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Multiparentalidade no direito de família brasileiro

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Academic year: 2021

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MARIÉLI ANDRÉIA KROHN

MULTIPARENTALIDADE NO DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO

Três Passos (RS) 2020

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MARIÉLI ANDRÉIA KROHN

MULTIPARENTALIDADE NO DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO

Monografia final do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, apresentado como requisito parcial para a aprovação no componente curricular Metodologia da Pesquisa Jurídica. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Sérgio Luís Leal Rodrigues

Três Passos (RS) 2020

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Dedico este trabalho à minha família, por todo apoio, compreensão e incentivo.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por me permitir chegar até aqui e sempre me dar forças. A minha família, em especial aos meus pais e minha irmão. Sem vocês a realização desse sonho não seria possível.

Ao meu namorado, pela compreensão e apoio.

Ao meu orientador MSc. Sérgio Luís Leal Rodrigues, pelo suporte e incentivo durante todo o processo.

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“Nessa incessante busca por um direito mais humano, vários foram os paradigmas quebrados, como o fim da unicidade do casamento como exclusiva forma de família, a igualdade dos filhos, qualquer que seja a origem, o fim da discussão da culpa para o término da sociedade conjugal, a ausência de requisitos para a decretação do divórcio e o reconhecimento das uniões homoafetivas. Democrática e solidária: assim é que se denomina a família de hoje’’ (Maria Goreth Macedo Valadares).

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise acerca da multiparentalidade no direito de família Brasileiro. Buscando compreender seu conceito, suas principais características e analisando a importância que o afeto representa na vida de muitas pessoas, enfatizando que a afetividade é o princípio norteador da multiparentalidade. Averiguando quais os efeitos que o tema tem no registro civil, além dos efeitos parentais e sucessórios que o assunto possibilita. Buscou-se examinar a visão jurisprudencial acerca da multiparentalidade, seus principais entendimentos tanto no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, como no Superior Tribunal de Justiça e o caso revolucionário do Supremo Tribunal Federal.

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ABSTRACT

The present work of conclusion of the course analyzes the multiparenting in Brazilian family law. Seeking to understand its concept, its main characteristics and analyzing the importance that affection represents in the lives of many people, emphasizing that affectivity is the guiding principle of multiparenting. Investigating what effects the theme has on the civil registry, in addition to the parental and succession effects that the subject allows. We sought to examine the correct jurisprudential view of multiparenting, its main understandings both in the Court of Justice of Rio Grande do Sul, as in the Superior Court of Justice and the revolutionary case of the Supreme Federal Court.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1 PRECISÃO CONCEITUAL ... 11

1.1 Conceito de multiparentalidade ... 12

1.2 Características. ... 15

1.3 A afetividade como fundamento da multiparentalidade ... 19

2 EFEITOS DA MULTIPARENTALIDADE ... 22

2.1 No registro civil ... 22

2.2 Efeitos parentais ... 27

2.3 Efeitos sucessórios ... 31

3 VISÃO JURISPRUDENCIAL ... 35

3.1 Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ... 36

3.2 Superior Tribunal de Justiça ... 38

3.3 Supremo Tribunal Federal ... 42

CONCLUSÃO ... 46

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INTRODUÇÃO

O direito de família Brasileiro em seu contexto histórico possuía um conceito de família muito restrito, baseado apenas em relações em que havia a regulamentação do mesmo através do casamento, havendo assim uma discriminação em relação aos filhos que eram constituídos forra do casamento. Ou seja, levava-se em consideração apenas o aspecto biológico, sendo a adoção o único caso em que se permitia a regulamentação, sem haver a relação consanguínea.

O Código Civil de 2002, é uma legislação conservadora, onde seus textos possuem poucas modificações. Porém, no que tange o direito de família, vem sofrendo alterações significativas nos últimos anos, em relação as modificações entendem-se como necessárias, sendo que a realidade de família hoje é muito ampla, não restringindo-se mais apenas em um homem e uma mulher.

A multiparentalidade traz consigo uma ruptura nos paradigmas, deixando o aspecto de afetividade andar lado a lado ou até sobrepor o consanguíneo. Multiparentalidade é a possibilidade jurídica que os genitores biológicos ou socioafetivos possuem de regulamentar o que de fato acontece. A afetividade e a dignidade da pessoa humana são os princípios norteadores do tema.

No registro civil, já houve a alteração de pai e mãe para filiação, poderá haver também a inclusão dos novos avós ou seja, até seis avós. Os direitos sucessórios, alimentos, direito a visita, pagamento de pensão, educação poderão ser cobrados de todos eles aqueles que participam da filiação.

Não possui artigo especifico que trata da multiparentalidade, havendo o uso da doutrinaria e o entendimento jurisprudencial acerca do tema. A justiça Brasileira em seus casos recentes, possui um entender favorável nas relações de afetividade. Com o passar dos anos o conceito de família veio sofrendo modificações significativas, deixando para trás o modelo patriarcal e matrimonial como único. De tal modo a multiparentalidade pode ter surgido em decorrência deste fato, onde busca transmitir os fatos realísticos para o ordenamento jurídico.

Neste trabalho será abordado o conceito da multiparentalidade, as caracteristicas, a multiparentalidade como princípio norteador do tema, os efeitos no registro civil, no vínculo familiar (efeitos parentais) e os efeitos sucessórios, além das

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principais decisões jurisprudenciais no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, no Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.

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1 PRECISÃO CONCEITUAL

A multiparentalidade no ordenamento Brasileiro ainda possui uma resistência muito grande em relação a sua aceitação, levando em consideração o princípio da cultura Brasileira ser extremamente conservadora. Atenta o princípio de que não é preciso ocultar a participação das partes, mas sim que pode-se incluir todos. Não podemos tratar a multiparentalidade como regra, mas sim como uma exceção necessária, ou seja, devemos sempre observar os princípios elencados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a proteção integral e o interesse do menor. Sendo a afetividade e a dignidade da pessoa humana os principais requisitos a serem observados.

Com o passar dos anos o conceito de família veio sofrendo modificações significativas, deixando para trás o modelo patriarcal e matrimonial como único. De tal modo a multiparentalidade pode ter surgido em decorrência deste fato, onde busca transmitir os fatos realísticos para o ordenamento jurídico.

O ser humano de direito é muito mais que um simples ser que carrega consigo suas origens biológicas, é um indivíduo que precisa ter seus direitos fundamentais assegurados. Não podemos falar em multiparentalidade sem elencar o afeto, a dignidade da pessoa humana, e o melhor interesse como princípios norteadores deste conceito.

A Constituição Federal de 1988, teve de forma expressa modificando o conceito de filiação, onde buscou regulamentar a igualdade de filiação, assim como aqueles que não provinham de relações de matrimônios, possuírem os mesmos direitos jurídicos que os filhos constituídos das relações matrimoniais.

Sabemos que a multiparentalidade é uma possibilidade jurídica de reconhecimento recente, que terá seus efeitos nos diferentes ordenamentos. No registro civil, o principal avanço se dá em relação onde antes se elencava como pai e mãe e atualmente refere-se como filiação, onde antes podia ter apenas um pai e uma mãe, hoje poderão haver dois pais, sendo um biológico e outro socioafetivo, duas

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mães ou até mesmo três mães, levando em consideração as relacionamentos homoafetivos.

Existirá efeitos parentais e sucessórios, consequências e impasses em relação ao tema, porém não podemos retroagir em relação ao conceito de família no direito de família Brasileiro. A multiparentalidade visa o amor, afeto e respeito, melhor interesse e a dignidade da pessoa humana como princípios norteadores do tema.

1.1 Conceito da multiparentalidade

Multiparentalidade é a possibilidade jurídica que os genitores biológicos ou socioafetivos possuem de regulamentar o que de fato acontece. Seria o direito de uma pessoa reconhecer mais de um vínculo parental ao mesmo tempo.

