• Nenhum resultado encontrado

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP Cátia Rodrigues

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP Cátia Rodrigues"

Copied!
137
0
0

Texto

(1)

Cátia Rodrigues

A leitura na formação de futuros professores:

Uma proposta integrada

DOUTORADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC - SP

Cátia Rodrigues

A leitura na formação de futuros professores:

Uma proposta integrada

DOUTORADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Língua Portuguesa sob orientação da Professora Doutora Sueli Cristina Marquesi.

(3)

Banca Examinadora:

________________________________

________________________________

________________________________

________________________________

(4)

Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.

(5)
(6)

AGRADECIMENTOS

À Profª. Drª Sueli Cristina Marquesi, minha orientadora, pelo profissionalismo, pela orientação minuciosa, pelo respeito, e, principalmente, pelo ser humano excepcional, presente em todos os momentos, me incentivando a seguir adiante. À banca examinadora, em especial a Profª Dra. Neusa Maria O.B.Bastos e Pofª Drª Maria Lúcia M.C.Vasconcelos, pelas significativas contribuições no exame de qualificação;

aos demais professores da banca, Profª Dra. Nancy dos Santos Casagrande e Profª Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues, por lerem meu trabalho e avaliá-lo;

aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa, por todos os ensinamentos e orientações, que contribuíram para a minha formação;

à minha família, fundamental neste meu percurso, na figura incentivadora da minha mãe;

à minha querida amiga Mirna, leitora atenta do meu texto, presente em minha vida durante todo este período, incentivando e acreditando que era possível concluir; à minha querida amiga Katia, que compartilha comigo, desde a infância, todos os meus sonhos;

à minha querida amiga Ivani, paciente, solidária, presente em todos os meus momentos de angústia e alegria, que pacientemente leu e organizou meu texto; ao Rivail, presente em minha vida hoje de uma forma muito especial;

ao amigo Erival, que me incentivou e formatou todos os gráficos e tabelas presentes neste trabalho,

ao amigo Evaldo, pela paciência, pelo carinho e pelo equilíbrio em todos os momentos;

(7)

RESUMO

A presente tese situa-se na área de Leitura e tem como tema a sua importância na formação inicial dos professores.

Partimos da hipótese de que o domínio da leitura é uma competência essencial para a formação do futuro professor. Temos como objetivos traçar o perfil do aluno que chega ao Ensino Superior para os cursos de Licenciatura e apresentar uma proposta de formação, integrada à graduação, para a ampliação da competência em Leitura.

Para cumprir os objetivos propostos, fundamentamo-nos na Linguística Textual apoiando-nos em Koch (2004, 2006, 2007), Marcuschi (2008), Adam (2008 e 2010), Beaugrande (1997) e Van Dijk (1996 e 2004).

A relevância do presente trabalho se justifica, pois a qualidade da formação inicial de professores tornou-se um requisito essencial para garantir a qualidade e melhorar o resultado do processo educacional.

O questionário confirmou o perfil do futuro professor e o curso oferecido permitirá a ampliação da competência em leitura dos alunos ingressantes nos cursos de Licenciatura.

(8)

ABSTRACT

This thesis is situated in the field of Reading Skils and has the importance of such skills in the teacher’s initial formation as a theme.

The following study starts from the assumption that reading proficiency is an essential skill for the future teacher’s formation.

Our aim here is to delineate the profile of the student that reaches College Education and follows an Teacher Education Program and to present a proposition for the future teacher’s formation which can, being integrated to the undergraduation program, improve the student’s reading skills.

In order to fulfil the above proposed objetives we will search epistemological base for this study in the Textual Linguistic, especially in the work of Koch (2004, 2006, 2007), Marcuschi (2008), Adam (2008 e 2010), Beaugrande (1997) and Van Dijk (1996 e 2004).

What makes our work important and justifies it from an academic point of view is the fact that the improvement of the educational process as a hole has increasingly become dependent on the quality of the teacher’s initial formation.

The set of questions used in this work to establish the profile of the future teacher and the undergraduation courses offered will help to increase the reading skills of the undergraduates from the Teacher Education Programs.

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 10

CAPÍTULO 1 – O ALUNO DE LICENCIATURA... 16

1.1 – Professores são importantes – atraindo, desenvolvendo e retendo professores eficazes – o relatório da OCDE... 17

1.2 – Atratividade da Carreira Docente no Brasil – o relatório da Fundação Carlos Chagas... 20

1.3 – Perfil do aluno de licenciatura... 23

1.4 – O aluno da licenciatura da Zona Sul de São Paulo... 28

1.5 – Escolha ou falta de opção – como explicar o perfil do ingressante 36 CAPÍTULO 2 – A EDUCAÇÃO E A ESCOLA NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES... 38

2.1 – Formação de Professores – diálogo passado X presente... 39

2.2 – A LDB, o Neoliberalismo e a formação de professores... 41

2.3 – A aprendizagem na escola a favor da construção da cidadania.... 47

2.4 – Formação de Professores... 52

2.5 – A crise da profissão e perspectivas de resgate... 56

2.6 – A formação Continuada de Professores... 63

CAPÍTULO 3 – A LEITURA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES... 65

3.1 – A importância da leitura na formação do futuro professor... 66

3.2 – A Linguística Textual... 69

3.3 – Língua e Texto - práticas sociais e cognitivas... 73

3.4 – Leitura e construção de sentidos... 76

3.5 – A compreensão como atividade cognitiva... 77

3.6 – A análise do texto no discurso – a proposta de Jean-Michel Adam... 83

(10)

FORMAÇÃO DO FUTURO PROFESSOR...

4.1 A proposta do curso... 4.2 Curso de leitura numa perspectiva sociocognitiva interacional...

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 89 92 94

1116

REFERÊNCIAS... 1118

(11)

INTRODUÇÃO

A formação de professores no ensino superior é uma preocupação constante atualmente, tanto pela necessidade frente aos novos desafios educacionais, como pela alteração na concepção do que é educar hoje.

Desde a publicação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996 e dos Parâmetros Curriculares Nacionais em 1997, a formação de professores tornou-se tema de políticas educacionais públicas, principalmente porque a demanda de alunos que chegam ao Ensino Fundamental e Médio cresceu de forma significativa, por diferentes razões, e a necessidade de um número maior de professores, tanto na escola pública, como na escola particular, é uma realidade hoje.

Apesar dessa necessidade, o número de jovens que tem se interessado pela carreira de professor no Brasil é cada dia menor e essa redução é preocupante, pois aparece na contramão do crescente número de estudantes que procuram os cursos de graduação em nosso país.

Dados divulgados em 2007 pelo Ministério da Educação (BRASIL, 2007) informam que 70.507 brasileiros se formaram em cursos de licenciaturas, o que significa uma redução de 4,5% em comparação com o ano anterior. De 2005 a 2006, a redução foi de 9,3%, com diminuição significativa em áreas como Letras (redução de 10%), Geografia (9%), Química (9%), apenas como exemplo.

Em outro estudo, também de 2007 (BRASIL, 2007), o Conselho Nacional de Educação indicou uma comissão interna para pesquisar a falta de professores qualificados, principalmente para o Ensino Médio. O resultado publicado no relatório “Escassez de professores no ensino médio: propostas estruturais emergenciais” apresenta dados preocupantes sobre a falta de professores e aponta também que a carreira docente atrai um número cada vez menor de jovens em suas escolhas profissionais.

