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Os paises em desenvolvimento e os mecanismos de solução de controvérsias no comércio internacional

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(1)

OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO E OS MECANISMOS DE

SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO COMÉRCIO

INTERNACIONAL

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação “Stricto

Sensu” em Direito Internacional e

Econômico da Universidade Católica

de Brasília, como requisito para

obtenção do título de mestre em

Direito Internacional e Econômico

(2)

Dissertação defendida e aprovada como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Direito, em 10 de abril de 2006, pela banca examinadora constituída por:

Maurin Almeida Falcão

Arnaldo Siqueira de Moraes Godoy

Maria Elizabeth G. Teixeira Rocha

(3)
(4)

Com o desenvolvimento do comércio mundial, às discussões em torno das formas de regulação do mesmo e da solução de conflitos entre as nações tornou-se uma constante, neste contexto surge a Organização Mundial do Comércio (OMC) Antes de ingressar no estudo da OMC, propriamente dito, e de seus métodos de solução de conflitos, é necessário perquirir a história do desenvolvimento do comércio internacional antes e após a Segunda Guerra Mundial, e os organismos multilaterais criados, com ênfase no Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT). Os meios de solução de conflitos internacionais são objeto do estudo, tanto sua parte histórica, como a atual, tendo como foco principal o Órgão de Solução de Conflitos (OSC) da OMC. Tanto na parte histórica como na parte dos métodos de solução de conflitos internacional, a participação dos países em desenvolvimento (PED) é objeto de análise. E, são feitos estudos de casos da atuação dos países em desenvolvimento em algumas demandas proposta perante o OSC. Desta forma, o trabalho demonstrou como foi a participação dos PED no desenvolvimento do comércio internacional e no OSC da OMC.

PALAVRA-CHAVE: Organização Mundial do Comércio (OMC), Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT), comércio internacional, países em desenvolvimento, solução de conflitos internacionais.

(5)

With the development of the international trade, the quarrels became constant around the forms of regulation and the solution of conflicts between the nations, in this context appears the World Trade Organization (WTO). Before entering the study of the OMC and of its methods of solution of conflicts, it is necessary investigate the history of the development of the international trade before and after the Second World War I, and the multilateral organisms with emphasis in the General Agreement of Commerce and Tariffs (GATT). The ways of solution of international conflicts are object of the study, as much its historical part, as the current one, having as main focus the Dispute Settlement Body (DSB) of the WTO. As much in the historical part as in the part of the methods of international solution of conflicts, the participation of the developing countries is studied. And, is made studies of cases of the performance of the developing countries in some demands proposal before the DSB. Of this form, the work demonstrated as it was the participation of the developing countries in the development of the international trade and in the DSB of WTO.

(6)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...1

PARTE I - O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO MERCANTILISMO À CRIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO: PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO...5

CAPÍTULO 1 O COMÉRCIO INTERNACIONAL ANTES DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL...7

CAPÍTULO 2 A CONSTRUÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL NO PÓS-SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ...13

2.1 A ORGANIZAÇÃO DA ECONOMIA MUNDIAL PELOS ALIADOS - BRETTON WOODS...15

2.2 O ACORDO GERAL DE COMÉRCIO E TARIFAS - GATT – 1947...21

2.2.1 A PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO NO GATT/1947...22

2.3 A CONSOLIDAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL, POR MEIO DAS RODADAS DO GATT...25

2.4 A CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO – UNCTAD...27

2.4.1 O SISTEMA GERAL DE PREFERÊNCIAS...28

2.4.2 A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO E A DEFINIÇÃO QUANTO AO GRAU DE DESENVOLVIMENTO DOS PAÍSES...31

2.5 A RODADA TÓQUIO...31

2.5.1 A PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO NA RODADA TÓQUIO...33

2.6 A RODADA URUGUAI...34

2.6.1 A PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO NA RODADA DO URUGUAI...39

2.7 A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO – OMC...40

2.7.1 A CRIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO...41

2.7.2 DAS ATRIBUIÇÕES DA OMC...44

2.7.3 AS REGRAS DA OMC...44

2.7.3.1 A CLÁUSULA DA NAÇÃO MAIS FAVORECIDA...45

2.7.3.2 A CLÁUSULA DO TRATO NACIONAL...46

2.7.3.3 O LIVRE COMÉRCIO...47

2.7.3.3 A TRANSPARÊNCIA NAS NORMAS COMERCIAIS DOS PAÍSES MEMBROS...48

(7)

2.7.3.5 A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO E A

REFORMA ECONÔMICA...49

2.7.4 A ESTRUTURA DA OMC...50

2.7.5 DO SISTEMA DE VOTAÇÃO NA OMC...54

2.7.6 OS ACORDOS ABARCADOS PELA OMC...55

2.7.7 A AGENDA ATUAL DA OMC...56

2.7.8 A PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO NA OMC...59

PARTE II - A SOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS E A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO...64

CAPÍTULO 1 OS MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS...65

1.1 OS MEIOS DIPLOMÁTICOS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS...68

1.1.1 AS NEGOCIAÇÕES DIRETAS...68

1.1.2 OS BONS OFÍCIOS...70

1.1.3 A MEDIAÇÃO...71

1.1.4 A CONCILIAÇÃO...72

1.1.5 OS CONGRESSOS E AS CONFERÊNCIAS...74

1.1.6 O SISTEMA DE CONSULTAS...75

1.1.7 O INQUÉRITO...76

1.2 OS MEIOS JURISDICIONAIS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS...77

1.2.1 A ARBITRAGEM...78

1.2.2 A SOLUÇÃO JUDICIÁRIA...81

1.3 A SOLUÇÃO COERCITIVA DE CONTROVÉRSIAS...88

1.3.1 A RETORSÃO...89

1.3.2 AS REPRESÁLIAS...90

1.3.3 A BOICOTAGEM...92

1.3.4 A RUPTURA DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS...92

CAPÍTULO 2 A SOLUÇÃO DE CONFLITOS NO GATT...93

2.1 A TRANSIÇÃO HISTÓRICA ENTRE O GATT E A OMC EM RELAÇÃO AO MECANISMO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS...98

CAPÍTULO 3 O SISTEMA JURISDICIONAL DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NA OMC...101

3.1 O ÓRGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS...102

3.2 DAS CONSULTAS...105

3.3 DO GRUPO ESPECIAL ...107

3.4 DO ÓRGÃO DE APELAÇÃO...112

3.5 A ADOÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E SANÇÕES, E SUAS FORMAS DE IMPLEMENTAÇÃO...113

(8)

3.10 CONCLUSÃO...118

CAPÍTULO 4 O ESC E OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO...119

PARTE III - ESTUDO DE CASOS, ENVOLVENDO PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL, DO PERÍODO DE 1996 A 2000, NO ÓRGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO...123

CAPÍTULO 1 PROCESSO 27 - COMUNIDADE EUROPÉIA - REGIME DE IMPORTAÇÃO, VENDA E DISTRIBUIÇÃO DE BANANAS 1.1 CONSULTAS...126

1.2 GRUPO ESPECIAL...127

1.3 PROCEDIMENTO DE APELAÇÃO...128

1.4 LAUDO ARBITRAL – PARA FIXAÇÃO DO PRAZO PRUDENCIAL...129

1.5 GRUPO ESPECIAL PARA VERIFICAR A IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES DO OSC...129

1.6 PEDIDO DE SUSPENSÃO DE CONCESSÕES E LAUDO ARBITRAL PARA DETERMINAR O VOLUME A SER SUSPENSO...131

1.7 RESOLUÇÃO FINAL DO CONFLITO...134

1.8 AVALIAÇÃO DA CONTROVÉRSIA...136

CAPÍTULO 2 PROCESSO 46 - BRASIL - PROGRAMA DE FINANCIAMENTO DA EXPORTAÇÃO DE AERONAVES CIVIS 2.1 CONSULTAS...137

2.2. GRUPO ESPECIAL...138

2.3 PROCESSO DE APELAÇÃO...140

2.4 IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES DO OSC...142

2.5 GRUPO ESPECIAL PARA VERIFICAR A IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES DO OSC...143

2.6 PEDIDO DE SUSPENSÃO DE CONCESSÕES E LAUDO ARBITRAL PARA DETERMINAR O VOLUME A SER SUSPENSO...145

2.7 PROCESSO DE APELAÇÃO PARA VERIFICAR A IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES DO OSC...147

2.8 RESOLUÇÃO FINAL DO CONFLITO...148

2.9 AVALIAÇÃO DE CONTROVÉRSIA...150

CAPÍTULO 3 PROCESSO 56 - ARGENTINA — MEDIDAS QUE AFETAM ÀS IMPORTAÇÕES DE CALÇADO, TÊXTEIS, ROUPAS E OUTROS ARTIGOS 3.1 CONSULTAS...151

