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Após a coleta de dados, como foi descrito anteriormente, faz-se necessário uma análise mais rigorosa e que avance, de modo a relacioná-los com os construtos apresentados no referencial teórico e, a partir disso, responder à pergunta de pesquisa, objetivo geral e específicos deste estudo.

Deste modo, o estudo apresenta está análise em dois momentos. Primeiro através da apreciação crítica em relação aos construtos de Tecnologia Social, Inovação Social e a metodologia Startup Enxuta, para que seja entendido quais suas diferenças, nuances e especificidades. E no segundo momento, de forma propositiva, são interpretados os dados obtidos nas pesquisas, para que possam ser evidenciados os diálogos com a literatura apresentada.

Para a apreciação crítica, é tomada como ponto de partida a noção de Tecnologia Social tal qual apresentada anteriormente. Assim, em congruência com Dagnino (2009; 2013; 2014, 2018) a TS pode ser concebida como produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis que são desenvolvidas na interação com a comunidade, os grupos sociais, representando efetivas soluções de impacto e transformação social. Além disso, como saber e ação a TS pode ser diretamente associada ao campo de atuação da Inovação Social (Bignetti, 2011). Até porque, as duas projetam visões críticas do conhecimento e buscam alcançar soluções sociais adequadas a transformações inclusivas e emancipatórias nos níveis individual e coletivo. Considerando como referência estas implicações, analisa-se a seguir a aderência (ou não) da metodologia Startup Enxuta a Tecnologia Social.

O primeiro aspecto da metodologia aqui abordado diz respeito a sua origem. A metodologia Startup Enxuta surge a partir de modelos tradicionais de administração e suas diversas ferramentas focadas no desenvolvimento de produtos, processos e na experiência do cliente. Explica Reis (2012) que o modelo representa uma nova abordagem que gera inovação contínua focada no cliente. Aliás, como dito ele surge do sistema Toyota de Produção. É fácil perceber que os diferentes momentos que compõem a técnica Startup Enxuta convergem para uma capacitação que instrumentaliza o empreendedor para melhor desenvolver um negócio de sucesso. Contudo, ao analisarmos à luz dos propósitos da Tecnologia Social percebe-se diferenças significativas entre uma tecnologia e outra.

Sem negar a sustentabilidade econômica e a participação na esfera do mercado, as ações da TS não devem ser reduzidas a procedimentos voltados exclusivamente a geração de qualidade de produtos atraentes ao mercado e a satisfação de clientes. Não se trata, portanto, na TS de atender necessidades de consumo, mas de compreender as particularidades dos diferentes atores sociais que dela participam, para que não se limitem apenas a condição de clientes.

Embora o SGB afirme (com visto anteriormente) que o modelo Startup Enxuta visa gerar condições para a soluções de problemas sociais, a lógica que subsidia a metodologia está impregnada de valores e crenças oriundos dos modelos mais tradicionais da administração que, seguramente, são voltados a performance de produtos e serviços estritamente orientados para o mercado consumidor. Notadamente, as ações da TS – os saberes e técnicas desenvolvidos, procedimentos diversos, artefatos criados etc – estão mais associados as demandas e carências da comunidade. A finalidade básica de suas práticas não se esgota no âmbito do mercado – não é predominantemente instrumental e utilitarista – haja vista o compromisso social que a define.

Outro aspecto tange a centralidade do empreendedor. Tanto a Startup Enxuta quanto os procedimentos característicos da Tecnologia Social e da Inovação Social não negam a figura do empreendedor como um dos principais catalizadores de novas soluções para problemas e demandas da sociedade. Os empreendedores são, uma significativa “matéria prima” na geração de soluções diversas. Com frequência, deles vem a ideia e a capacidade de pôr em prática o pensado/idealizado. Cabe ilustrar que, nas inovações sociais o ato de empreender é claramente identificado a figura do empreendedor social. De certo modo, sua criatividade, ousadia, expertise e protagonismo podem ser aproximadas da visão de empreendedor defendida por Ries (2012). No entanto, na Inovação Social e/ou numa TS que visa inovar socialmente, o ato de empreender pode atravessar o âmbito do mercado, mas sem ser por ele definido/determinado. Ao contrário do modelo tradicional de empreendedorismo, corroborado nas teses de Ries, o empreendedorismo social articulado a TS almeja soluções sociais duradouras que possam efetivamente causar transformações sociais de impacto.

