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Avanços e descontinuidades das ginásticas no Ceará (1996-2017)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

KÁSSIA MITALLY DA COSTA CARVALHO

AVANÇOS E DESCONTINUIDADES DAS GINÁSTICAS NO CEARÁ (1996-2017)

Campinas 2018

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KÁSSIA MITALLY DA COSTA CARVALHO

AVANÇOS E DESCONTINUIDADES DAS GINÁSTICAS NO CEARÁ (1996-2017)

Dissertação apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Educação Física, na área de Educação Física e Sociedade.

Orientadora: Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon

Este trabalho corresponde à versão final da dissertação defendida pela aluna Kássia Mitally da Costa Carvalho, e orientada pela Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon.

Campinas 2018

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COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Drª Laurita Marconi Schiavon

(Orientadora)

Profª Eliana de Toledo Ishibashi

Profª Tatiana Passos Zylberberg

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

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Dedicatória

(In Memoriam) Dedico esta pesquisa à professora Ester Vieira. Profissional apaixonada pela Ginástica Rítmica e fundamental para o impulso dessa e de outras práticas Gímnicas no Estado do Ceará.

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Agradecimentos

Agradeço a Deus e à mãe santíssima pelo percurso terreno cheio de aprendizados e pela fé que me move e guia no caminho do progresso intelectual e moral;

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela possibilidade de realização desta pesquisa;

Agradeço à professora Drª Laurita Marconi Schiavon (Lau), orientadora desta pesquisa e pessoa admirável. Agradeço pela escuta, pelo cuidado e pelos conselhos, pela confiança e por contribuir desinteressadamente para o meu progresso acadêmico e moral;

À professora Drª Eliana de Toledo (Licca), por quem tenho profunda admiração pela competência e pela risada;

À professora Drª Tatiana Passos Zylberberg (Tati), que já há algum tempo acompanha minha caminhada acadêmica e pessoal, e por quem igualmente sinto enorme gratidão;

À Professora Lorena Nabanete dos Reis Furtado pela contribuição para essa pesquisa, pelo seu amor e dedicação no trabalho com a Ginástica no Ceará e pela amizade;

Às minhas queridas amigas e colegas de orientação e “agregadas”: Andrea, Bruna, Camila, Daniela, Fernanda, Letícia e Tabata, com quem compartilhei angústias e alegrias, medos e mergulhos. Pesquisadoras competentes e amigas para toda a vida;

Ao Grupo Ginástico Unicamp (GGU), espaço de convivência intensa, de amigos queridos e de Ginástica pulsante;

Aos professores em formação do Projeto de Extensão em Ginástica da FEF-Unicamp, onde aprendi sobre pedagogia de ensino da Ginástica, compromisso e afetividade;

À minha família, Mãe (Marilene), Márcia, Delma e Clícia pelo amor e apoio para que eu siga persuadindo meus sonhos;

Ao meu querido Leonardo, pelo amor e companhia nas descobertas da caminhada terrena e aos seus pais, Cláudia e Antônio, que nos abraçam e impulsionam constantemente;

Aos professores que contribuíram com meu aprendizado nas disciplinas e em generosos compartilhamentos de conhecimento nos diversos espaços proporcionados pela Unicamp: Prof. Dr. Marco Antonio Coelho Bortoleto, Prof. Dr. Edivaldo Góis Júnior, Prof. Drª Larissa Rafaela Galatti; Profª Eliana de Toledo, Profª Laurita Marconi Schiavon, Profª Drª Myrian Nunomura, Profª Elizabeth Paoliello e Profª Eliana Ayoub;

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Aos amigos que entrelaçaram minha caminhada (e eu a deles) em diversos espaços: Carla Thaís, Carol Godoy, Carol Melo, Coimbra, Douglas Silva, Gabi Franco Isa De Sordi, João Gabriel, Leonora, Lia, Marília, Mi Oliveira, Tamiris (Tuti), Taiane, Thatão, Lívia, Laurinha (Tostes), Righi, Shi...;

E à Universidade Estadual de Campinas, por ser um ambiente pulsante de conhecimento, possibilidade de expansão do pensamento crítico e convivência harmoniosa com a diferença.

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RESUMO

A Ginástica é uma prática corporal que parece cada vez mais em evidência no Brasil, sobretudo as práticas competitivas. Isto se deve a diversos fatores, dentre eles o crescimento dos resultados de atletas brasileiros nas ginásticas de competição. A partir de pesquisas nacionais, sabemos da representatividade de alguns estados do Brasil quanto à prática e desenvolvimento da Ginástica como São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, pertencentes às regiões Sudeste e Sul, em competições nacionais e internacionais. Com relação à literatura, estudos nacionais, advindos das regiões supracitadas versam sobre a formação do atleta, a influência de fatores internos e externos no treinamento das ginásticas competitivas e a aspectos pedagógicos de práticas como a Ginástica Artística, Ginástica Rítmica e Ginástica para Todos. Entretanto, há escassez de estudos sobre as Ginásticas competitivas e demonstrativas em outros estados e até regiões inteiras do Brasil. Essa escassez contribui para o não desenvolvimento da Ginástica nesses espaços. Tendo em vista esse cenário, a presente pesquisa tem por objetivo conhecer e analisar o desenvolvimento das Ginásticas reconhecidas pela Federação Internacional de Ginástica (FIG) no estado do Ceará, Região Nordeste do país. Esta pesquisa se justifica por fornecer um conhecimento ainda não disponível na literatura a partir do qual será possível a compreensão das características do desenvolvimento local das Ginásticas aqui abordadas, no Ceará, possibilitando o planejamento e desenvolvimento de ações para a ampliação dessas práticas corporais no estado de acordo com as dificuldades e necessidades identificadas. Aliado a este fator, outro ponto relevante para a realização desta pesquisa diz respeito ao interesse observado nos últimos anos pelo desenvolvimento da Ginásticas no estado por parte desta sociedade, portanto, esta pesquisa surge a partir de uma lacuna/demanda existente. A presente pesquisa, de caráter qualitativo, aliou a pesquisa documental à pesquisa de campo, unindo documentos e entrevistas. Estas últimas foram analisadas utilizando o software Nvivo para realizar a análise temática proposta por Bardin (2011). A partir deste delineamento, identificamos a concentração da prática na capital cearense, Fortaleza, e indicam para o desenvolvimento de três das sete Ginásticas da Federação Internacional de Ginástica: Ginástica Artística, Ginástica Rítmica e Ginástica para Todos. Tendo como principais avanços o aumento do interesse da população nas práticas Gímnicas, a presença de profissionais capacitados e o aumento dos espaços disponíveis para a prática. Com relação às descontinuidades, a problemática parece residir nas políticas públicas, estagnadas e/ou descontinuadas nos últimos anos. Identificamos ainda que as maiores dificuldades encontradas pelos profissionais para o desenvolvimento são questões ligadas ao investimento e infraestrutura, barreira cultural e de formação.

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ABSTRACT

Gymnastics is a body practice that seems increasingly evident in Brazil, especially the competitive practices. This is due to several factors, among them the growth of the results of Brazilian athletes in competitive gymnastics. From national surveys, we know of the representativeness of some states in Brazil regarding the practice and development of Gymnastics, such as São Paulo, Rio de Janeiro and Paraná, belonging to the Southeast and South Regions, in national and international competitions. Regarding the literature, national studies from the aforementioned regions deal with the training of the athlete, the influence of internal and external factors in the training of competitive gymnastics, and pedagogical aspects of practices such as Artistic Gymnastics, Rhythmic Gymnastics and Gymnastics for All. However, there is a shortage of studies on competitive and demonstrative Gymnastics in other states and even entire Regions of Brazil. This scarcity contributes to the non-development of Gymnastics in these spaces. Based on this scenario, the present research aims to know and analyze the development of Gymnastics recognized by the International Gymnastics Federation (FIG) in the state of Ceará, Northeast of Brazil. This research is justified by providing a knowledge not yet available in the literature from which it will be possible to understand the characteristics of the local development of the Gymnastics here discussed in Ceará, making possible the planning and development of actions for the expansion of these corporal practices in the state of according to the difficulties and needs identified. In addition to this fact, another relevant point for the realization of this research concerns the interest observed in the last years for the development of Gymnastics in the State by this society, therefore, this research arises from an existing gap / demand. The present research, of qualitative character, allied the documentary research to the field research, joining documents and interviews. The interviews were analyzed using Nvivo software to perform the thematic analysis proposed by Bardin (2011). From this design, we identified the concentration of practice in the capital of Ceará, Fortaleza, and indicate the deveopment of three Gymnastics of the International Gymnastics Federation: Artistic Gymnastics, Rhythmic Gymnastics and Gymnastics for All. The main advances are the increase in the interest of the population in gymnastic practices, the presence of trained professionals and the increase of spaces available for practice. Regarding the discontinuities, the problem seems to lie in public policies, stagnated and / or discontinued in recent years. We also identified that the greatest difficulties encountered by professionals for development are issues related to investment and infrastructure, cultural barriers and training.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – DESENHO DA PESQUISA ... 20