A Multiparentalidade busca regulamentar o vínculo criado através da afetividade, deste modo percebemos que a multiparentalidade não baseia-se apenas em direitos, mas também em deveres e obrigações que são destinados, garantindo e assegurando a estabilidades dos vínculos parentais.

Historicamente percebemos um longo caminho já percorrido, primeiramente as famílias eram compostas por interesses, ou seja, os casamentos em muitos casos eram arranjados pelos próprios pais, onde objetivavam interesses políticos, religiosos e principalmente econômicos, ou seja não levando em consideração a afetividade. Atualmente o direito de família veio sofrendo diversas modificações importantes, e com certeza necessárias. A constituição Federal de 1988 proibiu qualquer tipo de discriminação entre filiação biológica e afetiva, levando em consideração a proteção integral e o melhor interesse da criança, descritos no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

Para que a multiparentalidade aconteça é necessário que a as famílias tradicionais sejam desconstituídas, ou seja aquela pela qual é composta por apenas pais e filhos biológicos, sendo assim esse novo conceito é o reflexo dos novos modelos de família que surgem. A multiparentalidade significa a possibilidade do reconhecimento de múltiplos pais na certidão de nascimento.

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Desde modo, os padrastos e madrastas poderão fazer parte ou até mesmo constituir uma nova família perante a lei, sendo assim adquirem direitos e deveres no ordenamento jurídico. A multiparentalidade tem seu reconhecimento através da inclusão dos pais socioafetivos no certidão de nascimento, podendo acrescentar os socioafetivos e permanecer os biológicos, ou até mesmo podendo excluir os consanguíneos.

Sabemos que o direito de família Brasileiro já sofreu uma grande evolução até os dias de hoje, ou seja, sempre que necessário buscou regulamentar e expressar para o direito, o que acontece na realidade. Existem situações que chegam e que necessitam de adequação, não podendo negar seu reconhecimento. Com isso elencamos o conceito de multiparentalidade que nada mais é do que os laços advindos da afetividade, levando em consideração o melhor interesse da criança. Ressaltando assim que ignorar esse novo conceito seria violar os direitos fundamentais

Roberto Ribeiro Soares de Carvalho entende ser possível fazer constar na certidão de nascimento da criança o nome de dois pais, concretizando o princípio do melhor interesse da criança, juntamente com o da dignidade da pessoa humana, solidariedade, afetividade, paternidade responsável e outros. Entende que só pode ser viável tal interpretação para se admitir o reconhecimento, quando for benéfico à criança.’’ (CARVALHO. Apud PAIANO, 2017, p.159)

Na multiparentalidade contamos com diversas ramificações, entra elas: a) muliparentalidade paterna: onde há 3 ou mais pessoas como genitores, sendo dois ou mais pais. b) multiparentalidade materna: havendo 3 ou mais pessoas como genitores, com duas ou mais pessoas. c) biparentalidade: onde há um pai e uma mãe de sexos distintos. d) biparentalidade paterna: apenas dois ou mais pais, sem a presença da mãe no registro. e) biparentalidade materna: duas mães do sexo feminino.

A multiparentalidade pode ocorrer em duas esferas diferentes, poderá haver o reconhecimento socioafetivo quando ainda houver o vínculo biológico, ou seja quando a primeiro vinculo familiar (pai e mãe biológicos) se separam e uma das partes forma um novo vinculo familiar(novo casal) e esse passa a ter um convívio, amor e afeto muito forte, sendo interesse da criança e do novo indivíduo padrasto ou madrasta reconhecer essa relação perante a lei. Sendo assim a criança poderá manter vínculo com os pais biológicos e ainda os socioafetivos, reconhecendo a multiparentalidade, a criança irá possuir registrado seus pais consanguíneos e os socioafetivos, prezando

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sempre pelo melhor interesse, proteção e direito da criança. Outra esfera se dá quando há o óbito de um dos pais biológicos, sendo assim aquele que ficou viúvo passa a constituir um nova relação e assim o menor passa a ter um novo pai/mãe, nesse modelo, a criança passa uma parte de sua vida convivendo com os pais biológicos e depois passa a ter o convívio socioafetivo e possivelmente reconhecido pela multiparentalidade.

A multiparentalidade surge principalmente nas famílias recompostas, que seriam por exemplo, quando uma mãe se separa do pai biológico do filho, e passa a constituir uma nova relação com outro indivíduo, ou mesmo quando há óbito de um dos pais biológicos, sendo possível agregar uma nova relação, unem-se então um novo casal que pelo menos um deles já possua filhos, criando-se então um família recomposta e possível da multiparentalidade.

As famílias recompostas, apesar de cada dia mais frequentes e visíveis no cenário brasileiro, ainda são pouco trabalhadas em termos jurídicos. Tal entidade familiar é definida como aquela surgida após o rompimento de um vínculo familiar anterior. Waldyr Grisard Filho (2004) a define como ‘’ a família na qual ao menos uma das crianças de uma união anterior dos cônjuges vive sob o mesmo teto’’. Rosamélia Guimarães (1998) afirma ser’’. (VALARES, 2016, p. 114).

Deve-se levar em consideração que a multiparentalidade não vem para afastar o genitor de suas responsabilidades perante a filiação, muito pelo contrário, vem para mostrar que pode haver o exercício simultâneo das partes. Impossibilitando este exercício, seria se um destes genitores já tivesse vindo a óbito, sendo que cada um dos pais teve seu exercício em períodos temporais distintos.

A multiparentalidade pode ser conceituada como a existência de mais de um vínculo na linha ascendente de primeiro grau, do lado materno ou paterno, desde que acompanhado de um terceiro elo. Assim, para que ocorra tal fenômeno, necessário pelo menos três pessoas no registro de nascimento de um filho. Exemplificando, duas mães e um pai ou dois pais e uma mãe. (VALARES, 2016, p. 55).

Após reconhecido o direito da multiparentalidade, os pais socioafetivos passam a adquirir responsabilidades agora irrevogáveis, passam a ter obrigação de prestar alimentos, de cuidar, educar, amar A multiparentalidade é criada através dos laços de afeto, se fundando ato de vontade.

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As atuais decisões jurisprudenciais e a doutrina posicionam- se a favor de que o vínculo afetivo é mais importante, ou seja, é mais relevante do que o próprio vínculo biológico em muitos casos, devendo haver igualdade entre a filiação biológica e a socioafetiva.

As parentalidades socioafetiva e biológica são diferentes, pois ambas têm uma origem diferente de parentesco. Enquanto a socioafetiva tem origem no afeto, a biológica se origina no vínculo sanguíneo. Assim sendo, não podemos esquecer que é plenamente possível a existência de uma parentalidade biológica sem afeto entre pais e filhos, e não é por isso que uma irá prevalecer sobre a outra; pelo contrário, elas devem coexistir em razão de serem distintas. (CASSETTARI, 2015, p. 215).

A multiparentalidade traz consigo uma ruptura nos paradigmas, deixando o aspecto de afetividade andar lado a lado ou até sobrepor o consanguíneo. Ao conseguirmos reconhecer a multiparentalidade diante as novas ramificações familiares, devemos comemorar pois conseguimos perceber que o direito já percorre para um caminho mais igualitário e plural.

1.2 Características da multiparentalidade

Em relação aos modelos familiares podemos perceber uma grande evolução. Primeiramente tínhamos o modelo que herdamos do direito Grego, sendo de família patriarcal, onde o homem possuía uma grande superioridade em relação a esposa e os filhos, sendo ele o chefe da família, não importando-se com os direitos de cada indivíduo da família, preocupando-se apenas pelo patrimônio, a família era formada exclusivamente através do matrimonio. Nesta época vivíamos a colonização do Brasil,

que foi marcado pelo trabalho escravo e pela exportação dos produtos agrícolas. Nesse sentido, as famílias eram compostas por interesses econômicos visados principalmente pela figura masculina da família, que utilizava da mão-de-obra da esposa e filhos.

