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Criação de vitelos de leite. Maneio geral de vitelos de leite numa exploração agro-pecuária. Relatório de Estágio

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Criação de vitelos de leite

Maneio geral de vitelos de leite numa exploração Agro-Pecuária

Nádia Raquel dos Santos Semedo Martinho

Relatório de estágio para obtenção do Grau de Mestre em:

Engenharia Agronómica

Orientador: Doutor João Pedro Bengala Freire

Engenheiro Ricardo Miguel Lopes Basílio

Júri:

Presidente:

Doutora Cristina Maria Moniz Simões de Oliveira, Professora Associada com Agregação do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

Vogais:

Doutor João Pedro Bengala Freire, Professor Catedrático do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, orientador;

Doutora Ana Cristina Saragoça Melgado Gonçalves Monteiro, Professora Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

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Agradecimentos

Agradeço a todos os que se cruzaram comigo nesta aventura pelo Instituto Superior de Agronomia, que à sua maneira me ensinaram, ajudaram e contribuíram para a minha formação e felicidade durante estes dois anos.

Ao engenheiro, professor e mestre Gil Feio. Por ser tão fiável e sempre tão disponível. Por ser um professor e mestre que procura sempre transmitir-me um pouco do engenheiro que é, que não me dá respostas fáceis, que me obriga sempre a ir mais além e a procurar ser cada vez melhor. Por ter sido quem me motivou a inscrever no mestrado e quem deu na cabeça e animou quando desanimei.

À Sandra Dias da Cunha, patroa, professora e querida amiga pela paciência, disponibilidade, boa vontade e incentivo. Por não ter sido um ano fácil e por me ter disponibilizado tantas horas para poder assistir às aulas. Por ter sido tão compreensiva com as minhas falhas. Por ter acreditado em mim, me ter dado uma oportunidade e por me ter emprestado a sua família: Real, Tuareg, Xara, Sundance, Chi, Cuili. Por ter sido uma professora tão dedicada, por me ter transmitido conhecimentos tão valiosos e por me ter mostrado este mundo delicado, trabalhoso, onde o respeito e amor pelos cavalos não só é um princípio como uma maneira de estar na vida.

À minha família. Aos meus pais, pelo esforço que fizeram, pelo apoio que me deram. Por serem os melhores pais do mundo. À minha madrinha e ao João por me terem acolhido durante tanto tempo. Por ser sempre uma alegria viver com eles.

Aos amigos que fiz nesta instituição. Aos amigos que ficam no coração. Ao amigo que se tronou no coração. Foram vocês que fizeram valer a pena estes dois anos.

À Barão & Barão por ter sido como uma casa para mim. Por toda a simpatia e à-vontade com que me receberam e me incluíram na equipa. Ao Sr. Barão por ser um senhor tão simpático e divertido. Por me ter mostrado que gerir requer coragem e é só para fortes de bons princípios e trabalhadores. É sempre o primeiro a chegar e o ultimo a sair e isso faz toda a diferença. E, no meio da adversidade, ainda encontra maneira de nos fazer rir a todos. À Dona Gina, a Baronesa, por ter sido tão simpática e amável comigo. Pelas conversas sábias e pelos almoços sempre bem-dispostos. À Engª. Paula, pelo bom humor, pela amizade e por tudo o que me ensinou. Trabalhar com ela torna tudo tão mais fácil e eficiente. É impossível não rir e não estar bem-disposta quando ela está na equipa e trabalhar assim sabe tão bem. Ao Darius, que em termos práticos, foi o meu maior professor. Obrigada pela paciência, por me teres incentivado e obrigado a fazer determinadas coisas, por teres esperado por mim para

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3 me ensinares técnicas e por teres sido um supervisor, companheiro de equipa e professor tão atento e dedicado. É muito fácil trabalhar contigo. No último mês já quase não precisávamos de falar para saber o que cada um tinha de fazer. Fizemos uma boa dupla. À Engª Rita, ao Sr. Jorge, ao Aurindo, ao Ricardo e a toda a restante equipa, um muito obrigada pela paciência e pela simpatia com que me acolheram. Por me terem ensinado e feito crescer.

Aos meus orientadores. Orientador Interno, Doutor João Bengala Freire, por ter aceite o convite de me orientar nesta caminhada. Por toda a paciência que teve e por toda ajuda preciosa que me deu. Orientador externo, Eng.º Ricardo Basílio pela simpatia com que me acolheu, pela sua supervisão, conselhos, críticas, ajudas e conhecimentos que me transmitiu. Por ter tido paciência para responder a todas as minhas dúvidas e questões.

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Resumo

A criação de vitelos é uma componente extremamente importante na vida de uma exploração leiteira. É deste trabalho que surge o futuro da exploração. Pretende-se que seja o mais rentável e produtivo possível.

O objetivo do produtor deverá ser a criação de vitelos bem desenvolvidos, nutridos e saudáveis, com uma baixa incidência de doenças e mortalidade, com o mínimo de esforço e custo.

O maneio adequado, bem planeado e executado, acarreta benefícios não só económicos, a curto prazo, como um aumento da produtividade futura da exploração, através de aumentos de produção de leite com as crias desenvolvidas na exploração, reduzindo assim os custos de substituição.

Para que o vitelo cresça forte e saudável é necessário que se forneçam as condições necessários ao seu desenvolvimento, quer no tipo de alojamento e limpeza quer no seu maneio. As primeiras semanas do neonato são as mais críticas e difíceis da sua vida. É preciso um cuidado e vigilância maior para que se diminuam as doenças, problemas e mortes. O sistema imunitário destes animais é imaturo e débil à nascença, sendo que é necessário a aquisição de imunidade através da ingestão correta e atempada de colostro de elevada qualidade.

É através do desenvolvimento de um bom programa de maneio de vitelos, com controlo e maneio adequado do colostro, boas condições de conforto e higiene nas instalações, que se obtém um correto desenvolvimento e bem-estar dos vitelos, diminuindo a mortalidade, incidências de doenças e stress, contribuindo para o sucesso produtivo e reprodutivo da exploração.

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Abstract

Raising calves is an extremely important component in the life of a dairy farm because they are the future and it is intended to be the most profitable and productive as possible.

The raising of well-developed nourished and healthy calves, with a low incidence of disease and mortality, should be the goal of the producer, achieved with minimal effort and cost. Proper management, well planned and executed, brings benefits not only economic in the short way, but in future farm productivity through the increases of milk production with the farm’s raising calves, thus reducing replacement costs.

It’s necessary, to a strong and healthy grow, to provide the best conditions for their development, in the type of accommodation and hygiene. The newborn first weeks are the most critical and difficult of his life. More caution and vigilance must be increased to reduce the problems, disease and deaths. These animals have a weak immune system and the acquisition of immunity by the proper and timely ingestion of high quality colostrum is required. It’s with the development of a good an adequate calf management program with emphasis on colostrum management, good comfort and hygiene, the mortality, disease will decrease giving their contribute to the success of the farm.

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Índice

Agradecimentos ... 2 Resumo ... 4 Abstract ... 5 Índice de figuras ... 8 Índice de tabelas ... 9 Lista de abreviaturas ...10 Estrutura do relatório ...11

Parte I: Fundamentação teórica ...11

Parte II: Estágio na empresa Barão & Barão ...11

Parte III: Estudo de caso ...11

Parte I: Fundamentação teórica ...12

1.1. Reprodução ...12

1.2. Gestação ...14

1.2.1. Desenvolvimento da glândula mamária ...14

1.2.2. Produção de leite ...15

1.3. Maneio da vaca no período seco...15

1.3.1. Maternidade ...17

1.4. Mecanismos e fisiologia do parto ...17

2.1. Período neo-natal ...18 2.1.1. Maneio do neonato ...18 2.1.1.1. Colostro...20 2.1.1.1.1. Avaliação da qualidade ...21 2.1.1.1.2. Administração do colostro ...24 2.1.1.1.3. Maneio do colostro ...25 2.1.1.1.4. Transferência passiva ...27 2.2. Tipos de alojamento ...27 2.3. Maneio geral ...31 2.3.1. Descorna ...31 2.4. Maneio alimentar ...32 2.5. Maneio sanitário ...37 2.5.1. Plano de vacinações ...37

2.5.2. Doenças mais comuns...38

2.6. Taxa de mortalidade...39

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2.6.2. Influência do stress ...40