FIGURA 2 – GINÁSTICA: 10 ANOS DE HISTÓRIA NO CEARÁ ... 46

FIGURA 3 - GRD CHEGA AO CEARÁ E SELECIONARÁ GAROTAS ... 47

FIGURA 4 - BALÉ DÁ TOQUE DE CHARME À TAÇA CIDADE DE FORTALEZA ... 49

FIGURA 5 - GINÁSTICA RÍTMICA DESPONTA NO CE ... 50

FIGURA 6 – CEARÁ JÁ CONTA COM EQUIPE DE GINÁSTICA RÍTMICA DESPORTIVA. ... 51

FIGURA 7 – ARTE, GRAÇA, ESPORTE ... 52

FIGURA 8 – ARTE, GRAÇA, ESPORTE (TRECHO) ... 53

FIGURA 9 – FLEXIBILIDADE, CARISMA E PERSISTÊNCIA ... 54

FIGURA 10 – DANIELE É A MAIOR GINASTA BRASILEIRA ... 55

FIGURA 11 – RECONHECIDA COMO ESPORTE EM 1962 ... 56

FIGURA 12 – APARELHOS E MOVIMENTOS ... 56

FIGURA 13 – DIRETO DO CEARÁ ... 58

FIGURA 14 – CEARENSE TEM BIÓTIPO E CLIMA PARA PRATICAR A MODALIDADE GRD ... 59

FIGURA 15 – ENCONTRO DE GINÁSTICA RÍTMICA VAI ESTIMULAR ESPORTE ... 60

FIGURA 16 – AULÃO DE GINÁSTICA ... 61

FIGURA 17 – GINÁSTICA RÍTMICA DESPORTIVA É ATRAÇÃO HOJE NO GINÁSTICO DA AABB ... 62

FIGURA 18 – GINÁSTICA RÍTMICA FAZ A DESTA NA AABB ... 63

FIGURA 19 – GINÁSTICA RÍTMICA CHEGA À COMUNIDADE CARENTE ... 64

FIGURA 20 – ESTER VIEIRA ... 139

FIGURA 21 – LORENA N. DOS REIS FURTADO ... 140

FIGURA 22 – BÁRBARA PALOMARES ... 142

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LISTADEQUADROS

QUADRO 1- IDENTIFICAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA DE CAMPO .... 25

QUADRO 2 - CATEGORIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS ... 27

QUADRO 3 - PROGRAMAS ESPORTIVOS DO GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ E PARCERIAS NACIONAIS ... 32

QUADRO 4 - PROJETOS ESPORTIVOS DO GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ ... 36

QUADRO 5 - MODALIDADES ESPORTIVAS CONTEMPLADAS PELA INFRAESTRUTURA DO CFO ... 41

QUADRO 6 - CENTRO DE INICIAÇÃO AO ESPORTE APROVADOS PARA O CEARÁ ... 43

QUADRO 7 - STATUS DAS OBRAS DE CENTROS DE INICIAÇÃO ESPORTIVA NO CEARÁ ... 43

QUADRO 8 – ENTIDADES FILIADAS À FCG (2018) ... 68

QUADRO 9 – REGISTROS DE EVENTOS DA FCG ANALISADOS ... 70

QUADRO 10 – REGISTROS DE EVENTOS DA CBG ANALISADOS ... 70

QUADRO 11- CATEGORIAS POR IDADE CRONOLÓGICA CBG ... 71

QUADRO 12 - RESULTADOS DA PARTICIPAÇÃO DE GINASTAS CEARENSES EM EVENTOS NACIONAIS DE GAF ... 75

QUADRO 13 - GINASTAS PARTICIPANTES DA SELETIVA ESTADUAL JOGOS ESCOLARES 2011 – 2017 ... 85

QUADRO 14 - GINÁSTICA CEARENSE NO CENÁRIO NACIONAL DE GINÁSTICA RÍTMICA – PARTICIPAÇÕES (2011-2017) ... 89

QUADRO 15 - GINÁSTICA CEARENSE NO CENÁRIO NACIONAL DE GINÁSTICA PARA TODOS – PARTICIPAÇÕES (2011-2017) ... 97

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - PARTICIPAÇÃO DE GINASTAS CEARENSES EM COMPETIÇÕES ESTADUAIS DE GINÁSTICA ARTÍSTICA FEMININA E MASCULINA ... 73 GRÁFICO 2 - GINASTAS CEARENSE EM EVENTOS NACIONAIS DE GAF 2011-2017

... 74 GRÁFICO 3 - QUANTIDADE DE ANOS EM QUE OS ESTADOS DO NORDESTE

ESTIVERAM ATIVOS EM COMPETIÇÕES NACIONAIS DE GAF (2011-217) ... 78 GRÁFICO 4 – QUANTIDADE DE GINASTAS PARTICIPANTES DOS CAMPEONATOS CEARENSES DE GINÁSTICA RÍTMICA ... 80 GRÁFICO 5 - PARTICIPAÇÃO DE GINASTAS CEARENSES EM TORNEIOS

ESTADUAIS DE GR ... 82 GRÁFICO 6 - GINASTAS CEARENSES EM EVENTOS NACIONAIS DE GR 2011-2017

... 88 GRÁFICO 7 - QUANTIDADE DE ANOS ATIVOS DOS ESTADOS DA REGIÃO

NORDESTE EM COMPETIÇÕES NACIONAIS DE GR (2011-2017) ... 94 GRÁFICO 8 – QUANTIDADE DE ANOS EM QUE OS ESTADOS DO NORDESTE

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 14

2. MÉTODO ... 19

2.1. PESQUISA DOCUMENTAL ... 20

2.2 PESQUISA DE CAMPO ... 24

2.3 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ... 28

3.1 ORGANIZAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA ESPORTIVA NO ESTADO DO CEARÁ ... 31

3.2 PROGRAMAS ... 32

3.3 PROJETOS ... 36

3.4 BOLSA ATLETA: INCENTIVO NACIONAL PARA A PRÁTICA ESPORTIVA ... 39

3.5 LOCAIS PÚBLICOS PARA PRÁTICA ESPORTIVA... 40

4. GINÁSTICA NO CEARÁ ... 46

4.1 HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM OLHAR PARA OS REGISTROS HISTÓRICOS DA GINÁSTICA NO ESTADO DO CEARÁ ... 47

4.2 FEDERAÇÃO CEARENSE DAS GINÁSTICAS: UM MARCO HISTÓRICO ... 66

4.3 GINÁSTICAS NO CEARÁ: PANORAMA ESTADUAL, REGIONAL E NACIONAL ... 69

4.4 FORMAÇÃO OFERECIDA PELA FEDERAÇÃO CEARENSE DAS GINÁSTICAS ... 100

5. GINÁSTICAS NO CEARÁ: UM OLHAR PARA O ESTADO DO DESENVOLVIMENTO DESTAS PRÁTICAS A PARTIR DAS NARRATIVAS. ... 101

5.1 CENÁRIO DA GINÁSTICA NO ESTADO ... 101

5.2 AVANÇOS E DESCONTINUIDADES: RETRATOS DAS DIFICULDADES, DESCONTINUIDADES E POTENCIAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DA GINÁSTICA NO CEARÁ ... 103

5.3 AGENTES DE DESENVOLVIMENTO DA GINÁSTICA NO CEARÁ ... 138

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 145

REFERÊNCIAS ... 148

APÊNDICES ... 160

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1. INTRODUÇÃO

A Ginástica é uma prática corporal com diversas vertentes. Dada sua abrangência, foi organizada por Souza (1997) em cinco campos de atuação: condicionamento físico, competição, fisioterápicas, conscientização corporal e demonstração. Nessa pesquisa, abordaremos as ginásticas competitivas e demonstrativas, estabelecendo como critério as práticas organizadas pela Federação Internacional de Ginástica (FIG) e, consequentemente, pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG).