Podemos afirmar que a Proclamação da República de 1889, o fim trabalho escravo, e o início do processo de industrialização e urbanização do país, foram os fatos que contribuíram para um rol de mudanças, principalmente em relação ao conceito de família, nesse momento a igreja começa a perder sua força. Com isso o

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Estado para de voltar a sua atenção somente para o direito privado, e começa a pôr o princípio da dignidade humana como princípio fundamental, com isso o conceito de família sofre alterações.

Em tal período (1988), a Constituição Federal vetou a discriminação e reconheceu a plena igualdade dos filhos, independentemente de sua origem ser do casamento ou não (conforme exposto no artigo 26 do ECA). Até então a única possibilidade de introduzir um filho forra do casamento na base familiar era através a adoção.

Conforme o artigo 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei 8069/90:

Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. (BRASIL,1990).

Ao analisarmos o avanço histórico em relação ao reconhecimento e igualdade entre filiação, percebemos um grande caminho percorrido, uma vez que, sempre houve restrições em relação aos filhos constituídos fora do casamento, que também eram conhecidos como filhos naturais, até então somente os filhos legítimos possuíam seus direitos assegurados, exemplo disso é o direito sucessório que até era direito apenas dos filhos legítimos. Além disso, possuía distinções entre os filhos ilegítimos em relação a classe social dos pais.

Com o Código Civil de 1916 passou ser possível o reconhecimento dos filhos ilegítimos, que ocorria mediante interesse do pai, que expressava sua vontade através de escritura pública ou testamento. Após ainda através do Código Civil de 1916, autorizou-se o reconhecimento da paternidade através de investigação de paternidade, entretanto haviam requisitos a serem seguidos.

Com o Código Civil de 2002 ouve o grande marco positivo em relação a regulamentação da igualdade, conforme expresso no artigo 1.593 do Código Civil de 2002: ‘’ O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem’’. Atualmente encontra-se reconhecidas todas as formas de filiação, e principalmente havendo igualdade em relação aos direitos de todos os filhos, observamos assim a superação em relação ao biológico.

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Assim, a filiação civil por outra origem possibilita, nos dias atuais, o reconhecimento de filhos havidos por adoção, reprodução assistida heteróloga e, como será demonstrado, pela socioafetividade, fundada na posse do estado de filho, caracterizada pela convivência, afetividade e estabilidade na relação paterno-filial. (CARVALHO, 2013, p.167).

Outra característica que observamos em relação a multiparentalidade é o fortalecimento em relação aos novos arranjos familiares. Percebemos que há um abandono em relação ao preconceito que havia em relação aos novos modelos familiares, que em regra são constituídos através principalmente do afeto.

Atualmente, observamos principalmente os modelos de família: a) A família matrimonial que é o primeiro modelo de família aceito e regulamentado no Direito de Família Brasileiro, que hoje aceita tanto casais heterossexuais quanto homoafetivos; b) Casais constituídos através da união estável; c) A família Monoparental, formada apenas por um pai ou uma mãe e seu filho, não há a presença dos dois. d) Família Anaparental, constituída apenas por irmãos; e) Família Unipessoal, arranjo familiar composto apenas por um indivíduo, sem mais participantes; f) Família reconstituída, que é a principal composição de família que se baseia no conceito de multiparentalidade, onde um dos genitores se separa e passa a constituir um novo relacionamento, sendo assim o filho passa a conviver e em muitos casos a criar um afeto com o novo padrasto/madrasta; g) Família Paralela, onde a pessoa mantem dois vínculos ao mesmo tempo; h) Família afetiva, formada por um vínculo de parentalidade socioafetiva. Entre demais modelos que surgem e são observados diariamente, e consequentemente adquirem uma força muito grande.

A multiparentalidade baseia-se no modelo de vinculo família extensa, ou seja um vínculo constituído através do afeto, levando em consideração que os indivíduos que participam deste modelo, possuem deveres em relação aos menores por exemplo, ou seja, contribuem para educação e criação dos indivíduos.

A multiparentalidade pode ser caracterizada pelos laços que surgem de afeto e carinho. Ao conceituar a multiparentalidade vemos sentimentos espontâneos, os quais devem ser conquistados e jamais impostos como obrigatórios. Uma vez reconhecido o direito da multiparentalidade jamais será desconstituído, pois é algo que criou-se e

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provou-se, agora não podendo apenas pela desconstituição da família (homem e mulher) ser rompido.

Os características da multiparentalidade tem por base os princípios básicos que devem ser observados, dentre os principais: dignidade na pessoa humana, princípio da solidariedade, melhor interesse do menor, convívio familiar, princípio da paternidade responsável, pluralismo, isonomia entre os filhos e principalmente o princípio da afetividade.

O afeto gera consequências jurídicas para o direito de família, devendo sempre preservar os direitos fundamentais elencados na CF/88, principalmente a dignidade da pessoa humana, garantindo uma convivência harmonia e digna; igualdade jurídica (exemplo claro disso é o artigo 227 da CF/88, que trata sobre o reconhecimento igualitário sobre todos os tipos de filiação) a liberdade de escolha, melhor interesse da criança ou adolescente, e respeitando e regulamentando o que realmente acontece na vida e no vínculo familiar do indivíduo.

Começamos conceituando o princípio da dignidade da pessoa humana, o qual traduz-se em sentido teórico com consideração, honra. Esse conceito introduziu-se no direito através da evolução de pensamento do homem, traz um valor fundamental de respeito a existência do indivíduo. Busca a realização e a felicidade pessoal, sem haver discriminações ou interferências. Desta forma esse princípio é responsável principalmente para assegurar a aceitação e garantir igualmente o tratamento dos novos vínculos familiares.

Princípio da solidariedade, visa regulamentar o direto coletivo e reciproco, ou seja deixando de lado o interesse individual e privilegiando o coletivo. A multiparentalidade necessita de interesses recíprocos.

O princípio do melhor interesse do menor está regulamentado pelo Estatuto da criança e do adolescente (ECA) e também pela Constituição Federal, onde traduz que todas as crianças e adolescentes devem ter seus direitos assegurados e vistos como prioridade, impedindo que haja abuso em relação a pessoa mais forte do vínculo familiar, que seriam no caso multiparentalidade os pais.

O convívio familiar é muito importante, pois através dele temos a possibilidade e dever de interagir com todos os integrantes da família, criando-se assim os laços de afetividade.

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Princípio da paternidade responsável visa o planejamento em relação principalmente a filiação, onde o pai passará a terá obrigações. Sendo que o mesmo tem a opção em escolher se quer ou não ter filhos, o mesmo também acontece na socioafetividade pois jamais será obrigado a assumir algo contra sua vontade.

O pluralismo deixou para trás o modelo único matrimonial, e passou a reconhecer as diversas ramificações familiares que veem se constituindo e buscando seu espaço dentro do ordenamento jurídico. Atualmente o único critério para formação de uma família se baseia em haver afeto.

Isonomia entre os filhos é o mesmo que igualdade entre as diversas formas de constituição de filiação, vedando qualquer tipo de discriminação. O artigo 227, inciso 6º da CF/88 vedou a distinção entre filiação.

Deste modo, percebemos que a multiparentalidede se caracteriza em respeitar os princípios essências da pessoa humana, e levando sempre o afeto como princípio norteador.

Conforme artigo 227, caput da CF/88:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

1.3 A afetividade como fundamento da multiparentalidade

A palavra afetividade conceitua-se como afeto/ apego a algo ou alguém, ao elencarmos esse princípio como fundamento da multiparentalidade mostramos que somente ele é capaz de manter a estabilidades dos atuais vínculos familiares. Sendo o vínculo da multiparentalidade o responsável por criar laços que consequentemente geram relações jurídicas.