(12)

trabalho, volta-se para dois aspectos essenciais: o perfil desses alunos que chegam ao Ensino Superior nos cursos de Licenciaturas e suas competências em leitura. Essa escolha se apóia em um entendimento sobre a relação existente entre a formação dos futuros professores e as suas competências de leitura. Tais competências são fundamentais, pois não há como ser um bom professor sem o domínio da leitura: ela é a base na construção de um sujeito crítico, ativo e reflexivo, capaz de atuar de forma competente e autônoma dentro da sala de aula.

O empenho e a preocupação com a formação de professores, atrelados à concepção de que a leitura é fundamental no exercício desse profissional, desde o Ensino Fundamental I até o Ensino Médio, levam a duas questões que perpassam toda a pesquisa: é possível formar bons professores nos cursos de Licenciaturas considerando suas competências em leitura? É possível ampliar essas competências de leitura no Ensino Superior?

A compreensão do texto escrito pela leitura é uma atividade extremamente complexa, pois envolve vários elementos na interação autor-texto-leitor. Por outro lado, a produção de um texto também pressupõe diferentes conhecimentos e operações cognitivas, conceituais, linguísticas e contextuais. Assim, o domínio dessas competências não pode ser negligenciado na formação oferecida pelo Ensino Superior, pois são pré-requisitos fundamentais para a formação e o exercício profissional do futuro professor.

A origem dessa pesquisa se encontra em nosso próprio trabalho como Diretora da Área de Educação de um Centro Universitário, localizado na zona Sul de São Paulo, e no trabalho como docente da disciplina “Leitura e Produção de Textos” dos cursos de licenciaturas desse mesmo Centro, oferecida no primeiro semestre e que atende alunos de classe social C e D em sua grande maioria.

(13)

“Língua Portuguesa”, o que compromete, de forma significativa, o aprendizado de todas as demais disciplinas da graduação escolhida.

Neste trabalho, temos especial interesse sobre o domínio da leitura e de que forma ela é um instrumento para a aquisição de conhecimento, além de ser capaz de enriquecer e ampliar as competências do futuro professor. Apoiada, então, em nossa atuação como professora e pesquisadora, construímos a hipótese de nossa pesquisa: o domínio da leitura é uma competência essencial para a formação do futuro professor.

Reconhecemos, com esta hipótese, que o domínio dessa competência é fundamental para a formação dos futuros professores. Por essa razão, definimos como objeto de pesquisa o conceito de leitura e os elementos envolvidos nesse processo de construção de sentidos e identificamos como problema a elaboração de uma proposta de formação, integrada à graduação, para ampliar a concepção de leitura e fornecer estratégias para a sua compreensão, numa perspectiva sociocognitivo interacional, aos alunos que chegam ao Ensino Superior nos cursos de licenciatura no Centro Universitário da zona sul de São Paulo.

Temos como Objetivo Geral confirmar, por meio de uma pesquisa institucional, o perfil dos alunos ingressantes nos cursos de licenciatura. A partir da análise dos resultados, propomo-nos atingir, com o presente trabalho, os seguintes objetivos específicos:

• Apresentar uma proposta de formação, sobre a leitura, integrada à graduação.

• Ampliar a competência em leitura, construção de sentidos e interpretação de textos trazidos pelos ingressantes.

(14)

meio de intercomunicação, produção e transmissão do saber, essenciais ao futuro professor.

Apoiamo-nos na perspectiva de Beaugrande (1997, p.14), que reconhece que o principal objetivo da “ciência do texto e do discurso é o de promover o acesso ao conhecimento e à cidadania através do discurso”, capaz de garantir um progresso social que partilha o conhecimento e efetivamente negocia os papeis sociais de forma mais igualitária.

Neste aspecto, entendemos que o futuro professor, formado pelo Ensino Superior, precisa ter o domínio da leitura para o desempenho de seu papel social, não como um agente puro e transmissor de conteúdos, como criticava e constatava Fernandes (1987), mas que, dotado de uma consciência política, possa fundir seu papel de educador ao seu papel de cidadão dentro da sala de aula.

Para tanto, considerando a concepção de Koch (2004) de que o texto é o lugar da interação, e que os interlocutores são sujeitos ativos que, de forma dialógica, se constroem e são construídos na e pela linguagem, a formação do professor-cidadão, por intermédio da leitura de diferentes gêneros textuais, poderá ser muito facilitada.

Por essa razão, é fundamental que o futuro professor, formado nos cursos de Licenciaturas do Ensino Superior, entenda que sua inserção, reconhecimento e valorização na sociedade atual estão diretamente relacionados ao seu conhecimento de como utiliza a língua e os recursos que ela oferece a seu favor.

(15)

É importante estabelecer, então, a relação direta que existe entre o domínio dos recursos e das estratégias de leitura como forma de interação na complexa rede das práticas sociais e o papel social do professor do século XXI, não mais como mero transmissor de conhecimento, mas como um sujeito em constante formação nas práticas pedagógicas, que necessita e utiliza a linguagem para se construir e se reconstruir no futuro exercício profissional.

Para atingir os objetivos pretendidos, a estrutura deste trabalho conta, além desta introdução e das considerações finais, de quatro capítulos assim organizados:

No primeiro capítulo, apresentamos os desafios presentes na formação em Licenciaturas, lembrando os problemas de formação inicial para a capacitação do futuro profissional da área. Apresentamos também os dados da pesquisa realizada pela OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico sobre um estudo internacional de políticas públicas para formar e reter os melhores professores em 2002, envolvendo vinte e cinco países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica (comunidade flamenga), Bélgica (comunidade francesa), Canadá (Quebec), Chile, Coréia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Israel, Itália, Japão, México, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça.

Como complemento, apresentamos também a pesquisa da Fundação Carlos Chagas realizada em 2009, sobre o público que hoje busca os cursos de Licenciatura, caracterizado, principalmente, pelos concluintes do Ensino Médio originários das escolas públicas, com pior desempenho escolar e mais baixo poder aquisitivo, e de que forma a baixa atratividade da carreira docente interfere nas escolhas profissionais dos concluintes, o que torna as licenciaturas os cursos de mais baixa procura no Ensino Superior.

(16)

Por último, apresentamos uma análise dos resultados das duas pesquisas aplicadas no Centro Universitário da zona sul: a primeira realizada pela Comissão Própria de Avaliação, que tem objetivo medir o grau de satisfação dos alunos e atender as exigências do Ministério da Educação; e a segunda, uma pesquisa elaborada e aplicada pela área de Educação para traçar o perfil do aluno que faz a opção pelos cursos de Licenciatura da instituição.

No segundo capítulo, apresentamos uma perspectiva histórica da formação dos professores e sua crescente desvalorização como profissão, discutidas por Pereira (2006). Apresentamos um panorama da política neoliberal para a educação brasileira, a partir da publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, e, ainda, os conceitos teóricos sobre a formação dos professores, com o apoio de Freire (1995 e 1996), de Veiga (2008 e 2009) de Nóvoa (1995, 2001 e 2002) e de Perrenoud (1997, 2002 e 2005), que ampliam a perspectiva do futuro profissional da educação a favor da construção da cidadania e da importância da formação inicial. Neste caso, apontamos que a construção da cidadania passa, necessariamente, pelo uso efetivo da linguagem e da leitura na interação professor-aluno e de que maneira o domínio dessa competência é essencial.

No terceiro capítulo, apresentamos os conceitos teóricos de leitura e de texto, sob a perspectiva da Linguística Textual apoiando-nos em Koch (2004, 2006 e 2007), Marcuschi (2008), Adam (2008), Beaugrande (1997) e Van Dijk (1996 e 2004), que fundamentam todo este trabalho para a efetiva possibilidade de ampliar as competências de leitura dos futuros professores.