Como prática institucionalizada, a Ginástica possui a seguinte organização: Federação Internacional de Ginástica, que a nível internacional organiza, regulamenta e promove campeonatos, concursos e festivais e cursos de formação de treinadores, descrevendo a si mesma como o “corpo governante da Ginástica no mundo todo” (FIG, 2018a, p.1). Sendo estas ginásticas, em ordem alfabética, as seguintes: Ginástica Acrobática (GAC), Ginástica Aeróbica (GAE), Ginástica Artística Feminina (GAF), Ginástica Artística Masculina (GAM), Ginástica Rítmica (GR), Ginástica de Trampolim (GTR), Ginástica para Todos (GPT) e o Parkour1

A CBG tem como finalidade desenvolver as práticas gímnicas da FIG em todo território nacional sendo responsável, de acordo com o Estatuto da instituição, por “dirigir, difundir, promover, organizar e aperfeiçoar a Ginástica” (CBG, 2016a, p.3), e se ocupa das mesmas Ginástica da FIG. Com relação à organização estadual, as federações estaduais são responsáveis por organizar em seus estados a prática na forma de campeonatos, cursos, dentre outras atribuições específicas contidas nos regulamentos próprios de cada estado.

No Brasil, são 24 federações vinculadas à CBG (CBG, 2017a). Sobre a região Nordeste especificamente, todos os estados possuem federações filiadas, totalizando nove federações. Uma das premissas para que um estado possua uma federação é de que haja a prática da Ginástica bem como “a realização de campeonatos/eventos anuais de uma das modalidades gímnicas reconhecidas pela FIG” (CBG, 2016a, p. 4). Desta forma, podemos inferir que há a prática de pelos menos uma das sete Ginástica aqui investigadas nos estados da Região Nordeste. Além disso, as pesquisas mais recentes em Ginástica desenvolvidas na Faculdade de Educação Física da Unicamp têm, em sua maioria, abordado práticas organizadas pela FIG, em função da ampla difusão dessas práticas proporcionadas pela instituição, tornando-se assim

1Esta pesquisa teve seu delineamento, pesquisa documental e de campo realizadas durante o ano de 2017. Neste

período a Federação Internacional de Ginástica ainda não havia incorporado o Parkour às suas práticas por ela regulamentadas, e, portanto, não será abordado nesse estudo.

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práticas conhecidas e internacionalizadas. Assim, esta pesquisa está alocada na linha de pesquisa “Mapeando a Ginástica no Brasil”, desenvolvida pela Professora Dra. Laurita Marconi Schiavon, do Grupo de Pesquisa em Ginástica da FEF/Unicamp, a qual visa mapear esta prática no Brasil a fim de analisar suas características, representatividade, formação de atletas e treinadores, bem como outros fatores ligados a ela.

A possibilidade dessa linha de pesquisa e a necessidade de expandir as regiões estudadas vieram ao encontro do meu interesse como pesquisadora. Como nordestina, convivo com algumas dificuldades e potencialidades para o desenvolvimento esportivo no Ceará. Com relação à Ginástica, mas especificamente, observei durante os últimos anos o interesse no desenvolvimento, simbolizado pelo aumento do número de cursos oferecidos e escolinhas de ginástica no estado, contrapostos com uma dificuldade em realizar efetivamente este desenvolvimento. Portanto, a possibilidade desta linha de pesquisa, que mostra a expansão das investigações realizadas pela FEF-Unicamp e a inquietude que este cenário me causou, culminaram em uma pesquisa que surge de uma lacuna real que certamente terá mais chances de ser preenchida com o conhecimento e reflexão sobre ela.

As dificuldades e potencialidades para o desenvolvimento esportivo no Estado do Ceará acompanharam minha formação esportiva, que se deu, ou melhor esteve ausente, em grande parte dos anos escolares. As ausências dos conteúdos de Ginástica em minha vida escolar só foram supridas quando ingressei na Universidade Federal do Ceará (UFC) na capital cearense, Fortaleza. Na UFC, tive a oportunidade de integrar o grupo de Ginástica para Todos, Gymnarteiros, projeto de extensão da referida Universidade, fundado em 2011 pela professora Lorena Nabanete dos Reis (CARVALHO et. al., 2016).

Neste grupo, tive a oportunidade de conhecer um pouco do universo da Ginástica na variedade de práticas ofertadas, como a Ginástica Rítmica, Ginástica Artística, Rope Skipping entre outras possibilidades. Ao longo de minha formação inicial e a partir deste contato com a Ginástica, participei de festivais, dentre eles o Festival Nacional de GPT - GymBrasil, encontros estudantis e congressos. Neste último evento, destaco a participação no Fórum Internacional de Ginástica Para Todos2 (FIGPT) pela primeira vez em 2014. O FIGPT se configurou em uma oportunidade de formação, mediante a participação em cursos nacionais e internacionais, compartilhamento de pesquisas e busca por conhecimento científico relacionado

2 Maior evento Internacional de Ginástica Para Todos da América Latina. Realizado a cada dois anos pela Universidade Estadual de Campinas em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC) de São Paulo, na cidade de Campinas-SP.

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à GPT e às demais ginásticas em pesquisas correlacionadas, e, por fim, de encantamento nos festivais que aconteciam todos as noites durante os dias do evento.

Em 2016, sistematizei a recente história da GPT no estado do Ceará3 como pesquisa de conclusão de curso, e novamente retornei ao FIGPT para o compartilhamento científico. Esse estudo inicial revelou a necessidade de estudos mais aprofundados, que possibilitassem a compreensão de aspectos relacionados à Ginástica nesse estado e o planejamento de ações a fim de desenvolver a prática no Ceará.

Ainda em 2016, por ocasião da conclusão do curso de graduação em Educação Física e o conhecimento da relevância da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no estudo da Ginástica, lancei-me na busca do conhecimento no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação Física da Unicamp, abordando a Ginástica, desta vez, de forma mais ampla, e acredito, de forma a contribuir com passos fundamentais para a sistematização da história, construção do conhecimento relacionado a esta prática corporal e possibilidade de traçar planos de ação, a partir do conhecimento aqui compilado a fim de contribuir para o desenvolvimento esportivo, mais especificamente da Ginástica no estado do Ceará.

Esta pesquisa se justificativa por sistematizar dados importantes relacionadas à história, gestão e desenvolvimento das Ginástica no Ceará. Avoluma os estudos desenvolvidos sobre a Educação Física na Região Nordeste do país e rompe com a escassez que leva ao não desenvolvimento de ações no sentido do progresso esportivo de algumas práticas. Assim, esta pesquisa tem por objetivo conhecer e analisar o desenvolvimento de sete ginásticas reconhecidas e promovidas pela FIG no estado do Ceará, localizado na Região Nordeste do Brasil.

A partir de estudos sobre o desenvolvimento da Ginástica no Brasil, sabemos que as regiões Sul e Sudeste se destacam não só na formação de ginastas de GA e GR, como também no sucesso esportivo no alto rendimento destas modalidades (SCHIAVON, 2009; ANTUALPA, 2011; LIMA, 2016; TOLEDO; ANTUALPA, 2014). Outros estudos como o de Paoliello e colaboradores (2012) refletem a presença mais expressiva também de estados das regiões Sul e Sudeste na Ginástica para Todos, (PEREZ-GALLARDO; SOUZA, 1995; SOUZA, 1997, AYOUB, 2007), em eventos internacionais como a Gymnaestrada Mundial4. Este desenvolvimento pode ter relação com uma série de fatores, dentre eles fatores econômicos, sociais, históricos e culturais. Estudos históricos sobre a Ginástica no Brasil como

3 Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/article/view/8648068

4 Festival de Ginástica para Todos que ocorre em países da Europa a cada quatro anos e reúne cerca de 20.000 pessoas, sendo o maior evento dessa prática.

