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Para compreender os aspectos que envolvem o surgimento da Tecnologia Social (TS) é importante salientar que esta extrapola o conceito tradicional, designado como Tecnologia Convencional (TC), por isso é preciso levar em consideração o seu campo de atuação. Até porque, a TS compreende o desenvolvimento da sociedade na sua articulação com os processos de inclusão social. Para tanto, é fundamental apresentar o deslocamento, como experiência e teoria, efetuado pela TS em relação à ideia convencional de tecnologia.

De acordo com Dagnino (2009), a TS surge no Brasil com a participação de atores preocupados com a crescente exclusão social. Estes compartilham a percepção de que é necessária uma tecnologia capaz de dar respostas aos grandes problemas sociais de nossa época. Uma expressão viva do movimento gerado em torno dessa convicção, dentro e fora da Academia, é a Rede de Tecnologia Social (RTS) criada em 2003, estes compartilham a percepção de que é necessária uma tecnologia capaz de dar respostas aos grandes problemas sociais de nossa época (DAGNINO, 2004; DAGNINO, 2007; DA SILVA et al 2018). Esta iniciativa teve como inspiração inicial movimentos de resistência social como o efetivado por Mahatma Ghandi (1869-1948) e seus seguidores na Índia. Deriva dessas experiências, mas já revelando uma evolução em relação ao movimento indiano, a ideia de uma Tecnologia Intermediária4 – conforme revelada por Schumacher (1973). No entanto, a proposta de uma tecnologia voltada, sobretudo, a demandas dos que vivem em condição de maior vulnerabilidade social só alcança sua forma mais bem elaborada – como será visto adiante – na Tecnologia Apropriada (TA)5.

4 O conceito “Tecnologia Intermediária" foi introduzido, inicialmente, num relatório preparado para a Indian Planning Comission, em 1963 e apresentado num trabalho à Cambridge Conference on Rural Industrialization, em 1964. O conceito abrange métodos, processos, estratégias ou procedimentos de

baixo custo e fácil aplicação, eficazes, de pequena escala e facilmente replicáveis. Sempre mantendo, também, o foco na busca de soluções apropriadas aos diferentes contextos socioeconômicos, culturais e ambientais prevalentes nas comunidades pobres. E, finalmente, sempre privilegiaram o saber popular, as alternativas de soluções espontaneamente surgidas nas comunidades, reconhecidas como detentoras do direito à autodeterminação e à participação no processo de planejamento, execução, monitoramento e avaliação das ações voltadas ao seu próprio desenvolvimento.

5 De certo modo, o conceito de desenvolvimento de Gandhi incluía uma política científica e tecnológica explícita, que era essencial para sua implementação. A insistência de Gandhi na proteção dos artesanatos das aldeias não significava uma conservação estática das tecnologias tradicionais. Ao contrário, implicava o melhoramento das técnicas locais, a adaptação da tecnologia moderna ao meio ambiente e às condições da Índia, e o fomento da pesquisa científica e tecnológica, para identificar e resolver os problemas mais imediatos. Seu objetivo final era a transformação da sociedade hindu,

A noção de TS vem se estruturando paulatinamente na América Latina, como ferramenta de pesquisa e de ação social. Levando em consideração a evolução do conceito, Dagnino dirá em 2009 que a Tecnologia Social pode ser definida como produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na relação com a comunidade e que expressem efetivas soluções de transformação social (DAGNINO, 2009) Já em 2014, revelando ampliação nos campos empírico e teórico, mas sem negar o que dissera anteriormente sobre a Tecnologia Social, o autor acrescenta:

[Tecnologia Social é:] O resultado da ação de um coletivo de produtores sobre um processo de trabalho que, em função de um contexto socioeconômico que engendra a propriedade coletiva dos meios de produção, e de um acordo social que legitima o associativismo, o qual enseja no ambiente produtivo um controle autogestionário e uma cooperação de tipo voluntário e participativo, é capaz de alterar este processo no sentido de reduzir o tempo necessário à fabricação de um dado produto e de fazer com que a produção resultante seja dividida de forma estabelecida pelo coletivo (DAGNINO, 2014, p. 96).

