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Sinopse. Mas Copeland Justice é o melhor mentiroso de todos nós.

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Academic year: 2022

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Aviso

A tradução foi efetuada pelo grupo Warriors Angels of Sin (WAS) e The Book Thief, de modo a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os ao leitor, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto.

Levamos como objetivo sério, o incentivo para o leitor adquirir as obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser no idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo WAS poderá, sem aviso prévio e quando entender necessário, suspender o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização dos mesmos, daqueles que forem lançados por editoras brasileiras. Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar nas redes sociais bem como tornar público o trabalho de tradução do grupo, sem que exista uma prévia autorização expressa do mesmo.

O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo o grupo WAS de qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em eventual delito cometido por aquele que, por ato ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a presente obra literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998.

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Sinopse

Estou apaixonado pelo meu melhor amigo.

Mentira.

Estou apaixonado pelo meu inimigo.

Verdade.

Mas eles são a mesma pessoa.

Eles. São. A. Mesma. Pessoa.

As linhas do meu mundo estão embaçadas entre fantasia e realidade.

Verdades e mentiras. Amor e ódio.

Copeland Justice é meu inimigo. Meu melhor amigo certa vez. O sádico no meu coração arranca e a puxa cada fio do que sou até ser desvendado aos seus pés.

Sua boca diz que ele me odeia. Seus olhos ardem de animosidade por mim. Seu coração bate por outra pessoa.

Mas Copeland Justice é o melhor mentiroso de todos nós.

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Mergulhe sua alma no amor.

Mergulhe sua alma no amor.

— Radiohead

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Playlist

Ouça no Spotify Aqui.

Lie by NF

Not So Bad in LA by Allie X StarCrossed by MissThis Baby by Bishop Briggs

Sunshower by Christ Cornell Movement by Hozier

Be Alright by The Dandy Warhols Kill the Sun by Cane Hill

Broken by lovelytheband Love on the Brain by Rafferty Numb by Meg Myers

Hi-Lo (Hollow) by Bishop Briggs New Blood by Zayde Wolf Sorry by Meg Myers

I Really Want You to Hate Me by Meg Myers I Don’t Give A… by MISSIO

Twisted by MISSIO Lyin’ by Bishop Briggs

I Don’t Love You by Cruel Youth

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Flawless by The Neighbourhood Bloodstream by Transviolet

Just Tonight by The Pretty Reckless Blood // Water by Grandson

Wolf by Highly Suspect Blue Eyes Blind by ZZ Ward Ego by Tribe Society

Outta My System by Tribe Society Hypnotic by Zella Day

High by Zella Day Run by Hozier

The Night We Met by Lord Huron Boys Better by The Dandy Warhols Karma Police by Radiohead

So Real by Jeff Buckley

I Don’t Know Anything by Mad Season Meet Me in the Hallway by Harry Styles

Back to You by Louis Tomlinson and Bebe Rexha Just Like You by Louis Tomlinson

They Don’t Know About Us by One Direction Drag Me Down by One Direction

Dusk Till Dawn by ZAYN and Sia Seeing Things by The Black Crows Lights Down Low by Max and Gnash Street Spirit (Fade Out) by Radiohead

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18 by One Direction Better Love by Hozier

Two of Us by Louis Tomlinson

Love the Way You Lie by Eminem and Rihanna

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Prólogo

Penn

Mentiras.

Todo mundo mente.

Nem todo mundo mente bem.

Eu sou uma dessas pessoas. Um mentiroso ruim. Minhas verdades são como pequenos lampejos de luz. Estrelas piscando no céu negro como tinta. Elas apontam para o mar de pessoas abaixo de mim, revelando que não sou nada além de um sorriso de plástico derretendo na dura chama da realidade.

E minha realidade dói como o inferno.

Sob minhas fracas tentativas de fingir felicidade, sou um vazio. Um deserto no vazio. Pingando nada em uma piscina infinita de nada.

Minha dor é a verdade que melhor conheço.

Dolorida, devastadora, desejosa.

A solidão que arrasta todas as minhas células em suas profundezas escuras é quase demais para suportar. Alguns dias eu mal consigo respirar. O sofrimento é um sádico, me cortando pouco a pouco, dia a dia, até que um dia eu esteja completamente esgotado. Seco e oco. Um último chute no coração antes que eu esteja espalhado no vento, esquecido.

Estou apaixonado pelo meu melhor amigo.

Mentira.

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Estou apaixonado pelo meu inimigo.

Verdade.

Mas eles são iguais. Eles. São. O. Mesmo. As linhas do meu mundo estão embaçadas entre fantasia e realidade. Verdades e mentiras. Amor e ódio.

Copeland Justice é meu inimigo. Meu melhor amigo certa vez. O sádico no meu coração arranca e a puxa cada fio do que sou até ser desvendado aos seus pés.

Sua boca diz que ele me odeia. Seus olhos ardem de animosidade por mim.

Seu coração bate por outra pessoa.

Mas Copeland Justice é o melhor mentiroso de todos nós.

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Capítulo 1

Penn

O papel bate na minha mesa e eu me encolho. Um “F” vermelho-sangue está escrito no topo e circulado várias vezes. Quase posso imaginar a veia do treinador Sullivan latejando na testa enquanto avaliava meu trabalho de história.

Os círculos furiosos em torno da letra escarlate são uma indicação de sua raiva naquele momento.

Estou ferrado.

Levantando meu olhar, encontro os intensos olhos azuis do treinador. Sua mandíbula tensa. —Depois da aula, McAlister.

—Sim, senhor — resmungo, afastando meus olhos dos seus furiosos, para que ele vá franzir o cenho para outra pessoa. Ele permanece por mais um tempo, pairando acima de mim como uma vespa furiosa pronta para picar, e então ele se afasta. Eu ouço gemidos atrás de mim. Um sorriso puxa meus lábios, sabendo que não sou o único aluno aqui que falhou no trabalho.

Mas, ao contrário de Will Foster ou Talia Stevens na mesa atrás de mim, me preocupo em ficar no banco de reservas no jogo desta noite. Se eu ficar no banco, papai vai perder a cabeça.

Esfrego a tensão que está formando um nó na base do meu crânio e tento descobrir como explicarei isso ao papai. Desculpas não são aceitáveis. Os McAlisters são responsáveis por suas ações. Isso nos torna pessoas respeitáveis e

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confiáveis em nossa comunidade. As palestras de papai são mais adequadas para a sala de reuniões. No entanto, ele administra nossa casa como se mamãe e eu fôssemos seus funcionários. Estamos sempre sendo avaliados. Um movimento em falso e iremos para rua. Embora não tenha certeza do que exatamente vai acontecer quando mamãe e eu chegarmos a esse ponto. Ele se divorciará dela?

Me expulsará? Pior ainda, ele vai nos tirar nossos cartões de crédito? Papai, como qualquer autoritário, governa nossa casa controlando o fluxo de caixa. Injeta quando o deixamos orgulhoso. Tira quando insultamos o nome McAlister.

Estamos sempre sob inspeção. E quando isso não funciona, o lado oposto dele cria um argumento bastante convincente. A linha que andamos é estreita e reta.

Sou tudo menos reto1.

A dor que mantenho sob uma tampa ameaça transbordar. Eu costumava odiar a dor, mas agora estou ficando viciado nela. Porque minha dor é ele. Só de pensar nele, meus olhos se arrastam pela sala.

Não faça isso.

Não olhe para ele.

Mas eu olho. Sempre olho. Porque ver o que eu vejo vale a pena o que eventualmente é atirado de volta para mim. Um momento de felicidade. Olhar para sua perfeição antes que ele me pegue. Ele sempre me pega, cada vez mais punitivo que a anterior.

E ainda assim…

Ele está sentado de forma inclinada na cadeira, com as pernas compridas esticadas à sua frente, os cabelos escuros caídos sobre as sobrancelhas enquanto olha para o telefone. Cabelo preto. Camisa preta. Calça preta. Unhas pintadas de

1 Em inglês “straight”, que além de reto, significa hétero, daí o duplo sentido da frase. ^_^

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preto. Alma negra. Seus lábios se contraem um pouco enquanto olha para o dispositivo. O calor sobe pela minha espinha. A atração que sinto por ele é um inferno punitivo que arde dentro de mim. Sempre. Desde que éramos pré- adolescentes. Tentei controlar no começo. Tentei esconder o que sentia pelo meu melhor amigo enquanto ele falava sobre garotas de quem gostava e com quem costumava namorar. Era um certo tipo de agonia sentar e suportar aqueles sorrisos destinados a outras pessoas.

Eu fiz isso, no entanto.

Eu fiz isso por ele.

Até que uma noite eu fiz algo por mim.

