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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA. Programa de Pós Graduação em Geografia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

Programa de Pós – Graduação em Geografia

PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DO MUNICIPIO

DE NOBRES-MT

Anderson Boaventura da Cunha

Cuiabá/MT

2011

(2)

ii ANDERSON BOAVENTURA DA CUNHA

PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DO MUNICIPIO

DE NOBRES - MT

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia, do Instituto de Ciencias Humanas e Sociais, da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Geografia, na área de Concentração “Ambiente e Desenvolvimento Regional”

Orientadora: Prof. Dr. Márcia Ajala Almeida

CUIABÁ – MT 2011

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FICHA CATALOGRÁFICA

C972p Cunha, Anderson Boaventura da.

Processo de formação do espaço urbano do município de Nobres - MT / Anderson Boaventura da Cunha. – 2011.

xv, 146 f. : il. color.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Márcia Ajala Almeida.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Pós-Graduação em Geografia, Área de Concentração: Ambiente e Desenvolvimento Regional, 2011.

Bibliografia: f. 141-146.

1. Nobres (MT) – Espaço urbano. 2. Nobres (MT) – Desenvolvimento urbano. 3. Nobres (MT) – Aspectos socioeconômicos. I. Título.

CDU – 911.375.6(817.2) Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931

(4)

iii

Anderson Boaventura da Cunha

Processo de Formação do Espaço Urbano do município de Nobres-MT

Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Geografia, do Instituto de Ciencias Humanas e Sociais, da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Geografia, na área de Concentração “Ambiente e Desenvolvimento Regional”

Dissertação defendida e ___________________ em ____ de outubro de 2011, pela comissão julgadora.

______________________________________________________ Prof. Dr. Márcia Ajala Almeida (Orientadora)

Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFMT - Cuiabá

_____________________________________________________ Prof. Dr. Cornélio Silvano Vilarinho Neto

Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFMT - Cuiabá

______________________________________________________ Prof. Dr. Zuleika Alves de Arruda

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFMT/MT Cuiabá

Cuiabá – MT – BRASIL 2011

(5)

iv

A todos como eu, nobrense de “chapa e cruz” e também aos que pretendem ser só cruz, dedico este trabalho.

(6)

v AGRADECIMENTOS

Este espaço é de agradecimentos e reconhecimentos que incluem os mais diversos sentidos da minha vida. A todos agradeço, e as citações subseqüentes com exceção da primeira não devem levar em questão o grau de importância.

Primeiramente agradeço a Deus, pai de infinita misericórdia, pela oportunidade maravilhosa da vida.

A minha família, em especial, meus pais de relação sanguínea e os de ligação espiritual, aos meus irmãos e a os meus caros amigos D²JP (Daniel, Diogo, Jared e Pierre), bem como ao Danilo e a Marina Gimenes, bem como a cara amiga Anita Aiko, agradeço a todos vocês por me incentivarem e apoiarem nos momentos de provação.

Á dona Martinha (in memória), pessoa pelo qual serei eternamente agradecido a Deus por ter a conhecido. Com ela pude compreender o que é lealdade, dedicação e honestidade, meus mais sinceros agradecimentos.

A Prof. Dr. Márcia Ajala Almeida, querida orientadora, que pela paciência e abnegação me guiou, no mestrado, especialmente nos momento que mais necessitei de sua compreensão e amizade.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela permissão do financiamento do Estado por meio de concessão de bolsa para a realização da presente pesquisa.

Aos funcionários do ICHS/UFMT, Campus de Cuiabá, em especial a secretária Regina do PPGG, pela paciência e dedicação; e aos professores do PPG Geografia, que contribuíram decisivamente para o meu aperfeiçoamento acadêmico.

Aos queridos amigos que juntos comigo caminharam o mesmo caminho, com ajuda mútua, com fé e certeza na vitória em especial, Reginaldo Carlos de Abreu, Paulo Daniel Curti de Almeida, Euzemar Fátima Lopes Siqueira, Ana Paula Konrad, Selton Evaristo de Almeida Chagas, Francisco Luiz Bohns Ribeiro, Érika Mota do Carmo, Francisco Vieira da Silva, Josemara de Brito Souza, Marcos Amaral Mendes, Laércio dos Santos, Adelaine Alves Cezar, Adriana Oliveira Barros, Osvaldo Alexandre Paris.

(7)

vi Ao Prof. Dr. Cornélio Silvano Vilarinho Neto (inspiração acadêmica), e a nobre Prof. Dr. Zuleica Alves de Arruda, pelos entendimentos valiosos que me oportunizaram no exame de qualificação.

Aos moradores do município de Nobres, conterrâneos aos quais tenho total respeito e carinho e em especial, ao Sr Mario, prof. Durval, prof. Sidnei, dona Martinha, dona Lira, dona Moça, Prof. Janes, Anita, Marina entre outros que gentilmente se dispuseram a me mostrar o seu modo de ver o processo de formação do nosso querido município de Nobres.

Às outras instituições em especial ao IBGE que foi meu companheiro em todo o período da pesquisa me disponibilizando dados de ontem e de hoje em relação ao meu objeto de estudo. Agradeço também aos órgãos públicos do Estado de Mato Grosso, mesmo sem citá-los nominalmente, agradeço a todos que contribuíram com minhas buscas e levantamentos de material documental.

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vii

O criador tão grandioso foi generoso com a terra em que nasci pois me deu tanta beleza e riqueza sem fim Sua história é tão singela porém feita de labor seu futuro é de grandeza tu és Nobres a princesa da serra do Tombador Seu futuro é de grandeza Tu és Nobres a princesa Da serra do Tombador Nobres terra que eu canto Os seus encantos Paraíso multicor De honras cobre vossos filhos Que te amam com ardor Do explendente Mato Grosso Tu és Nobres a capital Do cimento e do calcário Este seu lindo cenário Deus criou com muito amor Seu futuro é de grandeza Tu és Nobres a princesa Da serra do Tombador

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viii RESUMO

CUNHA, Anderson Boaventura. Processo de Formação do espaço urbano do município de Nobres-MT. 2011. 143 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2011

Esta dissertação realizou estudo sobre o processo de formação do espaço urbano de Nobres, Estado de Mato Grosso. Seu objetivo geral foi o de investigar os processos que acarretaram a forma do espaço urbano de Nobres e sua formação desde sua emancipação aos dias atuais, tendo como objetivos específicos o diagnóstico das transformações no espaço urbano de Nobres, a compreensão dos processos que acarretaram a formação do espaço urbano de Nobres e a identificação das funções que o espaço urbano de Nobres desempenha/desempenhou desde sua emancipação em 1963 até os dias atuais caracterizando assim a estrutura urbana do município. Foi realizado um estudo de caso, onde se empregou como coleta de dados a entrevista semi-estruturada, bem como pesquisa bibliográfica. A pesquisa investigou as mudanças ocorridas no espaço urbano nobrense procurando entender os processos que lhe formaram a paisagem urbana. Os resultados mostram que o município nasceu por interesses políticos, se consolidou como espaço urbano por meio da exploração mineral do calcário e está em faze de reestruturação urbana capitaneada pela promissora nova função econômica o turismo.

