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Revista Investigações - Linguística e Teoria Literária

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Academic year: 2020

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(1)

Angela Dionisio

Acervo Pessoal

INVESTIGACOES

,

Lingiiistica e Teoria Literaria

VOL. 2

PROGRAMA DE POS-GRADUACAo EM LETRAS E LlNGO(STICA

(2)

REITOR

Prof. Efrem de Aguiar Maranhao

PR6-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E

P6S-GRADUA~Ao

Prof. Yony ·de Sa Barreto Safl'lpaio

PR6-REITOR PARA ASSUNTOS CULTURAIS E INTERCAMBIO CIENTiFICO

ProF- Margarida de Oliveira Cantarelli

COORDENADOR, PROGRAMA DE P6S-GRADUA~AO EM LETRAS E L1NGOiSTICA

Prof. Francisco Gomes de Matos

VICE-COORDENADOR, PPGLL

ProF- Gilda Maria Lins de Araujo

SECRETARIO

Marcos Motta da Silva

CONSELHO EDITORIAL

Ataliba T. de Castilho (USP)

Francisco Gomes de Matos (UFPE), Presidente Idelette Fonseca dos Santos (UFPB)

Ingedore V. Koch (UNICAMP) lvaldo Bittencourt (UFPE) Jose Fernandes (UFGO) Luiz A. Marcuschi (UFPE) Marfgia Viana (UFPE) Regina Zilberman (PUC-RS) Sebastien Joachim (UFPE)

INVESTIGA~OES - LingUlstica e Teoria Literaria ISSN 0104-1320

Vol. 2,dezembro de 1992

Publicac.;:ao anual do Programa de P6s-Graduac.;:ao em Letras e LingOlstica

da Universidade Federal de Pernambuco, Dept2 de Letras, Centro de Artes e Comunicac.;:ao,

(3)

Apresentac;ao

Francisco Gomes de Matos Artigos

Textualizagao da loucura 9

Sebastien Joachim

A presenga da repetigao na fala e algumas perspectivas de

tratamento 31

Luiz AntOnio Marcuschi

o

discurso indfgena: uma abordagem pragmatica 49 Gilda Maria Lins de Araujo

As partfculas modais e0ensino de alemao para

estrangeiros 69

Elizabeth Marcuschi

Comunicagao, Iiteratura e informatica aplicada ao ensino

de Ifnguas estrangeiras 77

Yaracylda O. Farias

Poder nas interagoes verbais entre os sexos 83 Judith C. Hoffnagel

Estrategias de criagao de humor na entrevista televisiva 93 Isaltina Mello Gomes

(4)

Uma leitura da abordagem Bakhtiniana do discurso

reportado 105

D6ris de Arruda Cunha

.Approaches to conversational analysis 119

Kazue Satio M. de Barros

E

conversando que a gente se entende: opacidade e transpar~ncia na comunicagao intercultural em lingua

materna 133

In~s Signorini

Padr6es entoacionais nos processos de continuidade e

descontinuidade na fala 145

Marrgia Viana

o

teatro de Ariano Suassuna e a Iiteratura popular

Nordestina. Uma poetica do palimpsesto 155 Idefette Fonseca dos Santos

LingUistica no Brasil:0papel da UFPE 167

Francisco Gomes de Matos Programa de

P6s-Graduagao Letras e Linguistica

(5)

Lanc;ada em 1989, com 0objetivo de divulgar pesquisas realizadas nas duas areas de concentrac;ao deste Programa_ Linguistica e Teoria da Literatura - renova-seesta pUblicaC;ao,a fim de refletir as seguintes mudanc;as positivas no desenvolvi-mento dosCursos de P6s-Graduac;ao no Brasil:

1 - a crescente e produtiva interac;ao de docentes-pesqLiisado-res, atraves 'de eventos promovidos por entidades como a ABRALIN (AssociaC;ao Brasileira de LingUlstica) e a ANPOLL

(Associac;ao Nacional de P6s-Graduac;ao e Pesquisa em

•.Letras e LingUlstica).

2 - 0 surgimento, entre n6s, de revistas especializadas com

Conselho Editorial institucionalmente abrangente: um

exemplo e D.E.L.T.A., Revista de Documentac;ao de Estudos em LigUlstica Te6rica e Aplicada, publicada com apoio of i-cial da ABRALlN,

3 - A €mfase dada pela CAPES, no processo avaliativo do

de-sempenho dos Programas de P6s-Graduac;ao,

a.

melhoria

da qualidade das pesquisas,

a.

cooperac;ao interuniversitaria e aointerc~mbio de publicac;c5es.

4 - 0 incentivo - por Ag~ncias governamentais federais e esta-duaJs, Pr6-Reitcirias e Editoras Universitarias -

a.

dissemi-nac;ao nacional e internacional de trabalhos e documen-tac;ao relevantes, atraves de revistas e boletins.

(6)

5 - A conscientizagao, pela comunidade cientifica, de que e crucial assegurar-se aos pesquisadores usuarios de lingua portuguesa, 0 direito de pUblicar nesse idioma em revistas

publicadas no PaIs. Urn apelo nesse sentido foi feito pelo redator desta, durante a confer~ncia (os Direitos LinguIsti· cos do Cientista Brasileiro), pronunciada no Encontro da ABRALlN, durante a\44~ Reuniao Anual da SBPC, Socieda-de Brasileira para 0 Progresso da Ci~ncia

I

Sao Paulo, 13

de julho de 1992.

Inspirado nessas tend~ncias, agora transformadas em diretrizes,0 Colegiado deste Programa decidiu instituir urn no-vo Conselho Editorial para

Investlgac;6es,

constituido por 10 membros, dos quais 05 da UFPE e 05 de outras universidades.

Deliberou, tambem, 0 Colegiado que,

a

medida do

possivel, as contribuig6es

a

revista sejam representativas da produgao de docentes e discentes deste Programa e de espe-cialistas de outras universidades.

Agradecemos a colaboragao dos colegas que comparti-Iharam nessa complexa mas gratificante missao editorial, como autores ou leitores criticosdos manuscritos submetidos.

Francisco Gomes de Matos, Presidente, Conselho Editorial Recife, dezembro de 1992.

(7)

TEXTUALlZA9AO DA LOUCURA (A "mise en discours" da desrazao)

porSebasuen

Joachim

Teoria da Literatura, UFPE De Aristoteles ate Sigmund Freud a filosofia oficial nunca duvidbu que 0 apanagio do homem fosse a razao. Com 0 Pai da Psicanalise ja nao estamos certos dessa assen;ao. A Iitera-tura, na sua ~nsia de rivalizar com a Filosofia, problematiza nossas certezas e incertezas, encenando/textualizando 0

avesso da racionalidade.

Eis aqui uma etapa de nossa pesquisa suscetfvel de subsidiar apercep<;?aodessa problematiza<;?ao.

Num primeiro momento, faremos uma descri<;?aofeno-menologica da loucura; num segundo momento sera apresen-tado urn quadro trfplice de analise.

o

estudioso que pretende abordar textos literarios sob 0

~ngulo psicanalftico necessita de um mfnimo de informa<;?oes teoricas e de uma certa disposi<;?aode espfrito. As informa<;?oes basicas se encontram na bibliografia em anexo, principalmente nos nomes de Bellemin-N el, Mahony e Wieder. Para a leitura d~ loucura ficcional, em particular, - alvo dessa pesquisa _ as refer~ncias fundamentais sac Danon-Boileau, Menaham, Plaza e Thevoz. Quanto

a

disposi9ao afetiva, e tambem 0 contexto

socio-cultural e polftico do discurso louco, ficcional ou nao, to-dos os autores citato-dos falam-no, mas destacamos aqui os nomes de David Cooper e Michel De Certeau.

Mas qual e a relev~ncia de urn estuddo da loucura fic-cional? Sabemos que psiquiatras e analistas cuidam da loucu-ra verdadeiloucu-ra, de pessoas de carne e osso, de sujeitos empfri-cos, e que talvez seja a (mica tarefa que valha a pena. 0 que nos levaria entao a nos preocupar com fabulas cuja fun9ao se-ria de puro divertimento?

Longe de nos recusar a fun<;?aoprazerosa da arte, nem competir com os especialistas dos disturbios mentais. Nossa

(8)

preocupagao, porem, e justificada tanto pelas declaragoes dos estudiosos supracitados quanta pelos trabalhos sobre a loucu-ra na Hist6ria e na Arte de Michel Foucault e os estudos sobre o texto de ficgao e 0 texto ficcional de Paul Ricoeur. Mas aqui nossa justificativa se baseia sobretudo na autoridade de Michel De Certeau (no tocante a ficgao), na de David Cooper (no to-cante a loucura discursiva) e na de Monique Plaza (no toto-cante

a analise fenomenoI6gica). Veremos que a razao e ao mesmo

tempo epistemol6gica e estrategica.

Com ou sem intriga de loucura fingida ou nao, a ficgao ou 0 texto de imaginagaq, essencialmente feita de simulacros de vivencia humana, e urn domlnio de estudo mais amplo do que se pensam no cfrculo dos cientlficos mal informados e dos intelectuais politicos tidos por "realistas".

