ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GESTÃO ESTRATÉGICA DAS ORGANIZAÇÕES
RESPONSABILIDADE SOCIAL:
A GESTÃO DO PROGRAMA ADOLESCENTE
APRENDIZ NA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Raquel Aparecida da Silva
R
AQUELA
PARECIDA DAS
ILVAR
ESPONSABILIDADES
OCIAL:
A GESTÃO DOP
ROGRAMAA
DOLESCENTEA
PRENDIZ NAC
AIXAE
CONÔMICAF
EDERALDissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional da Escola Superior de Administração e Gerência, da Universidade do Estado de Santa Catarina como requisito à obtenção do grau de Mestre em Administração.
Área de Concentração: Gestão Estratégica de Organizações Orientadora: Profª. Graziela Dias Alperstedt, Drª.
R
ESPONSABILIDADES
OCIAL:
A GESTÃO DOP
ROGRAMAA
DOLESCENTEA
PRENDIZ NAC
AIXAE
CONÔMICAF
EDERALRAQUEL APARECIDA DA SILVA
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Título de Mestre em Administração (Gestão Estratégica das Organizações) e aprovada em sua forma final pelo Curso de Mestrado
em Administração da Universidade do Estado de Santa Catarina.
Prof. Mário César Barreto Moraes, Dr. Coordenador do Mestrado
Apresentada à Comissão Examinadora, integrada pelos professores:
Profª. Graziela Dias Alperstedt, Drª. Orientador
Prof. Mário César Barreto Moraes, Dr. Membro
Aos meus pais, pelo exemplo de amor e perseverança.
Ao Cláudio, pelo incentivo e carinho.
Aos meus filhos, porque me ensinaram que
AGRADECIMENTOS
A Deus, que nunca me faltou e que me iluminou durante esta jornada.
A Professora Doutora Graziela Dias Alperstedt, orientadora desta pesquisa, pelo
acompanhamento competente que me possibilitou a realização deste trabalho.
Aos Professores Doutores Mário César Barreto Moraes e Francisco Gabriel
Heidemann por terem aceitado participar desta banca.
Aos colegas de turma pela troca de conhecimento e experiências.
À minha querida amiga Meire Maria da Silva, pelo apoio e por ter acreditado na
realização deste trabalho.
Aos colegas de trabalho Marlo, Marcelo e Taiza, pela contribuição e amizade.
À Caixa Econômica Federal, pelo incentivo financeiro.
A todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.
RESUMO
SILVA, Raquel Aparecida da. Responsabilidade Social: a gestão do Programa Adolescente Aprendiz na Caixa Econômica Federal. Florianópolis, 2.005. 135 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) – Universidade do Estado de Santa Catarina – Escola Superior de Administração e Gerência.
O presente estudo tem como objetivo geral avaliar o Programa Adolescente Aprendiz implantado na Caixa Econômica Federal. O trabalho aborda a responsabilidade social empresarial na perspectiva do referido Programa, ou seja, com foco na problemática do desemprego e da inserção dos jovens oriundos de famílias de baixa renda no mercado de trabalho O procedimento técnico utilizado na pesquisa foi o estudo de caso, dentro de uma abordagem quali-quantitativa. A pesquisa foi realizada em duas etapas: a primeira bibliográfica, de caráter exploratório, e a segunda uma pesquisa de campo, instrumentalizada por dois questionários respondidos pelos principais atores do Programa: os aprendizes e os orientadores. Os resultados da pesquisa de campo, confrontados com as informações da fundamentação teórica permitiram verificar que a empresa investigada, apesar de algumas dificuldades encontradas no dia-a-dia, tem procurado incorporar o modelo de gestão da responsabilidade social em toda a sua cadeia de relacionamentos, especialmente em razão do compromisso assumido em seu planejamento estratégico, de oferecer apoio a projetos de geração de empregos e fortalecer a empregabilidade para a comunidade na qual se encontra inserida. De um modo geral, a avaliação efetuada pelos adolescentes e orientadores foi bastante positiva, no sentido de que a participação no Programa melhora a condição de empregabilidade e favorece uma futura inserção no mercado de trabalho.
ABSTRACT
SILVA, Raquel Aparecida da. Responsabilidade Social: a gestão do Programa Adolescente Aprendiz na Caixa Econômica Federal. Florianópolis, 2.005. 135 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) – Universidade do Estado de Santa Catarina – Escola Superior de Administração e Gerência.
The general purpose of the present study is the evaluation of CAIXA ECONÔMICA FEDERAL´s Programa Adolescente Aprendiz, from both the Teenagers and Instructors points of view. The study approaches corporate social responsibility concerning the mentioned program, that is, focusing on matters such as unemployment and workforce-entry conditions for young people originated from low-income families. The technical procedure of the research was case study, in a quali-quantitative approach. The research was performed in two parts: the first one a bibliographical study, of an exploratory nature, and the second one a field research, proceeded by the means of two questionnaires answered by the main actors of the program: the apprentices and the instructors. The result of the survey, confronted with the information from the theoretical studies, made it possible to assert that the investigated company, though coping with day-to-day problems, has been trying to incorporate the model of management with social responsibility in its chain of relationships, especially in relation to the commitment undertook in its strategic planning, of supporting projects of employment generation and to enhance employability skills in the community it relates to. As an overview, it is possible to say that the evaluation made by the teenagers and instructors was very positive, in the sense that the participation in the Program develops employability skills and facilitates future workforce-entry.
SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO ... 10
1.1 Definição do problema de pesquisa ... 12
1.2 Objetivos ... 13
1.2.1 Objetivo geral ... 13
1.2.2 Objetivos específicos ... 14
1.3 Justificativa ... 15
1.4 Estrutura do trabalho ... 16
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA ... 18
2.1 Evolução histórica do trabalho humano ... 20
2.2 Emprego, desemprego e empregabilidade ... 26
2.3 Responsabilidade social ... 33
2.3.1 Conceito de responsabilidade social ... 34
2.3.2 Responsabilidade social no mundo ... 41
2.3.3 Responsabilidade social no Brasil ... 44
2.3.4 O papel das instituições finnaceiras ... 53
2.3.5 Responsabilidade social e a crise do trabalho – A aprendizagem Profissional como alternativa para uma atuação socialmente responsável ... 59
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 69
3.1 Caracterização da pesquisa ... 69
3.2 Amostragem ... 71
3.3 Coleta de dados ... 72
3.4 Tratamento, análise e interpretação dos dados ... 74
3.5 Definição dos conceitos operacionais ... 75
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 77
4.1 O caso em estudo ... 77
4.1.1 A Caixa Econômica Federal ... 77
4.1.2 Responsabilidade social no planejamento estratégico da Caixa Econômica Federal ... 82
4.1.3 O Programa Adolescente Aprendiz da Caixa Econômica Federal ... 85
4.2 Análise dos resultados da pesquisa de campo ... 88
4.2.1 O perfil dos adolescentes ... 88
4.2.2 Expectativas quanto ao futuro profissional ... 89
4.2.3 Aproveitamento da capacidade de aprendizagem ... 91
4.2.4 Pontos positivos e negativos do trabalho realizado ... 92
4.2.5 Motivação para trabalhar no Programa ... 94
4.2.6 Desejo de abandonar o Programa ... 95
4.2.7 Necessidade de treinamento adicional ... 97
4.2.8 Grau de satisfação com o trabalho ... 97
4.2.9 Recebimento de feedback (avaliação) quanto ao desempenho ... 99
4.2.10 Relacionamento com o orientador e demais empregados da CEF ... 100
4.2.11 Recebimento de subsídios e apoio para esclarecer dúvidas ... 100
4.2.12 Avaliação dos módulos/materiais de estudos ... 101
4.2.13 Expectativas quanto à inserção no mercado de trabalho ... 103
4.2.14 Sugestões dos aprendizes para o aperfeiçoamento do Programa ... 104
4.2.15 Avaliação geral do Programa ... 106
4.3 O Programa Adolescente Aprendiz na visão dos orientadores da CEF ... 108
4.3.1 Perfil dos orientadores ... 108
4.3.2 Avaliação do desempenho dos aprendizes ... 109
4.3.3 Grau de satisfação dos orientadores com as atividades realizadas pelos aprendizes ... 110
4.3.4 Efetividade do Programa ... 111
4.3.5 Deficiências no comportamento dos aprendizes ... 111
4.3.6 Avaliação quanto ao atendimento aos objetivos da concepção do Programa ... 113
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ... 118
5.1 Considerações finais ... 118
5.2 Recomendações para trabalhos futuros ... 123
REFERÊNCIAS ... 124
ANEXO I ... 132
1 INTRODUÇÃO
A discussão em torno da atuação social das organizações, bem como da construção
de uma ética empresarial, é resultado da reflexão desencadeada nos últimos anos quanto ao
papel dos diversos atores sociais – empresas, governo, sociedade civil - na busca de solução
para os graves problemas que o mundo enfrenta na atualidade: desemprego, fome, moradia
indigna e falta de moradia, violência, criminalidade, enfim, todas as formas de exclusão
social. A sociedade tem percebido que o bem estar comum não é responsabilidade apenas do
governo e que o atendimento às demandas sociais deve ser compartilhado entre este e outros
segmentos da sociedade organizada.
