Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 726.230 - RS (2005/0027076-1)
RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA
RECORRENTE : COOPERATIVA TRITÍCOLA JÚLIO DE CASTILHOS LTDA ADVOGADO : ALEXANDRE DALCIN DELLAMÉA E OUTROS
RECORRIDO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS PROCURADOR : SIBELE REGINA LUZ GRECCO E OUTROS
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. VALOR ATRIBUÍDO À CAUSA. ALTERAÇÃO EX OFFICIO . DECISÃO IMOTIVADA. IMPOSSIBILIDADE.
1. Conforme a redação do art. 261, caput e parágrafo único, o valor da causa constante da petição inicial somente será alterado quando impugnado pela da parte adversa.
2. Entretanto, se o valor ponderado pelo autor não obedecer ao critério legal específico ou encontrar-se em patente discrepância com o real valor econômico da demanda, implicando possíveis danos ao erário ou a adoção de procedimento inadequado ao feito, deve o magistrado requerer ex officio a modificação do valor da causa. Precedentes.
3. Como a regra é a de que o valor da causa somente pode ser alterado por impugnação da parte contrária, não pode o julgador imotivadamente determinar, de ofício, a alteração do indigitado valor. Deve o juiz apontar a situação excepcional que o autoriza a adotar providência desta monta.
4. Recurso especial provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator." Os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins, Eliana Calmon e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Franciulli Netto. Brasília (DF), 25 de outubro de 2005 (Data do Julgamento)
Ministro Castro Meira Relator
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 726.230 - RS (2005/0027076-1)
RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA
RECORRENTE : COOPERATIVA TRITÍCOLA JÚLIO DE CASTILHOS LTDA ADVOGADO : ALEXANDRE DALCIN DELLAMÉA E OUTROS
RECORRIDO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS PROCURADOR : SIBELE REGINA LUZ GRECCO E OUTROS
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Cuida-se de recurso
especial fundado na alínea "a" do inciso III do art. 105 da Constituição da República, interposto contra acórdão da Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, assim ementado:
"AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. ALTERAÇÃO DO VALOR DA CAUSA DETERMINADA DE OFÍCIO. MANUTENÇÃO.
1. Em que pese não restar esclarecido nos autos o que teria levado o juízo monocrático a determinar de ofício ao INSS a alteração do valor da causa atribuído à execução fiscal, deve ser mantida essa decisão, vez que em conformidade com precedentes do STJ e deste TRF.
2. Agravo de instrumento improvido" (fl. 66).
Opostos embargos de declaração, restaram acolhidos para fins de prequestionamento (fl. 77).
A recorrente aponta ofensa ao art. 261 do Código de Processo Civil-CPC, porquanto o aresto hostilizado entendeu legítima a atitude do juízo de primeira instância que determinou, de ofício, a modificação do valor da causa.
Contra-razões não apresentadas.
Admitido o recurso especial na origem (fl. 86), subiram os autos a esta Corte de Justiça. É o relatório.
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 726.230 - RS (2005/0027076-1) EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. VALOR ATRIBUÍDO À CAUSA. ALTERAÇÃO EX OFFICIO . DECISÃO IMOTIVADA. IMPOSSIBILIDADE.
1. Conforme a redação do art. 261, caput e parágrafo único, o valor da causa constante da petição inicial somente será alterado quando impugnado pela da parte adversa.
2. Entretanto, se o valor ponderado pelo autor não obedecer ao critério legal específico ou encontrar-se em patente discrepância com o real valor econômico da demanda, implicando possíveis danos ao erário ou a adoção de procedimento inadequado ao feito, deve o magistrado requerer ex officio a modificação do valor da causa. Precedentes.
3. Como a regra é a de que o valor da causa somente pode ser alterado por impugnação da parte contrária, não pode o julgador imotivadamente determinar, de ofício, a alteração do indigitado valor. Deve o juiz apontar a situação excepcional que o autoriza a adotar providência desta monta.
4. Recurso especial provido.
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Presentes os requisitos de
admissibilidade, conheço do recurso pela alínea "a" do permissivo constitucional. Passo a analisá-lo.
A redação do art. 261 e de seu parágrafo único leva à conclusão de que o valor atribuído à causa pelo autor na petição inicial (art. 282, inciso V, do CPC) somente pode ser alterado quando impugnado na contestação pela parte contrária. Confira-se a literalidade do dispositivo legal sobredito:
"Art. 261. O réu poderá impugnar, no prazo da contestação, o valor atribuído à causa pelo autor. A impugnação será autuada em apenso, ouvindo-se o autor no prazo de 5 (cinco) dias. Em seguida o juiz, sem suspender o processo, servindo-se, quando necessário, do auxílio de perito, determinará, no prazo de 10 (dez) dias, o valor da causa.
