

3.2. Estratégia de pesquisa ...54

3.3. Objeto de estudo: a associação social good brasil ...55

3.4. Apresentação das três iniciativas vencedoras do festival sgb 2017 ...59

3.5. Técnica de coleta de dados ...63

3.6. Análise e interpretação dos dados ...66

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ...68

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...95

6. REFERÊNCIAS ...99

7. APÊNDICE A ...105

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1. INTRODUÇÃO

A revolução científica moderna e a universalização do método na pesquisa se consolidaram como acontecimentos decisivos no processo de desenvolvimento do conhecimento com impactos significativos na sociedade. Avanços nos campos político, econômico, educacional e social, mas também retrocessos diversos, foram constitutivos do progresso científico solidificado paulatinamente na mudança entre o período moderno e o contemporâneo. Emergente no paradigma dominante da ciência moderna, as tecnologias foram usadas, não raro, para a resolução de problemas sociais, como também para a geração de lucro e vantagens competitivas no âmbito do mercado. Contudo, a degradação do meio ambiente e o crescimento da miserabilidade em escala mundial na contemporaneidade, por exemplo, foram reveladoras do descompasso entre a evolução do saber tecnológico e os grandes desafios sociais de nossa época. Em sentido diverso do uso tradicional da tecnologia, nas últimas décadas surgiu na comunidade científica e nas organizações da sociedade civil, saberes e experiências que visam gerar alternativas a problemas sociais como as desigualdades, a fome, as formas de segregação e a violência. O advento das tecnologias sociais foi fruto dessa mudança paradigmática caracterizada por iniciativas científico-tecnológicas menos afeitas aos anseios do mercado e do lucro privado e mais comprometidas com as demandas dos indivíduos e comunidades que vivem em estado de maior vulnerabilidade econômica, política, jurídica e social.

Nesse sentido, Luiz P. Bignetti (2011) assevera que as Inovações Sociais (IS) podem abrigar uma série de ações voltadas para a solução das necessidades sociais. Essa característica faz com que tal campo de estudo seja um hábil e vasto agregador, na medida em que acolhe outras ações capazes de colaborar com soluções para os problemas sociais. Para melhor compreender os deslocamentos teóricos e práticos das tecnologias sociais e das inovações sociais na sociedade, é mister abordar primeiramente os conceitos tradicionais de tecnologia e inovação.

A inovação, dentro dos estudos organizacionais, é baseada nas pesquisas de Joseph Schumpeter (1883-1950), cuja principal percepção de inovação está ligada ao seu sentido técnico e de desenvolvimento econômico, de maneira que os avanços tecnológicos inseridos nas organizações representam a melhor competitividade e sobrevivência, concebendo o desempenho mercadológico como

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fator principal de sucesso organizacional. Porém, no que tange ao contexto social a inovação assume um significado mais abrangente e comprometido socialmente. Bignetti (2011) corrobora está visão ao considerar a Inovação Social como uma das ações viáveis para solucionar alguns dos problemas acumulados por décadas de desigualdades sociais. Em um contexto global se percebe a crescente discussão sobre esta nova perspectiva de inovação. Começam a se multiplicar pesquisas nessa área, como, por exemplo, as atividades do Centre de Recherche sur les Innovations Sociales (CRISES); os Programas de pesquisas sociais desenvolvidos pelas universidades de Stanford e Harvard, nos Estados Unidos, também na Universidade de Cambridge, bem como outras iniciativas que elaboram estudos e pesquisas com foco em ações que possuem caráter social (BIGNETTI, 2011; MULGAN et al., 2007). Para a discussão dos traços centrais da IS é tomado como referência, nesta dissertação, o estudo de Bignetti. Conforme o autor, a Inovação Social pode ser definida como o efeito de uma aplicação de saber conceitual ou adquirido por experiência a demandas sociais por meio da atuação e da cooperação dos distintos atores envolvidos, capaz de gerar resultados novos e duráveis para grupos, comunidades ou para a sociedade em geral.

Apesar de não empreender uma analítica da Inovação Social, destaca-se os estudos de Renato Peixoto Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018), que apresenta a Tecnologia Social (TS) como uma ferramenta que pode viabilizar produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social. Desse modo, a noção de TS apresenta vinculação direta – como será explicitado - com a Inovação Social. Na análise da TS serão utilizados, sobretudo, os estudos de Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018). Este autor faz parte do grupo de pesquisadores latino-americanos que compõem a Rede de Tecnologia Social (RTS). Esta rede foi lançada oficialmente em 14 de abril de 2005 com o propósito manifesto de promover o desenvolvimento sustentável através da reaplicação, em escala, de tecnologias sociais, incentivando a adoção de políticas públicas (RUTKOWSKI, 2005). Membro da RTS, Dagnino é um dos principais teóricos brasileiros responsáveis pelo desenvolvimento e disseminação da ideia de Tecnologia Social. Ele concebe a RTS como um espaço de ação, difusão, articulação e informação sobre tecnologias sociais em desenvolvimento no Brasil.

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Tendo em vista os contextos científico e social nos quais emerge a Tecnologia Social, o presente estudo também aborda, juntamente com as interfaces entre TS e IS, as noções de paradigma dominante e paradigma emergente, propostas por Boaventura de Souza Santos (2007; 2009; 2011; 2018). Como também, as pesquisas do Instituto de Tecnologia Social (ITS), que desde 2003 desenvolve estudos e apoio a projetos com o intuito de aprimorar um modelo sistêmico de TS, identificando doze aspectos1 que caracterizam uma Tecnologia Social, capaz de colaborar com as relações entre as reflexões teóricas deste tema e as práticas aplicadas pelo governo, organizações do terceiro setor, sociedade civil e instituições privadas.

Tomando como ponto de partida a fundamentação teórica (que põe em relevo a noção de Tecnologia Social e sua relação com a Inovação Social), torna-se relevante mostrar a existência de organizações que buscam trabalhar aspectos da Tecnologia Social e suas experiências no desenvolvimento de negócios que buscam suprir problemas sociais. Esta dissertação discute a aderência da metodologia adotada pelo Social Good Brasil (SGB), o modelo Startup Enxuta, aos preceitos definidores da TS geradores de inovações sociais inclusivas.

Resumidamente, o SGB é uma associação sem fins lucrativos e do terceiro setor, situada em Florianópolis/SC, que – segundo seus idealizadores – procura inspirar, conectar e apoiar indivíduos e organizações na utilização e geração de tecnologias de modo inovador visando criar soluções para problemas da sociedade. Nessa perspectiva, para que seja possível alcançar os objetivos o SGB utiliza em sua metodologia um processo de incubação no qual os empreendedores sociais recebem capacitação, mentoria e ferramentas práticas focadas na consecução das ideias dos empreendedores. O processo é delineado para desenvolver negócios sociais através da gestão de marketing e tecnologia e incrementando novos conceitos para o campo social como, o produto mínimo viável2 (MVP), a ideia de pivot3 e outros métodos considerados mais ágeis de interação com os clientes. Uma

1 Estes aspectos serão aprofundados no capítulo 2, item 2.5.

2 O MVP (Minimum Viable Product, ou, em português, Produto Minimamente Viável), É um conjunto de testes primários feitos para validar a viabilidade do negócio. Não é o produto final, apenas um produto com o mínimo de recursos possíveis, desde que (em sua totalidade) estes mantenham sua função de solução ao problema para o qual foi criado.

