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Fechamento de uma Mina

4.5 Estimativa de Custos

Leis, padrões e requerimentos ambientais que incidem na atividade de mineração tendem a ser cada vez mais severos. Como conseqüência, os custos de fechamento têm uma tendência de aumento não apenas do ponto de vista operacional mas também dos custos de capital quando do fim da fase produtiva da mina.

Os custos podem ser divididos em duas partes: a primeira refere-se aos custos com funcionários, jurídicos, administrativos e de gerenciamento. A segunda inclui custos de reabilitação, remedição e minimização dos passivos a longo prazo.

Tais custos são específicos de cada mina, sendo baseados em alternativas de fechamento projetadas para atender requerimentos específicos de uma mina em particular. Tais custos podem variar consideravelmente em função do grau/intensidade de distúrbio do local, localização da mina (área remota ou populosa), características do ecossistema local, características do jazimento, método de lavra (i.e. se subterrâneo ou a céu aberto), exigências do licenciamento entre outros.

Os custos envolvidos no plano de fechamento podem ser avaliados como decorrentes das atividades necessárias para recuperar, prevenir, controlar e monitorar os impactos provocados nos meios físico, biótico e antrópico pelo desenvolvimento da mineração. Além disso, há de se considerar a possibilidade da ocorrência de um desastre ambiental.

Estimativas de custos são usadas para auxiliar a empresa a estabelecer fundos para fechamento e, quando requerido pelo órgão regulador, estabelecer o valor a ser depositado como garantia financeira, sendo desenvolvido com base no plano de fechamento.

Em projetos de mineração, as despesas com os trabalhos de recuperação de áreas degradadas geralmente se encontram diluídas em meio aos gastos com as demais atividades de planejamento e gerenciamento ambiental executadas no âmbito dos empreendimentos. Por sua vez, os gastos totais com a execução de medidas ambientais, inclusive as de recuperação, estão comumente incluídos nas demais despesas operacionais. Assim, são raros os casos de contabilização das medidas ambientais em minerações e, mais ainda, os que discriminam os custos de recuperação (BITAR, 1997).

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De acordo com Oliveira Júnior (2001), as vantagens de se saber, antecipadamente, a ordem de grandeza dos custos de recuperação ambiental são:

• poder incluir nos estudos de viabilidade uma quantia destinada a este fim;

• fazer uma previsão contábil de desembolsos à medida que as áreas de lavra são desativadas;

• aplicar a quantia destinada à recuperação ambiental no mercado financeiro e utilizar os dividendos à medida que o cronograma de recuperação seja executado;

• poder avaliar e corrigir os custos de recuperação periodicamente;

• depois da desativação da mina, período que as empresas estão geralmente descapitalizadas, a empresa não precisará despender grandes quantias para a recuperação de áreas degradadas.

A implementação das ações previstas nos planos de fechamento implica custos que devem ser devidamente antecipados e apropriados pelo sistema contábil da empresa. Cuidado especial deve ser dado ao fluxo de caixa, uma vez que a maior parte dos programas serão realizados depois da cessação da produção, portanto, quando as receitas estiverem muito baixas ou mesmo nulas. Por outro lado, a desativação de uma mina também pode gerar receitas, como aquelas decorrentes da venda de ativos como máquinas e equipamentos. Finalmente, em certos casos, os imóveis poderão ser vendidos (GOLDER, 2003).

Conhecer antecipadamente os custos da fase de fechamento é fundamental para que a desativação de uma mina seja concluída com sucesso.Tais custos devem ser estimados para cada versão do plano de fechamento e cuidadosamente conferidos a cada revisão do plano, não somente para atualização monetária, mas principalmente para dar conta do provável aumento ou redução das despesas a serem incorridas na fase de fechamento, conforme avance o tempo de vida da mina, ou seja, conforme cresça ou diminua o passivo ambiental.

