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Mudança comportamental e educação para. eficiência energética

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Academic year: 2021

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Mudança comportamental e educação para eficiência energética

Prof. Dr. Kaster Carrara

Departamento de Psicologia – UNESP Campus de Bauru

Prof. Dr. Wilson M. Yonezawa

Departamento de Computação – UNESP Campus de Bauru

Prof. Dr. Leonardo Mesquita

Departamento de Engenharia Elétrica – UNESP Campus de Guaratinguetá

Prof. Dr. Galeno José de Sena

Departamento de Matemática – UNESP Campus de Guaratinguetá

Prof. Dr. Silvio Henrique Fiscarelli

Instituto de Química – UNESP Campus de Araraquara

Me. Fábio Esteves da Silva

Doutorando em Energia – UNESP Campus de Guaratinguetá

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No contexto das atividades preliminares do Centro Educacional para Eficiência Energética, criado pelo convênio Nº ECV-291/2009 e tendo por objetivo viabilizar cooperação técnica e financeira entre ELETROBRÁS/PROCEL e a UNESP, o presente Relatório de Atividades objetiva, fundamentalmente, enunciar conceitos, tecnologia comportamental e estratégias possíveis para intervenção baseadas na literatura científica mais recente da Análise Comportamental da Cultura. Nessa perspectiva, este relatório buscará caracterizar, preliminarmente: (1) Quais os fundamentos teóricos, epistemológicos e metodológicos da Análise do Comportamento no cenário da Psicologia contemporânea; (2) Em que medida uma linha de investigação específica dentro da Análise do Comportamento, referenciada no conceito de Delineamentos Culturais, pode contribuir para a mudança de repertórios comportamentais de grandes grupos de pessoas – as práticas culturais – no sentido e com o foco específico relacionado à conservação de energia elétrica; (3) Quais as condições de participação de pesquisadores, técnicos e população em geral, potenciais projetos de investigação científica e intervenção social até aqui concebidos para desdobramentos futuros em ações a serem apoiadas pelas instituições envolvidas e com a retaguarda do Centro de Educação para a Eficiência Energética (CEEE); (4) Projeção de implicações dos programas de pesquisa e intervenção em curto e longo prazo, perspectivas e recomendações.

Entendemos redundante proceder a um aprofundamento investigativo e de revisão de literatura para ressaltar a relevância de ações urgentes e abrangentes, por meio de políticas públicas, visando a conservação de energia elétrica. Assim como uma série de outros recursos naturais, aqueles, como a água, diretamente articulados à produção de energia elétrica, são consensualmente considerados pela população esclarecida como

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imprescindíveis à vida humana. Uma revisão de literatura científica e das práticas vigentes no Brasil e em outros países vem sendo desenvolvida sistematicamente no contexto da Linha 1. Em decorrência, toma-se como ponto de partida, nesta linha de pesquisa, a existência inequívoca de consenso entre técnicos, pesquisadores e dirigentes a respeito da necessidade, pertinência e relevância do desenvolvimento de estratégias apoiadas em conceitos científicos bem apoiados em dados e critérios de avaliação de eficiência estratégica visando a conservação de energia elétrica. Por tais razões, passa- se, neste relatório preliminar, a enfocar diretamente o contexto e características dos delineamentos culturais voltados a subsidiar políticas públicas preocupadas com a mudança do comportamento da população em relação à utilização de energia elétrica em seus afazeres cotidianos.

Da Psicologia à Análise do Comportamento

Parece ao leigo que a Psicologia é uma área de conhecimento, de investigação, de estudo e de intervenção bastante consensual. O pensamento livre na “folk psychology” (ou “psicologia popular”, “psicologia folclórica) é o de que temos uma espécie de ciência que tem um método, estratégias, tecnologia e uma lógica única e compartilhada entre os profissionais que nela atuam.

Nada mais equivocado. De fato, a constituição e caracterização da Psicologia sempre dependeram de um conjunto de pressupostos epistemológicos e filosóficos adotados preliminarmente pelos profissionais. A título de exemplo, podem-se encontrar muitas divergências em relação à concepção da

“natureza” humana adotada (trata-se de um ser passivo, ativo ou interativo em relação ao seu ambiente?), em relação à própria finalidade da Psicologia em questão (pretende essa área, disciplina ou ciência ocupar-se da consciência, do inconsciente, da cognição ou do comportamento humano?) e mesmo em relação às técnicas e estratégias propriamente ditas e empregadas na atuação do psicólogo (pretende ele mudar “personalidade”, “consciência” ou

“comportamento” ?). Como se pode depreender desse singular exemplário de situações e contextos, a Psicologia não é, de fato, consensual.