Parte II: Estágio na empresa Barão & Barão ...42

1. Caracterização da empresa ...42

2. Descrição das atividades de estágio ...43

3. Reprodução ...44

4. Parto ...45

5. A criação de vitelos ...45

5.1. Vitelos dos 0 dias aos 7 dias ...45

5.1.1. Tipo alojamento ...45

5.1.2. Maneio geral ...46

5.1.3. Maneio alimentar ...46

5.1.4. Maneio Sanitário ...47

5.2. Vitelos dos 7 dias aos 30 dias ...47

5.2.1. Tipo de alojamento ...47

5.2.2. Maneio geral ...48

5.2.2. Maneio alimentar ...49

5.2.3. Maneio sanitário ...50

5.2.3.1. Doenças mais comuns ...51

5.3. Vitelos dos 30 dias aos 60 dias ...51

5.3.1. Tipo alojamento ...51

5.3.2. Maneio alimentar ...52

5.4. Vitelos desmamados com 60 dias ...52

5.4.1. Tipo alojamento ...52

5.4.2. Maneio alimentar ...52

5.5. Vitelos desmamados – Diferenciação de sexos ...53

5.6. Taxa de mortalidade dos vitelos dos 0 aos 90 dias ...53

Parte III: Estudo de caso ...54

1. Introdução ...54 2. Material e métodos ...54 3. Resultados ...55 4. Discussão/Recomendação ...56 5. Conclusão ...61 Referências bibliográficas ...63 Anexos ...68

Dados recolhidos ao longo das 4 semanas de vida dos 15 vitelos em estudo ...68

Máquina de alimentação automática – Constituição e programas...70

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Máquina de maneio do colostro e sala de alimentação dos vitelos ...72

Pavilhão dos vitelos ...73

Índice de figuras

Figura 1: Quando inseminar. ...14

Figura 2: Representação do quarto mamário da vaca. ...15

Figura 3: Fases do ciclo de produção de leite. ...16

Figura 4: Posição fetal Correta antes do parto. ...17

Figura 5: Cuidados a ter com o vitelo. ...19

Figura 6: Apresentação do colostro acabado de ordenhar. ...20

Figura 7: Medição da qualidade do colostro através de um colostrómetro. Fonte: própria ....23

Figura 8: Colostrómetro e classificação de acordo com a concentração de Ig. ...23

Figura 9: Refratómetro Brix. ...24

Figura 10: Variação da capacidade de absorção de imunoglobulinas em função do tempo. 24 Figura 11: Procedimentos e equipamentos de maneio do colostro. ...26

Figura 12: Descornador elétrico ...32

Figura 13: Sistema digestivo vitelo. ...32

Figura 14: Forma correta e incorreta de alimentar um vitelo através de um balde com e sem tetina. ...34

Figura 15: Sistema de alimentação automática ...35

Figura 16: Desenvolvimento dos compartimentos estomacais de um vitelo ao longo do seu crescimento. ...36

Figura 17: Classificação do estado do vitelo. Sinais de doença. ...39

Figura 18: Logotipo da empresa. ...42

Figura 19: Maternidade Barão & Barão. Vitelo acabado de nascer é deixado cerca de 1h com a progenitora. ...45

Figura 20: Medição da qualidade do colostro. ...46

Figura 21: Esboço do pavilhão dos vitelos...48

Figura 22: Procedimentos de limpeza das camas. ...48

Figura 23: Procedimento de descorna Barão & Barão. ...49

Figura 24: Vitelo 6626 com febre, mucosas com crostas, orelhas caídas. ...51

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Índice de tabelas

Tabeala 1: Constituintes do colostro, leite de transição da 2ª a 5ª ordenha e leite normal.…..21

Tabela 2: Concentração das imunoglobulinas presentes no colostro e no leite. ………..22

Tabela 3: Relação entre a mortalidade e o tempo de 1ª toma do colostro……….……..25

Tabela 4: Superfície por animal consoante o seu peso ……….……30

Tabela 5: Constituintes dos 3 tipos de alimentação liquida ………..…...33

Tabela 6: Esquema de aleitamento L/dia para desmame aos 60 dias……….34

Tabela 7: Quantidades de alimento necessário segundo o aumento de peso diário procurado………..36

Tabela 8: Esquema de aleitamento L/dia para desmame aos 60 dias………50

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Lista de abreviaturas

USDA - United States Department of Agriculture EFSA - European Food Safety Authority

IgG - Imunoglobulinas G IgA – Imunoglobulinas A IgM - Imunoglobulinas M g/l – Grama por litro

FTP – Falha de transmissão passiva P. V. – Peso vivo

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Estrutura do relatório

Parte I: Fundamentação teórica

Numa primeira parte, aborda-se a teoria referente à criação de vitelos. Como a criação de vitelos não se inicia só quando o vitelo nasce, optou-se por abordar um pouco as questões anteriores ao parto, como a reprodução e a gestação da progenitora, consultando bibliografia e realizando pesquisas acerca dos temas propostos.

Parte II: Estágio na empresa Barão & Barão

Na segunda parte deste relatório, relata-se a experiência vivida na empresa Barão & Barão, situada em Benavente, focando, sobretudo, todas as questões relacionadas com a criação dos vitelos, desde os 0 dias até ao desmame, de acordo com o realizado na exploração.

Parte III: Estudo de caso

Ao participar no dia-à-dia da exploração, pode-se comprovar que existe uma taxa de mortalidade elevada dos 0 aos 30 dias. Isso motivou a uma maior pesquisa e observação dessa faixa etária para poder descobrir quais as causas originárias dessa debilidade e ocorrência de morte dos vitelos neonatais da exploração.

É nesta parte que se discutem os procedimentos abordados na exploração sugerindo alternativas com vista ao melhoramento do bem-estar, saúde e bom desenvolvimento dos vitelos.

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Parte I: Fundamentação teórica

1. A vaca de leite

1.1.

Reprodução

A puberdade marca o início da vida reprodutiva das novilhas. Esta ocorre, assim que se dá a primeira ovulação ou seja, o primeiro cio. A partir desse momento, as novilhas passam a ter períodos férteis contínuos a cada 21 dias, em termos médios.

A puberdade nos bovinos varia com a raça e com estado nutricional. Normalmente, a puberdade ocorre quando a novilha atinge os 350 kg de peso vivo. A sua antecipação e consequente antecipação da idade ao primeiro parto, só é possível através de boas taxas de crescimento originadas por bons níveis nutricionais. Com a antecipação da puberdade consegue-se reduzir a fase improdutiva, reduzindo os custos de produção. Além disso, é possível avaliar os progenitores de forma atempada e prolongar o tempo de vida reprodutiva. Apesar das vantagens da antecipação da puberdade, é necessário um equilíbrio para que não se comprometa o desenvolvimento das novilhas derivando em problemas de conceção e partos distócitos (Ferreira, 1991).

As vacas são poliéstricas contínuas, com ocorrência sucessiva de ciclos éstricos enquanto não ficar gestante. A duração do estro na vaca é aproximadamente de 18 horas e a sua ovulação ocorre cerca de 10 a 14 horas pós-estro. A idade ao primeiro parto, em bovinos de leite de raça Holstein, deverá ser entre os 24 e os 27 meses de idade, sendo cobertas ou inseminadas novamente, ao primeiro cio, 45 a 50 dias após o parto (Ferreira, 1991).

Como método de reprodução, as vacas podem ser postas à cobrição natural, sendo necessária a presença de um touro com boas características. Dessa forma, para que ocorra fertilização do óvulo, o espermatozoide tem de permanecer no útero da vaca no mínimo 6h. Outro método de reprodução é através da inseminação artificial. É necessária atenção aos sinais de cio sendo que vacas que manifestarem o cio pela manha devem ser inseminadas à tarde e vacas que o manifestem à tarde, devem ser inseminadas na manha seguinte. Em ambos os casos, deve-se ter sempre presente que o objetivo será obter boas eficiências reprodutivas que permitirão maiores vidas uteis e mais nascimentos de vitelos, sendo que o ideal seria ter um nascimento a cada 12,5 a 12,8 meses. Para que isso aconteça, tem-se como um dos fatores determinantes, a deteção atempada do cio (Ferreira, 1991).

O cio pode ser descrito como a altura em que a fêmea está recetiva, ou seja, fica parada e aceita que outro animal, fêmea ou macho, a monte.

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13 A recetividade sexual é o sinal mais claro que indica que a fêmea está em cio. Outros tipos de comportamentos poderão ser observados tais como:

 Redução de apetite

 Inquietação

 Redução da produção de leite

 Constante micção

 Edema vulvar

 Farejar e lamber outros animais

 Tentativas de monta

 Acompanhamento do touro

 Vocalização constante

 Libertação de muco vaginal

De acordo com diversos estudos, 70% da monta ocorre no período noturno, sendo por isso necessário a observação cuidada sobretudo nas primeiras horas da manha e nas últimas do dia (Wiltbank, 2007).

