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Cad. Saúde Pública vol.14 número1

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Academic year: 2018

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NUNES, E. D. 20

Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):7-34, jan-mar, 1998

çã o, m a s n ã o n ecessa ria m en te a s fro n teira s d a n a çã o a gru p a ria m a s m elh o res exp lica çõ es p a -ra en ten d er este fa to so cia l. Pa -ra o B-ra sil, a p re-se n t a - re-se c o m o m é d ia a n u a l u m a t a xa d e 3,5 (p or cem m il h a b ita n tes), em b ora o Rio Gra n d e d o Su l a p resen te u m a ta xa con sta n te q u e é cer-ca d e três vezes esta m éd ia e, em term os d e su i-cíd io, a co m p a n h a a s ta xa s d o Uru gu a i e d a Ar-ge n t in a . De n t ro d e st a s re giõ e s, p a ra fica r m o s a p e n a s n o q u e n o s e st á m u it o p r ó xim o, e st a s t a xa s e st ã o d ist r ib u íd a s d e fo r m a d e sigu a l, a p resen ta n d o focos en d êm icos em m u n icip a lid a lid es ru ra is. O su icílid io n esta regiã o é em in en -t e m e n -t e m a scu lin o, n u m a ra zã o d e d is-t r ib u i-ç ã o p o r se xo (5/ 1) d a s m a is sign ific a t iva s d o m u n d o. Ou tra p ro b lem á tica a ser m a is estu d a -d a sã o o s m e io s b u sca -d o s p a ra a re a liza çã o -d o su ic íd io, n o c a so d o Su l d o Bra sil e d o Su l d a Am érica La tin a . O en fo rca m en to a p resen ta to-d a u m a p ecu lia rito-d a to-d e cu ltu ra l a ser a in to-d a m a is p en sa d a . Ma is recen tem en te, a s ta xa s d e su icí-d io re co ricí-d e s e st ã o n o s a n t igo s p a íse s so cia lis-t a s, su p la n lis-t a n d o in c lu sive a s h islis-t ó r ic a s lis-t a xa s d o s p a íse s n ó rd ic o s. Va le a in d a m e n c io n a r a gra n d e p r o b le m á t ic a a t u a l d a Ch in a c o m u m su icíd io r u ra l, fe m in in o, q u e, n o gr u p o e t á r io d e 15 a 25 a n o s, t e m u m a t a xa d e q u a se c in -q ü e n t a p o r c e m m il h a b it a n t e s. A Ch in a é o ú n ico p a ís o n d e o su icíd io é m a jo r ita ria m e n te fem in in o.

Nu m e r ic a m e n t e fa la n d o, o p r o b le m a q u e Du rkh eim esta va a n a lisa n d o com d a d os d a Eu -ro p a d o sécu lo p a ssa d o era b a sta n te m en o r d o q u e o p ro b le m a d im e n sio n a d o p e la s t a xa s d e su icíd io h oje. Ele esta va lid a n d o com ta xa s m é -d ia s e m t o r n o -d e -d e z p o r ce m m il h a b it a n t e s, sim ila re s à s d o Rio Gra n d e d o Su l, p e lo m e n o s n o ú lt im o m e io sé c u lo. Qu a n d o t ra b a lh a m o s co m lo ca lid a d e s e sp e cífica s, ta is co m o Ale gre -te o u Ve n â n cio Aire s, n o Rio Gra n d e d o Su l, o u com p op u la ções in d ígen a s esp ecífica s ta m b ém n o Su l d o Bra sil, o p rob lem a tom a , sociologica m e n t e e e m t e r m o s d e sa ú d e p ú b lica , d im e n -sõ es a ssu sta d o ra s – m esm o q u e p erd en d o a re-levâ n cia esta tística n a co m p a ra çã o d e ta xa s, já q u e se e st á t ra b a lh a n d o co m p o p u la çõ e s re la -tiva m en te p eq u en a s.

