UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA
AVALIAÇÃO
DOS
MECANISMOS
DE
GARANTIA
FINANCEIRA PARA FINS DE FECHAMENTO DE MINA E O
SEU IMPACTO NA VIABILIDADE DE PROJETO DE
MINERAÇÃO DE GRANDE PORTE NO ESTADO DE MINAS
GERAIS.
AUTOR:
MAURÍCIO RIOS DE ALMEIDA
ORIENTADOR: Prof. Dr. Hernani Mota de Lima
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Geotécnica (Mestrado Profissional) do Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil; área de concentração: Geotecnia Aplicada à Mineração.
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iv
AGRADECIMENTOS
A Deus que torna tudo possível.
A CONCREMAT Engenharia e Tecnologia S.A, da qual sou funcionário, pela autorização para participação no mestrado;
A Minerações Brasileiras Reunidas S.A (MBR) pela disponibilização do material de pesquisa em seu sítio na internet e, indicação de fontes de pesquisa externas;
Ao professor Dr. Hernani Mota de Lima da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), meu orientador neste trabalho, pelo apoio e dedicação para a realização desta dissertação;
Ao professor Dr. Romero César Gomes, coordenador e professor do curso do Mestrado Profissionalizante da UFOP, pelo apoio, incentivo e dedicação empreendida;
Aos demais professores do Mestrado Profissionalizante da UFOP, bem como aos professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que fizeram parte da equipe;
Aos colegas de pós-graduação da UFOP, pelo apoio, amizade e oportunidade de trocar valiosas experiências;
A Montgomery Watson Harza (MWH), na pessoa da enga. Luciana V. Nascimento, que contribuiu com parte do material técnico para a pesquisa;
A secretaria do curso de Mestrado Profissionalizante da UFOP, representada pela Sra. Tainara Lima da Silva, pela dedicação e apoio dispensado;
A todos os autores das bibliografias citadas, que proporcionaram o embasamento para o trabalho apresentado, e às pessoas e instituições que colaboraram para o resultado desta dissertação;
v
RESUMO
A viabilidade da explotação dos bens minerais deve ser avaliada por seu custo de oportunidade. A mineração, quando praticada de forma técnica, ambiental e socialmente satisfatória, gera renda, empregos e benefícios a toda sociedade. Embora existam termos de referência ou guias de conduta, no momento o Brasil não conta com políticas nem instrumentos legais para o fechamento de minas e nem com a definição de mecanismos de garantia financeira que assegurem, ao final da vida útil do empreendimento, a disponibilidade dos recursos necessários ao fechamento em caso de falta do minerador. Garantia financeira para fechamento de mina é simplesmente uma garantia de que o plano de fechamento será implementado. São instrumentos para proteger a sociedade dos passivos de um fechamento de mina. A pesquisa estudou as etapas de viabilidade de um empreendimento de mineração, o fechamento de uma mina, os diversos mecanismos de garantia financeira e avaliou, através de cenários, o impacto da inserção de mecanismos de garantia na viabilidade de um empreendimento de grande porte no Estado de Minas Gerais.
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ABSTRACT
The viability of the explotation of mineral goods should be evaluated by its opportunity cost. Mining, when practiced technical, environmental and socially properly, generates income, employments and benefits to the society. Although reference terms or guides of conduct exist, in the moment there aren't in Brazil policy nor legal instruments for the closing of mines, nor the definition of mechanisms of financial warranty to assure that the necessary resources to the closing will be available at the end of the useful life of the enterprise in case of operador failure. Financial guarantee for mine closure and post closure is simply a guarantee that the closure plan will be implemented. Financial guarantees are designed to protect the community from closure liabilities. The research studied the stages of viability of a mining enterprise, the closing of a mine, the several mechanisms of financial assurance, and evaluated through sceneries, the impact of the insertion of assurance mechanisms in the viability of an enterprise of great load in the State of Minas Gerais.
Key words: Capão Xavier; Mechanisms of Financial Assurance; Mine Closing; Mining; Viability.
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viii
S
UMÁRIO
Lista de Tabelas ix
Lista de Quadros x
Lista de Figuras e Gráficos xi
Lista de Equações xii
Lista de Símbolos, Nomenclaturas e Abreviações xiii
Capítulo 1 – Introdução 1
Capítulo 2 – Metodologia de desenvolvimento da pesquisa e objetivos específicos 5
Capítulo 3 – Viabilidade de um Projeto de Mineração 8
3.1 O ciclo de vida de uma mina 8
3.2 Planejamento de uma mina 15
3.3 Aspectos a serem considerados e os riscos associados a indústria de mineração
21
3.4 A decisão do investimento 28
Capítulo 4 – Fechamento de uma Mina 35
4.1 Fechamento de uma mina e implementação do plano de fechamento
35 4.2 Panorama das exigências internacionais e brasileiras em
fechamento de mina
43 4.3 Aspectos legais, diretrizes normativas e estruturas institucionais
brasileira 49
4.4 Reabilitação das áreas degradadas e uso futuro 59
4.5 Estimativa de custos 67
Capítulo 5 – Provisionamento e Mecanismos de Garantia Financeira 76
5.1 Considerações iniciais 76
5.2 Provisionamento e determinação do valor da garantia financeira 85 5.3 Características dos mecanismos de garantia financeira 91 5.4 Experiência internacional e brasileira no uso de garantia
financeira
96
Capítulo 6 – Estudo de Caso 104
6.1 Breve histórico da mineração e recuperação das áreas degradadas no Estado de Minas Gerais.
104 6.2 Empreendimento de Grande Porte - Mina de Capão Xavier 115 6.3 Análise econômico-financeira dos diversos mecanismos de
garantia financeira, comparado ao custo de fechamento do estudo de caso
133
Capítulo 7 – Conclusão 151
Referências Bibliográficas 154
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ISTA DE
T
ABELAS
Tabela 3.1 Gastos com Pesquisa Tecnológica e Mineral 15
Tabela 4.1 Custos de Fechamento de Mina da CVRD 73
Tabela 4.2 Estimativa de custos para os projetos de fechamento do setor mineiro 74 Tabela 4.3 Valores para emissão de Garantia Financeira para exploração e
desenvolvimento de empreendimento mineral padrão
75 Tabela 4.4 Percentuais sobre os custos para manutenção e monitoramento 75
Tabela 6.1 Áreas Reabilitadas - MBR 109
Tabela 6.2 Investimentos Ambientais - MBR 109
Tabela 6.3 Unidades de Conservação e Áreas de Reserva Ambiental – MBR 110
Tabela 6.4 Qualidade do Ar 131
Tabela 6.5 Emissões sonoras no período noturno 131
Tabela 6.6 Qualidade da Água – Indicadores ideais 131
Tabela 6.7 Qualidade da Água – Indicadores apurados 131
Tabela 6.8 Cobertura das operações da CAEMI 132
Tabela 6.9 Programa de Produção de Longo Prazo 134
Tabela 6.10 Valor de Investimentos e Despesas 134
Tabela 6.11 Programa de Produção de Longo Prazo – Novo Modelamento Geológico
135 Tabela 6.12 Teores de Minerais - Reserva lavrável da mina de Capão Xavier 135 Tabela 6.13 Exportações brasileiras de minério de ferro 136
Tabela 6.14 Produção e Faturamento - MBR 136
Tabela 6.15 Preços de Referência do Minério de Ferro para a Europa 137
Tabela 6.16 Cotação do Dólar – Venda 137
Tabela 6.17 Evolução da Taxa de Câmbio 137
Tabela 6.18 Gastos com controle e preservação ambiental. Minério de Ferro –
Brasil 138
Tabela 6.19 Despesas com recuperação ambiental diluídas nas despesas com terceiros
142 Tabela 6.20 Despesas com recuperação ambiental e fechamento da mina a serem
efetivadas somente ao final da vida útil do empreendimento
143 Tabela 6.21 Despesas com recuperação ambiental com percentual sobre o
faturamento bruto do empreendimento e sem provisionamento para o fechamento
144
Tabela 6.22 Inserção da garantia financeira, considerando-se depósito mensal à vista em um fundo e retirada 5 anos após o encerramento das operações
145 Tabela 6.23 Inserção da garantia financeira, considerando-se a emissão de uma
apólice de seguro ou fiança bancária no valor total do custo de recuperação ambiental e fechamento da mina, renovável anualmente
146
Tabela 6.24 Inserção da garantia financeira, considerando-se depósito único à vista em um fundo de renda fixa, sobre o faturamento bruto do empreendimento e retirada 5 anos após o encerramento das operações.