3 Trata-se de buscar novas alternativas e possibilidades para testar serviços, produtos ou relacionamentos. Visando mensurar se o negócio está atingindo o potencial desejado e, caso contrário, aprender como fazer com que seu modelo de negócio seja mais eficiente.

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das ferramentas centrais, presente em grande parte do processo, é o modelo de gestão Startup Enxuta. De acordo com o seu idealizador, Eric Ries, (2012) Startup Enxuta representa uma nova abordagem para gerar a inovação contínua focada no cliente e apresenta um conjunto de práticas que auxiliam os empreendedores na ampliação de suas chances no desenvolvimento de negócios bem-sucedidos. Em face dos propósitos do estudo, esta dissertação também procura investigar se o modelo Startup Enxuta é uma Tecnologia Social.

A participação na capacitação se inicia após a seleção anual dos empreendedores que possuem projetos de impacto social, habilitados a participar do Festival anual do SGB. Por quatro meses os empreendedores recebem apoio, conhecimento e qualificação da equipe do SGB, visando cumprir as etapas de pesquisa, testes e prototipagem de seus negócios. Ao longo do processo, a inovação deve ser efetivada, gerando níveis de desenvolvimento e mudanças na comunidade trabalhada na iniciativa.

Além disto, esta dissertação investiga as iniciativas vencedoras do Festival Social Good Brasil 2017 (que compreendem também a metodologia Startup Enxuta utilizada no processo de incubação), a fim de apontar em que medida essas se constituem como tecnologias sociais geradoras de inovações sociais. Para a consecução da análise e com base no construto teórico que vincula Tecnologia Social e Inovação Social, o estudo apresenta a seguinte pergunta orientadora: A metodologia Startup Enxuta utilizada no SGB e as iniciativas vencedores do Festival Social Good Brasil 2017, podem ser consideradas Tecnologia Social geradora de Inovação Social?

1.1.1. Problema de Pesquisa

A metodologia Startup Enxuta utilizada no SGB e as iniciativas, vencedoras do Festival Social Good Brasil 2017, podem ser consideradas como Tecnologia Social geradora de Inovação Social?

1.1.2. Objetivo Geral

Analisar se a metodologia Startup Enxuta utilizada no SGB e as iniciativas, vencedoras do Festival Social Good Brasil 2017, podem ser consideradas como Tecnologia Social geradora de Inovação Social.

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1.1.3. Objetivos Específicos

Descrever a organização Social Good Brasil, a metodologia Startup Enxuta e as iniciativas vencedoras em 2017;

Analisar a utilização do modelo Startup Enxuta aplicado ao processo de desenvolvimento das iniciativas sociais no Social Good Brasil;

Identificar os limites e potencialidades do modelo Startup Enxuta e das iniciativas com base nas lentes da Tecnologia Social geradora de Inovação Social.

1.2. PERCURSO DA PESQUISA: ESTUDO CRÍTICO E OBJETO DE ESTUDO

Nesta dinâmica da introdução de informações e apresentações dos construtos que compõem o corpo teórico do estudo, na figura abaixo, expõem-se o percurso utilizado na pesquisa e a articulação desenvolvida entre as lentes teóricas que dão o embasamento adequado para atingir os objetivos propostos desta investigação.

Figura 1 – Percurso de pesquisa

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No primeiro momento, foram selecionados os estudos acerca da Tecnologia Social e Inovação Social visando compreender suas aproximações conceituais. Através dos autores, Bignetti (2011) e Dagnino (2009; 2011; 2013; 2014; 2018), foi possível aprofundar os entendimentos e compreender as relações entre a Inovação Social e a Tecnologia Social, apontando suas principais similitudes. Após isso, avança-se para o Tecnologia Social, posicionando-a como uma crítica, pelo seu movimento reflexivo acerca da Tecnologia Convencional (TC) e propositiva através da Tecnologia Apropriada (TA).

Corroborando com os estudos sobre a TS inclui-se as pesquisas de Santos (2007; 2009; 2011; 2018), através do Paradigma Dominante e Paradigma Emergente, que reforçam as discussões sobre as TS. De forma sistêmica, foram apresentados os doze aspectos de avaliação da Tecnologia Social, desenvolvidos pelo Instituto de Tecnologia Social (2007), que dão base a análise dos limites de potencialidades da metodologia Startup Enxuta utilizada pelo Social Good Brasil e das três iniciativas vencedores do Festival SGB 2017.

Vale enfatizar que, os autores e construtos trabalhados possuem suas vinculações e partilham dos valores abordados pela TS em relação a visão que sinaliza a busca pela transformação social justa e emancipatória da sociedade. A partir da apresentação do percurso da pesquisa, o próximo capítulo aborda a justificativa do estudo.

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1.3.JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

Pensar a inovação não apenas em seus aspectos tecnológicos, mas também em sua função social abre um leque de possibilidades em relação a usabilidade da tecnologia como estratégia inclusiva. Umas dessas possibilidades é proposta pelo Social Good Brasil, através de um processo de incubação de projetos. Logo, compreender como esses projetos se constituem em negócios e em que medida suas soluções podem ser consideradas transformadoras para sociedade, é o principal motivador deste estudo.

Para que a discussão fosse desenvolvida, empreendemos a analítica das categorias Tecnologia Social e Inovação Social e o escrutínio da metodologia Startup Enxuta. O estudo das categorias é fundamental para responder os questionamentos propostos na pesquisa. Essa investigação procura contribuir com os estudos desenvolvidos nos campos da TS e IS, sobretudo pela contribuição na analítica conceitos. Além disso, a pesquisa também colaborou com a ordem científico-prática pelo fato de tratar-se de um estudo de caso, onde apresenta a análise dos doze aspectos da Tecnologia Social, organizados sistematicamente, em relação as práticas desenvolvidas pelo Social Good Brasil. Assim, a partir deste estudo, foi possível auxiliar na compreensão das metodologias utilizadas em projetos e ações que articulam Tecnologia Social e Inclusão Social de modo inovador. A investigação da metodologia Startup Enxuta. permite a problematização de modelos e iniciativas organizacionais que, em tese, visam minimizar as desigualdades sociais.

Em síntese, o estudo ora apresentado reforça o valor de um debate crítico desenvolvido nos estudos organizacionais sobre as relações entre Tecnologia Social, Inovação Social, Projetos Sociais e as metodologias aplicadas tidos como inclusivas. O que permitiu melhor detectar os limites e potencialidades de ações voltadas as transformações sociais. Vê-se, portanto, que a justificativa científico-social do estudo está ancorada em uma análise crítica de ações de uma organização do terceiro setor (metodologia e os três projetos) que implicam modelos tecnológicos e iniciativas tidas como inovadoras no campo social.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo apresenta a fundamentação teórica, abordando as categorias que embasam esta dissertação, são elas: Terceiro Setor, Inovação, Inovação Social, Tecnologia Social e o Modelo Startup Enxuta.