Nessa tentativa de definição – ou redefinição - de papéis, comentam, Melo Neto e
Froes (2001, p. 4), que se delineia o surgimento de um novo Estado; não mais o Estado
burocrático totalitário, nem o Estado do bem-estar social e nem tampouco o Estado mínimo
dos liberais, mas o Estado inserido no novo pacto social.
Os movimentos sociais em prol da construção de uma sociedade mais justa, a partir
do final dos anos 60, abriram espaço para a multiplicação de organizações comunitárias
privadas, sem fins lucrativos e sem a intervenção do Estado, tendo, no entanto, fins públicos,
formando o chamado terceiro setor, ao lado do setor público estatal e do setor privado
empresarial.
Além do trabalho dessas instituições, nota-se também em relação às empresas, uma
crescente conscientização, nos últimos anos, para o fato de que podem e devem assumir
geração de lucros, levando-as a investir em projetos de cunho social nas comunidades onde se
localizam, dentro dos propósitos da chamada responsabilidade social.
Além de investir em tais projetos, as organizações empresariais, tidas como
socialmente responsáveis, incorporam e utilizam valores éticos de conduta no relacionamento com seus funcionários, fornecedores de bens e serviços, comunidade, meio ambiente,
acionistas e consumidores, estabelecendo um diferencial competitivo e decisivo para sua
sustentabilidade. As pessoas tendem a valorizar mais as empresas socialmente responsáveis.
No Brasil, o tema da responsabilidade social é relativamente recente e faz parte de
um conjunto de iniciativas experimentadas em outros países. As empresas estão aos poucos se
conscientizando da importância de uma atuação socialmente responsável em benefício da
comunidade e também para se manter em condição de competitividade no mercado,
melhorando sua imagem corporativa perante a sociedade.
O desenvolvimento com inclusão social passa necessariamente pela via do trabalho,
uma vez que o desemprego é apontado atualmente como o maior problema no país. As
questões envolvendo a segurança e a fome ainda constam entre os principais dramas da
população, mas já foram superadas pelos níveis crescentes de desemprego e subemprego, e
suas nefastas conseqüências.
Em nosso país, as causas do desemprego e da dificuldade de inserção no mercado de
trabalho não são apenas fruto da globalização, mas também da estrutura econômica brasileira,
sempre pautada pelos precários índices de desenvolvimento econômico, predominante
concentração de renda, grandes disparidades regionais e exclusão social.
A crise do emprego se apresenta ainda mais grave em relação aos jovens. A
tabulação final dos dados do Censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas,
divulgada em fevereiro de 2003, mostrou que a taxa de desocupação na faixa entre 15 e 24
que 3.679.546 jovens brasileiros nesta faixa de idade estavam desempregados. Em nenhuma
outra faixa etária o drama do desemprego se mostrou tão grave (TREVISAN, 2004).
A Caixa Econômica Federal – CEF, na condição de empresa pública e atenta à
necessidade de parceria com o governo na condução da política de inclusão social, implantou
o Programa “Adolescente Aprendiz”, numa iniciativa totalmente consentânea com sua
vocação social.
O Programa é embasado no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Lei n°
10.097/2000, conhecida como “Lei da Aprendizagem”, e tem como objetivo promover a
capacitação dos jovens aprendizes em serviços bancários e administrativos, e estimular a
prática da cidadania e de valores éticos e profissionais.
Essa formação profissional poderá ser uma importante arma para o jovem em sua
luta pelo primeiro emprego e também um diferencial competitivo em uma economia onde a
demanda por mão de obra qualificada é cada vez maior.
O presente trabalho procurou verificar como os aprendizes e orientadores avaliam a
performance do Programa “Adolescente Aprendiz”, implementado na CEF a partir de julho
de 2003, a fim de aferir se o Programa está atendendo aos objetivos de sua concepção e,
eventualmente,contribuir com sugestões e propostas para o seu aprimoramento.
1.1 Definição do problema de pesquisa
O incentivo à aprendizagem profissional é uma das ações que integram o Programa
Primeiro Emprego, implementado pelo Governo Federal a partir da sanção da Lei 10.748, de
22 de outubro de 2003. O Programa “Adolescente Aprendiz” tem o objetivo de promover a
profissional, mediante aprendizado prático a ser ministrado no ambiente das empresas
conveniadas, ao mesmo tempo, estimulando a prática da cidadania e de valores éticos e
profissionais.
A CEF tornou-se parceira do governo na implementação desse Programa,
adotando-o a partir dadotando-o anadotando-o de 2003.
Há expectativa de que os estudantes, tendo oportunidade de desenvolver habilidades
pessoais e profissionais dentro de uma instituição financeira de grande porte, como a CEF,
estarão melhor preparados para concorrer a uma vaga no mercado de trabalho, em relação
àqueles que não tiveram tal oportunidade.
Com a finalidade de contribuir para o melhor conhecimento e aprimoramento do
Programa Adolescente Aprendiz, implantado na CEF, investigou-se o seguinte problema de
pesquisa:
Como é avaliado o Programa Adolescente Aprendiz da Caixa Econômica Federal
segundo a perspectiva de seus beneficiários e orientadores?
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
O trabalho tem como objetivo geral avaliar o Programa Adolescente Aprendiz
1.2.2 Objetivos específicos
a) Descrever o Programa Adolescente Aprendiz implantado na CEF, a partir de
julho de 2003, como um exemplo de ação socialmente responsável desenvolvida
pela instituição;
b) identificar eventuais distorções entre a concepção do Programa e sua efetivação
na vida dos jovens aprendizes;
c) apresentar sugestões e recomendações para o real alcance dos objetivos do
Programa.