Como forma de detetar o cio atempadamente, é necessário observação e registos constantes. Uma boa maneira de o conseguir é através do uso de pedómetros que, ao serem colocados em cada vaca, vão medir o número de passos que estas dão, transmitindo os dados a um computador, associados a um alerta criado pelo produtor, para que seja avisado assim que existirem vacas que caminharam mais que o normal indicando alguma inquietação. Existem outro tipo de aparelhos que medem a resistência elétrica da musculatura e da secreção da vulva, que caso se apresente menor que o normal, indica que estará em cio. Não obstante destes processos, dever-se-á sempre observar as vacas no local procurando os restantes sinais para confirmar o cio (Ferreira, 1991).

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1.2.

Gestação

A gestação inicia-se quando o ovulo é fecundado originando o ovo e termina quando ocorre o parto.

A gestação média de uma vaca ronda os 282 dias. Na raça Holstein-Frísia, a gestação ronda os 278 dias. Estes valores dependem sempre da progenitora, do grau de stress a que está sujeita, do sexo do vitelo ou da gemelaridade. A data de parto pode ser alterada recorrendo ao auxílio de fármacos ou através da nutrição (USDA, 2008).

Nos 40 a 60 dias após inseminação, é realizado um diagnóstico de gestação para confirmar se houve conceção (Godden, 2008).

1.2.1. Desenvolvimento da glândula mamária

A glândula mamária é composta por quatro glândulas ou quartos independentes e de funcionalidade própria. É através dos lobos que se dividem em lóbulos que contêm alvéolos, que se excreta o leite dos ductos principais até a cisterna da glândula e de seguida para a cisterna do teto onde é retido por um esfíncter muscular que rodeia o canal do teto.

A formação mamária ocorre a partir dos 35 dias de idade. Na puberdade, através de cada estro, a glândula mamária é estimulada pelas hormonas ocorrendo crescimento, alongamento e ramificação dos ductos mamários, desenvolvendo-se o sistema lóbulo-alveolar. Na fase da gestação dá-se o crescimento acelerado e maturação completa do úbere devido às elevadas doses de hormonas naturais presentes no processo. No final da gestação, o úbere já se encontra totalmente funcional com uma estrutura repleta de alvéolos que sintetizam e secretam o leite (Swenson et al, 1996).

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1.2.2. Produção de leite

A produção de leite é o fator de maior relevância económica na produção de bovinos leiteiros. A variação da produção de leite diária em função da duração da lactação (em termos gerais, com duração de 305 dias com intervalo entre partos de 12 meses), é representada através de uma curva de lactação, que serve de auxílio para estimar a produção de leite durante a ocorrência da lactação adequando as necessidades da vaca consoante a sua produção (Gonçalves, 1994).

Devido à sua importância é necessário o bom conhecimento acerca do comportamento da curva de lactação por forma a adequar a alimentação e a fornecer o maneio adequado. A curva de lactação apresenta, em termos gerais, 3 fases. A primeira e segunda fase, são crescentes e duram aproximadamente 100 dias após o parto. É durante essas fases que o pico máximo de produção de leite ocorre. O peso da vaca diminui e a ingestão de MS é mais demorada. A alimentação durante este período tem de ser bem planeada e cuidada, fornecendo forragens de elevada qualidade para que o consumo de MS aumente. A terceira fase é descrita como um declínio contínuo da produção de leite até ao final da sua produção. Nesta fase, o peso da vaca aumenta. Começa então o seu período seco (Gonçalves, 1994).

1.3.

Maneio da vaca no período seco

Uma tarefa fundamental, que faz parte da gestão do efetivo, é a de prever a data de parto e consequente secagem das vacas.

Segundo Godden (2008), a secreção das imunoglobulinas para a glândula mamária, inicia-se 5 semanas antes do parto, sendo por isso, de extrema importância que a vaca seja sujeita a um período seco com uma duração e maneio alimentar apropriado, de forma a produzir

FIGURA 2:REPRESENTAÇÃO DO QUARTO MAMÁRIO DA VACA.

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16 colostro de elevada qualidade e evitando impactos negativos que podem gerar problemas metabólicos e infeciosos no momento ou no pós-parto.

O período seco, dura aproximadamente 60 dias e é a fase mais importante para assegurar uma boa lactação uma vez que é neste período que a vaca recupera as suas reservas corporais, regenera e intensifica a formação de alvéolos, preparando o úbere para a próxima lactação. Deve ser entendido como uma fase de transição da vaca, onde ocorrem mudanças com o objetivo de sintetizar grandes quantidades de leite e colostro. Vacas que não tenham o período devido de descanso, não se recompõem fisicamente, o úbere não tem tempo para a regeneração correta, acabando por originar produções de leite menores e maiores complicações no pós-parto (Godden, 2008).

Outro fator importante prende-se com o bom desenvolvimento do vitelo. Nesta fase, o feto ainda está a 2/3 do seu desenvolvimento. Ao reduzir o período seco, compromete-se não só, a saúde e bem-estar da mãe, mas também saúde e desenvolvimento futuro do vitelo. Durante este período, a vacinação da progenitora pode ajudar a controlar as diarreias neo-natais ao aumentar os níveis de anticorpos no colostro (Godden, 2008).

Este período torna-se mais crítico nas 3 semanas antes do parto (fase pré-parto), onde ocorrem alterações hormonais e metabólicas, maiores necessidades nutricionais, queda na imunidade, mudança de ambiente e queda no consumo dos alimentos.

O maneio alimentar da vaca neste período assume uma importância extrema. É necessário ser bem adequado e planeado, por forma a garantir que a vaca tem todas as suas necessidades satisfeitas, sem grandes variações no seu balanço energético e condição corporal, que deverá ser de 3.5 - 3.7 numa escala de 1 a 5 (Godden, 2008).

A gestão correta do período seco é o caminho certo para atingir boas lactações com consequente aumento da produtividade e rentabilidade (Godden, 2008).

FIGURA 3:FASES DO CICLO DE PRODUÇÃO DE LEITE.

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1.3.1. Maternidade

O nascimento dos vitelos deverá ocorrer na Maternidade. Este local deve ser mantido limpo e asseado tendo em vista a minimização da transmissão dos agentes patogénicos aos neonatos. Uma tarefa fundamental, que faz parte da gestão do efetivo, é a de prever a data de parto, para que o nascimento do vitelo possa acontecer da forma mais natural e tranquila, no local apropriado à situação (Gomes, 1998). Três semanas e dois dias antes da data prevista para o parto, a vaca deve ser movida para um local intermédio perto da maternidade e movida para a maternidade até 2 a 3 dias antes do parto (Mee, 2004).

As maternidades podem ser coletivas ou individuais. As maternidades individuais requerem maior mão-de-obra mas garantem melhores condições à mãe e ao vitelo. São mais limpas e cuidadas e segundo diversos autores, há menor risco de o vitelo contrair doenças como a paratuberculose e menores ocorrências de problemas respiratórios e diarreias (Gomes, 1998). Maternidades coletivas requerem menos mão-de-obra e se o maneio for efetuado de forma eficaz, é o aconselhado em explorações de maiores efetivos (Mee, 2004).

Ambos os casos, devem ser compostas por boa iluminação, ventilação adequada, ter zonas confortáveis e sossegadas para que se diminua ao máximo o stress e inquietação. Devem ser espaçosos o suficiente para que a vaca possa caminhar e se deitar confortavelmente. Não devem estar perto de outros locais onde existam animais doentes ou à espera do refugo (Gomes, 1998).

1.4.

Mecanismos e fisiologia do parto

O trabalho de parto, marca o término da gestação e pode ser dividido em 3 fases. A primeira fase é composta por contrações uterinas que vão forçando a saída do feto e a membrana fetal, em direção ao cérvix. Esta fase dura à volta de 2 a 6 horas. Na segunda fase, com duração de 30 min a 3 horas, ocorre a libertação do feto, passando através do cérvix para a vagina juntamente com o rompimento das bolsas de água e iniciam-se as contrações abdominais juntamente com as contrações uterinas, forçando a passagem do feto através do canal do pélvico. Na terceira fase, a placenta liberta-se e, normalmente, acompanha o feto, mas pode demorar até 24 horas a ser expelida. Os músculos e ligamentos do canal do pélvico relaxam, a vulva fica tumefata e ocorre corrimento do muco. A oxitocina é

FIGURA 4:POSIÇÃO FETAL CORRETA ANTES DO PARTO.