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ix RESUMEN

CUNHA, Anderson Boaventura. Proceso de formación del espacio urbano en la ciudad de Nobres-MT. 2011. 143 F. Disertación (MA) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 2011

Esta disertación realizó un estudio sobre el proceso de formación del espacio urbano de la ciudad de Nobres, del Estado de Mato Grosso. Su objetivo general fue de investigar los procesos que resulto la forma del espacio urbano de Nobres y su formación desde su emancipación hasta la actualidad, con los objetivos específicos de lo diagnóstico de los cambios en lo espacio urbano de Nobres, la comprensión de los procesos que condujeron la formación del espacio urbano de Nobres y la identificación de las funciones que el espacio urbano de Nobres juega/jugó desde su emancipación en 1963 hasta la actualidad caracterizando la estructura del municipio urbano. Se realizó un estudio de caso, en que fue utilizada la colecta de datos a la entrevista semi-estructurada, bien como la pesquisa bibliográfica. El estudio investigó los cambios que se produjo en lo espacio urbano nobrense buscando entender los procesos que le formaron el paisaje urbana. Los resultados mostraron que la ciudad nació por intereses políticos, se ha consolidado como un espacio urbano por causa de la extracción de piedra caliza y está en fase del reestructuración urbana encabezada por el prometedor nuevo papel económico: lo turismo.

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x LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Linha de demarcação entre terras atribuídas a Portugal e Espanha ________________________ 54 Figura 2 Mapa do município de Nobres a partir de dados presentes na lei de criação do município, 1963 ___ 59 Figura 3 - Mapa do Município de Nobres, 1976 _________________________________________________ 60 Figura 4 - Mapa do Município de Nobres com seus distritos subordinados em 1980 ____________________ 61 Figura 5 - Mapa do Município de Nobres com o desmembramento de Sorriso, 1986 ____________________ 62 Figura 6 - Mapa atual do município de Nobres, 2011 ____________________________________________ 65 Figura 7 - Mapa de localização da cidade de Nobres_____________________________________________ 67 Figura 8 Mapa Geológico da Faixa Paraguai no Centro Oeste de Mato Grosso _______________________ 69 Figura 9 - Distribuição da população por distrito no município de Rosário Oeste/MT ___________________ 72 Figura 10 - Distribuição percentual da população do distrito de Nobres, década de 1940 ________________ 73 Figura 11 - Distribuição da população absoluta do distrito de Nobres, década de 1950 _________________ 76 Figura 12- Mapa do projeto de emancipação do distrito de Nobres, 1963 ____________________________ 78 Figura 13 - Escola Municipal Rural Mista do Mangavalzinho, 1975 _________________________________ 80 Figura 14 - Casa construída no inicio da década de 1960 e Calçamento em rua revestida em paralelepípedo final da década de 1970 e inicio de 1980 ______________________________________________________ 81 Figura 15 - Distribuição percentual da população no Município de Nobres ___________________________ 85 Figura 16- Foto oficial de posse dos eleitos no ano de 1970 _______________________________________ 86 Figura 17 - Placa de inauguração da Escola Estadual Profº. Nilo Póvoas, 1973 _______________________ 88 Figura 18 - Vista da antiga sede do executivo municipal e da Praça Josino Serra ______________________ 90 Figura 19 - Situação demográfica do município de Nobres ________________________________________ 92 Figura 20 - Vista da Avenida Getulio Vargas ___________________________________________________ 94 Figura 21 - Vista da antiga rodoviária municipal de Nobres _______________________________________ 95 Figura 22 - Ponto de taxi municipal “São Luiz” ________________________________________________ 96 Figura 23 - Situação demográfica do município de Nobres _______________________________________ 100 Figura 24 - Percentual origem das pessoas formadoras da população nobrense ______________________ 101 Figura 25 - Avenida Juscelino Kubistchek, 1996 _______________________________________________ 103 Figura 26 - Corredor comercial secundário – Avenida Getulio Vargas - Centro ______________________ 104 Figura 27 - Comércio com as portas fechadas, situação vivenciada neste período pela Cidade ___________ 105 Figura 28 - Estabelecimentos comerciais varejista de baixo padrão – Avenida JK - Centro ______________ 105 Figura 29 - Ocupações de mão de Obra no Município de Nobres, ano 2000 __________________________ 106 Figura 30 - Avenida Marzagão (MT-241), bairro Jardim Petrópolis ________________________________ 108 Figura 31 - Vista parcial da Cohab Marzagão, 1997 ____________________________________________ 110 Figura 32 - Unidade habitacional da Cohab Marzagão, Bairro Jardim Petrópolis, 2010 ________________ 111 Figura 33 - Ponte de Ferro sobre o rio Nobres, 2010____________________________________________ 112 Figura 34 - Rotatório da Avenida Buriti ligação entre o Centro da cidade e o bairro Jardim Petrópolis ____ 113 Figura 35 - Vista do termina rodoviário de Nobres “Jaime Campos” _______________________________ 114 Figura 36 - Vista da rua 02 no Bairro Jardim Carolina, fundo com a Rodoviária _____________________ 115 Figura 37 - O Grupo Votorantim no mundo, 2011 ______________________________________________ 118 Figura 38 - Mapa de localização das unidades da Votorantin Cimentos, 2011 ________________________ 119 Figura 39 - Vista Parcial da Unidade fabril de cimento da Votorantim em Nobres – MT ________________ 120 Figura 40 – Dados da implantação da Cimento Mato Grosso S.A – Nobres, MT ______________________ 121 Figura 41 – Dados da Produção e mercado consumidor da Cimento Mato Grosso S.A – Nobres, MT ______ 122 Figura 42 - Cimento Mato Grosso S.A. Unidade: Nobres ________________________________________ 123 Figura 43 - Distribuição da população do município de Nobres ___________________________________ 126 Figura 44 - Evolução populacional do município de Nobres 1970 a 2010 ____________________________ 127 Figura 45 - Distribuição percentual da população residente por bairro em Nobres, 2010 _______________ 128 Figura 46- Fachada de uma das casas no Residencial Primavera, 2010 _____________________________ 131

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xi

Figura 47 - Residencial Morada do Sol – Vila B - Aeroporto, 1997 _________________________________ 132 Figura 48 - Praça da Bíblia, bairro Jardim Glória _____________________________________________ 133 Figura 49 - Praça da Matriz, 2009 __________________________________________________________ 135 Figura 50 - Vista Aérea da Avenida JK_______________________________________________________ 136

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xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland

BEMAT – Banco do Estado de Mato Grosso

CEFEM – Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais

CIMAG – Cimento Mato Grosso S.A.