O su ic íd io, c o m o fe n ô m e n o so c ia l n a su a c o n figu ra ç ã o c lá ssic a a p re se n t a d a p o r Du r -kh e im q u e n o s le va a o c o n c e it o d e a n o m ia , é e m in e n t e m e n t e u r b a n o, m a sc u lin o e o c o r re em regiõ es eco n o m ica m en te m a is rica s. Resta -n o s q u e stio -n a r se, co m a i-n te -n sa glo b a liza çã o, o p ro cesso d e a n o m ia n ã o é viven cia d o a n teci-p a d a m e n t e, ist o é , se o se n t id o d e co la teci-p so o u n ã o co n fo r m id a d e co m n o r m a s e a co n sciê n -cia d e im p o ssib ilid a d e s d e a d a p ta çã o e in e xis-tên cia d e m eio s p a ra ta l, m ed ia n te u m p ro

ces-so d e in fo r m a ç õ e s m a ssific a d a s, a t in ge m a s p o p u la çõ e s ru ra is, p o te n cia lm e n te m igra n te s, b o ico ta n d o o p ro je to m e sm o d e m igra çã o, a n -te cip a n d o o e sta d o a n ô m ico ? Esta é se m d ú vid a u m a h ip ó te se p la u síve l: a vid e q u e, co m a in -t e n sific a ç ã o d a m o d e r n iza ç ã o, d e slo c o u - se o esp a ço socia l d a a n om ia e, con seq ü en tem en te, d o su ic íd io. Ou se ja , a in d a q u e d a d o s a t u a is p ossa m a p resen ta r rea lid a d es d istin ta s d a s q u e p e r m it ira m a Du rkh e im e la b o ra r u m a t e o r ia so b re o su icíd io, é su a t e o r ia q u e n o s p e r m it e d iscern ir esta s n ova s rea lid a d es.

Dep a rt a m en t o d e M ed icin a Socia l e Prev en t iv a , Fa cu ld a d e d e Ciên cia s M éd ica s, Pon t ifícia Un iv ersid a d e Ca t ólica d e Ca m p in a s, Ca m p in a s, Bra sil. Eliz abet h d e Leon e M on t eiro Sm ek e

Ma is u m a ve z o Pr o f. Eve ra rd o D. Nu n e s n o s b r in d a co m a va lo r iza ç ã o, re sga t e e m e m ó r ia d e c ie n t ist a s q u e m u it o c o n t r ib u íra m p a ra a e xp a n sã o d o co n h e cim e n to, tra ze n d o d e sa fio s q u e a in d a estã o n a o rd em d o d ia .

Co m o n ã o b a sta sse a e xte n sa e im p o rta n te o b ra d e Du rkh e im , t a m b é m a fo r m a c o m o é d isse ca d a p e lo p ro f. Eve ra rd o n o s e stim u la re -fle xõ e s. Esse im p a c t a n t e fe n ô m e n o, q u e n o s re m e t e à id é ia d a vio lê n cia m á xim a , d o a ssa s -s in a t o d e -si m e -sm o, d o a u t o - a n iq u ila m e n t o, a p e la n d o à in d ivid u a lid a d e m o n a d á ria d o se r h u m a n o, será a m p lia d o.

Nos ú ltim os cem a n os, n o p la n o in d ivid u a l, o s m éto d o s clín ico s e estu d o s d e ca so têm p er-m itid o a la rgá -lo p a ra a lé er-m d a co n sciê n cia , ge-ra n d o o co n ceito d e a u to -d estru içã o, a o co n si-d era rm o s a a gressã o / vio lên cia len ta o u a gu si-d a , c o n sc ie n t e o u n ã o, so b re si m e sm o c o m o o d e sfe ch o d e a t it u d e s a u t o d e st ru t iva s o b se r va -d a s n a e xp o siçã o vo lu n t á r ia a sit u a çõ e s sa b i-d a m e n t e i-d e a lt o r isc o, p re i-d isp o siç ã o m a io r a a c id e n t e s, so m a t iza ç õ e s q u e d e sc o m p e n sa m d o en ça s crô n ica s etc.