3.2 GRUPO ESPECIAL...153

3.3 PROCESSO DE APELAÇÃO...155

3.4 RESOLUÇÃO FINAL DO CONFLITO...156

(9)

4.1 CONSULTAS...158

4.2 GRUPO ESPECIAL...159

4.3 PROCESSO DE APELAÇÃO...162

4.4 PRAZO PRUDENCIAL...163

4.5 AVALIAÇÃO DA CONTROVÉRSIA...163

CAPÍTULO 5 PROCESSO 70 - CANADÁ — MEDIDAS QUE AFETAM À EXPORTAÇÃO DE AERONAVES CIVIS 5.1 CONSULTA...164

5.2 GRUPO ESPECIAL...167

5.3 PROCESSO DE APELAÇÃO...169

5.4 IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES DO OSC...169

5.5 GRUPO ESPECIAL PARA VERIFICAR A IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES DO OSC...170

5.6 PROCESSO DE APELAÇÃO PARA VERIFICAR IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES DO OSC...171

5.7 RESOLUÇÃO FINAL DO CONFLITO...172

5.8 AVALIAÇÃO DA CONTROVÉRSIA...172

CAPÍTULO 6 PROCESSO 110 - CHILE - TRIBUTOS SOBRE BEBIDAS ALCOÓLICAS 6.1 CONSULTAS...173

6.2 GRUPO ESPECIAL...174

6.3 PROCESSO DE APELAÇÃO...175

6.4 LAUDO ARBITRAL PARA A FIXAÇÃO DO PRAZO PRUDENCIAL....176

6.5 RESOLUÇÃO FINAL DO CONFLITO...177

6.6 AVALIAÇÃO DA CONTROVÉRSIA...178

CAPÍTULO 7 PROCESSO 121 - ARGENTINA - MEDIDAS DE SALVAGUARDA IMPOSTAS ÀS IMPORTAÇÕES DE CALÇADO 7.1 CONSULTAS...179

7.2 GRUPO ESPECIAL...179

7.3 PROCESSO DE APELAÇÃO...181

7.4 RESOLUÇÃO FINAL...181

7.5 AVALIAÇÃO DA CONTROVÉRSIA...181

CAPÍTULO 8 PROCESSO 155 - ARGENTINA - MEDIDAS QUE AFETAM À EXPORTAÇÃO DE PELES DE BOVINO E À IMPORTAÇÃO DE COUROS ACABADOS 8.1 CONSULTAS...183

(10)

CAPÍTULO 9 PROCESSO 189 - ARGENTINA - MEDIDAS ANTIDUMPING DEFINITIVAS APLICADAS ÀS IMPORTAÇÕES DE PAPELÃO PROCEDENTES DE ALEMANHA E MEDIDAS ANTIDUMPING DEFINITIVAS APLICADAS ÀS IMPORTAÇÕES DE LADRILHOS DE CERÂMICA PROCEDENTES DA ITÁLIA

9.1 CONSULTAS...186

9.2 GRUPO ESPECIAL...187

9.3 RESOLUÇÃO FINAL DO CONFLITO...188

9.4 AVALIAÇÃO DA CONTROVÉRSIA...188

CAPÍTULO 10 PROCESSO 217 - ESTADOS UNIDOS - LEI DE COMPENSAÇÃO POR CONTINUAÇÃO DO DUMPING OU MANUTENÇÃO DAS SUBVENÇÕES DE 2000 10.1 CONSULTAS...189

10.2 GRUPO ESPECIAL...191

10.3 PROCESSO DE APELAÇÃO...192

10.4 LAUDO ARBITRAL PARA FIXAÇÃO DO PRAZO PRUDENCIAL... ...193

10.5 PEDIDO DE SUSPENSÃO DE CONCESSÕES E LAUDO ARBITRAL PARA DETERMINAR O VOLUME A SER SUSPENSO...194

10.6 IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES DO OSC...195

10.7 AVALIAÇÃO DA CONTROVÉRSIA...196

CAPÍTULO 11 PROCESSO 219 - COMUNIDADE EUROPÉIA - DIREITOS ANTIDUMPING SOBRE OS ACESSÓRIOS DE TUBOS DE FUNDIÇÃO MALEÁVEL PROCEDENTES DO BRASIL 11.1 CONSULTAS...197

11.2 GRUPO ESPECIAL...198

11.3 PROCESSO DE APELAÇÃO...200

11.4 PRAZO PRUDENCIAL PARA IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES DO OSC...201

11.5 RESOLUÇÃO FINAL DO CONFLITO...201

11.6 AVALIAÇÃO DA CONTROVÉRSIA...202

CAPÍTULO 12 CONCLUSÃO DO ESTUDO DE CASOS...203

CONCLUSÃO...205

(11)

INTRODUÇÃO

A contextualização histórica do comércio internacional, apresentada na dissertação,

insere-se no período da prática do Mercantilista e suas vertentes, passando pelas teorias liberais,

para demonstrar o contexto histórico do surgimento do Acordo Geral de Comércio e Tarifas –

GATT, como pacto para o desenvolvimento das transações comerciais internacionais.

Durante anos o GATT funcionou como um verdadeiro organismo internacional, mas com

o incremento das relações comerciais internacionais, não era mais suficiente para atender a

demanda. Os encontros para discutir a forma de aumentar os acordos englobados pelo GATT era

as denominadas Rodadas, nas quais os países tentavam avançar na liberalização do comércio

internacional.

Assim, na Rodada Uruguai do GATT, que se desenvolveu entre os anos de 1986 a 1994,

foi estabelecida a criação da Organização Mundial do Comércio – OMC, colocando, dessa forma,

um fim no caráter provisório do GATT e significando uma importante reestruturação do

comércio mundial.

No âmbito da OMC, foram instituídos para os países signatários, mecanismos de solução

de controvérsias, através do Entendimento de Solução de Conflitos - ESC. O Órgão de Solução

de Controvérsias (OSC) é essencial para dar segurança e previsibilidade ao sistema multilateral

de comércio mundial, bem como preservar os direitos e obrigações de seus membros, e aclarar as

disposições vigentes dos acordos abarcados pela OMC e com as normas usuais de interpretação

do Direito Internacional.

(12)

neste. Agregando a isso, o uso por parte dos PED das prerrogativas que existem no ESC, que lhes

concede tratamento diferenciado nas demandas.

Portanto, o objetivo do trabalho é analisar as decisões do OSC, pois neste são julgados

aspectos jurídicos de direito processual, contidos no ESC, em relação aos países em

desenvolvimento, inclusive quanto ao uso das prerrogativas que lhe são inerentes.

Em decorrência desse objetivo, o estudo verificará como se comportam os países em

desenvolvimento nas demandas; quais os pontos que alegam para ingressar com os processos,

quando são autores, e como se defendem, quando são reclamados; e se usam as prerrogativas

existentes nos acordos abarcados pela OMC, que lhes beneficiam.

O trabalho tem como objetivo geral conhecer como se processa as soluções de conflitos

no comércio internacional que envolve paises em desenvolvimento, mas para tanto é necessário

estudar a evolução do comércio internacional desde o mercantilismo até a criação da OMC, os

meios de solução de conflitos internacionais, com ênfase na parte comercial, e, por fim analisar

casos de processos que ocorreram no OSC.

Como objetivo específico, o trabalho tem por intuito, descobrir se os países em

desenvolvimento estão utilizando as prerrogativas constantes dos acordos abarcados pela OMC,

nas demandas que fazem parte no OSC.

A importância desse estudo centra-se no fato do tema ser de pouco conhecimento dos

operadores do direito, e por tratar-se de matéria de suma importância para a defesa dos interesses

comerciais dos países em desenvolvimento.