No aprego desse rigoroso historiador que foi Michel De Certeau, a ficgao e uma epistemologia ou interrogagao sobre a realidade e sobre 0 nosso saber. Numa tal 6tica, tanto a escrita

ficcional quanta a sua leitura competente constituem modos

especlficos de se chegar as invengoes de percepgoes e de

conceitos - uma heurfstica (De Certeau, 1987:67-69).

De fato, 0 que se designa por ficgao nao se confunde com 0falso ou 0 puramente irreal, nao se opoe a nenhuma

or-dem de conhecimento. Ela e uma mistura de "real" e de nao real sUbjacente a todas elas: ciencia, mitos, artes ...

Infere-se de De Certeau uma definigao da ficgao como anunciadora e organizadora de urn porvir. Como a Ciencia, ela diz: suponho que ... , e avanc;a hip6teses contrafatuais. Discur-so cientffico, discurDiscur-so ficcional se perecem por vezes, na sua carencia provis6ria de referencia, no seu div6rcio com 0senso com urn. Mas a ciencia procura se segurar pela monovalencia e pela estabilidade semantica ao passo que a ficc;ao busca a aventura da polivalencia e da instabilidade dos efeitos. Enfren-tam-se af as duas utopias, senao duas ameac;as de loucura, quando procura e busca sac extremadas. Manias classificado-ras e rigidez redutora, dispersao semantica e compulsiva fuga para frente: ambas as atitudes discursivas estao no registro da psicose. Tanto a ciencia quanta a ficgao podem cair na malha fina de uma relevante leitura "psicanalftica".

Grande admirador de Foucault 0 histori6grafo da loucu-ra, De Certeau multiplica as relac;oes entre modelos freudianos

(9)

e modelos Iiterarios no capftulo VI de seu Iivro A Psicanalise entre Hist6ria e Fic

y

80 (Gallimard 1987:125-128,132-141).

Es-sas relagaes sao hoje bem conhecidas com a divulgagao dos

mecanismos ret6ricos vigentes na teoria dos sonhos (repor-tem-se na bibliografia aos nomes de Bellemin-No I 1982, Da-non-Boileau 1987, Ella Sharpe 1972, Lacan, Escritos). Mas De Certeau nos relembra algo menos divulgado, a saber que es-sas "figuras" de ret6rica, Freud as Iiberta do "ghetto Iiterario" e. Ihe confere uma "pertinencia hist6rica". Numa passagem, De Certeau fala de uma (estilfstica dos afetos) (p. 132-133) Iigan-do, loucura, Iiteratura, inconsciente e paixao. Nisso veremos

que suas declaragaes convergem, com as de Menahem,

Coo-per, Thlwoz e Plaza. Por enquanto contentemo-nos em assina-lar a importAncia epistemol6gica e heurfstica que ele tem atri-bufdo

a

ficgao Iiteraria no que diz respeito

a

fungao polftica e

a

escuta psicanalftica do discurso louco.

As orientaQaes te6ricas que apresentamos com

preen-dem os ftens seguintes: _

- CONTEXTO SOCIAL DA PRODUQAO E

REPRESEN-TAQAo

- DESCRIQAo FE~OMENOL6GICA

- QUADRO DE ANALISE

CONTEXTO S6CIO-CULTURAL DA LOUCURA

Quase ninguem nega hoje a necessidade de levar em

conta contextos mais vastos (hist6ria, formagao social, insti-tuiQaes culturais e s6cio-polfticas, a pr6pria Iinguagem como sub-instituigao) para entender 0 discurso individual e os com-portamentos. Por isso, um dos leit motifes de nossa pesquisa vai ser 0 peso do sociolecto sobre as manifestagaes intelec-tuais, 0impacto da realidade institufda, da totalidade simb6lica sobre a percepgao e a anunciaQao do sujeito individual.

Linguistas, Iiteratos, fil6sofos, analistas, testemunham is-so. Antes de recorrer ao depoimento do mais veemente deles, David Cooper, escutem a palavra mais moderada de Eduardo Guimaraes (Enuncia

y

8o e Hist6ria. Pontes, 1989:73-74):

(Enunciar e em parte pelo menos determinado

-social mente (... ).

0

enunciando se caracteriza como elemento de uma pratica social (... ) e 0 sentido se

(10)

con-figura como um conjunto de formagoes imaginarias do sujeito e seu interlocutor e do assunto de que se fala). Veremos que 0 discurso louco tende perigosamente a

rejeigao violenta da determiriagao social, e talvez da relagao comunicativa e comunitaria pressuposta por Guimaraes. Do ponto de vista da linguagem como instituigao,0 sujeito recebe

a sua lingua enquanto sistema pre-estabecido. ele vai empre-gar toda a sua engeniosidade para escapar (Michel Mazzola, in: Langage. Paris, Brea!. 1986:122, ibid Regis Hanrion). A co-locagao de Guimaraes e reforgada por essa outra de Michel Mazzola (Langage, 1986: 123): "Le langage Iibere les choses et les forces qui nous entourent et qui nous meuvent"1 a lingua-gem nos ajuda a identificar as coisas e entrar em relagao dinamica com elas , e com a totalidade simbolica que Levi-Strauss designa pela expressao "lei da cultura" (conflitos Inti-mos, regras do matrimonio, relagoes ecinomicas, teorias este-ticas, associagoes cientlficas, dogmas da religiao, enfim tra-digoes). Contrariamente as expectativas dos lingUistas e dos antropologos, 0 discurso louco quer pular f<;>rada Iinguagem e

do enquadramento socio-cultural. Estes sac percebidos como mutiladores e alienantes.

Como dissemos, no primeiro plano dos defensores por vezes romanticos da loucura, se destaca David Cooper (2986), ex- e anti-psiquiatra. Como Plaza e Menahem, ele distingue dois tipos de loucura, a loucura-paixao e a loucura-patologica2•

Ele proprio experimentou uma forma de viv€mcia "borderline", que 0 levou a conferir uma certa legitimidade a loucura-paixao

como em estado-Iimite, dotado de positividade e de criativida-de. Em nome do direito a paixao e ao ultrapassamento, ele po-lemiza as estruturas sociais e os discursos que a sustentam, inclusive 0 discurso medico. Gerard Mechoulam (De la

psy-chanalyse

a

la cosmo-analyse. Ireca, Delachaux et Niestle.

1987) e urn estudioso que propoe uma tese semelhante a de

David Cooper. Segundo ele, tanto 0 mundo que nos circunda

1 - Cita~ao de Michel Mazzola, in: Langage. Breal. 1986. p. 132. Tambem Jean-Joseph Goux: Freud. Marx. Economie et Symbolique. Seui!. 1973.

2 - Michel foucault por sua parte, quase com a mesma nuance, distingue entre 0Iou co eo furioso.

(11)

quanta seus discursos (informagoes, saberes, aparelhos ideol6gicos de estado, projegoes que tomam 0 lugar da

Natu-reza, _ pois e quase impossivel ter acesso direto

a

esta _ tra-digoes ancestrais vindas do fundo do passado mais longfn-quos da humanidade, mitos, enfim uma neurose coletiva) constituem temas poluentes e aprisionadores. Uma "demar-che" cosmo-analitica faz-se necessaria para desindentificar-mos; ela consiste essencialmente na descoberta e na analise dos "processos demiurgicos em agso no universo e no ser humano" com a esperanga que, pelo desvelamento da maqui-. naria, pela lucidez e agso concreta consecutiva a essa tomada de consciencia, religaremo-nos com 0 mundo verdadeiro e

com 0 nosso ego autentico. 0 resultado final - que nso se consegue sem sofrimento - e a Jibertagso das determinagoes, opressoes, sentimento de culpa e medo, a barragem

a

entra-pia, a restauragso das "primeiras manhss" da humanidade. Projeto de urn saudosismo conquistador inegavelmente justifi-cador da empresa do discurso louco e de seu ex-centramento sistematico.

Talvez 0 leitor tenha logo percebido 0 parentesco

des-sas posigoes com as de Foucault, Deleuze-Guattari, de Casto-riadis-Aulagnier. Na frente de luta feminista, e precise acres-centar os nomes de C. Herrmann, R. lakoff, B. Thorne e N. HenleyJ. Para Cooper (1986:39) sso as instituigoes, inclusive a Iinguagem institufda, que sso alienadas e que alienam os in-divfduos. De Certeau (obra citada, p. 71,75-76) oferece subsi-diospara uma tal constestagso que, em consonancia com Ru-bem Alves (Conversas com quem gosta de ensinar. Cortez.

1986) atinge ate0funcionamento da pesquisa universitaria. De

Certeau denuncia 0 imediatismo da pesquisa cientifica, sua

prostituigso ideologica, sua subserviencia ao poderio financei-roo Mas cabe a David Cooper definir a alienagso com maior agudez. Para ele, a alienagso e uma (invasso) daquilo que consideramos como "nos mesmos" por uma formidavel exter-nalidade (une monstrueuse alterite).

Essa externalidade interiorizada corresponde aquilo que levi-Strauss chama Lei da cultura, pois ela (compreende) toda

(12)

a massa das rela<;oes humanas, das experi~ncias do micro-social ate 0 institucional e ao macro-social (Cooper, 1986:39).