Álcool roubado do armário de bebidas dos meus pais. Uma festa do pijama entre amigos. Nadar tarde da noite na piscina. E um beijo. Um beijo induzido por álcool por um garoto de dezesseis anos apaixonado por seu melhor amigo. Um beijo fatal. O beijo da morte. O beijo que matou nossa amizade e deu origem a um ódio monstruoso.

Como se ele estivesse ali comigo naquela noite, seus ombros tensos. Eu deveria desviar o olhar. Fingir que estou mais interessado em saber como o treinador vai me punir depois da aula. Qualquer coisa além de olhar para o fogo furioso que somente ele pode criar. Em vez disso, espero. Eu me preparo para a sua tempestade.

Sua cabeça vira um pouco e seus olhos azuis gelados disparam para os meus, queimando com suas emoções ocultas. Raiva é a mentira dele. Traição é a verdade que ele protege por trás disso. Eu nos arruinei. Arruinei dezesseis anos de amizade. Nós éramos vizinhos que cresceram como irmãos. Nosso vínculo era inquebrável... até que o quebrei.

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Normalmente, seu olhar fixo dura apenas um breve momento. Tempo suficiente para disparar palavras vis e não ditas na minha direção — palavras transmitidas silenciosamente por uma cintilação em seus olhos e um rosnado pela curva do lábio superior — antes de me evitar como se eu não existisse. Esse momento em que tenho sua atenção total é o meu triste vício. Meu momento da verdade. Exponho-me a ele por segundos enquanto ele me esfola até os ossos com uma memória compartilhada apenas entre nós. Mas, como qualquer droga ou vício, sou deixado me sentindo vazio assim que desaparece do meu sistema.

Eu me contorço por mais. A dor me consome a tal ponto que mal consigo pensar direito. Deus, como dói.

Você é gay. Eu não sou. Você me enoja.

Esse é o grande elefante na sala que ninguém mais pode ver além de nós.

O elefante está de preto e com raiva e tem dentes.

Para todos os outros, Copeland é outro garoto sombrio e desviante e eu sou o atleta feliz. Dois caras de diferentes grupos sociais. O pobre Copeland Justice é desprezado, rebelde e deprimido. Penn McAlister é reverenciado e adorado e tem futuro. As mentiras que se prendem a nós como uma segunda pele coçam. Eu quero arrancá-las de mim e fazê-los ver. Mostrar-lhes que estou quebrado e doente. Que meu coração está despedaçado e não sei como parar o sangramento.

Principalmente, quero afastar as mentiras de Cope.

Eu quero colocá-lo na frente do espelho e mostrar quem ele é.

Não uma aberração desajustada.

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Arruinado. Copeland Justice está arruinado. Um mentiroso arruinado que brinca com as pessoas ao seu redor. Conta histórias que ele quer que eles vejam.

Pinta quadros não tão bonitos de si mesmo e chama isso de arte.

Ele nem sempre foi assim.

Uma vez, ele foi como eu.

Éramos dois meninos diferentes dos nossos pais ricos. Nós dois tínhamos valores — um código pelo qual vivíamos. Uma irmandade. O sangue não importava porque nosso vínculo corria por nossas veias.

Eu nos cortei e sangramos.

Agora ele é uma fraude e minha alma está morta.

—McAlister, o treinador grita.

Afasto-me do meu tumulto interno e franzo o cenho enquanto pego minha mochila. Jogando por cima do ombro, vou até a frente para pegar minhas advertências verbais. Vários alunos me lançam olhares simpáticos.

—O que está acontecendo com você? — Ele pergunta, sua voz ainda dura, mas perdendo o tom agudo.

—Nada. — Não consigo encontrar os olhos dele. A palavra é verdade e ele pode lê-la claramente como o dia. Mas o treinador interpreta mal. Nada está errado. O vazio no meu coração está errado. A solidão está errada.

—Não sei se acredito exatamente nisso, — ele resmunga. — Independentemente disso, este F é um problema.

Dou-lhe um aceno curto e aperto minha mandíbula, pronto para receber meu castigo. Ficarei no banco. Um dos maiores jogos da temporada e não vou jogar. Estou com raiva de mim mesmo por ter falhado no trabalho que era uma parte muito grande da minha nota, mas a raiva não vai me tirar dessa confusão.

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Tempo é a única coisa que tenho do meu lado. Eventualmente, com o tempo, essa será uma memória distante.

O treinador solta um suspiro pesado. —Precisamos de você no jogo de hoje à noite.

—Sinto muito, — murmuro.

Ele se inclina para frente na mesa e entrelaça os dedos. A sala de aula há muito se esvaziou, me deixando com a minha mais nova tortura agora que Copeland não está mais aqui distribuindo a dele. As palestras do treinador são tão dolorosas quanto às de papai. Quase. A diferença é que o treinador não termina com um chute nas costelas.

—Você vai refazer isso. Vou garantir que você receba um passe pelo resto do dia. Vá para a biblioteca e transforme esse F em um C. Eu o quero de volta na minha mesa depois que o sinal final tocar.

Eu viro os olhos para encontrar os dele. —O que? Você está me deixando reescrevê-lo?

—Edison tem uma grande chance este ano. Sem você, estamos praticamente dando o campeonato de presente para eles. — Seus lábios se juntam. —Não podemos perdê-lo por ‘nada’. O que quer que esteja acontecendo com você, conserte. Se alguma garota está te afetando, encontre uma maneira de se endireitar. Esses jogos são críticos não apenas para nós, mas para você. Seu jogo determina seu futuro. Ficar no banco por causa de um F não ajudará você a entrar na faculdade que deseja. Seu pai pode ser rico como o inferno, mas mesmo dinheiro e um bom nome de família não ajudam a jogar bola na faculdade.

Estou surpreso que ele me permita fazer isso. Quero dizer, a carreira dele também está em jogo. Se perdermos nesta temporada, parece ruim para o

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treinador. É uma merda a minha capacidade de fazer uma média necessária afetar tantas pessoas. O trabalho do treinador. A reputação do papai. Meu futuro.

—E McAlister? — o treinador diz humildemente. — Não mencione essa segunda chance. Benson e Hoffman falharam, mas não são críticos para este jogo.

Se vencermos contra Edison, o resto da temporada é nossa. Precisamos do nosso quarterback. Tire sua cabeça das nuvens. Preciso que você me traga um C e, em seguida, preciso que saia e jogue o seu melhor. Estamos entendidos?

—Sim, senhor — resmungo, irritado por ele estar me dando um tratamento especial.

—Vá em frente agora. Seu tempo está passando e estamos contando com você.

Sem pressão, treinador. Sem pressão.

Estou digitando meu trabalho quando ouço risos familiares por perto. Eu me arrepio porque conheço essa risada maligna. Ivy Cunningham. Alta, loira e cruel. Ela também é namorada de longa data de Copeland. Eu nunca a vi ser legal com ninguém. A única pessoa a quem ela é remotamente suportável é Cope. Eu me pergunto por que ele a tolera.

Ela aparece, logo depois de uma fila de estantes de livros, e sei o motivo. A garota é linda de morrer. Linda como uma modelo de passarela. Seu corpo é magro e curvilíneo nos lugares certos. Uma verdadeira deusa entre um mar de

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humildes mortais. Até eu, um gay apaixonado pelo seu namorado, não posso ignorar a beleza dela. Meu olhar desliza pelo seu corpo de suas botas pretas de salto alto, por suas leggings pretas, por cima de sua túnica preta, antes de parar no batom vermelho escuro. Seus brilhantes olhos verdes, seus lábios vermelhos e seu cabelo selvagem de ondas louras da praia são a única cor nela. Ela, como Cope, parece preferir o preto a todas as outras cores. Eles são um casal diabólico.

Um rei e rainha da transgressão.

Quando ela me pega olhando, um canto de seus lábios se levanta. Uma vez, no ensino médio, quando ela usava rosa em vez de preto, ela se apaixonou por mim. Eu sempre encontrava cartas escritas nos floreios femininos dela na minha mochila. Foi estranho, porque eu não tinha nenhuma atração por ela. Ivy era bonita — ainda é, aliás — mas não meu tipo.

Meu tipo dá a volta no canto, sem perceber minha presença a princípio. Ele prende Ivy pela cintura e a empurra contra as prateleiras. Seu sorriso por ela faz meu coração pular uma batida no meu peito e uma onda de calor deslizar sobre a minha carne. Ela dá um tapa de brincadeira no rosto dele, mas depois agarra a frente da sua camisa, puxando-o para mais perto. Antes que seus lábios se encontrem, a cabeça dele lentamente se vira para mim. O sorriso em seu rosto se esvai e seus olhos azuis brilham com ódio.