Em coerência com as caracterizações acima propostas, é possível inferir duas formas fundamentais de se ascender a TS. Primeira, mostrando que a Tecnologia Social difere da Tecnologia Convencional (TC) – esta última, fundamentada no modelo tradicional de ciência e sustentada frequentemente pelos propósitos das grandes corporações capitalistas– e, assim, dos valores e do modelo de inovação que ela representa (CRISP et al 2018; FERRY, 2015; LATUCHE, 2009). Ou seja, por ser orientada em grande medida pela lógica da concorrência e da maximização do lucro a TC se distanciaria dos preceitos orientadores da TS. Daí a necessidade da TS empreender a crítica revelando os processos excludentes presentes, na TC. Vê- se, portanto, que a TS surge como uma crítica à TC, pois diversamente desta última, os objetivos, valores e propósitos orientadores da TS são, por exemplo, gerar processos de inclusão, empoderamento e emancipação de indivíduos, grupos e populações menos favorecidos nos âmbitos econômico-social, político, educacional e jurídico (DAGNINO, 2008; DAGNINO, 2013; DAGNINO; DA SILVA, 2015; HENRIQUES, 2014).

De certo modo, uma das abordagens que corroboram com o posicionamento crítico da TS em relação a TC, é desenvolvida por Santos (2007) com base no que

através de um processo de crescimento orgânico, feito a partir de dentro, e não de uma imposição externa. Na doutrina social de Gandhi o conceito de tecnologia apropriada está claramente definido, apesar de ele nunca ter usado esse termo.

ele mesmo denomina como paradigmas dominante e emergente. Segundo Santos (2007) existe uma crise do paradigma dominante, definido como o modelo de racionalidade que preside à ciência moderna e a tecnologia convencional, cujo o seu esgotamento pode ser constatado tanto pela impossibilidade de resolução das questões mais emergentes do mundo atual, quanto por contribuir com a geração e o agravamento de problemas sociais, ecológico-ambientais e etc. Por causa dos limites apresentados pelos modelos de ciência e tecnologia característicos do paradigma tradicional, surge o paradigma emergente. Definido por sinais emitidos no decorrer do desenvolvimento das Ciências Sociais no século XX e no limiar do novo milênio, como resistência aos modelos científicos monopolistas, aliado ao propósito ético-político de gerar reflexões e soluções em relação aos problemas sociais mais candentes de nossa época, marcam de modo indelével o advento de um paradigma que associa a geração de saber científico-tecnológico com a resolução de problemas dos seres humanos menos afortunados.. De certo modo, a Tecnologia Social pode ser vista como um resultado no movimento gerado no paradigma emergente. Santos (2007) marca a diferença entre os dois paradigmas, Santos exorta a propagação do modelo emergente:

Descrevo a crise do paradigma dominante e identifico os traços principais que designo como paradigma emergente, em que atribuo as ciências sociais anti-positivistas uma nova centralidade, e defendo que a ciência, em geral, depois de ter rompido com o senso comum, deve transformar-se num novo e mais esclarecido senso comum (SANTOS, 2007, p. 09).

Em sentido conceitual, a reflexão de Santos (2007, 2011; SANTOS et al 2018) sobre os dois paradigmas é desenvolvida com base num mapeamento teórico que envolve constructos modernos e contemporâneos – propostos até as primeiras décadas do século XX. Vale indicar que, a classificação dos paradigmas proposta pelo sociólogo português leva em consideração obras de pensadores como: Adam Smith, David Ricardo, Antoine Lavoisier, Charles Darwin, Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber, Vilfredo Pareto, Alexander von Humboldt, Max Planck, Henri Poincaré, Albert Einstein, Walter Benjamin e Theodor Adorno. Com base na sua trajetória investigativa é possível inferir que, na passagem do mundo moderno ao contemporâneo, o otimismo cientificista e o utilitarismo produtivista contidos nas teorias de parte dos pensadores acima mencionados são postos em xeque pelo

paradigma emergente, por sua visão democrática e emancipatória do conhecimento e da vida (SANTOS, 2007; 2009; 2011; 2018).

O paradigma dominante se constitui a partir da revolução científica moderna e se baseia no domínio das ciências naturais. Nesse modelo, o rigor científico se afere pela precisão das medições, ou seja, o que não pode ser quantificado é cientificamente irrelevante. Logo, conhecer significa dividir e classificar para depois determinar relações sistêmicas entre o que se separou. Este modo de conceber o conhecimento, próprio do paradigma dominante, vincula-se a padrões instrumentais, positivistas, funcionalistas e economicistas de ciência e tecnologia, reconhecido menos pela atitude crítica de compreender e interpretar o “real”, gerando níveis de sustentabilidade natural e social, e mais pela intenção de dominar, transformar e explorar o mundo natural e o humano (SANTOS, 2007). De certo modo, esta análise do paradigma tradicional, que o apresenta como modelo hegemônico de ciência e tecnologia, pode ser aproximada das aproximada das reflexões críticas sobre a Tecnologia Convencional propostas pelos pesquisadores que discutem a Tecnologia Social. (DAGNINO, 2008; DAGNINO, 2013; DA SILVA et al 2018; HENRIQUES, 2014; MELLO, 2018). Cabe enfatizar, tanto no paradigma dominante quanto na tecnologia convencional se sobressai o domínio das ciências naturais (de suas metodologias e objetos) em relação aos demais saberes, seus procedimentos investigativos e alvos de estudo. Entende-se que há convergências entre paradigma dominante e a tecnologia convencional, até porque, ambos hierarquizam os saberes e engessam, em termos epistemológicos, diversas experiências humanas.