Estamos perante a dialetica tragica de urn discurso-mestre co-lonizador de todos os discursos individuais, urn discurso zelo-so'de sua unicidade e originalidade. David Cooper recomenda a reconquista do espa<;operdido pelo discurso individual (e0

fazer que Ihe e concomitante), atraves de inven<;ao de expe-ri~ncias. Mais especificamente, ele aconselha uma opera<;ao saudavelmente louca: a desestrutura<;ao-reestrutura<;ao.Por este modo, conseguiremos ultrapassar a aliena<;ao.No entan-to, e preciso ter em mente 0 pre-requisito da ultrapassagem:

uma viagem iniciatica que transita por ponto zero, ponto de purifica<;ao quase mfstico, de anula<;ao do espfrito, de ree-merg~ncia e sobressali~ncia do corpo. Acompanha essa des-normaliza<;ao,uma angustia perpas~ada de uma profunda sa-tisfa<;ao Intima. Cooper chama Uniio paradoxal 0 sentimento

amblguo (alegria extatica) e de "desespero total" pelo qual passa0candidato

a

desaliena<;ao.

A desaliena<;ao discursiv~ e comportamental tern um-pre<;oalto: a loucura individual. E necessario saber administra-la. Ela nao pode degenerar em "loucura social vislvel" (Coo-per:40), sem comprometer 0 processo de muta<;aoqualitativa.

Nenhum elemento do paradoxo (~xtase/desespero) deve triun-far, eliminando 0 outro. Isso acarreta0desastre do ~xtase pu-ramente ou da dor que mata. Urn ou outro resultado transfor-ma a loucura-paixao em loucura-patoI6gica, 0discurso poetico

em esquizografia4, as grandes cria<;oes(Cooper:41) em

esteri-Iidade.

E

evidente que David Cooper tern urn pendor mfstico e se posiociona radicalmente contra 0 Poder estabelecido e 0 discurso que 0 fortalece. Mais moderada e a posi<;ao de De Certeau que nao ca( na equa<;ao simpl6ria: Loucura = Criati-vismo

=

Poesia.Quanto

a

posi<;aodos IingUistas, se ela pode passar por mais judiciosa, talvez seja tambem demasiadamen-te caudemasiadamen-telosa. Ruth Menahem nos dira0 por qu~.

Com certas ressalvas, a "revolu<;ao permanente" preco-nizada por David Cooper em n6s e a redor nosse redor via a 4 - Ver mais adiante a resenha do estudo: "La schizographie ou I'ecriture indocile" por

(13)

loucura-paixao e a poesia e estimulante. Ela pode contribuira melhoria da linguagem estetica, ao progresso do indivfduo, ao dinamismo das formagoes sociais; ela

e

suscetfvel de fomentar o sentimento da responsabilidade, a margem de uma normali-dade, redutora, de segurangas estereis,da reprodugao do ba-nal. E saudavel a tomada de consci€mcia que Cooper propoe, quando diz (p. 27):

"Nossa loucura esta conosco todo 0 tempo, apesar dO fate que a loucura daqueles que sac totalmente normais tem-se sUiqidado para deixar apenas vestfgios estatfsti-cos (... ); As vezes, nossa loucura se torna visfvel para nos, e entao nos transformamos. As vezes, ela se torna socialmente visfvel e corre entao 0 risco de ser

assassi-nada".

Vem.ainda um conselho que ninguem pode recusar sem nagar a sua dignidade, a autonomia de seu ser, ea sua criati-vidade:

"Cada um de nos a nosso modo, necessitamos viver nossa propria loucura (-paixao); nao he caminho anteci-padamente tragado. Que cada um de n6s assuma a seu pr6prio caminho; cabe a nossa responsabilidade tomar cuidado para que ninguem se apodere de nossa res-ponsabilidade" (p. 27).

Sigamos0conselho. Ele vale ouro.

DESCRI~AOFENOMENOL6GICA

Na perspectiva de Foucault, a loucura e como a escrita segundo Derrida, como 0 Insconsciente segundo Freud: ela

nao tem essancia. Ela e produto de um discurso (clfnico em especial) que Ihe confere sentido (L. Guirlinger, in: Langage.

Breal. 1986:212-228).

No &mbito de nosso estudo ela e antes um discurso coagido pelo discurso do Dutro. Sao numerosos os autores que tentaram delinear 0 discurso e 0 comportamento louco

(Cooper, Thevoz... ); as melhores descrigoes vam incontesta-velmente de ficcionistas, como por exemplo Maupassant, Vir-ginia Woolf, Patrfcia Highsmith, Marguerite Duras, Hilda Hilst, Osman Lins, Maximiano Campos... Por ter percebido isso no .que diz respeito aos quatro primeiros escritos mencionados,

(14)

Monique Plaza (1986) realizou uma excelente e convincente descri9ao nao-ficcional do fenomeno. Os capftulos do seu Iivro consideram alternadamente, e com uma certa redundancia que assumimos ao lade dela: as exigencias esteticas e Iingufsticas do escritor, 0 fenomeno "Ioucura" e seu universo, 0 funciona-mento interdiscursivo do Mesmo e do Dutro, 0 leitor e suas ati-tudes dentro dessa sfntese, esporadicamente inseriremos a nossa visao pessoal e a de varios outros.

Monique Plaza (1986:70-71) detecta e descreve uma in-clina980 inconsciente do escritor que vai sevir de sustentaculo a tudo que poderiamos apontar como sendo a loucura no tex-to: 0 desejo de ir aquem da linguagem, de ir aquem do quadro simb6lico desenhado pela Ifngua-mae, para 0 "Iugar de um espesso silencio" onde irrompem gritos vindo de um indeter-minado alhures. Implicitamente, a estudiosa refere-se ao pre-reflexivo, ao ante-16gico, pre-simb6lico da fenomenologia hes-serliana e do sistema lacaniano, tambem ao re-mergulhar (me-taf6rico) no corpo da mae. De modo explfcito, Monique Plaza fala de "queda fora da Iinguagem", 0 que envolveria uma defi-ni9ao heideggeriana e derrideana da escrita (poetica) enquan-to vestfgio ("trace") do inexprimfvel. Numa trilha tao ambfgua, surgira provavelmente mais uma outra: 0 ate de escrever como gesto suicidae repleto de arrependimento; a inscri980 e con-temporanea de sua nega9ao, porque altamente constante da imposi9ao dos c6digos; dai um inconsciente e constante dese-jo de rasura simb6lica, a tenta9ao de recuar ao momento ori-ginario, pre-lingUistico. Michel Thevoz (1986) afirma algo que ratificaria mais David Cooper que Monique Plaza: seu oposto ao oral, 0 escrito tem historicamente praticado um recalcamen-to da pulsao, uma violencia sobre 0 corpo, a voz, 0 gesrecalcamen-to. Mas Plaza, de acordo com Thevoz e Michel Mazzola (citado no item III), reconhece que embora mutiladora, a escrita e hoje um in-contornavel meio de a9ao artfstica e politica; uma excelente forma98o de compromisso nos trabalhos de Vfrginia Wollf, de Maguerite Duras, de Patricia Highsmith (0 Dlario de Edith). Com efeito, a pesquisa ficcional dessas autoras recupera par-cialmente 0 corpo na escrita atraves do jogo dos significantes, do embate do semantismo e do silenci05• Os efeitos de

(15)

loucu-ra, como os efeitos de inconsciente .surgem nos interstfcios abertos pelos gritos: gritos de ~xtase e de desespero (segun-do Cooper), gritos de (segun-dor e de desamparo (segun(segun-do M. Plaza). resulta assim uma estranha propensao da escrita da loucura,0

concreto, 0 ritmo fisiol6gico, 0 enfavel da corporeidade e do

puro sentir. 0 "id" grita no texto louco (Plaza:71).

Heidegger ja precedeu Cooper e Plaza na explicac;aodo ~xtase e/ou da angustia, concomitantes segundo ele, do gesto poetico de H IderlinB•A fratura (Ie bris), a transgressao da fala

poetica, portanto sua inerente intensidade e ruptura, e talvez0

sinal do imperio da dor. Para Monique Plaza, essa dor resulta da sensac;ao de uma pressao esmagadora das Instituic;oes. Plaza enfatiza em termos espac;os-temporais 0 que Cooper

exprime talvez predominantemente em termos politicos. A "monstruosa externaidade" do anti-psiquiatra, se chama aqui pletora, uma superabund&ncia circundante. A ascrita de ficc;ao, mediante os personagens, mostra essa pletora em ac;ao,assediando todas as formas de percepc;ao sensivel e in-telectual. A consequ~ncia e um desabar das resist~ncias. Pois no estado presente da cultura,

a

pletora institucional (sub to-das as formas discursivas e nao discursivas), nenhum indlvl-duo, por rebelde que seja, resiste. Nobens volens, 0

desaba-mento sempre 0 aspera. Tods tentativa prometeica sera

venci-da. A poesia, a ,invenc;aotern que fazer algumas concessoes, respeitar urn minimo de regras, de astetica em rigor, de proto-cola de comunicac;ao.

