Eletromagnetismo I
Cap. 5: Magnetostática
5.4: Potencial vetor magnético Prof. Marcos Menezes
Instituto de Física - UFRJ
5.4 – Potencial vetor magnético
5.4.1 – Definição
A lei de Gauss para o magnetismo,
nos permite escrever:
𝛁 ⋅ 𝐁 = 0
𝐁 = 𝛁 × 𝐀
uma vez que 𝛁 ⋅ 𝛁 × 𝐀 = 0 para qualquer função vetorial 𝐀.
A função 𝐀 é conhecida como potencial vetor e desempenha um papel análogo ao do potencial elétrico 𝑉 na eletrostática.
Da mesma forma que 𝑉 é bem definido a menos de uma constante arbitrária, 𝐀 é bem definido a menos do gradiente de uma função escalar:
Liberdade de calibre
𝐀′ = 𝐀 + 𝛁𝜆 ⇒ 𝛁 × 𝐀′ = 𝛁 × 𝐀 + 𝛁 × 𝛁𝜆 = 𝛁 × 𝐀
uma vez que 𝛁 × 𝛁𝜆 = 𝟎 para qualquer função escalar 𝜆.
Esta arbitrariedade na definição de 𝐀 nos dá uma liberdade em sua escolha, conhecida como liberdade de calibre.
Por conveniência, vamos trabalhar no calibre de Coulomb, onde:
𝛁 ⋅ 𝐀 = 0
Vamos verificar agora que é possível fazer essa escolha.
Vamos partir de um calibre genérico onde 𝛁 ⋅ 𝐀 ≠ 0 e escolher 𝐀′ = 𝐀 + 𝛁𝜆 de forma que:
Calibre de Coulomb
𝛁 ⋅ 𝐀′ = 𝛁 ⋅ 𝐀 + 𝛁 ⋅ 𝛁𝜆 = 0 ⇒
Portanto, 𝜆 deve satisfazer a equação de Poissoncom termo de fonte dado por 𝛁 ⋅ 𝐀!
Como nós sabemos resolver esta equação utilizando as técnicas vistas na eletrostática, isto significa que sempre podemos escolher 𝜆 de forma que 𝛁 ⋅ 𝐀′ = 0!
∇2𝜆 = −𝛁 ⋅ 𝐀
Substituindo 𝐁 = 𝛁 × 𝐀 na lei de Ampère, obtemos:
Potencial vetor em termos de 𝐉
𝛁 × 𝐁 = 𝛁 × 𝛁 × 𝐀 = 𝜇0𝐉
Por outro lado, sabemos que (cap. 1):
Como 𝛁 ⋅ 𝐀 = 0 no calibre de Coulomb, obtemos:
Lembrando a definição do Laplaciano vetorial, a equação acima representa uma equação de Poisson para cada componente cartesiana de 𝐀 e 𝐉!
𝛁 × 𝛁 × 𝐀 = 𝛁 𝛁 ⋅ 𝐀 − ∇𝟐𝐀
∇𝟐𝐀 = −𝜇0𝐉
Assumindo uma distribuição finita de correntes, de forma que 𝐉 → 0 e 𝐀 → 0 no infinito, podemos imediatamente escrever a solução a partir do resultado na eletrostática:
Para distribuições de corrente em 1D e 2D, basta substituir 𝐉 𝐫′ 𝑑𝑣′ pelos infinitésimos apropriados:
𝐀 = 𝜇0 4𝜋 න
𝑑𝑖𝑠𝑡
𝐉 𝐫′
𝑑𝑣′
𝐀 = 𝜇0 4𝜋 න
𝑑𝑖𝑠𝑡
𝐊 𝐫′ 𝐀 = 𝜇0𝐼 𝑑𝑎′
4𝜋 න
𝑑𝑖𝑠𝑡
1 𝑑𝐥′
(1D) (2D)
Note que:
• Tipicamente, 𝐀 “imita” o sentido da corrente. Isto é evidente nas equações acima quando 𝐉 tem o mesmo sentido em todos os pontos da distribuição.