Não podemos falar de multiparentalidade sem citar o princípio essencial: a afetividade, é esse princípio o qual justifica o surgimento do tema, ou seja, o que retrata para o direito, o que de fato acontece na realidade. Apesar de não estar

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expresso, o ECA na lei 12.010/2009 acolheu o princípio da afetividade como valor jurídico, além das jurisprudências e doutrinas a favor do princípio.

O princípio da afetividade não se encontra expresso, mas está implícito no texto constitucional como elemento agregador e inspirador da família, conferindo comunhão de vida e estabilidade nas relações afetivas’’. (CARVALHO, 2013, p. 175)

O princípio da afetividade representa um grande avanço em relação ao direito de família. Seu reconhecimento já encontra-se implícito em diversos artigos e decisões jurisprudenciais. Observamos que a Constituição Federal ampliou o conceito de família, além de igualar e não permitir nenhum tipo de discriminação em relação a filiação, garantindo os mesmos direitos a todos os filhos, sejam eles biológicos, adotivos, ou afetivos. O Código Civil introduziu o conceito de socioafetividade. Exemplo disso temos a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1593, reconhece além do parentesco biológico, outras origens; também em seu artigo 1723, inciso 3º temos reconhecido a união estável.

Quando falamos em constitui uma nova ramificação familiar que não seja ela constituída pelos vínculos consanguíneos, devemos nos amparar no princípio da afetividade, o qual fica responsável por justificar e torna-se fator essencial.

Possuímos um grande avanço em relação ao reconhecimento de novas instituições familiares que trazem consigo o afeto como princípio pelo qual se constituiu aquele vinculo familiar, entretanto precisamos ainda buscar mais. Exemplo disso se dá a filiação socioafetiva, sabemos que perante a lei não há mais nenhuma discriminação em relação a esse tipo de filiação, tendo os mesmos direitos sucessórios, alimentos, reconhecimento entre outros assegurados. Porém sabemos que a população Brasileira ainda precisa quebrar dos paradigmas, deixando de lado a discriminação pelo novo, ou seja, parece difícil ter que aceitar algo que antes não fazia parte da realidade, ou que talvez ainda não faça parte de seu vínculo familiar, mas que mais cedo ou mais tarde fará parte.

A filiação socioafetiva se reconhece quando há sentimentos recíprocos. A afetividade cria laços que reproduzem na criação da criança, ou seja, criam-se marcas na criação da personalidade/caráter, pois toda criança precisa de alguém para se espelhar, para seguir seus passos.

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O papel da multiparentalidade é que haja um padrasto ou uma madrasta que comporte-se como se pais biológicos fossem, deixando de lado qualquer ideia que barre seu dever de educar e amar, necessita também haver um filho que assim se comporte, e com a convivência familiar cria-se então o afeto, o qual jamais será obrigado a alguém. Mas sim que possibilite que quando haver o reconhecimento reciproco e continuo do afeto possa ser regulamentado o que todos presenciam no dia-a-dia dessas pessoas.

Elencamos o princípio de posse de filho como essencial na relação socioafetiva, esse princípio traduz a relação entre pais socioafetivos e filho, mesmo não havendo ainda o registro e a consanguinidade. Para que seja reconhecido o direito deverão os pais socioafetivos contribuírem para sua formação humana, apresentar-se como pais e filhos, existir reciprocidade no afeto e nas obrigações elencadas a cada papel, haver reconhecimento público dessa relação, esses requisitos não são exigidos conjuntamente para o provar a afetividade, mas são de suma importância para a relação diária.

Atualmente, sabemos que o ordenamento jurídico já se posiciona em relação a distinção entre genética e paternidade. A genética em alguns casos acaba sendo irrelevante ao falar de educação e construção de ser humano, uma vez que, apenas reproduziu um filho e deixou de cumprir com suas obrigações como pai/mãe. Já na paternidade visa-se a educação e criação de um indivíduo, relação que possui por base o afeto como elenco fundamental.

Duas espécies de filiação são reconhecidas com base no artigo retro, a que resulta da consanguinidade e a que resulta de outra origem. Aqui, nos interessa esta última, que é totalmente interligada aos laços afetivos. A filiação, portanto, não se trata apenas de um mero determinismo biológico. O vínculo estabelecido não é o natural (decorrente da consanguinidade) e sim o da afinidade e socioafetividade. Refere-se, portanto, à filiação sobre a ótica do afeto. (OLIVEIRA; TOMASZEWSKI, Rev. Ciênc. Juríd. Soc. UNIPAR. Umuarama. 2017, p. 280.)

A filiação biológica não pode ser eliminada pela socioafetividade, de modo que o socioafetivo também não poderá ser excluído pelo biológico, podendo haver sincronia em relação ao exercício da paternidade, de modo que deverá sempre prevalecer o melhor interesse da criança, considerando que tanto os pais biológicos

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como os socioaftivos possuem um mesmo interesse em relação a educação e exercício de suas funções.

O princípio essencial da multiparentalidade é com certeza o afeto, o qual é de suma importância e que ainda possui um grande caminho a ser percorrido até sua aceitação correta no ordenamento jurídico brasileiro.

2 EFEITOS DA MULTIPARENTALIDADE

Cada vez passa a ser mais recorrente a procura pelo reconhecimento da multiparentalidade no direito de família Brasileiro. Surgem os diversos debates e efeitos que o tema trouxe, não apenas no direito de família, mas também em outros ramos do direito. Neste capitulo iremos observar os efeitos que possuímos no registro civil, no direito parental e no direito sucessório.

2.1 No registro civil

Em relação aos efeitos da multiparentalidade no registro civil podemos afirmar que eles refletem a realidade dos fatos, ou seja, a multiparentalidade conquistando seu espaço. O reconhecimento perante o registro civil é assegurar e ter a segurança de existir um documento comprovando a realidade dos fatos, ou seja, uma prova plena, já que no registro civil se dá a história de vida do indivíduo, lá encontram-se documentos/atos importantes de sua vida, como por exemplo a certidão de nascimento, certidão de casamento, óbito, e não menos importante devem constar as certidões decorrentes da multiparentalidade.

O registro civil das pessoas naturais é o suporte legal da família e da sociedade juridicamente constituída. Isso porque, não existindo o registro, também juridicamente se tornam inexistentes a pessoa, a família e o seu ingresso. A legalidade se dá por meio do registro, através do qual se atribuemos direitos e obrigações, e é regulamentada a conduta de cada um, objetivada a paz social. (CASSETTARI, 2014, p. 227)

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Com o reconhecimento da multiparentalidade no campo jurídico, a denominação de filiação passa a reconhecer os vastos sentimentos que antes vinham sendo escondidos no direito civil Brasileiro, como o amor, afeto e atenção, que antes eram direitos prejudicados em decorrência da omissão. A multiparentalidade efetiva o princípio da dignidade da pessoa humana e da afetividade, pois não substitui nenhum dos pais biológicos, mas acrescenta no registro de nascimento o pais ou mãe socioafetivo.

O que precisamos reiterar é que o direito do pai ou mãe biológico não irá ser rescindido ou os laços familiares destruídos, muito pelo contrário, o direito de família Brasileiro buscou implementar em seu ordenamento jurídico o que as famílias vem constituindo e vivenciando diariamente, ou seja, onde a criança é registrada por seus pais biológicos, e por algum motivo a família acaba se desconstituindo, passando agora a falar de uma criança que vive em uma família recomposta, ou seja, um novo indivíduo passa a fazer parte de sua educação e além disso em alguns casos passa a se ter um laço maior que simplesmente um intruso ou substituto de um papel (pai/mãe).

