• Nenhum resultado encontrado

Cad. Saúde Pública vol.14 número1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Cad. Saúde Pública vol.14 número1"

Copied!
2
0
0

Texto

(1)

O SUICÍDIO 25

Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):7-34, jan-mar, 1998 Ao in icia r estes b reves co m en tá rio s – q u e, n a

verd a d e, p reten d em -se co n trib u içõ es a o esti-m u lan te texto d o p rof. Everard o –, p reciso d e-m arcar e-m in h a in ten ção d e circu n screvê-los às p ersp ectivas extrasociológicas qu e o au tor, in -clu sive, m en cio n a a o fin a l d o seu a r tigo. Po r certo, n ão lh e cou b e d esen volvê-las, em razão d o a n co ra m en to em in en tem en te so cio ló gico d o seu tra b a lh o. Assim , ten ta rei a crescen ta r p ara o d eb ate algu n s asp ectos ep id em iológicos e b iom éd icos.

Com o é ap on tad o com p ertin ên cia, o (ago-ra) cen ten ário livro d e Du rkh eim sob re o su icí-d io costu m a, icí-d e fato, ser “con stan tem en te cita-d o com o ex em p lo cita-d e est u cita-d o ep icita-d em iológico” (p p. 17) [e a referên cia m ais freq ü en te ao estu -d o é relativa à falácia ecológica (viés -d e agrega-çã o o u cross- lev el b ia s)]. Nã o é p a ra m en o s, p ois a in vestigação, m esm o n ão se lim itan d o à “a p lica çã o d o m ét od o est a t íst ico” (co m o b em n os alerta o p rof. Everard o n a p ágin a 9), con s-titu i-se em u m m arco fu n d am en tal d a sociologia qu an titativa. E, com o se sab e, h á u m a gran -d e afin i-d a-d e em term os ep istem ológicos e m e-tod ológicos en tre am b os cam p os. In clu sive, tm os, sin totm aticatm en te, u tm con sagrad o ep id em iologista coem o coa u tor d e u em tra ta d o ch a -m ad o Sociology in M ed icin e(Su sser & Watson , 1971).

Em u m a clá ssica ob ra d a ep id em iologia , o referid o p esq u isa d o r (Su sser, 1973) u tiliza o tra b a lh o d u rkh eim ia n o p a ra ilu stra r o u tra faceta d e u m a d as am eaças à efetivid ad e d o m é -tod o ep id em iológico: o d en om in ad o con fou n -d in g– u m d os fan tasm as ab om in ad os p or ep i-d em iologistas em virtu i-d e i-d o p oten cial gerai-d or d e vieses (d e esp ecifica çã o, n o ca so ) n o in te -rio r d o s gru p o s p esq u isa d o s. Isto é, va riá veis qu e estão associad as tan to às variáveis d e estu -d o in -d ep en -d en tes, co m o à s -d ep en -d en tes. No estu d o em foco, a associação referid a é in versa. Se a va riá vel in d ep en d en te va ria d ireta m en te co m a d ep en d en te, p o r su a vez, a va riá vel d e d istorção (d istorter variable) varia in versam en -te com a variável d ep en d en -te e vice-versa. Em O Su icíd io, “con t rá rio à s p red ições d e su a s h i-p óteses sobre o su icíd io egoísta,[Du rkh eim ]d es-cobriu u m a raz ão absolu ta d e 1,4 en tre su icid as ca sa d os e n ã o ca sa d os n os a n os 1873 e 1878. Qu an d o os n ú m eros foram an alisad os p or id ad e, p orém , a raz ão se in verteu p ara toad os os gru -p os et á rios e sex os, com u m a ú n ica ex ceçã o” (Su sser, 1973: 101-102).

Na m esm a ob ra, o ep id em iologista su l-afri-can o ap resen ta o trab alh o d e Du rkh eim com o exem p lo d e “con sistên cia d e associações n a re-Lu is Dav id Cast iel

Dep a rt a m en t o d e Ep id em iologia e M ét od os Qu a n t it a t iv os em Sa ú d e, Escola N a cion a l d e Sa ú d e Pú b lica , Fu n d a çã o Osw a ld o Cru z , Rio d e Ja n eiro, Bra sil.

p licação d e estu d os”– u m d os critérios p ara es-tab elecerem -se n exos cau sais a p artir d as asso-ciações en con trad as n os estu d os ep id em ioló-gico s (a p esa r d o s ‘co n fu n d im en to s’).Dia n te d as taxas m ais elevad as d e su icíd io em n ações p rotestan tes, m ais b aixas em n ações católicas, e m o d era d a s em p a íses co m p o p u la çõ es m is-tas, o sociólogo fran cês p reten d eu m ostrar qu e as associações eram in d ep en d en tes d as m u itas o u tra s d iferen ça s a sso cia d a s en tre p ro testa n -tes e ca tó lico s a o d esa grega r o s n ú m ero s em gru p os e regiões (Su sser, 1973). Os tóp icos em foco foram d esen volvid os p or Selvin (1958), co-m o co n sta d a b ib lio gra fia a p resen ta d a p elo p rof. Everard o.