• As expressões acima não podem ser utilizadas para distribuições infinitas de correntes. Veremos outros métodos para obter 𝐀 nos exemplos a seguir.
Exemplo 1: Casca esférica giratória
Por conveniência, vamos tomar o eixo 𝑍 ao longo de 𝐫 e posicionar 𝛚 sobre o plano 𝑋𝑍. Os parâmetros relevantes são definidos na figura.
𝐀 = 𝜇0 4𝜋 න
𝑡𝑜𝑑𝑜 𝑜 𝑒𝑠𝑝𝑎ç𝑜
𝐊 𝐫′
𝑑𝐴′
A integral apropriada para o problema é:
onde:
𝐊 𝐫′ = 𝜎 𝐯 = 𝜎 𝛚 × 𝐫′
Calculando explicitamente o produto vetorial, obtemos:
𝛚 × 𝐫′ = 𝜔 sen 𝜓 ො𝐱 + cos 𝜓 ො𝐳 × 𝑅(sen 𝜃′cos 𝜙′ ො𝐱 + sen 𝜃′sen 𝜙′ 𝐲 + cos 𝜃ො ′ො𝐳)
= 𝜔𝑅 [− cos 𝜓 sen 𝜃′sen 𝜙′ො𝐱 + cos 𝜓 sen 𝜃′cos 𝜙′ − sen 𝜓 cos 𝜃′ 𝐲 + sen 𝜓 sen 𝜃ො ′sen 𝜙′ො𝐳]
Além disso, pela figura (lei dos cossenos):
= 𝑅2 + 𝑟2 − 2𝑅𝑟 cos 𝜃′
Reunindo os resultados:
𝐀 = 𝜇0𝜎 4𝜋 න
0 𝜋
න
0
2𝜋𝜔𝑅 [− cos 𝜓 sen 𝜃′sen 𝜙′ො𝐱 + cos 𝜓 sen 𝜃′cos 𝜙′ − sen 𝜓 cos 𝜃′ 𝐲 + sen 𝜓 sen 𝜃ො ′sen 𝜙′ො𝐳]
𝑅2 + 𝑟2 − 2𝑅𝑟 cos 𝜃′ 𝑅2sen 𝜃′𝑑𝜃′𝑑𝜙′
Para o 1º, 2º e 4º termos, temos de calcular uma das duas integrais abaixo:
න
0 2𝜋
sen 𝜙′ 𝑑𝜙′ = න
0 2𝜋
cos 𝜙′ 𝑑𝜙′ = 0
e o elemento de área é:
𝑑𝐴′ = 𝑅2sen 𝜃′𝑑𝜃′𝑑𝜙′
Com isso, apenas o 3º termo sobrevive à integração em 𝜙′:
𝐀 = 𝜇0𝜎𝜔𝑅3
4𝜋 2𝜋 න
0
𝜋 (−sen 𝜓 cos 𝜃′) ො𝐲
𝑅2 + 𝑟2 − 2𝑅𝑟 cos 𝜃′sen 𝜃′𝑑𝜃′
= − 𝜇0𝜎𝜔𝑅3sen 𝜓
2 𝐲 නො
0
𝜋 cos 𝜃′
𝑅2 + 𝑟2 − 2𝑅𝑟 cos 𝜃′sen 𝜃′𝑑𝜃′
A integral restante pode ser simplificada com a substituição 𝑢 = cos 𝜃′:
𝐼 = න
0
𝜋 cos 𝜃′
𝑅2 + 𝑟2 − 2𝑅𝑟 cos 𝜃′sen 𝜃′𝑑𝜃′ = න
−1
+1 𝑢
𝑅2 + 𝑟2 − 2𝑅𝑟𝑢 𝑑𝑢
e pode ser resolvida com uma substituição simples.