Tudo o que posso fazer é olhar.

É tudo o que posso fazer.

Sou confiante em todos os aspectos da minha vida, exceto quando se trata de Cope.

Com seus olhos nos meus, ele beija seus lábios carnudos. Belisca no lábio inferior. Me provoca com o que nunca terei.

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Eu não consigo desviar o olhar.

Eu o vejo beijá-la arrogantemente. Só pelo espetáculo. Muita língua e pouca emoção. Ele a beija para me punir. Cada segundo me ataca dolorosamente.

E ainda não consigo afastar meus olhos deles.

Entediado com seu beijo, ele se afasta dela e vira na minha direção. Comigo sentado e ele parado ali parecendo um semideus que subiu das profundezas do inferno, tudo o que posso fazer é permanecer rígido. É como se ele pudesse realmente falar comigo. Uma dor queima por dentro. Um desejo tão intenso que dói.

Ele dá um passo à frente.

Ivy aperta o pulso dele. O ciúme explode em suas esferas verdes. Ela está brava porque a atenção dele saiu dela. Que sou o sortudo nesse momento.

— O que é isso? — ele exige, sua voz fria e cruel.

Eu rompo seu olhar para olhar para o meu livro de história aberto e o trabalho no meu laptop. — Uh —, eu resmungo, incapaz de encontrar palavras.

—Uh... uh... uh... — Ivy zomba. — Acho que ele foi derrubado muitas vezes, Cope.

Cope se irrita com suas palavras. — Compre uma Pepsi para mim. — Ele pega algumas notas do bolso e as empurra na mão dela.

Seu corpo fica tenso ao receber a ordem. Ela abre a boca como se quisesse argumentar, mas, em vez disso, pega o dinheiro dele. — Seja como for —, ela resmunga e sai depressa.

Seus olhos azuis gelados se estreitam quando ele se aproxima. Eu sinto um cheiro do seu perfume familiar e ele queima através de mim, deixando a dor no seu rastro. — O que é isso? — ele pergunta novamente, sua voz baixa e mortal.

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Aperto minha mandíbula e dou de ombros. —Trabalho de história.

—O que você falhou? — ele zomba. —O treinador deve realmente precisar de você no jogo de hoje à noite.

A vergonha me dá um soco no estômago. Copeland de todas as pessoas sabe qual é a sensação às pessoas que criam circunstâncias especiais por causa do nome de sua família. Ele apenas finge o contrário. No final do dia, porém, seu pai dirige esta cidade com sua carteira recheada.

—Sim, — resmungo, irritação afugentando minha dor. Lutamos como irmãos crescendo. Algumas vezes, brigamos feio e tenho cicatrizes até hoje. O nariz de Cope tem uma marca que eu coloquei nele. Mas apesar de toda a nossa luta, éramos mais próximos do que dois meninos poderiam ser.

Até não sermos.

Ele coloca a palma da mão no meu livro de história e se inclina para ler o que estou escrevendo. Sua proximidade me tira do meu eixo. Eu anseio por me apoiar nele — lembrar como é tocá-lo. Em vez disso, fico completamente imóvel.

Como se ele fosse uma cobra pronta para atacar se eu fizer um movimento errado.

Ele faz um show exagerado de cheirar o ar, me fazendo preocupar se eu cheiro mal. —Sinto cheiro de outro F, — ele diz cruelmente. —Parece que você precisará descobrir outras maneiras de convencer o treinador a deixá-lo jogar.

O gesto rude que ele faz com a boca e a mão vira meu estômago.

—Foda-se — rosno, minha raiva finalmente subindo à superfície, enquanto fecho minhas mãos.

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Ele sorri enquanto se afasta. —Ah, eu tenho namorada. Boa tentativa, no entanto. Se você se esforçasse tanto nesse trabalho quanto tentou entrar na minha calça, provavelmente iria gabaritar.

Não tenho palavras para ele enquanto se afasta, rindo como o bastardo do mal que ele é.

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Capítulo 2

Copeland

Irritação se agita dentro de mim enquanto vejo Ivy flertar com meu amigo Jett. Não porque estou com ciúmes, mas porque ela sabe que eu odeio ficar esperando. Eu quero ir para casa. Estou cansado como o inferno e preciso dormir se pretendo ir a essa festa mais tarde. Eu ligo meu motor, ganhando o olhar de todos, exceto Ivy. É difícil ignorar o meu badalado Chevy Camaro ZL1. É difícil me ignorar.

Ivy levanta um dedo para mim para me dizer que vai demorar um minuto enquanto continua conversando com Jett. Reviro os olhos e examino a multidão de pessoas. Sempre à procura. Olho por cima do grupo chato de pessoas que conheço desde o jardim de infância, eventualmente parando no lugar de sempre.

Nele.

Penn McAlister.

Meu vizinho do inferno.

Um rubor irritante queima através da minha pele. Abro a janela para deixar o ar frio afastar o calor. Toda vez que penso por que Penn e eu brigamos, fico chateado de novo.

Ele me beijou.

O idiota tentou transformar anos de amizade em uma sessão de sexo gay da qual eu não queria participar. Ainda hoje me lembro de como estávamos rindo

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um minuto, lutando no próximo, e então seus lábios estavam nos meus. Eu estava bêbado e levou um segundo de sua língua na minha garganta para eu perceber que não era uma piada. Penn estava me beijando como se tivesse esse direito.

Ele imediatamente soube que não tinha esse direito.

Eu o empurrei e lhe dei um soco com tanta força que pensei ter quebrado minha mão. Quando tropecei para fora da piscina, ele chorou e implorou para que eu o perdoasse. Que tinha sido um erro. Foi um erro, tudo bem. Um erro que nos rasgou em dois. Fiquei feliz por ele não ter visto minhas lágrimas. Lágrimas de traição quando meu melhor amigo me traiu. Ele sabia que eu não era gay e, no entanto, me beijou mesmo assim.

Empurrando esses pensamentos para fora da minha cabeça, bato com os dedos no volante e ligo o rádio. Vários alunos passam e me acenam com a cabeça, mas eu simplesmente os encaro. Eu não sou amigo deles. Eu não sou amigo de ninguém.

A porta do ginásio se abre e um grupo de jogadores de futebol sai. Eu cerro os dentes enquanto os assisto. Todos estão vestindo camisetas, já que hoje é noite de jogo. Um dos caras, Brett Stiller, dá um soco de brincadeira no braço de Penn. Penn ri do que está sendo dito e eu também rio. Frio, duro, amargo. Esses idiotas nem o conhecem. Ele ri do que dizem, mas não está feliz. Isso me faz pensar se ele ainda está chateado sobre mais cedo. Eu sorrio, sabendo que consegui uma reação dele.

Seu sorriso desaparece quando ele me vê olhando para ele. Ele abaixa a cabeça e olha para os pés, os ombros tensos. Penn está diferente. Não é o cara que eu lembro. Naquela época, antes de se tornar um canalha, ele era hilário e

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ferozmente leal. Deixamos nossos pais loucos. Mais próximos que melhores amigos — éramos como irmãos. Agora não somos nada.

A porta do carro se abre e volto minha atenção para Ivy. Enquanto coloca o cinto, ela vasculha sua bolsa. Quando pega um cigarro, eu o arranco e jogo pela janela.

—Não no meu carro. — Eu digo e ela me xinga.

—Pelo menos feche a janela, — ela lamenta. —Está frio.

Ela brinca com o rádio e eu cerro os dentes. Suas escolhas musicais são péssimas. Quando ela escolhe uma cantora feminina que é mais adequada para o canal da Disney do que para o interior do meu carro, solto um gemido. Minha mente ainda está no passado, enquanto me pergunto o que passou pela cabeça de Penn ao pensar que eu ficaria remotamente bem com ele me beijando. Às vezes, me pergunto se foi apenas um momento de embriaguez. Mas no fundo eu sei. O jeito que ele ainda olha para mim. A maneira como ele se anima quando certos caras falam com ele. Ele é gay, quer tenha saído do proverbial armário ou não.

—Qual é o seu problema ultimamente? — Ivy exige, suas unhas cravando um pouco na minha coxa, chamando minha atenção para ela. Sempre para ela.

Ela gostaria que eu venerasse o chão que ela anda, mas a verdade é que mal posso lidar com ela na maioria dos dias. Eu a mantenho por perto porque isso irrita meu pai, e irritá-lo é o meu hobby favorito.

—Nada, — eu resmungo.

Ela não está satisfeita com a minha resposta. —Estou grávida.

Solto um suspiro pesado. Sua constante necessidade de jogar a porcaria mais dramática em mim é cansativa. —É mesmo? — pergunto em tom entediado.