2.1.TERCEIRO SETOR

A globalização e as novas tecnologias emergentes desencadearam uma série de mudanças na sociedade e geraram impactos nas esferas sociais, culturais, políticas e econômicas. Segundo Matos (2005), calcula-se que 15% da população produzem e consomem 70% de toda a riqueza mundial, enquanto um bilhão de pessoas vivem na extrema pobreza. Esses dados revelam as mudanças significativas no sistema social, bem como a crescente desigualdade vivenciada em nossos dias.

Para compreender as mudanças sociais é importante entender como se situam os setores de atividades na sociedade, os quais normalmente são: o Estado como primeiro setor; o mercado como segundo setor; e as atividades sem fins lucrativos compondo o terceiro setor, como as associações, fundações, instituições, Organizações não governamentais (ONGs) e Organização da sociedade civil de interesse público (OSCIPs). Para Fernandes (1997), o terceiro setor possui um gerenciamento não governamental, não lucrativo e busca a mobilização por meio da atitude voluntária de determinados grupos da sociedade.

Segundo Matter (2006), as organizações da sociedade civil passam a se manifestar de forma mais aberta por meio de parcerias estabelecidas entre o Estado, o mercado e as atividades sem fins lucrativos. O terceiro setor tem atuação pública não-estatal, formado a partir de iniciativas privadas e civis, voluntárias e remuneradas, sem fins lucrativos, no sentido de promover o bem comum. Assim, estão reunidas iniciativas de diversas áreas como, organizações não governamentais, fundações e institutos empresariais, associações comunitárias e empresariais e demais instituições sem fins lucrativos (GESET, 2001). Neste sentido, pode-se destacar as ONGs como um ator relevante de organizações não governamentais e sem fins lucrativos; sua participação, quando ativa na sociedade

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busca, por exemplo, o exercício efetivo de cidadania, o empoderamento e a maior inclusão social.

De acordo com Anheier e Seibel (1990), qualquer organização do terceiro setor tem por características ser formal, privada, sem distribuição de lucros, autogerida e voluntária. Tenório (2003) salienta que, mesmo não podendo ser equiparadas às empresas tradicionais, orientadas em sua grande maioria pela maximização do lucro, também devem estar atentas a gestão e a todos os aspectos relacionados à sobrevivência e permanência, de modo que devem prestar contas à sociedade em geral.

Segundo Salamon e Anheir (1997), existem cinco pré-requisitos para a caracterização de uma organização do terceiro setor, que são:

1. ser organizada, isto é, ter algum grau de institucionalização; 2. ser “privada”, isto é, institucionalmente separada do governo; 3. não fazer distribuição de lucros;

4. ser autogovernável; e

5. ter algum grau de participação voluntária, mesmo que apenas no conselho diretor.

Segundo Matos (2005) as ONGs são percebidas como iniciativas responsáveis por fomentar transformações sociais e como articuladoras das práticas de responsabilidade social para o campo da sociedade civil.

Dentro desta linha de pensamento acerca das iniciativas do terceiro setor, o contexto norte-americano apresenta a democracia e liberdade como base para o desenvolvimento de atividades filantrópicas e associativas. No pensamento da sociedade americana do século 19, em um sistema democrático caracterizado, em certa medida, pela busca da igualdade entre as pessoas, entendendo que aqueles que ficam isolados se tornavam mais fracos e dependentes, isso poderia facilitar as formas despóticas de governo. Então, as pessoas perceberam a necessidade de se unir para aumentar o poder de influência do grupo, ao qual pertenciam, dentro da esfera democrática, aumentando sua capacidade de participação (TEIXEIRA, 2004). Segundo Rifkin (2005, p. 20) “é necessário compreender que cada país tem três

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setores e não dois. Uma vez que se compreenda isso, abrir-se-á a possibilidade de um novo contrato social para esta civilização”.

O Brasil é um país com alta incidência de pobreza e elevada desigualdade na distribuição da renda. Em 2003, do total de habitantes que informam sua renda, cerca de um terço (31,7%) é considerado pobre – 53,9 milhões de pessoas –, vivendo com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo. Quanto aos muito pobres, com renda domiciliar per capita de até um quarto de salário mínimo, a proporção é de 12,9%, ou 21,9 milhões de pessoas (IPEA, 2003). Segundo dados do IBGE (2002) o setor sem fins lucrativos cresceu 157%, passando de 105 mil para 276 mil entre os anos de 1996 e 2002. No mesmo período, o número de trabalhadores no setor passou de 1 milhão para 1,5 milhão, registrando um aumento de 50%. Os dados do IBGE também constataram a participação de 1,4% na formação do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB), o que significa um montante de aproximadamente 32 bilhões de reais.

Referente aos dados do IBGE (2012), entre 2006 e 2010, observou-se um crescimento da ordem de 8,8% dessas instituições registradas, passando de 267,3 mil para 290,7 mil, sendo elas divididas entre organizações com fins religiosos (28,5%), associações patronais e profissionais (15,5%) e ao desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%). As áreas de saúde, educação, pesquisa e assistência social (políticas governamentais) totalizavam 54,1 mil entidades (18,6%). As organizações concentravam-se na região Sudeste (44,2%), Nordeste (22,9%) e Sul (21,5%), estando menos presentes no Norte (4,9%) e Centro-Oeste (6,5%).

Diante deste crescimento ao longo dos anos, pode-se considerar o terceiro setor como um conjunto de organizações e iniciativas de auxílio e produção dos bens e serviços públicos. Tais ações, sem ser orientadas à maximização do lucro, visam atender demandas coletivas da sociedade, cujos investimentos são maiores que os retornos financeiros.

Esse apanhado de informações sobre o terceiro setor fundamenta um entendimento de como é o perfil das iniciativas que atuam nele, principalmente pelo posicionamento em relação ao mercado e ao Estado. Dessa forma, para dar sequência ao estudo e, assim, melhor entender os traços definidores da Tecnologia Social geradora de Inovação Social, será abordada a noção tradicional de inovação.

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2.2. INOVAÇÃO

O termo Inovação tem sua origem do latim innovo, innovare, logo inovar significa tornar novo, renovar, introduzir qualquer novidade ou modernizar. A inovação também provém da palavra innovatione, que significa tornando algo novo ou renovado (MACHADO, 2004).

A inovação foi abordada no âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 1970, com o objetivo de promover uma interação mais efetiva entre o setor produtivo e as áreas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Isso aconteceu no momento em que a abertura de mercados e o aumento da competitividade internacional encorajaram empresas e governos a estabeleceram trocas envolvendo pesquisa tecnológica e política industrial, para a manutenção das taxas de crescimento econômico. A inovação está presente em diferentes saberes e pode ser estudada nas perspectivas econômica, tecnológica, sociológica, organizacional e da psicologia social, entre outras (MENDES, 2002).

Nesta ótica as elaborações de Joseph Schumpeter (1883-1950) no início do século XX tiveram um impacto considerável no debate sobre a inovação no seu sentido de transformações tecnológicas e desenvolvimento econômico. Segundo o teórico, os investimentos em novos produtos e processos produtivos de uma empresa refletem diretamente em seu desempenho financeiro, de maneira que o empresário ocupa ao mesmo tempo um papel de liderança econômica e tecnológica. O comportamento empreendedor, com as inovações tecnológicas organizacionais, compõe um fator essencial para as transformações na esfera econômica e seu desenvolvimento no longo prazo (SCHUMPETER, 1985).

