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Acordam, em conferência, na Secção Social do Tribunal da Relação de Évora

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 236/14.7T8STC.E1 Relator: MOISÉS SILVA

Sessão: 14 Setembro 2017 Votação: UNANIMIDADE Decisão: CONFIRMADA

ACIDENTE DE TRABALHO PRESUNÇAO DE LABORALIDADE

Sumário

Presume-se a existência de uma relação de trabalho subordinada, nos termos do art.º 11.º do CT, se ocorrerem as caraterísticas previstas no art.º 12.º n.º 1, alíneas a), b) e d) do CT, não ilididas pelo empregador, mas antes reforçadas por outros factos instrumentais.

(Sumário do relator)

Texto Integral

Processo n.º 236/14.7T8STC.E1

Acordam, em conferência, na Secção Social do Tribunal da Relação de Évora I - RELATÓRIO

Apelante: CC (réu).

Apelado: BB (autor).

Tribunal Judicial da Comarca de Setúbal, Juízo do Trabalho de Santiago do Cacém.

1. O A., com o patrocínio do Ministério Público, veio propor ação especial emergente de acidente de trabalho contra o réu, trabalhador independente, e DD - Companhia de Seguros, SPA, pedindo que:

l. Seja declarado que o acidente sofrido pelo A. no dia 11 de setembro de 2014, na Herdade da …, quando o A. prestava o seu trabalho como

motosserrista a CC, mediante a retribuição diária de € 50, é um acidente de trabalho;

2. Em consequência de tal acidente, sejam os RR. condenados a pagar ao A.,

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de acordo com a responsabilidade que vierem a apurar-se em relação a cada um deles, em sede de julgamento:

-/ A indemnização por incapacidades temporárias, calculadas de harmonia com o artigo 18.º, al. c), da Lei n.º 98/2009, no valor de € 10.950,00 (€ 50 x 219 d);

-/ A pensão anual e vitalícia, com início no dia seguinte ao da alta definitiva, ou seja 18.04.2015, calculada em função do resultado da junta médica, nos

termos do art.º 18.º n.º 4, al. b), da Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, acrescida de juros à taxa legal, desde o dia seguinte ao da alta;

-/ O subsídio por elevada incapacidade, em função da IPATH com IPP que resultar da junta médica, nos termos do art.º 67.º n.º 3, da Lei n.º 98/2009;

-/159,50€ a título de despesas médicas e de deslocações ocasionadas por virtude do acidente dos autos;

-/ Os juros de mora sobre as quantias em dívida à taxa legal, desde o respetivo vencimento e até integral e efetivo pagamento.

Alegou, em síntese, que, o 1.º R. dedica-se à prestação de serviços de limpeza e abate de árvores adultas, em nome individual, tendo sido contratado em finais de agosto de 2014 para limpeza e abate de pinheiros mansos na

Herdade da …, em …. Para tanto, o 1.º R. no âmbito da sua organização e sob a sua autoridade, a partir de 01.09.2014, contratou o A. para o desempenho das funções de motosserrista, mediante a retribuição diária de € 50, de segunda a sábado, das 7 às 12 horas e das 13 às 16 horas, com descanso ao domingo, dando-lhe ordens diariamente, controlando a sua assiduidade e exercendo sobre o mesmo o poder disciplinar, transportando-o para o local de trabalho e facultando-lhe a motosserra para o corte de madeira, fornecendo- lhe também o combustível e óleo para esse instrumento.

No dia 11.09.2014, quando o A. se encontrava a trabalhar na Herdade da …, a cortar um tronco de árvore, sob as ordens, direção e fiscalização do 1.º R., a motosserra fez rejeição na madeira (ressalto/retrocesso) tendo-o atingido na perna direita, não utilizando então o A. calças com entretela de segurança, as quais não lhe foram fornecidas pelo 1.º R..