De acordo com Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018), a TC tem como uma de suas metas principais maximizar a produtividade visando o maior desempenho e lucratividade. No âmbito do trabalho, por exemplo, a lógica que subsidia a tecnologia está voltada prioritariamente a efetivação da produtividade, o que permite que as empresas priorizem cada vez mais os investimentos em inovações tecnológicas em busca de uma escala de produção e lucro crescentes. No que tange aos propósitos geradores de conhecimento e artefatos tecnológicos, a lógica utilitária é orientadora de todo o processo na medida em que visa gerar condições de excelência para maximização da produtividade, desempenho e lucratividade.

A TC tem como uma de suas metas precípuas maximizar a produtividade visando o maior desempenho e lucratividade. No âmbito do trabalho, por exemplo, a lógica que subsidia a tecnologia está voltada prioritariamente a efetivação da

produtividade, o que permite que as empresas priorizem cada vez mais os investimentos em inovações tecnológicas em busca de uma escala de produção e lucro crescentes. (DAGNINO, 2007; DAGNINO, 2014; DA SILVA et al 2018) No que tange aos propósitos geradores de conhecimento e artefatos tecnológicos, a lógica produtivista é orientadora de todo o processo, na medida em que visa gerar condições de excelência para maximização da produtividade, desempenho e lucratividade (DOGSON; GANN, 2014).

Diferentemente, o paradigma emergente opera deslocamentos importantes em relação aos modelos tradicionais de ciência e tecnologia. De acordo com Santos (2007; 2009; 2011; 2018), uma revolução científica efetiva é, ao mesmo tempo, um processo crítico e um campo de experiências sociais transformadoras. Trata-se, pois, da emergência (como saber e experiência) de um paradigma comprometido como a multiplicação do padrão de uma “vida decente”. Para tanto, propõe reflexões, categorias investigativas, constructos teóricos que têm como desafios gerar o inaudito como experiência científica e social – leia-se: migrar para outros lugares cognitivos, estabelecer novas interfaces de modo transdisciplinar, etc (PAES; DELLAGNELO, 2012a; PAES; DELLAGNELO, 2012b; MEDEIROS, 2018).

Percebe-se, assim, que no modelo emergente o conhecimento pode avançar numa relação direta com a identificação das necessidades sociais mais prementes. De acordo com Santos (2007; 2009; 2011; 2018) a ciência do paradigma emergente opera deslocamentos no campo de análise propondo reflexões, categorias investigativas, constructos teóricos, que têm como desafios gerar o inaudito como experiência científica e social – leia-se: migrar para outros lugares cognitivos, estabelecer novas interfaces de modo transdisciplinar etc.

Como dito, em certa medida o paradigma emergente pode ser aproximado da reflexão proposta pelos autores que discutem a Tecnologia Social. Até porque, ambos articulam de modo crítico e contextualizado as dimensões geral e particular do conhecimento pondo em relevo o seu compromisso com a transformação social. Nessa perspectiva, segundo Dagnino (2009) a TS estaria interligada à realidade concreta das sociedades, de modo a poder pensar criticamente os contextos nos quais os saberes são gerados e a que compromissos estão vinculados através de um conjunto de características, como: 1) ser adaptada a pequenos produtores e consumidores de baixo poder econômico; 2) não promover o tipo de controle capitalista que visa segmentar, hierarquizar e dominar os trabalhadores; 3) ser

orientada para a satisfação das necessidades humanas; 4) incentivar o potencial e a criatividade do produtor direto e dos usuários; 5) ser capaz de viabilizar economicamente empreendimentos como cooperativas populares, assentamentos de reforma agrária, agricultura familiar e pequenas empresas. Em resumo, com as teses de Santos, é possível chegar a uma primeira caracterização da Tecnologia Social: um movimento crítico sobre o modelo de ciência e tecnologia dominantes que procura refletir, com base numa visão alternativa, acerca dos problemas sociais mais emergentes da parcela menos favorecida de nossa sociedade.