1.3 Justificativa
Para atender às exigências do disputadíssimo mercado de trabalho dos dias de hoje, é
preciso muito mais do que o conhecimento propiciado pela formação escolar. É necessário
reunir um conjunto de competências que abrange não só a aptidão para o desempenho de uma
determinada tarefa ou atividade, mas também a capacidade de se comportar
profissionalmente, de ter iniciativa, de desenvolver habilidades na comunicação e no
atendimento às pessoas, no trabalho em equipe e valores éticos e morais, como o respeito
pelas diferenças, responsabilidade e compromisso, dentre outros.
Os jovens estudantes necessitam desenvolver essas competências e agregá-las à
formação escolar, como condição de sua inserção futura no mercado de trabalho. Devem
consolidar, pela prática, a formação teórica que recebem na escola. Isso os diferenciará de
A questão da educação, formação e emprego dos adolescentes e jovens constituem
um tema priorizado no mundo inteiro, até mesmo nos países desenvolvidos. Esse grande
interesse decorre do fato de que esse grupo populacional corresponde, junto com as crianças,
ao maior capital de longo prazo que um país possui: investir neles é apostar no futuro. “Uma
sociedade assim sensibilizada e que aceita o desafio de educar, formar e capacitar seus
adolescentes e jovens será uma sociedade mais produtiva, mais democrática, mais culta, com
maior estabilidade e tolerância”. (ABDALA, 2005, p. 126)
Para o alcance desses objetivos é necessário o estabelecimento de parcerias entre o
governo e as organizações, para a implantação de programas de empregabilidade que
propiciem aos jovens, principalmente àqueles oriundos das camadas mais pobres da
população, uma via para o tão sonhado ingresso no mercado de trabalho.
Esta dissertação se justifica pelo fato de demonstrar a importância da atuação
socialmente responsável de uma empresa como a CEF, ao propiciar a aprendizagem prática
aos estudantes carentes, contribuindo não só para a sua inserção no mercado de trabalho, mas
também lhes abrindo oportunidade de conscientização de cidadania, desenvolvendo
competências e valores éticos importantes e decisivos também para a formação pessoal.
Por outro lado, a implantação do Programa Adolescente Aprendiz, além de
benefícios diretos para a sociedade, traz vantagens competitivas para a CEF, na medida em
que fortalece a imagem corporativa da empresa perante seus clientes, fornecedores e
empregados, agregando valor aos seus produtos e serviços, revelando a chamada face
instrumental da responsabilidade social.
A pesquisa objetivou detalhar a gestão e evolução do Programa Adolescente
Aprendiz na CEF, procurando contribuir para o seu aprimoramento. Os resultados desta
investigação podem oferecer elementos para os gestores do Programa, a respeito de eventual
1.4 Estrutura do trabalho
O presente estudo foi estruturado em cinco capítulos, como segue.
O primeiro capítulo apresenta e descreve os delineamentos gerais da dissertação, o
assunto a ser investigado e o problema de pesquisa. Trata, ainda, dos objetivos e justificativa
do estudo.
O segundo capítulo apresenta o referencial teórico utilizado na fundamentação da
pesquisa, possibilitando a análise dos dados coletados. Primeiramente, é apresentada a
evolução do trabalho no mundo, demonstrando a sua transformação ao longo do tempo e as
conseqüências advindas das novas exigências do mercado de trabalho. Enfatiza a importância
da empregabilidade como fator básico de inserção e manutenção do profissional no mercado
de trabalho. Aborda a necessidade de atuação das empresas, no contexto da responsabilidade
social, contribuindo com ações concretas voltadas para a inclusão social, especificamente no
que concerne à questão do trabalho, e viabilizando a elevação dos níveis de empregabilidade
com foco nas camadas mais pobres da população. Expõe a atuação das instituições financeiras
e, em particular, da CEF. Por fim, apresenta e descreve o Programa Adolescente Aprendiz, a
sua implantação e desenvolvimento no âmbito da CEF.
O terceiro capítulo apresenta a metodologia e os instrumentos utilizados no
diagnóstico, coleta e tabulação dos dados.
No quarto capítulo são apresentados e analisados os resultados da pesquisa de
campo, realizada com base no referencial teórico exposto no capítulo dois.
O quinto capítulo expõe as considerações finais e recomendações para trabalhos
Nos anexos são apresentados os modelos dos instrumentos de pesquisa utilizados na
coleta de dados.
2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA
Em praticamente toda a bibliografia consultada para a elaboração deste trabalho, os
autores se referem aos tempos turbulentos atualmente vividos no mundo dos negócios,
provocando inquietação tanto naqueles que gerenciam as empresas, desafiando-os a promover
mudanças estruturais e de comportamento, quanto nos que se subordinam a essas diretivas,
permanecendo em constante vigília ante a ameaça do desemprego.
Até a era da industrialização, as mudanças aconteciam num ritmo bastante lento. Já
na atual Era da Informação, com novas tecnologias impulsionando todos os setores, os
acontecimentos atingem just in time praticamente o mundo inteiro, espalhando suas
conseqüências com vertiginosa rapidez.
Drucker (2000, p. 3) afirma que a cada cem anos ocorre uma profunda
transformação na história do Ocidente. A sociedade leva algumas décadas para habituar-se à
nova visão de mundo, aos novos valores, às novas estruturas políticas e sociais. As
transformações que ocorrem hoje, porém, são muito mais rápidas, e não estão limitadas à
sociedade ou à história do Ocidente. Conforme observa o referido autor, “uma das mudanças
fundamentais é que não há mais uma civilização ou uma história ‘ocidental’. Existem
unicamente uma civilização e uma história mundial”.
Neste contexto, tem-se exigido dos indivíduos o desenvolvimento de habilidades
capazes de conferir-lhes um diferencial na acirrada disputa pelo mercado de trabalho,
habilitação à qual se tem atribuído o nome de empregabilidade.
A questão da empregabilidade ainda tem sido tratada de forma incipiente,
paradoxo da era em que vivemos. Um paradigma, porque representa um ideal, a palavra de
ordem quando o tema é ocupação e trabalho. E um paradoxo, porque exorta ao
desenvolvimento de competências e habilidades que o indivíduo talvez jamais tenha
oportunidade de demonstrar, numa realidade onde os empregos são cada vez mais escassos.
Considerando que não se pode aplicar uma teoria sem conhecer o contexto em que
se manifesta, este capítulo se inicia retratando a evolução histórica do trabalho e do mercado
de trabalho, traçando um paralelo das mudanças de paradigma ocorridas entre a Era da
Industrialização e a atual Era do Conhecimento (ou da informação, como preferem alguns), a
fim de fornecer elementos para a análise dos dados que farão parte deste estudo.
Em seguida, trata da definição dos principais elementos relacionados a
empregabilidade, abordando os conceitos propostos por vários autores, e fazendo uma crítica
em conexão com o item seguinte da exploração teórica, ou seja, a responsabilidade social das
empresas.
Parte-se da premissa de que, a par da importância da empregabilidade desenvolvida
como um atributo individual, as organizações também precisam repensar o seu papel e
contribuir com ações concretas para viabilizar a empregabilidade em um sentido mais amplo,
ou seja, assumir a sua responsabilidade para com a eliminação ou pelo menos a redução do
grave problema representado pelos crescentes níveis de desemprego e subemprego em nosso
país.