Do acidente resultou para o A. traumatismo da perna direita com esfacelo da face anterior desse membro, tendo recebido assistência médica no Centro de Saúde de … e no Hospital de …, em Lisboa, onde foi operado, tendo tido alta em 13.09.2014. Posteriormente, foi seguido pelo serviço nacional de saúde. À data do acidente o A. não se encontrava coletado como trabalhador

independente e o 1.º R., no dia 09.09.2014, efetuou um contrato de seguro de acidentes de trabalho, em nome do A. e de outro trabalhador, tendo liquidado os prémios de seguro e indicado que estes seriam trabalhadores

independentes, indicando também a retribuição segura de € 600 x 14 meses, encontrando-se assim a responsabilidade decorrente de acidentes de trabalho

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transferida para a 2.ª R. mediante contrato de seguro, pela retribuição anual de 8 400 (€ 600 x 14 meses).

A 2.ª R. declinou a responsabilidade decorrente do acidente. O sinistrado apresenta como sequelas decorrentes do acidente: uma cicatriz na face anterior do terço inferior da perna, acastanhada, com cerca de 15 cm de extensão e edema na perna e tornozelo, sendo o perímetro da perna superior em 1 cm em relação à contra-lateral, sem dorsiflexão do pé e apresentando marcha claudicante, ficando com a perna inchada quando caminha, não conseguindo por vezes apoiar o pé no chão.

Sofreu 219 dias de incapacidade temporária, tendo ficado portador de uma IPATH com IPP residual.

Suportou € 15,50 em despesa com consulta no Centro de Saúde de … e despesas de transporte no valor de € 144.

Requereu a realização de exame por Junta Médica.

O 1.º R. contestou invocando em síntese: (i) não ter qualquer responsabilidade quanto ao acidente sofrido pelo A., dado que este foi contratado no âmbito de uma prestação de serviços, tendo transferido para a 2.ª R. a responsabilidade por acidentes de trabalho, como trabalhador independente; (ii) foi fixada a retribuição diária de € 50; (iii) não existia horário de trabalho fixado pelo R., embora assegurasse o transporte do A. por manter boas relações com este e o mesmo não dispor de veículo; (iv) não dava ordens ao A., não controlava a sua assiduidade nem exercia sobre o mesmo o poder disciplinar, prestando o A. os seus serviços com autonomia e independência; (v) nos meses de junho e julho do mesmo ano, o A. e o R. tinham prestado serviços semelhantes,

designadamente na extração de cortiça; (vi) disponibilizou ao A. motosserra, o combustível e o óleo, já que o A. não tinha uma; (vii) não celebrou o contrato de seguro em nome do A., mas pagou o prémio de seguro devido às

dificuldades económicas do A. e atendendo à urgência na prestação de

serviços, considerando tal montante como uma componente da remuneração;

(viii) não era obrigação do R. fornecer equipamento de segurança, competindo ao A. assegurar as suas próprias condições de saúde e segurança enquanto prestador de serviços; (ix) alertou o A. para o facto de dever usar tal

equipamento, tendo o mesmo ignorado tal conselho; (x) era obrigação do A.

coletar-se como trabalhador independente, sendo que pelos serviços prestados solicitou ao A. a emissão de fatura-recibo.

Concluiu pela procedência da contestação, devendo em consequência o R. ser absolvido do pedido.

A 2.ª R. contestou alegando em síntese: (i) não poder responder pelo acidente ocorrido caso se entenda que o A. laborava como trabalhador por conta de outrem, pois o contrato de seguros de acidentes de trabalho celebrado com

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aquele, reportava-se a trabalhadores independentes; (ii) o acidente resultou única e exclusivamente por violação de regras de segurança pelo sinistrado, dado que a motosserra resvalou para baixo por o sinistrado não a ter segurado firmemente e por não ter utilizado qualquer equipamento de proteção

individual, em concreto, não utilizava calças com entretela de segurança; (iii) as calças encontravam-se no local e foram disponibilizadas ao A. que não as usava devido ao calor; (iv) sempre lhe competiria, ainda como trabalhador independente, o uso desse equipamento; (v) caso tivesse utilizado as referidas calças, o acidente não teria ocorrido, pois ainda que a motosserra tivesse resvalado, as calças travariam a corrente da motosserra e impediriam o contacto direto com a perna do sinistrado; (vi) o A. efetuava o corte de forma incorreta, debaixo para cima; (vii) o A. não teve qualquer formação relativa ao manuseamento de motosserras, tendo aprendido sozinho a ver os outros

trabalhar, o que deveria ter assegurado por si, sendo trabalhador independente.