147
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ISTA DE
Q
UADROS
Quadro 3.1 Síntese das Etapas de um Empreendimento Mineral 14 Quadro 3.2 Maturação dos Programas de Exploração Mineral 20 Quadro 4.1 Sumário da Legislação Americana que afeta as operações de mineração 43 Quadro 4.2 Comparação das condutas de fechamento de empreendimentos
mineiros adotadas em países minerais
46
Quadro 4.3 Montagem dos custos de recuperação de áreas degradadas 72 Quadro 5.1 Tipos de abordagem adotados face à questão dos sítios contaminados 78
Quadro 5.2 Princípios das Garantias Financeiras 79
Quadro 5.3 Fatores para Garantias de Fechamento 87
Quadro 5.4 Tipos de Mecanismos de Garantia Financeira 92 Quadro 6.1 Histórico do Desenvolvimento da mina de Capão Xavier com as
diversas etapas para implantação do empreendimento
118
xi
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ISTA DE
F
IGURAS E
G
RÁFICOS
Figura 3.1 Ciclo de vida do empreendimento x Estudo de impacto ambiental 11 Figura 3.2 Proposta de planejamento para o fechamento de uma mina 19
Figura 3.3 Bases de um Empreendimento Mineiro 21
Figura 3.4 Processo de Suprimento Mineral 30
Figura 3.5 Processo Decisório do Investimento 32
Figura 3.6 Cenários de Fluxo de Caixa para um Projeto de Mineração 34 Figura 4.1 Sistema Estadual de Meio Ambiente – Minas Gerais 53 Figura 4.2 Fluxograma das Fases da Mineração e Desativação de Mina 61 Figura 4.3 Níveis de recuperação de áreas degradadas pela mineração e usos
possíveis 62
Figura 4.4 Resumo da estimativa de custo para reabilitação do projeto 70 Figura 4.5 Opções de Relatórios - Cálculo de custos. Fechamento de minas 70 Figura 4.6 Metodologia para elaboração de orçamento de recuperação ambiental. 71 Figura 5.1 Esquema de Garantia Financeira e Acumulação de Custos de
Fechamento 86
Figura 6.1 Vista geral da cava da mina de Águas Claras 107
Figura 6.2 Estágios do entendimento ambiental 112
Figura 6.3 Área de influência da Gold City 113
Figura 6.4 Vista aérea da Mina Velha em 2004 113
Figura 6.5 Unidades operacionais - MBR 116
Figura 6.6 Fluxograma de produção de minério de ferro - MBR 117 Figura 6.7 Vista Geral da mina de Capão Xavier – mina da Mutuca 122 Figura 6.8 Vista das instalações industriais da mina da Mutuca 123 Figura 6.9 Vista área da cava da mina de Capão Xavier 124 Figura 6.10 Vista do lago a ser formado na mina de Capão Xavier 130 Gráfico 6.1 Evolução das Taxas Internas de Retorno - Cenários I a VI 148
xii
LISTA DE EQUAÇÕES
Equação 4.1 Custo do fechamento 69
Equação 4.2 Provisionamento dos custos contigenciais 69
Equação 4.3 Percentual de acréscimo nos custos de produção 72
Equação 4.4 Custo de recuperação 73
xiii
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ISTA DE
S
ÍMBOLOS
, N
OMENCLATURAS E
A
BREVIAÇÕES
a.a Ao ano
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABDIB Associação Brasileira da infra-estrutura e Indústrias de Base
ADIMB Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Brasileira AMIG Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais
ANA Agência Nacional de Águas
ANZMEC Australian and New Zealand Minerals and Energy Council APA Área de Proteção Ambiental
ALMG Assembléia Legislativa de Minas Gerais DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio CAEMI Caemi Mineração e Metalurgia S.A CBA Companhia Brasileira de Alumínio
CBMM Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração S.A CEAA Canadian Environmental Assessment Act
CECAV Centro de Estudos de Cavernas (IBAMA)
CEFEM Compensação Financeira sobre a Exploração Mineral CEPA Canadian Environmental Protection Act
CERCLA Comprehensive Environmental Response, Compensation and Liability Act CESCFEM Cálculo da Estimativa de Custo de Fechamento de Mina
CIP Carbon in Pulp.
CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos COCHILCO Comisión Chilena del Cobre
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente COPAM Conselho Estadual de Política Ambiental COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais CPI Comissão Parlamentar de Inquérito
CPFL Companhia Paulista de Ferro-Ligas
CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – Serviço Geológico do Brasil
CSN Companhia Siderúrgica Nacional CVRD Companhia Vale do Rio Doce
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral DIFIS/DNPM Diretoria de Fiscalização do DNPM
EIA Estudo de Impacto Ambiental EUA Estados Unidos da América
FEAM Fundação Estadual do Meio Ambiente
FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais FOB Free on Board (Livre a Bordo)
FUNAI Fundação Nacional do Índio
GCFAI Grupo Coordenador de Fiscalização Ambiental Integrada
ha Hectare
IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis IBRAM Instituto Brasileiro de Mineração
IEF Instituto Estadual de Florestas IFC International Finance Corporation ITM Instalações de Tratamento de Minério IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas
xiv
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo IRB Instituto de Resseguros do Brasil
ISO International Organization for Standardization J.Malucelli J. Malucelli Seguradora
MBR Minerações Brasileiras Reunidas
MG Minas Gerais
MMA Ministério do Meio Ambiente MME Ministério de Minas e Energia
MMSD Mining, Minerals and Sustainable Development Mtpa Milhões de toneladas ano
NBR Norma Brasileira
NRM Norma Reguladora de Mineração ONGs Organizações não Governamentais
OSMR Office of Surface Mining and Reclamation PAE Plano de Aproveitamento Econômico PCA Plano de Controle Ambiental
PIB Produto Interno Bruto
PMMA Polícia Militar de Meio Ambiente
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PRAD Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
QGN Química Geral do Nordeste
RCRA Resource Conservation and Recovery Act RMSP Região Metropolitana de São Paulo RIMA Relatório de Impacto Ambiental
RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte
ROM Run-of- Mine
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SAMARCO SAMARCO Mineração S.A
SEMAD Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável SIAM Sistema Integrado de Informação Ambiental
SINDIEXTRA Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
SMM/MME Secretaria de Minas e Metalurgia – Ministério do Meio Ambiente SINFERBASE Sindicato Nacional da Indústria da Extração de Ferro
SISEMA Sistema Estadual do Meio Ambiente
SMCRA Surface Mining Control and Reclamation Act SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação UBF UBF Garantias e Seguros S.A
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFOP Universidade Federal de Ouro Preto
UMTRCA Uranium Mill Tailings Radiation Control Act
UNEP United Nations Environment Programme Division of Technology, Industry and Economics
UNIBANCO AIG UNIBANCO AIG Seguros & Previdência UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
US United States
USP Universidade de São Paulo VPL Valor Presente Líquido
1
Capítulo 1
Introdução
Não há como minerar sem interferir no meio ambiente, uma vez que, ao se extrairem os recursos minerais, promovem-se alterações nas áreas explotadas e circunjacentes. Atividades como a remoção da cobertura vegetal e todas as outras camadas que recobrem o minério, a modificação do relevo e, às vezes, até a mudança do regime dos mananciais superficiais e subterrâneos podem ser realizadas de forma racional, planejada, minimizando os impactos com a promoção da recuperação simultânea da área minerada, de modo que, quando for retirado todo o minério, a área já esteja em avançado processo de recuperação.
