UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
A SOBREVIVÊNCIA MARCANDO PRESENÇA:
MOEMA ― MOVIMENTO DE MULHERES EMPREENDEDORAS DA AMAZÔNIA Verônica de Nazaré Alencar Coelho
MESTRADO EM EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO Área de especialização em Desenvolvimentos Social e Cultural Dissertação orientada pela Professora Doutora Ana Luísa Fernandes Paz
2021
UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
A SOBREVIVÊNCIA MARCANDO PRESENÇA:
MOEMA ― MOVIMENTO DE MULHERES EMPREENDEDORAS DA AMAZÔNIA
Verônica de Nazaré Alencar Coelho
MESTRADO EM EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO Área de especialização em Desenvolvimentos Social e Cultural Dissertação orientada pela Professora Doutora Ana Luísa Fernandes Paz
2021
Gente
Gente olha pro céu Gente quer saber o um Gente é o lugar De se perguntar o um
Das estrelas se perguntarem se tantas são Cada, estrela se espanta à própria explosão Gente é muito bom
Gente deve ser o bom Tem de se cuidar De se respeitar o bom Está certo dizer que estrelas Estão no olhar
De alguém que o amor te elegeu Pra amar
Marina, Bethânia, Renata Dolores, Suzana
Leilinha, Dedé
Gente viva, brilhando estrelas Na noite
Gente quer comer Gente que ser feliz
Gente quer respirar ar pelo nariz Não, meu nego, não traia nunca Essa força não
Essa força que mora em seu coração Gente lavando roupa
Amassando pão
Gente pobre arrancando a vida Com a mão
No coração da mata gente quer Prosseguir
Quer durar, quer crescer Gente quer luzir
Rodrigo, Roberto, Caetano Moreno, Francisco Gilberto, João Gente é pra brilhar Não pra morrer de fome Gente deste planeta do céu De anil
Gente, não entendo Gente nada nos viu Gente espelho de estrelas Reflexo do esplendor Se as estrelas são tantas Só mesmo o amor
Maurício, Lucila, Gildásio Ivonete, Agripino
Gracinha, Zezé Gente espelho da vida Doce mistério
Vida, doce mistério Vida, doce mistério Vida, doce mistério.
Composição e letra: Caetano Veloso
Dedicatória
Às Mulheres da minha vida: Nega, Bebé, Maria e Mazane.
E à companheira Leila, que foi arrancada da gente tão covardemente.
Agradecimentos
Mazane, minha irmã e companheira de lutas e sonhos. Conseguimos, mana!
Aos meus pais, Maria José e José Maria, obrigada pelo porto seguro de sempre.
Minhas avós, Maria de Nazaré (Vovó Nega) e Maria Luiza (Vovó Bebé), minhas santinhas.
À minha Rua Anchieta: vizinha Socorro, vizinho Zeca, Mazé, Pati, Bruno, Gustavo, Elizabeth, Socorro, Rose, João... Naná, minha menininha.
Didita, presente em todos os momentos.
Professora Beth, que atravessou o oceano para nos oferecer forças.
Tio Paulinho e tia Naza; tio Joãozinho, tio Quinca, tia Arlete e tio Edvaldo; tia Cidinha e Airton (pirulito), partes do que eu sou.
Primos e agregados: Vilciane, Felipe, Dani, Esterzinha e maridinho, Daniel, Natalia, Vivi.
Ao primo Gilson e a seus e-mails tão confortantes e à amiga Regina, minha porta voz.
À prima Cláudia, um espelho no campo do aprendizado.
Santa Maria, a capital do mundo e do meu coração, onde tudo começou; e à minhas companhias de sempre: Alessandra, Lu, Denis, Rangel, Wallison ― obrigada por estarem sempre aí.
Aos amigos e amigas: Jesus, Michelle, Marco Antônio (Teto), Neidinha, Marcia, Nicole, Márcia, Wânia, Paulo Cesar, Ruti.
Aos colegas de trabalho do SENAI (Dona Lúcia, Nelma, Fernando, Nayha, Tiago, Mourão, Eudes, Izaias, Márcio, Silas, Gilson, Paula).
UNIPOP e toda turma de educadores sociais de 2018, vocês não fazem ideia de como me deram forças para atravessar o oceano ― Talita, Janis, Raquel, Alexandre, Evellyn.
Rodrigo, obrigada pelos livros e pela dona Eva.
Natália, obrigada pela acolhida; Júlia, por me receber com flores catadas ao acaso.
D. Elizabete, obrigada pelo aconchego de uma casa portuguesa com certeza.
À família que fiz em Lisboa: Vanessa, Daniella (Kika da Vovó) e Duarte (Kiko da Vovó) Muito bom encontrar vocês. Obrigada!
Ao José, o tuga mais legal (fixe) de Portugal, Obrigada!
Turma do Mestrado 2018/2020, fomos uma turma singular, tenho certeza! (Lívia, Veronica,
Inêz, Patrícia, Ana Karla, Maria, Lorena, Deyse, Márcia, Cadu, e as portuguesas mais lindas
do país, Ângela e Adriana).
