Realismo. por Carlos Daniel S. Vieira

Realismo

Contexto Histórico Global

• Final do século XIX

• Revolução Industrial

• Formação dos grandes centros urbanos

• Brasil  Primeira crise depois da Independência (crise do

açúcar)

Contexto Histórico Brasileiro

• Crise econômica

• Fim do tráfico negreiro

• Crise do açúcar

• Guerra do Paraguai

• Crise ideológica

• Burguesia escravocrata entra em decadência

Autores

• Autores europeus: Stendhal, Balzac, Dickens e Victor Hugo

• Destaque em Portugal: Eça de Queiróz

• O Crime do Padre Amaro (1875)

• O Primo Basílio (1878)

• Maior realista brasileiro: Machado de Assis

• Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Características

• Oposição ao Romantismo

ROMANTISMO REALISMO

Idealização Preocupação com a

verossimilhança

Exaltação Ironia; sarcasmo

Personagens  virtudes Personagens  vícios Ambiente excêntrico Ambiente burguês

A Questão Coimbrã

• Portugal

• Antero de Quental e Teófilo Braga lançam obras esteticamente realistas

• Crítica do poeta romântico Antônio Castilho:

• “falta de bom-senso e de bom gosto” na escolha dos temas

• A poesia era o espaço do Belo, e não deveria ser “corrompida”

• Antero de Quental responde com um texto chamado, justamente, “Bom-senso e bom gosto”

• Defendeu o realismo

Na Mão de Deus

Antero de Quental

Na mão de Deus, na sua mão direita, Descansou afinal meu coração.

Do palácio encantado da Ilusão

Desci a passo e passo a escada estreita. Como as flores mortais, com que se enfeita A ignorância infantil, despojo vão,

Depois do Ideal e da Paixão

A forma transitória e imperfeita. Como criança, em lôbrega jornada, Que a mãe leva ao colo agasalhada E atravessa, sorrindo vagamente, Selvas, mares, areias do deserto... Dorme o teu sono, coração liberto, Dorme na mão de Deus eternamente!

Traços machadianos

• 1ª fase:

• Questão da ascensão social

• Amor, dinheiro e casamento

• Intenção: divertir e moralizar

• 2ª fase:

• Falsidade da vida depois do casamento  traição

• Análise das relações humanas

• Ações interesseiras

• Pessimismo

• Diálogo com o leitor para provocar, ironizar

CLAUSEN, G. Busto de uma

camponesa. 1882. Oléo

RODIN, A. O pensador. Bronze, 72cm de altura.

DAUMIER,H. O vagão da segunda

classe. 1864.

Tinta e carvão sobre papel, 20,5x30,1cm.

O narrador

• Narração em 1ª pessoa

• Tom cáustico

• Ironia, pessimismo e indiferença

• Classe burguesa  Valores burgueses

• Expostos com cinismo, o que gera a crítica

As “Memórias Póstumas”

• Publicação em 1881

• Primeira obra do Realismo brasileiro

• “Obra marco”

• Presença de dois tempos

• Tempo psicológico (além-túmulo)

• Tempo cronológico (nascimento, infância, adolescência, ida para Coimbra, volta ao Brasil e morte)

As “Memórias Póstumas”

• Narrativa fantástica

• Autobiografia ficcional

• Quebra com o pacto de verossimilhança

• Afeta a relação entre o narrador e o leitor

• Descontinuidade temporal

Um “defunto autor”, e não um “autor

defunto”

Personagens

• Brás Cubas - narrador sarcástico e prepotente. Morto aos 64

anos. Criança praga, adolescente fanfarrão e adulto sem caráter.

• Virgília - amante de Brás Cubas casa-se com Lobo Neves por

interesse. Ambiciosa, prefere status social ao amor.

• Damião Lobo Neves - casado com Virgília, homem frio,

calculista e supersticioso.

• Quincas Borba - amigo de infância de Brás, cria uma “doutrina

filosófica” chamada Humanitismo.

Personagens

• Marcela - amou Brás (adolescente) por “quinze meses e onze

contos de réis”. Mulher sensual, mentirosa, amiga de rapazes e de dinheiro.

• Sabina - irmã do narrador  valores semelhantes.

• Cotrim - marido de Sabina; cruel traficante de escravos.

• Eugênia - Filha de Eusébia e Vilaça, menina bela embora coxa.

• D. Plácida - empregada de Virgília; confidente e protetora de

Dedicatória:

Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.

“Ao leitor”

• Papel de prólogo na obra

• Citações cultas

• Stendhal, Xavier de Maistre, entre outros.

• Demonstra não se importar com o leitor

• “a pena da galhofa e a tinta da melancolia”

“Se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.”