Essa atividade industrial, quando realizada sem um planejamento adequado, de maneira desordenada, clandestina e com fiscalização ineficiente ou mesmo inexistente, torna-se altamente prejudicial ao meio ambiente e à sociedade. Assim, a indústria da mineração deve assegurar o suprimento de matérias-primas minerais ao mercado consumidor mas, ao mesmo tempo, deve garantir a qualidade ambiental e social nos níveis aceitáveis pelas normas e padrões estabelecidos pelos órgãos reguladores.
A mineração, caracterizada por visar o aproveitamento econômico de um bem de capital exaurível e não renovável e à obtenção do lucro e aumento de sua riqueza futura, vem sendo desafiada a se adequar a questões como:
• fusões internacionais entre corporações;
• preocupação crescente a respeito das exigências ambientais; • globalização e surgimento de novos países produtores de minerais; • necessidade de uma legislação minerária mais eficiente e eficaz; • necessidade de se atingir um desenvolvimento sustentável;
• ser uma atividade viável quanto a aspectos econômicos, ambientais e sociais;
• dar uma destinação final da área a ser concebida e implantada, de maneira harmônica com
2
Reis (2001) aborda o aspecto da mineração e o desenvolvimento sustentável quando cita:
Todos amamos a natureza, todos queremos resgatá-la, todos lutamos para recuperá-la, mas há de se ter recursos para isso e os recursos têm de sair da atividade econômica. E esta, por sua vez, só existe se respeitadas as condições legais, as condições acordadas entre as partes interessadas. Difícil é estabelecer o equilíbrio entre essas componentes, uma vez que demandas podem ser de tal grandeza que inviabilizem a atividade econômica. Se não há atividade econômica, pior para o meio ambiente, porque não haverá recursos para mantê-lo ou recuperá-lo. A conjugação destas duas expectativas – lucro por parte das empresas e qualidade ambiental por parte da sociedade – é o que vai permitir o desenvolvimento sustentável. É o que de fato conduz pragmaticamente ao desenvolvimento sustentável.
Souza (1999) destaca que muitos dos impactos ambientais causados pela mineração, estendem-se por dezenas – ou mesmo centenas – de quilômetros do próprio local da mina. Isso explica por que os ambientalistas tornam-se deveras irritados com a freqüente e repetida argumentação que a fração da superfície da terra ocupada pela mineração é insignificante, como se isso representasse uma medida do seu impacto ambiental. E mais: alguns dos efeitos são sutis e demoram a ser revelados.
Como exemplo, relata-se o caso constatado na Unidade Industrial de Germano, em Mariana/MG, pertencente à SAMARCO Mineração S.A, com a hipótese de que mercúrio e cádmio tenham sido depositados com os sedimentos finos no reservatório de Santarém, que atua como uma bacia de sedimentação secundária para a descarga de rejeito desta unidade industrial. Foram observados, em Ponta de Ubu/ES, dados de picos na água de transporte de concentrado com possibilidade de que, no passado, a água contaminada do laboratório, tenha sido descarregada na área de rejeito. Concentrações residuais podem estar presentes nos sedimentos finos no reservatório. Durante períodos de inversão ou outras pertubações, os sedimentos podem ser remobilizados, resultando perturbações no material e gerando altas concentrações, que podem ser registradas temporariamente. Também se especula que alguma soda cáustica, utilizada no passado, contivesse mercúrio (TAVEIRA, 2003).
3
A implantação de uma mina e posterior desativação e fechamento devem ser realizados com amplo debate e negociação entre a empresa de mineração, os órgãos reguladores e a sociedade – principalmente a comunidade direta ou indiretamente afetada pelo empreendimento mineiro. As etapas implementadas devem ter, como base, conhecimentos técnicos e científicos e, como pano de fundo, o desenvolvimento sustentável.
Deve também haver sintonia entre a legislação federal, estadual e municipal aplicada à mineração, simplificação dos processos burocráticos e redução das incertezas, para atrair o capital de risco do investidor.
A etapa de fechamento de uma mina, deverá ser realizada integrando todas as atividades de recuperação ambiental durante sua vida útil e ocorrerá num período em que não haverá mais geração de recursos. Portanto, devem ser considerados os custos necessários à execução do fechamento, provisionamento e estabelecimento de mecanismos de garantia financeira condizentes com o porte do empreendimento, com os riscos envolvidos e com as características da empresa, de forma a garantir que os recursos estejam disponíveis nessa etapa.
A pesquisa que gerou esta dissertação está dividida nos seguintes capítulos:
− Capítulo 01 - Introdução: objetiva apresentar e justificar a pesquisa proposta;
− Capítulo 02 - Metodologia de desenvolvimento da pesquisa e objetivos específicos;
− Capítulo 03 - Viabilidade de um Projeto de Mineração: revisão bibliográfica na qual se
busca demonstrar a necessidade do desenvolvimento do plano de fechamento, já no estudo de viabilidade do empreendimento;
− Capítulo 04 - Fechamento de uma Mina: apresenta uma visão panorâmica do fechamento
4
− Capítulo 05 - Provisionamento e Mecanismos de Garantia Financeira: objetiva apresentar
a necessidade de se provisionarem recursos para o fechamento da mina e avaliar a legislação existente a respeito do fechamento de minas, bem como os diversos mecanismos de garantia financeira disponibilizados no mercado internacional e brasileiro;
− Capítulo 06 - Estudo de Caso: revisão do plano de fechamento da mina de Capão Xavier
de propriedade da Minerações Brasileiras Reunidas S.A (MBR), enfatizando-se as questões da responsabilidade, dos custos, do provisionamento e do impacto da inserção dos mecanismos de garantias financeiras avaliados;
− Capítulo 07 - Conclusão - avalia os resultados, tece considerações e propõe sugestões para
novas pesquisas na área;
− Anexo A - Glossário – tem como finalidade facilitar a compreensão do texto. Os termos
5
Capítulo 2
Metodologia de desenvolvimento da pesquisa e objetivos
específicos
Os critérios de fechamento de uma mina devem refletir as características ambientais, socioeconômicas e culturais da área de influência do empreendimento, sendo necessárias pesquisas para auxiliar os órgãos reguladores e empresários nas tomadas de decisão. Vários estudos realizados sobre o tema são encontrados em Bitar (1997), Souza (1999), Lazarim (1999), Dias (2001), Lamoso (2001), Oliveira Júnior (2001), Lima (2002), Taveira (2003), Costa (2005) e Guimarães (2005).