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O SUICÍDIO 21

Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):7-34, jan-mar, 1998

p o r ca u sa s e xt e r n a s co in cid e co m a d ist r ib u i-çã o ge o grá fica d a p o b re za e d a s o rga n iza çõ e s cla n d e stin a s m ilita riza d a s. A d istrib u içã o ge o -grá fica d a s m o rte s p o r a cid e n te s co m ve ícu lo s a m o t o r é a m e sm a d a a b e r t u ra d e a r t é r ia s ro -d oviá ria s em m eio e à revelia -d e p ovo a -d o s -d es-p ro te gid o s. A d istrib u içã o ge o grá fica d a s m o rte s p o r q u e d a n o tra b a lh o é a m e sm a d o s ca n -t e iro s d e o b ra . E q u a n d o so m a m o s a s m o r -t e s o c o r r id a s p o r c a u sa s e xt e r n a s c o m a s m o r t e s o co rrid a s p o r d o e n ça s d o fíga d o e cirro se, q u e e xp re ssa m b o a p a r t e d a s in t o xic a ç õ e s, e st a s su p e ra r ã o e m m a is d e d u a s ve ze s a p r in c ip a l ca u sa ca u sa d e m o rte en tre n ó s (d o en ça s cere-b ro -va scu la res) (Ca sso rla & Sm eke, 1994).

Tu d o isso n o s su ge re q u e o fe n ô m e n o d o su icíd io é a p a rte visivelm en te m a is d ra m á tica d e u m t o d o a m a lga m a d o p o r re la çõ e s e p rá t ic a s q u e ic o n st it u e m o p r o ic e sso q u e p o d e r ía -m o s ch a -m a r d e a u t o d e st r u içã o h u -m a n a , -m a is p rofu n d a s q u e os lim ites d a con sciên cia e m a is en vo lven tes q u e o s lim ites d o in d ivíd u o.

A a n a t o m ia d e s s e fe n ô m e n o, d e s s e s u ic í-d io – m o r t e í-d a h u m a n ií-d a í-d e p e rp e t ra í-d a p e lo s p ró p r io s se re s h u m a n o s –, co m o a u t o d e st ru i-çã o h u m a n a p od eria ser recla ssifica d a p ela óti-ca d o a gressor d ireto em rela çã o à vítim a , d a d o o a p e lo o b je t a l o n d e o co rre, p o r re la çã o d e a l-go co n tra a ll-go e d o in d ivu d u a l a o co letivo. • In d ivid u a l a u to -re fe rid o : q u a n d o o a ge n te, co n scie n t e m e n t e o u n ã o, p ra t ica a t o s q u e sa -b id a m e n t e irã o d e st r u í- lo. Aí se in clu ir ia m o s su icíd io s p ro p ria m en te d ito s, d ro ga d içã o, p a r-te d a s m o rr-te s a cid e n ta is, e xp o siçã o vo lu n tá ria a situ a çõ es d e a lto risco.

• In d ivid u al referid o ao ou tro: q u an d o o agen -t e, co n scie n -t e m e n -t e o u n ã o, p ra -t ica a -t o s q u e d e stru irã o u m o u tro. Aí in clu em -se o s h o m icíd ios, ou tra p a rte icíd a s m ortes a ciicíd en ta is, p or en -ven en a m en to s, exclu sã o e vin ga n ça .

• Co le t ivo a u t o re fe r id o : q u a n d o gru p o s so cia is p ra t ica m a çõ e s q u e ir ã o d e st r u í lo s. Ca -sos em q u e se ob ser va o estím u lo à com p etiçã o e xclu d e n t e, gu e r ra s, d ificu ld a d e d e o rga n iza -ç ã o so c ia l e p o lít ic a d e d ife re n t e s c a t e go r ia s so cia is, su b o rd in a çã o d a s exp ressõ es d e vid a e su a s rela çõ es co m o p la n eta a in teresses d o lu -cro im ed ia to.

