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Luz Que Vem Do Leste 4 (português)

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LUZ ,

quevemdo

LESTE

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LUZ ,

quevemdo

LESTTE

MENSAGENS ESPECIAIS

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Luz Q u e V e m d o Leste Mensagens Especiais Rosacruzes

4- Volume

1- Edigao em Lfngua Portuguesa 1987

COORDENACAO E SUPERVISAO Charles Vega Parucker, F.R.C.

Grande Mestre

BIBLIOTECA ROSACRUZ

Todos os Direitos Reservados pela ORDEM ROSACRUZ - AMORC

GRANDE LO JA DO BRASIL

Proibida a reprodugao em parte ou no todo

Com posto e impresso na Grande Lo ja do Brasil Rua Nicaragua, 2 6 2 0 - Bacacheri Caixa Postal 307 - Tel. (041) 256-6644

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LUZ QUE VEM DO

LESTE

Quarto Volume

Mensagens Especiais Rosacruzes escritas por Chris R. Warnken, F.R.C. Raymund Andrea, F.R.C. Raymond Bernard, F.R.C. Rodman R. Clayson, F.R.C. Jeanne Guesdon, F.R.C. Irving SoderlCind, F.R.C. Robert E. Daniels, F.R.C. Ruben A. Dalby, F.R.C. Allan M. Campbell, F.R.C.

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MENSAGENS ESPECIAIS ROSACRUZES QUARTO VOLUME In d i c e FLORAgAO DA PASCOA ... 9 A GRANDE P E R G U N T A ... 13 AS PROVAS DO PROGRESSO E S P IR IT U A L ... 21 P A Z ...29 O CRISTO M fS T IC O ... 37 COMO CRIAN^AS ... 47

SILENCIO: O Aprendizado Interior Pelo Poder do S ilencio... 53

ASSIM FALOU ZARATHUSTRA... 59

TEMPO IL IM IT A D O ... 71

UM EPIS6DIO HER6ICO E SANGRENTO DA ESPIR ITU ALIDADE FRANCESA ... 93 IDEALISMO PR A T IC O ...I l l COMO CONCRETIZAR UM ID E A L ... 125 NICHOLAS R O E R IC H ...135 AMORC E TGCNICA IN IC lA T IC A ... 145 INICIAg6ES ROSACRUZES... 153 O SIMBOLISMO DO ESPELH O ... 163 UMA NOVA E R A ... 171 A NOVA ERA - I ... 177 A NOVA ERA - I I ... 185 O FUTURO P R 6 X IM O ...193 d e t e r m in a cAo ... 203

IMAGENS E MlJSICA DE FARIA S... 209

T R A D ig A O ... 213

AS INFLU&NCIAS INVISfVEIS DE NOSSOS ESTUDOS ROSACRUZES ...225

EM TEMPOS D IF fC E IS ...233

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MENSAGENS ESPECIAIS ROSACRUZES QUARTO VOLUME

t N D I C E

FLORAgAO DA PAsCOA ... 9

A GRANDE PE R G U N T A ... 13

AS PROVAS DO PROGRESSO E S PIR IT U A L ... 21

P A Z ...29

O CRISTO M fS T IC O ... 37

COMO CRIAN^AS ... 47

SILfeNCIO: O Aprendizado Interior Pelo Poder do S il£ncio... 53

ASSIM FALOU ZARATHUSTRA... 59

TEMPO IL IM IT A D O ...71

UM EPIS6DIO HER^ICO E SANGRENTO DA ESPIRmJALIDADE FRANCESA ... 93 IDEALISMO PR A T IC O ...I l l COMO CONCRETIZAR UM ID E A L ... 125 NICHOLAS R O E R IC H ...135 AMORC E TfiCNICA IN IC lA T IC A ... 145 INICIACOES ROSACRUZES... 153 O SIMBOLISMO DO ESPELH O ... 163 UMA NOVA E R A ... 171 A NOVA ERA - 1 ... 177 A NOVA E R A - I I ... 185 O FUTURO P R 6 X IM O ...193

DETERM IN ACA O...203

IMAGENS E MtJSICA DE FA R IA S... 209

TRADIQ AO... 213

AS INFLUENCIAS INVISfVEIS DE NOSSOS ESTUDOS ROSACRUZES ...225

EM TEMPOS D IF fC E IS ...233

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ELE veio. . . ELE en sin o u .. , ELE foi sacrificado.. .

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Tepidez e agitagao de abril, com seus s6is tfrnidos, suas fortes chuvadas!.. . Abril, esperanga de um verao resplen- dente!(*)

A natureza, sob seu c6u aparente, trabalhou no segredo invemal. E eis que os botoes se abrem, os rebentos perfu- ram a terra ressumante de umidade, as flores campestres estrelam os pastos e os bosques. Uma embriagante dogura

flutua no ar.

Neste mist^rio da surda atividade da materia, que alcan- ga, lentamente, seu desenvolvimento, reside o stmbolo do trabalho espiritual: laboriosa obscuridade do es forgo que parece vao e que, subitamente, irrom pe em um jato de luz viva. £ a marcha r£pida e alegre na claridade, at6 a volta de novos balbucios e vacilagoes que nada mais sao do que falsas letargias espirituais, pois nossa consciencia divina jamais cessa de fazer germinar a boa semente de nossos

(*) N. T. - Na Franga, onde o original deste trabalho fo i escrito, ABRIL 6 o m is da primavera, que termina em maio.

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esforgos, k semelhanga da natureza que persegue, sem des- canso, seu invisfvel trabalho hibernal.

Mas a Pdscoa est£ af! P£scoa, que precede os tres dias de agonia do Cristo, no monte das Oliveiras, em um sofri­ mento espantoso que € a srntese das quedas e dos sofri- mentos da humanidade! P£scoa, santa festa do coroamento da missao divina do Cristo, promessa renovada da Reden- gao dos homens! A Pdscoa 6 o botao de rosa brilhando no centro da cruz fincada, k espera da floragao espiritual, triunfante emblema das lutas sustentadas contra nossos erros.

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A GRANDE PERGUNTA por

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A GRANDE PERGUNTA

A busca de respostas

No momento em que estes pensamentos tomavam fo r­ ma no papel, tres seres humanos estavam fechados em uma cdpsula relativamente pequena rasgando o espago em sua caminhada para a Lua. De conformidade com a histdria documentada do homem, estes sao os primeiros seres hu­ manos a penetrar tao profundam ente no espago exterior. Todo o mundo tem sua atengao neles focalizada, e roga por sucesso em sua corajosa aventura e por seu retom o em se- guranga. De qualquer modo, adm ite-se agora que dentro de curto espago de tempo outros seres humanos farao a mesma viagem e pousarao na Lua para explord-la. Seme- Ihante faganha deixa-nos atemorizados e maravilhamo-nos com a grandiosidade do arrojado feito.

Quando se considera os milagres da ciencia que o ho­ mem tem desenvolvido durante o dltimo s^culo (milagres que eliminam grande parte das conjeturas na exploragao) convencemo-nos de que os antigos navegadores que viaja- vam atrav^s de oceanos nao-cartografados em busca de novas terras e novas rotas, foram igualmente ousados e de- dicados. Eles nao dispunham de r£dio ou televisao para

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manter contato permanente com o seu porto de partida. Tinham, para orient^-los, os mesmos corpos estelares que hoje orientam os nossos modem os exploradores.

Nao 6 possfvel deixar de cogitar por que? Por que seres humanos normais, sadios, se predispoem a arriscar a vida para invadir o desconhecido? Que faz com que eles se submetam aos incomodos e &s restrigoes da necessidade cientifica? Se os leitores fossem solicitados a fazer o mes­ mo sacriffcio, subm etendo-se a essa viagem, responderiam

sim ou nao? O coro irresistivel da maioria seria um retum -

bante NAO . E, nao obstante, a hist<5ria nos conta que tem sempre havido pessoas que estavam prontas e desejosas de rasgar o vdu do desconhecido. Diz a hist6ria que algu£m perguntou: “ Por que os homens escalam montanhas?” E a resposta foi: “Porque eles 15 estao!”

Um Criador s£bio dotou o homem de insaci£vel curiosi- dade. Quando olhamos, ouvimos, cheiramos, degustamos, e tocamos em algo, estamos quase que infalivelmente nos entregando a indagagoes. Quanto mais letrados e cultos os homens, mais devotados sao a leitura; eles sentem necessi­ dade de conhecimento! Os ignorantes, de modo geral, prestam muita atengao ks pessoas instrufdas porque em bora devam confiar em seus sentidos receptores, igualmente desejam obter conhecimento. Quem pode fazer tantas per­ guntas quanto uma crianga que desesperadamente deseja conhecimento?