Neste aspecto, são focalizadas as possibilidades de atuação das instituições
financeiras e, em especial, da Caixa Econômica Federal, considerando a vocação social
presente em todas as suas operações, notadamente aquelas voltadas para as camadas de menor
renda da população.
Por fim, é apresentado, em sua concepção teórica, o Programa Adolescente
2.1 Evolução histórica do trabalho humano
Desde que os dois primeiros seres humanos, Adão e Eva, abençoados por Deus com
o tratamento privilegiado de não precisar trabalhar para o próprio sustento, foram castigados
por desobediência à ordem do Criador de não comer do fruto da árvore do bem e do mal, e
condenados a ganhar o pão com o suor de seus rostos, (Gênesis: 3,19), o trabalho humano
entrou para a história com um cunho de castigo e sofrimento.
Esta feição de dor e castigo também se extrai da etimologia da palavra que, segundo
a maioria dos estudiosos, vem do latim tripalium - instrumento rudimentar feito com três paus
aguçados, algumas vezes munidos com pontas de ferro utilizado pelos agricultores para
debulhar as espigas de trigo e de milho, e desfiar o linho, atividade que impunha grande
esforço e desgaste físico. Também há referências à palavra tripalium como sendo uma canga
para animais, ou um instrumento de tortura, também utilizado para subjugar os cavalos a fim
de colocar-lhes ferradura, do qual teria derivado o verbo tripaliare, torturar (ALBORNOZ,
2000).
Em grego, a palavra trabalho vem de pónos e tem a mesma raiz da palavra latina
poena. Na Antigüidade grega, o trabalho que implicasse fadiga física ou subordinação era
visto com desprezo e relegado a escravos ou a estrangeiros livres. Na definição aristotélica do
homem como ser político, tal condição somente poderia ser exercida pelos que não
trabalhavam, pois “o diálogo, com a discussão dos problemas comuns, e não o trabalho, eram
as atividades significativas para o homem livre” (MENEGASSO, 1998, s.p.).
A escravidão foi, sem dúvida, a forma mais cruel de trabalho, embora tenha sido um
escravidão não era uma forma de obter mão de obra barata, para fins de lucro, como sucede na
Idade Moderna, mas um modo de viabilizar a plena participação dos cidadãos na polis,
liberando-os da execução do trabalho mais rude, voltado para a satisfação das necessidades de
sobrevivência das pessoas. A escravidão era, portanto, uma condição política e não econômica
(MENEGASSO, 1998).
Na Idade Média, o escravismo evoluiu para o servilismo. O fim da escravidão teve
várias causas, dentre elas o papel exercido pelo Cristianismo, ao pugnar pela fraternidade
entre os homens, condenando a acumulação de riquezas e a exploração dos menos
afortunados. A doutrina cristã também propôs um novo significado para o trabalho, como um
meio de elevação do homem a uma posição de dignidade. Nos Atos dos Apóstolos, o termo
trabalho foi associado à ética cristã clássica (ganhar para ter o que repartir, trabalhar para ter o
que compartilhar com o necessitado), ganhando mais intensidade com Lutero e Calvino, entre
os séculos XIII e XIV. Calvino, criado no mundo dos negócios, justificou atividades
econômicas até então condenadas pela Igreja, pois, no seu entendimento, todo trabalho, desde
que feito com honestidade e sobriedade, era agradável a Deus. Com isto, deu-se considerável
impulso ao nascente capitalismo (AQUINO et al., 1988).
Para Huberman (1986), a servidão em muito se assemelha ao escravismo e está
estreitamente relacionada ao regime feudal. O servo, embora não sendo escravo, não dispunha
de liberdade e tinha que entregar parte da produção rural ao senhorio, em troca do uso da
terra, trabalhando arduamente em benefício dos donos da terra e tirando, em proveito próprio,
a alimentação, o vestuário e a habitação. No entanto, levava uma vida miserável. Dois ou três
dias por semana tinha que trabalhar a terra do senhor, sem pagamento. A terra do senhor tinha
que ser arada, semeada e ceifada em primeiro lugar, sendo, pois, ilimitadas as imposições do
O servilismo começou a desaparecer no final da Idade Média. A expansão do
comércio, a introdução de uma economia monetária e o crescimento das cidades, deu
oportunidade aos servos, principalmente aqueles com maior habilidade para o artesanato, de
romper os laços que os ligavam ao senhor feudal. Assim, abandonaram o campo e se fixaram
nas cidades, passando a viver de seu ofício, no início da transição do modo de produção
feudal para o pré-capitalista.
Nas cidades, os artesãos uniram-se na defesa de seus direitos, organizando-se na
forma das corporações, que agrupavam todos os artesãos do mesmo ramo em uma
determinada localidade. Tais corporações eram organizadas rigidamente, de modo a controlar
o mercado e a concorrência, bem como a garantir os privilégios dos mestres, cargo mais
elevado na hierarquia, constituído de mestres, companheiros (ou jornaleiros) e aprendizes.
No começo, o regime das corporações apresentava igualdade entre os artesãos e os
mestres. Eram “uma espécie de irmandade que tomava conta dos membros em dificuldade”
(MENEGASSO, 1998, s.p.). Todavia, com o transcurso do tempo, essa igualdade
desapareceu, conforme esclarece Vianna (1984, p. 27),
o sistema não passava, entretanto, de uma fórmula mais branda de escravização do trabalhador e muitas vezes surgiram dissensões dentro de uma corporação ou entre corporações que lutavam pela garantia de privilégios. Tais lutas chegaram a assumir graves proporções como a de Lyon, na França, onde uma crise entre corporações de comerciantes e de artífices deu causa à uma tremenda rebelião, cujas conseqüências, diz Cotrin Neto, foram condenações em massa, enforcamentos, tortura e o desassossego que por muito tempo perdurou. [...] Em 17 de junho (de 1791) a Lei de Chapelier dava golpe de morte nas corporações, como atentatórios aos direitos do homem e do cidadão.
As corporações de ofício entraram em declínio a partir do século XIV e vieram a ser
definitivamente extintas na segunda metade do século XVIII, sob o influxo dos ideais da
Revolução Francesa, de repúdio aos privilégios de classe e à restrição à liberdade de trabalho
e de profissão. Na perspectiva revolucionária, mostrava-se intolerável a reserva de mercado
relaciona à intensificação do comércio, exigindo o incremento da produção e implantando um
novo padrão cultural, no qual só a produtividade maximizava os lucros. Para isto, o caminho a
ser seguido era incrementar a indústria e extrair o máximo do trabalho humano.
O liberalismo clássico forneceu o substrato ideológico necessário para a instauração
da nova ordem burguesa, preconizando a liberdade de empresa, a liberdade de contrato e a
não intervenção do Estado na esfera econômica e social, devendo apenas resguardar a ordem
pública. Essa ideologia está no cerne da regulamentação das novas atividades que eclodiram
com a Revolução Industrial, que teve início no final do século XVIII, estendendo-se ao longo
do século XIX, e chegando ao limiar do século XX.
Esse período, de acordo com Menegasso (1998), foi marcado pela mecanização dos
meios de produção, inicialmente com as máquinas a vapor. O trabalho artesanal foi
substituído pelas máquinas que passaram a produzir em grande quantidade, ocorrendo, então,
a mais importante mudança no que diz respeito à ocupação humana: o trabalho livre foi
trocado por um contrato e um salário pago em dinheiro. Surge a classe assalariada e, com ela,
o chamado emprego formal. O número de empregos cresce juntamente com o surgimento das
grandes fábricas, dando início à produção em massa.