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo

EMPAER – Empresa de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso

FCO – Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste

FES – Formação Econômica e Social

FIEMS – Federação das Indústrias de Mato Grosso

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICHS – Instituto de Ciências Humanas e Sociais

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviço

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária xxi

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada

MMA – Ministério do Meio Ambiente

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xiii MT – Mato Grosso

PEA – População Economicamente Ativa

PIB – Produto Interno Bruto

PIN – Programa de Integração Nacional

POLAMAZÔNIA – Programa Especial de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia

POLOCENTRO – Programa Especial de Desenvolvimento dos Cerrados

PRODOESTE – Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste

PROMAT - Programa de Desenvolvimento de Mato Grosso

RAIS – Relatório Anual de Informações Sociais

SEMA – Secretaria Estadual do Meio Ambiente

SEPLAN/MT – Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral do Estado de Mato Grosso

SNIC – Sindicato Nacional da Indústria do Cimento

SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

SUDECO – Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste

UFMT – Universidade Federal do Estado de Mato Grosso WWW – Word Wid Web

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xiv SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

ENSAIOS CONCEITUAIS DE ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE ... 24

1.1–O ESPAÇO GEOGRÁFICO ... 24

1.2–PAISAGEM ... 30

1.3–OTERRITÓRIO ... 32

1.4–A CIDADE E O URBANO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ... 33

1.5.–FUNÇÃO URBANA... 41

CONTEXTUALIZAÇÃO ESPACIAL DO OBJETO DE ESTUDO ... 51

2.1–CONTEXTUALIZANDO O ESPAÇO REGIONAL ... 54

2.2–ÁREA DE ESTUDO ... 57

PRODUÇÃO DO ESPAÇO REGIONAL: DA CONQUISTA DO TERRITORIO A CONSOLIDAÇÃO DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE ... 71

3.1-ACONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO NOBRENSE –PERÍODO DE 1960 A 1970. ... 76

3.1.1–A FORMA E A FUNÇÃO DE NOBRES NO PERÍODO PRÉ-EMANCIPAÇÃO ... 79

3.1.2–ASPECTOS POLÍTICOS DO PRINCIPIO DA CONSOLIDAÇÃO DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE ... 82

3.2-POLÍTICAS PÚBLICAS, E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE –PERÍODO DE 1971 A 1980 ... 83

3.2.1–ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE NO PERÍODO DE 1971 A 1980 . 84 3.2.2–A PAISAGEM URBANA NOBRENSE NO PERÍODO DE 1971 A 1980 ... 85

3.3–URBANIZAÇÃO NOBRENSE, UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE SUA FUNÇÃO ECONÔMICA REGIONAL –PERÍODO DE 1981 A 1990 ... 91

3.3.1-ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DO PERÍODO... 91

3.3.2–ASPECTO SÓCIO ECONÔMICO DO PERÍODO DE 1981 A 1990 ... 92

3.4-CONSOLIDAÇÃO URBANA E AS NOVAS PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO URBANO –PERÍODO DE 1991 A 2000 ... 97

(16)

xv

3.4.2–ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS PARA O PERÍODO ... 99

3.4.3–A FORMA E A FUNÇÃO URBANA PARA O PERÍODO ... 107

3.5–UMA FUNÇÃO ECONÔMICA, COMO REFERÊNCIA GEOGRÁFICA ... 116

3.5.1–OGRUPO VOTORANTIM ... 117

3.5.2–OGRUPO VOTORANTIM EM NOBRES-MT ... 119

3.6-NOVAS PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO A ATUAL CONFIGURAÇÃO URBANA NOBRENSE –PERÍODO DE 2001 A 2011 ... 124

3.6.1–ASPECTOS POLÍTICOS PARA ESTE PERÍODO DE 2001 A 2011 ... 124

3.6.2-ASPECTOS DEMOGRÁFICOS ... 125

3.6.3–FORMA ATUAL DO ESPAÇO URBANO ... 129

3.6.4–NOVOS APARELHOS URBANOS ... 132

3.6.5–A FORMA E A FUNÇÃO URBANA PARA O PERÍODO DE 2001 A 2011 ... 135

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 138

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16

INTRODUÇÃO

O intenso processo de urbanização do território brasileiro, principalmente a partir da metade do século XX, impulsionado pelo revolucionário processo de industrialização patrocinado pelo governo brasileiro sob influência do mercado externo, tem sido motivo de diversos trabalhos científicos, principalmente pelas transformações ocasionadas no modo de vida dos brasileiros que tinham até então como base de vida o ambiente rural.

Esta mudança de perfil social trouxe diversos desafios, tendo em vista que o Estado não se preparou para este novo cenário que se colocava em construção de forma acelerada. Aspectos como o desemprego, a falta de condições básicas de infra-estrutura e moradia, violência urbana dentre outros, trouxeram questões a serem analisada referente a este fenômeno urbano.

No Estado de Mato Grosso este processo de urbanização teve como referência principalmente as políticas de ocupação da Amazônia proporcionadas pelo governo militar, que possibilitaram um aumento demográfico no território mato-grossense, bem como um fluxo intenso dos habitantes das áreas rurais em direção aos centros urbanos.

O município de Nobres em especial sua sede, não diferente do Estado de Mato Grosso, sofreu a partir dos anos de 1970, um aumento demográfico considerável, incentivado pelas políticas publicas, em que o movimento transitório da população da área rural em direção a urbana, vindo em busca das facilidades oferecidas pelo novo plano social e econômico, teve nesse fato importante reflexo na consolidação do espaço urbano nobrense, pois naquele período, o pouco que tinha se encontrava nas cidades.

Além disso, é importante considerar a tendência das pesquisas em centralizar seu foco nas metrópoles, cidades grandes e médias, não dando uma atenção maior ao estudo das pequenas cidades, motivo este, embalado pelas condições econômicas que colocam as pequenas cidades à margem do estudo, e não dos processos. Neste ponto nos embasa Correa (1999, p45) quando nos traz que “os esforços de reflexão empreendidos sobre o espaço urbano e a cidade tem preferencialmente, privilegiado as grandes cidades” sendo que há grande necessidade do estudo desse fenômeno urbano nas pequenas cidades, pois isso se faz

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17 necessário principalmente no Estado de Mato Grosso, que é constituído em sua maior parte de pequenas cidades, justificando assim, o presente estudo para que se possa entender o universo urbano regional.

Diante disso a pesquisa tem como objetivo geral investigar os processos que acarretaram a forma do espaço urbano de Nobres e sua função desde sua emancipação até os dias atuais. Sendo este objetivo detalhado nos seguintes objetivos específicos: diagnosticar as transformações na forma do espaço urbano de Nobres; compreender os processos que acarretaram a formação do espaço urbano de Nobres; identificar as funções que o espaço urbano de Nobres desempenha/desempenhou desde sua emancipação em 1963 até os dias atuais e caracterizar a estrutura urbana do município de Nobres.

Em contemplando as questões alocadas, a pesquisa tem um papel social de suma importância por possibilitar o acesso da população local às informações de como o lugar onde vivem foi constituído, permitindo conhecer esse espaço e por ele tomar partido de forma consciente.

Sabemos que na dialética „homem x natureza‟ base do desenvolvimento e transformação das sociedades humanas, será desenvolvida como base conceitual apoiada em autores como Lefebvre, Milton Santos e Lobato Corrêa, entre outros que trabalham a questão geográfica, para melhor compreensão de conceitos básicos, Espaço Geográfico, Paisagem (forma urbana), Território, Cidade, urbano e urbanização e a função urbana.

Segundo CORRÊA (1989), a complexidade do espaço urbano capitalista pode ser entendida em quatro aspectos indissociáveis, intrínsecos à sua própria definição. Na forma, o espaço urbano capitalista aparece como que fragmentado, separado pelas diversas atividades produtivas e de consumo. Na realidade a divisão desse espaço é apenas na sua configuração espacial já que não há autonomia dos chamados fragmentos em relação ao urbano como um todo; Esse é totalmente articulado, dadas as relações espaciais de natureza social, por exemplo, as decisões do poder constituído, a circulação de informações e investimentos de capital e a ideologia, entre outros, que unem em um só espaço, os demais fragmentos da cidade.