Um laço de afeto não irá ser criado apenas pela convivência, é preciso ter a presença do carinho, da atenção, do afeto, da compreensão, da lealdade e principalmente da cumplicidade naquilo que se está criando e vivenciando, e o mais importante de tudo é preciso que todos esses sentimentos sejam espontâneos, e jamais cobrados de uma das partes ou até mesmo por um terceiro interessado, todo processo de aproximação e laço que se cria deve acima de qualquer hipótese ser reciproco.

Para que seja feito o processo de registro da multiparentalidade é necessário seguir alguns pré-requisitos: é um procedimento que tenta não deixar que haja falhas, ou seja, não basta um indivíduo querer se candidatar por motivos alheios ou desconhecidos ao da criança, o cargo de pai ou mãe exige que o menor concorde e principalmente que seja de sua própria e espontânea vontade que o mesmo passe a fazer parte e componha seu vínculo familiar, pois a ele será concebido um papel de suma importância.

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Assumir uma criança ou adolescente não significa apenas registrar ele como seu filho ou filha, significa ter uma pessoa pelo qual terá que zelar pelo seu bem para o resto de sua vida, deverá sempre que necessário prestar ajuda tanto financeira como demais atividades.

Assumindo e declarando a multiparentalidade entre determinadas pessoas podemos dizer que com ele haverão inúmeras responsabilidades, pode ser comparado a ter um recém-nascido em sua família, pois ali inicia-se um processo de ainda mais conhecimento, começam em alguns casos os confrontos advindos não necessariamente dos indivíduos que buscaram seu reconhecimento junto ao registro civil, mas possivelmente entre os genitores, ou seja os pais biológicos e os pais afetivos, em alguns casos é tratado como uma disputa de poder.

Quando um novo indivíduo passa a fazer parte da rotina de um filho já não se tem uma boa visão, pois geralmente os pais-principalmente divorciados, costumam ter algum tipo de ressentimento em relação ao ex companheiro ou até mesmo ao antigo relacionamento. As pessoas costumam ter pensamentos muito fechados, e com isso toda ideia nova que surge, torna-se um impasse.

Mesmo sabendo que é de vontade mutua relacionar-se e constituir um laço afetivo, baseado no amor e carinho, é muito difícil aceitar a nova ideia de que há alguém tentando dividir seu posto de pai ou mãe, na verdade em poucos casos podemos perceber que há o pensamento de divisão de posto, em sua grande maioria é visto como um único lugar onde apenas uma pessoa poderá exercer sua função de pai/mãe. Porém nenhum genitor poderá impedir o registro da multiparentalidade, pois a vontade de ambas as partes interessadas é levada em consideração.

De todo modo, nenhum assunto que é trazido como novo pode ser generalizado ou banalizado. No direito de Família não foi diferente, a multiparentalidade trouxe consigo uma bagagem de questionamentos, e de início poucas respostas, até por que deve-se ressaltar que não foi algo que o direito de família Brasileiro implementou em sua legislação por vontade própria; Foi mais uma conquista adquirida e baseada nos direitos fundamentas da pessoa humana. Para ser mais exato: Uma reinvindicação de que o direito Brasileiro deveria se adequar com a realidade do século.

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O conceito de família no ordenamento Brasileiro sofreu grande avanço, pois deixou-se de lado o pensamento conservador de que família pode ser composto apenas por um homem e uma mulher, hoje o direito de família Brasileiro abrange, acolhe e aceita qualquer tipo de constituição familiar baseado no afeto com instituto formador de uma base familiar.

Como mencionado o conceito de família já se reconfigurou de forma que passa a ser mais transparente e próximo a realidade fática, passa a ser acolhido e garantido os direitos e consequentemente os deveres de cada indivíduo, a multiparentalidade vem posteriormente ou melhor falando, conjuntamente com o conceito atual de família onde os dois princípios são norteados pelo afeto e pelo direito da dignidade da pessoa humana.

Como em tudo que existe, sempre haverá os pontos positivos e os pontos negativos, nem tudo funciona ao pé da letra, mas até o momento foi possível constatar apenas pequenos equívocos admitidos do registro civil em relação a multiparentalidade, como em qualquer direito que é criado ou conquistado, haverá as pessoas que utilizam da bondade ou de direitos adquiridos, mas como mencionado são poucos os relatos de que alto fugiu do alcance da lei, ou que desviou o objetivo central da lei.

Como exemplo disso podemos ter a nossa arvore genealógica, que automaticamente ao nascermos herdamos de nossas famílias. Sabemos que corre o mesmo sangue nas veias, mas a casos e mais casos que são registrados diariamente de abusos, violências, entre demais acontecimentos negativos que poderão transformar-se em grandes frustações ou distúrbios mais tarde tratos como doenças. Ou seja, a pessoa que em alguns casos nos deu a vida, que deveria ser encarregado de nos amar, educar e cuidar, as vezes acaba tornando-se nosso pior inimigo ou ameaçador.

É importante ressaltar que o filho poderá usar o nome de todos os pais se assim preferir, pois carregar os patronímicos é um direito fundamental. Conforme o artigo 54, itens 7º e 8º da Lei de registros públicos (Lei 6.015/73) é de conhecimento que deverão constar os nomes e prenomes dos pais, assim como os avós por parte de mãe e por parte de pai, com a multiparentalidade reconhecida, deverão constar o

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nome de todos os pais, tanto biológicos como socioafetivos e também de todos os avós.

Registrar um menor significa dar o direito que a criança possui, e já para os pais passa a ser um dever que deve ser cumprido assim que ele nascer. O registro da criança deve corresponder a sua realidade, devendo ser respeitado o direito fundamental da personalidade, sendo a identidade um elemento essencial para caracterização da personalidade e por isso a importância de respeitar e registar o que de fato são os ramos familiares da criança, ou seja, com a multiparentalidade deverão estar registrados tanto os pais biológicos como os socioafetivos.

No registro da criança deverá estar elencada toda sua história, bem como sua origem familiar e seus vínculos familiares. Para que haja a concretização do reconhecimento da multiparentalidade é necessário que seja transmitido a fiel reprodução do que de fato acontece e aconteceu na vida do menor. Sendo que esse espelho de sua família constitui um elemento essencial para sua formação e desenvolvimento pessoal, social e familiar. Podendo ser afirmado que o DNA não é apenas o sangue que corre em suas veias, mas sim o amor e afeto que percorre sua alma e toca seu coração.

A multiparentalidade é uma forma justa de se reconhecer a paternidade e a maternidade de um filho que é amado por ambos os pais, sem que para isso necessite a exclusão de um ou de outro. A exclusão pode existir tanto ao se substituir o nome de um(a) pai ou mãe do registro de nascimento, quando este por motivos legítimos não o quer, quanto na permanência do registro na forma em que sempre esteve, sem considerar a sua falácia no mundo fático, uma vez que aquele filho tem mais de uma mãe ou de um pai em sua vida. (Âmbito Jurídico, 2013).

O poder familiar será exercido por ambos os pais, com isso os deveres e obrigações concebidos e que são de conhecimento de todos que são destinados em regra para os pais biológicos, passam a ser os mesmos elencados para os pais biológicos, e caso houver discordância poderão recorrer à autoridade judiciária.

O provimento nº 63 de 14 de novembro de 2017 do Conselho Nacional de Justiça-CNJ possibilitou o registro extrajudicial da filiação socioafetiva. Possibilitando o reconhecimento voluntário da paternidade ou maternidade socioafetiva. Os filhos de qualquer idade poderiam requerer o reconhecimento extrajudicial, porém caso fossem

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maiores de 12 anos deveriam expressar seu consentimento. O reconhecimento socioafetivo somente poderia ser realizado de forma unilateral e impossibilitava o registro de mais de dois pais e de duas mães. Necessidade apenas da declaração dos interessados e o consentimento do pais biológicos. Caso o registrador suspeitasse de má-fé, recusaria o pedido e faria o encaminhamento do pedido ao juiz local que tomaria a decisão final.