Na maioria das vezes, nosso desejo de conhecimento tem causa no conhecimento em si. 6 alguma coisa como cogar quando sentimos coceira. Determinado fenomeno nos fascina ou nos preocupa incessantemente at6 que

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pos-samos nos satisfazer quanto ao porque, ao que, ou como de sua manifestagao. Algumas vezes, quando a indagagao persistentemente se relaciona com pessoas, podemos sim- pJesmente nos to m ar inquisitivos ou, mesmo, invejosos! Todavia, o impulso de buscar respostas &s indagagoes ou solugao de problemas 6 tao natural quanto o respirar.

A BUSCA DiARIA

Analise as dltimas vinte e quatro horas e observe quanto desse tempo foi devotado, de qualquer modo, £ busca de respostas de alguma esp£cie. Logo ap<5s levantar-se voce se olhou em um espelho? Tomou um primeiro gole do cafe da manha? Apanhou o jom al da manha ou ligou o rddio? Ter3 observado o c6u da manha antes de sair para o trabalho? Todas essas agoes foram buscas inconscientes!

Os templos e igrejas sao construidos porque as pessoas esperam descobrir o porque de muitos misMrios da exis- tSncia, Visitamos museus para tomar conhecimento daquilo que outros estao fazendo ou que fizeram no passado. T o ­ dos n6s frequentamos escolas de vdrios tipos porque elas sao mananciais de respostas hs nossas infindas indagagoes. A crianga confiante considera seus afetuosos pais como fonte de todo o conhecimento na qual as respostas a todas as indagagoes serao infalivelmente encontradas. Para os pais, isto se constitui em tremenda responsabilidade, mas tamb£m em uma expressao suprema de f6 absoluta. O ho­ mem deve igualmente confiar na perfeigao do C6smico.

Tem -se afirmado que a finalidade de todo o conheci­ mento 6 conhecer Deus. Quando o homem contempla a perfeigao de Deus e as numerosas imperfeigoes de si

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mes-mo, convence-se de que deve, para tal, haver explicagao. Inicia, portanto, sua etem a busca. A despeito de muitos conceitos sobre Deus, todos concordam em que Deus 6 maior do que o homem, e que o criador do homem 6 esse mesmo Deus. A id£ia de Deus encerra onipotencia, onis- ciencia e, para muitas pessoas, onipresenga. Alguns h i que concebem o seu Deus como possuidor de v£rias de suas prtfprias fraquezas humanas como a inveja, o citime, e a vinganga. Talvez devessem fazer muito mais indagagoes. A inveja 6 incompativel com a onipotencia. O ciume e a vin­ ganga sao incompatfveis com a onisciencia.

Se Deus 6 onipresente, nao precisamos perguntar onde Ele est5, pois nao pode haver tempo ou espago em que Ele nao esteja. Nossa busca seria muito mais excitante se aprendessemos a simplificd-la pela simples busca de Deus em nosso coragao, no semblante de nosso semelhante, ou nas maravilhosas leis naturais que tom am possfvel aos se­ res humanos escaparem da gravidade da T erra e visitar a Lua. J i tentou o leitor procurar Deus na construgao de um favo de mel por uma colonia de abelhas? J i observou atentamente a florescencia e o desabrochar de uma flor? Se aquilo a que chamamos Deus nao 6 a pr6pria perfeigao 6, pelo menos, perfeito. A esse respeito, nao h i qualquer du- vida em minha humilde mente.

Sem indagagoes inflexfveis o homem jamais teria feito mesmo o progresso que reivindica; ainda seria um bruto ou talvez coisa pior. Muitas das restantes imperfeigoes nao sao fruto da ignorSncia e, sim, da sua irresolugao. Em seu fa ­ vor, todavia, pode se dizer que ele continua tentando. Mais cedo ou mais tarde ele seriamente se perguntard por que

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fracassa, pois est£ ciente de suas fraquezas e almeja o que para ele 6 melhor, consciente ou inconscientemente.

Nao h i uma tinica pdgina da histtfria que nao seja o re- sultado das indagagoes do homem. O cientista tem se de- votado principalmente k indagagao do que e do como. Te- mos uma grande divida para com os cientistas, pois, suas indagagoes e conclusoes tom aram possiveis muitas das nossas facilidades evoluciontfrias (e revoluciondrias) e bem assim o nosso progresso. Em nossa vida cotidiana dificil- mente h3 algo que nao nos tenha sido proporcionado ou que para n6s nao tenha sido aperfeigoado pelo cientista in- quiridor.

Por outro lado, nossos fil6sofos tem sempre indagado

por que, e considerado essa indagagao igualmente impor-

tante para todos. E possivel que eles tenham razao. A des- peito das brilhantes conquistas da ciencia, ainda temos muitos problemas e preocupagoes. Talvez esteja prdxima a 6poca em que o homem compreender£ que as coisas nao constituem a felicidade e a paz; que as coisas em si mesmas nao sao metas, mas que bem poderiam ser meios para as metas.

£ bem possivel que se todos n<5s continuarmos a indagar

por que, cheguemos a com preender que sao as virtudes que devemos buscar. Elas sao muito mais acessfveis, se pelo

menos isto tentarmos, pois estao dentro de n6s. Poderia- mos, mesmo, ficar surpresos em verificar que com a inten- sificagao do amor, da compaixao, da solidariedade, e da tolerancia, talvez nao tenhamos de fazer tantas indagagoes. Talvez descubramos que as virtudes nos proporcionam

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felicidade e paz bem maiores do que o poder das coisas que agora consideramos tao necess^rias. Por que nao fazermos a n6s mesmos a grande pergunta: POR QUE?

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Durante o perfodo da guerra, quando nossa rota coti- diana era banhada pelo sangue derramado pelos homens, a id&a do sofrimento humano tom ou-se objeto de inume- rdveis meditag5es. A humanidade sofria em comum a pro­ va fundamental da dor e das l£grimas. Uma pena imensa e sem precedente enchia o coragao dos homens, forgando o aparecimento de profundezas insuspeit£veis, de sentimen- tos, pensamentos e aspiragoes de qualidade e de poder at£ entao ignorados. O trabalho da dor levou a alma a uma vi- sao mais exata, a uma vida mais intensa ou profunda, a ex- periencias absolutamente novas. O sofrimento, mensageiro do c6u junto a cada alma neste mundo, descobria um meio secreto de comunicagao com Deus.

Nao € de roldao que reconhecemos o papel da dor e aceitamos a submissao a ela para que sua beneficencia se exerga em nossa vida. Para muitos, o temor da dor € mais forte do que o da morte. Tremem de medo, quando ela se aproxima. Nao tem a forga de se interrogar a esse respeito, de tentar penetrar nela e dai extrair a mensagem. Como um fantasma de pesadelo, ela perturba nossos sentidos, con- funde nossas faculdades e entrega £s forgas da noite o

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templo secreto de nossa alma. Em incalcul£vel numero de casos, o luto teve essa conseqiiencia. A perda de um ente querido tornava sem importancia qualquer outra dor da existencia terrena.

Com preende-se o sofrimento a partir do momento em que ele 6 aceito. Se uma privagao ou uma separagao no piano ffsico se traduz pela posse de alguma outra coisa, no piano espiritual, 6 porque existe uma compensagao na p ro ­ pria morte. Nossos olhares ffsicos perdem seu poder quan­ do se turvam pelas l£grimas, mas ao mesmo tempo, o amor nos ilumina no dominio do espirito. Todo o clarividente deu a certeza disso e este testemunho nos incita a dirigir nossos passos para os caminhos onde se progride e nao para os da esterilidade e do desespero.

Podemos observar como o sofrimento se transform a atrav£s dos diversos pianos da existencia. Alguns nao co- nhecem a dor senao no piano ffsico e, portanto, sua acuida- de aumenta & medida que dela toma consciencia nos pianos da inteligencia e da alma. Assim como as dificuldades da infancia nao sao as da adolescencia, nem estas as da idade adulta, acontece o mesmo com a dor em cada um dos tres pianos da consciencia humana. Experimentamos o sofri­ mento no piano ffsico pela quebra de uma ordem estabele- cida no piano mental por uma ligeira apropriagao, e no pia­ no espiritual, pela compreensao do Cosmo. Esta nos poe em contato com o sofrimento coletivo da humanidade.