A abrangência maior dessa definição de inovação, também foi abordada pelo economista Christopher Freeman (1975). Considerado um pensador neoschumpeteriano, foi o responsável pelo estabelecimento do conceito de inovação e pelo seu enfoque tecno-econômico em relação as instituições sociais como suporte às inovações e à política tecnológica. Para Freeman, os incentivos governamentais à inovação (investimentos em P&D, créditos, educação científica e técnica, etc.) impulsionam em ritmo cada vez mais veloz a inovação em seu sentido técnico. O autor acrescenta que, as políticas de inovação mudam de um país para outro e

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passam por aprimoramentos de acordo com a evolução da sociedade, gerando assim novos planos de incentivos. Freeman destaca que, essa discussão acerca da inovação técnica, apresenta com um claro perfil corporativo, sendo vista como condição para que empresas e governos tenham um bom desempenho na economia internacional. O estudioso destaca a importância da atividade inovadora para a firma, levando em consideração que a inovação técnica não é uma atividade nem livre e nem arbitrária, mas fruto de determinadas circunstâncias e acontecimentos, Freeman reforça que:

[...] embora a teoria econômica tradicional ignore em grande medida a complicação da ciência e da tecnologia mundiais e considera o mercado como o meio ambiente, a mudança tecnológica é um aspecto de importância decisiva do ambiente das firmas na maioria das indústrias e países (FREEMAN, 1975, p. 256).

O autor defende que o processo inovativo deve propiciar as condições para que empresa e governo estabeleçam trocas de informações a fim de efetivar um bom desempenho na economia internacional frente às oscilações de mercado e ameaças da concorrência. Isso se dá não somente pelo sucesso de determinadas iniciativas, mas sim, pela capacidade em se constituir “sistemas tecnológicos” relacionados e estabelecer um processo de permanente evolução. O que propicia o surgimento de soluções sustentáveis para o processo de crescimento econômico de uma nação (FREEMAN, 1975).

Schumpeter (1985) afirma que as empresas se dedicam a três atividades inovadoras: a invenção, a inovação e a imitação. A invenção é o ato de criar ou desenvolver um novo produto; já a inovação é o processo de criação através da invenção e a imitação é a adoção de uma inovação por empresas similares. A inovação enfatizada por Schumpeter (1985) é a força central no dinamismo do sistema capitalista. Os autores de tradição neoschumpeteriana também enfatizam a necessidade de inovar como capacidade fundamental da competitividade das empresas em seus setores de atuação.

Corroborando com as pesquisas sobre a inovação, também se encontra a teoria da hélice tripla, criado por Henry Etzkowitz (1995) na década de 1990, que procurava entender os processos inovadores a partir da reunião de três segmentos: empresas, universidades e o Estado. No entanto, o grande problema encarado pelas análises baseadas na perspectiva da hélice tripla é que focam geralmente em

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inovações específicas. Normalmente é analisado o produto e as partes interessadas para sua inserção no mercado, independente dos impactos gerados por essas inovações.

Já na perspectiva de Hitt (2008), a inovação se desenvolve em dois tipos: incremental e radical. Segundo o autor, existem três abordagens básicas que são utilizadas para produzir inovação de ambos os tipos.

1. Inovação interna: que acontece ao formar empreendimentos coorporativos internos.

2. Estratégias de cooperação: alianças estratégicas. 3. Aquisições.

O primeiro ponto, relacionado à inovação interna, ocorre através do comportamento estratégico independente do indivíduo e comportamento estratégico induzido pelo coletivo dentro da organização. A maior parte das inovações é de base incremental, pois aumentam o conhecimento estruturante e oferecem pequenas melhorias para os produtos ou serviços já existentes na organização. A segunda abordagem para produzir inovação é a tática de cooperação, são as alianças estratégicas utilizadas pelos empreendedores e as empresas já estabelecidas para inovar. Essas alianças podem ser para aumento de capital intelectual e conhecimento técnico, em prol de objetivos estratégicos compatibilizados entre as partes interessadas (HITT, 2008). A última abordagem para produzir inovação é a aquisição de outras empresas para conseguir acesso as suas inovações e capacitações inovadoras já implementadas na organização.

Também se pode observar a inovação em seu aspecto de aplicabilidade tecnológica como ferramenta de gestão estratégica. Segundo Bignetti (2011) o processo de inovação nasce do interior da organização para fora, ou seja, pela aplicação de um novo processo de produção ou um novo produto ou serviço. A transmissão do conhecimento proporcionado pela inovação através do intelectual, ajuda a garantir que uma ideia ou uma tecnologia desenvolvida pela organização não seja copiada e utilizada por concorrentes. As inovações tecnológicas são essenciais à competitividade da organização, por isso são mantidas em total sigilo e exclusividade, visando à obtenção dos lucros extraordinários defendidos pela perspectiva schumpeteriana. O pensamento de Bignetti (2011) aponta que a

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inovação tecnológica trata da apropriação de valor e que as teorias econômicas valorizam os interesses particulares dos atores econômicos. A inovação é orientada para a organização, com investimentos em P&D comprometidos a gerar inovações radicais e o desenvolvimento ou aprimoramento de novos processos e produtos que focam estratégias de competitividade essencialmente mercadológicas.

Assim, é importante compreender o fundamento da inovação no seu sentido tecnológico e convencional, para comparar e distinguir dos estudos da Inovação Social. Até porque, o foco da pesquisa ora apresentada é a Tecnologia Social geradora de Inovação Social numa experiência do terceiro setor. No quadro abaixo, de acordo com Bignetti (2011), percebe-se algumas diferenças entre a inovação tecnológica e social.

Quadro 1 – Diferenças entre a Inovação Tecnológica e Inovação Social

Tipologia Inovação Social Inovação Tecnológica

Finalidade Social Apropriação de valor

Estratégia Vinculação permanente e de cooperação intensa entre os atores sócias.

Vantagem competitiva e orientação a performance.

Lócus Ações em conjunto com a

comunidade.

Centrada na empresa, altos investimentos em P&D focando diferencial competitivo.

Processo de

desenvolvimento

Processo de construção social, de geração de soluções de longo prazo a comunidade.

Desenvolve-se através de etapas sequenciais, definidas e controladas por ferramentas de gestão específicas.

Difusão do Conhecimento Replicação e expansão a outras comunidades

Exclusivo para a obtenção dos lucros extraordinários

Fonte: Adaptado de Bignetti, 2011.

Este quadro sucinto demonstra o que será abordado no capítulo seguinte, em que se evidencia detalhadamente as características da inovação social trabalhadas nessa dissertação. Seguindo a mesma linha de pensamento desenvolvida por Bignetti (2011), cabe aqui destacar sua proposta de abordagem para a Tecnologia Social, que é o construto principal deste estudo: primeiro, a finalidade da tecnologia social é sempre social, orientada para atender as necessidades das comunidades; segundo, ela acontece pela cooperação contínua entre os atores envolvidos com

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foco na mudança das condições sociais dos sujeitos; terceiro, se desenvolvem pelo olhar voltado para as ações comunitárias principalmente em pequenos locais, pois os recursos geralmente são reduzidos; quarto, acontece pelo processo de desenvolvimento, pois se estrutura pela participação dos favorecidos e dos atores da comunidade. Por fim, o quinto aspecto é relacionado pela transmissão do conhecimento, já que são orientados a replicação e expansão dos resultados a outras comunidades, respeitando as particularidades de cada contexto social. Nesse sentido, as organizações, redes, comunidades ou instituições podem orientar suas experiências a processos de inovação, cujo fim seja o sujeito individual e coletivo, não apenas os ganhos monetários. Embora a noção de Tecnologia Social seja aprofundada adiante, em face do disposto, percebe-se a profunda conexão entre Tecnologia Social e Inovação Social e a clara distinção entre estas e a Inovação em seu sentido tradicional.