O salário passou a ser institucionalizado, representando uma garantia de
sobrevivência para os trabalhadores. O trabalho assalariado tornou-se central na vida da
maioria das pessoas, fazendo-se a mutação do sentido negativo para um sentido positivo do
significado do trabalho, e sua ausência passou a significar que o indivíduo encontraria
inúmeras dificuldades para garantir sua sobrevivência e a de sua família. “O salário tornou-se
o diferencial, o status quo, a importância e o valor na vida.” (MENEGASSO, 1998, s.p.)
Entretanto, esse período coincide com um estado de miséria social sem precedentes
na história. Anteriormente, tanto na escravidão, quanto na servidão e também nas corporações
dos trabalhadores, uma vez que o escravo ou o servo representava um capital ou bem a ser
preservado e, nas corporações, os mestres dependiam dos aprendizes e companheiros para a
produção. Na indústria, entretanto, a única obrigação dos empregadores era a de pagar o
salário, sem se preocupar com as necessidades mínimas dos trabalhadores, já que a
mão-de-obra era abundante, podendo um operário facilmente ser substituído por outro.
Emergiu, assim, uma nova sociedade: a sociedade de classes do modo de produção
capitalista. A classe proletária, numerosa e sem poder, e a capitalista, que impunha ao
proletariado a orientação a ser seguida. As idéias socialistas surgiram em resposta aos
problemas econômicos e às diferenças sociais criados pelo capitalismo, e estão na base da
formação da consciência de classe que resultou nos movimentos sindicais e na
regulamentação dos direitos trabalhistas.
Numa segunda fase (1860-1914), a Revolução Industrial foi marcada pela adoção da
eletricidade e dos derivados do petróleo como novas fontes de energia, e do aço como
matéria-prima, trazendo intenso progresso dos meios de transporte e comunicações, com o
surgimento das estradas de ferro, a invenção do automóvel, do avião, do telégrafo e do rádio.
O capitalismo financeiro consolidou-se e surgiram as grandes organizações multinacionais.
No pós-guerra, as sociedades industrializadas tiveram um enriquecimento
ininterrupto e uma melhoria das condições de vida sem precedentes. Para Chanlat (1996), os
trabalhos formais eram abundantes e estáveis, com baixas taxas de desemprego e melhoria
dos benefícios sociais até meados dos anos 70, quando o choque do petróleo e as políticas
deflacionárias estabelecidas em resposta à elevação dos preços desse produto no mercado
internacional marcaram o fim dos chamados “anos dourados”.
De acordo com Hobsbawn (1995), a partir da década de 90, a situação se agravou
ainda mais com os investimentos das empresas em tecnologias de automação da produção.
substituição do trabalho humano pelo das máquinas, eliminando empregos, a expansão
industrial e econômica verificada nos anos dourados houvera possibilitado a absorção dos
empregos perdidos e, até mesmo, a ampliação das ofertas de emprego na própria indústria ou
no setor de serviços. No entanto, conforme Rifkin (1995), isto não se verificou com a
chamada “terceira revolução industrial”, quando os empregos, suprimidos pela utilização da
automação,não mais foram absorvidos pela criação de postos de trabalho em outros setores.
A globalização da economia e a internacionalização dos mercados acirraram a
competitividade entre as empresas, que se viram obrigadas a lidar com um contexto de
turbulência e complexidade. A fim de adaptarem-se, recorreram a processos de reengenharia,
downsizing, terceirização de atividades e outras estratégias de redução dos custos e
mão-de-obra.
Assim, tornaram-se crescentes os níveis de desemprego, em todos os setores, bem
como a transição de trabalhadores para a informalidade, situação verificada não só no Brasil,
mas em nível global. E o que é pior, não há sinais de que seja uma situação transitória, mas
permanente, e com tendência ao agravamento. Além disto, as dificuldades não atingem
somente os trabalhadores com baixo nível de formação, pois o desemprego também tem
alcançado as pessoas qualificadas.
Conforme relata Antunes (2004), as mudanças brutais ocorridas no mundo da
produção e do trabalho fizeram com que muitos estudiosos preconizassem o ‘desaparecimento
do trabalho’, como Dominique Meda, em 1997, a substituição da ‘esfera do trabalho pela
esfera comunicacional’ por Habermas, em 1992, a ‘perda da centralização da categoria
trabalho’ por Offe, em 1989, e o ‘fim do trabalho’ encontrado em Rifkin, em 1995.
A diminuição da oferta de trabalho formal gera grande inquietação no trabalhador,
antes seguro e estável, e que agora se vê num mundo instável e de trabalho informal. As
alternativas para se manter competitivas e lucrativas, e, ao mesmo tempo, promover a
inserção e permanência do trabalhador no processo produtivo.
É nesse momento que a recontextualizacão do trabalho se faz necessária, apontando
para a necessidade de mobilizar o governo, as empresas e a sociedade para enfrentar
conjuntamente o problema do desemprego, que se mostra grave, irreversível e de proporções
globais.
2.2 Emprego, desemprego e empregabilidade
Observa-se que o trabalho, ao longo do tempo, vem passando por mutações
ocasionadas pela própria evolução sócio-político-econômica dos povos. Desde os tempos
primitivos, passando pela sociedade agrícola e industrial, até a atual “Era da Informação”, a
marcha do progresso das civilizações forçou mudanças nas formas de organização do trabalho
e nas relações entre empregado e empregador.
A mais significativa mudança veio com a Revolução Industrial, impondo uma
reestruturação dos hábitos de trabalho, que assim se transformou em emprego formal,
constituído mediante um vínculo de subordinação entre aquele que emprega e o que é
empregado, além da percepção de remuneração e outras garantias asseguradas pela lei.
O emprego é, pois, um fenômeno da era moderna, como observa Ramos (apud
MENEGASSO, 1998, s.p.) "Antes do advento da sociedade centrada no mercado ele não era o
critério principal para definir a significação social do indivíduo e, nos contextos
pré-industriais, as pessoas produziam e tinham ocupações sem serem, necessariamente, detentoras
Assim é que, em busca dessa significação social, a maioria das pessoas aspira a um
emprego que lhes traga estabilidade e segurança, vinculando sua realização profissional à
possibilidade de fazer carreira dentro de uma organização bem estruturada. No entanto,
conseguir um emprego não tem sido fácil num mercado que tem eliminado muitos postos de
trabalho. Os empregos estáveis encontram-se cada vez mais escassos, num contexto em que
prevalecem contratos temporários e até mesmo informais.
Hoje, a estruturação das organizações em cargos está ruindo ante as exigências do
mercado globalizado, observando-se o uso crescente de novas tecnologias, políticas de gestão
e organização do trabalho pautadas na qualidade total e “numa estratégia patronal que visa
cooptar e neutralizar todas as formas de organização e resistência dos trabalhadores”
(DRUCK, 1995, p. 68).
O desemprego começa a assumir dimensões preocupantes, não tanto em razão dos
números cada vez maiores apontados pelas estatísticas, mas porque começa alcançar países de
primeiro mundo e profissionais mais qualificados.