• Coletivo referid o ao(s) ou tro(s): q u an d o gru -p o s so cia is d e se n vo lve m -p o lít ica s q u e, d ire t a o u in d ire t a m e n t e , b u sc a m a e lim in a ç ã o d e gru p os selecion a d os. Aí ob ser va m -se a s form a s d e o rga n iza çã o d o e sp a ço u rb a n o, a s p o lít ica s e co n ô m ica s e so cia is, o p ro ce sso e d ivisã o so -cia l d o tra b a lh o, ch a cin a s, a p erversa d istrib u i-çã o d e ren d a , m a n u ten i-çã o d e m o rta lid a d e eleva d a p o r d o e n ç a s p re ve n íve is, p o lu iç ã o a m -b ien tal, p ráticas d e su -b ord in ação/ exclu sã o / d

e-sigu a ld a d e ju ríd ica d ir igid a , d isp o n ib iliza çã o d e re cu rso s irre ve rsíve is d e d e st r u içã o (a r m a s d e fo go ).

Tu d o isso co st u m a se r t ã o fre q ü e n t e e t ã o so cia lm e n t e a ce it o q u e p a re ce a lgo d a d o, in e -re n t e à co n d içã o h u m a n a . Os p ovo s se m p -re gu e rre a ra m e a o m e sm o t e m p o se a lia ra m , a s cla sse s o rga n iza m - se e re a rra n ja m - se, a s p e s-soas am am -se e od eiam -se. O q u e fazem os com isso? En q u an to com p õem u m p rocesso d e eq u i-líb rio in stá vel e, p orta n to, en d êm ico, a in d a va i; m a s o q u e n o s in q u ie t a e, a o m e sm o t e m p o, m o st ra a o p o r t u n id a d e e m lid a r n ova m e n t e com esta tem á tica a p a r tir d o referen cia l sócioc u lt u ra l sócioc o m o le m b ra Nu n e s a o t ra ze r Du r -kh eim , é o ca rá ter ep id êm ico, m a is n efa sto q u e u m a gu e r ra d e c la ra d a , d e q u e o p r o c e sso d e a u t o d e st r u iç ã o h u m a n a se re ve st e n o Bra sil. Fa lta d e religiã o e d e m o d elo s d e id en tifica çã o, a n om ia , fa lta ou excesso d e in clu sã o? O q u e fa -zer?

Os vários olh ares vêem os fen ôm en os a p on -t a d o s c o m o d ife re n -t e s fo r m a s d e vio lê n c ia , m a s tod a s ela s resu lta n d o em m a n eira s d e d est r u içã o d e se re s h u m a n o s, fa ciliest a d a s o u p ro -vo ca d a s d ireta m en te p o r si m esm o s o u in d ire-t a m e n ire-t e p e lo p r ó p r io a m b ie n ire-t e h u m a n o e m q u e vivem , in terroga n d o p elo com p on en te su i-cid a d a s so cie d a d e s. A ‘cu lt u ra t ó xica’, d e Ka lin a & Kova d lo ff (1983), su ge re q u e o s fe lin ô m e -n o s a sso cia d o s à a u to d estru içã o h u m a -n a co lo-cam -se sob d eterm in ações com u n s. Mas q u ais? Te o ria s p sica n a lítica s in d ica m q u e, a o la d o d e a sp e ct o s lib id in a is, e ró t ico s, e xist e m co m -p o n e n te s a u to d e str u tivo s q u e fu n cio n a m -p e r-m a n en ter-m en te n a d in â r-m ica d o ser p a ra si e er-m so c ie d a d e . Pe r m it e m c o git a r q u e a m o r t e e a vid a , n a p esso a , sã o p ó lo s ten so s em q u e o p ri-m e ir o, in d ivid u a lri-m e n t e , se ri-m p re ve n c e. Sã o p u lsõ e s d e vid a e d e m o r t e q u e se a r t ic u la m co m fa t o re s e xt e r n o s, o u m e sm o a t r a e m - n o s. Po r o u tro la d o, essa s teo ria s a ju d a m ta m b ém a p e rce b e r q u e, a q u ilo d e q u e n ã o go sta m o s, es-p e cia lm e n t e e m n ó s m e sm o s, es-p ro je t a m o s n o s o u t ro s. Da í a e n t e n d e r p o r q u e se gm e n t o s so-c ia is so-c o lo so-c a m e m o u t r o s t o d a s a s m a ze la s d o m u n d o, é u m p a sso. Afin a l, “o in fern o sã o os ou tros”, co m o d izia Sa rt re. O la d o cria tivo p re -d o m in a q u a n -d o h á a in ter n a liza çã o -d e o b jeto s b o n s, p ra ze ro so s c o n st it u íd o s p e la s re la ç õ e s esta b elecid a s d esd e a co n cep çã o.