Na sequência é apresentado a Inovação Social, com base nas lentes teóricas que orientam o estudo.

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2.3. INOVAÇÃO SOCIAL

Como indicado, a inovação no seu sentido tradicional, que põe em evidencia a competitividade e o desenvolvimento econômico e mercadológico, é tida como fundamental para o êxito das estratégias nas organizações. Contudo, num sentido mais amplo a inovação também abrange aspectos que podem transcender o campo mercadológico por estarem mais voltados a realização de demandas sociais. Sem desconsiderar o demasiado espectro da inovação, as pesquisas e experiências sociais identificadas como inovações sociais têm se notabilizado por procurar inovar socialmente apresentando reflexões e respostas concretas a problemas sociais diversos de nossa época.

Num esforço analítico, diferentes teóricos, grupos de pesquisa, etc., têm procurado melhor definir a Inovação Social como campo de estudos e área de ação social. De acordo com Taylor (1970), a Inovação Social constitui-se em novas maneiras de atender as necessidades sociais. Num outro registro, ainda nos anos de 1970, Andrade (2006) dá ênfase a abordagem da inovação no campo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que visava promover a interação eficaz entre setor produtivo e áreas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Cloutier (2003), bem mais tarde, reforçando o compromisso comunitário indicará que a IS é um processo capaz de originar uma mudança duradoura nos sujeitos e na comunidade. Nos Estados Unidos, as universidades de Stanford, Harvard e Brown, têm desenvolvido programas de pesquisa sobre temáticas concernentes à Inovação Social. No Canadá, ganha destaque as atividades do Centre de Recherche sur les Innovations Sociales (CRISES), uma rede formada por universidades que se vinculam através de projetos que visam inovar socialmente. Na Europa, o Institut Européen d'Administration des Affaires (INSEAD), a Universidade de Cambridge e iniciativas como o Emerging User Demands for Sustainable Solutions (Projeto EMUDE), o Consumer Citzenship Network, o Creative Communities for Sustainable Lifestyles e o Inovation and Social Entrepreneurship in Social Services (ISESS), evidenciam o crescimento das pesquisas e, assim, o maior valor epistemológico e social atribuído às inovações sociais.

Percebe-se que o espectro das inovações sociais é marcado por uma abundância de possibilidades investigativas e experiências sociais que atravessam

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distintos campos do conhecimento. Logo, para melhor caracterizar os traços centrais das inovações sociais, como saber e experiência, é apresentado o Quadro 2, com conceitos propostos por teóricos que vem se dedicando a esta área de estudos.

Quadro 2 - Panorama conceitual de Inovação Social Autor/Ano Conceito

Taylor (1970) A inovação social significava novas maneiras de fazer as coisas e um propósito explícito para atender às necessidades sociais.

Dagnino e Gomes

(2000, in Dagnino

et al, 2004)

Conhecimento – intangível ou incorporado a pessoas ou equipamentos, tácito ou codificado – que tem por objetivo o aumento da efetividade dos processos, serviços e produtos relacionados à satisfação das necessidades sociais.

Bignetti (2011) Resultado do conhecimento aplicado a necessidades sociais através da participação e da cooperação de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral

Cloutier (2003) Uma resposta nova, definida na ação e com efeito duradouro, para uma situação social considerada insatisfatória, que busca o bem-estar dos indivíduos e/ou comunidades.

Standford Social Innovation Review (2003)

O processo de inventar, garantir apoio e implantar novas soluções para problemas e necessidades sociais.

Novy e Leubolt (2005)

A inovação social deriva principalmente de: satisfação de necessidades humanas básicas; aumento de participação política de grupos marginalizados; aumento na capacidade sociopolítica e no acesso a recursos necessários para reforçar direitos que conduzam à satisfação das necessidades humanas e à participação.

Rodrigues (2006) Mudanças na forma como o indivíduo se reconhece no mundo e nas expectativas recíprocas entre pessoas, decorrentes de abordagens, práticas e intervenções.

Moulaert et al. (2007)

Ferramenta para uma visão alternativa do desenvolvimento urbano, focada na satisfação de necessidades humanas (e empowerment) através da inovação nas relações no seio da vizinhança e da governança comunitária. Mulgan et al.

(2007)

Novas ideias que funcionam na satisfação de objetivos sociais; atividades inovativas e serviços que são motivados pelo objetivo de satisfazer necessidades sociais e que são predominantemente desenvolvidas e difundidas através de organizações cujos propósitos primários são sociais. Phills et al. (2008) O propósito de buscar uma nova solução para um problema social que é

mais efetiva, eficiente, sustentável ou justa do que as soluções existentes e para a qual o valor criado atinge principalmente a sociedade como todo e não indivíduos em particular.

Pol e Ville (2009) Nova ideia que tem o potencial de melhorar a qualidade ou a quantidade da vida.

Murray et al.

(2010)

Novas ideias (produtos, serviços e modelos) que simultaneamente satisfazem necessidades sociais e criam novas relações ou colaborações sociais. Em outras palavras, são inovações que, ao mesmo tempo, são boas para a sociedade e aumentam a capacidade da sociedade de agir.

Fonte: Adaptado de Bignetti (2011)

Percebe-se que, por mais diversas que sejam as noções de Inovação Social, é possível detectar a seguinte convergência: a intensão de gerar benefícios aos indivíduos e as coletividades, visando à resolução de problemas sociais. Como dito,

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isso a diferencia substancialmente da visão tradicional de inovação voltada, sobretudo à maximização do lucro.

O deslocamento crítico assumido nesta dissertação, em relação às visões tradicionais de tecnologia e inovação, encontra assento, sobretudo, nas definições de Inovação Social e Tecnologia Social propostas por Renato Dagnino e também na abordagem de Luiz P. Bignetti (2011), pelos seguintes motivos: 1) contribuição da análise deste último quanto a investigação das categorias teóricas das Inovações Sociais; 2) proximidade e articulação entre o que propõe Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018) e Bignetti (2011) no que tange as duas categorias propostas e as suas possíveis vinculações.

Assim, sem negar as outras visões ou mesmo indicar que não haja expressiva contribuição e grande vinculação entre estas e o que sustenta Bignetti (2011), a escolha está embasada no caráter transformador destacado na concepção de Inovação Social por ele defendida (nas dimensões individual, organizacional e social por meio dos movimentos), bem como na clara vinculação desta noção com a de Tecnologia Social, de Dagnino. Recuperando o que foi apresentado anteriormente, Bignetti assevera:

A inovação social é aqui definida como resultado do conhecimento aplicado a necessidades sociais através da participação e da cooperação de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral (BIGNETTI, 2011, p. 04).