Concluiu dever a ação ser julgada improcedente por não provada e a R.

absolvida do pedido.

Foi proferido despacho saneador no qual foi fixada a matéria de facto assente e organizada a base instrutória, tendo sido determinado o desdobramento do processo.

Criado apenso para fixação da incapacidade, nele foi realizada perícia por junta médica e proferida decisão fixando a incapacidade temporária sofrida pelo A., bem como a incapacidade permanente parcial de que ficou portador.

Realizou-se a audiência de discussão e julgamento e foi respondida a matéria de facto constante da base instrutória, através de despacho, que não foi alvo de reclamação.

2. Nessa sequência, foi proferida sentença com a seguinte decisão:

Pelo exposto, julgo a presente ação parcialmente procedente por provada e, em consequência:

1. Declaro que o acidente sofrido pelo autor BB no dia 11 de setembro de 2014, na Herdade da…, quando prestava o seu trabalho como motosserrista a CC, mediante a retribuição diária de € 50, foi um acidente de trabalho;

2. Em consequência, condeno o réu CC no pagamento ao autor:

2.1. De uma indemnização por incapacidade temporária absoluta, no valor de

€ 10 950 (dez mil novecentos e cinquenta euros), acrescida dos juros de mora à taxa legal contados a partir de 17.04.2015, até efetivo e integral pagamento;

2.2. Do capital de remição correspondente à pensão anual e vitalícia e € 2

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646,25 (dois mil seiscentos e quarenta e seis euros e vinte e cinco cêntimos), com efeitos a partir de 18.04.2015, quantia a que acrescem juros de mora, à taxa legal, desde essa data e até integral e efetivo pagamento;

2.3. Da quantia de € 29,90 (vinte e nove euros e noventa cêntimos) a título de despesas com deslocações, à qual acrescem juros de mora à taxa legal desde a data do trânsito em julgado da sentença até integral pagamento.

3. Absolvo o réu CC quanto ao demais peticionado pelo autor.

4. Absolvo a ré DD Companhia de Seguros SPA de todos os pedidos deduzidos pelo autor.

Custas pelo 1.º R. (art.º 527.º do Código do Processo Civil, aplicável ex vi art.º 1.º n.º 2, al. a), do Código de Processo do Trabalho).

Valor da ação: € 57.006,12 - art.º 120.º do Código de Processo do Trabalho.

3. Inconformado, veio o réu interpor recurso de apelação, que motivou e apresentou as seguintes conclusões:

A. Salvo o devido respeito, o tribunal a quo errou manifestamente no

julgamento da matéria de direito, designadamente ao qualificar a natureza do vínculo entre recorrente e recorrido como contrato de trabalho.

B. Atendendo aos pontos 2.°, 4.°, 5.°, 7.°, 8.°, 9.°, 11.º e 18.° da base instrutória e à resposta dada à referida matéria, concluiu-se que não ficou provado: i) que o recorrido prestasse serviços no âmbito da organização e autoridade do recorrente, ii) a existência de horário de trabalho, iii) a

existência de ordens emanadas pelo recorrnte ao recorrido, o controlo da sua assiduidade ou o exercício de poder disciplinar pelo recorrente.

C. Pelo contrário, provou-se que i) o recorrido era apenas seguido pelo recorrente, ii) que a disponibilização da motosserra, bem como o óleo e

combustível foram considerados no montante da retribuição do recorrido, iii) bem como o pagamento do prémio da apólice do contrato de seguro e que iv) o recorrido tinha conhecimento e intenção de celebrar um seguro de acidentes de trabalho enquanto trabalhador independente

D. Como facilmente se demonstrou, não foram provados indícios suficientes da existência de subordinação jurídica na relação contratual estabelecida entre o recorrente e o recorrido.

E. Relativamente ao local de trabalho, o facto de o recorrido ter desenvolvido a sua atividade em local indicado pelo recorrente em nada contribui para a apreciação da existência - ou não - de subordinação jurídica.