No quarto capitulo, apresentamos uma proposta de formação, integrada à graduação, voltada para ampliar as competências em leitura dos futuros professores por meio do trabalho com textos, a partir dos conceitos teóricos apresentados no capítulo anterior.

(17)

CAPÍTULO 1 – O ALUNO DA LICENCIATURA

Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. As pessoas transformam o mundo.

Paulo Freire

As mudanças sociais e econômicas que marcaram o início do século XXI preconizam, com relação às escolas e aos professores, uma formação muito mais complexa e exigente, como o conhecimento de diferentes idiomas e tecnologias, habilidade com a diversidade de gêneros e de diferentes culturas.

A partir da constatação dessa nova realidade, é inegável que o professor seja peça-chave e fundamental nessa complexa rede social, pois a melhoria da qualidade de ensino e a desejada escolaridade democrática só podem ser concebidas e concretizadas se os professores forem bem preparados e estiverem aptos a este desafio.

Na atualidade, muito se discute sobre a formação dos professores, o futuro da profissão docente, as exigências da profissão, o mercado de trabalho e, principalmente, a atratividade da carreira docente, temas que estão na pauta de todos os países que entendem que o desenvolvimento econômico e social passa, necessariamente, pela qualidade da educação oferecida aos seus cidadãos.

Seguindo essa tendência, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico desenvolveu um estudo internacional em 2002 envolvendo vinte e cinco países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica (comunidade flamenga), Bélgica (comunidade francesa), Canadá (Quebec), Chile, Coréia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Israel, Itália, Japão, México, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça, sobre políticas para atrair, desenvolver e reter nas escolas os professores eficazes, além de discutir os principais fatores que afetam o trabalho desses profissionais, entre outros temas.

(18)

razão, merecem ser apresentados neste trabalho, já que oferecem a possibilidade de um aprendizado, de uma reflexão e de uma tomada de decisão a partir das experiências dos demais países.

1.1 Professores são importantes: atraindo, desenvolvendo e retendo professores eficazes – o relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

O Comitê de Educação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) elaborou um trabalho, em abril de 2002, com o objetivo de fornecer uma análise abrangente sobre as questões de políticas para os professores em nível internacional.

O propósito do trabalho era o de oferecer e compartilhar as experiências dos países envolvidos, além de levantar questões e sugerir uma diversidade de políticas para as demais nações que também enfrentam o desafio de buscar alternativas para a profissão docente, já que a citada pesquisa contou com a participação não só dos governos envolvidos, mas de organizações representativas de professores, de líderes escolares, pais, estudantes, educadores desses professores e de empregadores, ou seja, um grupo significativo e diretamente envolvido com o tema.

Neste trabalho, apesar da relevância e importância desse relatório, não discutiremos de forma completa os temas nele abordados. No entanto, alguns tópicos apresentam relevância de serem citados, como base para os aspectos que depois serão desenvolvidos na formação dos futuros professores.

(19)

1. Preocupação com a imagem e o status da carreira docente e a desvalorização do trabalho realizado.

2. Dificuldade para o preenchimento do número de vagas necessárias ao atendimento da demanda com professores qualificados.

3. Queda acentuada no salário pago aos professores.

4. Dificuldade de atrair para a carreira docente os melhores profissionais e a feminização da área.

Ao analisar essas quatro preocupações destacadas, é possível constatar que a desvalorização da carreira docente foi, e continua sendo, um processo extremamente perverso na realidade educacional, pois se hoje a qualidade da educação é uma exigência natural do mundo globalizado, sua implementação enquanto política pública é um elemento que merece a atenção de todos os governos que pregam uma melhoria na educação oferecida pelo imenso desafio que ela representa.

Dessa forma, ao constatar essas preocupações é possível apontar que, na medida em que o desenvolvimento econômico se concretizou, as sociedades tornaram-se mais exigentes com o perfil dos estudantes que chegam ao mercado profissional, e as qualificações educacionais que lhe são fornecidas requerem professores qualificados e competentes em diferentes esferas de formação.

Resgatar a imagem do professor é fundamental para que a carreira docente volte a ser atraente e competitiva no mercado profissional. É evidente a preocupação quanto à queda de prestígio social ao longo dos últimos anos, o que pode ser um indicador importante do desinteresse pela profissão.

(20)

Outro aspecto apontado pelo relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico diz respeito à própria dificuldade no preenchimento das vagas disponíveis de diversas disciplinas, notadamente na área de matemática, tecnologia, química e línguas.

Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA do ano de 2000 já demonstravam que, em 50% dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, grande parte dos estudantes com 15 anos frequentava escolas cuja aprendizagem estava prejudicada pela falta ou escassez de professores, segundo informações dos próprios diretores das escolas ouvidas.

Já a questão salarial é um tema extremamente complexo, pois apesar dos dados do relatório serem limitados, o levantamento geral mostra que, desde o início da década de 90, os salários pagos aos professores sofreram uma queda significativa, se analisados aos salários de ocupações possíveis de comparação.

Como o mercado de trabalho docente é extremamente diversificado, a questão salarial é um fator importante para a atratividade da carreira docente e vai merecer, com certeza, dos governos comprometidos com a melhoria da qualidade de ensino, políticas públicas claras e objetivas sobre este quesito.

Por fim, o relatório aponta que alguns países manifestaram preocupação com relação à qualidade e a própria motivação dos ingressantes nos cursos de formação de professores. Apenas como exemplo, nos Estados Unidos os estudantes que apresentaram baixo desempenho em exames universitários buscaram com maior frequência a formação de professores para atuarem no ensino fundamental e médio. Em Israel, as pesquisas internas identificaram que os estudantes que concluíram os programas de educação de professores e que optaram pela docência são justamente aqueles que alcançaram os menores escores de ingresso na universidade.

(21)

oferecida. Salários pouco atraentes para o sexo masculino, dificuldades no espaço escolar com alunos, maior número de exigências profissionais, fatores culturais que levam a estereotipar a profissão docente como “trabalho feminino”, entre outros fatores, podem ser um primeiro caminho para explicar esta situação preocupante, que leva, cada dia mais, para os cursos de formação, um público majoritariamente feminino, com duas consequências diretas: perda de modelos positivos de papeis masculinos e da inviabilidade da docência como carreira.

Por razões acima expostas, atrair pessoas qualificadas e competentes, tanto do ponto de vista cultural quanto do ponto de vista intelectual para a carreira docente tornou-se um grande desafio, o que mereceu no relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico um capítulo especial e importante nele descrito: “Tornando a Docência uma Opção de Carreira Atraente” (MODERNA, 2006, p.5).

Em síntese, a pesquisa aponta neste capítulo que a docência precisa, efetivamente, ser uma carreira competitiva, para ser capaz de atrair pessoas competentes e compromissadas, já que muitos países hoje enfrentam ou enfrentarão, no curto prazo, uma escassez quantitativa de professores, principalmente nas áreas de matemática, ciências e idiomas.

Tal necessidade é justificada em dois aspectos básicos: muitos professores da pesquisa estão próximos dos 50 anos, ou seja, perto da aposentadoria, e, por outro lado, o número de crianças e de jovens que chega aos bancos escolares aumentou consideravelmente nos últimos anos em virtude da democratização de acesso à escola.

1.2 Atratividade da Carreira Docente no Brasil: o relatório da Fundação Carlos Chagas

(22)

importante estudo sobre a Atratividade da Carreira Docente no Brasil, que busca analisar a impressão do jovem brasileiro sobre a questão de “ser professor” e, consequentemente, oferecer e indicar caminhos para as políticas de formação de professores para nosso país.