No setor bancário, que nos interessa de perto neste trabalho, a situação não é
diferente. Até o ano de 1986, a organização do sistema bancário foi marcada por relações
formais de trabalho (jornada de trabalho, férias, salários, benefícios), apresentando
crescimento em expansão dos serviços e do emprego. A partir de então, em face das políticas
econômicas implantadas, tais como estabilização da moeda, privatizações, fusões e
incorporações, novas tecnologias e flexibilização do trabalho, o setor passou por uma ampla
reformulação.
Os bancos enfrentaram três novos processos: “a desintermediação (as grandes
empresas cada vez mais prescindem dos serviços dos bancos para captar recursos, algumas
possuem os seus próprios bancos), a desregulamentação (com cada vez menos regras fixando
Dados do BOLETIM DIEESE (1999) revelam que o sistema bancário nacional foi
afetado profundamente pela reestruturação dos bancos e pela expansão da informática,
eliminando nos últimos sete anos aproximadamente 40% dos postos de trabalho.
Em síntese, o capitalismo vive, hoje, um paradoxo: após ter retirado do trabalhador a
autonomia sobre suas atividades, sujeitando-o à produção assalariada, deixando-o agora sem o
emprego tradicional, suprimido que foi pela intensa automatização do processo produtivo, que
minimiza drasticamente a utilização de mão-de-obra.
Essa reestruturação do capitalismo impõe aos trabalhadores a necessidade de
estabelecerem novas estratégias de sobrevivência, dentre elas o rompimento com a
mentalidade de emprego criada pela Revolução Industrial, uma vez que, conforme assinalado,
a tendência é a de que os empregos formais se tornem cada vez mais escassos.
Nesse contexto, a qualificação profissional e a valorização do auto-desenvolvimento
do trabalhador têm sido apontadas como meios necessários para aumentar o seu nível de
empregabilidade, tida por muitos como a saída possível para a atual situação de crise dos
empregos.
Isto porque, de acordo com Leite (2005), com ou sem emprego, trabalhando ou não,
trabalho ainda é um valor ou referência importante, seja por gerar a renda que garante a
sobrevivência e o consumo, seja por propiciar espaços de socialização e construção da
identidade pessoal e grupal, de inclusão social e familiar.
Mas em que consiste a empregabilidade eem que fundamento se sustenta?
De acordo com Saviani (1997), o termo empregabilidade é originário do inglês
employabity, e sua introdução no Brasil teria ocorrido por volta de 1995, quando o Ministério
do Trabalho iniciou uma série de programas e projetos de qualificação e/ou inserção
profissional focalizado nos jovens. Tais políticas públicas adotaram o conceito de
que tornam o profissional necessário para toda e qualquer organização, motivo pelo qual o
trabalhador deve assumir a responsabilidade pelo seu próprio auto-desenvolvimento,
adequando-se às contingências do mercado de trabalho, como condição para nele ingressar e
permanecer.
Nesse sentido, explica Martins (2001, p. 21),
em vez de buscar um vínculo estável com um empregador, o trabalhador é induzido a desenvolver sua condição de empregável, ou seja, torna-se cobiçado no mercado de trabalho, ampliando suas chances de recolocação quando necessário. O trabalhador passa a se perceber como uma unidade autônoma, capaz de oferecer seus serviços e administrar sua carreira como se fosse uma microempresa.
Trata-se de uma nova forma de compreensão da estabilidade de emprego que,
segundo Bridges (1995, p. 64), "está atravessando uma dessas redefinições fundamentais que
marca um ponto decisivo nas sociedades. Agora a estabilidade reside na pessoa, e não na
posição, e em grupo de qualidades que nada tem a haver com as políticas ou práticas da
organização".
Nesse contexto, a empregabilidade está relacionada a qualquer modalidade de
trabalho, abrangendo outras possibilidades de recolocação profissional do individuo no
processo produtivo, como na montagem do próprio negócio ou na prestação de serviços como
profissional autônomo, não se ajustando apenas aos empregos formais.
No entanto, para Oliveira (1999), não se deve perder de vista que o conceito de
empregabilidade vem sendo construído a partir de uma estrutura econômica caracterizada pela
eliminação de postos de trabalho e aumento da competição entre trabalhadores. E ao
responsabilizar os indivíduos pelo estabelecimento de estratégias capazes de inseri-los no
mercado de trabalho, justifica-se o desemprego pela falta de preparação dos mesmos para
Assim, a habilidade de ter emprego assume um caráter individual e exclusivo do
trabalhador, quando, na verdade, profissionais competentes e qualificados também têm sido
deixados à margem do processo produtivo.
Essa constatação levou alguns autores, como Forrester (1997, p. 118-119), a uma
crítica veemente da empregabilidade vista como responsabilidade exclusiva do indivíduo,
há uma palavra que soa nova e parece prometida a um belo futuro: ‘empregabilidade’ [...] Trata-se, para o assalariado, de estar disponível para todas as mudanças, todos os caprichos do destino, no caso, dos empregadores. Ele deverá estar pronto para trocar constantemente de trabalho [...]. Mas, contra a certeza de ser jogado ‘de um emprego para outro’, ele terá uma ‘garantia razoável’- quer dizer, nenhuma garantia – ‘de encontrar um emprego diferente do anterior que foi perdido, mas que paga igual’. [...] e quanto às ‘garantias razoáveis’, suspeita-se que elas serão consideradas cada vez mais ‘não razoáveis’ e não existentes. Inventarão, todavia, o nome de um ‘gadget’ para distrair as multidões. Lembrem-se: empregabilidade.
Sem dúvida, a busca por melhor qualificação e o auto-desenvolvimento são fatores
essenciais para a formação dos indivíduos, não só em sua dimensão profissional, mas também
pessoal. Mas, pensar a questão somente sob este prisma reduz em muito o problema,
apresentando-se como um paradoxo: valorizar e incentivar a qualificação e participação do
trabalhador, quando a escassez de postos de trabalho dificilmente possibilitará que sua
performance seja colocada em prática.
Na verdade, a empregabilidade vista por este ângulo, somente resolveria o problema
se as causas do desemprego fossem relacionadas apenas com a falta de capacitação das
pessoas, o que não ocorre. O desemprego é resultado, principalmente, da tecnologia
poupadora de mão-de-obra e de mudanças estruturais nas relações comerciais e no ambiente
financeiro internacional. A globalização econômica e aumento da competitividade, levaram as
empresas a adotarem estratégias de gestão tais como corte de pessoal, terceirização de
atividades, reengenharia, downsizing, dentre outras.
Salm (1996), reportando-se a pesquisas feitas em São Paulo, concluiu que o aumento
empresas podem substituir a mão de obra menos qualificada por uma mais qualificada, com o
mesmo salário. A qualificação torna-se o centro de controvérsias e de debates de vários
estudos. Exige-se um “novo trabalhador”, com o processo de qualificação assumindo
diferentes significados. O novo paradigma exige maior qualificação profissional, reflexo da
heterogeneidade do mercado de trabalho: ampliação do desemprego e da economia informal.
Como se vê, a capacitação contínua e o auto-desenvolvimento são requisitos
indispensáveis para enfrentar o desafio dos novos tempos, mas se caracterizam como
alternativas de âmbito restrito, incapazes de resolver, sozinhas, um problema de abrangência
global que reclama até mesmo uma redefinição das relações entre capital e trabalho.