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18 libertada aumentando as contrações uterinas facilitando a libertação. Em condições normais, o vitelo deverá apresentar as patas dianteiras primeiro, com a cabeça estendida e o nariz entre as patas. O seu dorso está em contacto com o sacro da mãe, obtendo assim vantagem da curvatura natural do canal de parto da mãe (Reece, 2008).

Porém podem ocorrer situações menos favoráveis durante o parto devido a complicações ou dificuldades em realizar o parto como o descrito em cima, precisando de intervir por forma a salvar o vitelo e a progenitora. A vigilância neste ponto, ganha especial enfoque devido à importância que traz na decisão de ajudar a vaca a parir. Estudos realizados demonstraram que vacas primíparas têm uma taxa de distocia (partos atrasados ou difíceis) de 28,6% e multíparas de 10,7%. Este tipo de partos pode resultar em morte ou baixa taxa de sobrevivência dos vitelos (Meyer et al. 2000).

A distocia pode ser causada por diversos fatores. Um dos fatores prende-se com os cruzamentos industriais com raças de grande porte e maior rapidez de crescimento, originando fetos de maiores dimensões. Utilizar novilhas jovens, que podem não estar completamente desenvolvidas, apesar da idade, é outro fator (Meyer et al. 2000).

Existem sinais a ter em conta que mostram que o parto está prestes a decorrer. Aumento da frequência com que a vaca se levanta e deita parecendo inquieta, tumefação e edema vulvar, relaxamento dos ligamentos sacroisquiáticos, maior frequência de micção, aumento do tamanho e distensão do úbere devido à acumulação de colostro nos tetos e consequente pingamento do mesmo, corrimento do muco de cor clara 24 a 48 horas antes do parto. Os sinais poderão não ser tão óbvios ou visíveis, dependendo do animal (Mee, 2004).

É importante vigiar as progenitoras em trabalhos de parto de forma regular, avaliando o estado de saúde da mãe, sofrimento fetal, vitalidade e tamanho do vitelo, evitando complicações do parto (Mee, 2004).

2. Criação de vitelos

2.1.

Período neo-natal

Este período começa no momento em que o vitelo nasce até aos seus 30 dias de vida, representando o início de um ciclo. É durante este período que a sua vida corre maiores riscos, estando mais exposta e frágil devendo, por isso mesmo, existir um cuidado e vigilância maior por parte dos operadores.

2.1.1. Maneio do neonato

As horas mais importantes para o neonato, são as suas primeiras 24 horas de vida. Ao nascer, o vitelo entra em contacto com microrganismos, temperatura diferentes e a sua alimentação deixa de ser provida pelo cordão umbilical. Torna-se máxima a importância de fornecer

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19 cuidados imediatos ao vitelo acabado de nascer de modo a que este possa ter condições que lhe permitam enfrentar os obstáculos que irá encontrar (Gomes, 1998).

Existem passos obrigatórios que se devem seguir logo imediatamente ao seu nascimento. O primeiro passo será a limpeza e desobstrução das vias aéreas. É importante que se coloque o vitelo em decúbito esternal de modo a maximizar a ventilação, retirando com a mão todos os restos de muco. Em caso de suspeita de líquidos nos pulmões, dever-se-á também, elevar os seus membros pélvicos (a cabeça sempre inferior em relação ao resto do corpo) e efetuar movimentos pendulares. Os batimentos cardíacos, que são visíveis ou palpáveis, devem ser verificados bem como o reflexo palpebral e outros movimentos espontâneos. Caso não se verifiquem, é pouco provável que se restabeleça o batimento cardíaco do vitelo. A primeira inspiração do vitelo é feita 30 segundos após o parto. Esta pode ser estimulada através do beliscamento do nariz ou tocando com uma palha nas suas mucosas, induzindo o espirro que ajudará o vitelo a insuflar os pulmões (Nagy, 2009).

Outro passo importante, será a retirada do vitelo do ambiente propício às infeções ou providenciando uma maternidade limpa e com boa higiene. Como esse fator nem sempre é tido em conta, o ideal será retirar o vitelo assim que possível daquele local e levá-lo para o seu alojamento. O vitelo deverá ser limpo e seco pela mãe. Não sendo possível, o tratador deverá efetuar a sua secagem esfregando o pelo com uma toalha até que este fique totalmente eriçado sendo que desta maneira a perda de calor corporal será menor (Moran, 2002).

Outro passo importante é a desinfeção do cordão umbilical. É através deste que, durante a gestação, o vitelo é alimentado. O cordão umbilical é constituído pela membrana amniótica, uma veia, duas artérias e pelo canal do úraco. Este liga-se à bexiga, a veia liga-se ao fígado e as artérias à circulação do vitelo. No parto, o cordão rompe-se de forma espontânea ficando uma pequena parte ligada ao vitelo que mais tarde seca, atrofia e origina o umbigo. Caso ocorra infeção no umbigo, este aumenta de tamanho e o vitelo diminui a ingestão de comida e por consequência, diminui também o seu crescimento. Problemas mais graves podem acontecer como septicémia, peritonites e até mesmo a morte. De modo a evitar infeções, o

FIGURA 5: CUIDADOS A TER COM O VITELO.

FONTE:

HTTP://PT.WIKIHOW.COM/AJUDAR-NO -PARTO-DE-UMA-VACA. CONSULTADA EM 8-10-2015

(20)

20 umbigo deve ser desinfetado o mais rapidamente possível através de um produto à base de iodo a 7%. O umbigo do vitelo deve ser palpado à medida que vai crescendo para garantir que tudo está normal. Caso ocorra infeção, o vitelo encolhe-se devido à dor que sente (Moran, 2002).

Outro aspeto importante, é o registo do animal na base de dados da exploração e consoante as regras de registo oficial do país. É aplicado um brinco alternativo, opção da exploração, para que internamente se consiga identificar os animais e obrigatoriamente 2 brincos denominados por SIA, o brinco oficial de identificação em Portugal, aplicados em cada orelha e com o mesmo numero atribuído, seguindo as regras do registo oficial do país.

O próximo sub-capitulo descreve a importância de outro passo importante a ter em conta no maneio do neonato, o colostro.

2.1.1.1. Colostro

O colostro é a secreção amarelada e cremosa que é retirada do úbere após o parto ou a secreção da primeira ordenha após o parto. O resultado das ordenhas seguintes (2ª ordenha até à 8ª ordenha) denomina-se de leite de transição uma vez que se vai assemelhando cada vez mais ao leite integral (Godden, 2008).

O colostro apresenta um elevado valor nutritivo sendo um valioso acrescimo à saúde e crescimento do vitelo. Devido a uma maior presença de sais, torna-se laxativo, sendo importante para que o vitelo se liberte das fezes acumuladas no intestino durante a vida intrauterina. É também uma fonte de imunidade passiva fornecendo anticorpos de ação local e circulante, necessários à proteção do vitelo, pois o vitelo nasce sem imunidade específica uma vez que não ocorre transferência de imunoglobulinas da mãe para o feto através da placenta (Weaver, 2000). Através da transferência de imunoglobulinas do colostro para o vitelo, através da sua ingestão de forma eficaz, consegue-se menor duração e severidade das doenças, menores taxas de mortalidade, melhores taxas de crescimento e maiores produções leiteiras no futuro.

(21)

21 O colostro é composto por carbohidratos, lípidos, proteínas, minerais, vitaminas, diversos micronutrientes, células do sistema imunitário, citocinas, fatores de defesa específica, hormonas, fatores de crescimento, entre outros (Blum & Hammond, 2000).

Em comparação com o leite normal, o colostro apresenta mais proteína, minerais, gordura e vitaminas. As suas concentrações variam em função do tempo sendo que, a partir da segunda ordenha, ao fim de 24 horas, diminui a percentagem de sólidos totais, gordura, proteína e IgG, aumentando na % de lactose presente, como se pode comprovar pela tabela 1.

Constituintes Colostro Leite de transição Leite ordenha ordenha ordenha ordenha Gravidade especifica 1,05 1,04 1,03 1,03 1,03 1,032 pH 6,32 6,32 6,33 6,34 6,33 6,50 Sólidos Totais % 23,9 17,9 14,1 13,9 13,6 12,9 Gordura % 6,7 5,4 3,9 4,4 4,3 4 Proteína Total % 14 8,4 5,1 4,2 4,1 3,1 IgG g/dl 3,2 2,5 1,5 - - 0,06 Lactose % 2,7 3,9 4,4 4,6 4,7 5

TABELA 1:CONSTITUINTES DO COLOSTRO, LEITE DE TRANSIÇÃO DA 2ª A 5ª ORDENHA E LEITE NORMAL.FONTE FOLEY &OTTERBY,1978

2.1.1.1.1.