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os de Públio (2002), Soares (2005; 2012) e ainda o panorama nacional da GAM, contextualizado por Oliveira (2010), além da obra de Lesser (2015) a qual trata do movimento migratório de países de diversos continentes, dentre eles o Europeu para o Brasil, não encerram, mas ajudam a elucidar questões históricas e organizacionais a partir das quais é possível estabelecer uma relação cultural do desenvolvimento da Ginástica a partir do Sul e Sudeste do país.

De maneira geral, a região Nordeste do país parece apresentar dificuldades no desenvolvimento da Ginástica, inclusive nas Ginásticas não competitivas. Sendo assim, conhecer o estado que se encontra seu desenvolvimento, dificuldades e possibilidades, trará uma compreensão do cenário atual da Ginástica nesse Estado, oferecendo a pesquisadores (as), profissionais da área (treinadores (as), secretários (as) de esporte, dirigentes, professores (as), entre outros) e instituições públicas e privadas um diagnóstico com informações e reflexões que permitam o planejamento e execução de estratégias para o desenvolvimento das práticas gímnicas no Ceará.

Ressaltamos ainda o caráter inédito desta pesquisa na região Nordeste. Esta afirmativa parte da pesquisa bibliográfica realizada nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Online (Scielo), Periódicos Capes, Plataforma ERIC – Education Resources Information Center, Google Acadêmico5 e Sistema de Bibliotecas da Unicamp.

Os poucos estudos encontrados sobre as práticas ginásticas de maneira geral no contexto abordado (Ceará) tratam em sua maioria da GPT, do caráter pedagógico. Esta escassez nos levou à decisão da apresentação do método anteriormente à apresentação dos dados da pesquisa, bem como seu detalhamento, que discorre sobre procedimentos, documentos e fontes necessários para encontrar informações a fim de entender seus próprios contextos.

Este é também o potencial de internacionalização deste estudo, no qual, por meio diversas fontes de pesquisa, nos propusemos a encontrar dificuldades e potencialidades para o desenvolvimento da Ginástica em um contexto de pouca tradição nas modalidades ginásticas, o que certamente não é uma realidade apenas do Ceará e também não apenas brasileira. Esta diversidade de fontes garante o que Resende (2016) tratou como a fiabilidade dos dados na pesquisa qualitativa, a partir dos quais o pesquisador pode cruzar informações e assegurar o rigor da pesquisa e fiabilidade dos dados trazidos à discussão.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, os procedimentos metodológicos aliaram a pesquisa documental à pesquisa de campo, devido à escassez de estudos sobre a Ginástica

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Cearense, tendo dados da própria pesquisa documental nos capítulos iniciais da dissertação. Sendo assim, optamos pela seguinte organização da pesquisa:

➢ Capítulo I: apresentamos o método utilizado nessa investigação;

➢ Capítulo II: contextualizamos a sociedade na qual realizamos nossas investigações, trazendo informações socioeconômicas da população, ações públicas de incentivo à prática esportiva (programas e projetos), locais disponíveis para a prática esportiva, e a organização da gestão esportiva no Ceará;

➢ Capítulo III: tratamos da Ginástica, sua organização institucional (internacional, nacional e estadual), história no Ceará, e realizamos a análise panorâmica do desenvolvimento de sete ginásticas investigadas no âmbito estadual, em relação à região Nordeste e no Cenário Nacional;

➢ Capítulo IV: discutimos as dificuldades, descontinuidades e potencialidades apontadas pelos participantes da pesquisa de campo, discutimos com a literatura e a pesquisa documental estes achados e em seguida apresentamos os profissionais de referência para o desenvolvimento da Ginástica no Ceará;

➢ Capítulo V: No último capítulo, trazermos nossas considerações finais, principais achados e limitações do estudo.

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2. MÉTODO

Uma das práticas comuns a todas as pesquisas é a busca bibliográfica realizada antes de adentrar na pesquisa, isto se dá a fim de conhecer o que já foi feito em relação ao que se deseja estudar, construir um marco teórico e suas hipóteses (KOCHE, 2015).

Sendo considerada por Marconi e Lakatos (2016, p.142) o passo seguinte à escolha da temática, a execução da pesquisa bibliográfica, que para essas autoras trata-se de

[...] um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema. O estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar [...] erros e, representa uma fonte indispensável de informações, podendo até orientar as indagações.

Desta maneira, a fim de obter informações e construir nosso percurso de pesquisa, realizamos buscas nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Online (Scielo), Periódicos Capes, Plataforma ERIC – Education Resources Information Center, Google Acadêmico6 e Sistema de Bibliotecas da Unicamp, pelas seguintes palavras-chave: Ginástica

no Ceará, Ginástica no Nordeste, Gymnastics at Ceará e Gymnastics in Northeast Brazil. A partir desta busca, não foram encontrados estudos desta natureza e amplitude na região Nordeste do Brasil.

Esta busca revelou ainda um pequeno número de estudos realizados sobre Ginásticas organizadas internacionalmente pela FIG. Já os estudos encontrados estão ligados principalmente à Ginástica para Todos no contexto universitário, relatos de experiência, perspectivas sociais e histórias da mesma, o que reforça a questão do caráter inovador e abrangente desta pesquisa.

Dada a incipiência do conhecimento produzido com relação às Ginásticas investigadas, a apresente pesquisa, de caráter qualitativo, reuniu outros dois métodos investigativos: a pesquisa documental e a pesquisa de campo a fim de investigar sete práticas ginásticas organizadas pela Federação Internacional de Ginástica.

A pesquisa qualitativa “enfatiza o interpretativismo, a importância de estudar o todo, focando-se na experiência subjetiva dos indivíduos, estudando como as pessoas percebem, criam e interpretam seu mundo” (RESENDE,2016, p.51). Daí a importância da

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construção deste estudo não somente a partir dos documentos, mas sobretudo, também do olhar dos indivíduos que vivem, constroem e legitimam a Ginástica no Ceará.

Nesse sentido, destacamos a diversidade de fontes utilizadas como um dos fatores enriquecedores desta pesquisa e seu potencial de cumprir com o objetivo a que se propõe “conhecer e analisar” aquilo que se estuda. Por esta mesma diversidade, apresentamos a seguir quais as fontes e tratamentos dados a ela em um esquema visual de intepretação (Figura 1) seguido então de uma explicação a respeito de cada uma das fases da pesquisa.

Figura 1 – Desenho da pesquisa

2.1. Pesquisa documental

A pesquisa documental tem como fonte de coleta de dados documentos, escritos ou não (MARCONI; LAKATOS, 2016). Embora este tipo de pesquisa assemelhe-se à pesquisa bibliográfica, diferencia-se quanto à fonte, como uma busca por documentos (documental), a outra se vale da contribuição de diversos autores a respeito da prática (GIL, 2008). Estes documentos escritos podem ser primários ou secundários (MARCONI; LAKATOS, 2016; GIL, 2008).

De maneira simples, as pesquisas documentais são constituídas a partir de documentos de fontes primárias, aquelas que não receberam tratamento prévio, ou seja, que foram compilados pelo pesquisador no momento da pesquisa. Já as pesquisas bibliográficas se ocupam de documentos de fontes secundárias, aqueles que já receberam algum tipo de tratamento, ou seja, foram interpretadas por outras pessoas.

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A pesquisa documental desenvolvida teve por finalidade encontrar registros em fontes públicas e privados sobre: Ginástica Acrobática, Ginástica Aeróbica, Ginástica Artística Feminina e Masculina, Ginástica Rítmica, Ginástica de Trampolim e Ginástica para Todos. Assim, além de instituições regulamentadoras da Ginástica no Brasil e no estado do Ceará, registros de jornais locais, blogs e páginas na rede social Facebook.

Marconi e Lakatos (2016) diferenciam as fontes de documentos em três: Arquivos públicos, Arquivos particulares e Fontes estatísticas. Nesta investigação utilizamos esses três tipos de fonte, além de arquivos da internet, não alocada em nenhuma destas categorias segundo estas autoras, mas que trouxeram contribuições característica do momento atual da sociedade virtual que vivemos.

O recorte temporal foi realizado com base da disponibilidade dos documentos tanto das instituições promotoras da Ginástica – Confederação Brasileira de Ginásticas e Federação Cearense das Ginásticas – quanto dos jornais e estão descritas ao lado de cada documento listado abaixo.