O sofrimento entra, como elemento, em todo o verda­ deiro crescimento. A fase para a qual desejo, de imediato, estar atento, 6 a fase de transigao, quando a consciencia trabalha para se desembaragar ou se libertar do piano

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puramente mental, para se exercer no nfvel da visao c6smi- ca. E a passagem mais diffcil na evolugao da consciencia e neste momento, muitos estao se esforgando para isso. No campo do desenvolvimento mental, eles chegaram hs Ulti­ mas barreiras e, entretanto, permanecem insatisfeitos. O sofrimento esteve presente em cada um de seus passos: em cada novo avango, uma nova miragem de satisfagao plena e total levou o postulante a progredir. A maior das batalhas estci ainda por ser travada.

As tensoes intelectuais que o homem sofre quando quer conquistar seu eu verdadeiro constituem as vias necessdrias para seu progresso. Elas o fazem mudar de aparencia, tanto a seus pr6prios olhos como aos dos ou­ tros. Cada nova ascensao tem uma via mais larga, elimina alguns obst£cu!os e o aproxima do fim. Em sua alma estao ocultos os verdadeiros poderes de seu ser. Este dep6sito sagrado e nascido simultaneamente com sua carne, deve, por uma meditagao atenciosa, chegar a sentir batendo, no fundo de si mesmo, as pulsagoes m£gicas, sopro divino puro como a criagao em sua hora primeira. 6 este eu supe­ rior que pode decuplicar seu poder humano. E € tamb£m porque, por diversas razoes, quando um desenvolvimento perfeito nao 6 autorizado, as dores do crescimento espi­ ritual sao intensificadas. Nenhuma alegria ultrapassaria a que decorre do esforgo para a revelagao do eu supremo. Cada um dos v£us que se deixa cair faz aparecer uma beleza mais intensa e mais atraente, de onde se irradiam, ainda, outras perspectivas de revelagoes gloriosas. A busca de todo ideal elevado concorda com a fase de transigao; ela faz a ligagao entre o mental e o espiritual. Nao 6 senao a partir do momento em que compreende, enfim, que so- mente o que 6 espiritual tem importancia, que o homem

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pode tomar as medidas decisivas para alcangar o doimnio do espfrito.

A vida do homem espiritualizado passa-se na sombra da Cruz. 6 de acordo com o que um homem sofreu, pela me- dida das provas que vivenciou, que pode ser definida a qualidade de sua alma. O corpo pode ser ainda jovem e, no entanto, a alma que nele mora pode ter tido prodigiosas experiencias. Diz-se que os poetas sentem o peso das al­ mas. Assim, o homem espiritualizado carrega em seu cora­ gao o sofrimento coletivo da humanidade. E isso um privi-

\6gio inestim£vel, o maior que a Terra pode oferecer. So­

mente os eleitos alcangam a consciencia disso. A multidao daqueles que experimentam em comum o sofrimento es- pera que lhes seja revelada a significagao deste sofrimento, durante a vida. E 6 o papel sagrado do mfstico fazer os que sofrem conhecer esta verdade divina, a de que todo o so­ frimento 6 uma bengao e que ele conduz, finalmente, & beatitude do espfrito.

O mfstico € o aptfstolo do sofrimento. Ele sabe que a Cruz que se carrega d£ uma forga admirfvel. Ele 6 o pa- ciente servidor de Deus. A dogura e a sabedoria sao as suas mais delicadas qualidades. Para ele, tudo estd, de ora em diante, confundido em uma paixao suprema pela santidade. Toda a consagragao perfeita e defmitiva ser£ conhecida apenas por ele. Ele passou por grandes tribulagoes, lavou a roupa de seu ser espiritual e a tornou alva pelo trabalho do Espfrito, em seu interior; e embora seu corpo e sua inteli- gencia realizem as fungoes que lhes cabem, no mundo dos homens, ele estarf espiritualmente liberto dos lagos e das dificuldades da existencia material.

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Tal 6 o ideal do postulante ao mundo espiritual, o desti- no de toda a alma que sofre na grande comunidade huma­ na. As pessoas falam de conversao, como se por um sim­ ples cerimonial a alma pudesse entrar na paz de Deus. A verdade nao est£ ai. As vias espirituais sao semeadas de di- ficuldades. A s experiencias mentais por que passa o aspi- rante rmstico, os diferentes patamares da consciencia que ele deve escalar, tudo isto submete a uma prova extrema suas forgas e sua capacidade de resistencia. Pode parecer, em alguns momentos, que a alma se encaminha para as tre­ vas do inferno, mais do que se eleva para a luz e a paz da vida em Cristo. A solidao em nosso caminho quase chega a ser de natureza a levar k Ioucura. Nenhuma voz fala k alma desorientada, que se ve sozinha no meio da multidao. E o terrfvel, silencioso e solitdrio trabalho da alma, s6 conheci- do por aqueles que o experimentaram. Mas, enquanto a al­ ma progride no sentido dos mist&ios que “ residem nas avenidas sombrias onde cresce o am argor das coisas ocul- tas” , 6 um consolo lembrar que a( estd o caminho necessd-

rio ao crescimento espiritual, e que o sofrimento vem pre-

parar-nos para nos elevarmos, na luz conquistada, k pre- senga do Altfssimo.

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Raramente, na hist6ria da humanidade, a palavra paz tem sido tao empregada como em nossa £poca, e jamais, provavelmente, de maneira tao equfvoca. Em nossos dias, quando se fala em paz, 6, de fato, sempre com relagao a um estado de guerra, em alguma parte do mundo. Antes mes­ mo de procurarm os estabelecer entre os povos uma neces-

Sciria compreensao, antes mesmo de tentarmos conciliar interesses que, por natureza, sao fundamentalmente diver- gentes, esforgam o-nos por impor uma solugao, um ponto de vista e a forga, freqiientemente, quer ter primazia sobre o direito. O canhao troa, o sangue corre - sobretudo o dos inocentes - e quanto mais a situagao piora, mais fortemente apelamos para a paz, esforgando-nos por justificar, por palavras, o conflito que os atos alimentam e expandem. Em outras palavras, acredita-se no estado de guerra, pois pre- tende-se aspirar a paz, e a palavra paz aparece, atualmente, como o pretexto da guerra.

Natal! No perfodo do ano em que o ocidente comemora o nascimento do Prfncipe da Paz, como nao fazer uma comparagao entre o ideal aceito pela cristandade h i dois mil anos e a maneira pela qual esse ideal se manifesta

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na-queles que se lhe declaram adeptos!? O que se passa no mundo 6 o resultado do pensamento dos povos, e os povos sao, a rigor, o reflexo dos individuos que os integram. O ra,

6 preciso reconhecer que nada, na educagao dispensada k

juventude e, ulteriorm ente, nos relacionamentos sociais, contribui para criar uma harmonia interior essencial para uma sociedade realmente paciflca. H&, por£m, mais do que nunca, no ser humano, uma aspiragao determinada para os verdadeiros valores da existencia; os excessos da juventude atual, sua revolta, £s vezes violenta, contra os tabus do passado e, 6 bom que se diga, contra as atitudes hipocritas dos mais velhos, nao € senao um reflexo normal e talvez inconsciente, para rom per a carga de uma educagao e de um comportamento antiquados. Nao houve evolugao con- comitante dos costumes e da civilizagao. O mundo desper- tou no vig^simo s^culo ainda com seus h^bitos e suas con- cepgoes de antanho, e um abismo foi cavado entre uma ju ­ ventude que tomou consciencia de si pr6pria e as geragoes anteriores. Este abismo, naturalmente, se encher£, pois ha- verfi um freio para a excessiva mobilidade dos jovens e o imobilismo dos mais velhos, estupefatos com aquilo que criou sua pr6pria incapacidade de se ajustar, progressiva-

mente, a condigoes incessantemente novas.