Avaliação da qualidade

De forma a avaliar a qualidade do colostro, deve ser considerada o tipo e quantidade de imunoglobulinas sendo necessário uma concentração de IgG superior a 50 g/l. Um colostro de boa qualidade pode ser observado como sendo cremoso e grosso de cor amarelada e, em contraste com um colostro aguado e muito fluído. Deverá ter um peso inferior a 8,5 kg, uma vez que quanto maior o volume em colostro menor a sua concentração em IgG (McGuirk & Collins, 2004).

As principais imunoglobulinas presentes no colostro são IgG, dividido em IgG1 e IgG2 sendo a IgG1 a que tem maior presença no colostro (90%), IgM (7%) e IgA (5%). AsI gG são responsáveis pela identificação e destruição dos agentes patogénicos presentes nos tecidos. As IgA protegem as superfícies mucosas do intestino contra a invasão bactérias patogénicas e as IgM que protegem a parede do intestino contra as bactérias (Potter, 2011).

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22

IgG (g/L) IgM (g/L IgA (g/L)

Colostro 75 4,9 4,4

Leite 0,35 0,04 0,05

TABELA 2: CONCENTRAÇÃO DAS IMUNOGLOBULINAS PRESENTES NO COLOSTRO E NO LEITE.

FONTE:MCGUIRK &COLLINS,2004

As imunoglobulinas chegam ao colostro vindas da corrente sanguínea da vaca através de um sistema de transporte, onde recetores presentes no epitélio mamário alveolar as captam. Este processo inicia-se 4 semanas antes do parto atingindo um pico de concentração 1 a 3 dias antes do parto, em resposta à concentração crescente de prolactina (Godden, 2008).

A concentração de anticorpos e consequente qualidade do colostro, pode ser influenciada por diversos fatores que se passam apresentar de seguida:

 Duração do período seco: Se este for muito curto (menos de 4 semanas), as concentrações de IgG serão menores devido ao curto espaço para a transferência de IgG da corrente sanguina.

 A idade da vaca: Este fator ganha bastante importância pois a concentração de anticorpos e a sua diversificação é maior em vacas mais velhas (2ª ou mais lactação) do que em novilhas (sobretudo primíparas).

 A raça: A raça Holstein é a que apresenta menor concentração de imunoglobulinas quando comparadas com outras raças leiteiras.

 O local de nascimento das mães: Este fator também influência a qualidade do colostro uma vez que mães nascidas e criadas naquela exploração já criaram um sistema de proteção contra agentes cujo os filhos também estarão expostos.

 Ordenha tardia: Caso se adie a ordenha, devido à diminuição da qualidade do colostro em função do tempo, é de esperar que o colostro proveniente dessa ordenha tardia, não possua a qualidade necessária (Godden, 2008).

Pela importância que um colostro de boa qualidade tem na aquisição da imunidade passiva, a medição da sua qualidade de forma precisa e correta ganha um papel fundamental. Existem vários métodos de avaliação da qualidade do colostro. Uma delas é através de um colostrómetro sendo este um densímetro com marcações adaptadas ao colostro. Se a densidade for superior a 1,050 corresponde a uma concentração de igG superior a 50 g/l, atingindo a cor verde, sendo o que se pretende. Apesar de prático e de medição rápida, o

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23 colostrómetro apresenta algumas desvantagens. A temperatura influencia a sua medição sendo que em caso de temperaturas baixas, ocorre uma sobrestimação da concentração das imunoglobulinas e no caso das temperaturas altas, ocorre uma subestimação das mesmas. É um instrumento que parte com facilidade, sendo necessário um manuseamento cuidadoso. Apresenta ainda, uma sensibilidade baixa, o que leva, segundo vários autores, à identificação de duas em cada três amostras com <50 g/l como sendo aceitáveis, quando não o são (Godden, 2008).

Outra forma de avaliar a qualidade do colostro é através de um refratómetro Brix, que mede a quantidade de luz refratada que atravessa um líquido. A sua medição é feita através da percentagem sólidos totais uma vez que as IgG estão relacionadas com os sólidos totais que por sua vez estão relacionados com a quantidade de luz refratada. Para que o colostro seja considerado de boa qualidade, é necessário obter um valor limite de 21% na escala Brix. Este instrumento apresenta bastantes vantagens, não havendo problemas com a temperatura. É económico e preciso (Quigley et al, 1998).

FIGURA 10: COLOSTRÓMETRO E CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A CONCENTRAÇÃO DE IG.

FONTE: HTTP://M.MILKPOINT.COM.BR. CONSULTADO EM 8-10-2015

FIGURA 9:MEDIÇÃO DA QUALIDADE DO COLOSTRO ATRAVÉS DE UM COLOSTRÓMETRO. FONTE: PRÓPRIA

(24)

24

2.1.1.1.2.

Administração do colostro

A European Food Safety Authority (EFSA, 2006) afirma que a administração incorreta do colostro é o fator predisponente mais importante em relação às doenças infeciosas neonatais dos bovinos trazendo também maiores riscos ao bem-estar animal.

A ingestão do colostro é um dos fatores obrigatórios no maneio do neonato devido à sua importância e benefícios. O colostro deverá ser, não só, de boa qualidade como fornecido em quantidades e tempo certo para que faça o efeito desejado. Estudos comprovam que o colostro deve ser ingerido durante as primeiras seis horas de vida de modo a que a absorção de quantidades suficientes de imunoglobulinas ocorra. A sua absorção ocorre no intestino dos vitelos durante as primeiras 6 horas, sendo máxima nas primeiras 4 horas, diminuindo ao longo do tempo. A concentração das imunoglobulinas presentes no colostro também diminui ao longo do tempo sendo que o primeiro colostro é o que terá naturalmente o maior índice de imunoglobulinas (Santos, 2001). O tempo e a qualidade são então dois fatores de extrema importância que devem ser sabiamente geridos e postos em prática tendo em vista o proveito do vitelo a curto e a longo prazo.

FIGURA 13:REFRATÓMETRO BRIX.FONTE: HTTP://M.MILKPOINT.COM.BR.CONSULTADO EM 8-10-2015

FIGURA 16:VARIAÇÃO DA CAPACIDADE DE ABSORÇÃO DE IMUNOGLOBULINAS EM FUNÇÃO DO TEMPO.FONTE:EMBRAPA PECUÁRIA SUL/2003

(25)

25 Outros estudos mostram uma clara relação entre a primeira toma do colostro, dentro das primeiras 6 horas de vida, e a taxa de mortalidade (%) sendo que esta aumenta quando se administra o colostro, após as primeiras 6 horas de vida:

Primeira toma do colostro % Mortalidade (0-14 dias) % Mortalidade (total)

< 6 Horas 7,6 16,3

6-12 Horas 10,4 20,8

TABELA 3:RELAÇÃO ENTRE A MORTALIDADE E O TEMPO DE 1ª TOMA DO COLOSTRO.ADAPTADO DE OXENDER ET AL.,1973, CITADO POR KUNG ET AL.,2003)

Nos dias seguintes o vitelo deverá continuar a ingerir colostro que apesar de já não absorver as imunoglobulinas, estas continuarão a promover proteção local contra organismos que causam diarreia neonatal (Santos, 2001).

O vitelo deverá receber aproximadamente 10 a 12% do seu peso em colostro, sendo que é necessário 3,5 a 4 l de colostro para assegurar uma absorção mínima de 100 g de IgG. O aleitamento direto fornecido pela progenitora pode aumentar a quantidade de IgG absorvida. (Weaver, 2000). Apesar da veracidade desse fator, era necessário um grande controlo e observação atempada por forma a garantir que o vitelo ingeriu todo o colostro e que o ingeriu dentro do período previamente citado. De modo que, em explorações leiteira, se recomenda vivamente a administração forçada aos vitelos.