Os documentos analisados, bem como as fontes estão detalhadas a seguir:

2.1.1 Documentos Analisados

Documentos de fontes públicas analisados:

● Boletins da Confederação Brasileira de Ginástica, disponíveis no site oficial da instituição (www.cbginastica.com.br). A CBG fornece boletins anuais com os resultados das competições realizadas por ano. Estes documentos estão disponíveis desde o ano de 2011 até 2017 para todas as modalidades com exceção da Ginástica para Todos, onde são fornecidos “boletins informativos”, regulamentos e formulários na aba “eventos”. (Período de análise: 2011 – 2017). ● Documentos da Federação Cearense das Ginásticas, cedidos pela própria instituição, mediante solicitação da pesquisadora. Dentre os documentos analisados estão: resultados de competições, calendários e relatórios anuais (Período de análise: 2011-2017).

● Documentos de domínio público do site do Governo do Estado do Ceará (www.esporte.ce.gov.br) e Governo Federal disponíveis no portal (www.esporte.gov.br; www.pac.gov.br)7.

7 Foi utilizada a ferramenta online Waybackmachine disponível no site www.waybackmachine.com para recuperação de dados desta fonte de pesquisa. Esta ferramenta trata-se de uma biblioteca da própria internet que mantém registros das demais páginas da internet e as disponibiliza para consultas online gratuitamente.

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Documentos de fontes privadas analisados:

● Ata de abertura e de reuniões da Federação Cearense das Ginásticas no Cartório Moraes Corrêa, localizado no centro da cidade de Fortaleza - CE.

● Jornais locais (Jornal O povo, Jornal Diário do Nordeste – impressos; Jornal) disponíveis nos acervos das próprias instituições e sob consulta na Biblioteca Pública de Fortaleza. – Da década de 1990 até 2017.8 O recorte temporal destes

arquivos se deu com base nos acervos digitais mantidos pelas instituições e pela disponibilidade de consulta nos mesmos.

Documentos de fontes estatísticas:

 Censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (www.ibge.com.br).

Documentos de fontes da Internet:

 Regulamentos de competições estaduais (Facebook FCG)  Programação de eventos estaduais (Facebook FCG)

Os documentos das instituições promotoras e reguladoras das instituições foram o caminho inicial para a composição desta pesquisa, já os Jornais O Povo e Diário do Nordeste foram escolhidos pela sua representatividade estadual. O primeiro é o jornal mais antigo em circulação neste estado, fundado em 1928 (O POVO, 2018), sendo o segundo em tiragem, ficando atrás apenas do Jornal Diário do Nordeste (ANS, 2015), nossa segunda fonte de dados, fundado em 1981 (DIÁRIO DO NORDESTE, 2006), mas, como mencionado em relação a sua tiragem, popular no estado.

Na base do Jornal “O povo”, a consulta podia ser realizada pela própria pesquisadora, porém a dificuldade encontrada se deu quanto ao sistema, o qual nas duas visitas realizadas ao acervo apresentou erros e falhas inesperadas, e a disponibilidade do mesmo que só permitiu a consulta dos últimos 15 anos, embora houvesse registros mais antigos.

Já no Jornal Diário do Nordeste, havia uma profissional para ajudar nas pesquisas, a qual pré-selecionou todas as notícias do acervo com base nas palavras chaves fornecidas, para

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que a pesquisadora fizesse uma análise daquilo que interessava para a presente pesquisa. Esta análise possibilitou a busca dos últimos 20 anos (1997-2017), compreendendo todo o período em que houve notícias sobre Ginástica nesse jornal, de acordo com esta base. É importante ressaltar também que, no acervo deste último jornal, a consulta não poderia ser feita somente pelo próprio pesquisador, tendo auxílio de um profissional, o que se mostrou um fator positivo no auxílio a pesquisadores. As palavras-chaves consultadas em ambos os jornais foram: Ginástica Aeróbica, Ginástica Artística, Ginástica Acrobática, Ginástica Rítmica; Ginástica de Trampolim, Ginástica Geral, Ginástica para Todos; Ginástica Cearense e Ginástica.

A consulta e a retirada de cópias, em ambos os acervos eram realizadas também mediante o pagamento de tarifa (R$40,00 por hora e R$8,00 por cópia, em ambos os acervos). Assim, dado o volume de arquivos de interesse, após a consulta das datas, a pesquisadora se dirigiu até a biblioteca pública Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel (BPGMP), onde foi possível consultar de forma gratuita as edições dos jornais nas datas específicas encontradas anteriormente nos acervos particulares. A BPGMP, biblioteca mais antiga do estado do Ceará, fundada em 1867, possui um acervo com os jornais cearenses mais antigos do Ceará (SECULT, 2018), porém não possui um sistema de catalogação das obras disponível para consulta, tornando, portanto, inviável a pesquisa diretamente em seu acervo.

A ausência desta sistematização e, por consequência, da preservação da história e memória contida nos diversos jornais cearenses, nos faz lamentar a perda eminente da história do esporte nesta sociedade, uma vez que estes documentos não são conservados adequadamente, fotografados ou digitalizados para a composição de arquivos digitais de acordo com as informações fornecidas pelos próprios funcionários da biblioteca9.

Destacamos a utilização da biblioteca online Way Back Machine (WBM), uma biblioteca virtual que mantém registros de páginas da internet e as disponibiliza para consultas online gratuitamente. Esta biblioteca, iniciada em 1996, já conta com mais de 279 bilhões de sites arquivados e tem por objetivo “propiciar acesso universal a todo conhecimento” (WBM, 2018, p.1). A relevância desta ferramenta está na capacidade da mesma de arquivar registros mesmo que esses tenham sido deletados pelos sites, prática muito comum na internet. No nosso caso, essa biblioteca se mostrou fundamental para o acesso das informações públicas do site do

9 Foram realizados registros do descaso com os jornais de variadas décadas, jogados ao chão, e desta forma,

dificultando bastante a busca pelos (as) quatro funcionários (as) que estavam presentes durante os dias de consulta. Esse tipo de tratamento revela no mínimo um descaso com a história e a memória cearense e/ou desconhecimento do acervo da biblioteca.

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Governo do Estado do Ceará e da Secretaria do Esporte do Estado, os quais, durante o período dessa pesquisa apagaram informações públicas.

2.2 Pesquisa de Campo

A pesquisa de campo é utilizada com o objetivo de se obter informações sobre uma problemática “[...] para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, de descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles” (MARCONI; LAKATOS, 2016, p.169).

Neste caso, o tipo de pesquisa de campo que mais se adéqua ao propósito desta investigação é a exploratória, que, segundo estas mesmas autoras, trata-se das pesquisas de caráter empírico, a qual tem por finalidade desenvolver hipóteses, permitindo a aproximação do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno (MARCONI; LAKATOS, 2016).

Na pesquisa de campo desenvolvida, utilizamos entrevistas semiestruturadas. “A utilização da entrevista semiestruturada foca-se na procura de entender o mundo dos indivíduos e suas experiências e dos significados que se atribuem a essas experiências. ” (RESENDE, 2016, p.52). O roteiro das entrevistas foi previamente discutido com o grupo de pesquisa, a fim de realizar uma validação inicial das questões a serem realizadas e, além disso, durante a pesquisa de campo algumas questões foram levantadas pelas narrativas dos (as) entrevistados (as) e assim incorporadas ao roteiro.

2.2.1. Participantes da pesquisa de campo

Para investigarmos e identificarmos os (as) participantes a serem entrevistados (as) nesta pesquisa, “pessoas representativas na construção da Ginástica no Ceará”, iniciamos as buscas pelo “caminho institucional”, ou seja, tendo como ponto de partida a Federação Cearense das Ginásticas (FCG), órgão estadual responsável pela prática no estado.

Além disso, para encontrarmos outras pessoas representativas da Ginástica no Ceará, houve também a colaboração dos (as) próprios (as) participantes, a partir de uma das perguntas do roteiro de entrevistas (Apêndice 1): “Para você quem são as pessoas de referência na Ginástica no Ceará? Por quê? ” Observamos o quanto estes nomes se repetiam e com qual ênfase.