O problema que envolve a presente dissertação é saber se as prerrogativas dos países em

desenvolvimento, existentes nos acordos abarcados da OMC, se usadas por estes nas demandas

(13)

A escolha do tema decorreu de uma série de reportagens e entrevistas que demonstravam

o despreparo dos operadores do direito provenientes dos PED para lidarem com as questões que

envolvem contendas junto a OMC.

Visando esclarecer os pontos debatidos na dissertação, a mesma será dividida em três

partes. A primeira parte estudará o desenvolvimento do comércio internacional, a segunda o

sistema de solução de conflitos internacionais e na OMC, e a terceira parte fará um estudo de

caso de onze conflitos iniciados entre 1996 e 2000, que envolveram países da América do Sul.

Na parte primeira o objetivo é fazer um panorama geral do comércio internacional,

iniciando o estudo no Mercantilismo e encerrando na criação da OMC, descrevendo sua estrutura,

suas normas e suas funções. Visando assim, contextualizar historicamente o surgimento da OMC.

Como o trabalho visa demonstrar a inserção dos países em desenvolvimento no comércio

internacional, sempre haverá referência à participação dos mesmos nos períodos estudados.

Haverá uma divisão entre o comércio internacional antes e depois da Segunda Guerra

mundial, esse método foi eleito, pois o primeiro acordo internacional multilateral de comércio

internacional somente surge após a Grande Guerra, mas ocorreram fatos, anteriormente a isso,

que são de interesse histórico, e necessários para o desenvolvimento da dissertação.

Na fase após a Segunda Guerra serão estudados os principais mecanismos e organismos

internacionais, que têm influência direta no desenvolvimento dos PED, como o Fundo Monetário

Internacional (FMI) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).

Em seguida, será pesquisado o primeiro acordo multilateral de comércio internacional,

que envolveu os principais atores comerciais mundiais, que foi o denominado Acordo Geral

(14)

Rodadas, bem como serão analisadas outras iniciativas dos PED em relação ao comércio

internacional, em especial, na UNCTAD da ONU.

E, por fim, a criação da OMC em 1994, sua estrutura e atribuições, e principais princípios

norteadores e assuntos debatidos. Quanto aos países em desenvolvimento será observada a sua

participação na OMC e o que esta estrutura oferece em prol destes.

A segunda parte do trabalho iniciará com os meios de soluções de conflitos existentes no

direito internacional, necessários para se entender como se desenvolve a solução de litígios na

OMC. Depois será feita uma análise da solução de controvérsias comerciais no âmbito do GATT,

e por último no Órgão de Solução de Controvérsias da OMC.

O objeto final, da segunda parte, dedica-se a estudar as prerrogativas dos países em

desenvolvimento no Entendimento de Solução de Controvérsias (ESC) e demais normas da

OMC, que tratam da solução de conflitos.

Finalmente, em sua última parte o trabalho examinará onze casos resultantes de demandas

que envolveram países em desenvolvimento, da América do Sul, iniciadas entres os anos de 1996

a 2000, que ultrapassar a fase de consultas na OSC, pois esta fase inicial é um procedimento

sumamente diplomático. Nesta análise serão abordados todos os aspectos da demanda, e cada

uma de suas fases, sendo que na parte final de cada caso, será apresentada uma avaliação da

controvérsia.

Após a avaliação de todos esses pontos, a intenção é tentar elucidar a solução de conflitos

na Organização Mundial do Comércio e a participação dos países em desenvolvimento no Órgão

de Solução de Controvérsias, bem como os subsídios que a OMC, em sua estrutura e em seus

(15)

PARTE I

O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO MERCANTILISMO À CRIAÇÃO DA

ORAGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO: PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES EM

DESENVOLVIMENTO

O objetivo desta primeira parte do trabalho é proporcionar um conhecimento do comércio

internacional e sua evolução, tendo como marco inicial o Mercantilismo e culminando com a

criação da OMC, sempre tendo como alvo a participação dos países em desenvolvimento.

Esta primeira parte trata da situação do comércio mundial, desde o Mercantilismo até o

pós-guerra contexto no qual surge o GATT em 1947, e é dividida em dois capítulos, que tratam

do comércio internacional antes da Grande Guerra e depois desta.

O primeiro capítulo trata do comércio internacional antes da Segunda Guerra Mundial,

delimitando a abordagem do Mercantilismo e das principais teorias liberais do período,

desenvolvidas por Adam Smith – Teoria das Vantagens Absoluta, por David Ricardo - Teoria

Clássica da Vantagem Relativa e por David Hume. Outras teorias desse período anterior a Grande

Guerra não serão tratadas.

O segundo capítulo trata do estudo do comércio internacional no período pós-Segunda

Guerra Mundial, com ênfase nas decisões tomadas em Bretton Woods e nos organismos que lá

foram criados, inclusive a Organização Internacional do Comércio. Adentra, também, de forma

ampla, no estudo do Acordo Geral de Comércio e Tarifas de 1947, com destaque na participação

dos países em desenvolvimento. Envolve, ainda, um breve relato sobre as rodadas do GATT.

(16)

classificação dos países dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC). Está incluída entre

as questões sobre os países em desenvolvimento, a análise da Rodada Tóquio, que foi a primeira

com a participação efetiva dos países em desenvolvimento.

A Rodada Uruguai é tratada com maior profundidade, pois o resultado dela foi a criação

da OMC, como um organismo internacional.

No tocante à OMC, serão analisadas a sua criação, atuação, estrutura, atribuições, sistema

de votação e os princípios que a regem. Serão estudados, ainda, os acordos abarcados pela

organização e sua agenda atual, finalizando a primeira parte com a participação dos países em

(17)

CAPÍTULO 1

O COMÉRCIO INTERNACIONAL ANTES DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: DO

MERCANTILISMO AO LIBERALISMO

Não obstante a importância do comércio internacional, somente a partir do século XVI,

este começou a ser estudado, por meio de teorias, iniciando-se pelo Mercantilismo. “A teoria do

comércio internacional do Mercantilismo é a origem do estudo e entendimento das teorias

sobre economia internacional, que têm sido desenvolvidas até a atualidade”. (Cherem, 2003, p. 55).

O Mercantilismo foi o pensamento econômico que norteou a Europa, nos séculos XVI e

XVII, principalmente, na Grã-Bretanha, na Espanha, em Portugal, na França e na Holanda, na

transição do feudalismo para o capitalismo. No Mercantilismo, o Estado autoritário protegia a sua

estrutura comercial da concorrência militar e econômica dos outros países, através do poder

bélico e das barreiras alfandegárias. O termo Mercantilismo foi usado pela primeira vez por

Adam Smith, em 1776, a partir da palavra latina mercari, que significa "gerir um comércio", e de merx, que significa “produto”, para criticar o sistema reinante, que era baseado no metalismo, na balança comercial favorável, no protecionismo e no monopólio comercial, com a instituição do

pacto colonial.

(18)

mercantilismo foi utilizada, nem este se constituía numa teoria articulada de desenvolvimento nacional. (Dias: 2002, 09).

O comércio se desenvolvia pela exportação de produtos manufaturados e a exploração das

colônias. Os mercantilistas consideravam condição sine qua non a balança comercial favorável, obtida pelo monopólio sobre as colônias, não sendo assim, admitido o livre comércio. Esse

monopólio poderia ser direto, feito pelo próprio país colonizador ou delegado a companhias

mercantis, o que se denominava pacto colonial, no qual a colônia somente comerciava com a

metrópole ou com a entidade ou país por esta indicado.

Surgidas no século XVII, as companhias mercantis eram formadas pela união de

mercadores, e possuíam autorizações especiais outorgadas pelos Estados concedendo-lhes

privilégios, tais como: monopólio, funções colonizadoras e administrativas. Quando havia

concessão de monopólio, os particulares que tentavam negociar com os países controlados eram

considerados contrabandistas. As companhias mercantis eram empresas privadas que se

associavam ao governo e a empresas comerciais de um país para ampliar e defender, inclusive

militarmente, os negócios nos territórios explorados. O monopólio comercial, por intermédio,

principalmente, das companhias, era um dos elementos principais do Mercantilismo.