O espaço urbano é reflexo não só das relações sociais ocorridas hoje, mas também das que ocorreram outrora, no passado. Ele reflete todo o avanço social sofrido através da sua

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18 formação. O autor ressalta ainda que o espaço urbano capitalista, por refletir as relações sociais e ser fragmentado, é visivelmente dessemelhante, e, pelo mesmo fato ele refle as relações sociais, que estão sempre em mutação. Essas mudanças variam em ritmo, direção ou natureza. Numa outra esfera, as formas espaciais não só proporcionam como também condicionam a reprodução das mesmas, criando condicionantes referenciais de produção do espaço.

Sendo assim, segundo CORRÊA, (1989, p.9) o processo de reprodução das classes sociais “envolve o cotidiano e o futuro próximo, bem como as crenças, valores e mitos criados no bojo da sociedade de classes e, em parte, projetados nas formas espaciais: monumentos, lugares sagrados, uma rua especial etc.” Identifica-se por essas formas sociais a “dimensão simbólica” do espaço urbano que varia de acordo com os diferentes grupos, seja em atividades sociais, faixa etária, entre outros aspectos constituintes do espaço geográfico. A desigualdade social existente no espaço da cidade acarreta em diversos movimentos, conflitos e lutas sociais justificadas pelo desejo de conquista do direito à cidade, à igualdade social e, como disse o mesmo autor, à cidadania plena.

As formas espaciais surgem como resultado da estruturação de relações sociais imbricadas entre si e de difícil desarticulação, de sorte que se mostram como uma só tessitura e diferenciam o espaço. O espaço urbano, portanto, não diz respeito apenas ao modo de produção, mas a todas as relações sociais que lhe são inerentes, sejam políticas, religiosas, econômicas, jurídicas, melhor dizendo, diz respeito a todo o seu cotidiano. Nessa direção, Carlos (1994, p. 181) entende que:

(...) a idéia de urbano transcende aquela de mera concentração do processo produtivo stricto sensu. O urbano é um produto do processo de produção de um determinado momento histórico, não só no que se refere à determinação econômica do processo (produção, distribuição, circulação e consumo), mas também no que se refere às determinações sociais, políticas, ideológicas, jurídicas que se articulam na totalidade da formação econômica e social. Assim, “o urbano é mais que um modo de produzir, é também um modo de consumir, pensar, sentir, enfim é um modo de vida.

O espaço é produzido e consumido diferentemente, comparando-se os padrões de uso e ocupação do espaço urbano e suas relações de poder e dominação inter e intra -espacial, ou ainda, analisando-se o comportamento de dois núcleos urbanos na disputa por mercados.

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19 Existem, assim, dois tipos de valores atribuídos ao espaço: o valor de uso (espaço efetivo) e o valor de troca (espaço consumido). A produção para a troca, no modo capitalista de produzir, implica uma nova relação com a natureza, procurando produzir valor monetário a ela. Tudo, inclusive as pessoas, é „transformado‟ em moeda, ou faz parte de relações de interesse ou de comércio.

A velocidade tornou-se necessária dentro do processo de acumulação de capital, e produzir mais em menos tempo, num menor espaço, é vital para o modo de produção. A fibra óptica, os semicondutores, os satélites, enfim a tecnologia de ponta alterou o ritmo de vida da sociedade urbana. O grau deste impacto é determinado pelo uso das técnicas, objetos, resquícios dos processos técnicos anteriores, e do fator histórico ou temporal da sociedade em estudo, alterando a relação espaço-tempo e as relações sociedade-natureza. Segundo o entendimento de Santos:

(...) o espaço é formado de objetos; mas não são os objetos que determinam os objetos. É o espaço que determina os objetos: o espaço visto como um conjunto de objetos organizados segundo uma lógica e utilizados (acionados) segundo uma lógica. (SANTOS, 1997 p. 239)

A lógica do capital em distribuir os objetos, as técnicas e os serviços no espaço urbano varia de acordo com seus interesses, individuais ou coletivos (de grupos ou de uma classe). O acúmulo de trabalho (serviços) e objetos (infra-estrutura, natureza etc.) num determinado espaço, qualifica-o como sinônimo de modernidade, poder, conforto, bem viver.

A fragmentação dos espaços serve para diferenciar, valorizar ou desvalorizar os mesmos, conforme a intenção de aproximar e/ou afastar deles, pessoas e objetos. Sem representatividade, a população menos favorecida fica a mercê dos detentores do poder/saber, apenas sobrevivendo e reproduzindo a classe trabalhadora. Este modelo é altamente cômodo e rentável para o processo de exploração e acumulação do capital.

Santos (1996, p.10), ao analisar o processo de urbanização brasileira, destaca que: Ao longo do século, mas, sobretudo nos períodos mais recentes, o processo brasileiro de

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20 urbanização revela uma crescente associação com a da pobreza, cujo lócus passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade. O campo brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizada vivem cada vez mais nos espaços urbanos. A indústria se desenvolve com a criação de pequeno número de empregos e o terciário associa formas modernas a formas primitivas que remuneram mal e não garantem a ocupação.

Diante da realidade descrita, a presente pesquisa busca investigar em que medida os programas de desenvolvimento regional, aplicado pelo Estado brasileiro em Mato Grosso, teve reflexo na configuração da estrutura urbana de Nobres, buscando responder as seguintes questões: a) Quais foram as bases econômicas do Município de Nobres a contar de sua emancipação política até os dias atuais? b) Qual o papel da indústria de exploração do Calcário na estrutura urbana de Nobres? c) Quais condições físicas possibilitaram a consolidação da indústria do calcário em Nobres d) Qual a influência da fábrica de Cimento, indústria ligada ao Grupo Votorantim nos processo de formação ou de transformação do espaço urbano nobrense nos últimos 20 anos? d) Quais Programas de desenvolvimento regional proporcionados pelo Estado brasileiro estão presentes no processo de formação do espaço urbano de Nobres? e) Qual a função do espaço urbano de Nobres na divisão regional do trabalho no processo do agronegócio? f) Quais foram os reflexos percebidos no espaço urbano nobrense com as divisões no território do município? Quais mudanças podem ser observadas na paisagem urbana da cidade de Nobres?

A pesquisa se desenvolve no município de Nobres, Estado de Mato Grosso. Cidade localizada na mesorregião norte mato-grossense, microrregião do Alto Teles Pires, distante da capital Cuiabá, cerca de 140 km, e população segundo último recenseamento de 15.003 habitantes (IBGE, 2010). Em relação às atividades econômicas do município, Nobres tem como principal atividade a produção do calcário e cimento, sendo o maior produtor de calcário no Estado, e único de cimento até o momento. Nobres, apresenta também uma atividade agropecuária em ascensão, principalmente na parte nordeste de seu território. Outra atividade que tem grande expectativa é a exploração do turismo, pois o município conta com grande número de atrativos naturais, sendo reconhecido como um potencial roteiro turístico do Estado de Mato Grosso.

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21 Os procedimentos técnicos e metodológicos adotados na pesquisa foram: levantamento bibliográfico, ampla pesquisa empírica com moradores locais, pesquisa exploratória, documental, cartográfica, fotográfica e levantamentos de dados estatísticos nos diversos órgãos públicos; notadamente o IBGE, nos seus recenseamentos demográficos (1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000), SEPLAN (Anuário Estatístico) 1960, 1970, 1980, 1990, 2000, 2007, 2008. Segue abaixo as etapas trabalhadas.