A administração pode ser efetuada através de diferentes técnicas. Em determinados casos, o vitelo consegue beber de forma voluntária, com a ajuda do técnico, através de um balde e com os dedos do operador a simularem uma tetina, ou com o auxílio de um biberão sempre por forma a não causar stress ou engasgamento. Ambas as formas estimulam o reflexo da sucção, o que aumenta a absorção em IgG e não precisam de técnicas específicas. Noutros casos, o vitelo recém-nascido pode ter alguma dificuldade em ingerir de forma voluntária a totalidade do colostro sendo que será necessário a sua administração forçada através de um tubo estomacal, tendo sempre cuidado por ser uma técnica bastante delicada e sendo mal efetuada, poderá trazer problemas respiratórios ou lesões ao vitelo. Embora este método assegure que todo o colostro é ingerido, ele não ativa a goteira esofágica, podendo resultar num depósito temporário de colostro no reticulo e rúmen (Santos, 2001).

2.1.1.1.3.

Maneio do colostro

O colostro deve ser fornecido ao vitelo à temperatura corporal (39º C) e após verificação da sua qualidade. O histórico da mãe deve ser verificado de forma a não fornecer colostro de uma vaca que não esteja saudável ou que transmita doenças como a paratuberculose. Caso seja esse o caso, deverá ser descongelado colostro retirado do banco de colostro da exploração. Este processo deriva do excesso de colostro de boa qualidade que pode ser

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26 congelado e descongelado sem qualquer perda do seu valor imunológico, podendo ser utilizado em alturas de escassez, problemas ou contratempos com a ordenha da vaca parida (Santos, 2001).

Estudos indicam que outro procedimento que poderá ser benéfico à eficiência de absorção das IgG, é o tratamento do colostro pelo calor, obtendo aumentos da sua eficiência de 20 a 35%, através da diminuição das bactérias presentes. Estas competem diretamente com as IgG, tornando a absorção das IgG mais deficiente, aumentando os riscos de falhas na transferência da imunidade ao vitelo. Embora a redução da contagem bacteriana seja benéfica, o processo de pasteurização requer bastante controlo no que toca a temperatura, uma vez que as IgG são proteínas e o calor excessivo pode causar desnaturação. É portanto um processo muito delicado. Estudos apontam para diferentes resultados dependendo de vários fatores:

 Temperatura/tempo: Godden (2008) afirma que a 63 ºC durante 30 minutos, se reduz as IgG em 26,2%, comparando amostras do mesmo colostro antes e após a pasteurização. Segundo Steinbach et al. (1981) aquecer durante 55 ºC durante 30 minutos não causa efeitos na IgG.

 Tamanho do recipiente na pasteurização: Tamanhos de 95 l reduzem grandes quantidades de IgG enquanto que 57 l não reduziu em quantidades significativas (Godden et al. 2003).

Embora os estudos neste assunto, ainda não sejam conclusivos, em todos eles existe uma certeza: As condições de higiene devem ser asseguradas aquando da ordenha do colostro por forma a diminuir a incidência bacteriana, só se deve administrar colostro com mais de 50 g/l de IgG, dentro das primeiras 4 horas, monitorizar a pasteurização colhendo amostras de forma rotineira (Godden 2008).

FIGURA 17:PROCEDIMENTOS E EQUIPAMENTOS DE MANEIO DO COLOSTRO.

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27

2.1.1.1.4.

Transferência passiva

O colostro é uma ferramenta essencial na transmissão de imunidade passiva indispensável ao vitelo. Transmite proteína, energia, anticorpos circulantes e de ação local na mucosa do intestino (Stull & Reynolds, 2008).

Uma vez que nos ruminantes, não ocorre a transferência de constituintes do sistema imunitário da progenitora para o feto, a fonte pela qual esse objetivo é conseguido, é através da ingestão do colostro.

Quando o vitelo apresenta, no sangue, uma concentração de IgG inferior a 10 g/l ou de proteína total inferior a 50 g/l, medidos entre as 24 e as 48 horas, significa que ocorreu uma falha de transmissão passiva (FTP). Este fator é indicado como o principal influenciador da mortalidade e morbilidade do vitelo antes do desmame. Também influência o ganho médio de peso diário, atrasos de crescimento, idade ao primeiro parto, produção de leite e refugo à primeira lactação (Godden, 2008) .

Vitelos que apresentam FTP, além de possuírem maiores taxas de mortalidade e morbilidade, vão contribuir para a contaminação do ambiente através de fezes e secreções nasais infetadas, contaminando os outros, propagando a doença (McGuirk, 2008).

Entre outras, destaca-se aqui algumas das causas para que ocorra FTP:

 Maneio indevido do colostro, má qualidade, falta de condições de higiene.

 Falha na administração dos 4 l de colostro dentro das 6 horas.

 Aguardar o congelamento do colostro até 2 horas após ordenha.

 Ordenha pós-parto 6 horas após o mesmo.

 Permanência do vitelo na maternidade por mais que 90 minutos.

 Maneio incorreto da vaca gestante durante o período seco.

Vitelos com FTP podem sobreviver em ambientes limpos e de baixa exposição a agentes patogénicos, baixo stress e bem vigiados (Weaver, 2000).

2.2.

Tipos de alojamento

Existem vários tipos de alojamentos para vitelos. Em todos eles, é essencial que a cama esteja seca e composta por materiais isolantes, esteja arejada mas sem correntes de ar, de paredes lisas, bem iluminada, protegendo o vitelo das condições climatéricas, com espaço que lhe

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28 permita expressar os seus comportamentos naturais e onde o acesso a água e alimento seja facilitado.

O alojamento deverá ser planeado com vista à densidade animal prevista, conforto, facilidade de operação e limpeza e onde se promova o bem-estar dos animais. Caso não se verifiquem estas condições, o ambiente poderá ser um fator de stress, predispondo os animais a respostas imunes mais fracas, mau estar e menores resistências a doenças.

Segundo Vieira de Sá, quando se planeia o alojamento dos vitelos, existem alguns princípios importantes e fundamentais:

 Os vitelos devem estar alojados em instalações separadas das vacas, sobretudo por motivos de higiene (maior riscos de infeções microbianas).

 As instalações devem ser planeadas para um possível aumento do efetivo, para permitir rotinas de higienização corretas e medidas de desinfeção adequadas.

 As instalações devem, em termos gerais, corresponder, aos seguintes requisitos: o Ventilação: 60 a 80 m3 /100 kg de p.v.

o Velocidade do ar de 0,4 m/s (máximo). o Temperatura ambiente de 17 a 26 ºC. o Humidade do ar de 65 a 70%

o Luminosidade de 0,8-1 W/m2

 Deverá existir um sistema de ventilação eficaz capaz, consoante as variações sazonais.

 Fornecer iluminação adequada e económica

 Possuir dimensões adequadas ao tamanho de cada vitelo.

Como alojamento para os vitelos, tem-se as casotas individuais, ao ar livre, que trazem consigo a vantagem de prevenir doenças respiratórias e por isso também estão associadas a menores taxas de morbilidade e mortalidade pois permitem o isolamento do vitelo não permitindo que este entre em contato com as fezes dos outros ou tenha comportamentos como mamar o umbigo dos outros. São mais fáceis de monitorizar e acompanhar o crescimento/doenças dos vitelos de forma individual.

Este tipo de alojamento está exposto às intempéries do clima, devendo por isso estar bem situado, de modo a minimizar essa exposição, que poderá afetar o bem-estar dos animais. A

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29 exposição às condições climatéricas são igualmente complicadas para o maneio efetuado pelos operadores. Nas situações mais complicadas (altas ou baixas temperaturas), é necessário atenção redobrada à temperatura dentro da casota por forma a garantir as condições de conforto, tendo em atenção que a temperatura de conforto dos vitelos se situa nos 10 a 26 ºC. Devem ser colocadas a 1,25 m de distância entre si, com 1,2 x 1,8 m de dimensão e mantidas em boas condições de higiene. Deverão ser mudadas de local com frequência para minimizar a contaminação bacteriana presente no solo onde estão colocadas. Exige maior mão-de-obra e o maneio deverá ser efetuado dos animais mais novos para os mais velhos, reduzindo o impacto da transmissão de agentes patogénicos. Apesar de evitar transmissão de doenças entre vitelos devido ao impedimento de interação entre eles, também pode levar a uma falha de desenvolvimento social (Gorden & Plummer, 2010).

Os vitelos podem, também, ser colocados dentro de um pavilhão, mas alojados individualmente, tendo contacto com o vitelo que está ao seu lado separado apenas por grades. Este sistema permite a socialização dos vitelos embora não tenha espaço para o vitelo manifestar os seus comportamentos naturais ou se exercitar. Permite também a limpeza e higienização do local de forma mais fácil e controlada. Existe também a possibilidade de colocar um painel sólido entre vitelos de forma impedir todo o contacto físico. Tem a desvantagem de restringir a circulação de ar em torno do vitelo e aumentar dessa forma a concentração de agentes patogénicos.