Porém a Corregedoria do CNJ editou outro Provimento de nº 83, em 14 de agosto de 2019, modificando dispositivos do Provimento nº 63, anunciando mudanças significativas nos procedimentos extrajudiciais em questão, e restringindo algumas das hipóteses de reconhecimento que estavam sendo aceitas até então.

Com o novo provimento nº 83 do CNJ, apenas os filhos maiores de 12 anos poderão solicitar o registro socioafetivo pela via extrajudicial, menores de 12 anos apenas através da via judicial. Outra mudança foi em relação ao reconhecimento socioafetivo, passando agora o registrador atestar a existência do vínculo afetivo, mediante apuração objetiva por intermédio da verificação de elementos concretos. Após atendidos os requisitos necessários, o registrador, encaminha o expediente ao Ministério Público para parecer. Se o parecer do MP for favorável, o registrador realizará o registro da filiação socioafetiva (inciso I do referido §9º). Se for desfavorável, o registrador não procederá o registro e arquivará o expediente, comunicando ao requerente (inciso II). E caso de dúvida, encaminhará o expediente ao juiz corregedor (inciso III).

Através da via extrajudicial será possível a inclusão de um ascendente socioafetivo, seja do lado materno, seja do lado paterno. A inclusão de mais de um ascendente socioafetivo deverá ser reclamada pela via judicial. Com a preocupação de haver abusos em relação ao tema. Como por exemplo podendo encobrir uma adoção irregular. A multiparentalidade pela via extrajudicial, embora ainda permitida, passou a ser restrita a apenas um ascendente socioafetivo, restando ao segundo ascendente socioafetivo, se existente, socorrer-se da via judicial, onde o caso poderá ser melhor averiguado pelas equipes multidisciplinares do juízo. Buscando o caminho da segurança jurídica.

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2.2 Efeitos parentais

Parentesco é a representação de uma sociedade onde os sistemas de parentesco são passivos, ou seja, sempre irá seguir um mesmo rumo por um bom tempo e irá sofrer apenas pequenas modificações de uma geração para a outra. A menos que haja uma mudança drástica e repentina no modelo familiar.

Historicamente o conceito de parentesco e família se distinguia, onde se entendia que família era composta por laços conjugais ou de união estável, envolvendo pais e filhos que formavam um núcleo familiar, e já o parentesco representaria todo vínculo jurídico tanto de origem consanguínea, adoção ou afinidade e que poderiam não fazer parte do mesmo núcleo familiar, exemplo: os filhos advindos fora do casamento.

Atualmente, cada vez mais recorrentemente observamos que o conceito de família e parentesco não possui quase distinções. Parentesco engloba família, e família já possui seu conceito bem formado em relação aos novos grupos familiares que vem se constituindo e tomando lugar até mesmo no ordenamento jurídico.

Depois que constituído e reconhecido o ato da multiparentalidade entre as partes, passamos a ter várias consequências em relação a isso, bem como a obrigação dos alimentos, o reconhecimento e alteração no nome do menor, direito sucessório, direito da guarda e das visitas, e também os efeitos parentais, ou seja, o vínculo parental se inicia no momento em que se estabelece no registo civil a multiparentalidade.

O artigo artigo 1.593 do Código Civil Brasileiro prevê que “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”, ou seja, o parentesco civil é aquele que considera o afeto o principal elo de construção da parentalidade. Sem limitações ou preconceitos.

O menor passa a ter uma extensão dos vínculos parentais, sua estrutura será distribuída através de linhas e graus parentescos, haverá vínculos parentais em linha reta e colateral. Em linha reta podemos definir como as pessoas que possuem relação uma com as outras de ascendentes e descendentes, ou seja, o avô para o pai para o filho, todos são constituídos de efeitos parentais em linha reta. Já os parentes em linha colateral seriam os irmãos por exemplo, pois há um entroncamento comum entre as partes que seria o pai, que são ligados por uma descendência direta/comum entra si.

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Tradicionalmente os indivíduos possuem os parentes em linha reta que são descentes um dos outros, e o parentesco colateral onde estão ligados com um mesma base em comum. Agora com os novos modelos familiares que são baseados principalmente pelo afeto, surgem uma nova aliança estes ligados pelo vínculo da afinidade.

Com isso a multipatrentalidade não inclui apenas um pai ou uma mãe, traz muito mais que isso, traz novos avos, bisavôs, tios, primos, irmãos entre demais parentes. Assim como os pais também receberão parentes socioafetivos, como netos, bisnetos e até trinetos (netos em 3º grau). E sempre ressaltando que não irá ser excluído nenhuma das partes biológicas.

Quando falamos nestas vastas figuras parentais, estamos apenas confirmando que haverá igualdade, e que as consequências biológicas e socioafetivas serão as mesmas.

Deverão ser respeitados também os impedimentos em relação ao casamento, conforme artigo 1.521 do CC, inciso I, não poderão casar: “ascendentes com os

descendentes, seja o parentesco natural ou civil’’ ou seja, o filho socioafetivo não

poderá se relacionar com seus ascendentes e descendentes assim como os pais também não poderão se relacionar com seus descendentes socioafetivos. A afetividade também gera consequências do parentesco socioafetivo, como por exemplo em linha reta, cunhada, cunhado, genro, nora, padrasto e madrasta deverão respeitar as vedação em relação ao matrimônio.

Os impedimentos matrimoniais valem também aos irmãos, sejam eles unilaterais, bilaterais, ou um filho adotado que não poderá por exemplo, se casar com o seu irmão filho do seu pai adotante.

Já em relação a extensão parental colateral, a proibição é válida até o terceiro grau, proibindo desse modo o casamento com uma sobrinha por exemplo. Porém existe uma exceção nesse caso que é previsto através do Decreto-lei no 3.200/1941, art. 2º, §§ 4º e 7º, que se faz necessário uma perícia em que comprove que não haverá problemas em relação a futura prole, liberando assim o matrimônio entre sobrinho e tio.

Em linha reta os parentes por afinidade, não se extingue as proibições do matrimônio, mesmo após a dissolução do casamento.

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Em relação aos alimentos tanto os pais biológicos quanto socioafetivos ficam obrigados com a criança ou adolescente, e assim respectivamente quando maiores os filhos ficam obrigados em relação a todos os pais, conforme prevê o artigo 1.696 do Código Civil. Sempre observando o binômio possibilidade e necessidade, em respeito ao parágrafo 1º do artigo 1.694 do Código Civil.

Porém é importante ressaltar que caso o pai biológico já pague alimentos ao menor, deve ser observado se o valor é suficiente ou não, caso não seja, os pais socioafetivos ficam responsáveis para completar o valor necessário para sobrevivência da criança ou adolescente.

De outro modo, caso haja a separação da mãe biológica com o pai socioafetivo do filho, e seja comprovado que não há o reconhecimento do pai biológico, ou que haja o reconhecimento mas que o pai registar até o momento não contribuía para o sustento de seu filho, pode-se entrar com o pedido de alimentos contra o pai socioafetivo, que é quem possuía convivência com o menor (mesmo que a multiparentalidade não tenha sido reconhecida por meio do registro civil). Jurisprudências julgaram casos em que se afirmou a responsabilidade do pai por afinidade, mesmo que não reconhecida formalmente, mas destacou-se também que a responsabilidade cabe primeiramente aos pais consanguíneos e depois aos pais civis, que podem ser tanto através da adoção como pela socioafetividade.