Desta maneira, identificamos oito participantes a serem entrevistados (as) descritos (as) no Quadro 1 com seus respectivos perfis. Esclarecemos aos participantes que suas

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entrevistas não seriam atreladas aos seus nomes, garantindo o anonimato das respostas. No entanto, estes seriam identificados a fim de atribuir a representatividade dessa amostra como agentes fundamentais para o desenvolvimento da Ginástica no estado, além de conferir-lhes o destaque histórico pelo importante papel desempenhado nesse sentido. Portanto, para as narrativas serão suprimidos os nomes dos mesmos e atribuído o termo participante, já em informações de caráter histórico, foram creditados a estes seus feitos. Esta codificação foi feita de maneira randômica, porém, será apresentada no Quadro 1 na ordem histórica identificada.

Quadro 1- Identificação dos participantes da pesquisa de campo

Grupos Participante Atuação Naturalidade Período de

atuação 1 ª g er aç

ão Ester de Azevedo Vieira Treinadora de GR /

Professora Universitária São Paulo 1996 - 2017 Evaldo Silva Treinadora de GA

Ceará

1996 - atual10 Robson de Oliveira Marques Treinador de GA 199? - atual11

2 ª g er aç ão

Karol Colares Pimenta Treinadora de GR Ceará 2007 - atual Bárbara Raquel Agostini

Palomares

Treinadora de GR/ Professora Universitária

Paraná

2008 - atual

Lorena Nabanete dos Reis

Ex-atleta/ Árbitra nacional/treinadora de GR/

Professora universitária

2009 - atual

Jordana dos Santos Carneiro Treinadora de GR/

Professora da rede municipal Ceará 2012 - atual Ângela Cristina Freire

Alexandre

Ex-Atleta de GA/

Treinadora de GA Portugal 2016 - atual

Quanto à abordagem dos indivíduos, foi feito o contato por email ou por telefone, convidando-os a participar. Uma vez que estes concordaram em participar, encontramos os participantes em horário e local de preferência dos mesmos, apresentando a pesquisa a eles (as) juntamente com uma carta de apresentação da Faculdade de Educação Física da Unicamp e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias.

No início da entrevista de cada participante, pedíamos que os entrevistados respondessem a um questionário sobre infraestrutura dos locais de trabalho e formação profissional, porém já nas primeiras entrevistas o questionário se mostrou longo e inadequado para este momento, uma vez que a maioria das entrevistas ocorreu no local de trabalho dos entrevistados, que solicitaram o preenchimento ou devolução em outro momento, desta maneira

10 Atleta na década de 1980 de acordo com informações do entrevistado. Este quadro trata da ação no sentido do desenvolvimento, porém, é importante mencionar este indício histórico.

11 Entrevistado não precisou o início da atuação no Ceará. Informação fornecida pelo participante “mais de 20 anos”.

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optou-se por criar um formulário online enviado aos emails dos participantes, na busca de facilitar o preenchimento com a devida atenção.

Os questionários online não retornaram em tempo hábil para análise, porém destacamos o empenho da Federação Cearense das Ginásticas em incentivar os treinadores e árbitros cearenses a responderem ao questionário.

2.3 Tratamento e Análise dos dados

As entrevistas foram transcritas de forma integral, ou seja, “tanto linguística (registros da totalidade dos significantes) como paralinguística (anotações dos silêncios, onomatopeias, [...] etc.) ” (BARDIN, 2011, p. 222), porém, no momento da inserção no texto passaram por revisão ortográfica e gramatical.

Para o tratamento dos dados obtidos, no que diz respeito aos documentos, estes foram descritos na sua forma integral, destacando datas e acontecimentos que retratam as manifestações das Ginásticas investigadas no estado do Ceará no passado e na atualidade, dentro do recorte temporal já explicitado.

Já para os dados obtidos nas entrevistas semiestruturadas foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo, proposta por Bardin (2011). Esta técnica possui três fases distintas:

Pré-Análise, que se trata da organização e sistematização dos dados obtidos, que pode se utilizar ou não de softwares de computador para sua operacionalização, neste caso utilizamos o software NVIVO® 2010. Esta fase possui três missões: escolha dos documentos, formulação de hipóteses e indicação de fatores para interpretação (BARDIN, 2011).

Na segunda etapa, a - exploração do material - é realizada a codificação dos dados já sistematizados na primeira fase a serem analisados na próxima etapa. Esta fase está diretamente ligada ao sucesso da Pré-Análise. Para realizar a codificação, é necessário instituir as “Unidades de Registros” UR’s que são as unidades básicas, podendo ser frases, temas, palavras. Nessa pesquisa, optamos pela análise temática na qual identifica-se no texto ideias portadoras de significações isoláveis ou núcleos de sentido (BARDIN, 2011).

Ainda para a compreensão da codificação, faz-se necessário entender também o conceito de Unidade de contexto, sendo este maior em dimensões que a UR e que ajuda a contextualizar e compreender exatamente o significado da UR, podendo ser uma frase, um parágrafo que, neste caso, gerou o tema.

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[...] uma transformação - efetuada segundo regras precisas dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão, susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto.

A codificação é composta pelas seguintes fases:

● O recorte: escolha das unidades;

● A enumeração: escolha das regras de contagem; ● A classificação e a agregação: escolha das categorias.

Quanto à enumeração, subfase da codificação, optamos por não realizar uma contagem, entendendo que aquilo que para um participante pode ser relevante, para outro pode configurar-se irrelevante. Assim, levando a importância dada aos participantes, agentes que atuam e conhecem a realidade que desejamos estudar, e ainda, levando em conta também a característica pioneira deste estudo, não é nossa intenção cercear as narrativas, e as possibilidades investigativas, portanto, sempre que uma subcategoria aparecer será relacionada à categoria que se atribui aos participantes, cabendo a nós pesquisadores(as) debatermos e não realizarmos juízos de valor quanto à maior ou menor relevância do tópico apontado pelo entrevistado.

Com relação à última etapa da análise, o tratamento dos resultados obtidos e interpretação, é nesta fase que tendo os resultados significativos, o (a) pesquisador (a) pode então “fazer inferências e interpretações a propósito dos objetivos previstos ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas” (BARDIN, 2011, p.131).

As categorias de análise podem ser preestabelecidas ou surgirem a partir das entrevistas. No caso desta pesquisa, as categorias surgiram a partir das narrativas. Embora, amparadas pelas fases anteriores, tais como a pesquisa bibliográfica, existiam hipóteses da existência de dificuldades para o desenvolvimento, e também o interesse nesse desenvolvimento, simbolizado na forma da categoria de possibilidades, uma vez que a pesquisa documental dava indícios do interesse da sociedade estudada pela prática da Ginástica. As categorias por nós elencadas estão descritas no Quadro 2 a seguir.

Quadro 2 - Categorização das entrevistas

CATEGORIAS/TEMAS

Investimento e infraestrutura Formação

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Cultura Ginásticas esportivas

Desconhecimento das Ginástica e o interesse pela prática

2.3 Comitê de Ética em Pesquisa

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) sob número de protocolo CAAE: 68083317.2.0000.5404.

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3. ESPORTE NO CEARÁ: ORGANIZAÇÃO E AÇÕES PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO ESPORTIVO.

O Ceará é o terceiro estado mais populoso da região Nordeste, com população aproximada de 8.843 milhões de habitantes (IBGE, 2016a). Diferente de outros estados brasileiros, como São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, influenciados pela imigração japonesa, alemã, italiana, entre outras nações com tradição nas práticas corporais, especialmente a Ginástica (LESSER, 2015). O estado de São Paulo, por exemplo, recebeu imigrantes de 60 países após o fim da escravidão em 1888, atraídos pelas possibilidades de trabalho nas lavouras de café (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2018).

A Confederação Brasileira de Ginástica também atribui o início da história da Ginástica no Brasil à colonização Alemã, iniciada principalmente no Rio Grande do Sul (CBG, 2018a). Portanto, é possível implicar, para os Estados mencionados uma influência cultural diversa, dentre elas, a cultura Gímnica.

Já o Ceará, foi colonizado por portugueses no século XVII, chegando a ser ocupado por exércitos Holandeses (1637) que, porém, não obtiveram sucesso na colonização, sendo expulsos e assim, não estabelecendo sua cultura (CEARÁ, 2017a). Com a mudança do polo econômico do Brasil em função da crise da cana de açúcar no Nordeste e ascensão do café no Sudeste (SILVA, 2018; IBGE, 2007, p.31), o Ceará, assim como os demais estados do Nordeste, não teve o mesmo desenvolvimento industrial que os estados/regiões detentores da produção do café e assim, não atraíram imigrantes europeus, que aportaram no Brasil fugindo das “grandes transformações política, econômica, social e cultural observada na Europa no Século XIX. ” (IBGE, 2007).