Etapa 1 – Coleta e compilação de dados de identificação das fontes e das técnicas da pesquisa, através das seguintes ações:

 Levantamento Bibliográfico sobre a área em estudo (localização, aspectos físicos, históricos, demográficos e socioeconômicos)

 Leituras sobre os temas Espaço, Forma e Função urbana

 Seleção de órgãos públicos e privados para levantamento de dados de pesquisa.  Elaboração de questionários e roteiros de entrevistas para moradores locais

Etapa 2 – Trabalho de Campo:

A pesquisa de campo foi efetuada com visitas programadas in loco, aplicação de questionários sobre o padrão de ocupação das quadras, a tipologia das edificações, rede técnica instalada e projetada, densidades de equipamentos comunitários, mobiliário urbano.

A pesquisa se utilizou de mapas de natureza diferenciada, tendo em vista os objetivos e metas a alcançar. Foram também utilizados na pesquisa softwares e gráficos para fazer a vetorização de mapas temáticos, tendo por base imagem aerofotogramétrica.

 Pesquisa nos seguintes locais; (1) Prefeitura Municipal de Nobres

(2) Arquivo Público do Estado de Mato Grosso

(3) Instituto Histórico da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso (4) Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Estado de Mato Grosso (5) Prefeitura Municipal de Rosário Oeste

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22  Aplicação de questionários semi-estruturados para a população envolvida na

construção das Referências de produção do espaço urbano nobrense.

 Compilação e digitalização de fotografias históricas da cidade obtidas junto à comunidade, sendo utilizado neste processo, Scanner Epson.

 Registro fotográfico para visualização dos elementos geográficos que compõe a paisagem urbana hoje da cidade de Nobres. Nesta atividade se utilizou de maquina fotográfica digital (SONY – Cybershot 1.2 Mega Pixels)

 Junto à prefeitura foi obtido Mapa Cadastral de Nobres para melhor visualização espacial dos fenômenos na construção do espaço urbano a serem estudados – Secretaria de Tributos de Nobres (ano, 2007) na escala de 1:4.000 (Anexo II);

Etapa 3 – Sistematização dos dados e conclusão

A questão metodológica fundamental é a necessidade de consorciação entre fontes escritas – análises produzidas por estudiosos, documentação primaria com a observação e a interpretação dos relatos das pessoas entrevistadas.

Essa metodologia propiciou conhecer o objeto de estudo da pesquisa e problematizá-lo a partir de observações, pesquisa empírica, embasamento teórico, entrevista e informações obtidas em órgãos e diversas entidades.

Tudo isso deu suporte para a compilação de mapas e escrita do trabalho, sendo essa última etapa da pesquisa. O trabalho apresenta a seguinte estrutura:

A primeira parte, Ensaios conceituais de análise do Espaço Urbano Nobrense, percorre meandros conceituais em torno do espaço urbano, que vão desenhando teoricamente o objeto de estudo proposto.

A segunda parte, intitulado Contextualização Espacial do Objeto de Estudo contextualiza o objeto de estudo, traçando um breve relato de ocupação regional, criando subsídios para a análise no nível local.

Finalmente, a terceira parte, Produção do Espaço Regional da conquista do Território a consolidação do Espaço Urbano Nobrense, apresenta as formas urbanas e as suas funções no

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23 espaço-tempo. Os elementos geográficos tomados como Referência retratam e confirmam a posição de Nobres como uma centralidade pelos serviços oferecidos nos setores da educação, saúde, transporte bem como a existência de vários escritórios de órgãos públicos e privados instalados na cidade em função da sua posição estratégica, da infra-estrutura e dos equipamentos oferecido pela mesma.

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CAPÍTULO I

ENSAIOS CONCEITUAIS DE ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE

A urbanização como processo, e a cidade, forma concretizada deste processo... (SPOSITO, 2008:11)

Ensaios conceituais de análise do espaço urbano nobrense devem ser entendidos como uma breve discussão e/ou exposição dos principais conceitos trabalhados dentro das temáticas que são pertinentes a este estudo.

Essencialmente teórico e conceitual vai explanar as idéias que remetem ao tema do trabalho. Serão trabalhados os conceitos de espaço geográfico, a paisagem nesse caso entendida como forma, o urbano e suas funções e como processo a urbanização. A visão de alguns autores acerca desses conceitos auxiliará na composição de todo o trabalho, tendo em vista as suas colocações mais relacionadas ao objetivo central do trabalho que é o processo de formação do espaço urbano nobrense. Optamos no desenvolver das idéias dar ênfase a visão miltoniana, por entender que o mesmo contempla os anseio propostos no desenvolvimento da pesquisa, não esquecendo que outros grandes autores trabalham também estes conceitos com grande maestria intelectual. Os ensaios visarão abordar algumas das várias escalas de análise, sendo que todas têm como viés principal o espaço local, dando uma maior atenção a questões que envolvem as pequenas cidades, natureza do nosso objeto de estudo.

1.1 – O espaço Geográfico

O espaço apresenta uma multiplicidade de definições e significações, por ser mutável no tempo, portanto é possível falar no espaço de uma casa, de uma cidade, região etc. Fazendo-se, referência ao espaço das expressões das materialidades geográficas onde se pode falar do espaço enquanto conteúdo abstrato: espaço das relações sociais.

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25 O espaço concebe-se como o lugar da reprodução das relações sociais de produção, ou seja, reprodução da sociedade. Assim, a formação social não pode ser compreendida sem referência à noção de espaço, o qual deve ser considerado segundo Santos:

Como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual. Daí porque evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares (SANTOS, 1986, p. 122).

Diante desta perspectiva miltônia podemos entender a natureza de inter-relação do espaço geográfico levando em questão as condições estabelecidas num determinado momento e num determinado lugar, possibilitando assim diferentes situações sociais, promovidos pelos mais diversos agentes produtores do espaço geográfico.

Já em outra obra, o autor afirma que “o espaço é uma estrutura social dotada de um dinamismo próprio e revestida de certa autonomia, na medida em que sua evolução se faz segundo leis que lhes são próprias” (Santos, 1988:15).

Este conceito está fundamentado na relação indissociável entre espaço e sociedade. Continuando com autor

“o espaço geográfico é considerado como uma porção bem

delimitada da sociedade local quanto das influências externas e até mesmo estrangeiras, cujo peso nem sempre é perceptível à primeira vista” (Santos, 1986:62).

A partir dessa linha teórica de construção do pensar o espaço como parte integrante da dinâmica social que a cria e se associa na formação da sociedade mundial até a local. Santos diz ainda que;

Essa percepção do espaço pode servir como fundamento à compreensão da realidade espacial e permitir a sua transformação a serviço do homem. Pois a História não se escreve fora do espaço e não há sociedade não especializada. O espaço, ele mesmo, é social. (Santos, 1977, p.81)

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26 Categorizar o espaço geográfico deve levar em consideração três eventos de produção geográfica. O primeiro diz respeito à produção do mesmo, o espaço do beber, do alimentar-se, do vestir e do habitar. O segundo nos remete a reprodução desse espaço. E o terceiro diz respeito à difusão deste espaço (SILVA, 1980 apud Carvalho Junior, 2007, p.7).