Em conformidade com o que indicaram Dagnino (concepção de TS) e Bignetti (as esferas da Inovação Social: indivíduo, organização e movimentos), como também Santos (crítica ao paradigma dominante da racionalidade científica), o

deslocamento operado por este modo de empreender é, ao mesmo tempo, uma crítica ao pensamento instrumental contida na visão mercadológica do empreendedorismo (que reduz os diversos sujeitos a condição predeterminada de “produtores” ou de “consumidores”) e uma ação propositiva no sentido de indicar/concretizar alternativas aos problemas sociais, que passa pela esfera do mercado mas que não é por ela determinada. Por exemplo, o processo de administrar uma empresa social necessita não somente de um modelo de gestão focado na sustentabilidade financeira e na satisfação do cliente, mas também de estratégias que envolvam todas as partes interessadas em prol de um objetivo coletivo, social, que beneficie a comunidade envolvida gerando níveis de emancipação.

Outro aspecto identificado da metodologia Startup Enxuta é o do Clico de Feedback Construir-Medir-Aprender. Em síntese, (como visto) este consiste em transformar ideias em produtos e medir a reação dos clientes. É onde as ideias dos empreendedores se transformam no mínimo produto viável (MVP) que pode também ser aplicado para os serviços. Nesse momento a ideia sai do campo pensado/idealizado e é executada através do Ciclo de Feedback. Sua eficácia é verificada e aperfeiçoada com base na experiência de uso dos futuros clientes, visando compreender se o produto ou serviço supre suas necessidades. Após testes, as percepções são avaliadas e o produto sofre as alterações necessárias para, em seguida, reiniciar o Ciclo.

Percebe-se que os aspectos da metodologia apresentados até aqui não mostram distorções em relação aos processos constitutivos das Tecnologias Convencionais. O método tradicional de produção e desenvolvimento de produtos e serviços emerge no paradigma convencional de ciência e tecnologia, como sugerem Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018) e Santos (2007; 2009; 2011; 2018). O Ciclo de Feedback, por exemplo, é coerente com o processo instrumental e produtivista da TC. Ao priorizar o aperfeiçoamento técnico do produto para a usabilidade do cliente, mostra-se pouco sensível a interpretações críticas e a compromissos comunitários e inclusivos. Não há vínculo que associe a proposta do Ciclo aos valores sociais que orientam a TS. Para Dagnino (em concordância com o que propuseram Bignetti e Santos), as soluções sociais nascem em contextos sociais (não raro específicos), contam com a participação de diversos atores e implicam compromissos com mudanças que devem emergir como alternativas viáveis aos

problemas mais candentes da sociedade. Na Startup Enxuta, diferentemente, além do pouco vínculo social, a melhor execução do produto ou serviço fica restrita a esferas individuais (o formador/mentor, o indivíduo/empreendedor, o indivíduo/consumidor...). Não há, portanto, uma construção coletiva, orgânica e participativa que nasça da comunidade tendo como finalidade o bem comunitário.

Outro aspecto a ser destacado é o fato do Social Good Brasil utilizar somente quatro meses para o desenvolvimento dos negócios sociais. Como apresentado no quadro 4 que aborda os encontros do SGB, este período é projetado para qualificar os participantes, colocar em prática as ideias e lapidar o modelo de negócio dos empreendedores – tudo acontece dentro dos quatro meses em encontros presenciais e também virtuais (a distância). Em certa medida, o tempo definido pelo SGB é insuficiente para que um negócio social tenha maturidade e possa ser viabilizado como uma solução efetiva capaz de causar uma transformação social, haja vista a complexidade dos fenômenos e problemas sociais. Cabe indicar que tanto Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018) como Bignetti (2011) apontam que as transformações sociais demandam bastante tempo para serem absorvidas pela comunidade. Além disso, o curto espaço de tempo pode fragilizar, a longo prazo, os resultados: os projetos, produtos e serviços idealizados pelos empreendedores sociais.