Para a definição do estudo de caso, coleta de dados e de modo a proporcionar às várias partes envolvidas a oportunidade de tecer críticas, considerações e fornecer contribuições, foi divulgada a proposta da pesquisa às seguintes instituições: Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Brasileira (ADIMB), ANGLOGOLD ASHANTI, AURA Seguradora, Banco do Brasil, BRADESCO, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), JLT do Brasil Corretagem de Seguros Ltda, J. Malucelli Seguradora, Minerações Brasileiras Reunidas S.A (MBR), Mineração Rio Verde Ltda, POLARIS Corretora de Seguros Ltda, SAMARCO, Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (SINDIEXTRA), Sindicato Nacional da Indústria da Extração de Ferro (SINFERBASE) e UNIBANCO.
Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre a viabilidade de empreendimentos de mineração, fechamento de uma mina, aspectos ambientais, provisionamento e mecanismos de garantia financeira, além de consultas a professores, advogados, corretores de seguros, técnicos de órgãos reguladores da área de meio ambiente e empresas de mineração, para a obtenção de pontos de vista a respeito do fechamento de uma mina e verificação de como esta questão é tratada sob os aspectos econômico, ambiental e legal.
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Apesar de todos os esforços, nenhuma das empresas de mineração consultadas retornou as correspondências encaminhadas. Nenhuma manifestou interesse na realização de uma visita as suas instalações e nem em conversar a respeito do tema.
A delimitação da pesquisa compreendeu a análise do empreendimento da MBR, mina de Capão Xavier, localizada em Nova Lima (MG) e a escolha do estudo de caso se deveu a fatores como:
• porte do empreendimento;
• localização da mina no Quadrilátero Ferrífero;
• plano de fechamento da mina, apresentado na fase de licenciamento ambiental;
• polêmica a respeito dos problemas que poderiam ser ocasionados ao abastecimento da
Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), devido ao rebaixamento do lençol freático, resultando na abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
A avaliação do impacto dos mecanismos de garantia financeira na viabilidade de um empreendimento de grande porte em Minas Gerais foi realizada com base nas informações contidas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA), no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do empreendimento, no Plano de Controle Ambiental (PCA), disponibilizado para consulta pública na FEAM e nas informações sobre a mina de Capão Xavier, publicadas em periódicos especializados em mineração e disponibilizadas no sítio da MBR na internet.
Na falta de maiores informações a respeito dos dados que poderiam ter sido fornecidos e discutidos com a MBR, procurou-se trabalhar as informações disponíveis de forma conservadora, atendo-se somente a dados que possibilitassem chegar a conclusões satisfatórias. Assim, apesar de haver dados mais recentes, porém incompletos, foram utilizadas apenas informações que permitissem correlações. Foram desconsiderados, portanto, dados que poderiam levar a extrapolações e erros de interpretação que poderiam comprometer o resultado da pesquisa.
7
Para aferição dos métodos, cálculos e resultados dos dados utilizou-se a pesquisa de Souza (1999), onde foram realizados os cálculos do Valor Presente Líquido (VPL) e da Taxa Interna de Retorno (TIR) constante no trabalho. Utilizou-se a calculadora HP 12C e o Programa Excel do pacote Office da Microsoft, para determinação do VPL e da TIR.
A formatação do trabalho seguiu as orientações de França e Vasconcellos (2004) e UFOP (2005).
Os resultados obtidos podem diferir da análise de viabilidade do empreendimento realizado pela MBR, pois uma série de fatores adotados como a variação do preço do minério, cotações do dólar, níveis de produção e ano base para os cenários apresentados são de conhecimento da MBR, mas a pesquisa buscou avaliar através de cenários, o impacto dos mecanismos nos resultados finais e a definição de estratégias de ação durante a fase de aprovação do empreendimento, bem como proceder revisões dos resultados no decorrer de sua vida útil, para tomadas de decisão.
A pesquisa tem, como objetivo, contribuir para o estabelecimento de uma proposta para as várias partes envolvidas (empresário, órgãos reguladores e sociedade), por meio dos objetivos específicos no sentido de:
• orientar para que seja estabelecida, já na fase de planejamento da mina, a necessidade de o
empreendedor se preparar para arcar com os custos envolvidos na fase de fechamento;
• orientar para que sejam estimados, na fase dos estudos de viabilidade do empreendimento,
os custos para fechamento da mina;
• definir as responsabilidades das partes envolvidas e a melhor forma de concretizá-las, com
base nos aspectos técnicos, sócioeconômicos e legislação minerária e ambiental;
• avaliar as práticas atuais de recuperação no Estado de Minas Gerais e definir quais
mecanismos de garantia financeira podem ser os mais adequados a um empreendimento de grande porte;
• orientar para que o plano de fechamento seja a base para a estimativa de custo e o seu
provisionamento, cobrindo os custos de reabilitação, manutenção e monitoramento pós-fechamento;
• definir os mecanismos de garantia financeira a serem aplicados à realidade do mercado de
8
Capítulo 3
Viabilidade de um Projeto de Mineração
3.1 O ciclo de vida de uma mina
A vida de uma mina varia em função dos recursos geológicos, substância lavrada, condições de mercado, legislação minerária e ambiental, fatores socioeconômicos, dentre outros fatores.
Uma importante característica é a rigidez na localização, que decorre do fato de uma mina se desenvolver em local onde o minério ocorre, sendo a natureza finita do recurso mineral outra característica a ser destacada, pois a mina terá seu término em função das reservas e do ritmo de explotação.
Portanto é importante e necessário atentar para que o projeto não se limite somente ao período de explotação mineral, mas que também propicie a construção de bases que assegurem a perenidade do desenvolvimento alcançado após o término do empreendimento mineiro, ou seja, o seu uso futuro, pós-fechamento.
Dependendo das características do minério e das dimensões de sua reserva, a área de influência da mina atrairá expressivo volume de investimentos e gerará riqueza, com impactos na economia e na estrutura social. Isso muitas vezes exige do empreendedor investimentos na infra-estrutura local, para mitigar os impactos socioeconômicos tais como, fornecimento de água potável, implantação de núcleos habitacionais, acomodações temporárias, implantação ou recuperação de acessos, instalações esportivas, educacionais, culturais e unidades de saúde e assistência social.
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A exploração, abertura, explotação e fechamento de uma mina e seus impactos, devem ser considerados nos estudos de viabilidade, de forma que sejam previstos e providos os métodos e meios necessários para a minimização dos impactos, para a garantia de segurança e saúde, controle da deterioração física e química dos minerais e o uso futuro da área sustentável a longo prazo.
A compreensão da filosofia do fechamento de uma mina envolve o entendimento do ciclo de sua vida total. De maneira simples, pode se definir essa filosofia como “projetando para o fechamento”. Um aspecto a ser destacado é que a introdução de uma atividade de mineração em uma área resulta, inevitavelmente, em alterações importantes no ambiente e no grupo de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, a essa atividade.
Além disso, enquanto a vida de uma mina tende a ser relativamente curta, as modificações ambientais e sociais por elas induzidas provavelmente persistirão por tempo muito mais longo. O ciclo de vida total varia em função de vários fatores mas, de um modo geral, é estimado entre 15 a 50 anos (GOLDER, 2003).
