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A medida que progredimos no estudo mfstico, damo- nos conta, cada vez mais, de que o acaso nao existe. Em todos os elementos de nossa vida, existe uma estreita rela- gao de causa e efeito e, se quisermos atentar para isso, ve- rificaremos que esta relag ao se manifesta mesmo nos me- nores incidentes da existencia consciente. O ra, como tudo o que 6 exterior a n6s mesmos leva, em definitivo, ks per- cepgoes que n6s temos e k compreensao que disso resulta para todos n6s, 6 f£cil de se concluir que nossa experiencia do mundo exterior 6 puramente subjetiva. Somos, pois, os criadores de nosso pr6prio meio e nele somos atuantes, o que quer dizer que o homem pode ser, se verdadeiramente o desejar, dono de sua pr6pria vida ao inv£s de ficar sub- misso a circunstancias das quais, afinal de contas, ele 6 o prtfprio autor. £ , por consequencia, para uma verdadeira reabilitagao dele mesmo que o mlstico trabalha, atrav^s de um m£todo que visa a redobrar, em todos os domfnios, a primazia do ser interior e a plena atividade de seus poderes do pensamento, por uma participagao mais absoluta no pia­ no da criagao. Uma tal reabilitagao nao se d£ sem um certo abandono k vontade c6smica. Digo um “ certo” abandono, para acentuar que nao seria questao de considerar a inteli-

gencia divina como “deus ex-m achina” encarregada de resolver todos os problemas da existencia, mesmo os mais insignificantes. Cada um de n<5s deve saber assumir suas responsabilidades em relagao aos efeitos dos quais 6 a causa, e isto ser£, verdadeiramente, prova de indolencia e da incapacidade, langar sobre o C<5smico o que foi, desde a origem, colocado sob o imp^rio do homem. Nada h£, nos poderes c6smicos para reparar os erros cometidos.

Certam ente, o unico fato de ter escolhido o caminho da evolugao e de o seguir oferece os meios novos e eficazes para restabelecer a harmonia ao redor e em tudo o que nos toca, pois, trabalhando sobre si mesmo, o homem opera, ao mesmo tempo, sobre seu meio que estd sob a inteira depen- dencia de seus pensamentos.

C h egari o momento, por certo, em que o abandono a vontade c6smica ser£ total e esse abandono nao constitui uma falencia da personalidade. Ele restitui a cada um seu pleno valor de criatura divina, e o adepto, em seu ser inte­ rior, tom a-se, entao, o intermedicirio do Ctfsmico, uma es- p£cie de transform ador da id£ia universal com uma fre- qiiencia vibrat<5ria ativa no piano do criador e, de todo mo­ do, uma c£luia, entre outras, do desdobramento da inces- sante criagao. Tal 6 o mais alto degrau do “ adeptado” , o de R osa+ C ruz, onde 6 alcangada a transferencia do pensa­ mento m otor do manifestado para a fonte e onde a renun- cia nao € uma capitulagao do humano, mas uma expressao din^mica do movimento divino para seu fim ultimo.

O mfstico deve aprender a deixar-se guiar pela mao di- rigente. fi a primeira etapa. Mais tarde, se-lo-5, por um dedo desta mao. Mas 6 preciso, para isso, fazer suas provas

e assegurar sua confianga. Existe um estado interior mais reconfortante do que o de se abandonar a mao dirigente e de se ter, assim, a certeza de que a diregao tomada 6 boa? Veja a crianga que, na rua, segura a mao do pai; examine seu rosto confiante e feliz. Pode ser, em certos momentos, que ela se surpreenda por algum acontecimento ou algum incidente novo. Que fard, entao? Seguramente, nao Iargard a mao de seu pai. Pelo contrdrio, ela a apertard com mais forga para sentir melhor sua tranqiiilizante presenga.

Faga, pois, como a crianga, nao ignore a mao que segura a sua. Se a necessidade se faz sentir, muito especialmente, aperte um pouco mais esta mao dirigente e deixe-se condu- zir, pois ela o levard para um abrigo de paz.

Esquega os detalhes para restaurar a verdade; nao partir em busca de poderes passageiros que desaparecerao com o p<5 do ser ffsico; mas, pelo contrdrio, “buscar acima de tudo o reino de Deus” , e com preender os verdadeiros poderes, dados por acr£scimo; querer sempre encarar um outro mais humano que o mais humano, parecer nada mais do que um homem, aos olhos do mundo, e nada menos, como um mfs­ tico, diante de Deus; eis o caminho que deve seguir e a atitude que 6 necessirio adotar.

£ assim que se prova a boa vontade, e que se merece a paz prometida aos homens, esta paz que o tempo de Natal, anualmente, lembra k humanidade, que ela 6 de um reino “mais pr6ximo de n6s do que nossas maos e nossos p£s” .