Para definição do custo de fechamento da mina, cada atividade deverá contabilizar os custos que envolvem os meios físico, biótico e antrópico relacionados ao plano de fechamento, de forma que devem ser incluídos os custos de programas socioeconômicos, de recuperação de áreas degradadas, de desmobilização de funcionários, de monitoramento e manutenção, de estudos, projetos, garantias financeiras, seguros ambientais, etc.

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Taveira (2003) relata que mesmo com a conjuntura econômica, política e legislativa a favor, os trabalhos a serem executados para devolver a área em condições aceitáveis para a sociedade podem vir a inviabilizar a continuidade da atividade mineral, tendo em vista o custo deste plano no futuro e a necessidade de se proverem recursos no tempo presente.

Morrey (1999) apud Lima (2005b) e Taveira (2003) sugere que o custo do fechamento pode ser obtido através da EQ. 4.1.

(

)

(

)

1 1 Q Bt Ct Rt i = × − − + (Equação 4.1) onde: Q – custo do fechamento;

B – Benefícios financeiros (recuperação de ativos ou transferência, aumento do valor da área); C – custos de reabilitação, descomissionamento, monitoramento e manutenção;

R – custos do risco residual (risco x incerteza); i – taxa de juros anual;

t – tempo em anos para concluir o fechamento.

O valor de R (EQ. 4.2) é determinado para se provisionarem os custos contingenciais (ambientais/seguros), considerando o pior caso possível.

R = p x c x y (Equação 4.2),

onde:

p – probabilidade de o custo ocorrer (≤1); c – custo do acidente;

y – 1.0 relativo ao nível de gerenciamento ambiental. Considera-se, neste caso, o conceito de exposição utilizado em análise de riscos.

A determinação do custo proposto por Guimarães (2005) que desenvolveu o programa - Cálculo da Estimativa de Custo de Fechamento de Mina (CESCFEM), versão 1.00.01, possibilita fazer uma estimativa de custos para reabilitação de uma mina. Este programa permite a inserção, por projetos, dos custos envolvidos no fechamento de uma mina.

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A FIG. 4.4, por exemplo, apresenta o resumo da estimativa do custo de fechamento inserido e compilado nas seções: projetos de demolição, movimentação de solo, revegetação, etc.

FIGURA 4.4 - Resumo da estimativa de custo para reabilitação do projeto Fonte: GUIMARÃES, 2005

O Programa fornece ainda um relatório detalhado do projeto de fechamento como um todo (FIG. 4.5).

FIGURA 4.5 – Opções de Relatórios - Cálculo de custos. Fechamento de minas Fonte: GUIMARÃES, 2005

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Oliveira Júnior (2001) propõe uma metodologia para incorporar o custo de fechamento aos custos de operação de uma mina em termos de percentual da produção. Para elaboração dos orçamentos dos trabalhos de recuperação ambiental de uma mina, é necessário montar um quadro de preços, onde apareçam todos os custos correspondentes aos rendimentos dos equipamentos utilizados, dos materiais de consumo, e mão-de-obra envolvida nestes trabalhos, conforme pode ser observado na FIG. 4.6.

FIGURA 4.6 – Metodologia para elaboração de orçamento de recuperação ambiental Fonte: OLIVEIRA JÚNIOR, 2001

De acordo com Oliveira Júnior (2001), o orçamento geral de recuperação ambiental de uma unidade de área é o somatório de todos os gastos com equipamentos, mão-de-obra e materiais de consumo e é indicado nas unidades UM (Unidade monetária vigente em cada país). Uma vez conhecidos os custos globais de recuperação dos terrenos afetados pela mineração, deve- se analisar a repercussão que estes custos podem ter sobre a economia da operação. Isto pode ser realizado mediante a utilização de diversos indicadores econômicos e financeiros. O mais recomendado para se efetuarem as comparações ou estimativas econômicas rápidas são os que se referem à unidade de área recuperada ou à tonelagem ou volume de minério extraído.