A legislação mineral brasileira requer que seja apresentado para a implantação de uma mina, o seu Plano de Aproveitamento Econômico (PAE), que deverá conter, no que couber, os seguintes elementos de informação:
• memorial descritivo com as informações sobre a viabilidade do empreendimento, a
demonstração da compatibilidade do aproveitamento da jazida com a preservação dos demais recursos naturais e do meio ambiente, plantas e demais informações necessárias ao melhor entendimento do projeto;
• estudos de engenharia referente ao método de lavra, iluminação, acessos, comunicações e
saídas de emergência, transporte e movimentação de pessoal; ao carregamento, transporte e descarga de minério na área da lavra e fora dela; às instalações de energia elétrica e de abastecimento de água; à segurança do trabalho e higiene nas operações; às moradias e suas condições de habitabilidade; às medidas previstas para recuperação do solo e manutenção das condições de estabilidade e segurança dos terrenos a serem adotados durante e após a lavra, visando a possibilitar sua futura utilização;
10
• demonstrativo dos custos de mineração, com detalhamento dos diversos componentes
diretos e indiretos, relativos à lavra, transporte e beneficiamento do minério, que permita a determinação dos resultados obtidos.
Os impactos gerados pela implantação e operação de uma mina são iniciados já na fase de prospecção e podem se prolongar até depois do fechamento. É recomendável, portanto, que o plano de fechamento das atividades compreenda todas as fases do ciclo de vida do empreendimento, de forma que também deve ser previsto um ciclo de vida do plano de fechamento, contemplando: plano de fechamento da fase de exploração; plano inicial de fechamento (estudos ambientais); atualização e detalhamento do plano de fechamento; plano final de fechamento; relatórios de pós-fechamento; monitoramento e uso futuro (GOLDER, 2003).
De acordo com Vale (2000) os gastos considerados com a proteção ao meio ambiente configuram um dos principais fatores na escolha da localização de projetos industriais, competindo em importância com os aspectos tradicionais: infra-estrutura, disponibilidade de insumos, proximidade de mercado, etc. Os investimentos e custos associados às operações de prevenção, controle, mitigação e restauração poderão condicionar decisivamente este componente do estudo de viabilidade.
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FIGURA 3.1 - Ciclo de vida do empreendimento x Estudo de impacto ambiental Fonte: VALE, 2000
As principais alterações ambientais decorrentes da mineração são: retirada da cobertura vegetal, a alteração da superfície dos terrenos, aceleração da erosão, indução de escorregamentos, alteração de cursos d’ água, produção de rejeitos, assoreamento de curso d’água, potencialização de enchentes e inundações, interceptação do lençol freático, aumento da turbidez e de sólidos em suspensão nos corpos d’água, e receptores, lançamento de fragmentos de rocha, sobrepressão do ar, propagação de vibrações no solo, aumento de partículas em suspensão no ar, aumento de ruídos, etc (PRADO FILHO, 2004).
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Atualmente muitas empresas preparam planos de fechamento anos antes de a mina encerrar suas atividades, e mesmo antes de sua própria abertura, atendendo às exigências das legislações correlatas, das comunidades ou dos mercados financeiros. O mesmo se passa no ramo da disposição de resíduos sólidos urbanos ou industriais. Em ambos os casos, tratam-se de atividades que, para cada área, se sabe de antemão que sua capacidade é finita e que, portanto, deverão um dia ser encerradas.
Como componentes básicos de um empreendimento de mineração, podem ser citados:
• instalações de apoio que compreendem a portaria, os escritórios, o almoxarifado, as
oficinas, os alojamentos, as áreas de estocagem de insumos, etc;
• mina, a céu aberto ou subterrânea, de onde o minério e o estéril são extraídos, podendo ser
escavados diretamente com equipamentos ou requererem o uso de explosivos para seu desmonte;
• as pilhas de estéril;
• as instalações de beneficiamento, onde o minério é concentrado. Os sistemas de
disposição de rejeitos e captação de água em geral estão incluídos nesta área.
As premissas a serem consideradas no ciclo de vida de uma mina e sua viabilidade técnico-econômica podem ser descritas como:
• condições geográficas e de infra-estrutura – serviços de utilidade pública; estradas,
ferrovias e outros acessos; energia; água e infra-estrutura social;
• geologia – estrutura, tamanho e forma; conteúdo mineral, teor e densidade; quantidade e
qualidade dos recursos, reservas e outros aspectos geológicos pertinentes;
• questões legais - direitos e propriedades da superfície e do sub-solo, estudos de impactos
socioeconômicos, aceitação pública, leis de uso do solo e das águas, etc;
• operacionalização – escala de produção, mecânica das rochas, métodos de lavra,
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• meio ambiente – estudos de impacto ambiental, plano de recuperação de áreas degradadas,
segurança e saúde no trabalho, gestão da água e paisagismo;
• análise mercadológica – estudos de mercado, plano de comercialização e análise
financeira, evolução da produção, custo de capital, investimento, descomissionamento e reabilitação, fluxo de caixa, previsão inflacionária, estudos de sensibilidade do investimento, fechamento e uso futuro;
• avaliação de riscos geológicos, tecnológicos, mercadológicos, financeiros, sociais,
trabalhistas e políticos.
Sendo a diversidade dos empreendimentos de mineração muito ampla não apenas em termos de escala produtiva, mas também quanto à variedade dos bens minerais, métodos de mineração e ecossistemas onde estão implantados, há aspectos comuns que precisam ser lembrados na condução satisfatória do desenvolvimento da mina.
Estes incluem os estudos de quantificação e distribuição espacial das reservas, métodos de lavra e beneficiamento a serem implementados, equipamentos, evolução temporal da mina, escalas de produção previstas, viabilidade econômica, redução dos impactos ambientais negativos, implantação da infra-estrutura, sistemas de apoio, dentre outros, devendo-se na fase de operação, reavaliar sistematicamente as premissas estabelecidas, com base nas informações que possam subsidiar as tomadas de decisão e melhorar o desempenho do ciclo produtivo nas dimensões econômica, técnica e ambiental.
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QUADRO 3.1
Síntese das Etapas de um Empreendimento Mineral
Fases de um Projeto de Mineração
Planejamento de Mina Gerenciamento Ambiental e Ações de Fechamento de Mina
Prospecção Abertura de acessos de exploração
Sondagem
Análise Geoquímica; Geoestatistica Avaliação do Depósito
Avaliação de Impacto Ambiental Plano de Reabilitação
Obtenção de Alvará de Pesquisa
Estudos de
Viabilidade Plano Conceitual de lavra e processamento de minérios Locação das estruturas Análise Econômica Seleção da rota tecnológica
EIA
Início dos processos de licenciamento Ambiental
Obtenção de Alvará de Lavra
Revisão do EIA e elaboração EIA final Plano de operações
Projetos Finais
Análise de Custo Benefício Financiamento
Plano de Controle Ambiental
Plano Conceitual de Fechamento de mina Estimativa de custos de reabilitação e fechamento
Estudos de mecanismos de Provisão Financeira Desenvolvimento Abertura de vias de acesso
Explotação de Minério Limpeza e preparação da área Drenagem de Mina
Construção de Infra-estrutura Instalação de Equipamentos
Instalação de equipamentos de controle da poluição
Implementação do Sistema de Gestão Ambiental
Produção Explotação do Minério
Redução de tamanho Processamento Mineral Fundição e Refinaria
Gerenciamento Ambiental Auditoria Ambiental Monitoramento
Reabilitação Concomitante Projeto Final de Fechamento Fechamento Parcial
Liberação Parcial da Garantia Financeira
Fechamento Descomissionamento de estruturas
Desmontagem de Equipamentos Descontaminação
Remoção
Recuperação de Ativos e Reciclagem
Implementação do Plano de Fechamento Limpeza do Local
Reabilitação Final Avaliação Final de impacto Plano de Pós-fechamento
Pós-fechamento Tratamento
Manutenção Monitoramento
Liberação Final da Garantia Financeira
Fonte: LIMA, 2002
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3.2 Planejamento de uma mina
O objetivo do planejamento mineiro é a recuperação do produto mineral, organizado de forma a obter o maior lucro possível, a maior longevidade rentável do empreendimento e a minoração dos impactos ambientais. A possibilidade de reduzir os custos do projeto diminui ainda mais quando novas decisões são tomadas durante a fase de implementação. Ao final desta fase segundo, Lopes Pinto (2003), praticamente não há mais oportunidade de influenciar os custos futuros.