Baseado em um caso concreto que se reconheceu a obrigação do pagamento de alimentos e que não havia sido ainda sido registrada a multiparentalidade, o entendimento Jurisprudencial alega que o direito aos alimentos veem em decorrência da paternidade socioafetiva, com isso esse vínculo deve ser devidamente constituído, para que se produza todos os efeitos, e não apenas ao pagamento da pensão.

Deverão se dirigir ao cartório de registro civil das pessoas naturais para inclusão do pai socioafetivo no registro civil. Sendo este ato considerado um ato decorrente e implícito. Futuramente o pai socioafetivo poderá fazer o mesmo pedido em relação ao filho maior.

A guarda e as visitas será exercida de acordo com o princípio do melhor interesse da criança, Poderá ser realizada tanto na modalidade unilateral, quanto

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compartilhada, aplicando tanto aos pais biológicos como ao socioafetivo as disposições contidas nos artigos 1.583 ao 1.590 do Código Civil. Ainda assim caso houver algum tipo de conflitos poderão recorrer à justiça.

A guarda unilateral é definida por aquela exercida apenas por uma pessoa, e já a guarda compartilhada é a responsabilização conjunta, nessa modalidade as decisões em relação ao filho deverão ser tomadas em consenso. Tanto a guarda unilateral, quanto a guarda compartilhada poderão ser requerida por qualquer das partes, ou até mesmo por consenso, além de que pode ser requerida na dissolução do casamento, da união estável ou por medida cautelar. Também poderá o juiz decretar observando o melhor interesse da criança, qual das partes terá o tempo necessário e adequado para cuidar do menor, bem como em atenção as necessidades da criança.

Em regra, sempre que for possível o juiz irá acatar a modalidade guarda compartilhada, onde tanto o pai como a mãe poderão exercer suas funções sem prejudicar o filho. De tal modo, podemos afirmar que os pais socioafetivos terão direito a guarda, pois não existe a preferência do pai biológico. O que deve ser minuciosamente levado em consideração e atendido é apenas o melhor interesse da criança.

Em relação as visitas, tanto os pais quanto os avós socioafetivos terão o direito de visita-los regularmente, observando claro e acordando essas visitas com o outro cônjuge. Também não existindo a preferência entre avós consanguíneos ou por afinidade.

2.3 Efeitos sucessórios

Embora seja um assunto que ainda desperte muitos questionamentos todos os pais são herdeiros do filho, e o filho é herdeiro de todos os pais, as relações de parentesco serão mantidas com ambas as famílias e com isso os efeitos serão os

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mesmos tanto para os filhos biológicos como socioafetivos. As sucessões dos pais não se comunicam entre si, salvo àqueles que são cônjuges ou companheiros.

Suceder é substituir o titular de um direito, com relação a coisas, bens, direitos ou encargos. Pode-se conceituar a sucessão como um conjunto de normas que buscam regular a transmissão de bens em consequência da morte (DIAS, 2013, p. 32).

A sucessão pode ser testamentária ou legítima. Os herdeiros legítimos são aqueles indicados pela vocação hereditária, onde a principal justificativa é dar continuidade a vida humana. O artigo 1.833 do Código Civil afirma que os descendentes de grau mais próximo excluem os mais distantes, com exceção ao direito de representação. Dividem-se em herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge/companheiro) e os facultativos (colaterais até o 4º grau), e seguem a ordem estabelecida no artigo 1.829 do Código Civil. Já os herdeiros testamentários, são aqueles indicados pelo testador no testamento e sucedem por disposição do testamento.

O artigo 1.835 do Código Civil determina que “Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau’’. Primeiro a herança deve ser dividida de maneira igual entre os filhos do morto, mas, se um dos herdeiros vier a falecer deixando mais de um filho (netos do de cujus), a parte deste será dividida entre seus filhos (sucessão por estirpe).

A herança é um direito fundamental garantido pelo artigo 5º da CF/88, que é conceituado como o conjunto de direitos e obrigações que são transmitidos após a morte do indivíduo. Sendo atribuído a herança pelo patrimônio composto de ativo e passivo deixado pelo falecido para uma pessoa ou um conjunto delas que sobreviveram ao falecido, denominadas de herdeiros.

Seriam estabelecidas tantas linhas sucessórias quantos fossem os genitores. Se morresse o pai/mãe afetivo, o menor seria herdeiro em concorrência com os irmãos, mesmo que unilaterais. Se morresse o pai/mãe biológico também o menor seria sucessor. Se morresse o menor, seus genitores seriam herdeiros. (PÓVOAS, 2012, p. 98).

O reconhecimento da multiparentalidade não tem como objetivos escolher entre a sucessão biológica ou socioafetiva, pois visa amplias os direitos e não competir entre eles. Em casos de múltipla filiação, o entendimento atual é de que a divisão deverá

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ser igualitária. Em casos específicos, poderá haver exceções, onde a lei deve se flexibilizar para melhor solucionar.

Atualmente por meio da aplicação do princípio da igualdade no direito sucessório, e buscando constituir um tratamento igualitário entre os filhos consanguíneos e socioafetivos, que o instituto da multiparentalidade vem sendo aplicado às famílias atuais. Se filho for, independentemente de sua origem seus direitos e deveres serão resguardados pelo direito de família Brasileiro.

Quando tratar-se de filho menor, incumbirá o poder familiar para ambos os pais, ou seja, deverão trabalhar em conjunto com as obrigações. Deverão garantir sua criação e educação; tê-lo em sua companhia e guarda; conceder-lhe ou negar-lhe consentimento para casar; designar tutor por testamento ou documento autêntico, representá-lo, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em que for parte, suprindo-lhe o consentimento; reclamá-lo de quem ilegalmente o detenha e exigir que lhe preste obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição, conforme previsto no artigo 1.634 e incisos do Código Civil.

É obrigação dos pais zelarem e educarem seus filhos quando menores forem, dando todo suporte e amparo necessário, assim como se faz por obrigação os filhos maiores ajudarem os pais quando os mesmo precisarem, conforme dispõe o artigo 229 da Constituição Federal “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. Com isso podemos afirmar que assim como os pais socioafetivos terão as mesmas obrigações que os pais biológicos, esses filhos quando maiores forem, também ficam obrigados a prestar ajuda aos pais cultivados através da multiparentalidade.

Como é de conhecimento, todo assunto principalmente quando encontra-se em status de adequação e enxerimento traz consigo dúvidas e conflito, por exemplo condo há conflito entre a paternidade socioafetiva e o pretendido interesse em imputar responsabilidade ao genitor biológico falecido, não poderá haver sucessão hereditária entre filho de pai socioafetivo e seu genitor biológico no direito de família ou de sucessões. Mas no direito de obrigações é possível resolver-se a pretensão

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patrimonial. Possivelmente poderá ser atribuído um crédito decorrente do dano causado pelo inadimplemento dos deveres gerais de paternidade, como a educação, assistência moral, sustento, convivência familiar, além dos demais direitos fundamentais previstos no art. 227 da Constituição Federal, por parte do genitor biológico falecido, cuja reparação pode ser fixada pelo juiz em valor equivalente ao de uma quota hereditária se herdeiro fosse. Será necessário ajuizar ação de reparação de dano moral e material, habilitando-se no inventário como credor do espólio, com requerimento de reserva de bens equivalentes para garantia da ação.

Em relação aos fins previdenciários, tanto os pais como os filhos são considerados beneficiários uns dos outros. O filho é considerado dependente do segurado e assim será beneficiário de ambos os pais, conforme determina a Lei 8.213/91, seção II- dos dependentes, em seu artigo 16, inciso I:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado:

I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;’’ (Código Civil, 2002)

De fato, os direitos sucessórios para a multipantalidade mostram-se com os entendimentos muito igualitários em relação ao parentesco natural/biológico. Por exemplo, se por algum motivo os pais não conseguirem pagar pensão alimentícia ao filho, poderão ser chamados os avos socioafetivos. Se a pessoa morre e só deixa um tio socioafetivo vivo, será dele o direito sucessório; assim como se deixar vivo apenas um irmão socioafetivo, e esse for menor, os direitos sucessório serão incumbidos a ele.