F. Relativamente aos instrumentos de trabalho, estes foram disponibilizados enquanto componente da remuneração do recorrido e porque o recorrente dispunha dos mesmos e mantinha uma relação de amizade com o recorrido, conforme ficou provado.

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G. Relativamente à retribuição, um contrato de prestação de serviços pode ser retribuído em condições similares ao contrato de trabalho, sendo certo que o tempo diminuto em que o recorrido prestou serviços (9 dias) não é suficiente para aferir a periodicidade da retribuição.

H. No que respeita ao horário de trabalho, ficou provado que não existia

qualquer horário fixado pelo recorrente, pelo que, se o recorrido observou um tempo de trabalho, tal deveu-se ao facto de, tanto o recorrente como o

recorrido serem amigos e ainda devido ao facto deste último não dispor de veículo próprio.

I. Por outro lado, e apesar de ter sido desvalorizado pelo Tribunal, ficou provado que o recorrido celebrou um contrato de seguro de acidentes de trabalho enquanto trabalhador independente, conhecendo os seus termos.

J. O recorrido jamais teve a convicção e/ou sequer a dúvida de que teria outro tipo de relação jurídica que o vinculasse ao recorrente: o recorrido sempre foi (e continua a ser) um trabalhador independente e sempre atuou com

consciência disso mesmo, sendo que, em claro abuso de direito, vem agora alegar e tentar defender coisa diferente.

K. Pelo que a existência de um contrato de seguro de acidentes de trabalho pelo recorrido não pode ser desconsiderada pelo Tribunal, constituindo um elemento essencial para afastar a presunção de laboralidade.

L. Acresce que, quanto ao indício mais relevante, não ficou provado que o recorrente desse ordens ao recorrido ou ordenasse qual o trabalho a efetuar, controlasse a sua assiduidade ou exercesse sobre ele poder disciplinar.

M. Tendo ficado provado que estava em causa um trabalho de equipa, realizado de forma sequencial, no qual se procedia, alternadamente, um ao traço da madeira com motosserra e à sua apanha e acondicionamento, é evidente que terá de existir alguma coordenação.

N. Contudo, tal coordenação não se assemelha à disciplina do trabalho, tratando-se de meras orientações, dirigidas tão só ao objeto do resultado.

O. Sendo certo que, pelo facto de existir uma pré-organização visando um trabalho em equipa o recorrido não ficava com a sua liberdade de ação e autonomia coartadas.

P. Muito embora se tenham verificado alguns indícios de subrdinação jurídica, esses indícios não são suficientes para se retirar a presunção de um contrato de trabalho.

Q. Na verdade, foram provados outros indícios que apontam manifestamente em sentido contrário, designadamente, não vinculação a horário de trabalho, a não sujeição a ordens, disciplina, poder disciplinar ou fiscalização pelo

recorrente e a existência de um contrato de seguro de acidente de trabalho para trabalhador independente em nome do recorrido.

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R. Em suma, não se pode concluir pela existência de subordinação jurídica entre o recorrido e a recorrente, não existindo qualquer contrato de trabalho.

S. Pelo que, estando em causa uma prestação de serviços, cabia ao recorrido assegurar as condições de segurança, sendo-lhe o acidente exclusivamente imputável, na qualidade de trabalhador independente.

Termos em que, deverá ser julgada procedente a presente apelação e, em consequência, revogada a sentença recorrida e substituída por outra que julgue a presente ação totalmente improcedente, absolvendo o 1.º réu, aqui recorrente, do pedido, com as legais consequências.

4. O autor respondeu e concluiu que a sentença deve ser mantida.

5. Colhidos os vistos, em conferência, cumpre decidir.

6. Objeto do recurso

O objeto do recurso está delimitado pelas conclusões das alegações formuladas, sem prejuízo do que for de conhecimento oficioso.

A questão a decidir consiste em apurar se existe acidente de trabalho.

II – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

A sentença recorrida considerou provada a seguinte a matéria de facto, que se transcreve:

1. O 1.º R. dedica-se à prestação de serviços de limpeza e abate de árvores adultas, em nome individual. (A)

2. Ao proceder ao corte de madeira com uma motosserra, o A. não utilizava qualquer equipamento de proteção individual, designadamente calças com entretela de segurança. (B)

3. Em 11.09.214, a responsabilidade decorrente de acidentes de trabalho abrangendo o A. no âmbito da profissão de motosserrista, encontrava-se transferida para a 2.ª R., por contrato de seguro de acidentes de trabalho titulado pela apólice n.º …, pela retribuição anual de € 8 400 (€ 600,00 x 14 meses), sendo tomador do seguro BB. (C)

4. O sinistro foi participado à 2.ª R., sendo a participação assinada por …. (D) 5. Em finais de agosto de 2014, a EE, Lda, contratou os serviços do 1.º R. para limpeza e abate de pinheiros mansos, na Herdade da …, em … (1).

6. Para a realização destes serviços, sob a sua coordenação, a partir de 01.09.2014, o 1.º R. contratou o A. para desempenhar as funções de motosserrista. (2)

7. Para tanto, o A. receberia a retribuição diária de € 50. (3)

(8)

8. De segunda a sábado, o 1.º R. juntamente com o A. e FF, deslocavam-se no veículo daquele para a Herdade, iniciando os trabalhos, em regra, entre as 7 e as 8 horas, almoçando juntos cerca de uma hora e trabalhando até às

16:00/17:00 horas. (4)

9. O 1.º R. procedia ao abate de pinheiros mansos no que era seguido pelo A.

para corte e apanha da respetiva madeira. (5)

10. O 1.º R. transportava o A. e o trabalhador FF, para o local de trabalho. (6) 11. A motosserra utilizada pelo A. no corte de madeira pertencia ao 1.º R., o que foi considerado no valor da retribuição fixada ao A. (8)

12. O 1.º R. fornecia o óleo e a gasolina para essa motosserra, o que foi considerado no valor da retribuição fixada ao A. (9)

13. No dia 11.09.2014, pelas 9 horas, quando o A. se encontrava no interior da Herdade da …, a cortar um tronco de madeira, a motosserra fez rejeição na madeira (ressalto/retrocesso) tendo resvalado e atingindo a sua perna direita.

(10)

14. Incumbia ao A. proceder ao corte da madeira, tal como acordado com o 1.º R. (11)

15. Após o acidente, o A. foi conduzido pelo 1.º R. ao Centro de Saúde de …, onde deu entrada pelas 09h:37m. (12)

16. O A. foi transferido desse Centro para o Centro Hospitalar …, onde foi admitido pelas llh:47m. (13)

17. No Hospital…, o A. foi operado e teve alta em 13.09.2014, para ser seguido pela Companhia de Seguros. (14)

18. Posteriormente, o A. veio a ser seguido pelo SNS. (15)

19. Em 10.02.2015, o Hospital… solicitou ao Hospital … a marcação de consulta de cirurgia plástica, a que o A. não compareceu por falta de meios económicos. (16)

20. À data do acidente, o A. não se encontrava coletado como trabalhador independente, contrariamente ao 1.º R. (17)

21. Com o conhecimento do A., no dia 09.09.2014, o 1.º R. efetuou contrato de seguro de acidentes de trabalho, em nome do A. e de FF, indicando-os como trabalhadores independentes, tendo liquidado os respetivos prémios, o que foi considerado no valor da retribuição fixada a ambos. (18)

22. Com a concordância do A., o 1.º R. indicou ao mediador de seguros …, o valor da retribuição segura de € 600 x 14 meses, referente ao A. (19)

23. Aquando do acidente, a esposa do 1.º R. dirigiu-se à companheira do A. e levou-a a efetuar a participação do acidente ao mediador de seguros. (20) 24. Em virtude do acidente, o A. teve de efetuar as seguintes deslocações, as duas primeiras em transporte público e a última em viatura automóvel:

-dia 10.02.2015 ao Hospital … para consultas;

(9)

-dias 17 de Abril e 18 de novembro de 2015 ao Gabinete Médico Legal;