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-NUNES, E. D. 22

Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):7-34, jan-mar, 1998

n h o r a b so lu t o d o s d e st in o s d a h u m a n id a d e . So b a é gid e d o n ovo o rga n iza d o r, a so cie d a d e cr ia u m ce n á r io e u m ca ld o cu lt u ra l o n d e d e -sen vo lvem -se e estim u la m -se p rá tica s ca ra cte-r iza d a s p e la m a n ife st a ç ã o d e fa t o cte-re s in d ivd u a is q u e ivd ificu lt a m o a ce sso a u m a h u m a n i-d a i-d e cr ia t iva , q u e viva p a ra a vii-d a , n ã o p a ra a m o r t e . Co m o fe n ô m e n o s q u e se c a p ila r iza m n e ssa ‘cu lt u ra t ó xica’, a m a n ife st a çã o d e a u t o -d eterm in a çã o -d o s su jeito s se fa z a tra vés -d a eli-m in a ç ã o d e q u a lq u e r e le eli-m e n t o q u e p a re ç a a t ra p a lh a r. E, p e lo s m a is d ife re n te s ca m in h o s, a elim in a çã o/ exclu sã o coloca -se com o a lter n a-t iva vá lid a , à s ve ze s va lo r iza d a , o u a-t ra s ve ze s b a n a liza d a , m a s sem p re fa cilm en te viá vel.

A m o r t e, p r o d u t o fin a l d a a u t o d e st r u iç ã o, t e m - se c o n figu ra d o c o m o u m gra n d e lim it e p a ra o se r h u m a n o. Na d e p e n d ê n cia d a s d ife-re n t e s c u lt u ra s, vist a c o m o fim o u via ge m , é u m p o n t o d e in fle xã o q u a lit a t iva , a b so lu t a e in e xo rá ve l, im p o st a p e la co n d içã o b io h u m a -n a , -n o p la -n o i-n d ivid u a l. Já -n o p la -n o co letivo, a lo n ge vid a d e o b t id a e p o ssíve l d a e sp é cie p e r-m it e so n h a r c o r-m e t e r n id a d e , so r-m e n t e viá ve l p o r referên cia a m o ro sa e co n stru tiva d o co leti-vo h o r izo n t a l e d e sc e n d e n t e , a n c o ra n d o - se , p o rta n to, n o m eio a m b ien te e n o fu tu ro.

O p o d e r so b re a vid a e a m o r t e a t r ib u íd a a Deu s, n a m orte n a tu ra l; à m ed icin a , n o con tro -le c ie n t ífic o d a d o e n ç a ; a o p o d e r p o lít ic o, n a d e fin içã o d e co n d içõ e s d e vid a fa vo r á ve is; a o m e rc a d o, n o c o t id ia n o d a s re la ç õ e s, c o lo c a m o s seres h u m a n o s reb eld es, fren te a u m d ilem a d e a u to d eterm in a çã o. Será vista a í u m a b rech a p a ra m a n ife st a r a c a p a c id a d e a u t o ge st o r a , o p o d e r, a co ra ge m , a a u t o n o m ia , m a t a n d o a si o u a o o u tro, to rn a n d o -se, n a cu ltu ra d a su b o r-d in a çã o / exclu sã o, sen h o r r-d e a lgu m r-d estin o.