Parágrafo único. Não havendo impugnação, presume-se aceito o valor atribuído à causa na petição inicial".
Todavia, diante das conseqüências que o valor da causa acarreta no andamento do feito, já que é fator determinante do rito a ser seguido, esta Corte vem admitindo, em caráter excepcional, que o magistrado determine ex officio a alteração nas hipóteses em que exista critério legal expresso e estiver patente o desacordo com o real valor do bem jurídico demandado, a fim de evitar burlas ao erário e às normas do procedimento. Nesse sentido, os seguintes julgados:
Superior Tribunal de Justiça
"PROCESSO CIVIL - VALOR DA CAUSA - ALTERAÇÃO DE OFÍCIO - IMPOSSIBILIDADE - HIPÓTESE EXCEPCIONAL NÃO VERIFICADA.
1. O art. 261 do CPC estabelece que o valor da causa somente pode ser alterado compulsoriamente por provocação do réu.
2. Admite-se a modificação ex officio do valor da causa em casos excepcionais, não configurados nos autos.
3. Recurso improvido" (REsp nº 594.255, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ 29.11.2004);
"RECURSO ESPECIAL. USUCAPIÃO. ARTIGO 261 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. FIXAÇÃO DO VALOR DA CAUSA DE OFÍCIO PELO MAGISTRADO. QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA.
As regras sobre o valor da causa são de ordem pública, podendo o magistrado, de ofício, fixá-lo quando for atribuído à causa valor manifestamente discrepante quanto ao seu real conteúdo econômico. Precedentes.
Recurso especial não conhecido" (REsp n.º 55.288, Rel. Min. Castro Filho, DJ 14.10.2002);
"Valor da causa. Alteração de ofício. Precedentes.
1. Já decidiu a Corte que é "possível ao Magistrado, de ofício, ordenar a retificação do valor da causa, quando o critério de fixação estiver previsto na lei, quando a atribuição constante da inicial constituir expediente do autor para desviar a competência, o rito procedimental adequado ou alterar a regra recursal".
2. No caso, no próprio corpo da inicial o autor menciona valores bem superiores ao que aponta, cabendo ao Magistrado, ademais de outras circunstâncias, determinar que a parte estabeleça o valor de acordo com a pretensão.
3. Recurso especial não conhecido" (REsp 231.363/GO, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJU de 30.10.2000).
Na hipótese dos autos, o Tribunal a quo manteve a decisão de primeira instância que imotivadamente determinou de ofício a modificação do valor da causa. Decidiu, em síntese, que:
"Apesar de não estar esclarecido nos autos o que teria levado o juízo monocrático a determinar de ofício ao INSS a alteração do valor da causa atribuído à execução fiscal, deve ser prestigiada, por ora, a decisão combatida, eis que em conformidade com os precedentes do STJ e deste TRF" (fl. 63).
Há reparos a fazer no aresto recorrido. Como a regra é a de que o valor da causa somente pode ser alterado por impugnação da parte contrária, deveria o ilustre magistrado de primeira instância haver fundamentado a situação excepcional - ou na discrepância notória com o conteúdo econômico da demanda ou na existência de critério legal específico - que o autorizaria a alterar ex officio o indigitado valor.
Com razão, pois, a recorrente. Entretanto, tal não significa que deva prevalecer o valor atribuído na petição inicial dos embargos à execução fiscal - até porque inexistem, nos autos, elementos para juízo desta monta - mas, tão-só, que o julgador não pode de forma imotivada
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determinar, de ofício, a alteração do valor da causa.Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial. É como voto.
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTOSEGUNDA TURMA
Número Registro: 2005/0027076-1 REsp 726230 / RS
Número Origem: 200404010112059
PAUTA: 25/10/2005 JULGADO: 25/10/2005
Relator
Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. EUGÊNIO JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : COOPERATIVA TRITÍCOLA JÚLIO DE CASTILHOS LTDA
ADVOGADO : ALEXANDRE DALCIN DELLAMÉA E OUTROS
RECORRIDO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
PROCURADOR : SIBELE REGINA LUZ GRECCO E OUTROS
ASSUNTO: Execução Fiscal - Embargos
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator."
Os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins, Eliana Calmon e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Franciulli Netto.
Brasília, 25 de outubro de 2005
VALÉRIA ALVIM DUSI Secretária