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Um bufo escapa dela. —Sim. Minha menstruação está atrasada.

A menos que ela esteja carregando o filho de Jett, não é meu. Eu uso camisinha toda vez sem falha. Sem mencionar, não estou com disposição há semanas. Eu chamo de conversa fiada, e é por isso que entro no estacionamento da farmácia sem aviso prévio. Com Ivy, você a desafia em suas travessuras.

Certamente não cede a elas.

Pego minha carteira do bolso e a abro.

—Oh meu Deus, — ela chia. —Você é um idiota.

Empurrando vinte para ela, eu dou de ombros. —Então? — Aceno para a loja. —Faça um teste de gravidez.

Ela sai do meu carro e entra no prédio. Inclino-me contra o encosto de cabeça, fechando os olhos. Momentos depois, Ivy volta para o carro e bate a porta. Durante todo o percurso, ela estoura seu chiclete e manda mensagens o mais rápido que seus dedos finos conseguem. Provavelmente discutindo com sua amiga Mindy sobre seu terrível namorado.

Quando mudo o percurso, ela endurece.

—Por que vamos para minha casa? — Seus lábios se curvam e ela olha feio para mim.

—Estou cansado, Ivy. Você fala demais. Se eu te levar para casa comigo, não vou dormir.

Entramos na garagem dela e eu desligo o carro. Ela me lança um olhar confuso enquanto a sigo para dentro. A casa dela é simples de três quartos na parte de merda da cidade. Papai odeia que eu a veja porque sente que ela está bem abaixo de mim.

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Seu irmão mais novo, Ben, está na varanda da frente esculpindo imagens na madeira com um canivete. Na verdade, eu gosto do fedelho. Ele tem doze anos e parece ter vinte. O garoto tem uma boca como um marinheiro, mas eu aprecio seu amor pela arte. Para doze, ele é muito bom. Seus pais podem ficar chateados porque ele destrói suas propriedades por causa da arte, mas um dia ele poderá fazer algo com essas habilidades.

Eu saio e Ivy passa por mim, ignorando Ben por completo. Eu bagunço seu cabelo loiro ao longo do caminho. —Belo gato.

—É um tigre, — ele resmunga.

—Então lhe dê mais dentes.

Eu a sigo para dentro de casa. Ela já jogou as coisas no sofá e foi para o quarto. Quando entro em seu quarto outrora cor-de-rosa, que agora está coberto de pôsteres pretos de shows, ela está tirando as botas e não olha para mim.

—Banheiro, Ivy. Não tenho o dia todo, — resmungo.

O olhar dela é assassino. —Se estiver grávida, é seu.

Dou de ombros e pego o saco da cama dela. Ela bufa quando eu abro e puxo a varinha da embalagem. —Faça xixi. Aguarde alguns minutos. É quase cem por cento exato. — Quando ela não faz nenhum movimento para se levantar, eu o empurro na frente dela. —Vá, Ivy.

Ela se levanta abruptamente e passa por mim, arrancando o teste das minhas mãos. A porta do banheiro bate atrás dela. Sento-me na cama dela e olho ao redor do quarto, procurando a Ivy que eu realmente gostava. Fechando os olhos, lembro-me do nosso primeiro beijo. Nossa primeira vez. Todos os nossos primeiros.

Meu peito está vazio.

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Frio e insensível.

Sinto-me mal por não sentir nada, mas essa é a extensão disso. Estou arrastando Ivy, entorpecendo-a pelo caminho. Quando começamos a namorar, ela era animada e sorria. Alguns diriam, feliz. Em algum lugar ao longo do caminho, porém, ela foi puxada para o meu vazio. Meu vazio a maculou e, se eu não fizer algo, pode ser para sempre.

Ouço a descarga e ela lava as mãos. Levanto-me, examinando o quarto dela mais uma vez, antes de caminhar até a porta do banheiro. Giro a maçaneta e ela se abre. Ela ainda está carrancuda, sempre um excelente beicinho, com os braços cruzados sobre o peito. Ivy é linda, mas ela é apenas uma garotinha no corpo de uma mulher. Ela se esconde atrás de suas garras e língua cruel.

Eu a puxo para mim e a abraço, esperando a centelha brilhar. Para lembrar uma época em que era feliz com ela. Nem uma faísca. Sem luz. Frieza. Eu acaricio seus cabelos e beijo o topo de sua cabeça, inalando sua familiaridade. Ela não relaxa nos meus braços, como normalmente faz quando demonstro carinho. É como se ela soubesse. Sempre perspicaz.

—Só disse aquilo porque queria que você se importasse, — ela diz suavemente, suas palavras cheias de gelo. —Estou menstruada.

Olho para o teste no balcão. Não está grávida. Afastando-me, pego seu lindo rosto em minhas mãos. Tudo nela é perfeição. Seus lábios cheios. Seus brilhantes olhos verdes. Seu cabelo macio que eu adorava sentir no meu peito quando ela adormecia. Eu a memorizo como ela é — porque em breve ela será uma lembrança desbotada. Uma caixa empoeirada no meu passado empilhava junto com o resto. Apenas uma caixa permanece aberta e me pede para olhar para dentro. Ela não está nem perto dessa caixa.

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—Ivy, — eu começo, minha voz baixa e rouca.

Seus olhos verdes estão cheios de lágrimas e ela balança a cabeça. —Pare, Cope. Apenas pare, seu bastardo cruel.

Eu beijo sua testa. —Apreciei nosso tempo juntos.

Ela se afasta como se eu tivesse batido nela. —Apreciou? — Sua voz é estridente. —Apreciou? Copeland, eu amo você. Eu te amo há dois anos. Tudo o que você tem para mim é apreciou?

Apertando minha mandíbula, dou de ombros. Ela sabe quem eu sou. Ela sabe que não me sinto como todo mundo. É um milagre termos feito isso por tanto tempo.

—Como você ousa vir para mim com apreciou? — ela assobia. —Você era tudo para mim.

—Você encontrará outra pessoa que é melhor.

Ela dá um tapa na minha bochecha, mas não dói. A lágrima escorrendo pelo rosto dela parece muito mais dolorosa. —Foda-se. É sobre Jett?

—Você pode fazer melhor que Jett.

—Sim, você! — ela grita. —Eu tinha você e agora não tenho nada. — Mais lágrimas. Todo o seu corpo treme com uma mistura de fúria e devastação.

Meu coração deixa de bater.

Em tempos como esses, me pergunto se já estou morto. Trancado em algum purgatório do meu passado — forçado a repetir no meu subconsciente enquanto meu cadáver apodrece sete palmos abaixo em algum lugar.

—Vejo você por aí — murmuro. —Se cuida.

Suas mãos tremem enquanto ela puxa os cigarros do bolso do casaco. Ela se atrapalha em puxar um e coloca nos lábios rosados. O isqueiro não parece

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funcionar para ela e, depois de algumas tentativas sem sucesso, dou um passo à frente e pego o isqueiro. Lágrimas de tristeza escapam de seus olhos, encharcando suas bochechas enquanto eu acendo seu cigarro para ela. Por hábito, ela inala e depois entrega para mim. Distraidamente, dou uma tragada, deixando a nicotina me entorpecer ainda mais, antes de devolvê-lo. Eu gostaria, por ela, de mostrar algum sentimento para que soubesse que era mais do que uma boa recordação para mim.

Ela era uma distração.

Um curativo.

Quando eu precisei disso, ela estava lá para fazer o trabalho. Mas ela cumpriu seu dever e não funciona mais. Eu posso ser um idiota, mas me importo com Ivy, e serei amaldiçoado se arrastá-la ainda mais.

Eu beijo sua testa mais uma vez e saio sem outra palavra. Quando caminho para a porta, sua mãe, Fawn, entra com Ben. Ela me dá um sorriso falso — que Ivy aperfeiçoou — e um olá. O cheiro de batatas fritas e gordurosas da lanchonete em que trabalha permeia o ar. Seu pai me odeia e sua mãe mal me tolera. E ainda assim, eles são melhores pais para mim do que meu pai. Vou sentir falta deles de certa forma.

—Até mais, garoto, — digo a Ben quando saio.

Eu me inclino uma vez lá fora, para admirar sua obra. Seu tigre agora tem dentes e garras. Muito melhor.

Na caminhada para o meu carro, há uma leveza no meu passo. Presumi que era eu quem estava arrastando Ivy para baixo, mas não posso deixar de me sentir mais livre. Minha mente vibra com um milhão de coisas que eu poderia fazer sem

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minha namorada se agarrando a mim. Fazer outra tatuagem? Ir nadar? Ir ao jogo de futebol?

Eu bufo na última.