O ser h u m a n o, su jeito e ob jeto d e a lgo d efin id o a cim a d e su a esfera d e d ecisã o – a iefin evita -b ilid a d e d a m orte n o p la n o in d ivid u a l –, su gere a im p o r t â n cia d o co n h e cim e n t o e e st u d o d o s fe n ô m e n o s p síq u ico s e d a s n e u ro ciê n cia s q u e p o d erã o exp lica r o p ro cesso p elo q u a l o co rrem a s m e d ia çõ e s – q u e t ra n sfe re m o b je t o s e xt e r -n os d a d os -n o co-n texto sócio-cu ltu ra l, p or m eio d e re la çõ e s, p a ra o s in t e r n o s, t ra n sfo r m a n d o o s e m se n t im e n t o s, c a p a c id a d e d e u so d a in -t e ligê n c ia , c irc u i-t o s d e p e n s a m e n -t o , d e c is ã o e tc. –, b em co m o a s d iferen tes m o d a lid a d es d e a p re e n sã o d o re a l e d e re sp o n d e r p e r gu n t a s, su gerin d o d iferen tes fo rm a s d e existir.

“ ...h a ev oca d o a m en u d o el resp et o q u e la brad ores y m arin eros alim en tan h acia el m u n -d o -d el qu al viven . Ellos saben qu e n o se -d an ór-d en es a l t iem p o y q u e n o se a t rop ella el crescim ien t o d e los seres v iv os (...). Deb ecrescim os a p ren -d er, n o a ju z gar la p oblación -d e con ocim ien tos,

d e p rácticas, d e cu ltu ras p rod u cid as p or las so-cied a d es h u m a n a s, sin o a en t recru z a rlos, a es-tablecer com u n icacion es in éd itas en tre ellos qu e n os p on gan en con d icion es d e h acer fren te a las ex igen cia s sin p reced en t es d e n u est ra ép oca .”

(Prigo gin e & Sten gers, 1990)

A re fle xã o n a á re a d a sa ú d e c o le t iva t e m se m p re, c o m o p re o c u p a ç ã o b á sic a , a s a ç õ e s q u e p o d e d e se n ca d e a r e m n íve l d e p ro m o çã o, p ro teçã o e re cu p e ra çã o d a sa ú d e. Assim , a im p o rtâ n cia d a s co n sid era çõ es a cim a p a ra a sa ú d e p ú b lica re p o u sa n a su a ca ra cte rística e sp e -ra n ça d ia lé t ica e n a co n fro n t a çã o e n t re re a li-d a li-d e e li-d e se jo, n o q u e se re fe re a fa t o re s q u e co rro b o ra m p a ra a a u to d estru içã o h u m a n a , li-ga d o s d ireta m en te à n o ssa á rea .

O c o n h e c im e n t o d isp o n íve l a p o n t a q u e o p rocesso a u tod estru tivo está liga d o à d in â m ica d e fu n cion a m en to d o m u n d o in ter n o. Pa ra q u e se co n st it u a u m m u n d o in t e r n o p ovo a d o p re -d o m in a n t e m e n t e -d e b o n s o b je t o s, a lé m -d e co n sid e ra r m o s fa t o re s co n st it u cio n a is, t e m o s q u e n o s co m p ro m e t e r p e sso a l e p ro fissio n a l-m e n t e , c o n t r ib u in d o p a ra a c o n st it u iç ã o d e a m b ie n t e s p ro p ício s, o n d e a s p e sso a s p o ssa m d esen vo lver-se a tra vés d a id en tifica çã o co m figu ra s ca rin h o sa s. Po r m a is d ifícil q u e se ja e n -fre n t a r fa t o re s so cia is p e r ve r so s, e ssa ca p a ci-d a ci-d e p e rsist e e p o ci-d e m o s a p re n ci-d e r m u it o co m gru p o s so cia is exclu íd os, q u e vivem n o estreito lim ite d a so b revivên cia .