Os empreendimentos em mineração em geral requerem investimentos de longo prazo, podendo ocorrer vários anos entre o desenvolvimento da pesquisa e o início da operação. A própria operação pode se desenvolver por vários anos e as análises dos investimentos são normalmente desenvolvidas através de aproximações sucessivas de cálculos de análise de viabilidade, passando por vários estágios de estudos e tomadas de decisão.
Destacam-se algumas premissas geralmente adotadas na mineração:
• a existência de reservas minerais é a base para haver o desenvolvimento mineral; • os custos são determinados pelo volume do minério a ser produzido;
• as receitas são determinadas pelo teor da qualidade do minério e o preço de venda do
mercado;
• é uma atividade econômica finita que opera numa determinada região num intervalo de
tempo relativamente curto.
Os gastos com pesquisa tecnológica e mineral são apresentados na TAB. 3.1 (PAULA, 1993a).
TABELA 3.1
Gastos com Pesquisa Tecnológica e Mineral (Minério de Ferro - Brasil)
Tecnológica Mineral
Ano
(US$ milhões) % Faturamento (US$ milhões) % Faturamento
1986 * s.d 29,7 1,69
1987 0,2 0,0098 30,9 1,52
1988 0,2 0,0102 38,7 1,98
1989 0,1 0,0042 55,4 2,35
1990 0,1 0,0049 44,2 1,71
1991 * s.d 46,0 1,68
Nota: * Valor inferior a US$ 100 mil s.d – sem dados
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O planejamento proporciona a oportunidade de minimizar os riscos, avaliar os custos operacionais e maximizar a operacionalidade e a lucratividade do empreendimento, representando a transformação das idéias em proposições de investimento, utilizando-se de situações comparativas e técnicas de estimativa de custo, como, por exemplo, os casos históricos. Ele deve ser embasado:
• nas características naturais e geológicas do corpo mineral, tipo de minério, distribuição
espacial, topografia, hidrologia e características ambientais;
• nos custos operacionais, escala de produção, condições de mercado, etc; • na legislação e políticas de incentivo à mineração;
• nos fatores tecnológicos como equipamentos, ângulos de talude, altura de bancada,
inclinação de rampas, etc;
• no encerramento das atividades, descomissionamento, monitoramento e uso futuro.
O planejamento e o controle no desenvolvimento da mina proporcionam condições para otimização do processo produtivo, garantia do retorno financeiro, manutenção e melhoria da qualidade dos produtos, atendimento às condicionantes e necessidades de natureza ambiental; destacando-se a redução e controle dos impactos, bem como a recuperação e preparação da área minerada para seu uso futuro.
No desenvolvimento dos estudos de viabilidade de uma nova mina, as estratégias de fechamento devem ser consideradas ao se analisarem as alternativas de projeto quanto aos aspectos legais e política corporativa, considerando-se, então, as dificuldades a serem encontradas no fechamento de cada componente da futura mina, assim como os custos aproximados de fechamento. Também devem-se envolver os projetistas e planejadores do uso da área, de tal forma que as instalações possam ser usadas pela comunidade após o fechamento, caso haja interesse.
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Também durante os estudos de viabilidade de um novo empreendimento, é recomendado que as estratégias de fechamento sejam consideradas quando são analisadas as alternativas de projeto como, por exemplo, a desativação de uma barragem de rejeitos tradicional (construída por barramento de um talvegue), que tende a ser significativamente mais cara que a desativação de um dique em anel, um método de disposição de rejeitos ainda pouco empregado no Brasil. Uma análise dos custos do ciclo de vida de um empreendimento pode, em certos casos, levar a decisões de projeto diferentes das usuais (GOLDER, 2003).
Souza (1999) relata que, no planejamento das etapas do projeto de mineração, tornou-se imperiosa a introdução dos aspectos ambientais em todas as etapas existentes, acrescentando-se ainda uma nova etapa: a desativação. Em vista disso, o processo decisório do investimento foi também afetado pela dimensão ambiental, tendo em conta que novos elementos técnicos e econômicos (investimentos, custos e até mesmo receita), relacionados à questão ambiental, foram incorporados na montagem das distribuições dos fluxos de caixa dos projetos, de modo a refletir os resultados econômicos (liquidez, rentabilidade e risco) do empreendimento, bem como a exigência de maior alocação de recursos.
Desta forma, o planejamento é a base da recuperação ambiental bem sucedida. A mineração em cava e as minas profundas de longa duração, podem ser planejadas de modo a minimizar a necessidade de recuperação posterior, procedendo-se uma locação criteriosa das vias de acesso e dos depósitos de estéril e rejeito.
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Estudos desenvolvidos em vários países revelam que os custos das medidas de recuperação são sensivelmente reduzidos quando, desde o início da lavra até a fase de desativação, estabelece-se um projeto de recuperação da área, em que alguns aspectos operacionais influentes podem ser ressaltados: remoção e armazenamento da cobertura vegetal e da camada superficial do solo, aterros, material de empréstimo, contenção de taludes, terraplenagens e acabamento final das frentes de lavra, reposição da camada de solo fértil e revegetação (SÃO PAULO, 1982 ) apud (BITAR e VASCONCELOS, 2003).
Um estudo do que pode ser realmente aproveitável no futuro contribuirá para a conservação dos recursos, evitando deposição de estéril, rejeito e construção sobre recursos potenciais. Além disso, podem ser feitas tentativas de reduzir o volume de estéril ou rejeito a ser depositado, tendo em conta que parte deles pode ser usada na construção de estradas e como agregados de construção ou mesmo na substituição de pilares na lavra subterrânea (SOUZA, 1999).
De acordo com Espósito (2004), os principais problemas ambientais acarretados pela atividade de exploração mineral, quando não perfeitamente controlada, são, basicamente:
• dispersão de rejeitos e estéreis em extensas áreas (ocupação física desordenada); • inibição do crescimento de diversas espécies vegetais;
• favorecimento da aridez do solo;
• poluição das águas superficiais e/ou subterrâneas;
• acidentes ecológicos de rupturas do sistema de barragens (construídas empiricamente) e
sem estudo geológico-geotécnico;
• acidentes ecológicos decorrentes do escorregamento de produtos, de estéril ou de rejeito.
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De acordo com van Zyl (2005), o planejamento de fechamento de mina convencional enfatiza questões ambientais como recuperação e controle de poluição. Em geral, o envolvimento de comunidades não tem sido parte principal no fechamento de minas. Há razões econômicas claras para se envolverem as comunidades no planejamento e desenvolvimento de uma mina, como também no planejamento de fechamento. É aí que estão as reais oportunidades de se reduzirem as responsabilidades em longo prazo, associadas ao fechamento de uma mina. Lima (2004) cita que o planejamento deve assegurar que o processo de fechamento da mina ocorra de uma maneira ordenada, dentro dos prazos, e eficaz em relação aos custos, tendo como princípios para o fechamento:
• ser parte integral do planejamento do ciclo de vida de uma mina;
• o planejamento que se baseie no risco, deve reduzir custos e incerteza no fechamento; • é necessário garantir que o fechamento seja técnica, econômica e socialmente exeqüível; • a natureza dinâmica do planejamento para o fechamento requer atualizações regulares e
análises críticas.