Existe, na juventude atual, ao lado de suas mamfesta- goes coletivas e ruidosas, uma tendencia, raram ente iguala- da no passado, h introspecgao; uma an^lise cuidadosa per- mite constatar que esta introspecgao 6 muito mais s6Iida e v£lida do que foi at6 h i pouco. A geragao precedente se comprazia na esterilidade dos pensamentos heredit^rios, al&n dos quais ela nao ousava ir. Os jovens, talvez sem disso se aperceber e com impulsos aparentemente diferen- tes, estao, eles prdprios, na busca de questoes essenciais, e

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nao se perturbam com os preconceitos paralizantes de ou- trora. Certam ente, eles se julgam os defensores de alguma filosofia avangada mas, em realidade, constroem sua pr6- pria filosofia e, se esta for encontrada, seri absolutamente nova e seguramente mais adaptada a uma 6poca que, em todo sentido, 6 muito diferente do passado.

O ra, entre as inumeras conseqiiencias desta revolugao operada por uma juventude que, certamente, terd que se estabilizar, por assim dizer, com os resultados adquiridos, e desbastar o que era o fruto de excessos, em bora necessd- rios & “tomada de consciencia” dos velhos, existe, incon- testavelmente, a aspiragao e, mais do que a aspiragao, o desejo, a vontade de paz. Sem duvida, as pessoas estao, agora, mais pr6ximas umas das outras gragas & rapidez de comunicagoes, mas assim mesmo nada teria mudado nas relagoes existentes se as concepgdes nao tivessem evolufdo sob a pressao de uma juventude que serd o mundo de ama-

nha, e este mundo nao serd jamais o que jd foi. Nao € esta

uma visao uttfpica dos fatos. Ut6pica, ao contr&rio, seria a id£ia de algum atrasado se comprazer na beata ilusao de que a juventude passa e que nada muda. Os anos que vive- mos nao terao visto, simplesmente, o nascimento de uma filosofia nova. O porvir revelard, mais ainda, que elas terao sido capitais na histdria do mundo, pois a reform a teve lu­ gar a nfvel de coragoes.

Neste mundo novo, onde se compreende com uma acui- dade crescente que a massa e o preciso reflexo do indivf­ duo e que, verdadeiramente, em todos os sentidos o homem

6 por fora o que 6 por dentro, a paz aparece em sua verda­

deira significagao. Ela tem sido, em todos os tempos, um

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alguns brincaram com este estado inato, para a realizagao de suas esperangas de conquista ou para a satisfagao de suas ambigoes sociais (ou outras), mas seu estandarte era uma miragem e o que chamavam paz, era um simples pre- texto. Se, como tudo leva a crer, produziu-se uma revolu- gao no pensamento dos homens, nao h£ qualquer duvida de que o esforgo de cada um deve tender para a descoberta da paz em si mesmo; da paz que Aquele, cujo nascimento fes- tejamos, disse que “ultrapassava toda compreensao” . O egofsmo 6, sem duvida, o obst^culo maior em uma tal des­ coberta, mas quantos sabem o que o egofsmo encobre, com limitagoes de toda espdcie! Quantos compreendem que a inveja, o ciume, a presungao, tomam formas multiplas e in- sidiosas! Quantos se recordam de que censuramos os ou­ tros pelos defeitos que, precisamente, estao em n6s mes­ mos!

6 um erro supor que se pode estabelecer a paz em si lutando contra o que se acredita um erro ou um defeito. A paz se encontra na calma interior, relativamente ao que constitui o mundo objetivo. Ela est3 no silencio do eu e nao na agitagao de uma mente entregue a si mesma. Ela nao se transmite, e aquele que quer reform ar os outros a partir destas concepgoes estreitas de um mundo que nao conhece, longe de trazer a paz aos outros, os acabrunhard com tor- mentos e remorsos que, em ultima andlise, refletirao sobre ele, cabendo-lhe uma responsabilidade mais ou menos gra­ ve. O mundo rejeita, com razao, os censores, mas acolhe qualquer um que Ihe m ostre o caminho da paz. Isto 6 tal­ vez, uma das mais nobres caracterfsticas de uma organiza- gao mundial como a Ordem Rosacruz - A M O RC. Sem ter que modificar nada na formagao que dispensa e a maneira com que o fez durante d6cadas, em seu ciclo de atividade

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atual, a Ordem Rosacruz - AM ORC indica sempre o alvo e conduz para ele. Ela nao constrange; suscita e desperta. Revela a existencia de uma senda na qual cada um pode avangar, a vontade, mais ou menos rapidamente, conforme suas possibilidades e as circunstancias que o cercam. Ela realiza sua obra com “impersonalidade” e “ de Ionge” para aquele cujo passo dirige; este serf o Natal e a paz prometi- da aos homens de boa vontade - a paz profunda que o Rosacruz busca na mesa do Principe da Paz em uma ceia para a qual cada um, sem excegao, 6 convidado e dela par- ticipard, mais cedo ou mais tarde. Nesse tempo, quando a humanidade se redescobre na santa comemoragao do nas­ cimento de um Deus, possa ela, no mtimo de seu ser, fazer jorrar a fonte viva da paz que cont6m desde o comego, pois, tendo assim cumprido sua promessa, ela poder5, por sua vez, oferecer em um derradeiro sacriffcio, o ouro, a mirra e o incenso. O homem, entao, ter£ nascido.

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O CRISTO MfSTICO por

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O CRISTO MfSTICO

O verdadeiro misticismo nao impoe a menor doutrina religiosa, entretanto, dd, anualmente, uma grande impor- t&ncia ao perfodo de Natal, quando a maior parte da huma­ nidade, quaisquer que sejam suas crengas religiosas, volta o pensamento para Cristo e seus ensinamentos.

E uma 6poca durante a qual a consciencia dos homens se eleva para Aquele cujo aniverscuio 6 comemorado no dia de Natal.

Se a consciencia pode ser definida como estado de espf- rito que interpreta as impressoes recebidas pelos sentidos, € tamb£m e, principalmente, uma nogao de sua pr6pria exis- tencia.

O estudante mfstico d i muita importancia & “conscien- cia” . O pr6prio qualificativo de misticismo significa: ter uma realizagao consciente de Deus, inteligencia suprema, infinita, divino espirito que penetra e impregna todas as coisas do universo.

Gragas ao funcionamento do espirito subjetivo, o EU interior de todo homem pode, hs vezes e em certas

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condi-goes, procurar uma realizagao consciente de sua divindade e de sua uniao com Deus.

O eu interior € a consciencia espiritual residente no co r­ po ffsico. £ o verdadeiro eu dos seres que n6s somos, e pelo qual a realizagao consciente deste eu interior dd acesso ao misticismo.

A complexa organizagao do corpo humano sustenta e manifesta a consciencia, esta consciencia que implica co­ nhecimento de sua pr6pria existencia e percepgao da exis­ tencia dos objetos e de condigoes exteriores (ao eu).

Em nossa consciencia crescem as raizes de ideais e de desejos muito elevados, ultrapassando os que j£ estao ma- nifestados em n6s.

A consciencia evolui e aspira, incessantemente, k eleva- gao, ao alcance de uma consciencia mais alta: a Consciencia C6smica, ou seja, a realizagao da uniao do espirito humano com o Espirito divino.

Jesus aflrmou que esta realizagao consciente podia ser experimentada nao importa por quem, e permanecerd o exemplo perfeito da conquista da Harmonia infmita, do verdadeiro reino dos C£us.

Jesus nao foi o unico, nem o primeiro homem a trazer tal conhecimento para a humamdade. Existiram inumeros Avatares na hist(5ria do mundo.

Gragas h Bfblia, os ensinamentos espirituais expostos por Jesus estao muito mais divulgados que os dos outros grandes Avatares, freqiientemente mal compreendidos. Por isso, Jesus, o homem, foi venerado e idolatrado. A Blblia

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nos fala da Iluminagao de Jesus, de sua consciencia c<5smi- ca, infinita, e de poderes que ele possuia; alguns homens, todavia, recusam -se a reconhecer que outros, antes dele, tiveram a mesma realizagao consciente da Divindade. Entre os que tiveram essa realizagao, encontramos, entre outros, os nomes de Zoroastro, Buda, Maom£, Jacob Boehme, etc.

Comparando com estes homens, Jesus estd em piano superior, pela acuidade intelectual, grande elevagao moral, por um grande compromisso e um sentido de imortalidade que caracterizam aquele que alcangou a Consciencia C6s- mica.

Jesus fala de sua consciencia c6smica como do reino dos C6us, reino de Deus!

“ Procurai o reino dos C£us e tudo o mais vos se rf dado por acrfscim o.”

“ . . .Vos. 6 dado conhecer os mist£rios do reino de Deus.”