Outro aspecto identificado é a contabilidade para a inovação. Na Startup Enxuta, a contabilidade trata basicamente da definição de marcos e da priorização do trabalho visando melhorar o resultado do negócio. De modo geral, a contabilidade visa a sustentabilidade do negócio. Sabe-se que a sustentabilidade econômica é um preceito válido tanto para o negócio social, tal qual definido na Startup Enxuta, quanto para projetos e ações diversas da Inovação Social e Tecnologia Social duráveis. No limite, é um princípio fundamental para manter investimentos e inovação aplicada a diversas soluções duráveis, tanto comerciais quanto sociais.

Com a contabilidade, o SGB Lab aproxima os empreendedores sociais dos mentores (utilizando sistemas de mentoria) que têm a incumbência de auxilia-los na melhor forma de manter a sustentabilidade de seus negócios. É importante salientar que, de modo distinto, para a TS e a IS a sustentabilidade financeira é mais uma forma de sustentabilidade, não a única. E mais, na TS a sustentabilidade econômica

se ressignifica ante as urgências presentes nas sustentabilidades ambiental e político-social.

Em síntese, a Tecnologia Social (e seus aspectos inovadores) opera um deslocamento significativo em relação a TC da qual o modelo Startup Enxuta é oriundo. Essa diferença entre modelo dominante de racionalidade científica e modelo emergente, está presente na pouca aderência da metodologia Startup Enxuta aos preceitos da TS. O fato da metodologia Startup Enxuta ser originária nas ciências da administração clássica e, assim, focada no desempenho dos indivíduos, produtos e serviços, revela que ainda é reprodutora de uma lógica instrumental e produtivista. Aliás, é o que mostram os aspectos abordados da metodologia. Diferentemente, como crítica e ação social, a Tecnologia Social procura inovar na medida em que reivindica a condição de “estranhamento” em relação aos modelos tradicionais de tecnologia e metodologia propondo, com isso, práticas comprometidas com mudanças sociais inclusivas e emancipatórias que contemplem a participação ativa dos diferentes atores sociais.

Até este momento, os aspetos abordados dão conta do saber e estudos relacionados a Tecnologia Social, Inovação Social e a Startup Enxuta, revelando, como visto, maiores limites do que potencialidades de aderência do modelo utilizado no SGB em relação a Tecnologia Social em seu sentido crítico e conceitual. Logo, para compor a análise propositiva (da prática) é apresentado a interpretação das entrevistas, realizadas com os gestores e empreendedores sociais, a partir dos doze aspectos sistêmicos do processo emancipatório da TS.

Para a análise propositiva, é tomado como ponto de partida os doze aspectos sistêmicos utilizados pelo Instituto de Tecnologia Social para a avaliação das ações de Tecnologia Social. Assim, em consonância com Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018) e (Bignetti, 2011), o ITS busca por meio da Ciência e Tecnologia soluções às necessidades e demandas da sociedade, de modo a torna-la mais justa e menos desigual, reconhecendo a TS como o conjunto de técnicas, metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para a inclusão social e melhorias das condições de vida da população (ITS, 2007). A saber, o instituto revisita as reflexões de Ghandi, os estudos de Dagnino e Santos, o que evidencia a clara vinculação e eficácia dos aspectos sistêmicos para as seguintes análises propositivas.

A partir dos resultados obtidos com a coleta de dados, observou-se o primeiro aspecto que diz respeito ao compromisso com a transformação social, quanto a transformar o mundo no sentido de torna-lo mais justo e menos desigual. Segundo o ITS (2007), há um papel/motivação a ser exercido por cada ator social na transformação de realidades que revelam níveis significativos de injustiças e desigualdades sociais. Neste sentido, o entrevistado G1 aborda o principal motivador de estar inserido no processo do Social Good Brasil:

Eu trabalho com projetos sociais, empreendedorismo, empreendedorismo social e empreendedorismo de baixa renda, no geral empreendedorismo como forma de geração de renda. Em 2015 vim morar em Florianópolis com minha família e acabei encontrando no SGB. Logo, percebi que era o lugar perfeito para trabalhar juntamente com uma coisa que já vinha fazendo. Eu sempre atuei na área da Inovação Social e acredito nos negócios sociais como uma forma de transformação social e de transformações no mundo (G1).