A pesquisa foi desenvolvida em sete estados brasileiros, abrangendo dez escolas públicas e oito escolas particulares, num total de 1.501 questionários respondidos pelos alunos concluintes do 3º ano do Ensino Médio e que mobilizou 193 alunos nos diferentes grupos de discussão.

Nesse estudo, antes de se discutir o foco da carreira docente, examinaram-se, primeiramente, as transformações das carreiras profissionais, já que nas últimas décadas, como consequência das transformações sociais, o trabalho converteu-se em um grande desafio para o próprio indivíduo que se defronta, constantemente, com diferentes exigências e cenários competitivos, pois não há mais estabilidade e garantia permanente de emprego, sendo necessário conviver com um tempo de incerteza e flexibilidade social constante.

Assim, essas transformações acabam interferindo, de maneira objetiva e subjetiva, nas escolhas profissionais. Objetiva, pois se não há garantia e estabilidade no emprego, o futuro profissional precisa compreender e estar consciente da flexibilidade dos contratos; subjetiva, pois cada indivíduo passa a perceber a carreira e a si próprio num contexto social bem mais amplo, ou seja, nas identidades sociais e profissionais.

No estudo, ressalta-se também que os aspectos que envolvem a escolha da carreira profissional não são considerados universais, já que a profissão, por ser uma palavra de construção social, envolve questões socioeconômicas e culturais de cada país em um determinado momento.

(23)

pela profissão de professor e com a mudança do perfil do jovem que busca esta formação.

Diante desse quadro inquietante, a pesquisa desenvolvida pela Fundação Carlos Chagas revela aspectos significativos sobre a Atratividade da Carreira Docente (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2009), que vão desde fatores ligados à própria atratividade das diferentes carreiras profissionais até aquelas relacionadas especialmente à carreira docente como opção profissional.

É fato hoje que a opção profissional do jovem está permeada por escolhas que envolvem as dimensões sociais, políticas, culturais e econômicas e, desde a década de 80, “a sociedade vem passando por transformações que alteraram as formas e as relações de trabalho nos diversos campos profissionais” (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2009, p.8), já que o cenário profissional globalizado impôs novas concepções sobre o conceito de carreira e o desenvolvimento profissional.

Nesse cenário, o jovem que hoje termina o ensino médio está no centro de um grande desafio profissional, pois nesse contexto dinâmico e competitivo, cheio de incertezas, a escolha profissional é vista como um investimento pessoal e educacional cada vez maior. O jovem sabe que, no mundo globalizado, sua inserção no mercado é muito mais desafiadora.

Por isso, o “projeto profissional é resultado de fatores extrínsecos e intrínsecos, que se combinam e interagem de diferentes formas” (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2009, p. 9), e o jovem precisa conciliar as perspectivas de empregabilidade, a renda obtida, a taxa de retorno, além do status associado à carreira, na hora de escolher sua profissão.

(24)

Medicina, 36º Pedagogia e 37º Licenciaturas; alunos da escola pública – 1º Direito, 2º Administração, 3º Engenharia, 16º Pedagogia e 24º Licenciaturas.

A opção pelas carreiras mais tradicionais pode ser explicada por diferentes fatores: a realização pessoal, a identificação profissional, a remuneração pretendida e, principalmente, a possibilidade de um retorno financeiro mais rápido e seguro.

O que ficou evidente, a partir da pesquisa, é que os jovens entrevistados estão empenhados em estabelecer um projeto de futuro que inclui o ingresso, em algum momento de sua vida, no ensino superior, pois são unânimes em afirmar e reconhecer a importância dessa formação para suas ambições profissionais, de uma forma mais imediata para os alunos da escola particular e, em seguida, para os da escola pública. No caso dos alunos da rede pública, atrelando o seu próprio trabalho para o custeio da continuidade de seus estudos, em instituições particulares, e, neste caso, as Licenciaturas não são um projeto, mas, talvez, a única opção.

1.3 O perfil do aluno de Licenciatura

A democratização do acesso à escola não ficou restrita apenas ao ensino fundamental e médio. Ela também se fez presente no ensino superior, com o governo atuando de forma direta e implantando políticas públicas de acesso, aumentando o número de vagas nas universidades federais, ampliando os incentivos nos financiamentos governamentais, e as universidades particulares, por sua vez, oferecendo preços e condições capazes de atender as classes sociais de menor poder aquisitivo.

(25)

com consequente expansão do número de matrículas, que no período de 1997 a 2006 cresceu 140%.

Esse incremento conta com o apoio do governo federal, já que os dois principais instrumentos que facilitam esse acesso são os financiamentos subsidiados pelo governo federal: o FIES e o PROUNI.

O Crédito para Financiamento Estudantil – FIES, criado pela Lei nº 10.260 de 2001, tem por objetivo financiar a graduação no Ensino Superior de estudantes que não têm condições de pagar os custos de sua formação universitária e estejam matriculados em instituições particulares, desde que cadastradas no programa e com avaliação positiva nos diferentes instrumentos de avaliação do Ministério da Educação, no caso do Ensino Superior o ENADE – Exame Nacional de Desempenho.

No caso específico dos alunos de Licenciaturas, desde setembro de 2009, foi concedido um incentivo extra aos que optam por este financiamento, já que apenas para esses alunos e para os dos cursos de Medicina foi instituído um benefício extra, com redução na taxa dos juros do empréstimo, caindo de 9%, fixada desde 1999, para 3,5%, enquanto que para os demais interessados é de 6,5% ao ano.

Outra alternativa oferecida pelo governo é o Programa Universidade para Todos – PROUNI, criado pela MP nº 213-2004 e institucionalizada pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, que é destinado aos alunos concluintes do Ensino Médio, da rede pública ou particular, desde que bolsistas integrais, com renda familiar de até três salários mínimos. Para a concessão do benefício, os candidatos são selecionados a partir das notas obtidas no ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, garantindo assim a possibilidade de acesso às instituições particulares.

(26)

complexas para as instituições de ensino superior privadas, de forma a garantir a manutenção com um mínimo de rentabilidade, já que são elas as que absorvem o maior número de alunos interessados nas licenciaturas.

Tais procedimentos trazem como consequência um aumento no número de alunos por sala, a implantação de disciplinas à distância e a adoção, por algumas instituições, de matrizes únicas para algumas disciplinas, como forma de garantir um equilíbrio nos resultados apurados.

Por outro lado, o investimento por parte das instituições nos cursos de Licenciatura é bastante limitado, já que estes cursos, basicamente, necessitam da figura do professor, de um acervo bibliográfico mínimo, capaz de atender as exigências do MEC, giz e lousa. Como resultado, o custo da mensalidade para o aluno é extremamente vantajoso, com mensalidades que hoje oscilam entre R$ 180,00 e R$ 250,00 mensais.

Se a queda no número de matrículas para os cursos de Licenciatura preocupa pelo colapso que a ausência deste profissional do magistério representa para o desenvolvimento do país, por outro é possível constatar uma mudança significativa dos alunos que hoje escolhem esta carreira.

Valle (2006), em seu artigo Carreira do magistério: uma escolha profissional deliberada?, constata que as expectativas e as motivações para a opção pelo magistério ainda permanecem ligadas às lógicas de integração, de profissionalização e de transformação social.

(27)

A partir dessas constatações de Valle, das informações apuradas pela pesquisa da Fundação Carlos Chagas sobre a carreira docente e dos diferentes resultados divulgados pelo Ministério da Educação sobre a queda na procura pelos cursos de Licenciatura, é fundamental estabelecer uma relação com os fatores sociais envolvidos com o exercício da profissão de professor: a massificação do ensino, a partir da década de 50; a feminização no magistério; o baixo salário; a qualidade da formação docente; as condições de trabalho; a situação precária do trabalho docente e a desvalorização sistemática da figura do professor.