“O reino de Deus 6 como um grao de mostarda que o homem langou em seu campo. E a m enor de todas as se- mentes, mas quando germina, tom a-se maior do que a rel- va e, depois, uma drvore em cujos ramos os pdssaros do

c6u vem fazer seu ninho.”

“O reino dos c£us 6 como um tesouro enterrado no campo, que um homem acha e esconde. Alegre, ele vende tudo o que tem e com pra o campo.**

“ O reino dos c6us 6 como uma rede que foi langada no mar e traz toda a esp€cie de coisas.”

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“Eu te darei as chaves do reino dos C6us e tudo o que ligares na terra serd ligado nos c£us, e tudo que desligares na terra ser£ desligado nos c£us.”

Os Evangelhos citam tamb6m este epistfdio da vida de Jesus, bastante conhecido:

“ Neste momento, vieram os discfpulos de Jesus dizen- do: “qual de n6s 6 o maior no reino dos C£us?” Jesus cha- mou uma crianga e disse: “ Em verdade, se v6s nao fordes como esta crianga, nao vereis o reino dos C6us.”

“ 6 mais f£cil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos C6us.”

“ O reino dos C6us vem sem ser visto. Que nao se diga: “ Ele estd aqui, ele est£ ali! O reino dos C6us est£ dentro de v6s.”

“O reino dos C£us no interior de v6s” nao quer dizer que ele est£ no coragao, no plexo solar ou em qualquer ou- tro 6rgao do corpo ffsico. Jesus estudou o misticismo nas escolas de Mist6rios de seu tempo, e tentou revelar a ver­ dade a seus ouvintes.

Por estas palavras e por muitas outras atribufdas a Je­ sus, 6 plausfvel admitir que ele se referia & Consciencia c6smica, que s<5 advird ap6s s£ria preparagao. Consciencia c6smica significa conhecer a plena realizagao do C6smico, e tudo o que esta palavra subentende: Deus, a divindade, o universo. Costum a-se designar esta Consciencia c6smica pela expressao: Consciencia crfstica, pois esta expressao si- nonima significa uma realizagao do Infinito e de tudo o que ele encerra: realizagao alcangada por Jesus.

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f} por esta razao que os estudantes do misticismo falam de consciencia cristica, sem a associar exclusivamente a Je­

sus. Do mesmo modo, os ensinamentos mfsticos se ocupam

desta consciencia cristica sem se referir, necessariamente, aos atuais ensinamentos cristaos que sao fundados, exclusi­ vamente, no que Jesus disse e fez.

ELE NAO ERA SEU UNICO F IL H O

E inegdvel que Jesus foi o maior dem onstrador da cons­ ciencia cristica, o maior mestre, mas do ponto de vista mis- tico, 6 incorreto dizer-se que Jesus foi o unico filho de Deus.

De fato, somos todos filhos de Deus, embora alguns homens e mulheres manifestem sua divindade em um grau mais ou menos elevado do que outros; 6 a consciencia crfs­ tica que faz de n6s vivas imagens de Deus. Somos uma ex- pressao de Deus, mas esta expressao varia com nosso grau de desenvolvimento, pois nao existem dois indivfduos que manifestem exatamente o mesmo grau de desenvolvimento e de compreensao.

O tinico objetivo da existencia humana 6 manifestar esta divindade. Se bem que esta manifestagao nao parega pre- valecer entre as diversas ragas, 6 preciso admitir que no s6- culo XX ela 6 maior do que o foi em qualquer outro mo- mento da historia do homem.

De mais a mais, homens e mulheres aproximam-se desta realizagao e, em bora possamos falar em diferentes termos,

€ sempre a mesma coisa que se ouve.

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o mar, tudo 6 uma manifestagao do trabalho de Deus. O universo inteiro 6 feito de suas manifestagoes.

“ Que maravilhosas obras sao as Tuas!” , clama o sal­ mis ta.

A manifestagao divina estd em cada um de n6s e em to­ dos n6s. Tudo o que 6 divino pertence ao reino dos c£us, que 6 uma condigao existente tanto dentro de n<5s mesmos como no reino c6smico ao nosso redor. O reino de Deus ou o reino dos c6us encontra-se em nosso ser. Quando enten- demos isto e lhe damos plena expressao, podemos dizer que fomos iluminados pela consciencia c6smica ou crfstica.

Esta consciencia crfstica prevalece em todo ser humano e traz uma compreensao que nao somente inspira, como transcende todos os esforgos intelectuais para chegar ks mesmas verdades.

A divindade crfstica e a consciencia crfstica nao foram criadas na £poca do nascimento de Jesus, ou no momento de seu batismo no Jordao, portanto, os homens desse tem ­ po sabiam que depois de seu batismo, Jesus era a conscien­ cia divina descida k terra, sob form a humana.

A consciencia crfstica nao est& confinada em Deus, co­ mo uma entidade. Ela pode ser alcangada e sentida ou ex- perimentada por todo aquele que se purifica espiritual- mente, que se prepara mentalmente e se eleva por suas sin- ceras aspiragoes.

Quando o homem torna-se consciente de que 6 um segmento, uma emanagao da consciencia universal de Deus, seus pensamentos e suas agoes estao de acordo com esse saber.

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£ objetivo do misticismo auxiliar os aspirantes & espiri- tualidade a adquirir esta realizagao do Infinito e que eles desejam. E todo ser humano 6 dotado de faculdades que lhe permitem alcangar tal realizagao.

Muitas vezes, entretanto, nao 6 antes de experim entar a necessidade interior dessa realizagao que se empreendem esforgos para obte-lo. As primeiras condigoes necessdrias sao a humildade, um sentimento de simpatia e de afeigao por seu semelhante, o desejo de o ajudar e de lhe ser titil de qualquer maneira. Tais sao as coisas que ajudam a abrir o reino interior onde n6s “ todos somos um” .

O egotismo, o egofsmo, o desejo de poder, devem ser govemados e afastados; o espfrito, purificado de toda ten- dencia negativa, de maneira que, como uma crianga, pos- samos nos aproximar da porta do reino.

O CAM INHO

Jesus 6, talvez, o exemplo mais impressionante da his- t<5ria de um mortal penetrado pela Divindade. Ele nos deu o exemplo de tudo aquilo a que devemos aspirar. Mas n6s nao podemos imitar Jesus; podemos, somente, ser n<5s mesmos, agir de acordo com nosso desenvolvimento pes­ soal de nossa compreensao, e viver seu ideal. Quando ti- vermos aprendido a agir assim, descobriremos que somos inspirados, elevados e talvez, mesmo, transportados at6 um novo piano de realizagao: o piano da consciencia crfstica.

Jesus disse que ele era o Caminho e que, aquele que o seguisse faria coisas bem maiores do que ele. Jesus, como os outros, m ostrou-nos o caminho para chegar & conscien­ cia crfstica.

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Deus 6 onipresente em toda manifestagao ou expressao. N<5s compreenderemos isso quando soubermos que nossa inspiragao 6 a de Deus, e que a divina inteligencia traba- lhou atrav€s de n6s. Somos conscientemente impregnados de uma irradiagao divina e uma mudanga maravilhosa se produz em n6s; os trabalhos mais diffceis sao facilmente realizados e n6s somos conscientes de que a onipresenga de Deus transfigura cada fase de nossa vida, transform ando a dor em alegria, a tristeza em luz e vida, porque Deus se ex ­ prime atrav^s de n<5s.

Karel W einfurter escreveu um dia que a vida mistica 6 o desejo de perceber e de alcangar Deus no universo e em si mesmo, um desejo de penetrar o mist£rio do Ser, pois a Vida no reino interior conduz k consciencia cristica.

O despertar interior, o influxo do poder mfstico, a com­ preensao e a harmonia com Deus vem calmamente, sem se fazer anunciar, e quando menos se espera. Entao, n6s vi- vemos k luz do reino de Deus.

Parece, pois, que 6 muito natural para os homens, ima- gens vivas de Deus, manifestar sua divindade neste perfodo de Natal.

Pouco importa nossa i€ religiosa. O que conta 6 a m a­ nifestagao da consciencia cristica, e tamb€m, que o espirito de Natal crie raizes no coragao de todo homem e de toda muiher e a tal ponto que sua divindade nao se manifeste somente no Natal, mas durante o ano inteiro, em cada ato e em cada pensamento.