O resultado é (verifique!):
𝐼 = න
−1
+1 𝑢
𝑅2 + 𝑟2 − 2𝑅𝑟𝑢 𝑑𝑢 = − 1
3𝑅2𝑟2 [ 𝑅2 + 𝑟2 + 𝑅𝑟 𝑅 − 𝑟 − 𝑅2 + 𝑟2 − 𝑅𝑟 𝑅 + 𝑟 ]
e com isso:
Finalmente, note que:
𝑅 − 𝑟 = ቐ
𝑅 − 𝑟, 𝑟 < 𝑅 𝑟 − 𝑅, 𝑟 > 𝑅
𝐼 =
2𝑟
3𝑅2 , 𝑟 < 𝑅 2𝑅
3𝑟3 , 𝑟 > 𝑅
Levando na expressão de 𝐀, obtemos:
Notando agora que 𝛚 × 𝐫 = −𝜔𝑟 sen 𝜓 ො𝐲, podemos expressar o resultado como:
𝐀 =
− 𝜇0𝜎𝜔𝑅𝑟 sen 𝜓
3 𝐲,ො 𝑟 < 𝑅
−𝜇0𝜎𝜔𝑅4 sen 𝜓
3𝑟2 𝐲,ො 𝑟 > 𝑅
𝐀 =
𝜇0𝜎𝑅
3 𝛚 × 𝐫, 𝑟 < 𝑅 𝜇0𝜎𝑅4
3𝑟3 𝛚 × 𝐫, 𝑟 > 𝑅
Por fim, podemos voltar a uma escolha natural de sistemas de coordenadas com eixo 𝑍 orientado na direção de 𝛚.
Nesse caso:
𝛚 × 𝐫 = 𝜔𝑟 sen 𝜃 𝝓
𝐀 =
𝜇0𝜎𝜔𝑅
3 𝑟 sen 𝜃 𝝓, 𝑟 < 𝑅 𝜇0𝜔𝜎𝑅4
3
sen 𝜃
𝑟2 𝝓, 𝑟 > 𝑅
Em particular, o campo magnético no lado de dentro é dado por:
𝐁 = 𝛁 × 𝐀 = 1 𝑟 sen 𝜃
𝜕(sen 𝜃 𝐴𝜙)
𝜕𝜃 ො𝒓 − 1 𝑟
𝜕(𝑟𝐴𝜙)
𝜕𝑟 𝜽 =
2𝜇
0𝜎𝜔𝑅
3 (
cos 𝜃 ො𝒓 − sen 𝜃 𝜽)Como ො𝐳 = cos 𝜃 ො𝒓 − sen 𝜃 𝜽, o campo será uniforme no lado de dentro:
Exercícios e comentários:
• Calcule o campo no lado de fora. Você pode conferir que ele corresponde ao campo produzido por um dipolo magnético puntiforme (problema 5.36)!
• Há outras formas que requerem menos “força bruta” para resolver este problema, mas elas são mais sofisticadas.
Uma delas será discutida na lista de exercícios do cap. 6.
• Podemos utilizar os resultados desse problema para obter o potencial vetor e o campo produzidos por uma esfera sólida giratória (problemas 5.29 e 5.58).
𝐁 = 2𝜇0𝜎𝜔𝑅 3 ො𝐳
Exemplo 2: Fio retilíneo e infinito
Vamos utilizar o seguinte truque. Vamos calcular o fluxo de campo magnético através de uma superfície aberta 𝑆 arbitrária:
𝛷𝐵𝑆 = න
𝑆
𝐁 ⋅ 𝑑𝐚 = න
𝑆
(𝛁 × 𝐀) ⋅ 𝑑𝐚
onde 𝐶 é a curva que delimita a fronteira de 𝑆.