À amiga Janette e à toda sua africanidade. Gratidão!
Ao MOEMA – Movimento de Mulheres Empreendedoras da Amazônia, um símbolo de sobrevivência marcando presença, sempre.
Aos professores, de modo especial Isabel Freire, Carmen Cavaco e Ana Caetano.
À minha super-orientadora Ana Paz, que foi muito importante na caminhada, obrigada pelo olhar generoso e amigo.
Nazinha, tua devota pagará a promessa no próximo Círio.
“Se tem bigodes de foca, nariz de tamanduá, se é amigo de fato não precisa mudar”
(A turma do Balão mágico).
RESUMO
O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa biográfica de Mulheres participantes do Movimento de Mulheres Empreendedoras da Amazônia (MOEMA), estudando suas experiências dentro do movimento, sua maneira de organização e sua luta articulada no bairro da Marambaia, em Belém do Pará, Amazônia, Brasil. A metodologia utilizada para a realização desta foi a pesquisa e a entrevista biográfica. Trata-se de uma investigação situada no paradigma fenomenológico que se baseia em seis entrevistas biográficas com Mulheres do MOEMA, escolhidas de acordo com os critérios da participação ativa e do tempo de implicação no movimento. Para a análise, optou-se por uma transcrição integral, realizada pela própria investigadora, de modo a preservar também a informação não-verbal. Neste trabalho, apresenta-se o arcabouço conceitual sobre a Economia Solidária (E.S) no Movimento de Mulheres Empreendedoras da Amazônia (MOEMA) e demonstra-se o perfil e o percurso das Mulheres que fazem o MOEMA e como isso influenciou em suas trajetórias de vida. Seguidamente, a análise teve em conta nas entrevistas biográficas as temáticas dos principais eixos enunciados pelas seis Mulheres, uma vez que estas se organizam a fim de garantir uma melhor qualidade de vida; uma organização social; uma geração de renda, por meio de participação em feiras; além do acesso à cidade enquanto educadora/educativa, buscando seus direitos fundamentais, muitas vezes negligenciados pelo Poder Público; logo, um movimento social voltado para uma economia equânime, social e solidária. Há, ainda, lugar para um capítulo extra, dedicado ao crime de feminicídio sofrido por uma das entrevistadas no decorrer do trabalho. Como conclusões, este estudo aponta a sutil e importante questão de gênero vivida dentro do MOEMA; a prática de uma economia social e solidária; e a educação latente praticada no grupo e nas ruas da cidade onde o movimento acontece juntamente às Mulheres integrantes.
Palavras-chave: Mulher; Economia Solidária; Movimentos Sociais; Cidade
educadora/educativa; Educação.
ABSTRACT
The present work discusses the result of a biographical research of Women participating in the Movement of Women Entrepreneurs of the Amazon (MOEMA), studying their experiences within the movement, their way of organization and their articulated struggle in the neighborhood of Marambaia, in Belém do Pará, Amazon , Brazil. The methodology used to carry out this was a research and a biographical interview. It is an investigation located in the phenomenological paradigm that is based on six biographical changes with Women from MOEMA, chosen according to the active participation and the time of movement. For analysis, we opted for a full transcript, performed by the researcher herself, in order to also preserve non-verbal information. In this work, the conceptual framework on the Solidarity Economy (ES) in the Movement of Women Entrepreneurs of the Amazon (MOEMA) is presented and the profile and trajectory of the women who make MOEMA and how it influenced their life trajectories is demonstrated. Then, an analysis took into account in the biographical identifications as thematic of the main axes enunciated by the six Women, since these are organized to guarantee a better quality of life; a social organization; an income generation, through participation in fairs; in addition to access to the city as an educator, seeking their fundamental rights, which are often neglected by the government; therefore, a social movement aimed at an equitable, social and solidary economy. There is also a place for an extra chapter, dedicated to the crime of feminicide suffered by one of the interviewees during the course of work. How to do it, this study points out a gender issue and an important gender issue experienced within MOEMA; the practice of a social and solidarity economy;
and the latent education practiced in the group and in the streets of the city where the movement happens together with the women members.
Keywords: Woman; Solidarity Economy; Social Movements; Educating / Educational city;
Education.