Se, por um lado, há uma desvalorização constante da imagem do professor, atacado e responsabilizado pelo fracasso da educação brasileira, a perda do prestígio social e um grande sentimento de apatia e desânimo, por outro, na fala dos alunos entrevistados pela Fundação Carlos Chagas, os mesmos revelam, em suas percepções, que o trabalho docente é nobre, gratificante, relevante para a sociedade e capaz de influenciar a formação de opinião dos alunos.

Apesar desse caráter meritório e valoroso destacado pelos entrevistados na pesquisa da Fundação Carlos Chagas, dos 1.501 participantes da pesquisa, apenas 2% citaram como primeira opção de carreira o curso de Pedagogia ou outros cursos de licenciaturas. Neste número, podemos destacar que, desse total de 31 alunos, há um predomínio significativo de mulheres (77%), de pardos ou mulatos (48%) e de estudantes de escolas públicas (87%). Outro dado revelador do novo perfil do aluno das Licenciaturas mostra que quanto maior é o nível de escolaridade dos pais, menor é a opção pelo magistério.

(28)

Gertel e De Santis (2002), citados na pesquisa da Fundação Carlos Chagas, apresentaram um estudo na Argentina que comprova uma mudança no perfil dos estudantes que optaram pela carreira da docência: tendem a ser de uma classe menos favorecida, com possibilidade de obtenção de um salário imediato. Tais resultados podem ser considerados também aqui no Brasil, levando-se em consideração os dados obtidos pelo Censo Escolar de 2007 – MEC-INEP. Pelos resultados do censo, o perfil sócio-econômico predominante é de famílias das classes C e D.

Outro dado que merece ser citado diz respeito aos resultados consolidados nas análises do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM – INEP-MEC – 2008), pois são alunos que apresentam dificuldades significativas com a língua, com a leitura, com a escrita e com a compreensão de texto, com concentração dos estudantes da rede pública de ensino, que apresentaram resultados desanimadores nos diferentes instrumentos de avaliação.

Ou seja, são alunos que apresentam, no percurso de seu histórico educacional, diferentes comprometimentos de formação, que variam da dificuldade de recursos financeiros capazes de proporcionar o acesso a leitura, teatro, exposições e outras manifestações culturais, até a limitação social de acesso a outras oportunidades de formação.

A constatação desse quadro preocupante é ainda maior se considerarmos as exigências que o mercado cobra do professor, já que a introdução de novas tecnologias e as mudanças sociais esperam um professor com perfil diferenciado, uma vez que o contexto educacional estabelece uma nova dinâmica no dia a dia das instituições educacionais, que se reflete nas competências exigidas desses profissionais.

(29)

ensinar o que não foram capazes de aprender. Portanto, preocupar-se com a formação desse futuro profissional é uma questão fundamental.

1.4 Perfil do aluno de Licenciatura num Centro Universitário da zona Sul de São Paulo

A partir da pesquisa da Fundação Carlos Chagas e com o objetivo de confirmar o perfil dos futuros professores, decidimos apresentar os dados da pesquisa institucional realizada semestralmente pela Comissão Própria de Avaliação (CPA) da instituição da zona sul de São Paulo citada anteriormente neste trabalho. Esta pesquisa mede o grau de satisfação dos alunos e atende as exigências do Ministério da Educação. A Comissão Própria de Avaliação realiza pesquisas semestrais, que vão da percepção sobre atendimento, aspectos acadêmicos e formação profissional, a eventuais necessidades não percebidas pela Instituição.

A opção por este Centro Universitário levou em consideração a oportunidade para aplicação da pesquisa, e, principalmente, o fato de ela se constituir como uma instituição educacional preocupada em atender os alunos da zona sul de São Paulo, classes sociais C e D, região conhecida por sua população de baixa renda, altos índices de criminalidade e com um perfil de poucos ingressantes no Ensino Superior.

(30)

A concentração nestes três turnos é um fator diretamente relacionado ao valor da mensalidade, pois nestes períodos o valor contratual recebe um benefício promocional de desconto de 50%, perfazendo uma mensalidade de R$ 225,00.

A pesquisa aplicada em novembro de 2010 foi composta por 20 perguntas de múltipla escolha, enviada por email para o endereço eletrônico do aluno, que poderia responder dentro do laboratório de informática da instituição ou de qualquer outro espaço que tivesse acesso à internet.

De um total de 9.300 alunos matriculados (base: novembro-2010) nas três áreas do centro universitário – Negócios, Educação e Saúde, 2.764 alunos responderam ao questionário, sendo que desse total, 1.223 estão matriculados em Negócios, 717 na área de Educação e 824 na área de Saúde.

As perguntas elaboradas na pesquisa têm por objetivo identificar o grau de satisfação dos alunos com relação à instituição e contempla, basicamente, os seguintes tópicos: os aspectos positivos, os aspectos negativos, os critérios de opção pela instituição, nível de satisfação com os serviços oferecidos, infraestrutura, avaliação do curso, corpo docente, meio de transporte utilizado para locomoção, localização, renda familiar e preço.

A partir dos dados apurados, optamos por analisar, para este trabalho, somente o resultado da pesquisa com os alunos matriculados na área de Educação, que cursam diferentes semestres letivos, num total de 717 discentes envolvidos. Desse total de alunos, 26 estavam matriculados em Artes Visuais, 29 em Filosofia, 28 em Geografia, 44 Letras, 406 em Pedagogia, 8 em Sociologia e 176 em Serviço Social, neste caso específico, um curso de bacharelado e todos os demais citados anteriormente de Licenciatura. A íntegra da pesquisa com os resultados apurados estão presentes no anexo 1 deste trabalho.

(31)

As perguntas selecionadas foram: 1. Sexo

2. Idade

3. Quais são os principais aspectos positivos da instituição? 4. Quem paga a sua mensalidade da faculdade?

5. Somando os rendimentos de todas as pessoas de sua casa, em qual dessas faixas etárias está o rendimento de sua família (em R$)?

6. Ao escolher a instituição onde cursaria o ensino superior, o que influenciou você a escolher?

7. Na sua opinião, o preço praticado é?

8. Pensando na qualidade do curso que você está fazendo e no valor que você paga por ele, você acha que: (opções desta questão vide anexo)

Na análise das respostas, na primeira pergunta identificamos que 73% dos alunos matriculados são do sexo feminino e 27% do sexo masculino, o que confirma os dados dos relatórios da Fundação Carlos Chagas e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, com uma predominância feminina na carreira do magistério.

Já para a segunda pergunta, constatamos uma grande heterogeneidade na faixa etária, com concentração maior entre os 22 e os 32 anos, mas com a presença de alunos numa faixa etária maior (até os 50 anos), o que revela que estes cursos absorvem públicos de diferentes idades.

(32)

Tal resultado estabelece uma relação direta com a questão número quatro, já que 79,8% são responsáveis diretos pelo pagamento das mensalidades do curso.

A renda familiar declarada pelos alunos na quinta pergunta revela um poder aquisitivo limitado, já que 49% apresentam renda média que varia de R$ 501,00 até R$ 1.900,00, o que justifica o fator mais positivo para escolha da instituição ser o preço da mensalidade, conforme a primeira pergunta, e ser capaz de interferir na opção acadêmica do aluno pela instituição por uma questão de valor da mensalidade, já que 75,1% apontaram, na pergunta número sete, ser este o fator que mais influenciou no momento da escolha.