O arejamento e ventilação devem estar sempre presentes com as condições anteriormente descritas. O piso deve ser plano, estável, desmontável e ripado, com barras com 4 a 5 cm de espessura e separadas por 2 cm, a 25 a 30 cm do solo. A largura mínima deverá ser igual à altura do vitelo ao garrote e o comprimento mínimo igual ao comprimento do vitelo x 1,1 (Yague, 1984).

Em ambos os sistemas, é proibido (Decreto-Lei nº 48/2001) o uso de viteleiros individuais após as 8 semanas de idade, sendo igualmente proibido manter os vitelos amarrados mais que 1 hora ou em escuridão completa.

Dentro de um pavilhão, mas em grupo, é outra forma de alojamento dos vitelos. Este sistema permite um desenvolvimento social e de interação muito maior que os restantes. Facilitam o exercício e permite-lhes expressar todo o seu comportamento natural.

Os vitelos alojados em grupo precisam de um espaço mínimo de 1,5 m2 / vitelo, caso o seu peso seja inferior a 150 kg. Em pesos compreendidos entre 150 e 200 kg deverão ter um espaço mínimo de 2 m2. Para pesos superiores a 200 kg, o mínimo são 3 m2. (Yague, 1984)

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30 Boas condições de arejamento e renovação do ar através de ventilação, removem bactérias presentes no ar e evitam a acumulação de gases tóxicos associados à acumulação de fezes e urina devido à limitada circulação de ar. Não é permitido concentrações de amoníaco superior a 10 ppm. (Yague, 1984)

A densidade animal é o principal determinante da concentração bacteriana, segundo Lago (2006). Elevadas densidades animais contribuem para aumentar os níveis de humidade, calor e gases nocivos, levando aumento do tempo de sobrevivência das bactérias, amplificando a sua densidade, agravando assim as doenças respiratórias (Souza, 2004). Os animais devem ser agrupados com baixa densidade animal (1 m2 /100 kg peso vivo) e em grupos de 8-10 vitelos, de acordo com a faixa etária e condição física para evitar competição e stress. Este sistema recorre a alimentadores computadorizados e deverá existir um bebedouro, de preferência automático, para cada 25 vitelos.

Segundo um estudo citado por Gorden & Plummer, em 2010, num grupo de 10 ou menos vitelos, estes apresentaram melhores taxas de crescimento, maior ganho de peso e ingestão de concentrado mais precoce. Apresentaram também menores taxas de morbilidade associados a doenças respiratórias.

Em cada um dos tipos de alojamento, é necessário assegurar boas condições de bem-estar. As paredes do pavilhão deverão ser lisas e o chão deve ter inclinação de 3% no sentido da vala de escoamento, para facilitar a limpeza (Maton, 1975). A cama deve estar limpa e seca e deve ser profunda o suficiente para que o vitelo possa ficar semi-coberto, mantendo-o aquecido, sobretudo durante o Inverno. A água e a comida deverá estar sempre à disposição do vitelo e o ambiente à sua volta deve ser calmo e saudável.

Peso do animal (Kg) 200 300 400 500 600 700

Área/animal (m2) 2 3 4 5 6 7

Largura/animal (m) 0,4 0,5 0,6 0,65 0,65 0,7

Comprimento/animal (m) 5 6 6,7 7,7 9,2 10

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31

2.3.

Maneio geral

2.3.1. Descorna

Nos bovinos leiteiros não há razões suficientemente válidas para deixar com cornos as fêmeas da exploração. A descorna é feita o mais cedo possível, normalmente ao fim das duas primeiras semanas de vida, dependendo do processo mas sempre tendo em vista o menor stress provocado ao vitelo. Ao descornar tenta-se eliminar ou diminuir o risco de agressão a pessoas e outros animais, feridas provocadas pelas pontas aguçadas e lesões no úbere. O principal modo de ação da descorna consiste na destruição das células queratogénicas pelo calor ou produtos químicos, impedindo a formação de tecido córneo (Rodrigues, 1991). A descorna efetuada através de produtos cáusticos pode ser à base de tricloreto de antimónio, hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio, na forma liquida ou pastosa. Para executar a operação, o primeiro passo é conter o vitelo de modo a permitir que a colocação do produto seja feita no local exato. De seguida, com o auxilio de uma tesoura, deve-se cortar os pelos à volta do botão de cada corno para que estes fiquem evidentes. A quantidade de produto a aplicar deve ser somente a necessária e com cuidado para não provocar lesões no vitelo ou operador. O produto deve ser posto aos poucos e deve ser pastoso de forma a não escorrer para os olhos e pele do vitelo. Este processo é um pouco doloroso para os vitelos sendo importante aplicar de seguida um analgésico subcutâneo. O operador deve tomar as devidas precauções de segurança durante o procedimento, usando luvas e óculos de proteção (Rodrigues, 1991)

Outra maneira de descornar os vitelos é através da utilização de um termocautério, também conhecido por descornador elétrico ou de chama. Feito assim que o botão do corno seja percetível, sendo que quanto mais semanas o vitelo tiver, maior será a sua força e resistência, complicando o processo e causando maior dor e stress sendo que existem maiores probabilidades do procedimento não ser bem-sucedido originando crescimentos de cornos disformes. Segundo vários autores, esta é a técnica mais utilizada e mais eficaz na descorna de bovinos jovens. Para que a operação não seja tão dolorosa para o animal, deverá injetar-se analgésico local na fossa temporal. O descornador deve injetar-ser posto a aquecer, a contenção do vitelo deve ser bem executada, cortando os pelos à volta do botão e de seguida aplicando o termocautério sobre o primeiro corno, realizando movimentos semi-circulares durante 10 a 12 vezes. É necessário forçar a extremidade do descornador destacando o botão do corno, repetindo a mesma operação no segundo corno. Segundo Rodrigues (1991) este processo demora cerca de 3 a 4 minutos por vitelo não ocorrendo perda de sangue. Deverá ser aplica inseticida/cicatrizante apropriado nas duas cavidades sobretudo na altura da primavera/verão

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32 para impedir o desenvolvimento das larvas de moscas, atrasando o processo de cicatrização devido a eventuais infeções.

2.4.

Maneio alimentar

O vitelo nasce como um pré-ruminante (Drackley, 2008), apresentando um aparelho digestivo semelhante ao dos monogástricos. É através da goteira esofágica que os líquidos ingeridos passam diretamente do esófago para o abomaso sem passar pelo reticulo-rúmen evitando assim fermentações indesejáveis nesse local.

Durante esta fase, o vitelo possui enzimas muito eficientes na digestão das proteínas lácteas mas pouco eficiente na digestão de proteínas não lácteas. É importante por isso, uma escolha correta da sua alimentação, para não comprometer o seu crescimento e desenvolvimento (Drackley, 2008).

A alimentação do vitelo baseia-se em leite, água e alimento solido.

Após a alimentação nos primeiros dias com colostro, é uma prática recorrente a utilização de aleitamento artificial. O aleitamento artificial pode ser realizado com o recurso a vários tipos de leite: Leite de vaca comercializável, leite de vaca não comercializável e leite de substituição.

FIGURA 20:DESCORNADOR ELÉTRICO.FONTE: HTTP://EMIVETE.PT/PDFS/04.PDF.CONSULTADA EM

5-09-2015

FIGURA 21:SISTEMA DIGESTIVO VITELO.

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33 O leite de vaca comercializável é proveniente de vacas em lactação, com características nutricionais equilibradas, variando consoante o seu tipo de alimentação. Normalmente apresenta 2,8 a 3,2% de gordura e 2,6% de proteína bruta (Charlton, 2009). A sua utilização depende sempre da disponibilidade e do preço do mercado, podendo não ser economicamente viável o seu uso na cria dos vitelos.

Por razões económicas ou de disponibilidade, o produtor opta por escolher o leite não comercializável. Este leite deriva de vacas paridas e mamíticas em tratamento ou no período de intervalo de segurança, cujo leite necessita de ser ordenhado e que pode ser fonte de diversos agentes patogénicos e resíduos de antibióticos. Caso este leite seja pasteurizado, o que seria o procedimento mais correto, reduz-se bastante a sua contaminação, tornando-o num ótimo recurso à alimentação dos vitelos. Não sendo pasteurizado, além de promover doenças através dos agentes patogénicos presentes, pode ser um meio de promover a resistência aos antibióticos presentes no leite mamítico (Centeno, 2010).