Já Santos concebe o espaço geográfico como sendo "um sistema de objetos e um sistema de ações” (Santos, 1997:39), onde o mesmo deve ser considerado como um conjunto indissociável de que participam, de um lado, arranjos de objetos geográficos, objetos estes naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento. O espaço seria então um conjunto indissociável e contraditório de objetos e ações. Assim, o espaço possui arranjos visíveis que imprescindivelmente se relacionam entre si com e por meio da sociedade em movimento. Nesse sentido, os objetos e arranjos de objetos são construídos, (re)construídos e (des)construídos para atender a dinâmica social, produtiva e espacial de um dado período passível de contextualização. É a partir desse entendimento que se pode definir as categorias filosóficas de analise – forma, função, estrutura e processo – como método de análise da Geografia.

Carlos afirma que “o espaço é condição tanto da reprodução do capital quanto da vida humana, de outro ele é produto e nesse sentido é trabalho materializado” (Carlos, 1994:24). O produto de um espaço, o território, remete a idéia de um controle e de um poder para a sua materialização. Um território cujos homens são determinados por suas ações, seu domínio no espaço, sua influência e controle sobre ele, também vai fazer com que este mesmo espaço passe a ser um lugar, pois os sujeitos deste território atribuirão um sentido, um valor e um significado a ele, através de suas percepções, sentimentos e memórias, como já comentados anteriormente.

Continuando ainda com o autor a forma é o aspecto visível de uma determinada coisa. São os objetos e arranjos de objetos que compõe o espaço, isto é, casas, condomínios, parques, escolas avenidas e etc., tudo gerado historicamente, organizando o presente e projetando o futuro. A atividade desenvolvida pela forma é colocada como Função (Santos, 1985, p 50-51). É ela que dá sentido à forma visto que um objeto no espaço não subsiste desprovido de tarefa e, por outro lado, a tarefa não pode ser desempenhada sem a forma, daí a relação direta entre as duas. Um terceiro aspecto da análise miltoniana é a estrutura. O autor

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27 assinala ainda que "estrutura implica a inter-relação de todas as partes de um todo; o modo de organização ou construção” É o aspecto "invisível” construído pela inter-relação das diversas funções desempenhadas pelas/nas formas. Por isso para compreendê-la é preciso sempre considerar a dinâmica social de cada período.

Em relação à estrutura espacial de um dado lugar é colocado como o resultado da interação de várias estruturas que subsistem indissociavelmente.

A estrutura espacial é algo assim: uma combinação localizada de uma estrutura demográfica específica, de uma estrutura de produção específica, de uma estrutura de renda específica, de uma estrutura de consumo específica, de uma estrutura de classes específica e de um arranjo específico de técnicas produtivas e organizativas utilizadas por aquelas estruturas e que definem as relações entre os recursos presentes (SANTOS, 1985, P. 17).

A questão dos vieses de análise da sociedade, que nos possibilitam a identificação das relações que a sociedade se estabelece numa porção do planeta produzindo o espaço geográfico, construindo assim uma estrutura básica para o desenvolvimento dos fenômenos sociais.

Para apreensão da realidade a geografia não pode se interessar mais pela forma das coisas do que pela sua formação. Por isso, outro fator inerente ao estudo do espaço é o processo. Este seria o constante devir social que constrói, (re)constrói e (des)constrói as formas ao longo de sua formação. O processo é dinâmico, ou seja, processa e é processado, modifica e é modificado, é ao mesmo tempo resultado e condição da formação. Desse modo, o estudo do processo se faz necessário na medida em que se busca entender a gestação das formas, o que impreterivelmente facilitará a compreensão das funções por elas exercidas. Nesse sentido a formação se constitui numa ferramenta intimamente relacionada, a qual é preciso recorrer constantemente.

À primeira vista o geógrafo pode ser induzido a estudar pura e simplesmente a forma. Porém, não se pode a separar concreta e conceitualmente das demais categorias sob pena de não se compreender a contento os diversos aspectos que compõe o espaço.

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28 Para se compreender o espaço social em qualquer tempo, é fundamental tomar em conjunto a forma, a função e a estrutura, como se tratasse de um conceito único. Não se pode analisar o espaço através de um só desses conceitos, ou mesmo de uma combinação de dois deles. Se examinarmos apenas a forma e a estrutura, eliminando a função, perderemos a história da totalidade espacial, simplesmente porque a função não se repete duas vezes.

Observamos então que o todo necessita de seu relacionamento das partes, para uma compreensão estrutural da complexidade social a que se estuda e nesse caso o ambiente urbano, característica complexa da relação social não pode ser concebida de um só meio de interpretação. Santos (1985, p. 56), ainda diz que;

Separando estrutura e função, o passado e o presente são suprimidos, com o que a idéia de transformação nos escapa e as instituições se tornam incapazes de projetar-se no futuro. Examinar forma e função, projetar-sem a estrutura, deixa-nos a braços com uma sociedade inteiramente estática, destituída de qualquer impulso dominante. Como a estrutura dita a função, seria absurdo tentar uma análise sem esse elemento.

Concordamos com autor, pois, forma, função, estrutura e processo, este último sinônimo de tempo, quando consideradas em conjunto impedem a compreensão superficial e descritiva dos fenômenos que todo cientista deve evitar. Portanto, esse método constitui uma base forte de auxilio ao geógrafo na leitura e interpretação da realidade

Nesta perspectiva de espaço geográfico, onde acontece numa realidade relacional, o mesmo é entendido como um conjunto interligado. O conteúdo da sociedade não é independente da forma sendo estes os objetos geográficos e cada forma encerra em si uma parte do conteúdo. Milton Santos nos arremete ao entendimento da complexidade de entendimento proposta pelo conceito. Não sendo o espaço geográfico um fenômeno com características pré-estabelecidas e sim um fenômeno social, pois o espaço geográfico é produzido pelas sociedades presentes neste espaço que antes era natural, sendo parte da superfície terrestre, ganha aspectos de mutação de acordo com as necessidades.

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29 [...] o espaço, como as outras instancias sociais, tende a reproduzir-se, uma reprodução ampliada, que acentua os seus traços já dominantes. A estrutura espacial, isto é, o espaço organizado pelo homem é como as demais estruturas sociais, uma estrutura subordinada-subordinante. E como as outras instancias, o espaço embora submetido à lei da totalidade, dispõe de uma certa autonomia que se manifesta por meio de leis próprias específicas de sua própria evolução (SANTOS, 1986, p. 145).

Diante disso o espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de funções e formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço que se define como um conjunto de formas representativas das relações estabelecidas socialmente no passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos olhos e que se manifestam através de processos e funções. Santos (1985) alerta que “o espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual. Diante disso que se concebe que a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares”. Ao observarmos as categorias de análise do espaço propostos por Santos, forma, estrutura, função e processos, temos a idéia da convergência para um quadro de totalidade, que possibilite uma interpretação clara do espaço.

Santos (1996) nos diz ainda que “é de conhecimento na história que a ordem global busca impor a todos os lugares, uma única racionalidade, e os lugares respondem ao mundo segundo os diversos modos de sua própria racionalidade, cada lugar é ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de outra local, convivendo dialeticamente”. O lugar entendido como a porção do espaço que tem sentido para a vida, que é vivido, reconhecido e constituído por identidade. Cada lugar, mesmo globalizado, deve ser único para dar sentido à existência do sujeito. O lugar que é a parte, pela sua complexidade representa o todo e difere-se do todo enquanto parte, existe pela comunicabilidade das suas particularidades.