Essa relação histórica do movimento imigratório e econômico no país, tornou o Brasil uma nação multiétnica e, logo, multicultural. Desta maneira, este fator é um dos aspectos que ajuda a explicar a cultura da prática gímnica e logo, seu desenvolvimento em diversos estados brasileiros, assim como a ausência em outros.

Cientes de que questões socioeconômicas também afetam diretamente o desenvolvimento social, dentre eles a prática esportiva, outro ponto relevante nesta discussão diz respeito à renda per capita dos cearenses, que segundo o IBGE (2017) é de R$824,0012, sendo o sexto colocado, em ordem decrescente, dos nove estados nordestinos. Já em relação ao Brasil, Estados com alto grau de desenvolvimento esportivo, como Paraná (R$1.472,00) e São

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Paulo (R$1.712,00), Estado brasileiro com o maior investimento no Esporte (LIMA, 2016), este mesmo indicador econômico pode ser mais que o dobro do valor da renda per capita cearense.

Lima (2016) ressalta o aspecto econômico como um fator impulsionador do desenvolvimento da Ginástica na Região Metropolitana de São Paulo. Assim, este paralelo econômico da renda per capita, revela que este pode ser um dos fatores que contribui para o não desenvolvimento de práticas como a Ginástica em estados/regiões com menor poder econômico. Além desta característica, a cidade de Fortaleza, capital cearense, apresenta-se como uma das cidades com maior desigualdade social do mundo (O POVO, 2010; BERLINK, 2011). Deste modo, levando em conta o fator econômico como preponderante para a prática, algumas práticas ginásticas podem tornar-se práticas elitizadas.

Essa análise inicial reforça o papel do Governo Estadual e do Governo Federal na forma de seus projetos e programas públicos de fomento à prática esportiva, como possibilidade da democratização do acesso às práticas esportivas. Estes aspectos serão discutidos mais à frente quando contextualizamos as oportunidades de prática esportiva de maneira geral no Estado, e posteriormente, onde se encontra a Ginástica nesse contexto.

Quando afunilamos este olhar para a prática esportiva, podemos observar a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a qual investigou o perfil dos estados e municípios brasileiros quanto a diversos aspectos, dentre eles o Esporte. Nela, o Ceará, assim como o Amapá, Pará, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, possuem uma gestão própria por meio de Secretaria Estadual exclusiva do Esporte, sendo o Ceará o único estado do Nordeste com esta estrutura específica para o Esporte (IBGE, 2016c). Ainda segundo essa mesma pesquisa, a região Nordeste e Sudeste apresentam uma estrutura organizacional esportiva ligeiramente menor que as outras regiões do país, o que, na prática, significa um número menor de profissionais e secretarias envolvidas na gestão e desenvolvimento da prática esportiva, que as demais regiões do Brasil (IBGE, 2016c).

Em relação ao perfil dos gestores da política do Esporte no estado, os profissionais envolvidos com a Secretaria de Esporte do Ceará ou departamentos com esta finalidade a nível estadual, possuem nível superior completo (IBGE, 2016c). Em relação à própria região, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba possuem o mesmo perfil, enquanto no Piauí, Pernambuco e Alagoas estes gestores possuem, além da formação inicial, algum tipo de especialização. Já na Bahia, esses profissionais possuem mestrado ou doutorado (IBGE, 2016c). A pesquisa não aponta quais os cursos de formação, porém, a formação continuada permite ao indivíduo ampliar sua reflexão sobre a prática e aprofundar-se em temas de seu interesse. Desta

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maneira, destaca-se este perfil de maneira positiva, entretanto, esses mesmos dados revelam, dentro da própria região, uma disparidade em relação à formação do gestor esportivo.

Em relação ao Brasil, o Ceará está à frente de estados como Minas Gerais (Região Sudeste), Amazonas e Roraima (Região Norte), nos quais os gestores esportivos possuem nível superior incompleto, porém igual a Estados cujo desenvolvimento esportivo é nacionalmente reconhecido, como São Paulo (Região Sudeste) e Rio Grande do Sul (Região Sul).

Assim, a partir deste censo, realizado entre os meses de outubro e novembro de 2016, é possível perceber que há uma progressiva organização da gestão esportiva no Ceará, aproximando-o inclusive de estados e regiões mais organizadas/desenvolvidas em relação à gestão esportiva no Brasil.

Como mencionado anteriormente, a gestão esportiva no Ceará se dá por meio de secretaria exclusiva, sendo uma secretaria estadual e uma municipal no caso da Região Metropolitana de Fortaleza. Assim, a fim de conhecermos as possibilidades de prática esportiva ofertadas por meio da Secretaria de Esporte do Ceará que, em teoria, representa um panorama das políticas públicas destinadas ao esporte em todo o estado, apresentamos a seguir as ações públicas de incentivo ao esporte no Ceará, dentre elas as práticas competitivas e/ou voltadas para o lazer.

3.1 Organização da gestão pública esportiva no estado do Ceará

O Governo do estado do Ceará, por meio da Secretaria do Esporte (Sesporte), é responsável por gerir as políticas públicas estaduais ora em parceria com o Governo Federal, ora Municipal, a fim de fomentar o esporte no Estado. De acordo com a Sesporte, compete à secretaria (SESPORTE, 2017a, p1):

Planejamento, normatização, coordenação, execução e avaliação da política estadual de desporto. [...] administração do Estádio Governador Plácido Castelo – Castelão, do Autódromo Virgílio Távora e das Vilas Olímpicas. [...] promover o esporte amador, apoiando eventos e atletas, por meio das federações oficiais e/ou entidades esportivas. [...] articular as ações do Governo do Estado na valorização e na inclusão social dos jovens através do esporte

Nesta pesquisa, apresentaremos os programas e projetos do Governo Estadual, executadas pela Secretaria do Esporte do Ceará, e as parcerias nacionais de maior representatividade, ou seja, aquelas de caráter nacional consolidadas. A Sesporte atua com dois tipos de iniciativas: programas e projetos. Não havendo explicação da Sesporte sobre a

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diferenciação de nomenclatura dessas iniciativas, optamos por manter o mesmo termo utilizado pela própria Sesporte.

3.2 Programas

Foram encontrados cinco programas ao longo do período observado, desde 2016 até 2018, apresentados no Quadro 3, juntamente com a característica principal de cada projeto e seu status (se ativo ou não) no ano corrente.

Quadro 3 - Programas esportivos do Governo do Estado do Ceará e parcerias nacionais

Programa13 Objetivo Característica

principal Status

Programa Esporte e Lazer

da Cidade

Promover o esporte de maneira não competitiva, ou seja, voltada para o lazer

Promoção da prática esportiva Ativo Ceará atleta: o programa bolsa atleta do Ceará

Incentivar financeiramente atletas que estão abaixo da linha da pobreza Incentivo Financeiro Programa Esporte em três tempos

Promover o esporte nos campos Sesporte e nas Arenas, aliando a prática esportiva a palestras

educacionais a conteúdos como respeito, arte e paz Promoção da prática esportiva

Ativo (em fase de edital) Programa

Segundo Tempo

Democratizar o acesso ao esporte educacional de qualidade, como forma de inclusão social

Desativado Bolsa Esporte

Incentivar financeiramente e favorecer o desempenho esportivo dos atletas que estão abaixo

da linha da pobreza14

Incentivo Financeiro Fonte: Sesporte (2018a)

O Quadro 3 apresentou os objetivos, status e característica principal de cada programa. Estas iniciativas foram ordenadas levando em conta seu status, ou seja, se estavam ativas ou não no momento da finalização desta pesquisa. As iniciativas desativadas também foram discutidas, a fim de contextualizar as oportunidades de prática esportiva em um caminho histórico recente, evitando um olhar recortado da realidade abordada. A seguir, trataremos primeiro dos programas ativos e posteriormente dos programas desativados, discutindo brevemente e estabelecendo uma relação entre os dados e pesquisas encontradas sobre estes programas.

13 O Programa Segundo Tempo, Programa Esporte e Lazer da Cidade e Bolsa esporte são políticas nacionais

adotadas pela Sesporte.