O leite de substituição, uma alternativa ao leite de vaca, deve ser de qualidade e rico a nível nutricional. Deve estar ajustado às necessidades e crescimento do vitelo contendo cerca de 20-23% de proteína, 13-16% de gordura e rico em vitaminas, para que o vitelo cresça de forma equilibrada. As suas matérias-primas deverão ser altamente digestíveis caso contrário provocarão irritações ao nível do intestino, ocorrendo desenvolvimento de enterites e aumento de stress do vitelo. Deverá ainda ser acidificado para que a barreira ácida presente no abomaso não seja rompida dando origem ao alojamento de bactérias nocivas. Por ser acidificado, ao passar pelo intestino, provocará um ambiente seletivo, promovendo a proliferação de bactérias benéficas. Deve ser dissolvido em água quente e água fria obtendo uma temperatura final de 37 ºC (Risques, 2002).

Constituintes Leite comercializável Leite não comercializável Leite de substituição (em pó) * Matéria Seca MS 12,4 - 12,5 Gordura % MS 28-32 35,4 15-20 Lactose % MS 39 34 48 Proteína % MS 26 28,3 18-23 Cinzas % MS 5,6 - 8 Energia Mcal/Kg MS 5,6 6,22 4,1-4,6

TABELA 5: CONSTITUINTES DOS 3 TIPOS DE ALIMENTAÇÃO LIQUIDA. ADAPTADO DE JONES ET AL., 2009.

*Tem outros componentes como vitaminas, selénio, fósforo na sua constituição. As % variam consoantes os comercializadores.

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34 O vitelo deve consumir nas semanas após o colostro até 8 l/dia divididos em 2 refeições diárias, caso seja leite integral. Se forem fornecidos sucedâneos de leite, devem ser 130 g/refeição + 870 g de água. As quantidades, o tipo de leite, o número de refeições por dia, variam de vitelo para vitelo, de exploração para exploração, consoante a sua dimensão e mão-de-obra disponível. Deverá ser estabelecido um horário para as refeições, temperatura regular, evitando extremos, efetuando mudanças graduais para evitar stress, distúrbios alimentares, reduções de consumos e diminuições de ganhos de peso (Drackley, 2008).

A alimentação dos vitelos pode ser efetuada de várias formas. Entre os vários tipos de sistemas de alimentação, existem os baldes, os baldes com tetinas ou biberões e os sistemas de alimentação automáticos. O sistema de baldes é mais frequente quando os animais estão alojados em casotas individuais tendo de ser alimentados de forma manual duas vezes ao dia até, aproximadamente, às 8 semanas de idade. Necessita de maior mão-de-obra mas o peso médio de cada vitelo é semelhante ao sistema automático. A forma correta de alimentação será sempre aquela que mais se assemelha ao comportamento natural do vitelo com a progenitora, estando o seu corpo num plano inferior ao úbere da vaca, fazendo com que o leite deslize pela goteira esofágica e caia diretamente no abomaso, o único local onde a digestão é feita de maneira correta. Se o leite é fornecido num plano inferior à sua cabeça, criam-se condições para que o leite deslize até ao rúmen que não está preparado para a sua digestão, dando lugar a mal-estar e indigestão (Weary, 2006).

Idade (Semanas) 1* 2 3 4 5 6 7 8 9 Litros de leite/dia 6 8 8 8 8 8 6 3 0

TABELA 6:ESQUEMA DE ALEITAMENTO L/DIA PARA DESMAME AOS 60 DIAS.FONTE:JARRIGE, R.(1988).

*A partir do 5º dia, após o colostro/leite de transição (2refeições/dia)

FIGURA 22:FORMA CORRETA E INCORRETA DE ALIMENTAR UM VITELO ATRAVÉS DE UM BALDE COM E SEM TETINA.FONTE: HTTP://WWW.GRAINEWS.CA/2015/03/09/FEED-MORE-MILK -AS-TEMPERATURE-DROPS.CONSULTADO A 5-10-2015

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35 O sistema automático permite um maior número de refeições ao longo do dia, muito semelhante ao comportamento natural dos vitelos. Existe um maior controlo ao acesso ao leite, monitorizado através da leitura do chip na coleira que o vitelo traz, podendo ser controlada a quantidade e o tipo de leite que cada vitelo beberá. Este sistema é indicado para vitelos alojados em grupo, reduzindo a mão-de-obra necessária. É ainda de referir que, através deste sistema, o desmame é mais precoce do que no sistema de baldes (Kung, 1997).

A água, segundo Drackley (2008) deve ser posta à disposição dos vitelos, desde o primeiro dia de vida. A água é uma necessidade básica e a sua ingestão, além de saciar a sede, contribui para o aumento da ingestão de alimento seco, ajudando a desenvolver o rúmen. As suas necessidades variam entre 5 a 7 l/dia nos 2 primeiros meses, 10 l/dia no 3º mês e 14 l/dia no 4º mês. Deverá estar sempre limpa e fresca.

O alimento concentrado apropriado para vitelos, deve ser posto à disposição dos animais a partir do 8º – 10º dia após o nascimento. Até atingir os 3 meses, os alimentos concentrados para a 1ª idade, denominados por “starter”, deverão conter 13-16% de matérias azotadas digestíveis, 5-8% de celulose e em granulados na ordem dos 3 mm. Os concentrados de 2ª idade, dos 3 aos 6 meses, deverão conter na sua composição, 12-15% de matérias azotadas digestíveis, 9-11% de celulose e com dimensões de 4-5 mm. Ambos deverão ser de elevada qualidade, mantido em boas condições e renovados diariamente, deitando fora o que sobrou caso este apresente bolor ou humidade. São constituídos à base de cereais, subprodutos celulósicos e fontes azotadas (bagaços, proteaginosas, ureia entre outras). Os vitelos têm também necessidades especiais de cálcio, fosforo e também vitaminas A, D e E sendo importante que a sua alimentação tenha estes componentes na sua composição. O grupo vitamínico B ganha especial importância, na alimentação dos vitelos, a partir dos 3 a 4 meses de idade, uma vez que antes disso, o rúmen e a sua flora microbiana ainda não têm condições para sintetizar esse grupo vitamínico (Risques, 2002).

Os alimentos volumosos, como feno, são de extrema importância para fomentar o crescimento e desenvolvimento da musculatura do rúmen. Além disso, devido à celulose presente, ajuda na diminuição das diarreias. Deverá ser fornecido a partir da segunda semana de vida.

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36 O fornecimento de alimentos fermentados, como o caso da silagem, antes dos 3 meses de idade, não é recomendado pois poderá provocar desenvolvimentos anómalos do rúmen. Apresenta-se de seguida um exemplo de quantidades de alimento sólido a fornecer durante os primeiros 4 meses:

TABELA 7:QUANTIDADES DE ALIMENTO NECESSÁRIO SEGUNDO O AUMENTO DE PESO DIÁRIO PROCURADO.FONTE,VIEIRA DE SÁ,F.

Por ser a fase mais dispendiosa, deseja-se que seja o mais curta possível. A alimentação é predominantemente láctea, decrescendo as suas quantidades à medida que os vitelos vão crescendo, dando lugar a doses crescentes de alimentos celulósicos, até à conversão definitiva em ruminante. É necessário introduzir alimentos sólidos de boa qualidade e elevada palatabilidade na sua dieta, para que o vitelo se prepare para o desmame. A sua dieta deve ser relativamente concentrada uma vez que o vitelo ainda não consegue consumir e digerir grandes concentrações de forragem. Ao longo do tempo, o retículo-rúmen vai-se desenvolvendo e expandindo através das fermentações dos alimentos sólidos, passando o vitelo a comportar-se como um poligástrico. Porém, as decisões sobre quando desmamar, devem prender-se com a quantidade de matéria seca que os bezerros ingerem por dia e não apenas na sua idade e/ou peso, sendo que o desmame só deverá ser feito quando o vitelo ingere um mínimo de 500 g diárias (Drackley, 2008).

Aumento pretendido até aos 4 meses

(g/dia)

Alimento concentrado Forragem

Máximo (kg/dia) Total (kg) Total (kg/MS)

600 1 90 80

800 1,5 110 85

1000 3 180 40

FIGURA 28: DESENVOLVIMENTO DOS COMPARTIMENTOS ESTOMACAIS DE UM VITELO AO LONGO DO SEU CRESCIMENTO. FONTE: HTTP://WWW.ECLIPSEFEEDS.COM/RUMENDEVELOPMENT.

Referências

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