As alternativas para a reversão desse processo devem ter alcance macro, uma vez
que o problema afeta a todos, empregados, desempregados, organizações e governos. As
ações que visem minimizar os efeitos danosos, ou até mesmo eliminar o desemprego
estrutural, exigirá a intervenção de todos esses atores e, principalmente, do Estado, na
qualidade de único agente capaz de viabilizar a concretização de eventuais alternativas que
dependam, por exemplo, de articulações da política fiscal, monetária e creditícia, dentre
outras.
Essa visão ampliada encontra eco na perspectiva de valorização dos direitos
humanos ligados ao trabalho, evidenciada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT),
em especial a partir de 1998, com a aprovação da Declaração Relativa aos Princípios e
Direitos Fundamentais do Trabalho, segundo a qual os Estados-membros assumem o
compromisso de respeitar, promover e tornar realidade as seguintes normas, conforme indica
Pinto da Silva (2004, p. 149-150):
produção econômica a um nível de vida aceitável. A proteção social garante seguridade e a cidadania dos seres humanos. O dialogo social conecta a produção com a distribuição e garante a participação no desenvolvimento.
No entanto, não basta o empenho individual dos trabalhadores, na busca da
qualificação e auto-desenvolvimento, nem do Estado, provendo os meios necessários para a
consecução de políticas sociais voltadas para a redução dos níveis de desemprego. É
necessário que as empresas e organizações também se envolvam nesse propósito, viabilizando
ações efetivas que possam contribuir para a reversão, ou pelo menos para alguma melhora
nesse quadro desalentador, uma vez que, em última análise, são elas, por excelência, as fontes
geradoras de emprego e renda, e também as maiores beneficiadas pelo processo de
reestruturação produtiva que culminou com as intensas mudanças e a atual crise do trabalho.
Em meados dos anos 80, governo e empresários brasileiros uniram-se no projeto de
aumento de qualificação formal como um dos requisitos para o preparo dos trabalhadores para
uma futura inserção no mercado de trabalho, gerando nos indivíduos expectativas de ascensão
social e econômica. Nos últimos anos, intensificaram-se as ações voltadas especificamente
para a inserção dos jovens no mercado de trabalho, notadamente aqueles oriundos das
camadas mais pobres da população. O Programa Adolescente Aprendiz, detalhado mais
adiante, é um exemplo dessas ações.
Como já foi dito, é ampla, nos dias de hoje, a expectativa de que as empresas pautem
suas condutas por um mínimo de responsabilidade social. Como observa Handy (2005,
p.124), “o propósito de uma empresa, em outras palavras, não é obter lucros e ponto final. É
obter lucros de modo que a empresa possa fazer algo mais, ou melhor. Esse ‘algo’ é a
verdadeira justificativa da empresa.”
Na seqüência, discorre-se sobre o modo como se deu a evolução do tema da
social, rompendo com a arcaica concepção de que a finalidade última da atividade econômica
é a geração de lucros.
2.3 Responsabilidade social
O conceito e a prática da responsabilidade social das empresas é algo relativamente
novo e desafiador, sendo voz corrente que somente as corporações atentas a tais mudanças
sobreviverão aos novos tempos.
Hoje é amplamente aceita a idéia de que os negócios possuem, além da dimensão
econômica e legal, uma dimensão social. As organizações empresariais, graças à riqueza que
produzem e acumulam (Mattar. 2000), possuem um amplo potencial de mudar e melhorar o
ambiente social em que estão inseridas. Os objetivos das empresas não estão mais restritos ao
lucro, exigindo-se verdadeira mudança de paradigma para atitudes e práticas administrativas
solidárias, que tenham preocupação com as pessoas e o meio de onde retiram sua sustentação
econômica.
O mercado, cada dia mais aberto e competitivo, está a exigir uma atuação
diferenciada das empresas, até mesmo como forma de sobrevivência. As organizações devem
assumir em suas propostas de gestão, compromissos e responsabilidades que ultrapassem a
questão meramente financeira, agregando valores como a inclusão social e a conduta ética em
suas ações, e adotando atitudes e políticas corretas, no que diz respeito aos direitos humanos,
2.3.1 Conceito de responsabilidade social
O termo “responsabilidade social” tem merecido interpretações as mais diversas,
sem, contudo, levar à consolidação de um conceito unitário, vez que se apresenta como um
fenômeno multifacetado, uma mistura de idéias, conceitos e práticas.
De acordo com Duarte e Dias (apud ASHLEY et al., 2002, p. 5), a responsabilidade
social:
para alguns, representa a idéia de responsabilidade ou obrigação legal; para outros é um dever fiduciário que impõe às empresas padrões mais altos de comportamento que os do cidadão médio. Há os que a traduzem, de acordo com o avanço das discussões, como prática social, papel social e função social. Outros a vêem associada ao comportamento eticamente responsável ou a uma contribuição caridosa. Há ainda os que acham que seu significado transmitido é ser responsável por, ou socialmente consciente, e os que a associam a um simples sinônimo de legitimidade ou a um antônimo de socialmente irresponsável ou não responsável.
O fato é que a responsabilidade social abre um campo muito vasto para a
investigação e o diálogo multidisciplinar, de modo que as interpretações que lhe são
emprestadas variam segundo o aspecto que cada ramo da ciência geralmente enfatiza em sua
análise e observação.
Assim é que, do ponto de vista da Filosofia, a responsabilidade social é definida
como “a possibilidade de prever os efeitos do próprio comportamento e de corrigir o mesmo
comportamento com base em tal previsão”, sendo que “o primeiro significado do termo foi o
político, em expressões como “governo responsável” ou “responsabilidade do governo”, que
exprimiam o caráter pelo qual o governo constitucional age sob o controle dos cidadãos e em
função deste controle (ABBAGNANO, apud ASHLEY et al, 2002, p. 6)
Já as Ciências Sociais, conforme Biroui (apud ASHLEY et al, 2002, p. 6), a define
como sendo “a responsabilidade daquele que é chamado a responder pelos seus atos face à
sociedade ou à opinião pública [...], na medida em que tais atos assumam dimensões ou
Para Jaramillo e Ángel (apud ASHLEY et al., 2002, p. 7), “responsabilidade social
pode ser também o compromisso que a empresa assume com o desenvolvimento, bem-estar e
melhoramento da qualidade de vida dos empregados, suas famílias e da comunidade em
geral”.
Para o Direito, a responsabilidade social se identifica com a chamada “função social
da empresa” que, por sua vez, é interpretada como uma derivação da função social da
propriedade, um dos princípios da ordem econômica previsto no art. 170, inciso III, da
Constituição Federal de 1988: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] III – função social da
propriedade”.
Como se vê, o espectro da responsabilidade social é muito amplo, e impõe às
organizações a adoção de condutas e ações aparentemente incompatíveis com os paradigmas
tradicionais de mercado e os modelos de ganho de capital, criando um valor paralelo que vai
assumindo uma importância crescente: o valor solidário.
Essa transição para a solidariedade não tem se mostrado uma tarefa fácil,
justamente porque demanda a ruptura com esses paradigmas tradicionais de produção e
gestão, e a remodelação do perfil organizacional das empresas.
Segundo Srour (apud PEREIRA; REZENDE PINTO, 2004, p. 155) a
responsabilidade social dobra-se a múltiplas exigências: relações de parceria entre clientes e fornecedores, produção com qualidade ou adequação ao uso com plena satisfação dos usuários, contribuições para o desenvolvimento da comunidade, investimentos em pesquisa tecnológica, conservação do meio ambiente mediante intervenções não predatórias, participação dos trabalhadores nos resultados e nas decisões da empresa, respeito ao direito dos cidadãos, não discriminação dos gêneros, raças, idades, etnias, religiões, ocupações, preferências sexuais, investimentos em segurança do trabalho e em desenvolvimento profissional.