Outro fator importante do pensamento mercantilista era a moeda, o que tornou a busca por

metais preciosos (ouro e prata) um dos principais objetivos da conquista e exploração de novos

territórios. O denominado metalismo significava que quanto mais metais preciosos a nação

possuísse, mais poder econômico e militar tinha.

A indústria no período mercantilista se dava pela produção de manufaturas, fase que

antecedeu ao uso de máquinas. A produção de manufaturas foi uma etapa importante que sucedeu

(19)

Houve um incremento da produção de mercadorias com a introdução da divisão do

trabalho, na qual cada trabalhador executava parte do produto de tal maneira que a mercadoria

somente ficava pronta após passar, sucessivamente, por vários trabalhadores, que realizavam uma

parcela da atividade que antes era feita apenas por um trabalhador.

O empresário, antigo mercador, fornecia ao artesão a matéria-prima, as ferramentas,

pagava um salário e comercializava o produto. Portanto, no início do Mercantilismo o empresário

não exercia o controle direto do trabalhador, pois este dominava todas as fases do processo. Com

o tempo isso viria a se modificar, e o empresário passaria a ter um maior controle sobre os

trabalhadores, consolidando a prática do trabalho regular e sistemático.

Observadas as vertentes acima expostas, cada país da Europa adotou um tipo de

Mercantilismo, podendo ser destacados o Bulionismo, da Espanha; o Comercialismo, da

Inglaterra e o Industrialismo, da França. O Bulionismo era a forma clássica de Mercantilismo que

tinha com ponto fundamental o metalismo, adotado pela Espanha, esse modelo consistia no fluxo

de metais preciosos advindos das colônias, permitindo, assim, a manutenção da balança

comercial favorável, mesmo com a importação de alimentos e produtos manufaturados. O

Comercialismo por sua vez foi adotado pela Inglaterra. O fato de não possuir um vasto império

colonial capaz de suprir suas necessidades de metais preciosos, levou–a a buscar, por meio do

comércio de mercadorias manufaturadas, os metais preciosos. O Industrialismo, que tinha como

berço a França, foi desenvolvido por Colbert, ministro de Luís XIV, baseava-se na obtenção de

uma balança comercial favorável, e para isso proibia, as importações e incentivava as

exportações, com vistas a acelerar o desenvolvimento industrial do país. Essas metas somente

(20)

fomento à marinha mercante. Isso era necessário, pois a França não possuía colônias ricas em

metais preciosos.

A acumulação de capital no Mercantilismo se dava de forma primitiva com a apropriação

das riquezas das colônias, destruição das civilizações pré-colombianas, escravização das

populações nativas e tráfico de escravos africanos. Essas riquezas acumuladas eram transferidas

para a Europa.

Apesar das críticas, o Mercantilismo possibilitou uma revolução comercial entre os

países, estendendo o comércio da Ásia até a América; consolidando uma economia mundial;

desenvolvendo a navegação e a produção manufatureira; ampliando as operações financeiras;

aumentando a produtividade agrícola, a mineração e a metalurgia; amealhando, assim, condições

para o desenvolvimento da Revolução Industrial.

Com o advento da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, o Mercantilismo foi

substituído pelo liberalismo econômico, onde o Estado já não interferia tanto na economia, o que

possibilitou o surgimento do capitalismo. A Revolução Industrial ocorre primeiramente na

Inglaterra, pois foi o país que mais se fortaleceu no período do Mercantilismo. A força naval, o

grande desenvolvimento manufatureiro e o acúmulo de metais preciosos possibilitaram o

surgimento na Inglaterra da primeira fábrica no mundo.

Ainda, no século XVIII, acontecimentos marcantes colaboram para a expansão do

mercado internacional, são eles: a independência do Estados Unidos, a publicação da obra A Riqueza das Nações de Adam Smith e a criação do tear a vapor por Robert Fulton, eclodindo a Revolução Industrial.

Neste contexto surgem as denominadas teorias clássicas econômicas, inspiradas no

liberalismo do comércio internacional, surgem como um movimento contra o intervencionismo

(21)

que propunha uma economia dirigida pelo chamado laissez-faire (deixai fazer), e enfatiza que a riqueza do Estado vem do trabalho, e este não deve sofrer ingerência estatal, mas deve ser

administrado pela livre iniciativa dos empresários.

Em sua obra “A Riqueza das Nações”, Smith atacava a teoria Mercantilista, defendendo o

livre comércio como forma propulsora do comércio e do desenvolvimento dos países. O livre

comércio possibilitaria que cada país se especializasse na produção de mercadorias nas quais

possuísse uma vantagem absoluta. Assim, quem produzisse com maior eficiência, exportaria e

importaria apenas aqueles produtos que produzisse com menor eficiência. Haveria, nesse

contexto, uma especialização internacional dos fatores de produção, resultando em um aumento

da produção mundial, que seria compartilhado entre as nações que comercializassem entre si.

Desta forma, um país não se beneficiaria às expensas dos demais. Esse pensamento foi

denominado “Teoria da Vantagem Absoluta”.

Entretanto, a Teoria da Vantagem Absoluta somente explicava uma parte do comércio

internacional, por isso, quarenta anos após a sua formulação, David Ricardo apresentou a Teoria

da Vantagem Comparativa. Esse pensamento previa que uma nação menos eficiente deveria

especializar-se na produção e exportação da mercadoria em que sua desvantagem absoluta fosse

menor, e essa mercadoria teria uma vantagem comparativa. Em contrapartida, a nação deveria

importar a mercadoria em que sua desvantagem absoluta fosse maior, por ser esta a área de sua

desvantagem comparativa. Essa é uma das leis de economia mais famosa e ainda não contestada

e serve como justificativa para o livre comércio, chegando-se ao postulado de que o livre

comércio é quase sempre melhor do que o protecionismo, sendo este um dos poucos pontos que

(22)

consideradas pouco realistas, principalmente considerando as transformações econômicas do século XX. (Cherem: 2003, 57).

A Teoria Clássica da Vantagem Relativa de Ricardo, que veio complementar a teoria de

Smith, da Vantagem Absoluta, colocou por terra o protecionismo da teoria mercantilista. Outra

teoria da escola clássica que suplantou um dos pilares do Mercantilismo, o superávit comercial,

foi a Teoria de David Hume, que demonstrava que o superávit comercial continuado não era

possível, nem desejado para tornar um país rico, uma vez que os fluxos de entrada de espécie

aumentavam os preços domésticos e restabeleciam o equilíbrio do balanço de pagamentos,

eliminado qualquer superávit. Por outro lado, uma escassez da moeda levaria a uma queda dos

preços domésticos e a um superávit dos pagamentos internacionais que traria ao país o montante

de divisas necessárias. Divergindo, assim, por completo do Mercantilismo.

Hume demonstrou que a balança de pagamentos se auto-regula, para assegurar uma oferta

adequada de divisas em todos os países. Ele assinala que os mercantilistas enfatizavam muito um

componente único e de pouca relevância na riqueza nacional, os metais preciosos, e ignoravam a

maior fonte de riqueza de um país, a sua capacidade produtiva.

David Hume foi o primeiro economista do período mercantilista que visualizou as vantagens do comércio internacional, ao afirmar que, mediante o comércio exterior, aumentavam-se os mercados, assim com o suprimento das necessidades internas de cada Estado; conseqüentemente, o incentivo ao comércio internacional acabaria beneficiando todos os Estados mercantis. (Cherem: 2003, 55).

As teorias clássicas pregavam que, com a não-intervenção do Estado e de grupos na

atividade econômica espontânea, ocorreria a liberdade de oferta e de procura e o equilíbrio

econômico do comércio internacional. Portanto, antes da crise da década de trinta e da Segunda

Guerra Mundial, esse era o pensamento dominante no cenário econômico do comércio

(23)

CAPÍTULO 2

A CONSTRUÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL NO PÓS-SEGUNDA GUERRA

MUNDIAL

Com a Grande Depressão dos anos trinta1 e após a Segunda Guerra Mundial, veio

novamente à tona a idéia da necessidade de liberalização do comércio internacional, inclusive

para reduzir o potencial de conflito existente entre as nações, devido às medidas protecionistas e

discriminatórias que se intensificaram nesse período. Em um primeiro momento a proposta de

uma ampla liberalização do comércio internacional teve poucos resultados práticos. A Europa,

um dos principais atores neste contexto encontrava-se envolvida nos esforços internos de

reconstrução econômica decorrente dos efeitos da Grande Guerra em seu território.