Finalmente, na questão número oito o aluno apresenta satisfação entre a qualidade oferecida pelo seu curso e o preço pago, classificando-o como justo. Neste caso, não há uma explicação do aluno entre a relação de qualidade e preço nos espaços deixados para considerações.

De posse dessas informações, decidimos, então, aplicar uma outra pesquisa, só que agora concentrada apenas com os alunos ingressantes no primeiro semestre de 2011 dos cursos de formação de professores.

O objetivo desta nova etapa era traçar o perfil do aluno que faz a opção por esses cursos no centro universitário pesquisado e comparar com os dados das pesquisas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e da Fundação Carlos Chagas.

(33)

O número de ingressantes que responderam ao questionário está demonstrado no quadro abaixo dentro dos seguintes cursos:

Total de alunos que responderam ao questionário 336

Matriculados em Pedagogia 248

Matriculados em Letras 28

Matriculados em Geografia 15

Matriculados em Artes Visuais 20

Matriculados em Filosofia 19

Matriculados em Sociologia 06

O questionário foi composto por 16 perguntas, com respostas objetivas a partir de múltiplas escolhas e contemplou os seguintes aspectos:

1. Sexo 2. Idade 3. Raça

4. Grau de escolaridade do pai 5. Grau de escolaridade da mãe

6. Turno em que o aluno está matriculado 7. Curso escolhido

8. Trajetória da escolaridade – escola pública ou particular 9. Trabalhador ou não

(34)

12. Razões para escolha da profissão de professor 13. Quantidade de pessoas que residem com o aluno

14. Quantidade de pessoas que contribuem com a renda familiar 15. Renda familiar

16. Quantidade de pessoas sustentadas pela renda familiar

A íntegra das perguntas com as alternativas de respostas, bem como os resultados apurados estão no anexo 2 deste trabalho.

Na análise dos resultados, constatamos que 82,4% são do sexo feminino e só 17,6% do sexo masculino, comprovando o perfil feminino que faz a opção pelas licenciaturas.

A faixa etária apresenta uma concentração expressiva de ingressantes no intervalo que vai dos 21 aos 30 anos com 40,4% de matriculados e de 44,2% com idade superior aos 31 anos, apontando um perfil de alunos mais maduros nesses cursos,

No aspecto raça, há um equilíbrio entre os que se declararam brancos, com 44% dos ingressantes e de 42,8% de pardos e mulatos, sendo este um dado interessante e que comprova uma tendência, já que a pesquisa da Fundação Carlos Chagas também apontava um aumento no número de pardos e mulatos que optam por esses cursos.

Nas duas perguntas referentes ao nível de escolaridade dos pais, as respostas comprovam outro dado identificado pela Fundação Carlos Chagas: os pais dos alunos que optam pelas licenciaturas apresentam baixa escolaridade.

(35)

conseguiram concluir, contra 4,2% que não conseguiram. Para finalizar, 6,8% alegaram que o pai nunca frequentou a escola.

Já com relação ao nível de escolaridade da mãe, o resultado do questionário aponta que 47,3% não concluíram o Ensino Fundamental I; 19% completaram o Ensino Fundamental II; só 12,8% possuem o Ensino Médio completo e 3,9% ainda não concluíram. Já no Ensino Superior, só 6% finalizaram esta etapa, enquanto que 2,1% ainda não concluíram. Por fim, 7,1% apontam que suas mães nunca frequentaram a escola.

Esses dados demonstram uma mudança no perfil educacional dessa camada da população de menor renda financeira, que somente agora consegue chegar ao Ensino Superior. São resultados importantes de serem apresentados, pois demonstram a tendência de acesso ao universo acadêmico de Ensino Superior de pessoas até então excluídas. Provavelmente estes alunos ingressantes são os primeiros a chegar ao Ensino Superior dentro do seu círculo familiar.

Com relação ao turno em que o aluno está matriculado, 23,1% estudam no horário da madrugada, 49,6% na manhã, 14,5% no turno da tarde e só 12,8% no noturno. Tal resultado pode estar relacionado ao valor da mensalidade, que nos horários de maior procura recebem um benefício de 50% de desconto no valor pago, o que representa R$ 225,00/mensal.

Quanto ao curso escolhido, 73,6% optaram pela Pedagogia; 8,3% por Letras; 4,5% por Geografia; 5,9% por Artes Visuais; 1,8% por Sociologia e 5,6% por Filosofia. A maior concentração em Pedagogia pode ser explicada pelo fato de ser o único curso reconhecido na área de Educação da instituição pelo Ministério da Educação, sendo que os demais aguardam a visita para ter a aprovação e o reconhecimento.

(36)

interessados pelos cursos de formação de professores eram justamente os alunos das escolas públicas, enquanto que os alunos das escolas particulares fazem a opção pelas carreiras mais tradicionais, como Medicina, Direito e Engenharia.

Com relação à atividade profissional, 73,4% já trabalham e só 26,6% não. Tal resultado aponta para a questão seguinte, pois 30,6% destacam a necessidade de trabalhar para ajudar a família e 26,4% são os responsáveis diretos pelo pagamento da mensalidade escolar, enquanto que só 25,2% querem trabalhar por uma questão de maior independência financeira. Como se pode observar, o fato de já atuarem profissionalmente é decisivo para o pagamento das mensalidades e consequente permanência nessa etapa do ensino.

No aspecto da escolha da carreira profissional, 82,6% afirmam identificarem-se com a mesma, mas a possibilidade de um emprego estável é a segunda razão mais apontada pelos alunos para justificar a opção pelos cursos. Neste caso, a estabilidade oferecida pela rede pública de ensino - municipal e estadual – pode ser compreendida como um fator determinante para este resultado, uma vez que os concursos públicos para seleção de professores são uma oportunidade profissional concreta de estabilidade e ascensão social.

Com relação aos aspetos sócio-econômicos, é importante observar que 30,5% apontam viver com, pelo menos, três pessoas em casa e dessas, só duas, contribuem para o sustento da família, com 66% de respostas. Vale observar que a renda familiar declarada é bastante limitada, já que 49,4% apresentam renda de R$ 1.001,00 e R$ 3.000,00, enquanto que 34,9% apresentam renda de R$ 501,00 até R$ 1.000,00.

(37)

1.5 Escolha ou falta de opção – como explicar o perfil do ingressante?

Os dados apurados pela pesquisa da Fundação Carlos Chagas no Brasil apontam que a percepção da carreira de professor é de um trabalho pouco atraente, tanto do ponto de vista social como financeiro, e é reforçada pelos grupos sociais mais próximos, como a família e os amigos. No caso dos pais, a pesquisa da Fundação Carlos Chagas apurou que eles teriam maior dificuldade em aceitar essa opção dos filhos que estudam nos colégios particulares.

Por outro lado, de acordo com os dados no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) de Pedagogia, cerca de 80% frequentaram o Ensino Médio em escola pública (68% exclusivamente), sendo do sexo feminino. No aspecto socioeconômico, 39% vêm de famílias com renda de até três salários mínimos, e a maioria, 50%, situa-se na faixa que vai entre três e dez salários mínimos.

Se compararmos os dados da pesquisa da Fundação Carlos Chagas com os da pesquisa realizada no Centro Universitário da zona Sul de São Paulo, tais resultados apontados pelo ENADE comprovam que a opção pela carreira do magistério está focada no universo feminino de baixa renda e que vê, nesta opção profissional, uma conquista de reconhecimento profissional dentro do seu histórico social.

