Estudo Panorâmico acerca do
Arrependimento Bíblico
Segundo Mateus 3.8 e Lucas 3.8 Rev. Luiz Cláudio de Oliveira
Texto base
Mateus 3.1‐10
A pregação de João Batista Mc 1.2‐6; Lc 3.1‐9
1 Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: 2 Arrependei‐vos, porque está próximo o reino dos céus. 3 Porque este é o referido por intermédio do profeta Isaías:
Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
4 Usava João vestes de pêlos de camelo e um cinto de couro; a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre. 5 Então, saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão; 6 e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados. 7 Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse‐lhes:
Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? 8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; 9 e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. 10 Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
Lucas 3.1‐10
A pregação de João Batista Mt 3.1‐10; Mc 1.2‐5
1 No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes, tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe, tetrarca da região da Ituréia e Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, 2 sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. 3 Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados, 4 conforme está escrito no livro das palavras do profeta Isaías:
Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
5 Todo vale será aterrado, e nivelados todos os montes e outeiros; os caminhos tortuosos serão retificados, e os escabrosos, aplanados;
6 e toda carne verá a salvação de Deus. (Isaías 40.3‐5)
7 Dizia ele, pois, às multidões que saíam para serem batizadas: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? 8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. 9 E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
10 Então, as multidões o interrogavam, dizendo: Que havemos, pois, de fazer? 11 Respondeu‐
lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo. 12 Foram também publicanos para serem batizados e perguntaram‐lhe: Mestre, que havemos de fazer? 13 Respondeu‐lhes: Não cobreis mais do que o estipulado. 14 Também soldados lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai‐vos com o vosso soldo.
Situação do texto
1Pregação de João Batista nas margens do Jordão.
O momento político era de pós‐ascensão romana. Segundo as informações de Josefo (xviii.
2:2), o texto diz que Tibério era o imperador (César) romano da época e que possivelmente Pôncio Pilatos já governava a Judéia há dois anos. Lucas informa ainda que o segundo filho de Herodes, o Grande, era o Herodes2 que governava a Galiléia. Arquelau governava a Judéia e foi banido para Viena (Jos. Wars, 2: vii. 3) por Augusto. Desta forma, a região foi ocupada em boa parte pelos romanos. O resto dos irmãos da família, citados por Lucas, dirigiam outras localidades, como está transcrito em Lucas 3.1‐3.
Falar de momento político da palestina, necessariamente é preciso arrolar a religião, que neste período estava profundamente comprometida neste bojo. O líder religioso deste período histórico era Caifás, o Sumo Sacerdote. Contudo, Anás tinha sido o Grande Sacerdote antes de Caifás, seu genro, e era costume continuar chamando de Grande Sacerdote aquele que já havia ocupado esse cargo.3
1 [Commentary on Matthew, Mark, Luke ‐ Volume 1 — THE AGES DIGITAL LIBRARY COMMENTARY]
Comentário de João Calvino do texto em inglês: — É provável que este tenha sido o segundo ano do governo de Pilatos, já que Tibério tinha assumido as rédeas do governo romano (segundo informações do texto de Josefo, (XVIII. 02:02). Tibério tinha nomeado Gratus Valério para ser governador da Judéia, na sala Annius de Rufus. Essa mudança pode ter ocorrido em seu segundo ano. O mesmo Josefo escreve que Valério era governador da Judéia há 11 anos, quando Pôncio Pilatos veio como seu sucessor. (Ant.
18:02:02). Pilatos, portanto, tinha governado a província durante dois anos, quando João começou para pregar o Evangelho.
2 Herodes — nome de uma família real que se distinguiu entre os judeus no tempo de Cristo e dos
Apóstolos. A nomenclatura Herodes se tornou um “título” dado a todo que ocupava a realiza desta família que governou parte da Palestina. O nome Herodes quer dizer “heróico”.
3Sociedade Bíblica do Brasil: Nova Tradução Na Linguagem De Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; 2005
Tratava‐se de um período muito dificil em que a manutenção das várias lideranças estava a flor‐da‐pele. A tensão e a luta pelo poder dominavam as mentes dos dirigentes e qualquer postura civil ou política poderia desencadear em outra guerra (vide guerra dos Macabeus).
Arrependimento, segundo João Batista
Produzir frutos dignos de arrependimento – Na versão NTLH diz “Façam coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados4”.
Arrependimento ≠ Remorso
Arrependimento gera frutos dignos, que comprovam a veracidade do fato
Remorso, é medo da lei, das conseqüencias, sentimento contrario ao justo reconhecimento da justiça impetrada. Não significa mudança de mente, compreensão do erro, mas, ainda que haja consciência do erro tal não é visto como erro. — Remorso é uma resistência à mudança do EU para se integrar a um sistema (regras, conduta etc.) diferente do vigente, que governa o EU e dá prazer ao EU.