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Parte significativa do público leigo apreende a ideia de Psicologia no seu sentido etimológico original, ou seja, de que se trata de uma “ciência” ou “área de estudo” interessada em desvendar, estudar, esclarecer os fenômenos da

“alma” (psique ou “psyché”). Conceber a Psicologia como constituída da interação entre duas instâncias, dimensões ou substâncias (corpo e “alma”) parece ter sido, historicamente, a solução mais fácil (ou possível) para tentar descrever, explicar e/ou interpretar as atividades humanas (e, por extensão, de todos os organismos vivos, respeitadas suas diferenças filogenéticas). Tal compreensão conservadora da Psicologia implica uma visão dualista das ações humanas: um corpo em constante interação com uma “alma” (alma essa que, resumida e simplificadamente, com o avanço dos estudos e discussões sobre o assunto, é hoje frequentemente reconhecida como sendo representada pela

“mente”). Essa compreensão arcaica tem vários motivos, sempre interligados, para ter prosperado e para permanecer, ainda hoje, como uma concepção reconhecida por várias mediações teórico-epistemológicas da Psicologia.

A título de exemplo, pode-se mencionar: 1) ao longo da história da própria Psicologia parece ter constituído difícil missão assimilar qualquer possibilidade de um modelo monista de homem (um modelo em que “alma” – ou “mente” - e corpo sejam constituídos de uma mesma e intercambiável substância, de natureza material e física); essa dificuldade se apoiou, de início, na influência corporativa da intensa dependência econômica, social e administrativa da população em relação às instituições detentoras do poder político, então centrado em representantes de algumas organizações religiosas; 2) o desenvolvimento científico, em diversas áreas de conhecimento (Biologia, Física, Psicologia) tem sido alvo de grande resistência que decorre do primeiro motivo, ou seja, a humanidade tem preservado a custo muito alto a ideia de que cabe ao homem um papel central na natureza; de que, consequentemente, a ele pode ter sido dada outra origem que não a explicitada pelos evolucionistas darwinianos; de que, para além da existência física mundana haveria uma outra dimensão posterior a tal existência, representada

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pela permanência eterna da “alma”; 3) uma prática cultural fortemente estabelecida de busca por explicações referenciadas num mundo imaterial ou de materialidade distinta do corpo, daí, na Psicologia, continuarem a vigorar as designadas concepções “mentalistas”.

Nessa perspectiva, como já mencionado e a título de resumo, como empreendimento que pretende ter um caráter científico, a Psicologia defronta- se, há certo tempo (pouco mais de um século), com os embates relacionados à sua própria natureza. Por exemplo, será objeto da Psicologia: 1) estudar a consciência humana? 2) estudar a alma humana? 3) estudar a personalidade?

4) estudar o comportamento? 5) estudar a cognição 6) estudar as atividades corporais?

Muitas discussões, muitos debates e muitos artigos sobre temas correlatos às perguntas básicas aqui formuladas têm sido veiculados ao longo do último século. Para os propósitos presentes, tomemos algumas referências que, inevitavelmente, já por terem sido selecionadas, representam apenas uma fração – suposta aqui, todavia, representativa – de uma das mediações teórico- epistemológicas e, também, metodológicas, possíveis na Psicologia.

Nesse sentido, uma publicação seminal foi veiculada já em 1913 pelo psicólogo norte-americano J. B. Watson, no periódico Psychological Record.

Watson propunha, no seu artigo “Psychology as the behaviorist views it”, uma nova forma de conceber o estudo das ações humanas: o Behaviorismo. Para esse autor, a proposta do Behaviorismo implicava duas mudanças substanciais na Psicologia. Por um lado, o objeto de estudo escolhido era o comportamento (dos seres vivos em geral), em substituição à consciência e outras instâncias

“mentalistas”; por outro, a estratégia metodológica passaria a ser a observação (do organismo, nas suas interações com o ambiente, via comportamento), em contrapartida à então vigente estratégia da introspecção. Nesse mesmo artigo, que passou a ser conhecido como o “manifesto behaviorista”, Watson tratava de várias outras questões do entorno da Psicologia, propondo que a nova visão implicasse uma filiação à Biologia, que se buscasse um conjunto de estratégias

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de pesquisa baseadas em bons critérios de objetividade, que o conceito de interações entre organismos biológicos e ambiente teria como consequência a necessidade de pesquisas empíricas mediante controle rigoroso de variáveis estranhas. Ou seja, Watson propunha o Behaviorismo como uma forma de

“Psicologia” (entre aspas porque certamente não se tratava mais de um “estudo da alma”, como concebia a velha Psicologia) que inspirava um modelo puramente objetivo e experimental vinculado à Biologia e, mais estritamente, aos parâmetros de uma ciência natural (tendo como modelo fundamental os rigores metodológicos equivalentes aos da Física, por exemplo).