Não tem como eu assistir Penn jogar futebol. Muitas lembranças que prefiro não revelar. Memórias de nós jogando futebol no parque. Empurrões tão fortes que um de nós sempre se machucava. Adultos gritando para nos acalmarmos.

Minha vida está muito calma hoje em dia.

Irritantemente calma.

O desejo de agitar as coisas zumbe através de mim. Hoje à noite, irei a essa festa e verei que tipo de problemas consigo arranjar.

Enquanto isso…

Vou tirar uma soneca.

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Capítulo 3

Penn

—Você vai à festa de Leah? — Brett pergunta enquanto eu jogo meu equipamento na traseira do meu jipe.

—Leah Collins? — Inclinando a cabeça para o lado, estudo meu amigo. Seu cabelo ainda está molhado do banho após o jogo e está com um sorriso pateta. — Desde quando Leah faz festas e desde quando vamos a essas festas?

Ele bufa e me dá um empurrão brincalhão. —Não seja idiota, McAlister.

—Eu não sou — eu argumento. —Leah fica com seu próprio pessoal. Nem imaginava que ela gostasse de nós. — Não digo a ele que meu pai está no meu pé para sair com ela há anos. Porque o pai dela é dono de muitas propriedades que meu pai quer desenvolver. Ele acha que meu namoro com ela suavizará o velho Collins e meu pai terá o centro comercial que ele deseja.

—Ela convidou todos. O irmão dela veio da faculdade para o fim de semana e seus pais estão em Cozumel. Eles estão dando uma grande festa. Luke comprou um monte de cerveja. Vai ser incrível — ele diz, com um sorriso cada vez maior.

—Além disso, temos que comemorar. O estado de Ohio esteve aqui hoje à noite e jogamos como nunca.

O treinador, tendo me dado meu C e me deixado jogar, ficou emocionado com meu jogo. Com certeza, muito mais orgulhoso do que meu velho poderia

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estar. Eu arrasei esta noite e cada um dos olheiros viu isso também. Acho que isso merece uma comemoração.

—Deixe o jipe aqui e vá comigo — ele diz. —Vamos.

O caminho para Leah é preenchido relembrando as boas jogadas. Brett é o nosso melhor receptor. Ele pegou todas as bolas que joguei para ele e correu muito. Estou sorrindo, um sorriso de verdade, quando chegamos à propriedade dela. O campo gigante que leva à sua enorme casa já está cheio de carros.

Conversamos com vários estudantes ao longo do caminho até a casa. As pessoas nos parabenizam e estou me sentindo bem animado. Brett me leva até a cozinha, onde Luke está misturando bebidas. Ele é meio patético por sair com adolescentes, mas parece estar gostando da atenção, principalmente das meninas. Brett e eu pegamos um copo. Sinto o sabor e curvo meus lábios. Forte, mas tem um bom sabor.

—Adivinha quem é? — diz uma voz sensual, cobrindo meus olhos por trás.

—Heidi?

Heidi tira as mãos e depois me vira para encará-la. Ela já está bêbada. Posso sentir o cheiro do álcool nela quando cai em meus braços.

—Estive procurando por você a noite toda — ela ronrona, a palma da mão avidamente explorando meu peito sobre minha camisa.

— Acabei de chegar. Como você está? — eu agarro seus pulsos e a empurro para longe de mim.

—Blá — ela resmunga. —Melhor agora que você está aqui.

—Cadê Leah? —Brett fala.

—Llama Leah? — ela pergunta e depois ri. —Lá. É ela que parece precisar de resgate dos esquisitos.

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Leah está sentada em um banquinho com três caras perto dela. Dois são nerds com espinha na cara que têm sérios problemas de espaço pessoal. Um é um cara chamado Max. Max é amigo de Luke, mas aposto que, se Luke soubesse que ele estava grudado na sua irmãzinha, poderia ter algo a dizer. Por trás dos óculos redondos dela, seus grandes olhos castanhos encontram os meus.

Ela não é do meu tipo, sendo uma garota e tudo, mas não é horrível. Leah sempre foi um pouco reservada e retraída. Agora que está confortável com quem ela é, os caras estão começando a perceber. E ela não parece muito feliz com isso.

—Oi, Max — eu chamo enquanto ando até eles. —Ei, Leah.

Os nerds fogem, não confortáveis por estar perto de Brett e eu. Não somos idiotas, mas eles não ficam por aqui para descobrir.

—Arrebentaram no jogo. — Max assobia.

Max e Brett se lançam aos detalhes, então vou até Leah e passo meu braço sobre seus ombros.

—Ele está te incomodando? — pergunto, minha voz baixa.

Ela encolhe os ombros. —Ele acha que vai me embebedar e entrar na minha calça.

—Ele vai? — eu provoco.

—Não. Ele é um mulherengo. Eu não o tocaria com uma vara de três metros — ela resmunga. —Você vai ficar por aqui e deixar seu amigo entediá-lo com futebol para me dar um tempo?

Eu rio para ela. —Quer dizer que Leah Collins está escolhendo conversar com Penn McAlister? E o mundo não está acabando? Tem certeza de que está se sentindo bem?

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Ela dá um tapa em mim. —Costumávamos conversar. — A cabeça dela se inclina enquanto estuda meu rosto.

—Quando estávamos no ensino fundamental. Quando nossos pais forçaram encontros entre nós.

—Acho que eles gostariam de fazer isso de novo — ela murmura. Papai fica me perguntando por que não conversamos mais.

—Porque você é legal demais para mim agora. — eu sorrio para ela.

Ela zomba. —Você se olhou no espelho ultimamente, Penn?

Afasto-me um pouco para mexer no meu cabelo. —O que? Há algo de errado comigo?

—Não, idiota. Você é você. Todo mundo quer sair com você. Mas... — o sorriso dela desaparece. —Você está bem?

Endureço com as palavras dela. —Estou bem. Por quê?

—Você não sorri muito mais. Quando sorri, não é real. Posso não falar mais com você, mas te observo muito — ela admite.

—Perseguidora.

Ela ri e coloca uma mecha de cabelo castanho claro atrás da orelha. —Você e Cope ainda não fizeram as pazes? Depois de todos esses anos? O que aconteceu afinal?

A linha de questionamento — repentina e do nada — me deixa hesitante.

Meu sangue fica gelado. —Apenas tomamos caminhos separados.

Ela abre a boca como se fosse dizer mais, mas eu escapo. De volta à cozinha. De volta à bebida. Depois de várias doses, descubro que Luke não é tão ruim. Eu preferiria aturá-lo enquanto ele nos conta histórias de como já dormiu com metade da universidade, do que ter de suportar mais uma pergunta sobre

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Copeland de Leah. Quando estou bem e animado, saio da cozinha para procurar Brett. Eu o encontro com uma líder de torcida que ele odeia. Típico.

Max puxou Leah para um canto e seu braço está envolvido possessivamente na cintura dela. Isso me irrita porque ela nem gosta do cara.

Minha irritação por ele supera a estranha linha de interrogatório dela e ando até eles.

Pego a mão dela e a puxo para perto de mim, ignorando o olhar cheio de raiva de Max. —Quer me mostrar seus telescópios?

Ela olha para cima e sorri. —Como você sabe que eu ainda os tenho?

—Você ainda é uma nerd — provoco. —Acho que os nerds têm coisas como telescópios.

Os olhos dela rolam, mas ela não está brava. —Max, te vejo por aí — ela diz por cima do ombro enquanto me guia pelo mar de pessoas. Quando chegamos ao patamar da escada, alguém grita para nós.

—McAlister vai transar hoje à noite!

Mostro o dedo para o idiota que disse isso. Leah dá um passo à frente e não deixa as palavras dele incomodá-la. Chegamos ao topo e ela nos leva até o final, onde fica o quarto dela. Ela nos leva para dentro e é exatamente como me lembro. Um pouco desorganizado, mas legal. Leah sempre tinha as coisas mais interessantes empilhadas em seu quarto. Ainda tem, aparentemente.

Fechando a porta atrás de mim, eu a sigo até a janela. Ela me mostra onde procurar e depois apaga as luzes. A voz dela é suave e musical, enquanto descreve o que estou vendo. Nós revezamos procurando. Por um momento, me pergunto se talvez eu não seja gay. E se eu saísse com alguém como Leah? Papai ficaria orgulhoso, com certeza. Mas eu seria feliz?

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Ela não é ele.

O lembrete é um corte no coração, mas eu tento ignorar.

Como me sinto sobre Copeland vai além da nossa preferência sexual. É uma conexão. Algo que, depois de todo esse tempo, não consigo cortar completamente. Alguns dias, acho que é a única coisa que me dá vida. Como se no momento em que deixa-lo sair do meu coração, também vou me perder.