Intitulação não formata o caráter
O arrependimento produz mudanças reais que modificam atitudes, ações. — “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Lc 3.8). A idéia contida no judaísmo de que “filhos de Abraão” são filhos de Deus, conduzia ao judeu nominalista a idéia fixa de que eram herdeiros da justiça e das promessas de Abraão automaticamente. Por isso, não mensuravam a idéia de dar continuidade também as obras de justiça de Abraão. — “Se sou descendente, portanto herdeiro, de Abraão, já tenho por garantidas as mesmas promessas e não preciso me preocupar com meus atos ou posturas”.
No embate entre Jesus e os fariseus, registrado pelo evangelista João, temos este aspecto sendo respondido pelo filho de Deus:
“Responderam‐lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu Sereis livres? 34 Replicou‐lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. 35 O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. 36 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. 37 Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar‐me, porque a minha palavra não está em vós. 38 Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai; vós, porém, fazeis o que vistes em vosso pai.
4Sociedade Bíblica do Brasil: Nova Tradução Na Linguagem De Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; 2005, S. Lc 3:8
39 Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse‐lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. 40 Mas agora procurais matar‐me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão5”.
O arrependimento será julgado, bem como o remorso (obras)
Exemplo clássico de arrependimento de remorso – A conversão de Pedro e o remorso de Judas.
O arrependimento é resultado de uma verdadeira e real transformação ocorrida no íntimo do apóstolo. Existe um Pedro antes do choro de arrependimento e outro Pedro depois.
Judas se sentiu mal e teve medo da punição divina e do Estado. Suas palavras refletem seu medo da aplicação da justiça: — “Pequei, traindo sangue inocente” (Mt 27.4). [Veja o que o texto bíblico confirma: — “3 Então, Judas, o que o traiu, vendo que Jesus fora condenado, TOCADO DE REMORSO, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: 4 Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo. 5 Então, Judas, atirando para o santuário as moedas de prata, retirou‐
se e foi enforcar‐se.”].
Pedro voltou‐se para o conserto, Judas para a morte.
O medo de Judas
Execução do homicida — Nm 35.16‐21
11 Mas, havendo alguém que aborrece a seu próximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra
ele, e o fere de golpe mortal, e se acolhe em uma dessas cidades, 12 os anciãos da sua cidade enviarão a tirá‐lo dali e a entregá‐lo na mão do vingador do sangue, para que morra. 13 Não o olharás com piedade; antes, exterminarás de Israel a culpa do sangue inocente, para que te vá bem. (Dt 19.11‐13).
É este o sentido que norteia as palavras de João Batista, por ocasião da sentença de Lc 3.9 e Mt 3.10: “E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo”.
Perceba a instrução, sobre modificação de conduta, imposta por João Batista como resaos seus interlocutores:
5Sociedade Bíblica do Brasil: Almeida Revista E Atualizada ‐ Com Números De Strong.
Sociedade Bíblica do Brasil, 2003; 2005, S. Jo 8:40
Em Lucas 3
“10 Então, as multidões o interrogavam, dizendo: Que havemos, pois, de fazer? 11 Respondeu‐
lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo. 12 Foram também publicanos para serem batizados e perguntaram‐lhe: Mestre, que havemos de fazer? 13 Respondeu‐lhes: Não cobreis mais do que o estipulado. 14 Também soldados lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai‐vos com o vosso soldo.”
Resumindo
Arrependimento produz mudanças que são os frutos do arrependimento: Atitudes que comprovam a realidade de uma compreensão modificada, de uma visão diferenciada, de uma vida mudada pelo poder do Espírito Santo. Nova vida, nova criatura; frutos dignos de arrependimento.
Remorso não produz frutos de arrependimento. O remorso não modifica internamente, mas produz insegurança, medo e fuga. Muita gente vai para a igreja porque tem medo da ira divina, porque tem medo das conseqüencias de seus pecados e da justiça (seja divina ou humana) que lhes cobrará razão de seus atos. Não estão na igreja porque reconhecem que Jesus é justo e salvador, mas estão na igreja se escondendo atrás de uma máscara de justos, mas fora dela continuam no mesmo proceder pecaminoso. Tentam enganar suas mentes, fingindo para si mesmas, resistindo à verdade, evitando olhar para suas ações, pois não suportam vê‐las. Enxergar suas próprias ações, sem a ação transformadora do Espírito Santo, é tão impactante, que podem ser levadas à morte para não terem que encarar a si mesmas e a sociedade, à lei... e a Deus. Elas estão fugindo, dentro da igreja, mas não conseguem se alimentar, se sentirem absolvidas, não conseguem abandonar o que ouvem ser errado, mas não é errado para elas. Por que isso? Porque junto com o arrependimento, vem a ação transformadora, confortadora e perdoadora do Deus Espírito Santo. O arrependimento bíblico só acontece assim, só pode ser assim. Não é fruto de ações ou intelecto humanos. Só Deus pode promover tal mudança, tal transformação. Isso é arrependimento para a vida. O resto é remoro para a morte.