Vale ressaltar, que o aspecto transformador citado neste relato está relacionado a motivação pessoal, onde a inquietação e/ou não aceitação de uma realidade desigual move o indivíduo a encontrar maneiras de potencializar suas habilidades em busca do bem coletivo. Neste mesmo sentido, o G2 também revela traços característicos ao percurso pessoal ao longo da vida:

Estar envolvida no SGB tem a ver com a minha formação profissional. Enquanto professora da área das ciências sociais a 18 anos, eu sempre fui atenta ao que têm de tendência, o que está saindo e o que que tem de novo nas ciências sociais. E em 2012, eu tinha um aluno que estava fazendo estágio no SGB e chegou na sala de aula sobre as atividades deles e foi assim que comecei a participar. Logo comecei a incorporar muita coisa da Tecnologia Social em tudo que eu faço, porque acredito que a Inovação Social e Tecnologia Social podem ajudar nos cenários de incertezas sociais que surgem no nosso futuro (G2).

De certa maneira, os objetivos pessoais têm total influência na decisão de colaborar, fazer parte, de aprender e ensinar sob a ótica das Tecnologias Sociais.

Em outras palavras, o processo de concepção coletiva coordena elementos heterogêneos – atores sociais (movidos por valores e interesses, ao mesmo tempo particularidades) com características e competências diferentes que tendem a uma estabilização conjunta nos quais os elementos tecnológicos e sociais estão indissociavelmente misturados (DAGNINO, 2014). Desse modo, o entrevistado G3 complementa:

As motivações que encontrei foi poder usar meu potencial e meu talento em algo que eu acredito ser capaz de transformar positivamente a sociedade. Também pelo fato de ser uma organização de Florianópolis e atuar tanto localmente como a nível nacional, enfim vejo muito propósito nas atividades do SGB e percebo que nessa minha função eu consigo dedicar as minhas energias em alguma coisa muito significativa (G3).

Percebe-se no relato dos gestores o senso participativo e a busca da realização pessoal. Conforme apontado pelo Instituto de Tecnologia Social (2007), no horizonte de pensamento e ações da TS, a realização do ser humano como um todo, aumenta sua autoestima e sua felicidade, através da colaboração reciproca nas relações com as pessoas. Este elemento pode ser captado, de acordo com o relato do G4:

Eu estava buscando exatamente isso, me envolver no processo de formação e capacitação. Eu tinha acabado de sair de uma experiência de empreender que queria continuar a me envolver com os empreendedores e empreendedores sociais. O SGB é o primeiro passo para isso acontecer (G4).

É aparente, nos relatos acima identificar os elementos que impulsionam

os gestores a aderirem aos preceitos e ações do SGB, muitos buscam potencializar seus conhecimentos e colaborar com o desenvolvimento dos negócios que possam vir a auxiliar nas demandas sociais mais emergentes da atualidade. Todavia, vale marcar que, os gestores, mesmo possuindo muitas vezes

essas mesmas características pessoais, partem de um arranjo organizacional já estabelecido, geralmente, condicionam suas ações às restrições funcionais a eles impostas (BIGNETTI 2011). Nesse sentido, é indispensável compreender a concepção dos empreendedores sociais, quanto ao compromisso com a transformação social.

Distintivamente, o empreendedor apresenta peculiaridades quando busca o SGB como incentivador de seus projetos, que podem ser descobertos pelo relato do E3:

Na época eu percebi que poderia ser uma oportunidade de troca, com pessoas que estavam empreendendo também no ambiente de impacto social. O SGB é uma autoridade desse tema aqui no Brasil e eu queria ter oportunidade. Aqui onde moro é bem difícil de ter esse ecossistema social, no período que participei, então eu vi ali no SGB uma oportunidade de estar em contato com esse ecossistema de forma imersiva e fazer com que meu negócio pudesse acontecer (E3).

Neste relato é explicito a motivação do E3 com o processo do SGB para atingir níveis mais elevados de maturidade do seu negócio/projeto social. O que não se distância do que diz o E2:

Eu resolvi participar do SGB, porque acompanhei a trajetória de uma amiga até ela ganhar e isso me incentivou a participar. Eu tinha uma ideia, mais ou menos, de um pronto atendimento, porém eu não sabia muito bem como fazer. Aí eu fiz um vídeo para o SGB e acabei entrando, é uma jornada que eu já vinha acompanhando com outras mulheres que estavam engajados nas suas causas e eu vi a oportunidade de acelerar a minha (E2).