—Ei, Penn — Leah murmura enquanto segura a frente da minha camisa.

Eu me inclino para ouvir o que ela tem a dizer, mas em vez de falar, sua mão segura meu rosto e seus lábios pressionam conscientemente os meus. Por uma fração de segundo, me lembro do meu beijo constrangedor com Cope. Esse lembrete minúsculo envia uma onda de calor através de mim. Deslizo minhas mãos em seus cabelos e a aperto gentilmente, ansioso para aprofundar o beijo e perseguir a chama. Seu pequeno gemido acende algo dentro de mim que me faz beijá-la com mais força. O desejo de consumi-la e esquecer tudo mais é forte.

Nosso beijo se torna excessivamente aquecido até que nós dois estamos acariciando um no outro. Consigo colocá-la na cama e debaixo de mim antes que meu cérebro me alcance.

Não é ele.

Leah Collins.

Mas quando fecho meus olhos, com o álcool correndo em minhas veias, quase posso fingir. Lembro-me das festas do pijama quando ele e eu éramos mais jovens. Como iríamos para a cama e jogávamos Transformers sob os lençóis com a luz de uma lanterna até que a babá de Cope encerrasse a noite. Não consigo deixar de pensar nas noites em que conversamos sobre tudo no escuro. Noites em que às vezes Cope se aconchegava contra mim e sussurrava o quanto odiava

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seu pai. Naquelas noites, meu sangue corria tão quente pelo meu melhor amigo.

Sempre me perguntei se ele se sentia assim também.

Um gemido me arrasta dos meus pensamentos e eu registro que minha mão está dentro da camisa de Leah. Eu sufoco um gemido quando me afasto de sua boca.

—Devemos parar — eu digo, minha voz rouca do nosso beijo. O calor que subiu para o sul esfriou agora que não estou mais no passado.

—P-por quê? — ela suspira.

Eu dou a ela uma meia verdade. —Eu não namoro ninguém há um tempo, Leah. Não quero me envolver em nada.

—OK.

Inclino-me para frente e dou-lhe um selinho em seus lábios. —Eu sinto muito.

—Tudo bem — ela me garante. Mesmo que pareça magoada, ela não parece zangada comigo.

A porta se abre e a luz nos cega. Eu tiro minha mão da blusa dela antes de me virar para os nossos intrusos. Max entra sozinho, cambaleando um pouco.

—Que diabos, Leah? — ele ruge, suas mãos formando punhos. — Pensei que você gostasse de mim.

Eu saio da cama e aponto para a porta. —Saia.

Ele zomba de mim. —Então você pode foder a garota que eu quero?

Inferno não. — Quando ele começa a me empurrar, eu bato nele, conectando com sua mandíbula. No momento em que o acerto, todo o caos se segue. Ele dá um soco nas minhas costelas e me empurra para a cama.

—Parem! — Leah grita.

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Ignorando-a, nos esmurramos. Ele pode ser mais alto, mas tenho mais músculos. Eu o pego com vários socos antes de Leah sair do quarto. Bato na cômoda, derrubando um pouco de maquiagem no chão. Ele vira as costas para mim, dirige-se para a janela e eu avanço, pronto para atacar. Eu me atiro assim que ele se vira. Meus punhos se conectam com o telescópio enquanto ele o acerta em mim. A dor explode na minha mão.

Furioso com novos níveis, eu o ataco com força. Minha mão dói como o inferno, mas não vou ceder. Eu bato nele com a outra mão. Uma e outra vez, com força furiosa alimentando meus golpes descoordenados em algo que ele não é páreo. O sangue do nariz dele mancha minhas juntas. Ele consegue pegar minha mão latejante e a torce a ponto de eu quase desmaiar de dor.

Eu me recupero com um rugido e o ataco novamente.

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Capítulo 4

Copeland

O som é alto nos alto-falantes e as pessoas estão em toda parte. Vou pegar uma bebida quando Leah Collins quase me atropela ao descer as escadas. Assim que ela percebe que sou eu, ela agarra a frente da minha camisa.

— Ajude — ela grita. —Eles estão lutando e destruindo meu quarto.

Eu corro atrás dela subindo as escadas. Não porque particularmente queira terminar uma briga, mas Leah e eu nos conhecemos desde a escola primária.

Podemos não sair mais, mas serei condenado se deixar dois idiotas arruinarem as coisas dela. Passo por ela no limiar para encontrar Penn em uma maldita luta com um cara que é mais velho que ele. Aguentando firme também.

—Alguém disse que ouviram vocês, que diabos? — Luke, irmão de Leah, exclama atrás de mim. —Max, o que diabos está acontecendo?

Ele alcança o amigo, colocando-o de pé. Penn, cheio de raiva, levanta-se e avança. Pego as costas da camisa dele, impedindo-o de fazer qualquer outra coisa estúpida. Ele cai no meu peito. Eu o abraço por trás porque ele está louco e balança os membros tentando chegar a Max.

Luke tem dificuldade em conter Max e mal consegue fazer isso.

—Tire-o daqui — grito para Luke e Leah. —Vou lidar com ele.

Quando os dois apenas olham para mim, eu rosno. —Eu disse saiam!

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Assim que desaparecem, o corpo de Penn relaxa um pouco. Por um segundo, parece como nos velhos tempos. Quando ele perdia a paciência e enlouquecia lutando com alguém. Eu sempre tive que tirá-lo e lidar com isso.

Agora, apesar de tudo o que passamos, estou bem aqui fazendo essa porcaria novamente.

—O que aconteceu? — eu exijo, recusando deixá-lo ir até que ele esteja calmo.

Ele empurra contra o meu aperto, mas eu não o solto. —Eu estava ficando com Leah e Max deu um chilique. Tentou me bater.

Endureço com suas palavras. —Você e Leah? — eu bufo. —Você espera que eu acredite nisso?

—Foda-se — ele rosna. —Foi o que aconteceu.

—Pensei que você fosse gay — murmuro.

Seu corpo está tenso. —Nunca disse que era.

Mentiroso.

Eu o empurro para longe de mim. Ele gira rapidamente para me enfrentar, mas sua bunda bêbada tropeça. Estendo a mão para agarrar a dele antes que ele colida com mais coisas de Leah. Um grito estrangulado escapa dele e ele puxa a mão para trás, embalando-a.

Estreitando os olhos, inspeciono sua mão. Já está inchada e machucada. — Você quebrou?

Sua mandíbula aperta e ele olha para mim. —Por que você se importa?

—Não me importo — eu falo. —Mas você está bêbado e machucado. Não vou deixar você aqui para fazer outra coisa estúpida. Se sua mão estiver quebrada, você estará fora da temporada.

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Ele cai e passa os dedos bons pelos cabelos, os olhos frenéticos. —Está bem. Machucada, é tudo.

—Vamos. Nós vamos tomar um café para te deixar sóbrio. Se estiver melhor quando terminarmos, levarei você para casa. Caso contrário, vou levá-lo ao hospital para um raio-x.

Temos um impasse silencioso por vários minutos, até que ele solta um suspiro de frustração. —Tudo bem.

Ele tropeça novamente. Pego o braço dele e deslizo por cima do ombro para poder ajudá-lo a andar. Não tem como ele descer as escadas sem a minha ajuda. Ele quebrará mais ossos se eu o deixar por conta própria.

Faz dois anos que ele fez o impensável. Dois anos que o afastei e ignorei.

Dois anos em que tentei me esquecer daquela noite e todas as emoções estúpidas que nasceram dela. Mas, mesmo dois anos depois, a familiaridade de ajudar Penn é aquela que faz meu peito doer. Ele foi como um irmão por tanto tempo, meu coração bate forte com a lembrança.

Enquanto o guio escada abaixo, recebemos alguns olhares estranhos.

Ninguém sabe o que aconteceu. Nenhum de nós disse uma palavra. Um dia, éramos melhores amigos, no outro, inimigos mortais. Rumores de todos os tipos, desde meu pai tendo um caso com sua mãe até o fim de nossa amizade por uma garota. Nunca alguém pronunciou algo remotamente verdadeiro. Se Penn tivesse se assumido como gay, teria sido óbvio. Mas não, ele continuou como sempre. Sr.

Popular. Herói do futebol. O cara que assistia meninas passarem e não dava a impressão de que era de fato gay.

Eu sei, no entanto.

Eu vejo os olhares pesados direcionados em minha direção.

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Eu era a pessoa com sua língua na minha garganta.

Fui eu quem sentiu o quanto ele estava excitado através de seu calção de banho na piscina naquela noite.