A dialetica Individuo

x

Instituic;ao se reveza com outros pa~s concorrentes como Verdade (respeitada) x Arbitrarieda-de (imposta), Senso Arbitrarieda-de limite x Onipot~ncja, VirtualidaArbitrarieda-de (sub-jetiva)

x

Objetivac;ao (redutora), Desvio x Normatividade, atopia x Ancoragem referencial (convenc;oes),0 Sentir

I

0 Pensar / 0

Concreto x 0Abstrato, a Exig~ncia etica x Amadorismo,

Conta-to com as coisas x Aus~ncia de contaConta-to, Convicc;ao, do Mes-mo x Desacreditac;ao do Outro, Visao x Cegueira, Desejo de mudanc;a x Imobilismo, Vontade de Iibertac;ao x Vontade de enclausuramento enfim Loucura x Razao.

6 - Ler a resenha respectiva que dao de Heidegger leitor de H Iderlin: J. Garelli, La Gravitation Poetlque. Mercure de France, 1966; R. Heyndels. La Pensee Frag-memt6e. P.Mlldftr9ll, 1987.

(16)

Porem, uma observagao atenta indica uma certa rever-sibilidade da posigao, por efeito de bumerangue. Nem todos os conceitos estao em relagao de contrariedade forte, nem to-dos os pares remetem ao mesmo fundamento. Mas a urns condigao: passada uma certa fronteira, louco e nao louco tro-earn sem·0 saber os seus atributos como ja assinalamos.

Mesmo assim essa Iista constitui urn instrumento der analise viavel.

Voltamos novamente a algumas das analises que sus-tenta essa Iista de categorias, que alias se depreendem, como dissemos, do empreendimento dos ficcionistas. Monique Plaza (1986:77) identifica, como vindo do Alhures a qual referimos acima, certas formas e significagao geradoras de conflitos:

falsas evidencias sobre (0que eu sou e0 que 0outro e,

sobre 0 que diferencia a Vida da Morte, sobre 0 que

di-ferencia meu desejo, minha lingua da lingua e do desejo do Outro, sobre 0fundamento da identidade sexual,

so-bre a sexualidade, soso-bre a raiz da verdade ... )

Percebemos que a loucura e suscetivel de invadir0

dis-curso, quando conteudos metaffsicos sao brutalmente admi-nistrados por parametros sociol6gicos e politicos; 0 individuo

des-territorializado, se ve empurrado para a neurose ou para a psicose.

a

que acontece na vida empirica e encenado e estili-zadoIna vida ficcional conforme a lei do simulacro. 0 rnais

fa-moso caso de luta empirica contra a posse do Eu pelo para-digma do Dutro atraves da lingua materna e 0do

"esquizofre-nico" americano Louis Wolfson. Wolfson publicou diretamente em frances Le schizo et les langues (com prefacio de Gilles Deleuze). Nesse Iivro,0leitor assiste a uma luta epica contra a

"apropriagao do corpo, dos sentidos, das fungoes, do espirito . . . pelo Dutro" (M. Plaza, 1986:81). A pletora muda de campo. Ela passa do imperio das Instituigoes e d~ Representagao por ela fabricada, para a mente de Wolfson. E a realidade cotidia-na,0 "mundo" de fora, a lingua inglesa que os codificsm que desabam. A onipotencia tambem muda de posigao. Ela se ins-tala no c6digo de francisagao forjado pelo esquizofrenico. Este reestrutura soberanarnente os objetos de discurso metamorfo-seando-os, remoldando-os conforme a visao-do-dentro, im-pondo significagoes divergentes das da comunidade. Essa in-versao de polo, corresponde de fate ao surgimento de uma

(17)

nova megalomania ou onipot~ncia. Sob seus aspectos por ve-zes franciscanos, 0 sujeito do neo-discurso nem sernpre inte-Iigfvel (porque procedendo de uma outra 16gica),aspira a uma ditadura dos significados. . . Se essa ditadura conseguir se impor, nascera urn novo regime semantico, estetico, ideol6gi-co, cientffico. . . urn genio ou urn louco.

0

destino desse ci-dadao depende da aceitac;ao ou da rejeic;ao macic;a dos "de-cideurs" (encarregados de decisoes) da sociedade. Pois,e 0 discurso social atraves de seus delegados, que fabrica a lou-cura (ou a genialidade).

No quadro de analise de Monique Plaza, qual atitude e sugerida ao leitor?

Ja temos acima urn esboc;o de resposta _ aceitac;ao ou rejeic;aoa nfvel da comunidade. Englobando uma comunidade amorta, 0 indivfduo tende a consagrar a genialidade e ostraci-zar loucura sem se questionar sobre a raiz de sua atitude. The-. voz, Menahen, Cooper, Plaza sac unanimes ao solicitar maior compreensao face 0 discurso louco, maior severidade face 0 discurso medico e psicanalftico.

Os fenomen610gos aconselham, em materia de texto so-cial e de texto Iiterario, a apropria~io, porque sempre existe a possibilidade de tirar uma IigBOou urn ensinamento dos fatos empfricos ou imaginarios. Monique Plaza(1986:91-97) retoma o probl~ma em termos de univocidade (do lade da rejeigBo) de espac;o potencial e de espa~o potencial e de virtualidade (ao lado da aceitabilidade).

A atitude intransigente perante 0 discurso louco e julga-da "barbara", por reversibilijulga-dade.

0

discurso do poder e pro-penso a tratar de barbaro, louco tudo que e contrario aos seus designios. As formac;oes sociais, 0 indivlduo, imitam aquele discurso enviezado (quem nao esta comigo esta contra mim).

o

discurso louco por sua des-representac;ao, questiona nos-sas falnos-sas seguranc;as e nosnos-sas ambic;oes. Por isso, precisa-mos ficar alertas as duvidas que ele traz a tona. Sejaprecisa-mos pres-tes a nos instalar sobre a alavanca do (espago potencial) que ele abra, em direC;Bode uma ultrapassagem. 0 leitor ideal de Monique Plaza(1986:94-161) se recolhe no espa~o·tempo·pa· radoxaP - uma "zona intermediaria" (94), (une zone de parta-ge) (161) comuns aos investimentos psfquicos (reais

I

pOSSI-veis) do Autor e do Leitor, da Realidade fatual e do Imaginario.

(18)

No domfnio do (infinitamente possfvel) do espa~o-tempo P$-radoxal, 0 leitor id6neo negocia a conciliagao de suas

"phan-tasias", de seus "sonhos" e de sua obediencia a "Lei da Cultu-ra" .

Um dos beneffcios da "ficgao louca" e que nela a atitu-de do leitor/ouvinte e prescrita pelo pr6prio narrador. Este cria urna (ordem do virtual) (Plana 96-97). Quando a loucura e pa-tol6gica, a virtualidade discursiva impossibilita a matafora: 0

enunciado tende a sentido literal e objetal e, as vezes impossi-vel; quando nao patol6gico, 0 funcionamento discursivo,

pro-move "hipoteses te6ricas", conversoes de valores, propostas de neo-realidade, 0 impensado. Em suma e necessario voltar

para a nogao de ambigOidade apresentada no infcio desse item. 0 impensavel se mistura ao impensado na loucura. 0 lei-tor/auditor inapto a separa-Io, dificilmente tirara proveito de seu encontro com ela. Pois, em vez de uma possitividade criativa,0

que ecoara nao e a negatividade da perda, da depressao, da destreza, da vacuidade, da alucinagao, do egocentrismo, enfim a agressao de um mundo desertico ou repleto de objetos con-tundentes,a morte violenta (Plaza 101-104).

Tal e a descrigao psicol6gica, e tambem epistemol6gica, da experiencia louea (Cooper, supra, Plaza: 106). Digamos epistemol6gica porque mesmo patol6gica e portanto repelen-te, a loucura ficcional proporciona requestionamento das cer-tezas e compreensao mais profunda da "normalidade". Esse saito fora do "topos" da Tradigao e da Convencionalidade e o at6pico. Neste sentido, a loucura nos coloca a caminho da libertagao de um potencial inesperado por significagoes parasi-tas, sub-desenvolvido sob 0 imperio da totalidade simb6lica,

cloroformado pelos estere6tipos (Plaza: 162, 169).

E preciso assumir uma loucura mfnima para descentrar a perspectiva, Iimpar 0 olhar, sair da insensatez mudana, da

prisao das crengas, quebrar certos grilhoes, testar a fragilidade de nossas referencias exiol6gicas, enfrentar um pouco de inin-teligibilidade salutar, enxergar a si pr6prio, viver sabia e

plena-7 - A noqao de espaqo potencial de D. Winnicott (Jogo e Realldade. 0 espaqo p0-tencial, 1975) e utilizada por Monique Plaza,ao lado da noqao freudiana de "reali-dade ficctlcia", para chegar ao conceito de espaqo-tempo paradoxal. A mesma noqao e utilizada tambem quase na mesma 6tica por Jean Bessiere (Th80rle Utte-ralre,1989) e por Danon-Boileau (Le aUJetde l'econelatlon.1987).

(19)

mente (Plaza: 179,202-203). No Ambito mais estreito da aqui-siga.o do conhecimento, Gerard Klein (Psychanalyse de la Science-Fiction, Dunod. 1986:83) ratifica nossas sugestoes e as observagoes de Monique Plaza quando resaltou a necessi-dade de burlar 0 c6digo de inteligibilidade legitimada pela

ra-cionalidade moderna:

o

progresso do conhecimento, da cultura e da ciencia, . nao corresponde a uma descrigao cada vez mais fina do real, mas a urn desenvolvimento de Intersubjetividade, a urn intercAmbio cada vez mais exigente de experiencias -ou de "epr-ouves"/do sentir - cada vez mais numerosas. Tais experiencias sao ricamente colocadas ao nosso al-cance na ficgao louca. Os itens seguintes oferecern pistas de analise no plano de enunciagao e das categorias gramaticais. QUADRO DE ANALISE

Na sua tentativa de descrever 0 discurso louco, a

maio-ria dos autores ate agora citados identificam elementos IingOfs-ticos e ret6ricos capazes de guiar uma leitura competente.