Dagnino e Gomes (2000), por sua vez, entendem a IS como:

Conhecimento – intangível ou incorporado a pessoas ou equipamentos, tácito ou codificado – que tem por objetivo o aumento da efetividade dos processos, serviços e produtos relacionados à satisfação das necessidades sociais (DAGNINO; GOMES, 2000, p. 21).

Como indicado, há clara vinculação entre Inovação Social e Tecnologia Social, mas no que tange a Inovação Tecnológica existem diferenças substanciais. De certo modo, a concepção tradicional de tecnologia e o que dela deriva são profundamente marcadas pelas teses schumpeterias e de seus seguidores, focadas sobretudo na maximização do êxito concorrencial gerado por produtos, processos e modelos inovadores que viabilizam vantagens competitivas na esfera do mercado. (Schumpeter, 1985).

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Os propósitos orientadores citados acima revelam que há distinções essenciais entre Inovação Social e Tecnologia Convencional no que diz respeito as metas, metodologias e valores. Prova disso, a IS busca soluções viáveis e inovadoras direcionadas ao futuro da sociedade humana por meio de transformações capazes de alterar realidades de comunidades diversas sem dispensar o protagonismo dos diferentes atores envolvidos (indivíduos voluntários, colaboradores e beneficiados, bem como instituições, empresas e movimentos sociais). Como resultado, as distintas ações e projetos de inovações sociais visam propiciar, em maior ou menor intensidade, resultados econômicos, educacionais, político-sociais, organizacionais indutores de maiores níveis de inclusão, empoderamento, autonomia e emancipação.

Conforme Bignetti (2011), a Inovação Social surge como alternativa para buscar soluções inovadoras e viáveis ao futuro da sociedade humana, através de transformações sociais capazes de alterar realidades de uma comunidade fornecendo condições para que a própria sociedade e seus atores gerem respostas às demandas sociais. O autor destaca que a Inovação Social se distingue da inovação tecnológica, principalmente em função de sua finalidade, em que o foco está relacionado ao processo de desenvolvimento e de difusão do conhecimento. A gestão da inovação social requer um modelo distinto dos utilizados tradicionalmente, no qual possa contemplar as especificidades do processo de inovação social.

Em certa medida, os estudos sobre Inovações Sociais de Dagnino (2014) corroboram com Bignetti (2011) ao indicar que não é possível uma simples adaptação da Teoria Tradicional da Inovação ao campo das inovações sociais. É necessário um “giro conceitual” para estruturar a análise crítica necessária aos estudos dos problemas do campo social, o que inclui a revisão e a contextualização dos conceitos de tecnologia e inovação, bem como das metodologias utilizadas nas pesquisas e nos projetos.

Num esforço analítico, Chambon et al. (1982) asseveram existir quatro dimensões que caracterizam as inovações sociais. São elas: 1) a forma, que diz respeito ao processo de criação e implantação e, assim, aos atores e aos objetos de mudança que busca atingir. A forma tem a ver, sobretudo com o caráter intangível ou imaterial que pode ser vinculado a ideia de “serviço”, mais até do que a de “produto”; 2) O processo (de criação e implantação) propriamente dito refere-se à participação dos usuários no desenvolvimento. Nele, o “cliente” não é visto como

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passivo, mas como participante efetivo do processo; 3) Os atores diversos, que são partes interessadas no desenvolvimento da Inovação Social. Estes se transformam se ressignificando nos papeis sociais que assumem e nas interações que estabelecem como empreendedores sociais, agentes governamentais, empresários e empresas, organizações não governamentais, trabalhadores sociais, representantes da sociedade civil e dos movimentos sociais, comunidades, beneficiários etc. Nesse ponto, a diversidade de saberes e as interações sociais contribuem na realização do aprimoramento dos sujeitos e de suas ações; 4) Já os objetivos focam a resolução dos problemas sociais. Estes, muitas vezes, negligenciados nas esferas pública e privada por instituições, empresas etc. Invariavelmente, os objetivos contemplam as urgências sociais de comunidades vulneráveis visando alcançar mudanças expressivas na estrutura social.

Em certa medida a classificação proposta por Chambon et al é também contemplada, e até aprofundada, na caracterização sugerida por Bignetti (2011). Segundo este autor, a Inovação Social, seus processos de gestão e seus campos de atuação, podem ser analisadas tomando por referência três pontos fundamentais, a saber, o indivíduo, as organizações e os movimentos sociais. Quanto ao primeiro, explica Bignetti:

No primeiro caso [cabe ilustrar] as inovações se voltariam para ações que promovessem mudanças duradouras no indivíduo, de modo a permitir a ele recuperar a capacidade de conduzir a sua própria vida. Em outras palavras, buscaria dotá-lo de empowerment necessário para que pudesse adquirir a capacidade de mudar seu destino (BIGNETTI, 2011, p. 4).

Percebe-se a importância dos sujeitos individualmente em ações fomentadoras, por exemplo, de soluções sociais que visem ampliar a autonomia individual e comunitária. No processo de empoderamento, a autonomia individual de beneficiados mas também de colaboradores, empreendedores etc, é construída ao longo de todas as etapas da prática inovadora. Assim, as transformações sociais acontecem respectivamente ao processo de participação e condução das ações inovadoras dos distintos atores sociais (de certo modo, todos são beneficiados pela dimensão pedagógica das práticas de inovação geradoras de autonomia individual e social). Bignetti (2011) salienta que um exemplo pode ser o empreendedorismo social quando expressa a potência de agir como catalisador das transformações sociais de grande impacto, que se estendem além da resolução de problemas sociais particulares.

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Quanto ao segundo, Bignetti (2011) explica que a organização é considerada como um arranjo cooperativo formal no qual os propósitos individuais se articulam aos propósitos coletivos. Percebe-se, aqui, a presença e protagonismo de empresas sociais, empresas privadas, instituições públicas, órgãos governamentais, parcerias público-privadas entre outras, no planejamento e consecução de ações sociais transformadoras. Em outros termos, os atores sociais (públicos, privados, público-privados, coletivos...) assumem o desafio de gerar alternativas aos grandes problemas sociais enfrentados pela sociedade.

Acrescenta Bignetti (2011) que os movimentos, como terceiro ponto definidor do espaço de ação das inovações sociais,

[...] possuem acepção ampla, incluindo tanto as relações sociais não institucionalizadas, ou relações fluidas não consolidadas (principalmente os movimentos sociais de nível local), como formações de redes formais ou informais de atores institucionalizadas (BIGNETTI, 2011, p. 9).

Para além dos preconceitos e de interpretações superficiais que negam a complexidade e as contribuições dos movimentos sociais nas democracias contemporâneas, o autor esclarece que se caracterizam, sobretudo, como movimentos coletivos responsáveis pelas mais diferentes manifestações dos interesses da sociedade. Embora não estejam imunes a equívocos e vicissitudes diversas, na esfera pública de um Estado democrático e de direito os movimentos sociais buscam em seus arranjos coletivos erigir e consolidar direitos, bem como reivindicar o cumprimento de deveres. Dagnino (2018), por sua vez, salienta que os movimentos sociais devem ser vetores na formação de agendas de pesquisa, estando próximos da população, com o intuito de se expressarem com maior clareza e força no processo decisório da formatação de políticas públicas coerentes às necessidades sociais.