A FIG. 3.2 apresenta uma proposta de planejamento para o fechamento, tendo como base o ciclo de vida de uma mina nos Estados Unidos da América (EUA).
FIGURA 3.2 - Proposta de planejamento para o fechamento de uma mina Fonte: CORSER, 2005 (Adaptado)
Proposta
Proposta
de
de
Planejamento para Fechamento
Planejamento para Fechamento
de
de
uma
uma
Mina
Mina
PÓS
PÓS--FECHAMENTOFECHAMENTO DESCOMISSIONAM ENTO E
DESCOMISSIONAMENTO E FECHAMENTO FECHAMENTO OPERAÇÃO OPERAÇÃO VIABILIDADE VIABILIDADE PLANEJAMENTO E PLANEJAMENTO E AUTORIZAÇÃO AUTORIZAÇÃO Atividades Principais Atividades Principais: :
--MonitoramentoMonitoramentoe e manutenções manutenções contínuas
contínuas e e operaçãooperação dos dos sistemas
sistemas de de tratamentotratamento de de água
água..
Atividades Principais Atividades Principais::
--Mineração Mineração e e fechamento fechamento paralelo
paralelo;;
--ImplementaçãoImplementaçãofinal do final do descomissionamento descomissionamento;;
--MonitoramentoMonitoramentopara para confirmação confirmação dodoatendimentoatendimento
às especificações às especificações;;
--Planos Planos de de ManutençõesManutenções;;
--Provisionamento Provisionamento financeiro financeiro;;
--AvaliaçõesAvaliaçõesfinaisfinaisee implementação implementação do do fechamento fechamento.. Atividades Principais
Atividades Principais::
--Avanço da reabilitaçãoAvanço da reabilitação;;
--Monitoram entoMonitoramento;;
--AvaliaçãoAvaliaçãocontínua contínua do do planoplano de
de fechamentofechamento;;
--Atualização da estimativa Atualização da estimativa de
de custoscustos..
Atividades Principais Atividades Principais::
--ViabilidadeViabilidade;;
--Planejamento; Planejamento;
--Plano de fechamentoPlano de fechamento;;
--EstimativaEstimativade de custoscustos iniciais iniciais.. N ÍV E L D E D E T A L H A M E N T O D O P L A N O D E F E C H A M E N T O O B T E N Ç Ã O D A L IC E N Ç A P A R A O U SO D A Á G U A E A U T O R IZ A Ç Ã O P A R A À S A T IV ID A D E S D E M IN E R Ç Ã O E N C E R R A M E N T O D A S A T IV ID A D E S D E M IN E R A Ç Ã O G A R A N T IA P A R A O F E C H A M E N T O
20
Desta forma, o planejamento deve contemplar os elementos técnicos, ambientais e financeiros como capacidade de produção, aporte tecnológico, custos de investimento e operacional, receitas, taxas de retorno, etc. Assim será tomada a decisão de implementação ou não do empreendimento, gerando o relatório com os resultados, sendo este o documento básico para todas as fases subseqüentes do empreendimento.
Weiss (2001) relata que apenas uma minoria dos programas de pesquisa identifica corpos minerais que justifiquem a abertura de minas e o período de maturação de um projeto mineiro bem sucedido pode chegar a 10 anos. A transformação de uma ocorrência mineral em uma mina requer investimentos continuados, que aumentam em escala geométrica de uma fase para a seguinte. O QUADRO 3.2 expõe de forma simplificada as escalas de maturação de um projeto mineiro bem sucedido. Somente os programas com resultados satisfatórios em uma fase passam à fase seguinte.
QUADRO 3.2
Maturação dos Programas de Exploração Mineral
Fase Atividade Prazo
Identificação de alvos e ocorrências Geologia, geofísica e geoquímica Sondagem exploratória
Pesquisa Inicial
Estimativa de potencial de recursos
1 a 3 anos, por alvo > 90% são rejeitados
Detalhamento geológico do depósito Estimativa dos recursos
Definição de recursos medidos e indicados Pesquisa de Detalhe
Estudos de técnicas de processamento
1 a 3 anos, por depósito > 90% são rejeitados
Definição de técnicas metalúrgicas Estudo de técnicas de lavra
Pesquisa geológicas complementares Necessidades de infra-estrutura Estudo de custos e financiamento Definição de reservas lavráveis Estudos de Viabilidade
Definição da viabilidade econômica da mina
1 a 3 anos, por depósito > 50% são rejeitados
Negociação de financiamento Implantação da infra-estrutura Abertura da mina
Construção da planta Implantação
Comissionamento de mina e planta
2 a > 4 anos
Pesquisa de novos alvos próximos à mina Aumento de reservas para lavra
Expansão de Vida Útil
Aumentos de produção ou extensão de vida útil Durante toda a vida útil
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3.3 Aspectos a serem considerados e os riscos associados a indústria de
mineração
O empreendimento mineiro pode ser interpretado como uma estrutura dinâmica que trabalha sob três pilares básicos: primeiro, a existência de uma jazida mineral geologicamente bem definida (em relação à quantidade, à qualidade do minério, à posição e à forma do corpo mineral delimitante da mesma, de preferência com suas reservas parametrizadas pela relação tonelagem-teor); segundo, a existência de uma tecnologia que permita a transformação do recurso mineral in-natura em produto comercializável; e, finalmente, a existência de um mercado onde possa ser colocada a produção oriunda do empreendimento (SOUZA, 1999).
A FIG. 3.3 apresenta a relação entre estes três fundamentos:
FIGURA 3.3 - Bases de um Empreendimento Mineiro.
Fonte: SOUZA, 1999
Por sua vez, esses três pilares deverão ser ancorados numa plataforma de suporte, que representa os aspectos da política governamental (constituída pela legislação vigente, incluindo a minerária e a tributária, e a política dos incentivos fiscais, cambiais, entre outros) e os aspectos da questão ambiental, traduzida basicamente pela legislação ambiental.
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No caso da mineração, mesmo com a conjuntura econômica, política e legislativa a favor, os trabalhos a serem executados para entregar a área em condições aceitáveis para a sociedade podem inviabilizar a mineração a partir de um determinado tempo, ou seja, mesmo sendo rentável no tempo presente, a implantação futura do plano de fechamento de uma mina pode inviabilizar a continuidade da atividade mineral, tendo em vista o custo deste plano no futuro e a necessidade de se proverem recursos no tempo presente (TAVEIRA, 2003).
Segundo Souza (1995), a preservação do meio ambiente, que entre outras providências exige a recuperação de áreas mineradas, quer de forma simultânea ao aproveitamento dos recursos minerais que após a exaustão total das reservas minerais, introduz novos elementos de custos, de investimentos e até de receitas nas estimativas dos fluxos de caixa anuais dos empreendimentos mineiros. Tais elementos, geralmente não considerados em um passado recente, podem alcançar valores incompatíveis com a viabilidade econômica dos empreendimentos de mineração.
Com a globalização e liberalização dos regimes de investimento e mercados de capitais, os países que exploram recursos minerais estão competindo pelo capital de investimentos nesses recursos. Além de procurar regiões com maiores potenciais minerais, os investidores buscam os países com menor risco e que possam maximizar o retorno aos acionistas e à sociedade a longo prazo. Desta forma, são atraídos para as economias estáveis, que tenham impostos competitivos, infra-estrutura eficiente, mão-de-obra qualificada e regulamentos eficazes e previsíveis.