Utilizando o teorema de Stokes, podemos reescrever o último termo como:
න
𝑆
𝐁 ⋅ 𝑑𝐚 = ර
𝐶
𝐀 ⋅ 𝑑𝐥
• Note que a expressão acima tem a mesma forma da lei de Ampère, com 𝐀 no lugar de 𝐁 e 𝛷𝐵𝑆 no lugar de 𝜇0𝐼𝑖𝑛𝑡𝑆 .
• Podemos utilizá-la em situações onde não é possível tomarmos 𝐀 → 𝟎 no infinito e/ou para distribuições de corrente com alta simetria, como é o caso neste problema.
Note que:
• Como 𝐉aponta ao longo do eixo Z, 𝐀 também deve apontar.
• Como o problema tem simetria de rotação em torno deste eixo e de translação ao longo dele, |𝐀| deve depender apenas da distância 𝑠 até o eixo
Com isso:
𝐀 = 𝐴𝑧 𝑠 ො𝐳
Além disso, pela lei de Ampère, sabemos que (verifique!):
𝐁 =
𝜇0𝐼𝑠
2𝜋𝑅2 𝝓, 𝑠 ≤ 𝑅 𝜇0𝐼
2𝜋𝑠 𝝓 , 𝑠 > 𝑅
Escolhendo o circuito orientado 𝐶 e uma superfície 𝑆 delimitada por ele como mostrado na figura, podemos ver que:
e, para o lado de fora (𝒔𝟏𝒆 𝒔𝟐 > 𝑹):
ර
𝐶
𝐀 ⋅ 𝑑𝐥 = 𝐴 𝑠1 − 𝐴 𝑠2 𝑙
න
𝑆
𝐁 ⋅ 𝑑𝐚 = න
𝑠1 𝑠2
න
0
𝑙 𝜇0𝐼
2𝜋𝑠 𝝓 ⋅ (𝑑𝑠 𝑑𝑧 𝝓)
= 𝜇0𝐼
2𝜋 𝑙 ln 𝑠2 𝑠1
OBS: Lembre que a orientação de 𝐶 e o sentido de 𝐧ෝ em 𝑆 estão ligados pela regra da mão direita. Se 𝐶 está orientado em sentido horário, ෝ𝐧 aponta para dentro da tela (sentido local de 𝜙)!
Vamos fazer agora uma escolha de zero tomando 𝐴𝑧 𝑠1 = 𝑅 = 0. Com isso, para 𝑠2 = 𝑠:
ර
𝐶
𝐀 ⋅ 𝑑𝐥 = න
𝑆
𝐁 ⋅ 𝑑𝐚
𝐴𝑧 𝑠1 − 𝐴𝑧 𝑠2 𝑙 = 𝜇0𝐼
2𝜋 𝑙 ln 𝑠2 𝑠1
Note que de fato não seria possível tomar o zero no infinito, uma vez que o potencial divergiria!
Igualando as duas quantidades, obtemos:
𝐴𝑧 𝑠 = −𝜇0𝐼
2𝜋 ln 𝑠
𝑅 (𝑠 > 𝑅)
Exercícios adicionais para este problema:
• Obtenha o potencial vetor em pontos dentro do fio.
• Mostre que 𝛁 ⋅ 𝐀 = 0 e 𝛁 × 𝐀 = 𝐁 nas duas regiões. Em que etapa inserimos a condição do calibre de Coulomb neste problema?
• Há um outro método para resolver este problema que parte das duas relações acima. Veja o problema extra na lista de exercícios.
Leitura adicional:
• Leia o exemplo 5.12 do livro-texto, que calcula o potencial vetor para um solenoide infinito utilizando o mesmo método deste exercício.
5.4.2 – Condições de contorno magnetostáticas
O que acontece com 𝐁 e 𝐀 ao atravessarmos uma distribuição superficial de correntes? Vamos empregar raciocínios similares aos utilizados para 𝐄 e 𝑉.