(24)

L’histoire économique recente semble également fournir des arguments em faveur du libre-échange. L’expérience de la crise de 1929, marquée par le retour au protectionnisme, a souvent retenu l’attention: il est probable que la fermeture au commerce internacional ait aggravé la dépression, Après 1945, la forte croissance économique des années 50-60 a été tirée par la libéralisation du commerce internacional, qui a égalemet amorti le ralentissement de l’activité économique après 1974.(Combe: 1999, 05).

Além disso, no pós-guerra estava em voga a teoria de Keynes, que tinha como

pressuposto um Estado fortemente intervencionista, contrário, pois, à doutrina liberal. A Teoria

Keynesiana foi um conjunto de idéias que propunha a intervenção estatal na vida econômica, para

conduzir a um regime de pleno emprego, influenciando na renovação das teorias clássicas e na

reformulação da política de livre mercado. O objetivo do keynesianismo era manter o

crescimento da demanda em paridade com o aumento da capacidade produtiva da economia, de

forma suficiente para garantir o pleno emprego, mas sem excesso, pois isto provocaria um

aumento da inflação.

A adoção da Teoria de Keynes não evitaria, contudo, que em quase todos os países

industrializados o pleno emprego e o nível de vida crescente, alcançados nos vinte e cinco anos

posteriores à Segunda Guerra Mundial, fossem atingidos pelos efeitos da inflação. Os

keynesianos admitiram que seria difícil conciliar o pleno emprego e o controle da inflação,

justificando que isso se dava, sobretudo, devido às negociações dos sindicatos com os

empresários gerando aumentos salariais. Por esta razão, foram tomadas medidas que evitassem o

crescimento dos salários e conseqüentemente dos preços, contudo a partir da década de sessenta,

os índices de inflação cresceram de forma alarmante, causando recessões em escala mundial, nas

(25)

Nos países latino-americanos, neste período, eram adotadas as teses chamadas

“Cepalinas”2, pautadas nos esforços de industrialização, via substituição de importações, o que

exigia um forte componente protecionista sobre essas economias, pois pregava que as economias

deviam se tornar quantitativamente menos dependentes do exterior, mudando qualitativamente a

natureza dessas dependências.

Por conta da substancial expansão do comércio internacional, verificada após a Grande

Guerra, até meados da década de 1970, mesmo sob ambiente de ostensiva proteção econômica

pelos países, a proposta da liberalização ficou relegada ao campo das intenções. Nesse cenário

cabia ao Estado a tarefa de assegurar o livre funcionamento do mercado, a justiça social e a

segurança nacional.

Assim serão estudados os mecanismos implementados no comércio internacional após a

Segunda Guerra Mundial.

2.1 A ORGANIZAÇÃO DA ECONOMIA MUNDIAL PELOS ALIADOS - BRETTON

WOODS

O intuito de implementar o liberalismo no sentido de conter os estados totalitários, no fim

da Segunda Guerra Mundial, ensejou a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), que

2

CEPAL – Comissão Econômica para América Latina da ONU.

(26)

passou a representar a base política da ordem internacional pós-guerra, estando esse compromisso

no preâmbulo3 do documento de sua instituição.

A carta da ONU... um documento constitucional da comunidade internacional, na sua

origem, nos seus princípios e normas e nos seus desdobramentos...”. (Lafer: 1977, 69). Esse documento foi assim, uma verdadeira Constituição para os países signatários, dentro do âmbito

do direito internacional.

Nesse período foram criadas também as instituições multilaterais, que visavam regular a

economia mundial, com o que as questões e/ou litígios econômicos deixariam de ser resolvidos

de forma unilateral ou bilateral, e passariam a serem solucionados por organismos internacionais

de forma multilateral, evitando os conflitos diretos entre as nações.

Em decorrência desse movimento internacional foi realizada, de 1º a 22 de julho de 1944,

uma Conferência em Bretton Woods (New Hampshire), nos Estados Unidos, onde foram

discutidos e aprovados os Articles of Agreement (Estatutos) constitutivos do Fundo Monetário Internacional e do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento. Nessa ocasião

foi discutida, ainda, a criação da Organização Internacional do Comércio - OIC, que tinha como

missão coordenar e supervisionar as regras para um novo modelo de comércio mundial, calcado

no multilateralismo e no liberalismo comercial, o que viria a se consolida por meio da Carta de

Havana de 1947.

O Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), hoje um dos

componentes do Banco Mundial, é uma agência especializada da ONU, criada oficialmente em

3

NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS

(27)

1945 para reconstruir a Europa Ocidental e o Japão do pós-guerra. Financiava nesses países

projetos de infra-estrutura, como rodovias, ferrovias e telecomunicações. A partir dos anos

setenta passou a direcionar suas atividades para os países em desenvolvimento, além de também

modificar suas áreas de atuação devido às mudanças econômicas, políticas e ambientais ocorridas

no mundo.

Em seu acordo de constituição o BIRD apresenta como seus objetivos: auxiliar a

reconstrução e o desenvolvimento dos territórios dos membros; promover os investimentos

privados no estrangeiro, através das garantias ou de participações em empréstimos e outros

investimentos realizados por capitalistas particulares; promover o desenvolvimento equilibrado, a

longo prazo, do comércio internacional e a manutenção do equilíbrio das balanças de

pagamentos, encorajando os investimentos internacionais, com vista ao desenvolvimento dos

recursos produtivos dos membros; ordenar os empréstimos que outorgue ou as garantias que

conceba aos empréstimos internacionais provenientes de outras origens, de forma a dar prioridade

aos projetos mais úteis e urgentes, qualquer que seja a sua dimensão; e conduzir as suas

operações tendo em devida conta os efeitos dos investimentos internacionais sobre a situação

econômica dos territórios dos membros e, durante os primeiros anos do pós-guerra, auxiliar a

transição progressiva da economia de guerra para a economia de paz.

O Banco Mundial atua na área de concessão de crédito; assistência técnica aos

países-membros; pesquisas e produção de relatórios periódicos sobre estas; e auxilia o FMI na aplicação

de programas de ajuste econômico nos países em desenvolvimento. Sendo constituído por cinco

instituições estreitamente relacionadas e sob uma única presidência, que são: o Banco

(28)

Corporação Financeira Internacional, que promove o crescimento no mundo em desenvolvimento

mediante o financiamento de investimentos do setor privado e a prestação de assistência técnica e

de assessoramento aos governos e empresas; a Agência Multilateral de Garantia de

Investimentos, que ajuda a estimular investimentos estrangeiros nos países em desenvolvimento,

por meio de garantias a investidores estrangeiros contra prejuízos causados por riscos não

comerciais; e o Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos, que

propicia a solução de disputas - conciliação ou arbitragem - referentes a investimentos entre

investidores estrangeiros e os seus países anfitriões.

Os empréstimos do BIRD podem ser para governos ou para empresas, e atualmente estão

situados na área de agricultura, programas populacionais e educacionais, e projetos ambientais.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), com sede em Washington, também é uma

agência especializada da ONU, fazendo parte do sistema financeiro internacional ao lado do

Banco Mundial. Foi fundado em 1944, na Conferência de Bretton Woods, nos EUA, iniciando

sua atuação em 1945, e tem como objetivos principais promover a cooperação monetária

internacional e favorecer a expansão do comércio de forma equilibrada. Atua oferecendo ajuda

financeira aos países membros com dificuldade econômica, emprestando recursos com prazo

limitado, atuando, principalmente, na defesa da estabilidade do sistema financeiro das economias

em crise.

No seu acordo de constituição tem definidos seus objetivos, que são: promover a

cooperação monetária internacional por meio de uma instituição permanente que forneça um

mecanismo de consulta e colaboração no que respeita a problemas monetários internacionais;

facilitar a expansão e o crescimento equilibrado do comércio internacional; promover a

estabilidade dos câmbios, manter regulares arranjos cambiais entre os membros e evitar

(29)

pagamentos respeitantes às transações correntes entre os membros e a eliminação das restrições

cambiais que dificultam o desenvolvimento do comércio mundial; proporcionar confiança aos

membros, pondo à sua disposição os recursos do Fundo sob garantias adequadas, dando-lhes

assim possibilidade de corrigirem desequilíbrios das suas balanças de pagamento sem recorrerem

a medidas destrutivas da prosperidade nacional ou internacional; e diminuir o grau de

desequilíbrio das balanças internacionais de pagamentos dos paises membros.