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.

Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou

propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a Segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo, Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma Sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia - penetrava um

chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia do discurso que proferiu à beira de minha cova: - "Vós, que o conhecestes, meus

senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a

humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul com um crepe fúnereo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.

Enredo: Nascimento

• Bisneto de um canoeiro

• Prefere afirmar ser de uma “tradicional família”

Enredo: infância

• Privilégios e caprichos patrocinados pelos pais

• “Brincava” com o negrinho Prudêncio

• Na escola: amigo de traquinagens de Quincas Borba

Enredo: infância

• O caso de Eusébia e doutor Vilaça

• Num jantar, todos dão atenção a Vilaça. Brás jura vingança

• Vê Vilaça de namoricos com Eusébia, irmã de um sargento mor

Enredo: adolescência

• Marcela

• Cortesã (prostituta de luxo)

• Sua profissão nunca é objetivamente mencionada.

• O leitor percebe indiretamente  ironia; sarcasmo

• “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de

réis”.

Enredo: Coimbra

• Marcela não vai despedir-se de Brás Cubas.

• Ainda em Coimbra, não trabalha. Vive da “mesada do pai”.

• Forma-se, mas nunca trabalha na área.

Enredo: de volta ao Brasil

• Perda da mãe

• Nova vizinha: Eusébia, com a filha Eugênia

• Eugênia

• Nome irônico

O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma. O melhor que há, quando se não resolve um enigma, é sacudi-lo pela janela fora; foi o que eu fiz; lancei mão de uma toalha e enxotei essa outra borboleta preta, que me adejava no cérebro. Fiquei aliviado e fui dormir.

Enredo: Fase adulta

• Reencontra Marcela na rua  bexigas

• Brás encontra seu segundo (e grande) amor: Virgília.

• Relacionamento arranjado pelo pai

• Virgília era filha de um ministro da corte

• Lobo Neves  casa-se com Virgília

Pergunta importante:

• Por que era tão importante à família Cubas uma entrada na

vida política?

A família possuía dinheiro, mas não tradição

(riqueza conquistada com a fabricação de canoas).

A entrada na vida política seria uma ascensão

Enredo: Fase adulta

• Brás encontra seu segundo (e grande) amor: Virgília.

• Relacionamento arranjado pelo pai

• Virgília era filha de um ministro da corte

• Lobo Neves  casa-se com Virgília

• Rouba de Brás a mulher e o cargo político

Enredo: Fase adulta

• Reencontra Quincas Borba na rua

• Mendigo; rouba-lhe o relógio.

• Quincas Borba surge uma última vez

• Recebeu herança; recuperado socialmente

• Humanitismo

• Conjunto ideario

• “Ao vencedor as batatas”  a vitória do mais forte

• Todos os males acontecem por um motivo: o equilíbrio do Humanitas

Como interpretar o Humanitismo?

• Filosofia burguesa

• Justifica guerras, fome, escravidão e todos os outros males

que não afligem aquele grupo

• Aparece até mesmo no delírio de Brás (a onça matando o

Enredo: Fase adulta

• Caso extraconjugal com Virgília

• Casinha da Gamboa, com Dona Plácida

• Quase separados  dia 13

Enredo: fase adulta

• Reencontra Prudêncio

• Agora livre

• Maltratando um escravo seu

• Brás pede que ele pare

O Velho Diálogo de Adão e Eva

Enredo: Velhice

• Conhece Eulália (Nhã-Loló)

• Casamento arranjado (influência e insistência da irmã)

O leitor sabe de

sua morte através

da transcrição de

sua lápide

A “não-realização”

• Brás não se casa, não conclui o emplasto, não tem uma vida política significativa e não tem filhos

• Os leitores ficam sempre à espera de um desenlace que nunca vem

• O narrador está em busca de cumprir caprichos da elite brasileira do século XIX

O importante é que o direito de ter tais vaidades cabe apenas aos membros da burguesia!

Exemplos claros: Dona Plácida e Prudêncio

Trabalhava muito, queimando os dedos ao fogão, e os olhos ao candieiro, para comer e não cair. Emagreceu, adoeceu, perdeu a mãe, enterrou-a por subscripção, e continuou a trabalhar. A filha estava com quatorze anos; mas era muito fraquinha, e não fazia nada, a não ser namorar os capadócios que lhe rondavam a rótula.

Características do Período

Belo Feísmo; imagens fortes

Exaltação Ironia; sarcasmo

Personagens  virtudes Personagens  vícios

Personagens das classes mais baixas

Personagens da burguesia

Ambiente excêntrico Ambiente burguês