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COMO CRIAN^AS por

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COMO CRIAN£AS

A medida que progredimos no estudo mfstico, damo- nos conta, cada vez mais, de que o acaso nao existe. Em todos os elementos de nossa vida, existe uma estreita rela- gao de causa e efeito e, se quisermos atentar para isso, ve- rificaremos que esta relag ao se manifesta mesmo nos me- nores incidentes da existencia consciente. O ra, como tudo o que 6 exterior a n6s mesmos leva, em definitivo, ks per- cepgoes que n6s temos e k compreensao que disso resulta para todos n6s, 6 f£cil de se concluir que nossa experiencia do mundo exterior 6 puramente subjetiva. Somos, pois, os criadores de nosso pr6prio meio e nele somos atuantes, o que quer dizer que o homem pode ser, se verdadeiramente o desejar, dono de sua pr6pria vida ao inv£s de ficar sub- misso a circunstancias das quais, afinal de contas, ele 6 o prtfprio autor. £ , por consequencia, para uma verdadeira reabilitagao dele mesmo que o mlstico trabalha, atrav^s de um m£todo que visa a redobrar, em todos os domfnios, a primazia do ser interior e a plena atividade de seus poderes do pensamento, por uma participagao mais absoluta no pia­ no da criagao. Uma tal reabilitagao nao se d£ sem um certo abandono k vontade c6smica. Digo um “ certo” abandono, para acentuar que nao seria questao de considerar a

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inteli-gencia divina como “deus ex-m achina” encarregada de resolver todos os problemas da existencia, mesmo os mais insignificantes. Cada um de n<5s deve saber assumir suas responsabilidades em relagao aos efeitos dos quais 6 a causa, e isto ser£, verdadeiramente, prova de indolencia e da incapacidade, langar sobre o C<5smico o que foi, desde a origem, colocado sob o imp^rio do homem. Nada h£, nos poderes c6smicos para reparar os erros cometidos.

Certam ente, o unico fato de ter escolhido o caminho da evolugao e de o seguir oferece os meios novos e eficazes para restabelecer a harmonia ao redor e em tudo o que nos toca, pois, trabalhando sobre si mesmo, o homem opera, ao mesmo tempo, sobre seu meio que estd sob a inteira depen- dencia de seus pensamentos.

C h egari o momento, por certo, em que o abandono a vontade c6smica ser£ total e esse abandono nao constitui uma falencia da personalidade. Ele restitui a cada um seu pleno valor de criatura divina, e o adepto, em seu ser inte­ rior, tom a-se, entao, o intermedicirio do Ctfsmico, uma es- p£cie de transform ador da id£ia universal com uma fre- qiiencia vibrat<5ria ativa no piano do criador e, de todo mo­ do, uma c£luia, entre outras, do desdobramento da inces- sante criagao. Tal 6 o mais alto degrau do “ adeptado” , o de R osa+ C ruz, onde 6 alcangada a transferencia do pensa­ mento m otor do manifestado para a fonte e onde a renun- cia nao € uma capitulagao do humano, mas uma expressao din^mica do movimento divino para seu fim ultimo.

O mfstico deve aprender a deixar-se guiar pela mao di- rigente. fi a primeira etapa. Mais tarde, se-lo-5, por um dedo desta mao. Mas 6 preciso, para isso, fazer suas provas

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e assegurar sua confianga. Existe um estado interior mais reconfortante do que o de se abandonar a mao dirigente e de se ter, assim, a certeza de que a diregao tomada 6 boa? Veja a crianga que, na rua, segura a mao do pai; examine seu rosto confiante e feliz. Pode ser, em certos momentos, que ela se surpreenda por algum acontecimento ou algum incidente novo. Que fard, entao? Seguramente, nao Iargard a mao de seu pai. Pelo contrdrio, ela a apertard com mais forga para sentir melhor sua tranqiiilizante presenga.

Faga, pois, como a crianga, nao ignore a mao que segura a sua. Se a necessidade se faz sentir, muito especialmente, aperte um pouco mais esta mao dirigente e deixe-se condu- zir, pois ela o levard para um abrigo de paz.

Esquega os detalhes para restaurar a verdade; nao partir em busca de poderes passageiros que desaparecerao com o p<5 do ser ffsico; mas, pelo contrdrio, “buscar acima de tudo o reino de Deus” , e com preender os verdadeiros poderes, dados por acr£scimo; querer sempre encarar um outro mais humano que o mais humano, parecer nada mais do que um homem, aos olhos do mundo, e nada menos, como um mfs­ tico, diante de Deus; eis o caminho que deve seguir e a atitude que 6 necessirio adotar.

£ assim que se prova a boa vontade, e que se merece a paz prometida aos homens, esta paz que o tempo de Natal, anualmente, lembra k humanidade, que ela 6 de um reino “mais pr6ximo de n6s do que nossas maos e nossos p£s” .

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SILENCIO:

O Aprendizado Interior Pelo Poder do Silencio por

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SILENCIO:

O Aprendizado Interior Pelo Poder do Silencio

Antes de iniciar um ne6fito nos mist£rios de seus ensi­ namentos, o fil6sofo Pit^goras submetia o candidato a uma s£rie de testes destinados a fortalecer seu c arfter e que permitiam a PitSgoras julgd-lo. Assim, o novigo entre os s£bios de Crotona a tudo ouvia mas jamais fazia perguntas. Por meses sem fim era ele submetido h disciplina do silen­ cio de modo que, quando finalmente lhe permitissem falar outra vez, s6 o fizesse com circunspecgao e reverencia. Ele tinha aprendido, pela experiencia pessoal, que o silencio 6 quase um poder divino - a mae de todas as virtudes.

Por que € que n6s nao seguimos os sdbios preceitos de Pitdgoras? O maior problema no mundo de hoje 6 a falta de silencio. A sociedade moderna nao apenas est£ literalmente envenenada pelo tumulto de m&quinas (inclusive as que fa- lam), mas tamb£m — e especialmente — est3 saturada com palavras barulhentas e vazias. Im porta hoje quem fale mais alto, quem apresente melhores argumentos, quem conte sua versao dos acontecimentos com os mais insignificantes de­ talhes.

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Como estava certo Kierkegaard, o grande pensador es- candinavo, ao escrever: “ O mundo em seu estado atual estd doente! Se para tan to eu fosse um medico e me pedissem conselho, recomendaria: “F icaem silencio!”

O verdadeiro Rosacruz pode ser reconhecido por sua temperanga oral, entre outras virtudes. 6 comedido no fa- lar, e suas palavras sao ricas em significado. Ele poe em prdtica o conselho de um mestre Sufi: “Se a palavra que voce vai falar nao 6 mais bela que o silencio, entao nao a diga!”

Quando buscamos a Iniciagao, devemos guardar silencio nao apenas para com os outros mas tamb^m para conosco mesmos. Compreendamos isto melhor. £ no silencio que o C6smico, o Ser Divino, tom a-se manifesto & nossa cons­ ciencia. Para que ougamos a orientagao divina, para termos lampejos de intuigao, devemos aprender a silenciar a voz subjetiva do nosso pensamento. A Bfblia ensina isto, sim- bolicamente, no primeiro Livro dos Reis (Cap. 19, versf- culos 11 e 12), onde vemos o profeta Elias refugiado no deserto, esperando uma mensagem do Senhor:

“ Sai, vem para fora, e poe-te neste monte perante a fa­ ce do Senhor. E eis que passava o Senhor, como tamb£m um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as pedras diante da face do Senhor; mas o Senhor nao es­ tava no vento, e, depois do vento, um terrem oto; tamb£m o Senhor nao estava no terremoto;

“ E depois do terrem oto, um fogo; por£m, o Senhor tamb&n nao estava no fogo; e, depois do fogo, uma voz doce e silente.”

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Foi entao que o Senhor apareceu a Elias. Em seu fa- moso tratado Language o f Birds (“ Linguagem dos Pdssa- ros”), o mistico A ttar exprime a mesma verdade de forma diferente: “Enquanto caminhavam, falavam; mas quando chegaram ao destino, toda fala cessou. Nao mais havia guia, nem viajante; e at£ mesmo a estrada cessara de exis- tir.”

Um dos maiores mfsticos da Franga, Louis Claude de Saint-M artin, foi chamado “ o Silencioso Desconhecido” por seus discipulos. Mais do que ningu£m, enaltecia ele a virtude do silencio. Escreveu: “Grandes verdades sao ensi- nadas somente pelo silencio”. Ainda melhor 6 sua observa- gao que, infelizmente, tao bem se aplica aos tempos atuais: “H av eri maior prova da fraqueza do homem que a multi- plicidade de suas palavras?”