(i) Componente normal de 𝐁
Pela lei de Gauss para o magnetismo:
ර
𝑆
𝐁 ⋅ 𝑑𝐀 = 0
Para a superfície em forma de caixa na figura ao lado (𝐴 pequeno e limite 𝜖 → 0):
ර
𝑆
𝐁 ⋅ 𝑑𝐀 = B⊥acima − B⊥abaixo 𝐴 = 0
Portanto: B⊥acima = B⊥abaixo
(ii) Componente tangencial de 𝐁
Pela lei de Ampère:
ර
𝑆
𝐁 ⋅ 𝑑𝐥 = 𝜇0𝐼𝑖𝑛𝑡𝑆
Para o circuito retangular na figura ao lado (𝑙 pequeno e limite 𝜖 → 0):
ර
𝑆
𝐁 ⋅ 𝑑𝐥 = B∥acima − B∥abaixo 𝑙 = 𝜇0𝐾𝑙
• Para um segundo circuito com lado 𝑙 paralelo ao sentido de 𝐊, note que a componente 𝐵∥ associada seria contínua.
• Portanto, apenas a componente de 𝐁 que é paralela à superfície e perpendicular a 𝐊 apresenta uma descontinuidade de magnitude 𝜇0𝐾!
B∥acima − B∥abaixo = 𝜇0𝐾
Podemos resumir estes resultados numa única equação:
𝐁𝐚𝐜𝐢𝐦𝐚 − 𝐁𝐚𝐛𝐚𝐢𝐱𝐨 = 𝜇0(𝐊 × ෝ𝐧)
onde 𝐧ෝ aponta de baixo para cima.
Exemplo: Plano infinito com K constante
𝐁 =
−𝜇0𝐾
2 𝒚,ෝ 𝑧 > 0
+𝜇0𝐾
2 𝒚,ෝ 𝑧 < 0
Observe como a condição é satisfeita em 𝑧 = 0!
(iii) Potencial vetor 𝐀
Da condição do calibre de Coulomb e do teorema de Gauss, vemos que:
Pelo mesmo argumento utilizado para 𝐁, vemos que isto implica na continuidade de 𝐴⊥.
Analisando os mesmos circuitos discutidos para 𝐁 e notando que Φ𝐵𝑆 → 0 na área subentendida por eles no limite 𝜖 → 0, vemos que 𝐀∥ também é contínuo.
Portanto, 𝐀𝐚𝐜𝐢𝐦𝐚 = 𝐀𝐚𝐛𝐚𝐢𝐱𝐨!
𝛁 ⋅ 𝐀 = 0 ⇒ ර
𝑆
𝐀 ⋅ 𝑑𝐚 = 0
Da definição de 𝐀 e do teorema de Stokes, já vimos que:
𝛁 × 𝐀 = 𝐁 ⇒ ර
𝐶
𝐀 ⋅ 𝑑𝐥 =
න
𝑆
𝐁 ⋅ 𝑑𝐚 = Φ
𝐵𝑆(iv) Derivada normal de 𝐀
A partir dos resultados anteriores, é possível mostrar ainda que:
onde 𝜕𝐀/𝜕𝑛 denota a derivada normal de 𝐀 (derivada normal de cada componente).
𝜕𝐀𝑎𝑐𝑖𝑚𝑎
𝜕𝑛 − 𝜕𝐀𝑎𝑏𝑎𝑖𝑥𝑜
𝜕𝑛 = −𝜇0𝐊
A demonstração deste resultado é discutida no problema 5.32 do livro-texto.
5.4.3 – Expansão em multipolos
Da mesma forma que fizemos para 𝑉 na eletrostática, é útil estabelecermos uma expansão de 𝐀(𝐫) em uma série de potências de 1/𝑟.