A Organização Internacional do Comércio - OIC foi criada pela Carta de Havana de 1947,

em um cenário no qual os países europeus não concordavam, nem tinham interesse em eliminar

as tarifas de importação e os sistemas preferenciais de comércio, pois ainda se recuperavam da

avassaladora Grande Guerra, que devastou o seu território e sua economia. Assim, não poderiam

enfrentar a concorrência da economia norte americana, que se encontrava em plena expansão.

Além disso, a Carta de Havana não garantiu a implantação da OIC, pois para que isso

ocorresse, uma das condições sine qua non, seria a sua ratificação pelo Congresso norte-americano, mas isso não ocorreu, porque havia um temor por parte dos congressistas de que a

criação da organização restringiria a soberania americana, nas questões envolvendo o comércio

internacional e importaria em uma barreira para o desenvolvimento de sua supremacia econômica

frente à Europa.

(30)

Como já naquele momento (1947) era inviável a criação de uma organização mundial, na

área comercial, sem a participação americana4, a OIC não foi implantada, em seu lugar foi

proposto um acordo temporário, denominado Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT,

até que fossem resolvidos os problemas de ratificação da Carta de Havana. Este acordo foi

assinado por vinte e três5 países, dentre eles o Brasil.

Como os problemas de ratificação da Carta de Havana não foram resolvidos, o GATT, no

decorrer dos anos, acabou funcionando provisoriamente como um organismo multilateral, com

sede em Genebra. No período entre 1947 a 1994 se reuniu oito vezes, no sistema chamado de

Rodada de negociações, no qual eram celebrados novos acordos e modificados aqueles

existentes. A última Rodada, dita ciclo do Uruguai, iniciada em 1986 e findada em 1994,

encerou-se com a criação da Organização Mundial do Comércio – OMC. Com isso, foram

criadas as bases modernas do comércio internacional, pois o período de improviso permanente

que o marcou o GATT havia chegado ao fim.

As is widely known, the GATT was never originally intended to be an international organization. Rather the negotiators in the conferences of 1946, 1947, and 1948 contemplated the establishment of an ITO, an International Trade Organization, which would supply the institutional framework for world trade, as a complement to the other Bretton Woods institutions (the World Bank and the International Monetary Fund). The GATT was thought to be merely a reciprocal-tariff reduction agreement (with ancillary related clauses to make such reductions meaningful and to provide nondiscriminatory trade among participating nations) When the ITO failed to come into being (after the US Congress refused to approve US ratification), the GATT (which was applied provisionally by a Protocol of Provisional Application) gradually took over the function and role of the failed ITO as the principal international treaty and institution to provide the legal framework for international trade. (Jackson: 2002, 119).

4

Barral, Welber. O Brasil e a OMC.Curitiba: Juruá, 2003, pg12. 5

(31)

A forma como se desenvolveu esse processo até a criação da OMC será demonstrado a

seguir.

2.2 O ACORDO GERAL DE COMÉRCIO E TARIFAS - GATT – 1947

Como ressaltado anteriormente, a impossibilidade de criação de um organismo

internacional, pela não ratificação dos Estados Unidos da Carta de Havana, possibilitou em 1947

a celebração de um acordo temporário, em Genebra, chamado Acordo Geral de Comércio e

Tarifas – GATT (General Agreement on Tariffs and Trade).

Na primeira negociação de 1947 foram acordadas 45 mil concessões tarifárias, que

atingiram aproximadamente um quinto do comércio mundial, também foram aceitas pelos países

signatários algumas das normas comerciais estipuladas na Carta de Havana, que juntamente com

as concessões tarifárias, compuseram o GATT/1947.

O acordo entrou em vigor em janeiro de 1948 e, paralelamente, continuava a negociação

para a criação da OIC, tendo em vista o caráter temporário do GATT. Em março de 1948, a Carta

da OIC foi aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Emprego, celebrada

também em Havana, de forma simbólica, pois já se sabia que um dos principais atores do

comércio internacional, os Estados Unidos, não iria ratificá-la pelas razões destacadas acima.

O GATT foi instituído com o intuito de favorecer o livre comércio, e para tanto se

baseava em cinco grandes princípios, que deveriam nortear as relações comerciais estabelecidas

entre os países membros, são eles: Cláusula da Nação Mais Favorecida, Lista das Concessões

(32)

A regra da Nação Mais Favorecida - NMF prevê que toda vantagem, favor, privilégio ou

imunidade em direitos tarifários ou aduaneiros, concedidos a uma parte contratante devem ser

estendidos às demais partes contratantes. Essa cláusula já era usada no direito internacional antes

da criação do GATT, sendo inicialmente aplicada em taxas de importação, como no caso do

Tratado de Aliança e Comércio assinado entre Portugal e Inglaterra no ano de 1810. Nesse

acordo foram concedidos privilégios à entrada de mercadorias inglesas no Brasil, mediante a

redução das tarifas de importação de 24% para 15%.

A regra do Tratamento Nacional ou “Regra de Não Discriminação entre Produtos”

estabelece que quando um produto de um país se encontra dentro da fronteira de outro país, este

não pode sofrer discriminação com relação aos produtos nacionais.

A regra da transparência prevê que os países membros devem obrigatoriamente publicar

todos os seus regulamentos e demais medidas relacionadas ao comércio.

A regra da Eliminação das Restrições Quantitativas é no sentido de somente permitir

como instrumento de proteção no comércio internacional às tarifas aduaneiras, sendo que

atualmente há regras especiais para alguns produtos.

Como essas regras foram mantidas no GATT durante toda a sua vigência, e seguem sendo

adotadas na OMC, serão melhor definidas no capítulo referente a esta organização.

2.2.1 A PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO NO GATT/1947

Quanto à participação dos países em desenvolvimento no GATT, firmado em 1947, ela

era bem significativa em número de participantes. No acordo não havia distinção entre o grau de

(33)

à defesa da indústria nascente, situações nas quais os países em desenvolvimento tinham direito a

concessões, por parte dos principais atores do comércio internacional.

Quando os países desenvolvidos se propuseram a regulamentar multilateralmente o comércio internacional, a partir de 1947, e reconheceram a situação econômica dos países em desenvolvimento, e ainda atestaram a existência dessa divisão socioeconômica existente entre os Membros nesse acordo, a ausência de êxito em diminuir essas desigualdades não foi propiciada pela falta de percepção desta realidade, conforme expressado juridicamente.

Inclusive, fica claro que os maiores sacrifícios deveriam ficar a encargo dos países ricos, que desoneraram de responsabilidade os países menos desenvolvidos que necessitavam proteger seus mercados internos. (Cherem: 2003, 94).

O processo de negociação tarifária no GATT começou bilateralmente, seguindo a

chamada “Regra do Maior Exportador”, que determinava que somente o maior exportador de um

produto para um mercado teria o direito de solicitar reduções de tarifas do país importador.

Assim, havia um favorecimento aos países desenvolvidos, em detrimento dos países em

desenvolvimento, pois aqueles se colocavam sempre em condição de impor a pauta de produtos

em negociação. Com o advento da regra de não-discriminação, a redução de tarifas para aquele

mercado se estenderia a outros exportadores, em troca de uma concessão equivalente.

Apesar da existência da Regra de Restrição das Barreiras Quantitativas - que se refere à

impossibilidade dos países membros estipularem barreiras quantitativas aos produtos um dos

outros - ser benéfica aos países em desenvolvimento, a mesma tem sido constantemente violada,

principalmente pelos Estados Unidos. Os americanos, em 1955, impuseram quotas de importação

sobre produtos como açúcar, queijo e carne; na década de noventa sobre os têxteis e o suco de

laranja, e no início deste milênio sobre o aço.

Um dos setores que mais interessava aos países em desenvolvimento, era a agricultura,

(34)

interna de subsídios agrícolas, situação refletida no artigo XVI6, que dividiu os produtos entre

primários (agropecuários) ou não, permitindo subsídios somente para os primeiros.