6 bem verdade que o silSncio 6 um autentico teste para aquele que, por h£bito ou tendencia, nao pode observd-Io. A tradigao conta que os antigos fizeram do silencio uma divindade: na Gracia, o deus Harpdcrates, e em Roma, a deusa Tacita, nome este muito bem empregado, visto que se origina da palavra latina tacere, que significa “ estar em silencio” . Isto dem onstra o grau em que os antigos preza- vam esta virtude, bem como o fato de que os romanos nao consideravam o ato de falar muito uma fraqueza exclusiva do sexo fr£gil.

Como dissemos nesta mensagem, a disciplina do silencio constitui poder; ela nos permite m anter dentro de n6s um influxo de vitalidade que palavras inuteis desperdigam. Antes de falar, procure avaliar se o que voce vai dizer 6 merit6rio; se pode ocasionar algum bem e, especialmente,

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se nao vai provocar nenhum mal. Voce perceberd que o esforgo que fizer para reprim ir uma palavra inutil provoca uma reagao interior, um esforgo contra a tentagao. Cada

vitdria tra i-lh c -i novo poder. E este 6 o motivo por que 6

uma atitude s£bia seguir o conselho do mestre sufi, de que se aquilo que vocS vai falar nao 6 mais belo que o silencio, entao nao fale.

Medite sobre esta mensagem; pense nela com frequen- cia. Nossa esperanga 6 que o silencio o ajude a subir mais um degrau na escada da espiritualidade.

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ASSIM FALOU ZARATHUSTRA por

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ASSIM FALOU ZARATHUSTRA

Abandonando sua solidao na montanha, Zarathustra apresentou-se diante do sol e proclamou que ele tambdm devia descer entre os homens, pois tinha necessidade de que maos se estendessem para esta sabedoria que o estava fatigando.

E entao que, nas peregrinagoes por v£rios lugares, ele comegou a fazer discursos diante de todos os que encon- trava, sem escolher audit<5rio. Os discursos constavam de quatro series. Depois de ter terminado a primeira s£rie, outra inspiragao assaltou Zarathustra, talvez inesperada como fora a precedente, a que o incitou a sair de seu retiro na montanha; e retom ou ao isolamento.

At6 entao ele havia prodigalizado os frutos de sua sabe­ doria a qualquer um que tivesse escutado. Semeou a pala- vra audaciosa, revolucion&ia e inconveniente; e pouco numerosos, certam ente, foram aqueles que puderam aco- lhe-la. As palavras tinham duplo sentido e somente o S£bio podia compreend£-la. Falava sempre sob o impulso da ins­ piragao, sem a preocupagao de ser ou nao compreendido e insensfvel tanto ao elogio quanto & censura.

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Quando uma sabedoria superior abraga um ser humano, este ser nao pode raciocinar com ela, abrandd-la ou edul- cord-la para agradar aqueles que o escutam. A natureza humana surpreende por sua inconsequencia, quando se constata que as Escrituras sao feitas, em grande parte, deste genero de expressao, e que todas as nagoes o aceitam porque o consideram inspirado. Por que este mesmo espi­ rito de inspiragao, encontrando uma voz entre os homens, serd considerado, em nossos dias, sob um angulo bem di- ferente? Zarathustra deveria m agoar-se com esta incom- preensao; olhando, entao para a multidao, falou, do fundo de seu coragao: “Ei-los que se poem a rir; nao me com- preendem; eu nao sou a boca necessdria para seus ouvi- dos.” Mesmo durante o preambulo em seus discursos, isso foi assim .. . e Z arathustra fez vinte e dois discursos antes de seu primeiro retom o a solidao.

Passaram -se os anos. Zarathustra voltou e ora, entre os homens, fez uma segunda s£rie de vinte e dois discursos tamb£m ousados e revoluciondrios como os da primeira s£rie. Os discursos finals tem como tftulo A Hora Mais Si-

lenciosa, elaborados no segundo retiro de Zarathustra:

“ Meus amigos, que estd me acontecendo?, diz ele, v6s me perturbastes, me alucinastes; submisso contra minha von- tade, prestes a ir-m e em bora, ai de mim! a me afastar de v6s.”

“ Sim, 6 verdade! Zarathustra volta uma vez mais h sua solidao; mas desta vez, o urso retom a sem alegria k sua ca- vem a!”

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“ Ai de mim! a Outra, que 6 minha m estra em c61era, assim o deseja; ela me falou. Nunca vos disse seu nome?

“Ontem , & noite, Minha hora mais silenciosa me falou; est£ ali o nome de minha tem v el mestra. E eis o que se passou, pois 6 preciso que eu vos diga tudo, para que vosso coragao nao se endurega contra aquele que parte precipita- damente.”

E quando, em sua altivez, Zarathustra contestou inu- meras vezes e repetiu a voz imperativa da Outra, foi-lhe, peremptoriamente, dito:

“ 6 Zarathustra, teus frutos estao maduros mas tu ainda nao est£s maduro para teus frutos. £ preciso que retom es a tua solidao para que tua dureza se reduza mais.”

A partir de entao, Z arathustra levou, durante muito tempo, uma vida nomade: entre dois perfodos de recolhi- mento em sua cavem a, na montanha, ele se encaminhava para os habitantes das indmeras cidades onde o acaso diri- gisse seus passos. E ainda uma vez ele perambulou. Fez a terceira e a quarta series de seus discursos durante esse perfodo de vida errante. Falava, &s vezes, a pessoas estra- nhas que encontrava no caminho, a animais que lhe faziam companhia ou, mais frequentem ente, abandonava-se ao so- lil6quio.

Este retom o peri6dico de Zarathustra h vida eremftica, em silencio aterrorizante, nao implica, necessariamente, na “noite negra da alma” , descrita com frequencia em nossas monografias; uma interpretagao se impoe, imediatamente, ao espfrito. A progressao de Zarathustra se realiza por

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ci-clos alternantes de atividade e retiro: cada perfodo de me- ditagao solitdria no silencio 6 seguido de um perfodo de ati­ vidade inspirada, na qual Zarathustra exorta seus seme- lhantes. Uma vez transmitida a mensagem, a hora de ins- piragao se desvanece mais uma vez: Zarathustra 6 chamado para o silencio do coragao, para a solitilna comunhao com o esprrito de sabedoria.

* * *

Nossos leitores talvez saibam que Nietzsche considera- va Assim Falou Zarathustra como sua obra-m estra. Os dis­ cursos t£m, j*i o dissemos, a caracterfstica de serem auda- ciosos, revoluciondrios e irracionais: eles o sao, certamente, para o leitor comum. Mas para aquele que j£ percorreu um longo trajeto no caminho da evolugao e que est£ habituado com o audacioso e o revoluciondrio nas obras dos Videntes e dos Profetas, estes discursos sao marcados por uma in- contestcivel qualidade mfstica, e podem ser apreciados conforme seu valor real; somente um s5bio e um profeta puderam escreve-los.

O fato de que h£ trinta anos Nietzsche deixou o lar e passou dez anos na solidao da montanha em busca da ver­ dade da Vida confirm a que ele sabia que tinha uma missao a cumprir. Possuia amplos conhecimentos de literatura; ha- via estudado a fundo as religioes orientais e ocidentais bem como todas as altas filosofias. Sua crftica ao Cristianismo “ortodoxo” sao ousadas e, por vezes, frnpias. Nao obstante,

6 um pensador original e corajoso, reconhecido como tal no

mundo inteiro, nos dias de hoje; pode-se, mesmo, observar, que quase todos os grandes escritores, no campo da filoso- fia, da religiao e da arte, citam -no e enaltecem sua vasta

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erudigao e seu penetrante conhecimento da natureza mtima de todos os assuntos de que trata.

Nietzsche nao 6 um autor que se possa aconselhar a to­ dos. Uma parte de sua obra pode se revelar perniciosa para o ser de inteligencia limitada e de restrita capacidade de apreciagao; poderd confundi-lo. O homem muito inteli- gente, mas de espfrito sectdrio, rejeiti-lo-d como perigoso e o tratard como inovador destrutivo. Para o notoriamente beato, serd um andtema e o estigmatizard como traidor da alma humana. Sua palavra ressonante se revelard como mau agouro para aqueles que, testemunhas da rdpida deca- dencia atual do Ocidente, lerem suas pdginas, que um cris- tao, certamente, vird a detestar. Para aqueles que buscam a verdade onde quer que ela esteja, que sabem que ela 6 uma arma de dois gumes, descerrando o v£u da beleza e da feal- dade da vida com uma imparcialidade soberana, ele pode vir a ser um inspirador e um guia de primeira ordem. Tudo isto depende da amplitude e da qualidade da maneira de pensar de um homem. Pode-se dizer que os que fizeram uma apreciagao verdadeiramente exata de Nietzsche e que o citam mais em seus trabalhos sao precisamente aqueles que foram notdveis por sua largueza de visao, profundeza de saber e compreensao da natureza e da alma humanas.