E, no entanto... eu nunca disse uma palavra. Parte de mim, não importa quão traído me senti, não queria fazer isso com ele. Conheço o pai dele quase tão bem quanto ele. O pai dele é um idiota. Se ele descobrisse através de boatos que seu filho era gay, não há como dizer o que ele faria. Jason McAlister é vingativo e desagradável. Um bastardo cruel quando quer ser. Claro, eu estava furioso com Penn, mas ainda não consegui expô-lo.

Quando chegamos ao pé da escada e ele vê Max, ele tenta atacar, mas sou mais rápido. Eu o puxo para mim e acelero para fora da porta. Seu corpo pulsa de raiva.

—Não sei por que você está tão chateado — resmungo enquanto atravessamos o campo através dos carros.

—Ela não gosta dele. Ela gosta de mim.

—Mas você não gosta dela — digo a ele.

Ele para e eu quase tropeço. Quando ele vira o rosto para olhar para mim, seus olhos brilham com tristeza. —Foi a primeira coisa que senti em anos — ele fala. —Eu queria perseguir esse sentimento.

Desconfortável com as palavras dele e com a maneira desprotegida com a qual ele está olhando, resmungo e nos faço caminhar novamente. Quando chegamos ao meu carro, ele solta um assobio apreciativo.

—Eu sempre quis andar neste carro. Você comprou... — ele para, suspirando.

Depois.

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Comprei este carro depois da nossa explosão e ele nunca teve a chance de entrar nele. Assim como nunca estive no jipe dele.

Abro a porta do lado do passageiro e o ajudo a entrar. Com a mão apoiada no peito, ele parece lamentável. Aposto todo o meu fundo fiduciário que ele a quebrou. Mas, se Penn é como costumava ser, sua bunda teimosa não acreditará até que veja o raio-X. Pego o cinto de segurança e coloco nele antes de fechar a porta. Depois de me sentar, tento não me concentrar no fato de ter meu ex- melhor amigo no carro ao meu lado.

—Cadê Ivy? — ele pergunta, recostando-se no banco e fechando os olhos.

—Terminamos. — Deixo o motor rugir, matando qualquer resposta que ele pudesse estar esperando. O Camaro derrapa enquanto saio do meu lugar na grama. Quando estamos na estrada principal, ele fala novamente.

—Você terminou com ela, hein?

—Como você adivinhou?

Ele encolhe os ombros. —Intuição. Você não gostava dela. Nunca gostou.

—Nos divertimos — murmuro.

—Mas você não a amava. Não que ela provavelmente te amasse.

Ignorando-o, ligo o rádio. Com Radiohead tocando algumas letras comoventes, eu corro pela estrada escura em direção à cidade. Ivy vai ficar bem.

Especialmente agora que eu fui embora. Ela provavelmente estará recuperada no início da próxima semana. Provavelmente com Jett Michaels. Eu vi o jeito que ele a olha como se ela fosse a coisa mais quente que já viu. Espero que ele esteja pronto para se queimar. Ivy não joga limpo e alguém como Jett aprenderá rapidamente, que ela é difícil de lidar. O filho do prefeito, não importa o quanto

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ele xingue, fume e ouça Manson, nunca estará totalmente equipado para gerenciar uma garota como Ivy.

Dirigimos pelo McDonald's e paro no meio do estacionamento vazio do banco ao lado. Olho de relance para Penn. Suas sobrancelhas estão franzidas como se estivesse com dor, mas ele bebe um café quente, firme.

—Se estiver quebrada, o que você acha que seu pai vai dizer? — pergunto, minha voz suave. Não sei por que me importo. Mas agora, com ele bêbado e sem se esconder atrás de suas paredes, sinto que quero respostas. Quando nossa amizade foi destruída, eu esperava que ele encontrasse outro amigo ou até um namorado. Eu não esperava que meu melhor amigo desaparecesse diante dos meus olhos ao longo dos anos. Ele mudou. Eu sei que sou parcialmente responsável por essa mudança. A culpa e a raiva estão em guerra na maioria dos dias, especialmente quando vejo a luta por trás dos sorrisos que ele dá a todos.

—Eu não sei — ele diz finalmente. —Se eu me machucasse em campo, seria uma coisa. Mas brigando? — Ele engole audivelmente. — Se estiver quebrado, estou ferrado.

Tomo meu café e pondero suas palavras. Ele tem razão. Se Jason descobrir que foi lutando, ele perderá a cabeça. Eu odeio o pai dele.

—Cope?

A maneira dolorosa com que ele diz meu nome faz meu peito doer. —O que?

—Por que estamos aqui agora? Por que você está me ajudando?

Apertando minha mandíbula, olho para ele. Suas sobrancelhas estão franzidas quando ele bebe seu café.

—Só estamos, — resmungo.

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—Mas por quê?

—Talvez eu esteja cansado de lutar. — Estou cansado de tantas coisas. Ivy.

Meu pai. Vida.

Ele solta um suspiro pesado. —Estou cansado também.

—O que você fez... — eu paro e ele estremece.

—Desculpe — ele murmura, a dor gravada em suas feições. —Sinto muito, Cope. — Sua voz falha quando ele me olha com emoção, deixando seus olhos vidrados de lágrimas. —Eu nunca quis te machucar.

Eu cerro os dentes e viro a cabeça de seu olhar penetrante. —Bem, você machucou. Você me quebrou.

—Quando eu te quebrei, eu quebrei a mim mesmo. — Ele fica em silêncio por um instante. —Eu mudaria isso se pudesse. Qualquer coisa para apagar aquela noite e tudo depois.

—Mas você não pode — digo-lhe amargamente. —Estamos todos fodidos agora.

—Eu não estava quando você era meu melhor amigo — ele diz tristemente.

Eu também não. Eu era feliz. Ele era meu irmão. Minha outra metade. Eu sofri muito depois do que aconteceu. Por causa do que eu perdi. A raiva afugenta a dor e eu ligo o motor.

—Beba porque vou levá-lo ao hospital. É melhor acabar logo com isso.

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Depois de uma visita de três horas ao hospital, Penn agora exibe um gesso verde neon em sua mão. Ele quebrou bem também. O médico disse que ele pode acabar precisando de cirurgia. Eu o conduzo em silêncio para pegar sua receita de analgésicos e depois vou para casa. Uma vez na minha garagem, desligo o carro e ele sai rapidamente.

—Não se esqueça disso — grito, jogando sua sacola de remédio para ele. — E mantenha sua mãe longe deles.

Seus olhos prendem os meus bruscamente e é tudo que eu preciso saber.

Lisa McAlister ainda é viciada em pílulas. Eu acho que se eu tivesse que lidar com Jason como marido, eu tomaria pílulas também.

Eu saio do carro e o sigo até a porta dele. Ele se atrapalha para tirar as chaves do bolso direito. Depois que afasto suas tentativas descoordenadas, enfio a mão no bolso e puxo as chaves. Ele solta um gemido e cambaleia para longe.

Anos atrás, é algo que eu não pensaria duas vezes. Mas agora, com o olhar de vergonha no seu rosto, percebo que movimento estúpido foi esse. Isso foi excitante para ele? Ele ficou...

Meus olhos se arrastam por vontade própria, procurando por evidências.

Ele puxa as chaves da minha mão, se afastando de mim e começa a tentar colocar a chave na porta. Mais uma vez, ele falha em concluir sua tarefa. Pego as chaves e as enfio na fechadura.

—Preciso ajudá-lo a urinar também? — Minhas palavras são más e destinadas a cutucar sua atração por mim. Eu quero ver o olhar de vergonha em seu rosto novamente. Mas, então, pensamentos nojentos de mim no banheiro

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com ele e a calça abaixada me fazem pular para trás como se eu tivesse sido queimado.

—Eu consigo. — Sua voz é rouca e ele evita o contato visual.

Fúria me agita por dentro. Minha pele pinica e esquenta. Estou chateado que ele ainda me quer claramente depois de todo esse tempo. Depois de quão claramente hetero eu sou. Depois que ele destruiu a melhor amizade. Ainda assim, depois de tudo isso, ele é afetado por mim.

A raiva se transforma em uma sensação de poder. Uma arma a ser manejada. Uma ferramenta para vingança. E esse fogo poderoso dispara direto na minha espinha. Uma dor se instala na parte inferior do meu estômago.

—Me ligue se precisar de mim — eu provoco, aproximando-me das costas dele. —O número ainda é o mesmo.

O calor do corpo dele irradia para mim. Eu sinto o cheiro do seu perfume familiar e não posso deixar de me inclinar para ele. Tantas festas do pijama em que eu cheirava sua cabeça suada e reclamava que ele fedia. Na realidade, seu cheiro me confortava. Quando sinto uma contração na minha calça, me afasto dele sem outra palavra. Eu volto para casa. Está escuro quando entro e corro para o meu quarto. No caminho para o chuveiro, tiro a roupa e coloco a água no modo mais frio. Qualquer calor que me queimava é aplacado no momento em que entro no spray frio.