ÍNDICE
Dedicatória ... 2
Agradecimentos ... 3
RESUMO ... i
ABSTRACT ... iii
LISTA DE IMAGENS ... vii
LISTA DE ANEXOS ... viii
Introdução ... 1
Capítulo I ― Enquadramento Teórico: O MOEMA – Movimento de Mulheres Empreendedoras da Amazônia ... 6
1. História do Movimento de Mulheres Empreendedoras da Amazônia- MOEMA ... 6
1.1 O MOEMA hoje ... 9
2. O gênero e sua sutileza ... 12
3. Uma outra economia é possível ... 23
3.1 Economia Solidária, Bem Viver e Educação...23
4. Movimentos Sociais e Cidade Educadora/educativa. ... 30
4.1 Movimentos Sociais ...30
4.2 A educação que vem das ruas. ...34
Capítulo II ― Metodologia de Investigação ... 41
1. Enquadramento metodológico ... 41
1.1 Objetivos do estudo e problemática ...41
1.2. Paradigma Fenomenológico Hermenêutico ...42
1.3 Pesquisa Biográfica ...43
1.4 Entrevista Biográfica ...46
2. Procedimento metodológico da investigação ... 48
2.1 Recolha de dados ...48
2.2 Tratamento e análise dos dados ...50
Capítulo III ― Análise dos Resultados ... 53
1. Histórias Reveladas ... 53
1.1 Trajetórias de Vida: uma breve apresentação das entrevistadas ...53
2. O MOEMA aos olhos e aos ouvidos de Verônica: no olhar e na fala de Leila, de Lindaura, de Maria, de Mazane, de Nazaré e de Socorro. ... 58
2.1 Percursos ...58
2.2 Gênero ...61
2.3 Um novo olhar: Economia Solidária e o Bem Viver ...64
2.4 Juntas podemos: Movimentos Sociais ...66
2.5 Aprendendo e ocupando: Cidade Educadora/Educativa ...68
2.6. A Partir do MOEMA ...72
Capítulo VI ― Leila: o capítulo que não deveria existir. ... 88
1. Simplesmente Leila. ... 88
1.2 Caminho de Leila ...92
1.3 O MOEMA e a Leila ...96
Conclusões ... 102
Referências Bibliográficas ... 107
Anexos ... 118
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1- Integrantes do MOEMA em uma confraternização...07
Imagem 2 - Integrantes do MOEMA em uma reunião...10
Imagem 3- Integrantes do MOEMA em uma Feira no Hangar – Centro de Feiras e Eventos da Amazônia...53
Imagem 4- Ato organizado pela frente feminista em Belém do Pará...90
Imagem 5 - Ato organizado no município de Curralinho...91
Imagem 6 - Velório da Leila em Belém do Pará...92
Imagem 7 - Leila durante sua campanha eleitoral no município de Curralinho, Ilha do Marajó, Pará, Amazônia, Brasil (Foto das redes sociais de Leila Arruda)...100
Imagem 8 – Anexo C – Participação em Feiras e Eventos...176
Imagem 9 – Anexo C – Marcha das Margaridas, Brasília, agosto/2011...176
Imagem 10 – Anexo C – Feira no Bosque Rodrigues Alves, Belém do Pará...177
Imagem 11 - Anexo C – Fórum Social Mundial, Belém do Pará...177
LISTA DE ANEXOS
Anexo A – Guião de Entrevista...115
Anexo B – Entrevistas...119
Anexo C – Imagens...173
Introdução
“Gente olha pro céu Gente quer saber o um”
(Caetano Veloso)
Este estudo é resultado de uma pesquisa de mestrado da Universidade de Lisboa (ULISBOA) do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, que teve por objetivo a análise das histórias de vida das Mulheres 1 que fazem o Movimento de Mulheres Empreendedoras da Amazônia (MOEMA), em Belém do Pará, Amazônia, Brasil.
O interesse pela investigação se deu pelo fato de eu ser uma Mulher amazônida que sempre estive envolvida nas lutas sociais e tive, no MOEMA, um espelho de luta, de resistência e de sobrevivência.
As questões sociais no Brasil têm sofrido profundas transformações nas últimas décadas, oriundas dos movimentos sociais, econômicos ou políticos. Apesar das transformações e dos retrocessos, pouco ainda se tem discutido sobre a questão da importância dos movimentos de Mulheres no contexto do empreendedorismo, da economia solidária, da cidade educadora/educativa e da organização social.
Muitos movimentos surgem com o ideal de uma economia mais justa face a uma sociedade capitalista e a uma economia popular, social e solidária aliadas à valorização da Mulher no seu contexto familiar e/ou profissional. É a respeito desse argumento que surge o Movimento de Mulheres Empreendedoras da Amazônia (MOEMA), uma associação de Mulheres artesãs de Belém do Pará, Amazônia, Brasil. O MOEMA emerge da necessidade de unir forças para uma luta em conjunto, buscando-se uma melhor maneira de vida em comunidade. Nesse contexto (movimento social), são desenvolvidos temas, como a questão de gênero, mesmo que não declarado e de maneira sutil, porém de muita relevância, a economia enquanto solidária é tratada como algo bem sólido no grupo; a cidade enquanto educadora/educativa e a educação que vem, naturalmente, das ruas.
Diante dessas breves ponderações introdutórias, esclarecemos que este estudo tem como objetivos gerais apresentar e analisar a história de vida das Mulheres que fazem o MOEMA, demonstrando-se um arcabouço conceitual sobre a Economia Solidária (E.S) no Movimento de Mulheres Empreendedoras da Amazônia (MOEMA), a fim de assinalar, assim, o perfil e o percurso das Mulheres que fazem o MOEMA e a influência destes em suas
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