-dia 22.12.2015 ao Tribunal do Trabalho em Santiago do Cacém. (22) 25. O A. suportou em despesas de transporte o valor de € 29,90. (23) 26. A motosserra atingiu a perna direita do A. acima do tornozelo. (25) 27. O A. não teve qualquer formação ministrada pelo 1.º R. referente ao manuseamento de motosserras, tendo aprendido sozinho a ver os outros a trabalhar. (28)

28. Em virtude de apresentar como sequelas limitação da articulação tíbio társica direita (mobilidade 15.°) e cicatriz dolorosa no terço distal da perna direita, foi fixada ao A. a incapacidade Temporária (ITA) entre 11.09.2014 até 17.04.2015, 219 dias, encontrando-se o mesmo afetado de Incapacidade Permanente Parcial (IPP) de 14,5%, desde a data da alta clínica, 17.04.2015.

(decisão de fls. 85 e 86 do Anexo)

29. O A. nasceu em 28 de outubro de 1990. (certidão de fls.86) B) APRECIAÇÃO

A questão a decidir consiste em apurar se existe acidente de trabalho.

O autor alega que foi vítima de uma acidente de trabalho, em virtude deste ter ocorrido quando prestava a sua atividade ao réu no âmbito de um contrato de trabalho.

O réu discorda, como pode ver-se claramente das alegações e conclusões que apresentou.

Importa, assim, apreciar se existia um contrato de trabalho entre o autor e o réu.

Prescreve o art.º 11.º do CT que contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua atividade a outra ou outras pessoas, no âmbito da organização e sob a autoridade destas.

Por sua vez, o art.º 12.º n.º 1 do mesmo código prescreve, além do mais, que:

presume-se a existência de contrato de trabalho quando, na relação entre a pessoa que presta uma atividade e outra ou outras que dela beneficiam, se verifiquem algumas das seguintes caraterísticas:

- A atividade seja realizada em local pertencente ao seu beneficiário ou por ele determinado (alínea a));

- Os equipamentos e instrumentos de trabalho utilizados pertençam ao beneficiário da atividade (alínea b));

- O prestador de atividade observe horas de início e de termo da prestação, determinado pelo beneficiário da mesma (alínea c));

- Seja paga, com determinada periocidade, uma quantia certa ao prestador de atividade, como contrapartida da mesma (alínea d)); e

- o prestador da atividade desempenhe funções de direção ou chefia na

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estrutura orgânica da empresa (alínea e)).

Está provado, além do mais, que:

O 1.º R. dedica-se à prestação de serviços de limpeza e abate de árvores adultas, em nome individual;

Em 11.09.214, a responsabilidade decorrente de acidentes de trabalho abrangendo o A. no âmbito da profissão de motosserrista, encontrava-se transferida para a 2.ª R., por contrato de seguro de acidentes de trabalho titulado pela apólice n.º …, pela retribuição anual de € 8 400 (€ 600,00 x 14 meses), sendo tomador do seguro BB;

O sinistro foi participado à 2.ª R., sendo a participação assinada por…;

Em finais de agosto de 2014, a EE, Lda, contratou os serviços do 1.º R. para limpeza e abate de pinheiros mansos, na Herdade da …, em …;

Para a realização destes serviços, sob a sua coordenação, a partir de 01.09.2014, o 1.º R. contratou o A. para desempenhar as funções de motosserrista;

Para tanto, o A. receberia a retribuição diária de € 50;

De segunda a sábado, o 1.º R. juntamente com o A. e FF, deslocavam-se no veículo daquele para a Herdade, iniciando os trabalhos, em regra, entre as 7 e as 8 horas, almoçando juntos cerca de uma hora e trabalhando até às

16:00/17:00 horas;

O 1.º R. procedia ao abate de pinheiros mansos no que era seguido pelo A.

para corte e apanha da respetiva madeira;

O 1.º R. transportava o A. e o trabalhador FF, para o local de trabalho;

A motosserra utilizada pelo A. no corte de madeira pertencia ao 1.º R., o que foi considerado no valor da retribuição fixada ao A.;

O 1.º R. fornecia o óleo e a gasolina para essa motosserra, o que foi considerado no valor da retribuição fixada ao A.;

Incumbia ao A. proceder ao corte da madeira, tal como acordado com o 1.º R.;