Se-guiremos aqui de modo muito Iigeiro Andre Roch Lecours e colaboradores para 0reconhecimento dos elementos IingOfsti-cos, Danon-Boileau e Ruth Menahem para 0 reconhecimento

dos procedimentos ret6ricos que aqui dizem respeito princi-palmente

a

relagao enunciativa.

A: -

0

modelo IingOfstico, neuro-lingUfstico especifica-mente, insiste em neologismo, disortografias, alogicidades, anomalias semAnticas, justapo~igoes ou regencias indevidas de categorias gramaticais... uma diversidade de tragos que se observam tambem na expressao poetica. Fato que levou Coo-per, Danon - Boileau, M. Plana, R. Menahem a aproximarem

poesia e loucura. .

Passamos por cima das anomalias ortograficas sem·al-cance estetico. Quem quiser se documentar a respeito pode se reportar

a

bibliografia da e nota8•N6s nos interessamos

pe-las distQrgoes intencionais, as que0texto literario langa

osten-8 - M. Th6voz. Ecrlts brllls. Paris, P.U.F. 1979.

(20)

sivamente na conta da loucura mas mobiliza consciente e in-conscientemente contra a instituiQ80 Iiteraria, ou tal ideologia estetica vigente.

Chamaremos a atenQ80,de prefer~ncia, sobre a sintaxe. Ha no texto Iiterario louco alteraQoes as normas sintati-cas. Esses desvios t~m valor funcional: sugerir ao leitor a ins-criQ80 de perturbaQoes afetivas, de intensidade das paixoes; representar 0 desabamento mental (ilia debacle", diz Monique Plaza).

0

texto aparece ent80 costurado de "morfemas", sin-tagmas entrando em relaQoes singulares, fazendo explodir sintaticos e ortograficos, a ordem 16gica, a pontuaQ80. . ." (Plaza:67), de modo a atrapalhar a compreens80, a produzir 0 famoso umheimliche freudiano (Plaza:68). Isso se traduz as vezes por iteraQoes incansaveis, redundAncias chocantes, su-per-abundAncia de par~nteses e de pontos de suspens80 (in-versamente por pontuaQoes excessivamente minuciosas, uma estranha disposiQ80 tipografica); por junQ80 indevida de pala-vra autOnomas, ou disjunQ80 de palapala-vras ou de snabas habi-tualmente Iigadas, por discontinuidades pruscas, silepses e substituic;ao repentina do pronome esperado. Estamos no meio da "linguagem fundamental" do paciente de Freud cha-made Svhreber, da "I1ngua total (... ) para alem de toda Iinguistica (... ) inscrita no vazio de todas asilnguas ... " com que sonhava Philippe Sollers (Barthes, citado por M. Plaza, 1986:70).

Andre Roch Lecours, Michelle Navet, Ginette Lavallee-Huyinh apresentam um modelq ,neutro-lingOfstico (La schizo-graphle ou I'ecrlture indocile, Etudes FranQaises, 18/1, Prin-temps, Montreal. 1982:61-91) que sistematiza a pratica que com as mesmas rubricas de Monique Plaza, na Iiteratura poe-tica e ficcional de Raoul Duguay, Claude Gauvreau, Marc Fa-vreau, Louis Frechette, Rimbaud. . . Alem das categorias gra-maticais acima assinaladas, merecem ser mencionadas as se-guintes:

(21)

A partir de uma base formal semelhante, duas palavras sao trocadas, como para brincar:

vontade _<- verdade b) Glossomania formal:

E

uma combinac;ao de quase todos os sintomas verbais precedentes _ onde 0 significado

e

sobrepujado pela sequ&n-cia de significantes. Exemplos aparentados na "normalidade" sac certos jogos de palavras, certas canc;oes infantis quando as crianc;as brincam de roda e outros fen6menos Iinguageiros para os quais nao serve nenhum recurso ao dicione.rio.

No entanto, 0 fen6meno metaple.stico envolvido

e

alta-mente significativo. c) Glossografia:

Procedimento de signos mais radical que a glossomania

formal. Aqui sac quase todos os componerntes do segmento

que sac neol6gicos. d) Glossolalia:

"Nome da glossografia no plano oral". Sylvain Auroux

(Le Langage, p. 146) a define assim: (A glossolalia consiste em falar numa lingua que nao existe, em dizer sons consecuti-vos, como numa verdadeira conversac;ao, sem que esses sons sejam palavras de lingua alguma). (trad. nossa).

e) Dis-sintaxia:

Ela surge onde he. transgressao das regras convencio-nais de morfosintaxe. Danon-Boileau assinala como exemplo 0

anacoluto que, no discurso onfrico, quebra a coer&ncia dos enunciados, apaga os elos e conectores, r6i 0 fio do

enuncia-do. Observem os dois exemplos seguintes:

o

bichinho come desde a florzinha (nosso)

(Um exugar a louc;a

e

uma mulher muito grande) (Roch Lecours e col.).

(22)

Aquele que nao se submete nas suas sequencias, para-grafos

a

16gica da naocontradic;ao e todos os fenomenos -precedentes, particularmente a dis-sintaxia, convergem para-a incoerencipara-a. Mpara-as tpara-anto os pesquispara-adores de Montrepara-al quanta Guimaraes/Ducrot (1089:16-17,73-74) deixam a enten-der que sempre subsiste uma luzinha de coerencia quando se avidencia (uma intenc;ao de comunicar). Portanto, a r~lac;ao enunciativa e que decide, afinal, se ha ou nao mensagem.

Cabe a Danon-Boileau e principalmente a Ruth Menahen nos mostrar esse aspecto enunciativo do discurso na sua re-lac;aocom a loucurae.

B. 0 ponto de vista enunciativo

Como ja tivemos a oportunidade de afirmar, tanto a tex-tua!izac;ao da loucura como a leitura da ficc;ao louca requer uma atenQao especial

a

rela<;ao enunciativa. Quem olha 0

sumario do livro de Danc~n-Boileau,Le sujet de I'enonciation (Paris, Ophrys, 1987) se convence logo da importAncia e da abrangencia que ele confere a esse assunto. A enuncia<;aona 6tica desse Iinguista (que

e

ao mesmo tempo psicanalista) diz respeito entre outros a urn Logos todo poderoso na teoria do signo mais divulgado,ao uso da Iinguagem, ao estilo, a di-mensae dial6gica, a "denegac;ao freudiana", a gramatica da neurose, as rela<;6esentre trabalhos do sonho e figuras poeti-cas. Notamos que essas figuras poeticas sac essencial-mente reduzidas em Jakobson e na Ret6rica Geral do grupo de Liege

a

metafora e

a

metonfmia. Contudo, a analogia tecida por Danon-Boileau entre essa ret6rica mfnima e os mecanis-mos do sonho (em Freud e Lecan) e mais rica do que 0

sim-ples esboc;o de D. Cooper ou as indica<;6es abstratas de R. Menahan. Uma aproximac;ao poesialsonho se observa no Iivro de Patrick Mahony recentemente traduzid6 (Psicanalise e Dis-curso. 1990:73-99). 0 estudioso canadense se mostra um ten-to reticente diante de tudo que ultrapassa a,simples presen<;a das ~ssocia<;6es !ivres no discurso onfrio e no texto

poeti-9 - Falta nos modelos apresentados a releqiio ao8116"clo. Entre numerosas refer6n-clas, citamos: En! Orlandi (In: Gulmariies. 1989:40), Van den Heuvel (1985),8a-Jomee at Heyndels(1985), P. Mahony(1990:44-45), E. Detape(1986). Esses names figuram em nossa bibliografia.

(23)

co.

E

preciso 0 leitor ir

a

fonte que indicamos a respeito de

Danon-Boileau. No momento, retenhamos 0 seguinte.

Danon-Boileau pensa que a superffcie do enunciado louco rarmente e uniforme, Iiso. Seus indicadores, como fenomeno, sac urn jogo dialetico permanente de descontinuidade

I

continuidade, de fluidez

I

fragmentagao, de concentragao

I

dispersao. Essa ins-tabilidade e inconst~ncia podem bem coincidir com uma din~-mica _psfquica de burla da censura. Reencontramos aqui algo parecido como aquilo que os estudiosos de Montreal chamam "discurso antonfmico", e que Michel Thevoz (1986:105-110) considera uma "polemizagao do discurso normal".