Vamos considerar distribuições de correntes estacionárias em 1D (circuitos) de forma que nosso ponto de partida é:
Já vimos que a função é uma função geradora de polinômios de Legendre, de forma que:
Com isso:
Mais explicitamente:
O primeiro termo corresponderia à contribuição de monopolo magnético (∼ 1/𝑟). No entanto, note que:
uma vez que o circuito é fechado.
Portanto, a contribuição de monopolo está sempre ausente! Qual o significado físico deste resultado?
Contribuição de dipolo magnético
O termo seguinte da expansão é:
Por outro lado, nos problemas 1.60 e 1.61 (cap. 1), você deve ter visto que:
ර
𝐶
𝐜 ⋅ 𝐫′ 𝑑𝐥′ = −𝐜 × න
𝑆
𝑑𝐚′ ≡ −𝐜 × 𝐚
para qualquer vetor constante 𝐜 (𝑆 é uma superfície delimitada pelo circuito 𝐶).
Tomando 𝐜 = ො𝐫, podemos reescrever o resultado acima em uma forma mais familiar.
Assim:
onde:
denota o vetor momento de dipolo magnético da distribuição.
Para um circuito plano, note que 𝐦 = 𝐼𝑎ෝ𝐧, onde 𝑎 é a área do circuito e 𝐧ෝ é um unitário perpendicular ao plano. Esta é a definição discutida em cursos mais básicos!
Exemplo: Dipolo magnético físico x puntiforme
(a) Como o circuito é plano, vemos imediatamente que:
Por que o sentido é z positivo? Ao orientarmos o circuito no sentido da corrente, o sentido de 𝐧ෝ em 𝑆 é definido pela regra da mão-direita!
(b) Como 𝐦 ≠ 𝟎, a contribuição dominante a longas distâncias será a de dipolo magnético. Assim:
𝐦 = 𝐼𝑎ෝ𝐧 = 𝐼𝜋𝑅2ො𝐳
𝐀 ≈ 𝐀𝐝𝐢𝐩 = 𝜇0 4𝜋
𝐦 × ො𝐫
𝑟2 = 𝜇0 4𝜋
𝑚 sen 𝜃 𝑟2 𝝓
Note mais uma vez como 𝐀 “imita” o sentido da corrente!
O campo será dado por:
𝐁 = 𝛁 × 𝐀 = 1 𝑟 sen 𝜃
𝜕
𝜕𝜃 sen 𝜃 𝐴𝜙 ො𝐫 − 1 𝑟
𝜕
𝜕𝑟 𝑟 𝐴𝜙 𝜽
𝐁 ≈ 𝐁𝐝𝐢𝐩 = 𝜇0𝑚
4𝜋𝑟3 2 cos 𝜃 ො𝐫 + sen 𝜃 𝜽
• Este campo corresponde ao campo magnético produzido por um dipolo magnético puntiforme 𝐦 = 𝑚ො𝐳!
• Note que ele possui exatamente a mesma estrutura do campo elétrico produzido por um dipolo elétrico puntiforme!
A curtas distâncias, termos de ordem superior da expansão em multipolos devem dar contribuições relevantes, de forma que o campo da espira não coincide com o de um dipolo puntiforme nessa região:
Já havíamos observado essas diferenças no caso eletrostático ao comparar um dipolo elétrico físico com um puntiforme!
(c) Para pontos sobre o eixo da espira, obtivemos uma expressão analítica para o campo magnético utilizando a lei de Biot- Savart (seção 5.2):
Verifique que esta expressão coincide com o campo do dipolo puntiforme no limite 𝑧 ≫ 𝑅 e 𝜃 = 0, como esperado.
𝐁(𝑧) = 𝜇0𝐼 2
𝑅2
𝑅2 + 𝑧2 3/2 ො𝐳
Expansão em multipolos para distribuições volumétricas de corrente
Referências básicas
• Griffiths (3ª edição) – cap. 5
• Purcell – cap. 6
Leitura avançada
• Zangwill – seções 10.5, 11.1 e 11.2