À data do acidente, o A. não se encontrava coletado como trabalhador independente, contrariamente ao 1.º R.;

Com o conhecimento do A., no dia 09.09.2014, o 1.º R. efetuou contrato de seguro de acidentes de trabalho, em nome do A. e de FF, indicando-os como trabalhadores independentes, tendo liquidado os respetivos prémios, o que foi considerado no valor da retribuição fixada a ambos;

Com a concordância do A., o 1.º R. indicou ao mediador de seguros …, o valor da retribuição segura de € 600 x 14 meses, referente ao A.;

Aquando do acidente, a esposa do 1.º R. dirigiu-se à companheira do A. e levou-a a efetuar a participação do acidente ao mediador de seguros;

O A. não teve qualquer formação ministrada pelo 1.º R. referente ao

manuseamento de motosserras, tendo aprendido sozinho a ver os outros a

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trabalhar;

Resulta da factualidade apurada que se verifica a característica própria que pode levar à presunção da existência de um contrato de trabalho referida na alínea a) do n.º 1 do art.º 12.º do CT, uma vez que o A. trabalhava em local e para uma entidade que contratara com o R. a prestação do serviço de abate de pinheiros mansos e este contratou o autor para prestar a atividade neste local.

De igual modo, verifica-se a caraterística prevista na alínea b), porquanto o A.

utilizava os equipamentos e instrumentos fornecidos pelo R., embora se dê como provado que seria considerado na retribuição.

Era paga diariamente uma quantia pecuniária certa ao A., como contrapartida da sua atividade (alínea d)).

O A. observava as horas de início e de termo da prestação de trabalho de acordo com o horário de trabalho do R., que o transportava para o local de trabalho e deste para casa, o que, embora não constituindo base para

presunção, deixa entrever alguma falta de autonomia do autor na escolha do tempo de trabalho e dependência em relação ao réu e, de certo modo, valida as presunções antes enumeradas.

Considerando ainda que: o contrato de seguro em que o autor é tomador foi da iniciativa do réu, que pagou o prémio respetivo; a participação do acidente à seguradora foi efetuada pela mulher do sinistrado, mas com o

acompanhamento da mulher do réu; a contratação do autor pelo réu para a prestação do trabalho na herdade, em que este era o coordenador, são elementos que vão no sentido de validar as presunções extraídas dos factos índice já referidos, contrariamente ao entendimento do apelante.

O R. não logrou provar factos que ilidam estas presunções, pelo que, nos termos do art.º 12.º n.º 1 alíneas a) a d) do CT, presume-se a existência de um contrato de trabalho entre o autor e o réu.

O art.º 283.º n.º 1 do CT prescreve que o trabalhador e os seus familiares têm direito à reparação de danos emergentes de acidente de trabalho ou doença profissional.

O art.º 8.º n.º 1 da Lei nº 98/2009, de 04 de setembro, prescreve que é

acidente, suscetível de ser qualificado como acidente de trabalho, aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e produza direta ou indiretamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte.

O sinistrado beneficia da presunção da existência de acidente de trabalho, nos termos da norma jurídica que acabamos de citar.

Os factos provados permitem qualificar o acidente sofrido pelo sinistrado como sendo de trabalho ao serviço do réu pessoa singular.

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Não são colocadas outras questões e não vemos que outras ocorram e que sejam de conhecimento oficioso.

Nesta conformidade, decidimos julgar a apelação improcedente e confirmar a sentença recorrida.

Sumário: Presume-se a existência de uma relação de trabalho subordinada, nos termos do art.º 11.º do CT, se ocorrerem as caraterísticas previstas no art.º 12.º n.º 1, alíneas a), b) e d) do CT, não ilididas pelo empregador, mas antes reforçadas por outros factos instrumentais.

III - DECISÃO

Pelo exposto, acordam os Juízes desta secção social do Tribunal da Relação de Évora em julgar a apelação improcedente e decidem confirmar a sentença recorrida.

Custas pelo apelante.

Notifique.

(Acórdão elaborado e integralmente revisto pelo relator).

Évora, 14 de setembro de 2017.

Moisés Pereira da Silva (relator) João Luís Nunes

Mário Branco Coelho

Referências

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