No trabalho - que nao cabe ser convenientemente apre-sentado qui - Danon-Boileau se debruga sobre sequ~ncias de enunciados onde e possfvel evidenciar urn certo parentesco entre processos psfquicos e (operagoes lingufsticas)lO;ele des-faz os lagos entre (conteudos de representagao) e aquil;o que representa essa representagao (Danon-Boileau:120); ele situa as sua,s consideragoes na perspectiva dos "processos prima-rios". E uma empresa de grande promessa te6rica-pratica, que Michel Thevoz (1986:98) fortalecequando escreve: (os pro-ceSsos primarios) (agravam 0 arbitrario do signo,

desapro-priam as palavras, fazem tomar as frases sobere si mesmas, enlouquecendo-as) e tambem desregram, desregulam a sinta-- xe ou·significac;oes subjacentes (Thevoz. 1986:98,107).

0

leitor tern que ter em mente que tanto Danon-Boileau quanta Thevoz nao separam a sintaxe da ret6rica, que para eles falar de uma a falar da outra. Nessa6Uca as proposig6es deles sac amilo-gas. As de Marcelle Marini (Territoires du faminin. Seuil, 1983). Numa citagao de Thavoz (p. 53), Marcelle Marini afirma que 0 texto literario, a escrita louca de Marguerite Duras em particular, a feito "de mil deslizes das posigoes enunciativas modulando desejos multiplos e instaveis".

E:

por essas razoes que, repetidamente, atribufmos

a

enunciagao de textos louco 0 carater de uma relagao interlo-cut6ria paradoxal, atfpica, uma relagao de desencontro com as leis do discurso. Cabe a Ruth Menahen trazer, talvez, urn su-plemento de argumento alicergado na "psico-ret6rica".

10· Essas "Operac;oes", ele as toma de empr6stimo a Antoine Culioli, que Ruth Mena-hen tambem tem em grande apreqo (ver Langage et Folie. 1988:229).

(24)

Que e, em poucas palavras, 0 lugar, a novidade e 0 aproveitamento eventual da Psico-ret6rica? Diz a proponente (p.232):

"a ~nfase posta no p610 ret6rica aponta para uma aber-tura em diregao dos aspectos expresslvos negligencia-dos pela lingufstica".

Depois de uma longa queixa contra uma lingufstica emasculadora, Menahen afirma a necessidade de uma nova ordem, de uma nova figuragao do Inconsciente. Ela se pergun-ta (incansavelmente): "qual e 0 ponto de encontro da loucura de ret6rica e da ret6rica da loucura?" (235)". Falar em ponto. de encontro e falar em derrubada de diques psiquic~tricosque. bloqueiam 0 afeto, nao de uma remogao total, pois esta e que faz cair na loucura patol6gica. A psico-ret6rica aspira apenas a expressao controlada do "non-sense", do ambfguo, da vida pulsional. Sua originalidade

ja

pertence

a

teoria da poesia no romantismo alemao (H Iderlin, Novalis, os irmaos Schlege). Mas depois da hegemonia IingUfstica no seculo, foi preciso re-patentear (a loucura veiculada pela Iinguagem) (236) e fazer reconhecer publicamente a Iigagao estreita entre Iinguagem e loucura. Na sua proposta, a autora Iimita-se a declaragoes evasivas concernindo 0 funcionamento dessa psico-ret6rica. Mas e evidente que esse funcionamento obedece a uma 16gica peculiar. R. Menahen preconiza 0 estudo estilfstico sob 0 a.n-gulo da forga de expressao, pelo discernimento de marcadores enunciativos variegados inscritos no texto. em vez de fatos es-pecificos a serem procurados pelo Leitor, ela prefere a adesao a uma hip6tese de urn Inconsciente sempre atuante. Porque dificilmente a analise aut~ntica sera

regiqa

por normas, regras, procedimentos e esquemas pre-determinados'2. A 16gica da ~ sua pesquisa tern muita afinidade com a nossa Scripto-analise (pesquisa ainda nao publicada). N6s tambem preferimos aconselhar ao leitor uma postura enunciativa m6vel, e como ret6rica a figura onipresente da Substituifi80. A ret6rica do tex-to se resume numa sUbstitufi80 generalizada de elementex-tos

11 -Econtradit6rio 0fato da autora procurar respaldo te6rico deJ.C. Milner, Chomsky. depois de ter rechaqado a LingUistica de sua proposta (p. 235).

12 - Freud tentou essa forma de interpretaqB.o na analise dos !!lonhoe, eeguindo Serge Viderman (Nouvelle Revue Francalse de Psychanalyse, n!! 5, 1972, 1~ parte do artigo Comma en um miroir, obscurement). \

(25)

das micro ate as macro-unidades. Essa nog80 de substituc;ao acabou de ser a previlegiada por Mario A. Perrini na sua Sinta-xe Portuguesa: Metodologia e Func;6es (Atica, 1989:4043).

Mas cedemos a ultima palavra a Ruth Menahen(237-239):

(As figuras da psico-ret6rica sso forgas e nso formas, elas nso est80 na dependencia de urn c6digo, mas da interferencia entre varios sintomas (... ). A psico-ret6rica se situa a essa confluente do inominavel e do oprimido (... ) participando de urn e do outro, da loucura e da Iin-guagem).

Por conseguinte, s6 pode ter psico-retoricamente quem se coloca numa postura de interprete-questionador, quem e cumplice da saudavel utopia da desordem redentora de nosso caos maquiado em ordem13.

Os itens que acabamos de apresentar constituem a gra-,de de analise que pretendemos utilizar para uma

detidainves-tigag80 em obras Iiterarias. A delicadeza da tarefa e evidente. Pois como 0 indicou a psico-ret6rica os instrumentos que pa-recem mais tecnicos e tambem aqueles que se avultam os ris-cos de passar ao lado do essencial. Os analistas ja sabem que nada pode tomar 0 lugar do refinamento de uma escuta

flu-tuante. De sorte que 0 discurso do imaginario, como material

privilegiado introduz aos arcanos da loucura s6 quem conquis-ta 0sexto sentido que os arabes denominaram "firasa"14.

13 • Sobre essa Ordem do Mundo em relaqao a qual 0louco escolhe 0exllio, e sobre a problematica desse exllio. e Util consultar Gerard Mechoulam (op. cit., II: La N6-vrose Collective, espec. p. 67-68, 80-100,110-113,134-144).

14-

ct.

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(29)

A PRESEN~A DA REPETI~AO NA FALA

E ALGUMAS PERSPECTIVAS DE TRATAMENTO

*

1. A PresenCiada RepetiCiao na Fala

Num dos seus conhecidos trabalhos sobre a relaQaoen-tre fala e escrita, W. Ong (1987) distingue enrelaQaoen-tre culturas prima-riamente orais e secundaprima-riamente orais. No primeiro grupo situam-se os povos sem escrita e no segundo os indivfduos em culturas com escrita. A expressao "secundariamente" lem-bra que todas as culturas, mesmo as que fazem intense uso da escrita, continuam servindo-se da oralidade de uma forma decisiva. Ao caracterizar os traQos basicos da oralidadel' Ong distingue dois modelos:

(a) modelos mnemonicos: repetiQao, ritmo, antftese, aliteraQao, epftetos, as-sonAncias etc,

(b) model os formulaicos: f6rmulas consagradas, ada-gios, proverbios, ordenaQao tematica etc.

Observa-se que ambos t~m a ver com estrategias de re-petiQao, apesar de Ong nso estar caracterizando os tipos de repetiQao, mas sim os traQos da oralidade. Por isso mesmo e interessante0 fate de, sem citar Ong, e analisando

especifica-mente as repetic;6es,Tannen (1989:17) chegar a uma posiQao semelhante ao distinguir dois grupos de estrategias de envol-vimento baseadas na repetiQso:

(a) estrategias baseadas no som: padroes baseados no ritmo e padroes baseados na reite-raQao.

(b) estrategias baseadas no significado: indiretude, elipse, tro-pos, ima-gens etc. Isto torna a repetiQao uma estrategia central da oralida-de, identificando-a como de natureza formulaica. Partindo de

(30)

estudos feitos por Hymes, Becker e Bolinger, Tannen (1989-37) conclui que "a lingua e menos livre mente gerada, mais pre-pa-dronizada do que a maioria das atuais teorias IingQfsticas re-conhecem". Por outro lado, a repetigao constituiria 0fio con-dutor da interagao ao propiciar 0envolvimento dos falantes em seus neg6cios interacionais.

Diante disto pode-se admitir que a repetic;ao e, ao lado da hesitac;ao, COi'rec;ao, parBfrase e marcadores conversa-clonais, uma das caracterfsticas da construgao textual na fala,

embora constitua urn capftulo bastante discriminado pelas

gramaticas normativas, sobretudo na forma lexical.

A ret6rica soube discernir uma grande quantidade de

formas de repetigao definindo-as em sues estruturas e

reali-zagoes tfpicas, tais como anadisplose, sfmploce, diacope,

epanastrofe, epanalepse, epAnodo, epffora, palinlogia, alite-ragao, paralelismo, anafora, e muitas outras, geralmente vistas em contextos literarios e eruditamente classificadas como figu-ras de Iinguagem. A este respeito lembro o· Diclonario de

FI-guras de Unguagem de

S.