Assim, pode-se apresentar que, na verdade, o lugar é criado a partir da construção de conhecimento e valores sobre o espaço, que, sob a influência dos indivíduos e sua força de trabalho, vai se transformar em um território marcado pelas relações sociais dando margem também à criação e o sentido do lugar. O lugar passa a se tornar também uma interpretação do território, que lhes atribui sentido e valor, cujas interações sociais estão permanentemente agrupadas e em processo. Segundo Massey (2000, p.184), “os lugares podem ser conceituados em termos das interações sociais que agrupam; então, essas interações em si

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mesmas não são coisas inertes, congeladas no tempo: elas são processos” Através das interações o espaço faz-se movimentar, criando assim natureza própria de acordo com o lugar onde se estabelece de acordo com o conteúdo neste ambiente criado e desenvolvido.

A análise do espaço deve ser feita numa perspectiva de totalidade, onde possibilite o desconstruir seus elementos formadores, para depois novamente reconstruí-los. Santos (1985) nos traz esses elementos formadores, sendo eles: os homens, as firmas, as instituições, e o meio ecológico e as infra-estruturas. Pode ser observado que esses elementos são equivalentes e redutíveis entre si.

A dificuldade posta hoje na análise do espaço está na dificuldade da análise numa perspectiva de totalidade, onde se deve fragmentar o todo para depois fazer a união desses fragmentos para se ter uma visão total e contextualizada desse espaço.

O espaço é presente, uma construção horizontal, uma situação única, diferentemente da paisagem que é altamente mutável. O espaço reúne além do conjunto material (o que pode ser visto ou sentido) um sistema de objetos de ações no qual a paisagem é construída.

1.2 – Paisagem

Numa perspectiva clássica podemos considerar a paisagem como a expressão materializada das relações do homem com a natureza num espaço circunscrito. Sendo que muitos, o limite da paisagem se condiciona as possibilidades visuais. Nesta discussão se baseamos principalmente nas idéias de Troll, Bertrand e Santos, por entender que os mesmos contemplam os nossos objetivos conceituais, não deixando de ter em vista que outros autores também trabalham o conceito de Paisagem.

Em relação à paisagem devemos considerar a mesma para além da forma. Em Troll (1950), ao se referir à paisagem, o autor a observa como sendo um conjunto de interações homem e meio. Esse conjunto, segundo ele, se apresentava sob dois vieses de analise: a primeira sendo a forma (configuração) e a segunda, o da funcionalidade, sendo esta última entendida como a interação de diversos fatores geográficos entre eles a economia e a paisagem cultural. Concebendo assim uma paisagem além do que se pode ser observado,

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31 sendo o resultado de processos articulados entre os elementos constituintes. A paisagem segundo o autor deveria ser "estudada na sua morfologia, estrutura e divisão além da ecologia da paisagem, nível máximo de interação entre os diferentes elementos". Esta análise, em sua visão, poderia se estabelecer exclusivamente no campo natural (paisagens naturais) ou de ordem humana (paisagens culturais).

Bertrand (1968) ao propor o estudo de Geografia Física Global, pensou a paisagem como "resultado sobre certa porção do espaço, da combinação dinâmica e, portanto, instável dos elementos naturais, biológicos e antrópicos que interagindo dialeticamente uns sobre os outros fazem da paisagem um conjunto único e indissociável em contínua evolução".

Já Santos (1997) com sua visão contemporânea vê a paisagem como a expressão materializada do espaço geográfico, interpretando-a como forma. Neste sentido considera paisagem como um constituinte do espaço geográfico (sistema de objetos). Para ele, "paisagem é o conjunto de formas que num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza", ou ainda, “a paisagem se dá como conjunto de objetos reais concretos".

Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc. (Santos 1988. p 21).

Entendemos paisagem nesta perspectiva de estudo, como sendo os fenômenos sociais materializados, pelos quais através dos sentidos sensoriais podem ser sentidos possibilitando a partir dos entendimentos adquiridos o seu reconhecimento.

Nesta perspectiva, diferencia paisagem de espaço: paisagem é "transtemporal" juntando objetos passados e presentes, uma construção transversal juntando objetos. Espaço é sempre um presente, uma construção horizontal, uma situação única. Ou ainda, paisagem é um sistema material, nessa condição, relativamente imutável, espaço é um sistema de valores, que se transforma permanentemente.

Assim, percebe-se paisagem como um conceito operacional, ou seja, um conceito que nos permite analisar o espaço geográfico sob uma dimensão, a qual seja o da conjunção de

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32 elementos naturais e tecnificados, sócio-econômicos e culturais. Pela opção de análise geográfica a partir do conceito de paisagem, pode-se concebê-la enquanto forma (formação) e funcionalidade (organização). Não necessariamente entendendo forma–funcionalidade como uma relação de causa e efeito, mas percebendo-a como um processo de constituição e reconstituição de formas na sua conjugação com a dinâmica social. Neste sentido, a paisagem pode ser analisada como a materialização das condições sociais de existência diacrônica e sincronicamente. Nela poderão persistir elementos naturais, embora já modificados. O conceito de paisagem privilegia a coexistência de objetos e ações sociais na sua face econômica e cultural manifestada.

1.3 – O Território

Outro aspecto a ser delineado é o território. Historicamente, a geografia política trata o território como sendo um espaço de poder, na qual a sociedade moderna é caracterizada pela figura do Estado. Para Santos citado por Vilarinho Neto (2002, p.32) em relação à formação do território, em seu comentário sobre Espaço e Território, afirma que Estado-nação tem como base de sua formação três elementos: 1) o território; 2) um povo; 3) a soberania. A utilização do território pelo povo cria o espaço. As relações entre o povo e seu espaço e as relações entre os diversos territórios nacionais são reguladas pela função da soberania. O território é imutável em seus limites, uma linha traçada de comum acordo ou pela força. Este território não tem forçosamente a mesma extensão através no decorrer do seu processo de formação, num dado momento ele representa um dado fixo. Ele se chama espaço logo que encarado segundo a sucessão de situações de ocupação efetiva de um povo, como resultado da ação de um povo, do trabalho de um povo, resultado do trabalho realizado segundo as regras fundamentadas do modo de produção adotado e que o poder soberano torna em seguida coercitivas. É o uso de este poder que, de resto, determina os tipos de relações entre as classes sociais e as formas de ocupação do território.

Pode-se afirmar a partir dessa exposição, que espaço e lugar estão intimamente associados, assim como espaço e território. Espaço ligado ao meio onde tudo está inserido, os homens, a natureza, as edificações, as ruas, enfim, às coisas que estão a nossa volta e que nos influencia e controla as nossas ações. Então perguntaremos: - Seria o controle e a dominação

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33 que transformam o espaço em território? – Para Raffestin (1993) em seu texto O que é o Território, enfatiza a formação de uma territorialidade a partir do espaço citando Lefebvre faz essa associação:

Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço. Lefebvre mostra muito bem como é o mecanismo para passar do espaço ao território: „A produção de um espaço, o território nacional, espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas de ferro, circuitos comerciais e bancários, auto-estradas e rotas aéreas etc.‟ O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a „prisão original‟, o território é a prisão que os homens constroem para si (LEFEBVRE, 1978 apud RAFFESTIN, 1993).

Para o autor, “o espaço é anterior ao território” e que “ao se apropriar de um espaço, o indivíduo territorializa o espaço”. Ainda afirma que “o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço”. Território está associado ao local onde os sujeitos projetam um trabalho, onde são reproduzidas as práticas espaciais, as representações simbólicas. Território é a funcionalidade do espaço.