14 Linha da pobreza é um índice econômico. Cada país possui um método para medição, fornecendo estes dados

ao WorldBank o qual adota a medida de 1,90 dólares por dia (aproximadamente R$3,46 – abril de 2018). Sendo este valor considerado insuficiente para as necessidades básicas do ser humano.

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O Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) conta com iniciativas de Ginástica, porém voltadas para o bem-estar e condicionamento físico, não abordando nenhuma das práticas ginásticas investigadas nesta pesquisa. O estudo desenvolvido por Vieira e colaboradores (2017) sobre o PELC no Nordeste, relacionou o PELC ao Índice de Desenvolvimento Humano. Assim, estes autores observaram que o Nordeste possui representatividade quanto ao número de convênios vigentes nos Estados que compõem essa Região, e, portanto, quanto ao número de iniciativas do programa, em teoria, em funcionamento na região. Porém, estes mesmos autores observaram uma divisão irregular destas iniciativas dentro da própria região Nordeste. Quando comparado com o restante do país, a região Sudeste se destaca, tendo São Paulo e Rio de Janeiro com os maiores números de iniciativas concentradas, o que significa que pode estar relacionado, segundo estes autores, à baixa quantidade de estados que compõem a região Sudeste e à alta concentração populacional desta região, evidenciando, uma discrepância da incidência do PELC entre eles e o resto do país (VIEIRA et al., 2017).

Por fim, quando realizada a relação dos locais onde o PELC estava presente com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) local, observou-se que nas regiões Nordeste e Norte, a média de convênios é inferior à metade dos convênios na região Sudeste por exemplo. Tendo em vista que este é um programa público de democratização do esporte, a ausência de mais iniciativas em estados com baixo IDH, pode ser um fator que distancia a população da prática esportiva, sendo necessário que índices como este sejam levados em conta com maior peso nos editais, a fim de aumentar o número de iniciativas e oportunizar a prática esportiva em regiões mais carentes (Ibidem).

No caso do Programa Ceará atleta, iniciado em 2015, tendo edições no ano de 2017 e uma atual (2018) em fase de edital, o programa teria três linhas de atuação fornecendo bolsas, ou seja, incentivo financeiro independente da modalidade esportiva praticada pelos atletas: iniciantes em modalidades esportivas - R$100,00/mês; atletas que já participaram de competições locais tendo sido colocado até 10º lugar – R$130,00/mês - e atletas que já competiram em competições locais e que tenham atingido até o 6º lugar - R$260,00/mês (SESPORTE, 2018a). Como podemos observar, esta política direcionada a atletas abaixo da linha da pobreza, possui duas frentes direcionadas ao alto rendimento esportivo. Ademais, os valores ofertados parecem visar abrangência, porém não condiz com a realidade dos investimentos necessários para a manutenção de um atleta na prática esportiva (equipamentos, transporte e alimentação necessária). Em 2015, não foram encontrados dados sobre atletas e

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modalidades contempladas na página direcionada ao programa. Já em 2017, seis ginastas receberam o incentivo (SESPORTE, 2018a), sendo cinco delas ginastas da Região Metropolitana de Fortaleza (Eusébio e Fortaleza) e uma do interior (Jaguaribe)15. Duas destas atletas (Raquel Rebouças e Nicole Oliveira), alunas da Rede Pública de Ensino de Fortaleza, que fazem parte do projeto social “Sonho em Movimento”, receberam o terceiro tipo de incentivo, mais elevado valor, enquanto as demais ginastas receberam o incentivo da categoria 1. Atletas de outras práticas esportivas como o Futebol, Futsal, Natação, Judô, Taekwondo, Handebol, Capoeira, Atletismo e Ciclismo também foram contemplados. Sendo a modalidade Futsal a que mais teve atletas contemplados (251), Atletismo (106) e Karatê (105) enquanto o Ciclismo e a Luta Olímpica foram as modalidades com menor número de atletas contemplados (3 cada). Nesse contexto, a Ginástica se apresentou como a penúltima modalidade/atletas contemplados, o que pode revelar uma diversidade de esportes praticados, porém indica para uma cultura esportiva que acompanha um cenário cultural esportivo nacional de acordo com esse programa, valorizando práticas como o Futebol e Futsal.

O Programa “Esporte em Três Tempos” foi inserido no site da Sesporte em 01 de março de 2018 e lançou seu primeiro edital, apresentando até o momento o objetivo e a logomarca do projeto, além da ficha e inscrição para monitores. Dados os locais descritos para a realização da ação (campinhos e areninhas), pode-se inferir que as práticas estão relacionadas ao Futebol de campo. Porém, é necessário esperar o andamento do projeto para que se obtenha mais informações sobre a efetividade desta ação na promoção do esporte e os benefícios sociais descritos na elaboração do projeto.

O Programa Segundo Tempo (PST) foi um programa do Governo Federal desenvolvido pelo Ministério do Esporte com abrangência nacional o qual tinha como objetivo a promoção do esporte educacional. Em parceria com o Governo do Estado do Ceará este programa esteve ativo no Estado, porém, no momento da presente pesquisa as informações sobre esse programa não estavam mais disponíveis para consulta na Secretária Estadual. No entanto, notícias sobre o programa confirmaram o funcionamento do Programa em 2013, bem como teve sua renovação realizada em 2015 (SESPORTE, 2018a; MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2018a; 2015a; PREFEITURA DE FORTALEZA, 2013).

Estudos como os de Reis (2009) o qual utilizou o PST como campo para aplicação de uma proposta de prática gímnica não competitiva, e os estudos Dodó (2016) o qual avaliou

15 Atletas contempladas em 2017 pelo programa Ceará Atleta>Ginástica> Raquel Rebouças, Nicole Oliveira, Mikaelly Oliveira, Maria Eduarda Lima, Laura Stephane Rocha e Lílian Martins

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a efetividade do PST em Fortaleza, capital do Ceará, revelam não só a existência, mas como os benefícios e problemáticas desta iniciativa em Fortaleza/CE, como aponta Dodó (2016, p. 85): “É inegável que o PST promoveu melhorias na vida de seus participantes, e forneceu elementos para a mudança dessas realidades a curto e longo prazo, constituindo-se assim em uma política pública efetiva”. Porém ressalta que núcleos do projeto foram desativados antes do fim do convênio, enquanto outros sequer foram abertos. Infelizmente, não são disponibilizadas no acervo digital da Sesporte informações sobre quais modalidades foram contempladas, nem o período de duração deste programa.

Com relação ao funcionamento deste programa na região Nordeste, de maneira mais ampla, o estudo de Santos, Starepravo e Souza Neto (2015) tratou do vazio que depõe contra a proposta de democratização do esporte, ou seja, a incapacidade de os implementadores (Governos Federal, Estadual e Municipal) de abranger 1029 municípios de oito dos nove estados do Nordeste. Quanto ao Ceará, este mesmo estudo revela que este foi o único estado a não fazer parte desse “vazio”, ou seja, sendo seus municípios contemplados pelo programa.

O programa Bolsa Esporte, teve edições em 2015 e 2017 e foi desativado em janeiro de 2018. Tratou-se de uma iniciativa estadual de incentivo financeiro destinado a todas as modalidades esportivas, porém, em função de sua desativação não foi possível encontrar mais informações disponíveis sobre este programa no site da Sesporte. Em ambos os anos nos quais houve iniciativas, não são disponibilizadas listas de contemplados e modalidades, portanto, não é possível saber sobre a efetividade deste programa no Ceará, seus dados e indicativos.

De maneira geral, quanto aos programas, observamos iniciativas recentes, enquanto outros programas tiveram descontinuidade, o que parece indicar uma política esportiva de um governo e/ou uma gestão/partido político. Esta afirmativa vai ao encontro dos estudos de Toledo e Antualpa (2014), o qual, fundamento em estudos da área, aponta para a ausência de uma política pública contínua e alicerçada nas demandas dos esportes. Essa descontinuidade pode inferir no cenário de prática esportiva em geral, acarretando no abandono esportivo, por falta de políticas, espaços e incentivos para a prática esportiva uma vez que os incentivos, principalmente para pessoas de baixa renda podem significar a participação (ou não) em competições regionais e nacionais e, consequentemente, permanência ou não no esporte.

Referências

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