Ainda com Dagnino, (2009; 2013; 2014; 2018) num certo sentido é possível dizer que a experiência da Tecnologia Apropriada (TA) inaugurou mais uma perspectiva para a TS. Isto foi viabilizado por pesquisadores latino-americanos que, nas últimas três décadas, vem direcionando seus esforços investigativos no sentido de pensar a TS na sua relação direta com as demandas sociais mais urgentes dos países em desenvolvimento.

Voltamos, contudo, a TC para melhor compreender os deslocamentos operados pela Tecnologia Social e, nela, pela Tecnologia Apropriada. De acordo com Dagnino (2009), a Tecnologia Convencional pode ser entendida:

[...] a partir de um conjunto de características (relativas a seus efeitos sobre o trabalho, à sua escala de produção ótima, aos seus efeitos sobre o meio- ambiente, às características dos insumos utilizados na produção, ao ritmo da produção, ao tipo de controle exercido sobre os trabalhadores, etc.) que a distingue da tecnologia social (DAGNINO, 2009, p. 10).

A TC é orientada para produtividade e performance, o que ocorre principalmente através da substituição de mão de obra humana por soluções tecnológicas. Essa orientação é totalmente alienadora e suprime, por exemplo, a criatividade humana no momento que busca exercer o controle do trabalho em prol dos valores exclusivamente capitalistas, da maximização do lucro e da redução da mão de obra. Dagnino acrescenta:

A TC maximiza a produtividade em relação à mão de obra ocupada. Na realidade, o indicador de produtividade que correntemente se utiliza é enviesado, não é um indicador neutro. Ele implica que se esteja sempre considerando mais produtiva uma empresa que diminui o denominador da fração produção por mão de obra ocupada (DAGNINO, 2014, p. 20).

Além disso, a TC é segmentada e voltada, em sua grande maioria, as demandas dos países mais avançados, isto acaba monopolizando as tecnologias de produção e faz com que cada vez mais os países desenvolvidos detenham maior posse da tecnologia de ponta disponível no mercado.

É possível inferir das análises de Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018) e Santos (2007; 2009; 2011; 2018) que a TC é segmentada e voltada em grande parte aos propósitos dos países mais ricos e avançados. Isto pode favorecer certo monopólio das tecnologias por parte dos países mais ricos do planeta. Invariavelmente, esta orientação da tecnologia convencional mostra sua maior aderência aos valores oriundos tanto do capitalismo concorrencial quanto do monopolista. Sob o ponto de vista das relações de poder, este tipo de vinculação entre tecnologia, Estado e mercado pode significar, uma grande diferença entre conhecimento aplicado (suas metodologias etc) e compromisso social, e o fenômeno cultural a partir do qual surgem novas e sofisticadas formas de exploração da natureza e dos seres humanos.

Não se trata aqui, contudo, de demonizar o modelo tradicional de tecnologia, todas as suas conexões dentro e fora da esfera da pesquisa e/ou todos os seus impactos. Mas de salientar que muito do que constitui a Tecnologia Convencional está dissociado dos propósitos sociais mais urgentes das camadas mais vulneráveis da sociedade. Além disso, a TC pode, em determinadas configurações de pesquisa aplicada a contextos de grande fragilidade social e ambiental, provocar o agravamento de problemas diversos. (CUPANI, 2018; KNELER, 1980; LATUCHE, 2009). Já a TS tem como um de seus objetivos, justamente buscar diminuir o desnível econômico, político e social. É centrada em desenvolver soluções para os problemas mais urgentes de forma a gerar transformações sociais inclusivas e emancipadoras. Como indicado, cabe a TS a tarefa de empreender a crítica à TC, as suas vinculações, interesses e também aos seus efeitos negativos que atingem os seres humanos e a natureza (primeira caracterização da Tecnologia Social).

Contudo, conforme Dagnino (2014) a Tecnologia Social apresenta um segundo traço, Tecnologia Apropriada (TA), que, assim como o primeiro, a define como tal. A TA presente ser propositiva, ou seja, ela procura oferecer “ferramentas práticas” – saberes, metodologias, artefatos, experiências... – visando à solução concreta de problemas sociais (segunda caracterização da Tecnologia Social).