Hoje, o status filho e o que basta para a igualdade de tratamento, pouco importando se fruto ou não do casamento de seus pais, e independentemente do estado civil dos progenitores. (CAHALI, 2012, p. 176.)

Portanto, quanto à sucessão dos ascendentes da família multiparental, com o objetivo de observar a igualdade em grau como requisito suficiente para que os ascendentes, independente da linha ou da espécie de parentesco, recebam a herança em partes iguais. A diversidade de gênero deixou de ser requisito para o

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reconhecimento das famílias e, portanto, nenhuma norma de direito sucessório, com conteúdo de divisão da herança a partir do gênero envolvido, deve ser aplicada para realizar a partilha da herança entre os herdeiros ascendentes, muito menos quando a aplicação de tal critério implica determinar frações diferentes, quando todos que estão no mesmo grau devem receber a mesma quota.

3 VISÃO JURISPRUDENCIAL

No ano de 2012 no estado de São Paulo, surgiu o primeiro caso de dupla maternidade. Os gêmeos foram frutos da inseminação artificial in vitro, advindo de uma relação de duas pessoas do mesmo sexo, sendo as crianças registradas no nome da mãe que as gerou. Os óvulos fecundados possuíam material genético de uma das mães, que pretendia ter seu nome reconhecido. Sendo assim, o juiz deferiu o pedido. Assim, sucessivamente, a 15ª Vara da Família do Estado do Rio de Janeiro, em 2014, julgou procedente o pedido de multimaternidade a três irmãos, onde após o falecimento da mãe biológica, passaram a serem cuidados pela madrasta, já quando adultos ingressaram com o pedido, e obtiveram êxito. Ainda no ano de 2014, no estado da Bahia foi reconhecido o direito de registro de três mulheres, a mãe biológica e duas mães adotivas. No ano de 2015, a justiça do Ceará, reconheceu o pedido de mulparentalidade através da adoção. No Rio Grande Do Sul: em 15 de setembro de 2014, no munícipio de Santa Maria, autorizou-se a dupla maternidade e a paternidade no registro, casal homossexual e um terceiro, tudo foi pensado pelos três e a concepção ocorreu de forma natural. Também no Rio Grande do Sul, o Tribunal julgou procedente o pedido do registro de um casal homoafetivo, o procedimento foi por meio de reprodução assistida heteróloga, com a utilização de gameta de doador anônimo.

Multipaternidade, o primeiro caso também aconteceu no ano 2012 em Ariquemes/RO, onde o pais registrar possuía conhecimento de não ser o pai biológico, mas como vivia em união estável com a mãe da criança, registrou-lhe em seu nome, o relacionamento acabou rompendo-se. Desta forma, a mãe entrou, como representante da menor, com pedido para alteração do registro. ‘Como não houve erro, dolo ou coação para o registro, a juíza entendeu tratar-se de um caso de adoção

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à brasileira.’’ (Página 174), a criança após confirmação de sua filiação biológica através do DNA, passou a ter em sua certidão dois pais, o biológico e o sociafetivo, já que possuía um bom relacionamento com sua família socioafetiva do até então padrasto, e o registro da mãe biológica. Em 2014, na comarca de Rio Branco, no Acre, aconteceu o caso semelhante a este, o qual também foi dado provimento a inclusão do pai biológico, sem exclusão do socioafetivo. No Rio Grande do Sul: A 3ª Vara Cível de Santana do Livramento, também julgou nesta linha de pensamento em relação a mulpaternidade.’’ Em maio de 2009, o TJ/RS (Apelação n. 70029363918) entendeu que não há prevalência entre a paternidade biológica ou a socioafetiva e que é um direito do filho buscar sua identidade biológica.’’ (2017,pg. 175).

O entendimento do STJ visa o princípio do melhor interesse do menor, devendo ainda afirmarmos que o mesmo ainda não possui um posicionamento concreto. O STF: ‘’ A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem genética, com todas as suas consequências patrimoniais e extrapatrimoniais.’’ (STF, RE 898.060, Rel. Ministro Luiz Fux)

3.1 Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – TJ/RS

O judiciário por diversas vezes foi acionado para decidir em relação a casos de

multiparentalidade, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ao julgar um dos

primeiros casos que solicitavam o reconhecimento da multiparentalidade, teve seu posicionamento improcedente. Alegado ser impossível ter o registro de dois pais ou de duas mães ao mesmo tempo.

Apelação cível. Ação de reconhecimento de paternidade socioafetiva. Efeitos meramente patrimoniais. Ausência de interesse do autor em ver desconstituída a paternidade registral. Impossibilidade jurídica do pedido. Considerando que o autor,

embora alegue a existência de paternidade socioafetiva, não pretende afastar o liame parental em relação ao pai biológico, o pedido configura-se juridicamente impossível, na medida em que ninguém poderá ser filho de dois pais. Impossibilidade jurídica do pedido

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reconhecida de ofício. Processo extinto. Recurso prejudicado (TJRS;

Apelação Cível 70027112192; Oitava Câmara Cível; Rel. Des. Claudir Fidélis Faccenda;. 2.4.2009).

No ano de 2009 se julgou pela impossibilidade jurídica do pedido, levando o processo a ser extinto. Para Maria Berenice Dias, embora não exista lei que preveja a possibilidade de uma pessoa ser registrada em nome de mais de dois genitores, não existe proibição, pois o que não é proibido é permitido (DIAS, 2017, s.p)

A Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) em seu julgamento de um caso de adoção, optaram pela inclusão da multiparentalidade na certidão de nascimento de adotada. Assim, constará no registro da jovem o nome do pai biológico e do pai-adotante e, como consequência, a adoção do sobrenome do adotante sem prejuízo da manutenção do sobrenome do pai biológico.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE

MULTIPARENTALIDADE. REGISTRO CIVIL. DUPLA

MATERNIDADE E PATERNIDADE. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. INOCORRÊNCIA. JULGAMENTO DESDE LOGO DO MÉRITO. APLICAÇÃO ARTIGO 515, § 3º DO CPC. A ausência de lei

para regência de novos - e cada vez mais ocorrentes - fatos sociais decorrentes das instituições familiares, não é indicador necessário de impossibilidade jurídica do pedido. É que "quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito (artigo 4º da Lei de Introdução ao Código Civil). Caso em que se desconstitui a sentença que indeferiu a petição inicial por impossibilidade jurídica do pedido e desde logo se enfrenta o mérito, fulcro no artigo 515, § 3º do CPC. Dito isso, a aplicação dos princípios da "legalidade", "tipicidade" e "especialidade", que norteiam os "Registros Públicos", com legislação originária pré-constitucional, deve ser relativizada, naquilo que não se compatibiliza com os princípios constitucionais vigentes, notadamente a promoção do bem de todos, sem preconceitos de sexo ou qualquer outra forma de discriminação (artigo 3, IV da CF/88), bem como a proibição de designações discriminatórias relativas à filiação (artigo 227, § 6º, CF), "objetivos e princípios fundamentais" decorrentes do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. Da mesma forma, há que se julgar a pretensão da parte, a partir da interpretação sistemática conjunta com demais princípios infra-constitucionais, tal como a doutrina da proteção integral o do princípio do melhor interesse do menor, informadores do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), bem como, e especialmente, em atenção do fenômeno da afetividade, como formador de relações familiares e objeto de proteção Estatal, não sendo o caráter biológico o critério exclusivo na formação de vínculo familiar. Caso em que no plano fático, é flagrante o ânimo de paternidade e maternidade, em conjunto, entre o casal formado pelas mães e do pai, em relação à menor, sendo de rigor o

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