Demonstrando essa política de não permitir a discussão de produtos agrícolas no âmbito

do GATT, o EUA aprovou uma legislação, em 1951, que eliminou o setor agrícola das

negociações internacionais prejudicando, ainda mais, os interesses fundamentais dos países em

desenvolvimento. Além disso, o GATT não impediu que perdurassem as políticas americana,

japonesa e européia de subsídios à agricultura. Em conseqüência se perpetuaram as distorções

mundiais em relação à liberalização do comércio, tendo em vista que, os principais produtos dos

6Artículo XVI: Subvenciones Sección A - Subvenciones en general

1. Si una parte contratante concede o mantiene una subvención, incluida toda forma de sostenimiento de los ingresos o de los precios, que tenga directa o indirectamente por efecto aumentar las exportaciones de un producto cualquiera del territorio de dicha parte contratante o reducir las importaciones de este producto en su territorio, esta parte contratante notificará por escrito a las PARTES CONTRATANTES la importancia y la naturaleza de la subvención, los efectos que estime ha de ocasionar en las cantidades del producto o de los productos de referencia importados o exportados por ella y las circunstancias que hagan necesaria la subvención. En todos los casos en que se determine que dicha subvención causa o amenaza causar un perjuicio grave a los intereses de otra parte contratante, la parte contratante que la haya concedido examinará, previa invitación en este sentido, con la otra parte contratante o las otras partes contratantes interesadas, o con las PARTES CONTRATANTES, la posibilidad de limitar la subvención.

Sección B - Disposiciones adicionales relativas a las subvenciones a la exportación

2. Las partes contratantes reconocen que la concesión, por una parte contratante, de una subvención a la exportación de un producto puede tener consecuencias perjudiciales para otras partes contratantes, lo mismo si se trata de países importadores que de países exportadores; reconocen asimismo que puede provocar perturbaciones injustificadas en sus intereses comerciales normales y constituir un obstáculo para la consecución de los objetivos del presente Acuerdo.

3. Por lo tanto, las partes contratantes deberían esforzarse por evitar la concesión de subvenciones a la exportación de los productos primarios. No obstante, si una parte contratante concede directa o indirectamente, en la forma que sea, una subvención que tenga por efecto aumentar la exportación de un producto primario procedente de su territorio, esta subvención no será aplicada de manera tal que dicha parte contratante absorba entonces más de una parte equitativa del comercio mundial de exportación del producto de referencia, teniendo en cuenta las que absorbían las partes contratantes en el comercio de este producto durante un período representativo anterior, así como todos los factores especiales que puedan haber influido o influir en el comercio de que se trate.

4. Además, a partir del 1º de enero de 1958 o lo más pronto posible después de esta fecha, las partes contratantes dejarán de conceder directa o indirectamente toda subvención, de cualquier naturaleza que sea, a la exportación de cualquier producto que no sea un producto primario y que tenga como consecuencia rebajar su precio de venta de exportación a un nivel inferior al del precio comparable pedido a los compradores del mercado interior por el producto similar. Hasta el 31 de diciembre de 1957, ninguna parte contratante extenderá el campo de aplicación de tales subvenciones existente el 1º de enero de 1955 instituyendo nuevas subvenciones o ampliando las existentes.

(35)

países em desenvolvimento eram agrícolas, portanto, sem condições de concorrer com o preço

subsidiado dos países desenvolvidos.

O GATT marca, para voltar a Flory, a passagem da regulação bilateral do comércio internacional ao multilateralismo com fulcro na reciprocidade e na não-discriminação. Entretanto, é de se notar que, ao contrário da Carta de Havana, que tinha nítidas preocupações com o desenvolvimento econômico e o pleno emprego – devotando, assim, atenção especial aos países em desenvolvimento -, o GATT surgia com o único intuito de liberalizar o comércio em nível mundial. Por isso, não foi sem razão que os países em desenvolvimento protestaram por muitos anos...(Saba: 2002, 77).

Apresenta-se, assim, de forma clara, que a participação dos países em desenvolvimento no

GATT de 1947, não lhes trouxe nenhum benefício efetivo, a não ser a concessão para proteção de

sua indústria, ainda muito incipiente.

2.3 A CONSOLIDAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL, POR MEIO DAS

RODADAS DO GATT

Durante a vigência do GATT foram realizadas oito rodadas de negociações, visando o

livre comércio mundial, sendo estas: Genebra, Suíça (1947); Annecy, França (1949); Torkay,

Reino Unido (1950-51); Genebra, (1956); “Dillon”, Genebra, (1960-62); “Kennedy”, Genebra

(1964-67); Tóquio, Japão, (1974-79); e Uruguai (Punta del Este, 1986-93).

Ao longo das oito rodadas de negociações, as tarifas foram o ponto básico dos

negociadores, sendo reduzidas da seguinte foram: 1947 - redução de 45.000 tarifas; 1949 -

redução de 5.000 tarifas; 1951-redução de 8.700 tarifas; 1956 - novas bases tarifárias no valor de

US$ 2.500.000,00; 1960-61 - 4.400 reduções tarifárias; 1964-67 - redução de direitos tarifários

(36)

serviços, propriedade intelectual, resolução de disputas, têxteis, agricultura, criação da OMC e

outros7.

Nas Rodadas ocorridas entre 1949 a 1961 foram tratadas apenas reduções tarifárias, sem

significativos avanços em outros tipos de barreiras comerciais, principalmente quanto ao setor

agrícola. Todavia, a partir da sexta rodada, a Kennedy, outros assuntos foram incluídos nas

negociações, passando-se a discutir redução de tarifas em bases mais amplas, e naquela

oportunidade foi negociado um Acordo Plurilateral8 Antidumping. Além disso, foi criada uma

secção sobre desenvolvimento, e pela primeira vez a Comunidade Econômica Européia9

negociou em bloco.

Após a assinatura do GATT houve grandes progressos na implantação do livre comércio,

em 1947 as tarifas dos países desenvolvidos sobre os produtos manufaturados eram em torno de

40% e no ano de 2000, essa média era de menos de 4%10. Esses dados são em relação aos países

desenvolvidos, pois no caso dos países em desenvolvimento esses patamares ainda não haviam

sido alcançados. Assim, o objetivo inicial do GATT de liberalização do comércio mundial tem

sido alcançado, pois a redução, pelo menos no setor tarifário, é significativa, desde a sua

implantação, restando apenas alcançar um maior avanço nas barreiras não tarifárias.

7

Fonte: www.wto.org

8 Plurilateral, porque somente obrigava as partes signatárias, não todos os Membros do GATT. 9

De 1957 (Tratado de Roma) até 1992, a união dos países europeus era denominada Comunidade Européia, em 1992 com o Tratado de Maastricht essa união passa a chamar União Européia. A Comunidade Econômica Européia possibilitava a livre circulação de mercadoria, pessoas e serviços, sendo um Mercado Único, já a União Européia se dá com a delegação de soberania dos seus membros e a formação de uma esfera político- jurídica supranacional. 10

(37)

2.4 A CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O COMÉRCIO E

DESENVOLVIMENTO – UNCTAD

Para que se possa entender a atuação dos países em desenvolvimento no comércio

mundial, há que se analisar a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e

Desenvolvimento – UNCTAD e o Sistema Geral de Preferências-SGP.

A UNCTAD foi criada em 1960, por requerimento do chamado G-77, que é um grupo de

países em desenvolvimento (hoje com cento e trinta e dois membros) que compunham a ONU. O

objetivo desse grupo era beneficiar os países mais pobres no comércio internacional, por meio de

um sistema de preferencial diferenciado nas relações comerciais. “La Conférence des Nations unies sur le commerce et le développement (CNUCED) est le principal organe de l’Assemblée générale des Nations unies dans le domaine du commerce et du développement”.(Khavand, 1995, p.32).

O contexto histórico de nascimento da UNCTAD se dá com a posição dos países em

desenvolvimento e do leste europeu (comunistas) de que o sistema de comércio internacional era

dominado pelos países ricos industrializados. Os preços dos produtos primários (matérias primas

e produtos agrícolas), que os países em desenvolvimento exportavam, eram baixos,

impossibilitando o desenvolvimento destes, bem como impossibilitava que estes produzissem

produtos manufaturados, que lhes poderiam advir receitas mais substanciais.