Na d écad a d e 90, com os d esen volvim en tos m eto d o ló gico s, co m p u ta cio n a is e a m o d ela -gem m atem ática n ão lin ear, os estu d os ecológicos p assam p or u m a reavaliação em seu p o -ten cia l in vestiga tivo. O p róp rio Su sser (1994), en tre o u tro s a u to res (Sch wa rtz, 1994; Ko o p -m a n &a-mp; Lo n gin i, 1994), p ro d u ziu tra b a lh o s d e reto m a d a d esta s técn ica s, u su a lm en te vista s com o esp ecialm en te su scetíveis aos vieses as-sin alad os.

Ago ra , a lgu n s p o n to s so b re a co n troversa q u estão: o su icíd io era ou n ão u m a m an ifesta -ção resu ltan te d e in flu ên cias d e ord em m en tal? Em o u tra s p a la vra s, a p ro b lem á tica rela çã o lou cu ra-su icíd io. Mesm o com a ‘d esm on tagem’ d este p o n to vista p ro p o sta p o r Du rkh eim a o in stitu ir a n oção d e an om ia com o d eclín io so-cia l e m o ra l, co n sta q u e a esco lh a d o su icíd io com o tem a, além d as razões in d icad as n o arti-go, d evia , ta m b ém , ser trib u ta d a a o fa scín io fran cês com os d esvian tes e as d ecorren tes ten -ta tiva s d e exp licá -lo s, “esp ecia lm en t e a q u eles q u e era m d egen era d os ou n ã o p od ia m con t ri-bu ir com o crescim en to d a p op u lação fran cesa” (Ha ckin g, 1990:64). Seja p ro ced en te esta a fir-m ação, seja in triga d e vizin h os, sep arad os p elo Ca n a l d a Ma n ch a , a verd a d e é q u e o co n ceito d e an om ia com o p atologia d o corp o social ad -q u iriu u m n ovo e im p o rta n te esta tu to co m Du rkh eim .

(2)

NUNES, E. D. 26

Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):7-34, jan-mar, 1998 ser con sid erad a, im p rop riam en te, com o ‘clín i-ca d as p op u lações’ (Alm eid a-Filh o, 1992).

A id éia d e a n o m ia está d e a co rd o co m o p rojeto d u rkh eim ian o d e b u scar as leis qu e re-gia m a s rela çõ es fu n cio n a is en tre o s d iverso s gru p os sociais. Nesta an álise d os fatos sociais, a a p roxim a çã o co m ca tego ria s b io ló gica s se con stitu em em d ecorrên cia lógica. Em am b as, a n oçã o d e “fu n çã o” p erm ite a rticu la r e exp licar a ação d e fatores e/ ou sistem as con stitu in -tes d as socied ad es com o a resu ltan te in terativa d este con ju n to (Ferrater, 1986).

En fim , p o r m a is a ca d êm ica q u e p reten d a-m os a-m an ter a qu estão, ela p rob lea-m atiza asp ec-tos cru ciais relativos aos m istérios d a con d ição (e d a su b jetivid a d e) h u m a n a q u e p o ssu i: 1) a reflexivid ad e p ara p en sar-se em term os id en ti-tá rio s e d isp o r d a id éia d e fu tu ro ; 2) a co n s-ciên cia d esta esp a d a d e Dâ m o cles q u e p a ira so b re n o ssa s ca b eça s – a m o rte co m o d estin o in exorá vel (a m en os q u e a b iologia m olecu la r tire ou tras su rp reen d en tes ovelh as d e su a cartola...); 3) a p ossib ilid ad e d e a ‘m ão’ q u e even -tu a lm en te ven h a a a cion a r ta l a rm a ser a p ró-p ria...

Ao fin a liza r, q u ero a ssin a la r q u e o p ro f. Everard o Du arte Nu n es n os trou xe u m b elo tra-b a lh o so tra-b re u m a d a s o tra-b ra s fu n d a m en ta is d e u m d os au tores sem in ais d a sociologia, cu ja te-m á tica p erte-m a n ece p ro d u zin d o p erp lexid a d e. E, sem d ú vid a, assim o será, sem p re.

ALMEIDA-FILHO, N., 1992. A Clín ica e a Ep id em iolo-gia.Rio d e Jan eiro: APCE/ Ab rasco.

FERRATER M., J., 1986. Diccion a rio d e Filosofia .

Mad rid : Alian za Ed itorial.

H ACKING, I., 1990. Th e Ta m in g of Ch a n ce.Ca m

-b rid ge: Cam -b rid ge Un iversity Press.

KOOPMAN, J. S. & LONGINI JR, I. M., 1994. Th e ecolo gica l effects o f in d ivid u a l exp o su res a n d n o n -lin e a r d ise a se d yn a m ics in p o p u la tio n s. Am eri-can Jou rn al of Pu blic Health, 84:836-842.

SCHWARTZ, S., 1994. Th e fallacy of ecological fallacy: th e p oten tial m isu se of a con cep t an d th e con se-q u en ces.Am erica n Jou rn a l of Pu b lic Hea lt h, 84:

819-824.