(38)

Pereira (2006) em seu livro Formação de Professores – Pesquisas, representações e poder aponta outro aspecto que também pode explicar esta opção. Para o autor, a aspiração de ascensão social favorece um crescimento geral na procura de escolarização, ou seja, uma maior exigência por qualificações acadêmicas. Apoderar-se desse capital escolar e cultural pode garantir oportunidades de ingresso no ensino superior e, ao mesmo tempo, oferecer possibilidades concretas de ascensão social para indivíduos que jamais almejaram chegar tão longe, seja pela escolarização obtida, já que a maioria vem de pais com ensino médio e fundamental incompleto, seja pela inserção no mercado profissional com uma profissão de status diferenciado.

Dentro dessa perspectiva, é possível concluir que esses alunos que chegam ao Ensino Superior representam uma possibilidade concreta de ascensão social, mesmo que nos cursos de menor prestígio e de menor procura, como é o caso das Licenciaturas.

Já no ano de 1995 quando desenvolveu sua pesquisa, Pereira (2006) destacava sua preocupação com o perfil dos alunos ingressantes de licenciaturas e apontava para a necessidade de uma maior atenção para esta formação. Passados mais de dez anos, a pesquisa da Fundação Carlos Chagas e a pesquisa aplicada no Centro Universitário chegam ao mesmo perfil: predominantemente feminino, com maior faixa etária, oriundos das escolas públicas, com renda familiar de 3 a 10 salários mínimos, trabalhadores, com baixa formação cultural e intelectual e pais de baixa escolaridade.

Este é o perfil do aluno que o Ensino Superior deverá formar, com todas as dificuldades apresentadas e com desafios muito maiores. A formação oferecida deverá ser capaz de suprir a defasagem e, ao mesmo tempo, contemplar todos os aspectos teóricos e práticos exigidos na formação do futuro professor.

(39)

CAPÍTULO 2 - A EDUCAÇÃO E A ESCOLA NA FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES

Podem inventar tecnologias, serviços, programas, máquinas diversas, umas a distância, outras menos, mas nada substitui um bom professor. Nada substitui o bom senso, a capacidade de incentivo e de motivação que só os

bons professores conseguem despertar.

António Nóvoa

O século XXI começou marcado por inúmeras transformações políticas, sociais, econômicas e tecnológicas. É dentro desse cenário que a escola está inserida e é dela que se espera, não só a garantia da aprendizagem dos alunos, mas, principalmente, a abordagem de diferentes temas relevantes para a sociedade, que vão desde a construção da cidadania, até a compreensão de um mundo globalizado, cada vez mais intolerante e excludente.

Nunca se discutiu tanto o papel da escola e os grandes desafios que ela enfrenta, pois temos hoje a sensação de que o trabalho escolar se transformou, mas não foi capaz de garantir a efetiva aprendizagem de todos que a frequentam.

No Brasil, a partir da década de 60, a escola passou a receber uma camada da população até então excluída do seu direito de nela se fazer presente. No entanto, a inclusão dos menos favorecidos não foi acompanhada do planejamento necessário e capaz de garantir, não só a permanência, mas também a qualidade do ensino oferecido.

(40)

Somente na década de 90, com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9394/96, voltou-se a discutir, no cenário nacional, a necessidade de se pensar a formação docente e os problemas enfrentados pelos professores frente aos desafios do século XXI que já se faziam sentir.

Num cenário de sucessivos fracassos quanto à qualidade de ensino e dados alarmantes de reprovações e analfabetismo, tornou-se imperioso repensar e discutir a concepção de Educação no Brasil, o modelo de escola aqui existente e as possíveis alternativas para este modelo, os objetivos e propostas dos Programas de Formação Inicial e Continuada para Docentes, e as perspectivas do cenário educacional capazes de reverter tal situação.

Tendo como base a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), é inegável o avanço que ela representou em diferentes temas educacionais no cenário brasileiro, que vão da possibilidade de maior autonomia e flexibilidade na realidade das escolas, até a formação do corpo docente, pois “trata o professor como eixo central da qualidade da educação” (DEMO, 1997, p.45).

No entanto, pensar que a publicação e a sanção da lei transformariam, imediatamente, a realidade escolar brasileira, parece ilusório. Por esta razão, um primeiro aspecto que merece ser discutido é a crença, apoiada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, de uma educação capaz de favorecer a construção da cidadania, como uma forma concreta de inserção social e uma renovação do espaço escolar.

2.1 Formação de professores: diálogo passado X presente

(41)

Tendo como ponto de partida a primeira metade da década de 70, a formação de professores restringia-se a uma instrumentalização técnica, já que o professor

era entendido como um organizador dos componentes do processo de ensino-aprendizagem (objetivo, seleção de conteúdo, estratégias de ensino, avaliação) que deveriam ser rigorosamente planejadas para garantir resultados instrucionais altamente eficazes e eficientes (PEREIRA, 2006, p.16).

Já na segunda metade da década de 70, com a influência da Filosofia e da Sociologia, a educação como prática social em conexão com o sistema político passou a ser vigente, o que levou a prática do professor a sair da neutralidade para se constituir como uma prática transformadora.

Nessa perspectiva, criou-se um conflito com a própria escola, espaço de contradições, e que não estava preparada para esta nova configuração, e por esta razão, as Licenciaturas e os Programas de Formação de Professores oferecidos pelo Ensino Superior eram estudados nos limites dos seus aspectos funcionais e operacionais.

Já nos anos 80, Pereira (2006) aponta que a formação dos professores, influenciada pela transição e superação do autoritarismo do Regime Militar, privilegiou o caráter político da prática pedagógica e o compromisso do educador com as classes populares.

Naquela década, com a abertura das escolas para as populações mais carentes, passaram a ficar evidentes a deteriorização da educação, com uma preocupação basicamente quantitativa e não qualitativa, a massificação do ensino em diferentes aspectos, seu sucateamento e a sua privatização.

(42)

Como consequência, a massificação atingiu o professor, que, de forma sistemática, percebeu uma queda acentuada do seu salário, ao mesmo tempo em que crescia o volume de suas atividades e responsabilidades.

Se, por um lado, a perda salarial atingiu fortemente seu poder de renda, por outro ele precisou aprender a lidar com a burocratização da organização escolar e a própria fragmentação do seu trabalho, uma vez que o conteúdo e o método ficaram distanciados de suas práticas, pois passaram a ser concebidos de forma autoritária.

Como resultado final de todo esse processo, Pereira (2006) aponta que houve então um crescente processo de massificação do profissional do ensino, com a entrada de um público cada vez maior de mulheres, perda de autonomia e desvalorização da carreira.

É conflitante essa visão do professor, pois, ao mesmo tempo em que se espera que a escola seja um espaço de transformação social, exige-se do professor práticas educativas associadas a uma prática social bem mais ampla, o que exigiria um perfil profissional bem mais engajado politicamente.

2.2 A LBD, o Neoliberalismo e a formação de professores

A partir da década de 90, a proposta de formação de professores está atrelada à própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9.394/96.

(43)

Se, a princípio, tais propostas parecem um avanço considerável dentro do cenário educacional, por outro, vale destacar que tais mudanças ocorreram justamente num contexto de aprofundamento da política neoliberal, implantada pelo governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Convém lembrar que as políticas neoliberais tiveram seu surgimento nos anos de 1960 a partir da crise do Estado de bem-estar social, concebido pelo princípio de proporcionar e garantir para todos os cidadãos condições mínimas de renda, alimentação, habitação e educação como direito político garantidos pelo Estado -, que já não era mais capaz de resolver os graves problemas sociais, políticos e econômicos do sistema capitalista.

Enquanto política, o ideário neoliberal prega que o mercado livre é o elemento regulador de toda a sociedade; enquanto projeto político, econômico e social fundamenta-se na subordinação da sociedade a esse mercado com a não intervenção estatal.