Com este desequilíbrio, os países menos desenvolvidos começaram a atuar, em 1961,

numa frente unitária de pressão sobre os países desenvolvidos, para introdução de profundas

(38)

economia, quer em Conferências do Terceiro Mundo, quer na Assembléia Geral da Organização

das Nações Unidas, onde os países em desenvolvimento eram em maioria numérica.

Esses países achavam que o GATT não lhes propiciava condições de desenvolvimento,

por isso foi feito um requerimento para que a ONU implantasse uma conferência internacional

sobre o comércio e o desenvolvimento, que tivesse como foco na busca de uniformidade no

comércio internacional e que beneficiasse a todos.

As funções da UNCTAD são:

“...formular principio y políticas sobre comercio internacional y sobre problemas afines del desarrollo económico e iniciar medidas para la negociación y aprobación de instrumentos multilaterales en la esfera del comercio internacional. La Conferencia no posee, pues, funciones decisorias, pero sirve de fora para la discusión y negociación.” (Ridruejo: 2001, 754).

Como o objetivo desse trabalho é demonstrar a atuação dos países em desenvolvimento

no comércio internacional, o enfoque dessa Conferência no âmbito da ONU se faz necessário,

para se compreender os avanços obtidos e a atuação destes no cenário mundial.

2.4.1 O SISTEMA GERAL DE PREFERÊNCIAS

Em 1970, no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o

Desenvolvimento (UNCTAD) foi criado o Sistema Geral de Preferências (SGP), visando que os

países desenvolvidos concedessem isenções ou reduções de tributos incidentes sobre a

importação de determinados produtos procedentes de países em desenvolvimento, sem

(39)

De outro lado, la UNCTAD propuso em 1968, por la resolución 21(II), um sistema de preferências generalizadas tendente a la exención o reducción sin reciprocidad por parte de determinados países desarrollados de derechos de aduanas y límites cuantitativos (contingentes) respecto a un elevado número de procuctos industriales, manufacturados o semimanufacturados, fabricados em los países em desarrrollo. El sistema comportaba la necesidad de derogar la cláusula de la nación mas favorecida proclamada en el artículo 25 del GATT, derogación que se consigue en 1971 por un período de diez años, posteriormente prorrogado, y que ha permitido a los más importantes Estados industrializados, incluidos los miembros de la Comunidad Económica Europea, conceder las preferencias generalizadas a la mayor parte de los países en desarrollo; concesión que de todos modos tiene carácter discrecional y temporal. (Ridruejo: 2003, 754).

Sob o auspício do SGP, países desenvolvidos oferecem, de forma unilateral, preferências

tarifárias para uma determinada relação de produtos para os países em desenvolvimento, sem a

exigência de reciprocidade. Visando que o SGP não sofra fraudes por parte dos países

desenvolvidos é exigida a apresentação de um certificado de origem, denominado "Form A"

(Formulário A), cujo modelo uniforme foi aprovado pela UNCTAD. Para comprovar a

nacionalidade do produto é usado o chamado regime de origem, que sofre pequenas variações

dependendo do país.

Esse regime é importante para a habilitação ao benefício preferencial àqueles bens que

foram produzidos no país de origem. Os EUA e alguns outros países adotam como regra básica o

critério do percentual mínimo de componentes nacionais, que têm de ser agregados ao produto

final, para que este possa usufruir o tratamento preferencial.

O SGP foi implantado pelo GATT, em 25 de junho de 1971, quando as partes signatárias

decidiram abster-se da aplicação de seu Artigo I11 por um período de 10 anos em relação aos

11Artículo I: Trato general de la nación más favorecida

(40)

produtos originários dos países em desenvolvimento.”... the GATT articles were revised to permit, among other things, the Generalized System of Preferences for developing countries. This permitted unilateral discrimination, in the form of tariff remissions, for developing countries “(Krueger: 1998, 5). Em 28 de novembro de 1979, na conclusão da Rodada Tóquio foram criadas

as bases legais para o favorecimento dos países em desenvolvimento, com a introdução, em

definitivo do SGP no GATT, que foi mantido no acordo da OMC de 1994.

concedido inmediata e incondicionalmente a todo producto similar originario de los territorios de todas las demás partes contratantes o a ellos destinado.

2. Las disposiciones del párrafo 1 de este artículo no implicarán, con respecto a los derechos o cargas de importación, la supresión de las preferencias que no excedan de los niveles prescritos en el párrafo 4 y que estén comprendidas en los grupos siguientes:

a) preferencias vigentes exclusivamente entre dos o más de los territorios especificados en el Anexo A, a reserva de las condiciones que en él se establecen;

b) preferencias vigentes exclusivamente entre dos o más territorios que el 1º de julio de 1939 estaban unidos por una soberanía común o por relaciones de protección o dependencia, y que están especificados en los Anexos B, C y D, a reserva de las condiciones que en ellos se establecen;

c) preferencias vigentes exclusivamente entre los Estados Unidos de América y la República de Cuba;

d) preferencias vigentes exclusivamente entre países vecinos enumerados en losAnexos E y F.

3. Las disposiciones del párrafo 1 del presente artículo no se aplicarán a las preferencias entre los países que antes formaban parte del Imperio Otomano y que fueron separados de él el 24 de julio de 1923, a condición de que dichas preferencias sean aprobadas de acuerdo con las disposiciones del párrafo 5 del artículo XXV, que se aplicarán, en este caso, habida cuenta de las disposiciones del párrafo 1 del artículo XXIX.

4. En lo que se refiere a los productos que disfruten de una preferencia* en virtud del párrafo 2 de este artículo, el margen de preferencia, cuando no se haya estipulado expresamente un margen máximo de preferencia en la lista correspondiente anexa al presente Acuerdo, no excederá:

a) para los derechos o cargas aplicables a los producto-s enumerados en la lista indicada, de la diferencia entre la tarifa aplicada a las partes contratantes que disfruten del trato de nación más favorecida y la tarifa preferencial fijadas en dicha lista; si no se ha fijado la tarifa preferencial, se considerará como tal, a los efectos de aplicación de este párrafo, la vigente el 10 de abril de 1947, y, si no se ha fijado la tarifa aplicada a las partes contratantes que disfruten del trato de nación más favorecida, el margen de preferencia no excederá de la diferencia existente el 10 de abril de 1947 entre la tarifa aplicable a la nación más favorecida y la tarifa preferencial;

(41)

2.4.2 A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO E A DEFINIÇÃO QUANTO AO

GRAU DE DESENVOLVIMENTO DOS PAÍSES

A OMC reconhece como países menos adiantados (PMA), os países que foram

designados desta maneira pelas Nações Unidas. Atualmente, há 5012 países menos adiantados na

lista das Nações Unidas, 32 dos quais são membros da OMC.

Enfatizemos, no entanto, que em nenhum texto dos Acordos da OMC se encontra uma conceituação de PMDs: tanto os países mais pobres da África, cuja economia estagnou ou mesmo involuiu nos últimos anos – como a Nigéria, cuja renda per capita mal chega aos US$ 300/ano - quanto os Novos Países Industrializados – cuja renda per capita atinge US$ 5.000/ano, no caso do México e US$ 9.000/ano, caso da Coréia do Sul – situam-se nesse grupo (chamado, genericamente, de “países de menor desenvolvimento relativo”, ex vi

do Artigo XI.2 do Acordo Constitutivo), o que significa que a maioria dos Membros da OMC, em tese ao menos, recebe tratamento legal benevolente segundo a regra do GATT. O Brasil, cuja renda per capita situa-se em nível ligeiramente inferior à do México, sem dúvida uma das importantes “economias emergentes” do globo, também se enquadra no grupo dos PMD’s, ao menos para os efeitos da OMC (Cretella: 2003, 41).

A OMC não elaborou definições claras de países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Os países em desenvolvimento se designam sobre a base da auto-seleção, ou seja, eles é que

definem o seu grau de desenvolvimento.

2.5 A RODADA TÓQUIO

A Rodada Tóquio ocorreu entre os anos 1973 e 1979 com a participação de cento e dois

países, sendo esta a primeira que realmente discutiu os obstáculos ao comércio, que não

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