Cherubim (1989), que registra 32

figuras de Iinguagem baseadas em algum tipo de reiteragao, 0

que significa. 30% de todos os 102 termos registrados no pe-queno dicionario. 0 autor subdivide essas figuras em dois blo-cos: (a) figuras de harmonia, baseadas sobretudo no som (tais como a aliterac,tao, assonAncia, eco e onomatopeia) e (b) figu-ras de repetigao (tais como as citadas acima). Esta observagao

nao deixa de ser notavel e a constatagao se reconfirma ao

abrirmos qualquer dicionario de ret6rica ou estilfstica.

o

mais notavel, porem, e que todos estes tipos

reali-zam-se com a mesma estrutura e recursos similares na fala

espontAnea do dia a dia. Tome-se 0 caso de pomposa

deno-minagao epanalePSe que nao e mais do que urn elemento

produzido no infcio e final de oragao, como na produQ8o en-contrada nonosso dia a dia:

'1a

lavei a seu carro

ja".

Do

mes-mo mes-modo aepanastrofe e uma figura comum na fala, a que

chamamos de quiasma slntatlco como· "uma boa atendente

I

uma atendente boa". Contudo, a diferenga e crucial, pois em

contextos de planejamento IingQfstico pouco transparente co-mo a fala,aquelas figuras ficam empanadas e a urn observador exigente dao a impressao de caos.

(31)

os estudiosos da literatura grega, especial mente .da lIIada e da Odlssela, descobriram que Homero reproduzira em sua mo-numental e genial obra uma grande parte da pr6pria tradic;ao oral. Segundo observa Ong (1987:23-36), a "questao homeri-ca" a respeito da origem da lIiada foi solucionada por Parry nomomento em que ele relacionou a poetica de Homero aos metodos da composic;ao oral. A forma do hexAmetro e ade-quada

a

repetic;ao formulaica, a principal caracteristica da fala. Foi, pois, 0 alto grau de formulaicidade da poesia de Homero

(ditos, proverbios, clich6s, repetic;6es constantes) que permitiu a afirmac;ao de que Homero fundamentalmente assentara no papel parte da tradic;ao oral popular.

Segundo acertadamente observa Ong (1987:39-40), uma cultura primariamente oral tem que desenvolver tecnicas espe-ciais para a memorizac;ao do saber e das descobertas a fim de que se transmitam. Com isso "os pensamentosdevem tomar a forma de modelos s6lidos ritmicamente equilibrados, como a repetic;ao ou anUtese, aliterac;6es 01.1 assonAncias, epitetos ou na forma de outras express6es formulaicas enfeixadss em co-lec;Oes tematlcas standartizadas, pois s6 assim qualquer um poderia reconhec6-los, memoriza-Ios e passa-Ios adiante". Es-ses condicionamentos mnem6nivos determinariam ate mesmo a pr6pria sintaxe, no dizer de Havelock (apud Ong, 1987:40).

Harweg (1986:16) frisa apropriadamente que a noc;ao de repetic;ao na lirtguagem comum do dia a dia nao tem a mesma acepc;ao que na UngOistica. Para a UngOistica de Texto por exemplo a repetic;ao e urn frn6meno situado no nivel do item le~ical e quando muito no do sintagma e mais raramente no da orac;ao. Ja no dia a dia, quando,dizemos que alguem se repete muito,· apontamos para niveis mais altos do dis.curso, ou seja, para 0nivel das ideias.

Sem aprofundar aqui ~ questao, obseivo que a maioria dos autores na area da UngOistica de Texto, ocupados prefe-rencialmente com as produc;6es na modalidade escrita, apon-tam a repetlc;ao como um dos recursos importantes para a es-truturac;ao coesiva da superffcie textual. Mas ali a repetic;ao se da com caracteristicas bem diversas do que. na fala. Na maioria dos casos sac retomadas implfcitas que garantem as relac;6es refereociais em sentenc;as sequencladas, nao sendo necessa-ria a repetic;ao do item lexical. 0 fate de uma expressao rela .. clonar indivfduos, objatos, sltuac;6es ou eventos atribui-se por

(32)

vezes ao nosso. conhecimento de mundo ou

a

estrutura geral da informa<;ao,ou entao

a

sinonfmia ou outros fatores nao es-pecfficos do sistema lingUfstico. Isto ocorre tambem na fala, mas em menor grau se consideramos que na fala as retoma-das lexicais sao mais comuns:

Com isto podemos afirmar que as repeti<;oesconstituem formula<;oestfpicas de urn planejamento IingOfsticoad hoc. Es-ta organiza<;ao local leva a que se produzam segmentos intei-ros duas vezes, seja por motivo de interrup<;oes,interfer~ncias externas ou outros. Na escrita, com a possibilidade de revisao e editora<;ao com apagamentos sucessivos, s6 se obtem a versio final, 0 que e impossfvel na fala, ja que aqui nada se apaga, de modo que a repeti<;ao passa a fazer parte do pr6-prio processo edi<;ao. Por isso mesmo B. Wackernagel..Jolles (1971 :241) considera que a repeti<;ao

e

em primeirfssima Iinha uma prova de naturalidade do texto oral. As repeti<;oese ou-tros fenOmenos como as hesita<;oese cortes que podem

bcor-rer durante a escrita vao sendo regularmente (aparados) nas sucessivas revisoes a que 0 texto vai sendo submetido no ate da formula<;ao.

Por outro lado, como 0 texto conversacional vai sendo compreendido na medida em que e produzido, a repetioao serve de suporte natural para 0 processo de compreensao. Tanto evidencia como 0 falante se compreende, quanta indica como pretende que 0 ouvinte 0 compreenda. Revela, pois, uma socializa<;80cognitiva ou uma cognlc;io social. Conside-rando-se a·caracterfstica da fala com tend~ncia ao envolvimen-to e menor compacidade que a escrita (ct. Chafe, 1979), em virtude de processamento e produ<;ao realizados no tempo real e sem possibilidade de revisao,

e

natural que 0 falante se repeita com certa freqO~ncia. Nao se trata de urn problema de acesso Iimitado ao acervo lexical disponfvel na mem6ria, mas de uma marcaQ80 rftmica do foco de aten<;aoentre outras coi-sas.

Contudo,

e

normal que no f1uxoda fala corrente nao nos demos conta da quantidade de repeti<;oesque realizamos. Isto tanto em rela<;aoao falante como ao ouvinte, de modo que a compreensao do texto oralespontAneo se da por uma estrate-gia natural de elimina<;oesou idealiza<;oesempreendidas pelo ouvinte, algo assim como uma constante atividade de copi-descagem imediata do texto oral.

(33)

Para Blanche-Benveniste (1987), a lingua falada, por se apresentar como urn borrao do texto pretendido, do qual nada se apaga, pode ser vista como urn laborat6rlo especial da slntaxe. e urn dos aspectos mais salientes dessa sintaxe, tanto da frase como do texto, a a tacnica ou 0mecanisme da

repe-tie;tao.Segundo a mesma autora (1987:124),0 borrao envolve varios fenomenos de "titubeio" ("bafouillage") tais como as hesitae;toes, os retoques, as perplexidades lexicais, os co-mentarios e outros dessa ordem, frequentes na maioria dos textos de lingua falada. Ela sustenta que tais fenomenos nao sac desprezfveis, nem devem ser eliminados da analise sintati-ca, pois nao sac aleat6rios e sim "regulados pela gramatica", ou seja, sac sintaticamente explicaveis. Por isso mesmo de-fende a tese de que urn modele sintatico adequado deveria dar conta desses fenomenos, integrando-os em suas explicae;toes. Nao obstante isso, surgem muitas questoes relevantes ainda nao de todo esclarecidas, pois temos que distinguir en-tre identidade e diferene;tade referentes a fim de saber se es-tamos diante de urn ou mais de urn complemento de urn dado verba em casos de coordenae;toescomo 0 seguinte (tomo 0 exemplo de Blanche-Benveniste 1987:126):

Je pense

a

lui, 8 lul, 8 lul.

o

verba "penser" tern, em princfplo, apenas urn com-plemento e nao varios, mas a possfvel imaginar que af nao se trata de uma identidade referencial no caso do 8 lul que ocorre tr6s vezes. Podemos supor a seguinte interpretae;tao:

Je pense 8 lul Paul, 8 lul Pierre, 8 lul Jean.

As realizae;toes concretas da lingua falada, quando contam tais Iistas nem sempre supoem identidades e isto tern conseq06ncias diretas na analise sintatica. Isto leva a autora a dizer que "eil nous semble que tout modele syntaxique qui fait atat d'un niveau abstrait d'unites syntaxiques et d'un niveau concret de raalisations aboutit au m6me genre d anlyse que cella que nous proposons" (p. 126). A proposta de Blanche-Benveniste a de que nao se deve proceder a uma Iimpeza ou idealizae;taodos dados concretos da lingua falada, sobretudo nos casos de coordenae;tao,tais como os apontados. Resumo dessa posie;tao da autora a a afirmae;taode que "Ie 'dit' et Ie 'dire' ataient moulas dans les m6mes noules syntaxiques" (p. 150), ou seja, toda a formulagao IingOfsticana fala se da ao

(34)

longo de urn eixo paradigmatico que considera a construgao sintatica em andamento como seu leito normal. Seja na coor-denagao de enunciados em Iistas, seja na busca de uma pala-vra, seja.na montagem de contrastes e oposigoes ou em·qual-quer outro contexto sintatico.