Com efeito, agir com responsabilidade social impõe uma série de novos parâmetros
manter relacionamento ético com os fornecedores e consumidores, investir em segurança do
trabalho e desenvolvimento profissional dos empregados, respeitar as diferenças de raça,
gênero, religião, enfim, contribuir efetivamente para o desenvolvimento da comunidade,
Uma mostra das dificuldades na superação dos velhos paradigmas, principalmente
do entendimento arraigado de que o papel das empresas é simplesmente o de gerar e distribuir
riquezas entre os seus acionistas é a divergência de opiniões entre Milton Friedman, Prêmio
Nobel de Economia, e Keith Davis, da Universidade Estadual do Arizona, dois dos maiores
economistas do mundo. Para Friedman, (apud ASHLEY et al, 2002), que é acompanhado por
Neil Chamberlain e Hanry Manne (apud ASHLEY et al, 2002), a única responsabilidade que
a empresa deve perseguir é o lucro, utilizando-se de todos os recursos organizacionais,
objetivando o aumento do retorno do capital para os acionistas. A empresa já é considerada
socialmente responsável somente por gerar novos empregos, pagar salários justos e melhorar
as condições de trabalho, além de contribuir para o bem estar público ao pagar seus impostos.
A empresa que desvia seus recursos para ações sociais pode prejudicar sua competitividade.
Na mesma linha de Friedman, outro precursor da corrente contrária à
responsabilidade social das empresas é Levitt (apud PEREIRA; REZENDE PINTO, 2004),
para quem, no sistema de livre-empresa se supõe que o bem-estar seja automático, e onde não
o é torna-se tarefa do governo.
Em oposição a Friedman, Keith, Davis (apud ASHLEY et al, 2002) defende o
entendimento de que a empresa impõe à sociedade os custos decorrentes de suas atividades, o
que lhe acarreta a responsabilidade direta no sentido de buscar envolver-se nas soluções para
os múltiplos problemas que atingem a comunidade. As empresas, visando atender às
necessidades dos novos tempos, terão que ampliar seus objetivos, que não mais devem estar
restritos aqueles puramente econômicos, levando em consideração outros parceiros e os
De acordo com Ashley, Coutinho e Tomei (apud PEREIRA; REZENDE PINTO,
2004, p. 154-155), os argumentos a favor da responsabilidade social corporativa partem de
autores da área acadêmica intitulada Business and Society, segundo os quais, a
responsabilidade social pode ser enquadrada em duas linhas básicas: ética e instrumental.
Os argumentos éticos são derivados dos princípios religiosos e das normas sociais prevalecentes. Considera-se que as empresas e os seus colaboradores deveriam comportar-se de maneira socialmente responsável por ser a ação moralmente correta, ainda que envolva despesas improdutivas para a organização. Já os argumentos na linha instrumental consideram que há uma relação positiva entre o comportamento socialmente responsável e o desenvolvimento econômico da companhia.
Roberto Dunn (apud ASHLEY et al, 2002), presidente do Business for Social
Responsibility (BSR), organização norte americana sem fins lucrativos dedicada à divulgação
da responsabilidade social nos negócios, propõe uma visão conciliadora, argumentando que
ser socialmente responsável é um dos pilares de sustentação dos negócios, tão importante
quanto a qualidade, a tecnologia e a capacidade de inovação. Quando a empresa é socialmente
responsável, atrai os consumidores e aumenta o potencial de vendas, gerando maiores lucros
para os acionistas. Além disso, também é, hoje, um sinal de reputação corporativa e da marca.
Para o Business for Social Responsibility o conceito de empresa socialmente
responsável aplica-se às organizações que atuam nos negócios de forma a atingir ou exceder
as expectativas éticas, legais e comerciais do ambiente social em que estão inseridas
(ASHLEY et al., 2002). O Instituto Ethos (apud MACHADO FILHO, 2004, P.243),
corrobora com esse entendimento quando afirma que
Ainda, segundo o Instituto Ethos, as empresas socialmente responsáveis se
caracterizam por serem reconhecidas como agentes de nova cultura empresarial e de mudança
social; como produtoras de valores para todos (colaboradores, acionistas e comunidade), e
serem consideradas diferenciadas e apresentar maior potencial de sucesso e longevidade.
É como se a responsabilidade social gerasse um círculo virtuoso: quanto mais a
empresa é bem sucedida, mais cresce sua necessidade de atuação socialmente responsável.
Assim, em última análise, a responsabilidade social vem a se configurar como um fator
importante para a própria sustentabilidade das organizações.
Carroll (apud PEREIRA; REZENDE PINTO, 2004) aponta quatro faces ou
dimensões para a responsabilidade social: econômica, legal, ética e filantrópica. Na figura 1,
denominada Pirâmide da Responsabilidade Social, são apresentadas as quatro dimensões
propostas pelo autor, e o quadro l contêm os comentários acerca dos significados que ele
atribui a cada uma delas.
Filantrópica
Contribuições com recursos para a comunidade, melhoria
da qualidade de vida.
Ética
Obrigações para fazer o que é certo, justo e correto.
Legal
Codificação da sociedade Indicando o que é certo e errado.
Econômica
Base que sustenta todas as demais responsabilidades.
Figura 1: Pirâmide da Responsabilidade Social.
QUADRO 1 – SIGNIFICADO DAS QUATRO DIMENSÕES DA RESPONSABILIDADE SOCIAL SEGUNDO CARROLL EM 1991
Dimensões Significado
Econômica A dimensão econômica incluiria as obrigações da empresa em ser produtiva, lucrativa e atender às expectativas dos acionistas de obter retorno sobre o investimento. Todos os outros papéis dos negócios são atributos derivados desse pressuposto fundamental.
Legal A dimensão legal requer que o negócio acrescente à sua missão econômica o respeito às leis e aos regulamentos. A sociedade espera que os negócios ofereçam produtos dentro das normas de segurança e obedeçam a regulamentações governamentais.
Ética A dimensão ética leva em consideração princípios e padrões que definem a conduta aceitável determinada por público, órgãos regulamentadores, grupos privados interessados, concorrentes e a própria organização. A tomada de decisões deve ser feita considerando-se as conseqüências de suas ações, honrando o direito dos outros, cumprindo deveres e evitando prejudicar terceiros.
Filantrópica A dimensão filantrópica prevê que o negócio deve estar envolvido com a melhoria da sociedade por meio das responsabilidades legal, ética e econômica, bem como com a adoção de práticas filantrópicas.
A dimensão filantrópica prevê atividades que são guiadas pelo desejo dos negócios em se engajar em papéis sociais não legalmente obrigatórios, mas que estão se tornando cada vez mais estratégicos.
Fonte: Carroll em 1991; Maignan e Ferrell em 2001; Ferrell et al. em 2000 (apud PEREIRA; REZENDE PINTO, 2004, p. 155).
Mais tarde, em 1998, Carroll reviu essas quatro dimensões, ressaltando que elas não
existem separadas ou isoladamente umas das outras eestão intimamente relacionadas, embora
freqüentemente em conflito. O conjunto dessas dimensões é que revela o significado da