SUSSER, M. & WATSON, W., 1971. Sociology in M ed i-cin e.Lon d on : Oxford Un iversity Press.

SUSSER, M., 1973. Cau sal Th in k in g in th e Health Sci-en ces.New York: Oxford Un iversity Press.

SUSSER, M., 1994. Th e lo gic in th e eco lo gica l I. Th e lo gic o f a n a lysis. Am erica n Jou rn a l of Pu b lic Health, 84:825-829.

SUSSER, M., 1994. Th e logic in th e ecological II. Th e lo gic o f d e sign . Am erica n Jou rn a l of Pu b lic Health, 84:830-835.

A com u n id ad e acad êm ica d as Ciên cias Sociais co m em o ra , em l997, o s cem a n o s d a clá ssica o b ra d e Ém ile Du rkh eim , O Su icíd io. Fo i d e fu n d a m en ta l im p o rtâ n cia q u e u m d o s m a is p roem in en tes au tores e referên cia n acion al n o cam p o d a sociologia d a saú d e, o Professor Eve-ra rd o Du a rte Nu n es, ten h a n os b rin d a d o com u m a reflexã o so b re o tem a , fa zen d o em ergir u m d eb a te teó rico q u e d isp en sa co m en tá rio s p ela su a relevân cia e p ertin ên cia. Pela in iciativa, a com u n id ad e in telectu al d o cam p o d a sáu -d e fica -d even -d o m ais esse ato -d e gen erosi-d a-d e a Everard o, ao m esm o tem p o em qu e, com cer-teza , sen tir-se-á m o b iliza d a p a ra a p o rta r su a con trib u ição, p orqu e é p reciso d ar seqü ên cia à b u sca d e resp ostas p ara as q u estões q u e m oti-va ra m o b rilh a n tism o d o a u to r. Sem p re Du r-kh eim foi valorizad o p elos sociólogos sérios d e to d o o m u n d o, em b o ra n em to d o s co m u n -gu em com su as id éias p ositivistas. Mesm o es-ses são com p elid os a d iscu tir os p ressu p ostos e a s co n clu sõ es d e seu s estu d o s, so b retu d o n o q u e con cern e às relações en tre o in d ivíd u o e a socied ad e. O m esm o d eve ser feito em relação a O Su icíd io, p orq u e se trata d e u m a ap licação exem p la r d e As Regra s d o M ét od o Sociológico, o b ra p rim a d o p en sa m en to d e Du rkh eim , n o seu afã d e p rovar aos cien tistas d as áreas h ard qu e tam b ém a sociologia é e p od e ser ciên cia. O esforço realizad o p or Everard o foi d e re-to m a r a o b ra , O Su icíd ioe to rn a r p ú b lica s a s con trovérsias qu e ela d esp erta em vários au to-res. Neste sen tid o, n ão d eb aterei seu trab alh o, e, sim , b u scarei acrescen tar argu m en tos à d is-cu ssã o, o ra co n co rd a n d o, o ra d isco rd a n d o, e torn an d o atu ais as con d ições d e com p reen são d o tem a em p au ta. Em p rim eiro lu gar, é p reci-so lem b rar qu e a ob ra em qu estão tem sid o u m livro d e referên cia p ara a com p reen são d as re-la çõ es en tre ciên cia s so cia is e ep id em io lo gia , p rin cip a lm e n te n a s q u e stõ e s d e m é to d o. Em se gu n d o, va le re ssa lta r q u e o te m a d a v iolên -cia, n o in terio r d o q u a l a a u to a gressã o se in -clu i, o cu p a h o je, p rio rita ria m en te, a p a u ta d a sa ú d e co letiva , en q u a n to o b jeto d e reflexã o, ação p reven tiva e aten ção m éd ica.

Diferen tem en te d o s p a íses eu ro p eu s e d o Jap ão, o Brasil n ão ap resen ta altas taxas d e su i-cíd io n o seu q u a d ro d e m o rta lid a d e. Esses even tos rep resen ta m cerca d e 4% d o tota l d a s m o rtes p ela s ch a m a d a s ca u sa s exter n a s. No en ta n to, esse a ssu n to m ob iliza m u ito a socie-d asocie-d e, p orq u e, em geral, p ela n ossa visão cristã ocid en tal, o su icíd io é u m a verd ad eira afron ta, u m ato d e reb elião con tra o criad or. Ap esar d o estran h am en to qu e esse ato p rovoca em qu ase M a ria Cecília d e

Sou z a M in a yo

Referências

Documentos relacionados

The analysis of slang and puns currently used by physicians in three spe- cific areas (acquisition of knowledge, physi- cian-patient relationship, and the health sys- tem) draws out

[r]

O programa de trabalho da ENSP como Escola de Governo em Saúde será construído em estreita parceira com atores relevantes do Sistema Único de Saúde, como o Ministério da Saúde,

[r]

[r]

Carta-Testam

Com relação ao primeiro, creio ser extrema- mente oportuna a homenagem, não apenas pelo fato de Durkheim ter encontrado no suicí- dio “ um exemplo suficientemente significante

[r]