Po r o u tro la d o, a in d a q u e n ã o e xista m p ro -b le m a s d e so -b re vivê n c ia , o s va lo re s so c ia is p e sso a lm e n te vivid o s tê m fa cilita d o a p re p o n -d e râ n cia -d e m a u s o b je t o s. A cu lt u ra n a rcísica , a d isso c ia ç ã o e n t re o m a t e r ia l e o a fe t ivo, o p ra zer im ed ia to e a com p etiçã o exclu d en te q u e e n vo lve t a m b é m o s e st ra t o s m é d io s e a lt o s d e n o ssa s p o p u la ç õ e s d ific u lt a m o u im p e d e m a in t ro je çã o d e b o n s o b je t o s, e m q u e o b e m -e sta r m a teria l en con tra se d ivorcia d o d a felicid a -d e p esso a l.

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O SUICÍDIO 23

Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):7-34, jan-mar, 1998 Secret a ria d e Est a d o d a

Sa ú d e d e Pern a m b u co, Recife, Bra sil. Dja lm a Agrip in o d e M elo Filh o

Qu a n d o se co n te m p la m As Ce n a s d a Vid a Bra sile ira : 19301954, d e Jo ã o Câ m a ra Filh o, co n -ju n t o d e p a in é is e xp o st o s n o Mu se u d e Ar t e Mo d e rn a Alo ísio Ma ga lh ã e s, n o Re cife, te m -se a se n sa çã o d e e st a r p a rt icip a n d o co m o a t o re s d e a c o n t e c im e n t o s re le va n t e s d a h ist ó r ia d o Bra sil. Lo p e s (1995:54) le m b r a q u e o p in t o r “Em algu m as obras, arqu it et a cen as e cen ários em q u e figu ra s se p rojet a m com t a l v erossim i-lh an ça, com o se estivessem vivas n o écra nd a te-la p a ra n os en ca ra r, p rov oca r e d esa fia r. M a s len t a m en t e, v a m o n os d a n d o con t a d os p a ra -d ox os e -d a b la gu e, seja p elo rid ícu lo d a s a t it u -d es e ações, seja p elas am p u tações, torções e ro-tações qu e im p rim e ao corp o ou a p artes d ele”. Nu m a d a s cen a s, p recisa m en te a in titu la d a 1954-II (ó leo so b re tela estica d a so b re m a d eira – 80cm x 240cm ), e xe cu ta d a e n tre 1975 e 1976, a p a rece a im a gem in d efesa e im p o ten te d e Ge-tú lio Vargas circu n d ad a p or elem en tos q u e evo-cam o silên cio d o su jeito: u m telefon e com o fio cortad o, u m a m esa d e b ilh ar fech ad a (fim d e jo-go ), u m p eru (sím b o lo m a n eir ista d o d estin o e d o p e r igo ) (Lo p e s, 1995:145- 148). Se gu ra n d o u m re vó lve r, a s m ã o s d e Va rga s e st ã o a m p u t a -d a s e vo lt a -d a s co n t ra e le p ró p r io. Era co m o se e la s n ã o fo sse m d o Pre sid e n t e, m a s d e u m e s-p ectro d e u m h om icid a on d e só as m ãos as-p arece sse m , fica n d o o cu lto o re sto d o co rp o. O su -jeito a u sen te cu m p re a sen ten ça d ecreta d a p ela s ‘e st ru t u ra s’, co m o e n fa t iza a p ró p ria ca rt a -t e s-t a m e n -t o : “M ais u m a vez , as forças e os in te-resses con tra o p ovo coord en aram -se n ovam en te e se d esen ca d ea ra m sob re m im . N ã o m e a cu -sa m , in su lt a m ; n ã o m e com b a t em , ca lu n ia m e n ão m e d ão o d ireito d e d efesa. Precisam su focar a m in h a voz e im p ed ir a m in h a ação, p ara qu e eu n ão con tin u e a d efen d er, com o sem p re d efen -d i, o p ovo e p rin cip alm en te os h u m il-d es. Sigo o d estin o qu e m e é im p osto” ( Va rga s, 1980:65). p a res, seu s a p ren d izes, a s p esso a s em cu id a d o,

o u m esm o u su á rio s d o territó rio.