Nesse contexto, os órgãos reguladores devem colaborar no sentido de que seja mantido um clima positivo para os investimentos, de maneira a proporcionar aos investidores, informações adequadas e exatas sobre a qualidade desse clima, exigindo iniciativas e promoção de melhorias das empresas de mineração.
23
Quando as empresas analisam um empreendimento mineral, é levada em consideração uma série de indicadores, com destaque para o risco competitivo, reservas, características dos depósitos, ocasião do investimento, legislação e tributação.
No que tange ao risco competitivo, deve-se avaliar se os competidores poderiam obter acesso a depósitos minerais com melhores teores e/ou volumes, ou se eles conseguiriam condições operacionais mais vantajosas, permitindo produção com custos unitários mais baixos. Ou então, o mercado poderia descobrir ou desenvolver sucedâneos para aquele determinado produto, provocando retração de sua demanda.
Como as reservas são finitas, desde o começo da exploração devem ser previstas as condições para o encerramento de atividades, incluindo as inversões e as medidas requeridas para a recomposição do meio ambiente. Devem ser também examinadas as características dos depósitos, uma vez que não existem depósitos iguais, ainda que sejam do mesmo tipo. De um modo geral, técnicas bem sucedidas em uma mina ou planta industrial não são aplicáveis em outras minas ou plantas, sem exaustivas adaptações.
Tendo em vista o grande montante dos investimentos, outro fator essencial em sua determinação é o chamado “risco país”, que pode, inclusive, variar entre as diferentes regiões de um mesmo país.
Na quantificação desses riscos são considerados as condições políticas, legais, financeiras e o grau de desenvolvimento econômico, de cada país e/ou região.
No aspecto político, são analisadas a estabilidade das instituições e a “clareza” com que são tomadas as decisões governamentais.
No plano legal, são muito relevantes a garantia de acesso igualitário aos bens minerais e a existência de regras bem definidas e não discriminatórias, bem como a segurança quanto aos direitos minerários concedidos para exploração.
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De acordo com Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1995) apud Paula (2002) três grupos de fatores afetam a competitividade de determinada atividade:
• fatores empresariais - são aqueles sobre os quais a empresa detém poder de decisão e que
podem ser controlados ou modificados por meio de condutas ativas. A capacitação tecnológica em processos e produtos e os métodos de organização da produção são exemplos dos fatores empresariais da competitividade;
• fatores estruturais - são aqueles sobre os quais a capacidade de intervenção da empresa é
limitada pela mediação do processo de concorrência, estando assim apenas parcialmente sob sua área de influência. Taxas de crescimento do mercado, grau de verticalização setorial e a exposição ao comércio internacional servem como exemplos dos fatores estruturais da competitividade;
• fatores sistêmicos - são aqueles que constituem externalidades para a empresa, sobre os
quais ela detém escassa ou nenhuma possibilidade de intervenção, tais como taxas de câmbio, carga tributária, apoio fiscal ao risco tecnológico, políticas de preservação ambiental, disponibilidade de infra-estrutura, etc.
CVRD (2001) apresenta os riscos associados a indústria de mineração de minério de ferro, e o modo como eles podem afetar a atividade comercial da empresa são:
• os preços e volumes de vendas na indústria mundial dependem do nível de demanda
vigente e esperado. Durante períodos de moroso ou declinante crescimento econômico regional ou mundial, a demanda por produtos de aço, de modo geral, diminui, levando a correspondentes reduções na demanda por minério de ferro;
• intensa concorrência caracteriza a indústria em todo o mundo. Grandes empresas de
mineração disputam o mercado mundial;
• periodicidade e volatilidade de preços afetados por mudanças cíclicas e por mudanças
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• as atividades dependem de autorizações e concessões de órgãos reguladores. As atividades
de exploração, mineração e de processamento mineral estão sujeitas as leis e regulamentos. Mudanças nessas regulamentações podem produzir um efeito desfavorável sobre a atividade comercial, como a exigência de modificações nas tecnologias e operações, gerando uma necessidade de investimentos de capital não orçados, que podem levar a um aumento nos custos com empréstimos;
• as operações freqüentemente envolvem o uso, manipulação, desinvestimento e descarte de
materiais perigosos no meio ambiente, estando, por esta razão, sujeitas a leis e regulamentações ambientais. Estas têm se tornado severa nos últimos anos, havendo a possibilidade de que as exigências quanto ao seu cumprimento se tornem mais agressivas e venham a desfavorecer as operações por intermédio da imposição de restrições às atividades, elevando custos ou exigindo envolvimento em onerosos processos de reclamações;
• as estimativas de reserva constituem quantidades estimadas de minério e minerais que, sob
condições atuais e previstas, apresentam potencial para serem economicamente exploradas e processadas pela extração de seu teor mineral. Existem diversas incertezas inerentes a estimativa de quantidades de reservas e à projeção de potenciais taxas futuras de produção mineral, incluindo muitos fatores fora do controle das empresas. Assim, a engenharia de reserva constitui um processo subjetivo de estimativa de jazidas minerais subterrâneas que não pode ser avaliado de forma exata. A precisão de qualquer estimativa de reserva existe em função da qualidade dos dados disponíveis, da interpretação e julgamento geológicos e de engenharia. Estimativas de diferentes engenheiros podem variar e os resultados de extração e produção subseqüentemente à data de uma estimativa podem justificar a revisão de estimativas;
• as atividades comerciais, de modo geral, estão sujeitas a uma série de riscos e perigos,
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• os seguros mantidos contra riscos que sejam típicos no negócio oferecem a probabilidade
de não fornecerem cobertura adequada. O seguro contra determinados riscos (incluindo a responsabilidade relativa à poluição do meio ambiente ou a determinados perigos contra a interrupção de determinadas atividades comerciais) não pode ser disponibilizado a um custo razoável ou em sua real extensão. Portanto, acidentes ou evoluções negativas que envolvem as instalações de extração, produção ou recursos de transporte podem produzir um efeito substancialmente adverso sobre as operações;
• riscos de perfuração e produção – Uma vez descoberta a mineralização, é possível que se
levem vários anos desde as fases iniciais de perfuração até a produção, período no qual a viabilidade econômica de produção poderá sofrer alterações. São necessários investimento e tempo substanciais para: estabelecer reservas de minério por meio de perfuração, determinar os processos metalúrgicos apropriados para a otimização da recuperação do metal contido no minério, obter o minério ou extrair dele os metais e construir instalações de mineração e de processamento no caso de novas propriedades. É possível que um projeto venha a se comprovar como sendo inviável na época em que se esteja apto para explorá-los, incorreria-se, assim, em baixas substanciais (perdas financeiras);
• custos crescentes de extração na proporção que as jazidas diminuem. As reservas sofrem
redução gradual no curso normal de dada operação mineradora. À medida que as reservas sofrem redução, torna-se necessária às empresas de mineração a utilização de processos mais onerosos para a extração do minério remanescente. Conseqüentemente, empresas de mineração, com o passar do tempo, experimentam, de modo geral, custos de extração unitários crescentes no que diz respeito a uma mina específica.
Dois casos exemplificam questões sociais que influenciam as rotinas das operações:
• índios da comunidade Xikrin invadiram o Núcleo Urbano de Carajás, na tentativa de obter
27
• índios da comunidade Guajajara, situados no Maranhão, seqüestraram quatro funcionários
da CVRD que foram mantidos como reféns, para forçar os presidentes da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e da Fundação Nacional da Saúde (FUNASA) a sentarem à mesa de negociação para atender suas reivindicações (CVRD, 2006).