Nessa proposta política, a educação desempenha um papel importante e estratégico, na medida em que atrela a educação pública como preparação ao mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que funciona e opera como propagador da ideias neoliberais.

Diante desse cenário, a educação é concebida como um bem econômico, uma mercadoria que está diretamente subordinada às leis do mercado, ou seja, à lei da oferta e da demanda. Nesse aspecto, a política neoliberal estabeleceu uma relação direta em que o Estado foi o grande responsável pela crise educacional, já que foi incapaz de gerenciar e atuar de forma eficiente e responsável com a Educação.

Por esta lógica, a eficiência e a qualidade educacional tão almejadas só acontecerão no momento em que não houver mais a intervenção do estado.

(44)

educação de uma parcela bem carente e que até então estava fora dos bancos escolares.

No entanto, esse acesso não foi acompanhado por uma adequação da capacidade estrutural do sistema público de ensino. Em síntese, o objetivo neoliberal foi atingido, já que houve um aumento no número de pessoas atendidas, mas não com a devida preparação pedagógica e, como consequência, trouxe o desmantelamento do sistema escolar, comprometendo a qualidade do ensino oferecido aos alunos ali matriculados.

Viana (2004) afirma que a influência neoliberal nas escolas e universidades brasileiras e também das instituições responsáveis pela formação de professores, está muito mais focada para preparar os alunos para integrar o mercado profissional extremamente competitivo, tanto no cenário nacional como internacional, capazes de atender as necessidades impostas pela indústria e o comércio.

Por outro lado, dentro dessa política há o discurso neoliberal de que as escolas e os profissionais que constituem seus quadros são livres para determinar, de forma antecipada, o que querem em termos de formação, mas na prática todo o componente mental e conceitual já está definido previamente pelas necessidades da indústria e do comércio.

A grande contradição dessa perspectiva é que, apesar da possibilidade de todos terem acesso à escola dentro dessa nova realidade, os interesses ficam concentrados na necessidade de treinamento exigidas pela indústria e pelo comércio para o mercado profissional, extremamente competitivo e exigente, nos requisitos básicos da mão de obra, deixando de lado a formação humana do cidadão.

(45)

A escola e a formação inicial de seus professores mudam o seu foco de atuação para tornar-se o espaço que se identifica com o poder do mercado, que exige cada vez mais produção e um conhecimento que valoriza o lucro para as organizações empresariais. Corre-se o risco de racionalizar o planejamento e a organização da escola e das atividades pedagógicas para atender as exigências e necessidades do mercado profissional, restringindo mais ainda a autonomia do professor, que se torna um simples executor de tarefas previamente programadas e controladas em detrimento das especificidades do projeto pedagógico que leva em consideração as diferentes realidades escolares.

Veiga (2009) aponta que no modelo neoliberal “a proposta de formação está direcionada para o tecnólogo do ensino, expressão empregada por Tardif” (apud VEIGA, 2009, p.17).

Dentro dessa proposta, Veiga afirma que a identidade profissional pretendida é de um caráter meramente técnico-profissional e apresenta como características de formação:

1. vinculada a um projeto de uma sociedade globalizada e neoliberal; 2. vinculada também com um projeto político-educacional, a partir das

orientações do Banco Mundial, de abrangência internacional, priorizando a educação por resultados, estabelecida em padrões de rendimentos;

3. vinculada, também, à educação e à produtividade, numa visão economicista.

(46)

contexto escolar, influenciando e sendo influenciada. Em síntese, é “uma formação pragmatista, simplista e prescritiva” (VEIGA, 2009, p.18) e reduz o professor ao mero executor de uma proposta já definida pela política neoliberal.

Em sentido contrário a esta proposta, Veiga (2009) defende que a formação inicial de professores deve buscar a possibilidade dele assumir sua identidade como um profissional envolvido e responsável por sua memória histórica, seu compromisso profissional e ético, em bases sólidas e permanentes.

Para tanto, Veiga (2009, p.19) apresenta a formação do professor como agente social, tendo a concepção de educação como uma prática social e um processo de emancipação, pois visa à “construção coletiva de um projeto alternativo, capaz de contribuir, cada vez mais, para o desenvolvimento de uma educação de qualidade para todos”.

Dentro dessa concepção, a formação inicial do professor é desenvolvida numa perspectiva crítica e emancipadora, o que exige:

1. A construção e o domínio dos saberes disciplinares e curriculares, o saber de formação pedagógica, a experiência profissional, a cultura e o conhecimento de mundo na prática social.

2. Os conceitos teóricos e as atividades práticas devem percorrer todo o processo de formação.

3. A formação é uma ação coletiva, que envolve todo o pessoal que atua na escola e na ação pedagógica.

4. A autonomia do professor é um valor profissional e deve ser entendida como um processo coletivo e solidário em permanente construção. 5. O fortalecimento da identidade profissional do professor no seu papel

de agente social, autônomo, consciente e crítico deve ser permanente. 6. A valorização e o reconhecimento de que a tarefa profissional do

(47)

7. As competências são compreendidas numa ação contextualizada, definindo-se como um saber-agir e reagir.

Essa proposta de formação permeia um processo mais amplo de reconhecimento do trabalho docente, resgatando sua imagem, suas condições de exercício profissional e valorizando a ação coletiva dos professores.

Nesse objetivo de busca de qualidade, a formação de professores ocupa cenário central, pois a melhoria dessa qualidade passa, necessariamente, pela formação dos professores, que precisa primar por uma formação consistente, abrangente e permanente, sob pena de comprometer, de forma irreversível, todo esse processo.

A grande ironia reside justamente nessa contradição: as propostas de formação implantadas pela política neoliberal não são capazes de dar conta da complexa tarefa de formar esses profissionais, já que são simplistas, imediatistas, com uma carga horária bastante limitada frente ao público que hoje chega às licenciaturas e, ao mesmo tempo, as políticas de formação continuada não atingem os resultados esperados se tomarmos por base os resultados dos diferentes instrumentos de avaliação do Ministério da Educação aplicados, principalmente, nas escolas públicas.

O Professor Pedro Demo, já em 2002, em seu texto Professor e seu direito de estudar, apontava a necessidade de uma qualificação mais completa e rigorosa na formação do professor, pela importância estratégica de sua profissão no desenvolvimento da própria sociedade.

Referências

Documentos relacionados

A cultura material e o consumo são contextualizados com o design, e são demonstradas estratégias de sustentabilidade no ciclo de vida nos produtos de moda.. Por fim, são

e) imprimir a GRU, no qual consta o valor correspondente a taxa de inscrição, que deverá ser pago nas agências bancárias;.. A declaração acerca da situação acadêmica

1º Para a compor esta peça publicitária foram utilizadas fotografias de produção jornalística. 2º A foto do garoto encostado na bandeira nacional foi tirada no antigo lixão da

Não é admissível que qualquer material elétrico não tenha este tipo de verificação, ainda mais se tratando de um produto para uso residencial... DI SJ UN TO RE S RE SI DE NC IA

Avraham (Abraão), que na época ainda se chamava Avram (Abrão), sobe à guerra contra os reis estrangeiros, livrando não apenas seu sobrinho Lot, mas também os reis

Nesse sentido, este estudo teve como objetivo comparar alunos superdotados e não superdotados – considerados nesta investigação como aqueles não identificados como superdotados e

O primeiro informativo de 2021 tem como objetivo divulgar o importante trabalho realizado pelo Programa de Proteção à Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), que

Conclui-se que a Ds c IHO não necessariamente restringe o crescimento radicular ou rendimento de culturas sob plantio direto; a carga de 1600 kPa no teste de compressão uniaxial é