Desde a década de 1970 a Tecnologia Apropriada vem recebendo as contribuições dos Estudos sobre Ciência Tecnologia e Sociedade (ECTS). Cabe salientar que o surgimento do Grupo de Desenvolvimento da Tecnologia Apropriada, inspirado pelo exemplo de Mahatma Gandhi, e a publicação em 1973 do livro Small is beautiful: economics as if people mattered, foram relevantes para a divulgação e o aprofundamento do debate acerca das questões que envolvem a tecnologia na sua relação com os problemas sociais, dentro e fora da academia.

Vários pesquisadores de diferentes países, preocupados com as relações entre tecnologia e sociedade, têm observado que a Tecnologia Convencional não é suficiente para dar conta das demandas sociais dos países periféricos. Até porque, não contempla e/ou prioriza as necessidades dos seus contextos sociais, culturais, econômicos e políticos. Ao constatar estes e outros limites, o movimento da TA incorporou aspectos culturais, sociais e políticos à discussão tecnológica e propôs uma mudança no estilo de desenvolvimento (Dagnino, 2009; 2013; 2014; 2018). Esta visão foi difundida entre vários grupos de pesquisadores que passaram a compartilhar muitas das ideias e valores da TS.

Os caminhos que foram sendo estabelecidos tinham como característica comum diferenciarem-se da Tecnologia Convencional, haja vista seus compromissos com a resolução de problemas sociais, ambientais etc. Nessa perspectiva, a Tecnologia Apropriada foi definida como um amplo conjunto de técnicas de produção que utiliza de maneira ótima os recursos disponíveis de determinada sociedade maximizando, deste modo, seu bem estar social (Dagnino, 2009; 2013; 2014; 2018). Entre os traços que compõem sua ação, encontramos: maior intensidade e valorização da mão de obra, uso intensivo de insumos naturais e regionais, simplicidade de implantação e manutenção, respeito à cultura e capacitação locais, entre outros. Assim, a TA buscaria evitar os prejuízos sociais e ambientais comparados ao impacto gerado pela adoção das tecnologias convencionais.

Vê-se que os elementos intrínsecos da Tecnologia Social são compatíveis ao propósito de geração tanto de análise crítica quanto de ações inclusivas. Percebe- se, portanto, que a TA como materialização da Tecnologia Social é, ao mesmo tempo, crítica e propositiva. Corroborando a tese que vê a Tecnologia Social como um movimento crítico/propositivo capaz de gerar transformações sociais, Dagnino (2014, p. 18) dirá que ela apresenta características como:

1. Adaptada ao pequeno tamanho;

2. Libertadora do potencial físico e financeiro e da criatividade do produtor direto;

3. Não discriminatória (nega a lógica de poder hierarquizante e discriminatória: relação patrão x empregado);

4. Capaz de viabilizar economicamente os empreendimentos auto- gestionários e as pequenas empresas;

5. Orientada para o mercado interno de massa;

Infere-se que a Tecnologia Social deve ser: adaptada ao reduzido tamanho físico e a realidade financeira; não discriminatória; livre da diferenciação – disfuncional, anacrônica e prejudicial nos ambientes auto-gestionários – entre patrão e empregado; orientada para um mercado interno de massa; geradora de emancipação do potencial e criativa do produtor direto. Deve ser, portanto, capaz de viabilizar economicamente os empreendimentos com capacidade de gestão própria.

Nessa perspectiva, para a Rede de Tecnologia Social (RTS) e Dagnino (2014), a TS pode ser entendida como produções, procedimentos, ténicas e/ou metodologias reaplicáveis, concebidas na interação com a comunidade e que representem permanentes soluções de transformação social (RTS, 2011). Cabe destacar que o empreendimento auto-gestionário é uma alternativa capaz de satisfazer as necessidades das pessoas de forma sustentável com foco no ser humano e não apenas à maximização do lucro.

Em síntese, os dois modos de se conceber a Tecnologia Social, indicados por Dagnino (2009; 2013; 2014; 2018), embora apresentem diferenças, são também complementares: a crítica em relação à TC e a defesa da TA. É justamente com base nas dimensões crítica e propositiva, definidoras de TS inovadora, que é analisada a metodologia Startup Enxuta, adotada pelo Social Good Brasil, bem como os três projetos selecionados em 2017, visando identificar os elementos de TS concebidos, também, como práticas de inovações sociais.

Por fim, ao compreender a Tecnologia Social como “técnicas e metodologias” e “produtos e processos”, a próxima seção é dedicada a explorar os aspectos ou implicações, que uma tecnologia deve apresentar para se caracterizar como TS. Esses aspectos são pensados, a partir de um esforço empenhado pelo Instituto de