Creio de suma. importancia, pois, a decisao de nao des-cartar os fenomenos de reiteragao na fala tendo em vista que nao constituem simples reflexo de urn nao-planejamento da fala. Ja observava Labov (1972: 186-191) que 0 postulado da homogeneidade dos falantes e da lingua e pernicioso, nao passando de urn mito. A prop6sito, convem lembrar as pala-vras de Labov (1972:188) por serem urn momento de grande lucidez:

"At one time,linguists of the Bloomfieldian school asser-ted that native speakers never made mistakes. But the opposite point of view prevails today: that speech is full of ungrammatical forms since the difficulties of perfor-mance stand in the way of the full display of the

speaker-Is competence. It is generally believes that a corpus

drawn from spoken language does not form a good evi-dence, since it will contain many examples of badly for-med sentences which the speakers themselves con-demn and change when their attention is drawn to them".

Em nota de pe de pagina, Labov lembra que Chomsky (1965:58) se referia ao carater "degenerado" da lingua falada como urn argumento a mais para sua posigao inatista:

"the child must have an inborn theory of language, since he could not induce rules from the ungrammatical spee-ch with whispee-ch he is surrounded".

Em contraposigao, Labov (p. 203) sustentava que a fala nao e tao agramatical como se poderia concluir·a partir da ob-servag80 superficial da conversag80. Lembra que varios estu-dos emplricos por ele conduziestu-dos revelaram que cerca de 75% das sentengas da fala sao gramaticalmente bem-formadas, se-ja qual for 0 criterio de boa-formagao. E que com umas poucas regras de edigao seria posslvel chegar a menos de 2% como mostram estudos ainda ineditos de Labov (1966). De resto, na fala sobre temas bern conhecidos baixaria o. numero das sen-tencas agramaticais a menos de 10%, mesmo sem editoracao

(35)

alguma.

Mesmo sem tar feito qualquer tipo de levantamento sis-tematico da fala no portugu~s brasileiro sob 0

aspe-ctoenfoca-do por Labov, suponho que os resultaaspe-ctoenfoca-dos por ele encontraaspe-ctoenfoca-dos poderiam facilmente ser afirmados tambam para a produgao oral em nosso contexto. No caso especlfico dos materiais do NURC isto a insofismavel. Mas af alguam poderia objetar tra-tar-se de falantes cultos com alta influ~ncia da escrita em sua fala. Contudo, esta nao a uma interfer~ncia tao decisiva quanta parece.

Com isto urn dos interesses no estudo da repetigao re-side na sua import&ncia para a descrigao gramatical, tal como sugere Wunderlich (1986) ao analisar as perguntas-eco. Pois tudo indica que a repetigao tern influ~ncias relevantes no pro-cesso de descrigao gramatical da lingua e leva

a

indagagao ja feita em outras oportunidades a respeito do escopo da grama-tica, isto a, quais sao os componentes basicos equal 0

doml-nio especffico da sintaxe? Isso aponta para as posslveis fungoes icOnicas da repetigao na organizagao gramatical da Ifngua. Alias, vale a pena investigar ata que ponto 0 princlpio

funcional da iconicidade na lingua (Haiman1980) atua na repe-tigao, tal como defende Ishikawa (1991).

As repetigoes, nao obstante operarem no·nlvel discursi-vo, tambarn exercem pressoes sobre a organizagao sintatica, afetando de algum modo a forma das sentengas e a pr6pria ordem dos seus constituintes. Ja que a repetigao opera tanto em domlnios de uma sentenga como de varias, ela comanda, em certos casos, formas supra-sentenciais. E isto pode acarre-tar deslocamentos de porgoes t1iscursivas inteiras para outros pontos da sequ~ncia (como no caso das elipses), impondo assim constantes adaptagoes e ata restrigoes nas construgoes sintaticas.

Creio que nao sera exagerado supor, neste momenta, com as observagoes feitas ata a presente, que a repetigao, ao lado de varios outros mecanismos de alta recorr~ncia na fala, a uma caracterfstica essencial nao s6 da interagao verbal mas tambam da produgSo loingUfstica resultante nessa interagao verbal, seja ela na forma dial6gica ou monol6gica. No restante deste-trabalho sera perseguido a objetivo basico de tamar evi-dente a tese de que a repetigao

e

essencial

a

fala. Talvez tenha

(36)

side esta constatac;ao0que levou muitos estudiosos a

compa-rarem a fala com a escrita tendo a repetic;ao como urn dos tra-<;Osdistintivos.

2. Algumas Perspectivas de Tratamento da Repetlc;io na Ungua Falafa

Embora Iimitados na abrang6ncia, ja sac variados os es-tudos existentes sobre a repetic;ao na fala. Constata-se que 0 assunto vem assumindo, aos poucos, relevAncia cada vez maior. Hoje existem algumas coletAneas de textos sobre 0 te-ma, como 0 numero especial da Revista TEXT, 7:3 (1987); 0 recente volume editado por Johnstone (1991); a obra de. Tannen (1989, 1987, 1985) com abordagens sistematicas; al-gumas Dissertac;oes de Mestrado no Brasil, tais como Ramos (1~83) e Bessa Neto (1991); e uma certa quantidade de artigos dedicados ao assunto. A rigor, nenhum boom editorial. Apenas urn tema que esta entrando no foco das atenc;Oes.

Em seu breve estudo introdut6rio sobre repetic;ao, Johnstone (1987) cataloga os trabalhos existentes sobre 0 te-ma em quatro categorias considerando os focos de interesse envolvidos. A seguir apresento estas perspeCtivas compiemen-tando-as com outras. observac;oes e dois aspectos nao con-templados pela autora.

(a) repetlc;io como mecanisme de coesao do dlscur-so: Johnstone observa que a repetic;ao

e

0 primeiro

mecanls-mo coesivo adquirido pela crianc;a e 0 ultimo a ser perdido na afasia ou esqulzofrenia. Entre os que tratam a repetlc;aodentro desta categoria figuram os trabalhos de Halliday/Hasan (1976) e a maioria dos IingOistasde texto como Harweg (1986). Ochs (1979) mostra como a repetic;aofonol6gica, a repetic;ao lexical e os paralelismos sintaticos sac recursos comuns no "plane-j~mento do texto oral". Tannen (1987, 1989) defende que uma das func;oes da repetic;ao

e

a conexao, ou seja, a organizac;ao de estruturas paralelas, Iistas, manutenc;ao de referentes etc. No Brasil, situaria grande parte do estudo de Bessa Neto (1991) nesta Iinha, ja que ela tenta mostrar com~ a repetic;ao lexical

e

urn mecanisme coesivo. Koch (1989 e 1991) traz va-Iiosas observac;Oesnestesentido. Importante aqui sac as in-vestigac;oes de Dutra (1992) sobre os padrOes entoaclonais na

(37)

narrativa que se repetem operando como fator de coesao. (b) a repetic;ao como mecanisme ret6rico: sao co-nhecidos os estudos da ret6rica classica que definiu uma sarie interminavel de figuras de Iinguagem mostrando 0 funciona:'

mento da repeti<;aocom finalidade estilfstica e ret6rica. Esta Ii-nha de trabalho

e

hoje retomada por muitosautores como a pr6pria Johnstone em seus estudos sobre 0 arabe; alam

des-ses, Johnstone situa aqui os trabalhos de Sherzer (1983) e

W'"

therspoon (1977) sobre 0efeito ret6rico da repeti<;aonas cultu-ras indfgenas. Eu situaria nesta area parte dos trabalhos de Tannen (1989) sobretudo os que se reportam

a

repetic;ao co-mo fator estilfstico e poatico. Alguns dos trabalhos de Jakob-son (p. ex. 1968) situam-se nesta categoria.

(c) a repetic;ao como mecanisme de efeito seminti-co: neste caso estao os trabalhos que buscam mostrar como as listagens, as reduplica<;6es e os paralelismos criam efeitos de sentido e modificam 0conteudo das express6es repetidas.

o

mais conhecido a 0 trabalho de Jakobson (1966) sobre 0 paralelismo na poesia russa. Os estudos de Wierzbicka (1986) tambarn podemser situados nesta categoria. Alam destes po-deria lembrar outros como os de Ramos (1983), Norrick (1987), Marcuschi (1991) e ishikawa (1991) e, naturalmente, uma sarie de.observa<;6esesparsas de Tannen (1989).

(d) a repetic;ao na aquisic;ao e no ensino da lingua: a pr6pria organiza<;ao dos materiais de ensino

e

grandemente feita com base na repeti<;aode paradigmas, matodos mnemO-nicos e processos de substitui<;ao ou outros. Na aquisi<;aoda lingua 0 estudo da repeti<;aovem se tornando urn lugar co-mum observam Snow (1972), Ferguson (1977), ao notarem a freqO~ncia com que os adultos repetem as crian<;ascom 0 ob-jetivo de reconstruirem as estruturas. Keenan (19n), Schieffe-lin (1979), Brown (1970) e muitos outros acham-se nesta Schieffe-linha.

Alam destas quatro categorias apontadas por Johnstone para agrupar os estudos sobre a repeti<;ao,eu acrescentaria outras duas que me parecem nao estarem inclufdas nestes conjuntos.

(e) a repetic;ao como processo de padronizac;ao sintBtica: e nesta categoria acham-se os estudos de Blan-che-Benveniste (1979, 1984, 1987), os de Weiss (1975), Wac-kernagel-Jolles (1971), Wunderlich (1986), Perini (1980) entre

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