A expectativa de se alcançar o sucesso das ideais, juntamente com a credibilidade institucional percebida do SGB quanto ao apoio de negócios sociais, sustentam um discurso de esperança, prosperidade e sucesso na mentalidade dos empreendedores. Por sua vez, Dagnino (2014) salienta que as incubadoras ou instituições que apoiam iniciativas sociais, não são necessariamente empresas, e sim profissionais, professores e estudantes, também candidatos a se tornarem empresários através desse arranjo institucional mantido pelas agências de fomento a Ciência e Tecnologia. Isto é, tanto os empreendedores quanto os gestores, também aspiram a colocação no (difícil) mundo dos negócios. Este desejo de empreender também é explicitado pelo E1:

Estava em um viés de aprender mais sobre Startup. Já tinha participado de vários projetos de empreendedorismo e o SGB me pareceu uma parada diferente e assim fui em busca de participar. Depois, pude compreender como era possível escalar meu projeto lá dentro e poder desenvolver o meu “eu” empreendedor, muito interessante pra mim (E1).

Pode-se afirmar, nas falas dos gestores e empreendedores, que a

motivação em participar do SGB é um misto composto de interesses pessoais e coletivos, como também de natureza competitiva e mercadológica. A valer,

empreendedores e gestores são atores de natureza distinta, os empreendedores são entendidos como indivíduos visionários e resilientes que, a partir de suas ideias/ideais, podem desenvolver por iniciativa própria e por esforço inicial projetos sociais relevantes. Os gestores, mesmo possuindo muitas vezes essas mesmas características pessoais, partem de um arranjo organizacional já estabelecido e, em geral, condicionam suas ações às restrições estruturais e instrumentalista a eles impostas (BIGNETTI, 2014). Logo, mesmo que a motivação de ambos ainda aponte para a o compromisso com a transformação social é possível flagrar fragilidades

neste caminho, sobretudo em relação a concepção da sustentabilidade do negócio (que, indiscutivelmente, se resume à dimensão econômica). Ou seja, o conjunto de indicadores utilizados para verificar o sucesso dos projetos apoiados influenciam as ações, o planejamento, a capitação e o desenvolvimento dos processos práticos das instituições, implicando como esses empreendedores e gestores, procedem com os negócios sociais (DAGNINO, 2018).

O segundo aspecto a ser observado nos relatos é relacionado a criação de um espaço de descobertas de demandas e necessidades sociais. Conforme pontuado pelo Instituto de Tecnologia Social (2007), o ponto de partida de qualquer ação em TS são as necessidades e demandas da população. Olhos e ouvidos bem atentos para as distintas realidades e diferentes maneiras de vivenciar o mundo ao seu redor, proporcionam um “olhar de quem vê”, ou seja, que investiga a realidade da maneira mais fiel possível. No caso do SGB, as demandas sociais são trazidas pelos empreendedores que passam por todo o processo (visto anteriormente) do SGB. Esta ação é resultado de quem sente na pele as necessidades sociais, logo não é preciso de muito esforço para enxergar os problemas mais graves que fazem parte da sua vida (ITS, 2007). Como destacado por E3:

Quem é como eu, mulher negra da periferia, sente na pele a necessidade de educar o outro a olhar o mundo com o nosso olhar. A gente sabe, pelo que vivemos, como as oportunidades são limitados e com diversos obstáculos sociais impostos para nossa classe (E3).

Este papel de mudança da realidade social é projetado, totalmente, através do produto/serviço que o empreendedor busca desenvolver no SGB. É uma responsabilidade significativa, para que, apenas, este artefato consiga atingir níveis consideráveis de mudança social. Até porque, as questões sociais que são discutidas não são nada simples, como pode-se testemunhar no relato do E2:

É muito fácil cobrar de uma outra mãe que ela entenda as necessidades da minha filha, que minha filha pode brincar, se divertir e interagir com outras crianças. Mas é diferente quando você está no lado das mães que passam por essas incertezas, precisando se adequar e entender o que precisa ser feito para poder fazer com que a dinâmica dessa criança flua naturalmente (E2).

Este papel de ouvir as necessidades é feito pelos próprios empreendedores. Em certa medida, eles já carregam essas experiências de forma intrínseca e vem a compartilhar mais detalhes dentro das atividades desenvolvidas no SGB. Porém,

saber ouvir o que cada um tem a dizer é fundamental para se compor uma visão