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Quando se compara o custo de recuperação de área degradada por tonelada ou volume de minério extraído, a variação é maior que a anterior, pois depende das dimensões dos projetos, e, fundamentalmente, da reserva de massa mineral e da espessura dos terrenos de cobertura. Este indicador serve também para quantificar o acréscimo que o custo de produção terá com a realização dos trabalhos de recuperação ambiental.

O QUADRO 4.3 apresenta um índice que correlaciona o custo de recuperação com o custo de produção da mina. Com este índice podem ser feitas provisões do montante a ser destinado à recuperação ambiental já na fase de viabilidade econômica.

QUADRO 4.3

Montagem dos custos de recuperação de áreas degradadas

Áreas

Recuperadas Recuperação Custo de (UM) Quantidade de Minério Extraído (t ou m3) Custo de Recuperação do Minério Extraído (UM/t ou m3) Custo de Produção (UM/t ou m3) Acréscimo no Custo de Produção (%) Cavas, Pilhas, Barragens ou Bacias de Rejeitos, etc. CR Q CR Q CP 100 CR x QxCP

Fonte: OLIVEIRA JÚNIOR, 2001

O percentual de acréscimo nos custos de produção (P) é definido como (EQ. 4.3):

( CR ) 100

P x

QxCP

= (Equação 4.3)

onde:

CR – Custos incorridos após o término das operações mineiras (cavas, pilhas de estéril, barragens ou bacias de rejeitos, etc) ou das atividades de obras civis e infra-estrutura nas ações de recuperação ou reabilitação de áreas degradadas;

Q – Quantidade de minério extraído na mina e processado (t ou m3);

CP – Custo incorrido na produção de um determinado bem mineral. Envolve todos os gastos da empresa para produzir este bem mineral: mão-de-obra, equipamentos, depreciação e impostos.

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Pode também ser estimada a ordem de grandeza dos valores referentes à recuperação de uma mina e acrescentá-la ao estudo de viabilidade. Para isso, deve se obter a reserva lavrável e o custo médio de produção do bem mineral explotado em estudo.

De posse destes dados podem-se idealizar vários cenários de custos de recuperação, bastando para isso alterar o valor percentual do acréscimo nos custos médio de produção. Utilizando-se a EQ. 4.4 e colocando o CR (Custo de Recuperação) em função dos demais membros encontra-se a seguinte expressão:

( )

100

PxCPxQ

CR = (Equação 4.4)

Isso significa que se pode quantificar, em projeto, quanto seria dispendido na recuperação de áreas degradadas de uma mina qualquer (OLIVEIRA JÚNIOR, 2001).

A seguir são apresentados exemplos de custos associados à recuperação de áreas de mineração.

Lott et al. (2004) esclarecem que, na CVRD, a obrigação de reabilitação de áreas degradadas vem sendo atendida parcialmente, durante a fase de exploração da mina, através da aplicação de recursos (custeio) na contenção de taludes e tratamento das áreas adjacentes (barragens e depósitos). A TAB. 4.1 apresenta os custos de fechamento de cinco minas da CVRD.

TABELA 4.1

Custos de Fechamento de Mina da CVRD (Valores em US$)

Atividades Piçarrão Maria Preta Caeté Riacho dos

Machados Almas

Ano de Encerramento de

Operações / Fechamento 1985/2003 1996/2003 2001/2003 1997/2002 2001/2002

Produção (tonelada) - 3,5 2,1 4,8 2,7

Projeto conceitual e executivo, revegetação, drenagem e

reconformação topográfica. 1.322.906,00 237.090,00 633.138,00 761.646,00 204.742,00

Monitoramento e Manutenção 375.222,00 185.164,00 342.975,00 689.114,00 191.488,00