SILENCIO:

O Aprendizado Interior Pelo Poder do Silencio por

SILENCIO:

O Aprendizado Interior Pelo Poder do Silencio

Antes de iniciar um ne6fito nos mist£rios de seus ensi­ namentos, o fil6sofo Pit^goras submetia o candidato a uma s£rie de testes destinados a fortalecer seu c arfter e que permitiam a PitSgoras julgd-lo. Assim, o novigo entre os s£bios de Crotona a tudo ouvia mas jamais fazia perguntas. Por meses sem fim era ele submetido h disciplina do silen­ cio de modo que, quando finalmente lhe permitissem falar outra vez, s6 o fizesse com circunspecgao e reverencia. Ele tinha aprendido, pela experiencia pessoal, que o silencio 6 quase um poder divino - a mae de todas as virtudes.

Por que € que n6s nao seguimos os sdbios preceitos de Pitdgoras? O maior problema no mundo de hoje 6 a falta de silencio. A sociedade moderna nao apenas est£ literalmente envenenada pelo tumulto de m&quinas (inclusive as que fa- lam), mas tamb£m — e especialmente — est3 saturada com palavras barulhentas e vazias. Im porta hoje quem fale mais alto, quem apresente melhores argumentos, quem conte sua versao dos acontecimentos com os mais insignificantes de­ talhes.

Como estava certo Kierkegaard, o grande pensador es- candinavo, ao escrever: “ O mundo em seu estado atual estd doente! Se para tan to eu fosse um medico e me pedissem conselho, recomendaria: “F icaem silencio!”

O verdadeiro Rosacruz pode ser reconhecido por sua temperanga oral, entre outras virtudes. 6 comedido no fa- lar, e suas palavras sao ricas em significado. Ele poe em prdtica o conselho de um mestre Sufi: “Se a palavra que voce vai falar nao 6 mais bela que o silencio, entao nao a diga!”

Quando buscamos a Iniciagao, devemos guardar silencio nao apenas para com os outros mas tamb^m para conosco mesmos. Compreendamos isto melhor. £ no silencio que o C6smico, o Ser Divino, tom a-se manifesto & nossa cons­ ciencia. Para que ougamos a orientagao divina, para termos lampejos de intuigao, devemos aprender a silenciar a voz subjetiva do nosso pensamento. A Bfblia ensina isto, sim- bolicamente, no primeiro Livro dos Reis (Cap. 19, versf- culos 11 e 12), onde vemos o profeta Elias refugiado no deserto, esperando uma mensagem do Senhor:

“ Sai, vem para fora, e poe-te neste monte perante a fa­ ce do Senhor. E eis que passava o Senhor, como tamb£m um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as pedras diante da face do Senhor; mas o Senhor nao es­ tava no vento, e, depois do vento, um terrem oto; tamb£m o Senhor nao estava no terremoto;

“ E depois do terrem oto, um fogo; por£m, o Senhor tamb&n nao estava no fogo; e, depois do fogo, uma voz doce e silente.”

Foi entao que o Senhor apareceu a Elias. Em seu fa- moso tratado Language o f Birds (“ Linguagem dos Pdssa- ros”), o mistico A ttar exprime a mesma verdade de forma diferente: “Enquanto caminhavam, falavam; mas quando chegaram ao destino, toda fala cessou. Nao mais havia guia, nem viajante; e at£ mesmo a estrada cessara de exis- tir.”

Um dos maiores mfsticos da Franga, Louis Claude de Saint-M artin, foi chamado “ o Silencioso Desconhecido” por seus discipulos. Mais do que ningu£m, enaltecia ele a virtude do silencio. Escreveu: “Grandes verdades sao ensi- nadas somente pelo silencio”. Ainda melhor 6 sua observa- gao que, infelizmente, tao bem se aplica aos tempos atuais: “H av eri maior prova da fraqueza do homem que a multi- plicidade de suas palavras?”

6 bem verdade que o silSncio 6 um autentico teste para aquele que, por h£bito ou tendencia, nao pode observd-Io. A tradigao conta que os antigos fizeram do silencio uma divindade: na Gracia, o deus Harpdcrates, e em Roma, a deusa Tacita, nome este muito bem empregado, visto que se origina da palavra latina tacere, que significa “ estar em silencio” . Isto dem onstra o grau em que os antigos preza- vam esta virtude, bem como o fato de que os romanos nao consideravam o ato de falar muito uma fraqueza exclusiva do sexo fr£gil.

Como dissemos nesta mensagem, a disciplina do silencio constitui poder; ela nos permite m anter dentro de n6s um influxo de vitalidade que palavras inuteis desperdigam. Antes de falar, procure avaliar se o que voce vai dizer 6 merit6rio; se pode ocasionar algum bem e, especialmente,

se nao vai provocar nenhum mal. Voce perceberd que o esforgo que fizer para reprim ir uma palavra inutil provoca uma reagao interior, um esforgo contra a tentagao. Cada

vitdria tra i-lh c -i novo poder. E este 6 o motivo por que 6

uma atitude s£bia seguir o conselho do mestre sufi, de que se aquilo que vocS vai falar nao 6 mais belo que o silencio, entao nao fale.

Medite sobre esta mensagem; pense nela com frequen- cia. Nossa esperanga 6 que o silencio o ajude a subir mais um degrau na escada da espiritualidade.

ASSIM FALOU ZARATHUSTRA

No documento Luz Que Vem Do Leste 4 (português) (páginas 51-61)