Nos três âmbitos de atuação apresentados e na interação entre eles que permite a colaboração, a troca e a solidariedade entre todos os atores envolvidos no processo inovador, a Inovação Social emerge como espaço de saber e ação transformador e inclusivo, na medida que enfrenta problemas sociais e gera maiores níveis de emancipação individual e coletiva. O deslocamento operado pelas inovações sociais, na ordem dos saberes e também como experiência social inclusiva, é revelador de visões e ações críticas em relação ao modo como a ciência, a tecnologia, as instituições públicas e o âmbito do mercado têm negligenciado

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questões sociais essenciais da vida contemporânea. Como dito, conforme a literatura analisada a TS apresenta como traços definidores ser, ao mesmo tempo, crítica e propositiva. Percebe-se, que há conformidade entre IS e TS. De certo modo, as dimensões crítica e propositiva compõem os espectros tanto da Tecnologia Social quanto da Inovação Social. Para melhor caracterizar essa asserção, será apresentado a seguir a noção de Tecnologia Social.

Assim, a próxima seção apresenta a Tecnologia Social com ênfase na visão de Dagnino (2018) – membro da Rede de Tecnologia Social (RTS). Como salientado, é compartilhado entre os autores aqui apresentados que a TS tem um papel fundamental na definição das práticas de Inovação Social. Como também, que a TS é apresentada quanto uma alternativa para redefinição da tecnologia como ferramenta de inclusão social.

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2.4. TECNOLOGIA SOCIAL: TECNOLOGIA APROPRIADA (TA)

Para compreender os aspectos que envolvem o surgimento da Tecnologia Social (TS) é importante salientar que esta extrapola o conceito tradicional, designado como Tecnologia Convencional (TC), por isso é preciso levar em consideração o seu campo de atuação. Até porque, a TS compreende o desenvolvimento da sociedade na sua articulação com os processos de inclusão social. Para tanto, é fundamental apresentar o deslocamento, como experiência e teoria, efetuado pela TS em relação à ideia convencional de tecnologia.

De acordo com Dagnino (2009), a TS surge no Brasil com a participação de atores preocupados com a crescente exclusão social. Estes compartilham a percepção de que é necessária uma tecnologia capaz de dar respostas aos grandes problemas sociais de nossa época. Uma expressão viva do movimento gerado em torno dessa convicção, dentro e fora da Academia, é a Rede de Tecnologia Social (RTS) criada em 2003, estes compartilham a percepção de que é necessária uma tecnologia capaz de dar respostas aos grandes problemas sociais de nossa época (DAGNINO, 2004; DAGNINO, 2007; DA SILVA et al 2018). Esta iniciativa teve como inspiração inicial movimentos de resistência social como o efetivado por Mahatma Ghandi (1869-1948) e seus seguidores na Índia. Deriva dessas experiências, mas já revelando uma evolução em relação ao movimento indiano, a ideia de uma Tecnologia Intermediária4 – conforme revelada por Schumacher (1973). No entanto, a proposta de uma tecnologia voltada, sobretudo, a demandas dos que vivem em condição de maior vulnerabilidade social só alcança sua forma mais bem elaborada – como será visto adiante – na Tecnologia Apropriada (TA)5.

4 O conceito “Tecnologia Intermediária" foi introduzido, inicialmente, num relatório preparado para a Indian Planning Comission, em 1963 e apresentado num trabalho à Cambridge Conference on Rural Industrialization, em 1964. O conceito abrange métodos, processos, estratégias ou procedimentos de

baixo custo e fácil aplicação, eficazes, de pequena escala e facilmente replicáveis. Sempre mantendo, também, o foco na busca de soluções apropriadas aos diferentes contextos socioeconômicos, culturais e ambientais prevalentes nas comunidades pobres. E, finalmente, sempre privilegiaram o saber popular, as alternativas de soluções espontaneamente surgidas nas comunidades, reconhecidas como detentoras do direito à autodeterminação e à participação no processo de planejamento, execução, monitoramento e avaliação das ações voltadas ao seu próprio desenvolvimento.

5 De certo modo, o conceito de desenvolvimento de Gandhi incluía uma política científica e tecnológica explícita, que era essencial para sua implementação. A insistência de Gandhi na proteção dos artesanatos das aldeias não significava uma conservação estática das tecnologias tradicionais. Ao contrário, implicava o melhoramento das técnicas locais, a adaptação da tecnologia moderna ao meio ambiente e às condições da Índia, e o fomento da pesquisa científica e tecnológica, para identificar e resolver os problemas mais imediatos. Seu objetivo final era a transformação da sociedade hindu,

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A noção de TS vem se estruturando paulatinamente na América Latina, como ferramenta de pesquisa e de ação social. Levando em consideração a evolução do conceito, Dagnino dirá em 2009 que a Tecnologia Social pode ser definida como produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na relação com a comunidade e que expressem efetivas soluções de transformação social (DAGNINO, 2009) Já em 2014, revelando ampliação nos campos empírico e teórico, mas sem negar o que dissera anteriormente sobre a Tecnologia Social, o autor acrescenta:

[Tecnologia Social é:] O resultado da ação de um coletivo de produtores sobre um processo de trabalho que, em função de um contexto socioeconômico que engendra a propriedade coletiva dos meios de produção, e de um acordo social que legitima o associativismo, o qual enseja no ambiente produtivo um controle autogestionário e uma cooperação de tipo voluntário e participativo, é capaz de alterar este processo no sentido de reduzir o tempo necessário à fabricação de um dado produto e de fazer com que a produção resultante seja dividida de forma estabelecida pelo coletivo (DAGNINO, 2014, p. 96).

Em coerência com as caracterizações acima propostas, é possível inferir duas formas fundamentais de se ascender a TS. Primeira, mostrando que a Tecnologia Social difere da Tecnologia Convencional (TC) – esta última, fundamentada no modelo tradicional de ciência e sustentada frequentemente pelos propósitos das grandes corporações capitalistas– e, assim, dos valores e do modelo de inovação que ela representa (CRISP et al 2018; FERRY, 2015; LATUCHE, 2009). Ou seja, por ser orientada em grande medida pela lógica da concorrência e da maximização do lucro a TC se distanciaria dos preceitos orientadores da TS. Daí a necessidade da TS empreender a crítica revelando os processos excludentes presentes, na TC. Vê-se, portanto, que a TS surge como uma crítica à TC, pois diversamente desta última, os objetivos, valores e propósitos orientadores da TS são, por exemplo, gerar processos de inclusão, empoderamento e emancipação de indivíduos, grupos e populações menos favorecidos nos âmbitos econômico-social, político, educacional e jurídico (DAGNINO, 2008; DAGNINO, 2013; DAGNINO; DA SILVA, 2015; HENRIQUES, 2014).

De certo modo, uma das abordagens que corroboram com o posicionamento crítico da TS em relação a TC, é desenvolvida por Santos (2007) com base no que

através de um processo de crescimento orgânico, feito a partir de dentro, e não de uma imposição externa. Na doutrina social de Gandhi o conceito de tecnologia apropriada está claramente definido, apesar de ele nunca ter usado esse termo.