In fle xã o n o m o d e lo a ssist e n c ia l, in c o r p o ra n d o a s p rá tica s q u e in te gra m a sp e cto s e m o -cion a is, b em com o a “escu ta p oética d a n atu re-z a”, d e Prigo gin e & Sten gers (1990), n o sen tid o d e n o s ca p a cit a r m o s p a ra d ia gn o st ica r p re co ce m e n t e a s sit u a çõ e s d e fru st ra çã o, p e rd a , so -frim e n to e m o cio n a l e m p e sso a s m a is vu ln e rá-veis, ela b o ra n d o p ro p o sta s p a ra lid a r co m seu s o b je t o s in t e r n o s e co m a re a lid a d e e xt e r n a d e fo rm a cria tiva .

Cr ia çã o d e co n d içõ e s q u e p e r m it a m o d e -sen vo lvim en to d a a u to -estim a p esso a l e d a so-c ie d a d e, o n d e se ja m re d e sso-c o b e r t a s a lt e r n a t i-va s p a ra a m a n ife st a çã o d a a u t o d e t e rm in a çã o d o s su jeito s.

A com p reen sã o e a va loriza çã o d os d iferen -tes m u n d o s cu ltu ra is e d a s d iferen -tes fo n -tes d e c o n h e c im e n t o sã o n e c e ssá r ia s: p a r t e d a d ifi-cu ld a d e n a ela b o ra çã o d o s lu to s tem a ver co m a c o n fu sã o a o lid a r c o m p e rd a s e m o r t e e m n o ssa so c ie d a d e . Co n d u t a s a u t o d e st r u t iva s, a in d a q u e gera d o ra s d e rep ú d io, d evem ser es-t u d a d a s, c o m p re e n d id a s e p a r es-t ilh a d a s, p a ra q u e a p e sso a te n h a co n d içõ e s d e m e lh o re s e s-c o lh a s, t a n t o d a p a r t e q u e a p a re n t e m e n t e é a gen te (p o rq u e a q u a lq u er m o m en to o q u a d ro p o d e re ve r t e r- se c o n t ra e la ), c o m o d a p a r t e q u e se su b m ete à vio lên cia , sem rea gir.

O fa to d e se a d m itir q u e o m erca d o glo b a liza d o é o gra n d e im p e ra d o r p o d e se r u m a va n -ço, u m lim ite a p a rtir d o q u a l o p ên d u lo in ver-t e rá se u se n ver-t id o. Fica visíve l p a ra a so cie d a d e q u e d e u se s e c iê n c ia s a p e n a s m a sc a r a ra m o q u e h oje a p a rece com o o verd a d eiro p od er. Es-sa to m a d a d e co n sciên cia p ren u n cia a p o ssib i-lid a d e d e t ra n sfo r m a çã o n u m p ro ce sso civili-za tório con stru tor d e visões d e vid a . E se “o ob-jeto d a sociologia (...)é d eterm in ar as con d ições p a ra a con serv a çã o d a s socied a d es”, o o b je t o d a s ciê n cia s d a sa ú d e é a co n se r va çã o d a s so -cied a d es n a b u sca d a p len itu d e d e seu b em es-ta r b io -p sico -so cia l. Ten d o em vises-ta a esca la d a e p id ê m ic a d a a u t o d e st r u iç ã o h u m a n a , e sse s p ro p ó sit o s só p o d e r ã o se r a t in gid o s p e la m u -d a n ça ra -d ica l -d a cu lt u ra t ó xica p a ra u m a cu l-tu ra e co ló gica , q u e e n fre n te a lu ta n o n íve l e s-tru tu ra l, “abrin d o cam in h os p ara tod os e n ão só p a ra a lgu n s”, e n o n íve l m o le cu la r, co t id ia n o, p or m eio d a reflexã o e d o a feto (Mora es, 1991).

CASSORLA, R. M . S. & SM EKE, E. L. M ., 1994. Au t o -d e st r u içã o h u m a n a . Cad ern os d e Saú d e Pú blica, 10 (su p l. 1):61-73.

KALINA, E. & KOVADLOFF, S., 1983. As Cerim ôn ias d a Destru ição. Rio d e Ja n eiro: Fra n cisco Alves.

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Referências

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