Total Estimado ... 1.698.128,00 442.254,00 976.113,00 1.450.760,00 396.230,00

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Antes de 1990, a CSN e outras empresas usaram reservatórios para depositar os resíduos das minas de carvão localizadas no Estado de Santa Catarina. O órgão regulador ambiental local exigiu que a CSN e outras empresas tomassem ações ambientais corretivas para restaurar os reservatórios. A CSN desenvolveu e começou a implementar um plano de restauração com um custo de aproximadamente R$ 10 milhões. Em 2001, estes esforços para recuperar as primeiras áreas geraram bons resultados. Os investimentos gastos nestas recuperações foram de R$ 0,8 milhão em 2001, R$ 0,7 milhão em 2002 e R$ 2,4 milhões em 2003 (CSN 2003). A Mina de Summitville, no Colorado (EUA), abandonada por uma empresa que faliu, se tornou célebre por causa do sério impacto da drenagem ácida descontrolada que ocorreu na área circunvizinha à mina. Fundos da dívida pública americana estão sendo usados para reabilitar o local (MILLER, 1998). Os custos de recuperação são de US$ 173 milhões, sendo US$ 28 milhões do acordo de falência e US$ 145 milhões a serem pagos pelos contribuintes americanos, através da Agência de Proteção Ambiental (EPA) ( DIAMOND, 2005).

A mina de cobre em Butte, Montana, junto à cabeceira do Clark Fork, afluente do Rio Colúmbia, pertencente a Anaconda Copper Mining Company (ARCO), adquirida pela British

Petroleum (BP), é considerada o mais caro local de limpeza financiada pelo superfundo nos EUA. Já foram pagos centenas de milhares de dólares para o Estado de Montana recuperar o Clark Fork. Seu compromisso financeiro está avaliado em um bilhão de dólares, mas tal estimativa é incerta porque os tratamentos de limpeza consomem muita energia: quem sabe quanto vai custar a energia daqui a 40 anos? (DIAMOND 2005).

A TAB. 4.2 apresenta custos para recuperação de áreas e fechamento de minas no Chile. TABELA 4.2

Estimativa de custos para os projetos de fechamento do setor mineiro (US$ milhões/ano)

Prática / sub-setor Grande

Mineração Média Mineração Mineração Pequena Total

Prática Mínima 3,3 1,0 0,1 4,4

Prática Aceitável 14,2 1,3 0,2 15,7

Melhor Prática 17,2 2,5 5,6 25,3

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Em Queensland (Austrália) são adotados conforme TAB. 4.3, os seguintes valores de custos de recuperação para determinação das garantias financeiras a serem emitidas:

TABELA 4.3

Valores para emissão de Garantia Financeira para exploração e desenvolvimento de empreendimento mineral padrão

Área Total alterada Fácil reabilitação ou a Baixo Risco reabilitação de locais análogos foi

facilmente atingida

Alto Risco

Difícil reabilitação, solos dispersos, topografia acentuada, área remota e

de ecossistema sensível, etc.

Menor ou igual a 1 hectare US$ 2,500 US$ 5,000

1 a 4 hectares US$ 10,000 US$ 20,000

4 a 10 hectares US$ 20,000 US$ 40,000

Fonte: ECOACCESS, 2003

Projetos de exploração e desenvolvimento de mina não padronizados e todos os alvarás de lavra são submetidos à EQ.4.5 para determinação dos custos de reabilitação:

R = C x A (Equação 4.5)

onde:

R – Custo de reabilitação; C – Custo unitário; A – Área alterada.

A TAB. 4.4 apresenta os percentuais dos custos associados às atividades de manutenção e monitoramento em Queensland (Austrália).

TABELA 4.4

Percentuais sobre os custos para manutenção e monitoramento

Atividade de Mineração Percentual de Manutenção e Monitoramento

Alvará de lavra não padronizado 2% do custo total de reabilitação

Exploração e desenvolvimento não padronizado 10% do custo total de reabilitação

Alvará de lavra padrão 10% do custo total de reabilitação

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Capítulo 5

Provisionamento e Mecanismos de Garantia Financeira