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ele mesmo denomina como paradigmas dominante e emergente. Segundo Santos (2007) existe uma crise do paradigma dominante, definido como o modelo de racionalidade que preside à ciência moderna e a tecnologia convencional, cujo o seu esgotamento pode ser constatado tanto pela impossibilidade de resolução das questões mais emergentes do mundo atual, quanto por contribuir com a geração e o agravamento de problemas sociais, ecológico-ambientais e etc. Por causa dos limites apresentados pelos modelos de ciência e tecnologia característicos do paradigma tradicional, surge o paradigma emergente. Definido por sinais emitidos no decorrer do desenvolvimento das Ciências Sociais no século XX e no limiar do novo milênio, como resistência aos modelos científicos monopolistas, aliado ao propósito ético-político de gerar reflexões e soluções em relação aos problemas sociais mais candentes de nossa época, marcam de modo indelével o advento de um paradigma que associa a geração de saber científico-tecnológico com a resolução de problemas dos seres humanos menos afortunados.. De certo modo, a Tecnologia Social pode ser vista como um resultado no movimento gerado no paradigma emergente. Santos (2007) marca a diferença entre os dois paradigmas, Santos exorta a propagação do modelo emergente:

Descrevo a crise do paradigma dominante e identifico os traços principais que designo como paradigma emergente, em que atribuo as ciências sociais anti-positivistas uma nova centralidade, e defendo que a ciência, em geral, depois de ter rompido com o senso comum, deve transformar-se num novo e mais esclarecido senso comum (SANTOS, 2007, p. 09).

Em sentido conceitual, a reflexão de Santos (2007, 2011; SANTOS et al 2018) sobre os dois paradigmas é desenvolvida com base num mapeamento teórico que envolve constructos modernos e contemporâneos – propostos até as primeiras décadas do século XX. Vale indicar que, a classificação dos paradigmas proposta pelo sociólogo português leva em consideração obras de pensadores como: Adam Smith, David Ricardo, Antoine Lavoisier, Charles Darwin, Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber, Vilfredo Pareto, Alexander von Humboldt, Max Planck, Henri Poincaré, Albert Einstein, Walter Benjamin e Theodor Adorno. Com base na sua trajetória investigativa é possível inferir que, na passagem do mundo moderno ao contemporâneo, o otimismo cientificista e o utilitarismo produtivista contidos nas teorias de parte dos pensadores acima mencionados são postos em xeque pelo

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paradigma emergente, por sua visão democrática e emancipatória do conhecimento e da vida (SANTOS, 2007; 2009; 2011; 2018).

O paradigma dominante se constitui a partir da revolução científica moderna e se baseia no domínio das ciências naturais. Nesse modelo, o rigor científico se afere pela precisão das medições, ou seja, o que não pode ser quantificado é cientificamente irrelevante. Logo, conhecer significa dividir e classificar para depois determinar relações sistêmicas entre o que se separou. Este modo de conceber o conhecimento, próprio do paradigma dominante, vincula-se a padrões instrumentais, positivistas, funcionalistas e economicistas de ciência e tecnologia, reconhecido menos pela atitude crítica de compreender e interpretar o “real”, gerando níveis de sustentabilidade natural e social, e mais pela intenção de dominar, transformar e explorar o mundo natural e o humano (SANTOS, 2007). De certo modo, esta análise do paradigma tradicional, que o apresenta como modelo hegemônico de ciência e tecnologia, pode ser aproximada das aproximada das reflexões críticas sobre a Tecnologia Convencional propostas pelos pesquisadores que discutem a Tecnologia Social. (DAGNINO, 2008; DAGNINO, 2013; DA SILVA et al 2018; HENRIQUES, 2014; MELLO, 2018). Cabe enfatizar, tanto no paradigma dominante quanto na tecnologia convencional se sobressai o domínio das ciências naturais (de suas metodologias e objetos) em relação aos demais saberes, seus procedimentos investigativos e alvos de estudo. Entende-se que há convergências entre paradigma dominante e a tecnologia convencional, até porque, ambos hierarquizam os saberes e engessam, em termos epistemológicos, diversas experiências humanas.

De acordo com Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018), a TC tem como uma de suas metas principais maximizar a produtividade visando o maior desempenho e lucratividade. No âmbito do trabalho, por exemplo, a lógica que subsidia a tecnologia está voltada prioritariamente a efetivação da produtividade, o que permite que as empresas priorizem cada vez mais os investimentos em inovações tecnológicas em busca de uma escala de produção e lucro crescentes. No que tange aos propósitos geradores de conhecimento e artefatos tecnológicos, a lógica utilitária é orientadora de todo o processo na medida em que visa gerar condições de excelência para maximização da produtividade, desempenho e lucratividade.

A TC tem como uma de suas metas precípuas maximizar a produtividade visando o maior desempenho e lucratividade. No âmbito do trabalho, por exemplo, a lógica que subsidia a tecnologia está voltada prioritariamente a efetivação da

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produtividade, o que permite que as empresas priorizem cada vez mais os investimentos em inovações tecnológicas em busca de uma escala de produção e lucro crescentes. (DAGNINO, 2007; DAGNINO, 2014; DA SILVA et al 2018) No que tange aos propósitos geradores de conhecimento e artefatos tecnológicos, a lógica produtivista é orientadora de todo o processo, na medida em que visa gerar condições de excelência para maximização da produtividade, desempenho e lucratividade (DOGSON; GANN, 2014).

Diferentemente, o paradigma emergente opera deslocamentos importantes em relação aos modelos tradicionais de ciência e tecnologia. De acordo com Santos (2007; 2009; 2011; 2018), uma revolução científica efetiva é, ao mesmo tempo, um processo crítico e um campo de experiências sociais transformadoras. Trata-se, pois, da emergência (como saber e experiência) de um paradigma comprometido como a multiplicação do padrão de uma “vida decente”. Para tanto, propõe reflexões, categorias investigativas, constructos teóricos que têm como desafios gerar o inaudito como experiência científica e social – leia-se: migrar para outros lugares cognitivos, estabelecer novas interfaces de modo transdisciplinar, etc (PAES; DELLAGNELO, 2012a; PAES; DELLAGNELO, 2012b; MEDEIROS, 2018).

Percebe-se, assim, que no modelo emergente o conhecimento pode avançar numa relação direta com a identificação das necessidades sociais mais prementes. De acordo com Santos (2007; 2009; 2011; 2018) a ciência do paradigma emergente opera deslocamentos no campo de análise propondo reflexões, categorias investigativas, constructos teóricos, que têm como desafios gerar o inaudito como experiência científica e social – leia-se: migrar para outros lugares cognitivos, estabelecer novas interfaces de modo transdisciplinar etc.

Como dito, em certa medida o paradigma emergente pode ser aproximado da reflexão proposta pelos autores que discutem a Tecnologia Social. Até porque, ambos articulam de modo crítico e contextualizado as dimensões geral e particular do conhecimento pondo em relevo o seu compromisso com a transformação social. Nessa perspectiva, segundo Dagnino (2009) a TS estaria interligada à realidade concreta das sociedades, de modo a poder pensar criticamente os contextos nos quais os saberes são gerados e a que compromissos estão vinculados através de um conjunto de características, como: 1) ser adaptada a pequenos produtores e consumidores de baixo poder econômico; 2) não promover o tipo de controle capitalista que visa segmentar, hierarquizar e dominar os trabalhadores; 3) ser

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