Coloca-se neste momento uma dialética existente entre espaço, lugar e território. E por meio desta lógica, como organizar a idéia de produção do espaço urbano? Primeira observação a ser tomada é em relação ao espaço marcado pelas relações de poder e domínio que passam a considerar um território. Neste caso o território ganha uma conotação simbólica, onde estão inseridos os sentimentos as percepções, as imagens, associadas à idéia de lugar.

1.4 – A cidade e o urbano algumas considerações

Neste item não podemos deixar de antecipadamente dizer que muitos autores brasileiros trabalham a questão proposta, cito eles; Ana Fani, Amélia Damiani, Arlete Moisés, Odete Seabra, Eliseu Sposito, Silvana Pintaudi, Rosélia Piquet, Carlos César Gomes, Lobato Corrêa, Erminia Maricato entre outros, mas que por opção nossa se utiliza mos dos entendimentos de Singer (1994), Davis (1994, Lefebvre (1999) e Santos (1994) por entender que os mesmo contemplam os nossos objetivos com o desenvolvimento deste tópico.

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34 A relação entre cidade e campo se situa, histórica e teoricamente, no centro das sociedades humanas. A dominação da cidade sobre o campo, como resultado da divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual e através do comando do mercado sobre as atividades de produção, é fato que marcou as sociedades humanas desde tempos remotos, e particularmente as sociedades capitalistas industriais modernas nas quais estamos inserimos.

Os termos, urbano e rural, quase sempre tomados com, referência à cidade e ao campo, ganharam autonomia apenas recentemente e dizem respeito a uma gama de relações culturais, sócio-econômicas e espaciais entre formas e processos derivados da cidade e do campo sem, no entanto, permitirem a clareza dicotômica que os caracterizava até o século passado. Ao contrário, cada vez mais as fronteiras entre o espaço urbano e o espaço rural são difusas e de difícil identificação. Podemos supor que isto acontece porque hoje esses termos carecem da sua referência substantiva original, na medida em que tanto a cidade como o campo não são mais conceitos puros, de fácil identificação ou delimitação. O que são, hoje, as cidades de Cuiabá, São Paulo, Rio de Janeiro, Sinop ou Nobres, qualquer cidade grande, média, ou pequena, do Brasil contemporâneo ou no mundo? Onde começam e onde terminam? Quais são as nossas Referências de delimitação do que é hoje o campo? Em qualquer esforço de delimitação dos limites e da natureza, tanto do campo como da cidade é cada vez mais difusa e difícil.

Legalmente, no Brasil, cidades são definidas pelos perímetros urbanos das sedes municipais, e os territórios e populações considerados urbanizadas incluem os perímetros das vilas, sedes dos distritos municipais. Entretanto, as áreas urbanizadas acabam por englobar amplas regiões circunvizinhas às cidades cujo espaço urbano integrado se estende sobre territórios limítrofes e distantes em um processo expansivo iniciado no século XIX e acentuado de forma irreversível no século XX.

Por outro lado, cada vez mais as cidades, ou o espaço político e sócio-cultural formado a partir delas, acabam por se tornar o centro da organização da sociedade e da economia. Numa escala mundial, poucas cidades organizam e comandam grandes blocos de interesses e reordenam o espaço econômico global; nas escalas local, regional e nacional, as cidades

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35 definem as formas de organização da população e localização das atividades econômicas, referentes às identidades sociais, definem as formas várias de constituição comunitária.

Cidade e campo, elementos sócio-espaciais opostos e complementares, constituem a centralidade e a periferia do poder na organização social. As cidades garantem a diversidade na escala da vida social bem como a competição e cooperação características da vida humana contemporânea.

O rural e o urbano, por sua vez, tão diversos entre si, garantem também diversidades dentro das suas homogeneidades extensivas e escalas de produção quando tomados de forma abrangente. Contém também processos de competição e cooperação, mesmo gerenciados pelas cidades e limitados pela auto-suficiência relativos que ainda mantêm.

A cidade, na sua formação econômica e política, constituem o resultado do aprofundamento da divisão sócio-espacial do trabalho em uma comunidade. Este aprofundamento resulta de estímulos provocados pelo contato externo e abertura para outras comunidades envolvendo processos regulares de troca baseados na cooperação e na competição. Implica, assim, de um lado um sedentarismo e uma hierarquia sócio-espacial interna à comunidade e de outro, movimentos regulares de bens e pessoas entre comunidades. Localmente, exige uma estrutura de poder sustentada pela extração de um excedente regular da produção situada no campo. Assim, a cidade implica a emergência de uma classe dominante que extrai e controla este excedente coletivo através de processos ideológicos acompanhados, certamente, pelo uso da força.

Segundo Singer (1973), a cidade é o modo de organização (sócio) espacial que permite à classe dominante maximizar a extração regular de um mais-produto do campo e transformá-lo em garantia alimentar para sua sustentação e de um exército que garanta a regularidade dessa dominação e extração. Posto dessa forma estabelece-se assim o que Lefèbvre (1999) denominou cidade política, ou seja, a cidade que mantém seu domínio sobre o campo (com a conseqüente extração do mais-produto ou excedente) a partir do controle apenas político. Nesse contexto, a produção é centrada no campo e a cidade, espaço não-produtivo privilegiado do poder político e ideológico, retira do excedente produzido no campo as

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36 condições de reprodução da classe dominante e de seus servidores diretos, militares e civis, que a habitam.

Lefèbvre propõe que se pense uma a cidade política como processo de constituição do espaço urbano, passando pela cidade mercantil e pela cidade industrial. A primeira passagem é marcada pela entrada do mercado no interior das muralhas das cidades que tinham como controle os mosteiros ou castelos. Incentivadas pelas feiras locais e regionais de artigos de luxo, as elites gradativamente permitiram a entrada da burguesia nascente no espaço do poder, logo deslocando a centralidade do poder dos palácios e mosteiros para a praça de mercado, consolidando a economia de mercado que teve nas cidades seu espaço privilegiado. Assim, a cidade mercantil, o lugar central para onde os excedentes regionais eram voluntariamente trazidos e comercializados, resulta da entrada da burguesia na cidade, e sua eventual conquista. Os burgos mercantis deram novo sentido e força à cidade política, transformando-a em centro mercantil. A relação campo-cidade teve então sua primeira inflexão, e a extração do mais produto não era mais apenas possibilitada pela coerção político-ideológica e militar, mas também de um movimento voluntário do campo em direção à capacidade articuladora da cidade enquanto lócus do mercado. A inflexão do campo à cidade foi então marcada pela economia: a produção do campo só se realizava na praça de mercado, modificando e ampliando a dominação da cidade sobre o campo.

Cabe ressaltar também a sinergia da vida urbana na cidade mercantil, lugar central de inovação e provimento dos bens e serviços para produção no campo e também espaço privilegiado da vida em comunidade onde a divisão do trabalho se aprofunda através das especialidades e complementaridades que ali se desenvolvem.

Singer (1973) nos aponta que uma das transformações efetivas da cidade em direção ao urbano teve como marco a indústria na cidade, processo que ao longo da sua formação ocidental se consolidou. Na verdade, a urbanização tal como hoje a entendemos se iniciou com a cidade industrial. Até o surgimento da indústria fabril e sua concentração nas cidades e metrópoles européias, o processo de urbanização se restringia a algumas poucas cidades onde o poder e/ou o mercado se concentravam.

Referências

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