* ' * *

E indiscutivel que a natureza do desenvolvimento de Zarathustra 6 semelhante a esta fase da evolugao que cha- mamos “a noite negra”. Entao, impoe-se ao espfrito a cldssica obra mistica de Sao-Joao-da-C ruz (Saint-Jean- de-la-Croix), que trata o assunto a fundo. Nietzsche co- nhecia particularmente bem este tratado e o estudou,

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mi-nuciosamente, no curso de suas longas conferencias. Criti- cando, efetivamente, com muito rigor, alguns ensinamentos religiosos, por ter percebido que eles complicavam e entra- vavam o espirito mais do que o esclareciam, sua intuigao de uma aguda clarividencia expunha as fases positivas e nega- tivas destes ensinamentos com uma impiedosa imparciali- dade e um absoluto desd£m que poderia causar ressenti- mento kqueles que por eles haviam sido nutridos desde a infancia e neles descansavam a esperanga de salvagao fu- tura.

N6s vemos precisamente na progressao de Zarathustra algo que se assemelha & doutrina e & experiencia mistica de Sao-Joao-da-C ruz. Sao Joao comenta algumas imperfei- g5es que obsidiavam os aspirantes na caminhada, como o orgulho, a cupidez e apatia espiritual, ira, inveja e a indo- lencia espiritual. Ele m ostra por que estas imperfeigoes assaltam o aspirante e tom am -se obstaculos para sua pro­ gressao. Em seus discursos, Zarathustra faz alusao ks mesmas imperfeigoes com originalidade na maneira de tratar, fineza de intuigao e delicada distingao aplicadas ao desenvolvimento do individuo, a ponto de nos fazer sentir que ele 6 um personagem que vai para a montanha com um objetivo titil; e este objetivo era escavar at6 atingir a pedra fundamental da verdade sobre ela e sobre a vida, e gravar esta verdade para uma minoria que tem ouvidos de ouvir.

Mas que visava esta crftica destrutiva, que recorreu ao 6dio encamigado e & venenosa acusagao daqueles que se sentiam igualmente acima dele? Qual era o ideal de Nietzsche? E ra o engrandecido homem do futuro, o Super-

homem. Ora, se quiserdes revelar o pior no politico ou no

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simples-mente, em foco, um indivfduo que o sobrepuje e o eclipse: o acolhimento que recebeu o Super-homem de Nietzsche bem o demonstra. Ele abominava, do fundo de seu coragao, uma parte dos ensinamentos morbidamente sentimentais do Cristianismo devoto, tratando-a impiedosamente. Entre- tanto, procurava, sem cessar, o homem verdadeiro. M arte- lava, a cada passo, os ferros que acorrentavam os homens e os impediam de perceber a verdade. Ao lem brar de que Cristo disse: “ A verdade vos libertard” , nao hesitamos em afirm ar que aquele que ousa afrontar a opiniao publica e arriscar sua reputagao procurando-a Iealmente, como o fez Nietzsche, tem direito ao respeito do homem honesto.

Nietzsche foi condenado por ter sido um implacdvel destruidor dos valores artificiais. Ele foi julgado mais se- veramente por aqueles que tem medo de examinar estes valores que vivenciam h i muito tempo e sabem que neles repousa relativa prosperidade terrestre. As comunidades cristas o condenaram pela flecha que ele Iangou com re- sultado sensacional contra as corrompidas fundagoes da “ ortodoxia” . Desde 1900, estas fundagoes vem sofrendo crfticas ferinas, tanto da esquerda como da direita, do seio da Igreja comO de fora dela. E interessante observar a que ponto foi fraca a oposigao que se levantou contra as de- claragoes destas pessoas (homens e mulheres) que pensam. E forgoso reconhecer: qualquer que seja nossa revolta contra alguns termos vituperiosos que Nietzsche se permita neste assunto, n6s nos vemos impossibilitados de refutar suas conclusoes.

UM FALSO DISCfPU LO

A condenagao de Nietzsche foi, indubitavelmente, agravada pelo fato notoriamente pfiblico de que Hitler,

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pessoa depravada, se interessou por suas obras. Nao sendo mais do que um vulgar assassino, H itler pretendeu, com uma tfpica atitude diab61ica, transform ar o Bem em Mal e a Verdade em Mentira. Ele acreditou que era o Super-H o- mem em pessoa, em sua dpoca. O julgamento que se fez de Nietzsche reside, assim, em um sofisma; Nietzsche apre- sentou o Super-Hom em ; H itler estudou Nietzsche e se acreditava um Super-Homem; 6, pois, a Nietzsche que se deve Hitler.

Devemos agradecer ao professor francos Henri Lichten- berger o julgamento sadiamente equilibrado de Nietzsche e a ausencia de referencias desairosas ao personagem e & obra. Para m ostrar o que Nietzsche terd pensado de Hitler, com relagao & personificagao de seu Super-hom em , se ti- vesse vivido o bastante para constatar a vaidade e a impru- d£ncia colossais desta caricatura do grande homem do fu­ turo, basta a citagao que se segue:

“ O Super-hom em de Nietzsche era, em essencia, um dos grandes Iniciadores que, a exemplo de Cristo ou, mes­ mo, de Buda ou Maom€, exerceram poderosa influencia nas almas dos homens. Assim, o genero de guerra que in- teressava a Nietzsche nao era o da que se passa em campo de batalha e que, em seu cego furor, prende-se, sem dis- criminagao, & riqueza, aos tesouros artfsticos, & vida e h fe- licidade dos homens. Mesmo podendo ser uma fatalidade, ela deve permanecer acima de todo barbarismo, cujo trdgi- co horror a alma de Nietzsche sentia, tao facilmente tocada pela compaixao, muito mais do que a maioria dos homens. O que estimulava o entusiasmo de Nietzsche era a luta si- lenciosa, invisivel e misteriosa, que se trava nas profunde- zas da alma entre os grandes principios que governam a

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vida humana e decidem, em ultima instfincia, a diregao da evolugao. A guerra material, tangfvel, tem por objeto a he- gemonia de um povo ou de uma raga. A guerra espiritual decide sobre o que se poder£ chamar, no sentido Iato da expressao, o futuro religioso da humanidade.

“O verdadeiro discfpulo de Nietzsche € aquele que, com todas as forgas de seu ser, visa a criagao de uma id&a que reger;S a humanidade, o triunfo de um ideal religioso antigo ou modemo. O fan£tico em uma raga ou pais, nao tem o direito de se prevalecer do nome de Nietzsche.”

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TEMPO ILIMITADO Por

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Em todo o curso da histtfria da filosofia, a natureza do tempo tem atraido a atengao dos f!16sofos. Este assunto le- vanta questoes diffceis de responder. Entretanto, os s£bios e os FiI6sofos que aceitam a Teoria da Relatividade de Albert Einstein estao, em larga escala, de acordo com este enigma, o tempo.

Sendo coisa abstrata, o tempo 6, particularmente, des- concertante e misterioso. N6s o encontramos em cada coisa que fazemos ou observamos; todavia, em uma pesquisa mi- nuciosa, ele parece se nos escapar, pois o que era o pre- sente € agora o passado. O tempo pode ser considerado como uma relagao entre as coisas, porque nosso intelecto exige que concebamos as coisas em relagao com o tempo, ou seja, sucedendo-se uma ap6s outra. Semelhante ks tres dimensoes do espago, geralmente aceitas, o tempo 6 uma condigao universal, e a ela se refere, freqiientemente, como a quarta dimensao. Encontramos sempre juntos o tempo e o espago. Tudo o que 6 afetado pelo tempo o € tamb£m pelo espago.

Bergson definiu o tempo como duragao. Ele diz que n6s pertencemos ao fluxo da duragao e que podemos nos tor- nar conscientes de sua pulsagao. A duragao tem uma

Referências

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