Eu preciso ficar longe dele.

Dois anos depois, e no momento em que passo um tempo com ele, estamos de volta à estaca zero. Seus sentimentos confusos em relação a mim de alguma forma permaneceram. Agora eu sou o único incomodado pela forma

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como meu corpo reagiu há pouco tempo. E meu coração não está melhor.

Correndo no meu peito, ansioso para falar com ele mais uma vez.

Eu o odeio.

Mas isso sempre foi uma mentira.

Odeio que ele queira algo de mim que não estou disposto a dar.

É injusto e cruel.

Apesar da água fria, meu corpo esquenta mais uma vez, inundando de sangue certas áreas do meu corpo que prefiro ignorar. Mas, em vez de ignorá-lo, afasto minhas frustrações e depois pronuncio o nome do meu melhor amigo com um silvo venenoso.

Como se atreve a quebrar minha mente também, Penn?

E está quebrando. As rachaduras se formaram naquela noite e a cada segundo que passa as sinto serpenteando através de mim. Elas se aprofundam e se espalham.

Eu não sei o que está acontecendo.

Mas é tudo culpa dele.

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Capítulo 5

Penn

Acordo com uma batida no meu crânio e uma pulsação na minha mão.

Enquanto pisco para afastar o sono, a realidade penetra em mim como veneno.

Com cada lembrança da noite passada, percebo o quanto pisei na bola.

Minha mão está quebrada. Eu posso precisar de cirurgia. Dói muito. Papai e o treinador vão ficar chateados quando descobrirem.

E Leah?

Deus, eu realmente não deveria tê-la beijado. Por um momento, pareceu certo. Porque o álcool estava me estimulando. Agora que estou sóbrio, me sinto um idiota por lhe dar esperanças. Devo-lhe um pedido de desculpas e uma explicação.

O pior, no entanto...

Copeland.

Até pensar no seu nome dói. Mas vê-lo? Cheirá-lo? Tê-lo me tocando?

Ontem à noite foi tanto a noite mais tortuosa e a mais feliz. Foi doloroso estar perto dele, mas eu absorvi cada segundo disso.

Quando ele enfiou a mão no meu bolso... Um gemido retumba de mim com a memória. Então, seu hálito quente na minha orelha quando se aproximou e sussurrou palavras provocantes para mim. A energia zumbindo em minhas veias foi irreal. Sempre foi Cope quem me fez sentir vivo neste mundo morto. Agora,

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tendo-o na minha vida depois de uma noite, estou viciado novamente. Precisando de outra dose. Meu corpo responde aos meus pensamentos traidores e eu me ajusto no meu short de basquete.

Foco.

Ligue para Leah.

Pego meu telefone e me atrapalho para ver se perdi alguma ligação ou mensagem de texto.

Brett: Aonde você foi? Alguém disse que você e Max brigaram?

Brett: Onde você está?

Brett: Me mande uma mensagem e me avise que você está bem.

Rapidamente, respondo com um texto para garantir que estou vivo. Mal, mas ainda vivo. Em seguida, envio uma mensagem de texto para meu pai pedindo o número de Leah. Hoje é um dia de golfe para ele, então não espero uma resposta imediata. Mas, surpreendendo-me, ele responde com o número dela e diz que devo convidá-la e seus pais para jantar. Ignorando-o, envio uma mensagem para Leah.

Eu: Desculpe pela noite passada.

Ela responde de volta.

Leah: Você poderia me compensar. Jantar e um filme?

Eu: Acho que lhe dei a impressão de que queria ser mais que amigos.

Leah: Amigos podem comer e assistir filmes. Você está bem?

Eu: Vou ficar bem. E isso parece bom. Talvez mais tarde hoje à noite? Eu preciso pegar meu jipe na escola.

Leah: Não é um encontro. Mandarei uma mensagem de texto para você mais tarde. Estou contente que esteja bem.

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Quando terminamos, levanto-me e faço xixi. Só posso lavar uma mão porque um gesso verde brilhante está na outra. A bile agita o meu estômago. Não quero lidar com papai ou treinador sobre isso. O latejar dói, então eu procuro meus analgésicos. Sou cuidadoso em escondê-los depois, porque não seria a primeira vez que minha mãe roubaria meus remédios.

Tomo um banho rápido e desajeitado, com o braço para o lado de fora da cortina e, em seguida, desajeitadamente visto uma calça esportiva, decidindo que é mais fácil do que lidar com jeans. Preciso usar um dos meus capuzes de futebol quando sair mais tarde e espero poder esconder meu gesso até descobrir como contar para meu pai.

Minha cabeça ainda está latejando e não quero lidar com minha mãe, então caio na cama. Enxugo as gotas de água que ainda estão no meu peito do banho enquanto minha mente volta à noite passada. Ele disse que eu deveria mandar uma mensagem para ele. Inferno, estou tentado. Tudo em mim diz para recuar, mas eu desejo ter notícias dele. A noite passada foi uma provocação. Cerrando os dentes, grato pelos remédios para dor no meu sistema, digito um texto. O primeiro texto em anos.

Eu: Você pode me levar para pegar meu jipe mais tarde?

Depois de clicar em enviar, meu estômago fica tenso. Eu me encolho com a resposta dele. Quinze minutos se passam sem resposta e solto um suspiro pesado antes de fechar os olhos.

—Você parece péssimo.

Eu me assusto e balanço a cabeça com a voz ofensiva. Qualquer palavra que eu poderia ter dito morre na minha garganta enquanto Copeland entra no meu quarto como nos velhos tempos. Ele parece muito bom em um jeans escuro e

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camisa preta. Seu boné está virado para trás de uma maneira que ele usava o tempo todo quando éramos mais jovens.

—Como você entrou na minha casa? — resmungo, tentando não dar uma olhada no traseiro dele enquanto ele se aproxima do espelho.

—Da mesma maneira que sempre entrei — ele diz enquanto verifica sua aparência. —Com a minha chave.

Ele se vira e me olha, seus olhos percorrendo meu peito nu. Eu tento não me contorcer sob seu olhar. Suas narinas dilatam como se ele estivesse com nojo de mim. Eu sou tão transparente? Ele pode ver o quanto eu ainda o quero? A vergonha me queima. Eu não estava mentindo ontem à noite quando disse que gostaria de poder mudar tudo. Mais do que tudo, eu gostaria de poder retroceder e desfazer aquele beijo. Tem sido uma sentença de prisão desde então.

Observo enquanto ele anda pelo meu quarto pegando porta-retratos ou porcarias sobre a cômoda. Ele finalmente chega à minha mesa, coberta de mais porcarias. Nossa governanta espana e aspira, mas se recusa a tocar minha bagunça. Ele abre gavetas e vasculha. Não o paro porque é familiar. Tão familiar como fatiar meu peito.

Fique.

Eu imploro silenciosamente a ele.

Eu ansiava por sua presença.

— Você se masturba pensando em mim? — ele pergunta enquanto abre um chiclete que encontra.

—Não seja idiota — resmungo.

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Ele se vira e me lança um sorriso diabólico. —Essa ausência de resposta me diz que sim. Você é gay e me quer. — Ele encolhe os ombros e começa a ler um caderno.

—Você é muito presunçoso pra quem não fala comigo há dois anos — murmuro. —Eu tenho um encontro esta noite.

Seus ombros ficam tensos e ele vira a cabeça para me olhar. —Com quem?

—Leah.

Ele ri e volta à sua tarefa, estalando o chiclete alto.

—Por que isso é tão engraçado? — eu resmungo.

—Porque — ele diz, virando-se para mim. —Você é gay.

Abro a boca para discutir, não porque não sou, mas porque ele está me irritando, quando minhas palavras morrem na minha garganta. Ele tira a camisa e a joga no chão.

Este é Copeland.

Maldito Copeland sem camisa.

Desde que o conheço, ele prefere andar sem camisa quando está em casa ou na minha. Não é grande coisa. Não significa nada. Exceto que agora, não consigo parar de olhar para ele. Ele ficou mais forte nos últimos dois anos e tem tatuagem.

—Tatuagens? — murmuro, minha voz rouca e baixa.

Sua mão se espalha sobre nuvens tempestuosas desenhadas artisticamente em seu músculo peitoral. —Meus desenhos. Eu quero aprender a fazer tatuagens, mas meu pai iria pirar.

Ele franze a testa e encontra o meu olhar. Nossos pais são idiotas. Eles nos governam com suas carteiras. Somos bebês de fundos fiduciários e

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