Entretanto, a proposta original de Watson viria a ser aperfeiçoada por outros pesquisadores. Já a partir de 1930, considerando que o modelo watsoniano ainda permanecia eivado de algumas influências dualistas, que Watson mantinha explicações confusas e praticamente excluía de consideração os eventos privados (o pensamento, por exemplo), outro pesquisador importante começa a apresentar um programa de pesquisas, mais tarde consolidadas na proposição de uma ciência por ele designada como Análise Experimental do Comportamento e está baseada numa filosofia designada como Behaviorismo Radical: B.F. Skinner. Esse autor, por certo bastante polêmico durante o transcurso da história da Psicologia em seu tempo, desenvolveu, com a participação de diversos colaboradores, um grande número de pesquisas empíricas sobre muitos tipos de relações entre organismos biológicos e ambiente (químico, físico, biológico, social).

Identificou, reiteradamente, que os comportamentos são especialmente sensíveis às consequências, de modo que o seu modelo paradigmático de ciência está apoiado na ideia do que chamou de tríplice relação de contingências: uma relação entre eventos antecedentes – comportamento – consequências. Os eventos antecedentes ao comportamento são quaisquer acontecimentos, aspectos, partes do ambiente (físico, naturalmente, já que o Behaviorismo Radical é monista e fisicalista) que, de alguma maneira, sirvam como condições diante das quais, se um comportamento é emitido, então sua consequência se apresenta menos ou mais provável de acontecer. Essas

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relações de dependência (se... então) entre comportamento e seus eventos antecedentes e consequentes é designada, na Análise do Comportamento, como contingência. Isto quer dizer que a probabilidade de ocorrência dos comportamentos é maior ou menor dependendo do arranjo de contingências que elaboramos, que construímos, que planejamos para que tal comportamento ocorra. A contingência, portanto, constitui-se na descrição de uma relação entre comportamento e ambiente (antecedente e consequente).

Da Análise do Comportamento aos Delineamentos Culturais

Skinner, então, propõe, com base em inúmeros estudos científicos com rigoroso controle de variáveis independentes, dependentes e estranhas, que:

1) O comportamento (entendido, de modo simplificado, como quaisquer

“ações” dos organismos nas suas relações com o ambiente) deve ser o foco de análise e intervenção; (sugere-se, desde já, que se comece a pensar que o comportamento do consumidor comum de energia elétrica também segue os mesmos parâmetros, porque sua ocorrência depende de sua história particular – e do grupo social ao qual pertence - de interações com o ambiente químico, físico, biológico e social).

2) É possível um estudo científico do comportamento humano e, consequentemente, o desenvolvimento de uma tecnologia apropriada para isso e um conjunto de estratégias de planejamento de como tornar mais provável ou menos provável o aparecimento, consolidação, mudança de frequência (duração, magnitude, intensidade) ou extinção de comportamentos; (sugere-se começar a refletir, então, sobre a possibilidade de planejamento estratégico de ações, que chamamos tecnicamente de delineamentos culturais, quando aplicado a um grupo social, conjunto de pessoas, comunidade, cultura, sociedade);

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3) Quando estamos interessados na mudança do comportamento de um único indivíduo, buscamos auxílio no arranjo de contingências (que é um delineamento, um plano de ação para mudança dos eventos antecedentes e consequentes para o comportamento individual, que tem uma história particular para cada um de nós, para cada indivíduo – é o exemplo dos casos clínicos: a história de vida é particular e o rearranjo de contingências depende de tal história para receber alguma intervenção planejada para uma instância individual);

4) Quando estamos interessados na mudança de comportamento de um grupo de pessoas (de duas ou mais pessoas nas suas relações interpessoais ou nas suas relações comuns ou compartilhadas com o contexto ambiental em que vivem), estamos falando de uma intervenção social, uma intervenção na comunidade, um delineamento cultural (tecnicamente falando); já se pode perceber que deve ser este o nosso foco quando buscamos atender aos objetivos da eficiência energética: direta e objetivamente, o que estaremos buscando é que haja uma ampliação de frequência de ocorrência (uma medida concreta das predições probabilísticas) dos comportamentos “ecologicamente corretos” (no limite, que garantam sustentabilidade) e uma redução da frequência de ocorrência (também uma medida concreta das previsões probabilísticas) dos comportamentos

“ecologicamente inadequados”. Ou seja, quando elaboramos um delineamento cultural, estamos fazendo uma proposta com base empírica referenciada na literatura científica, de uma intervenção abrangente, que deve alcançar significativo número de pessoas, que deve abranger grupos sociais importantes. E que busca trazer resultados mensuráveis que são aferidos mediante o cotejamento de dados anteriores e posteriores à intervenção, seja diretamente (pela observação e registro dos próprios comportamentos), seja indiretamente (pela observação e registro dos subprodutos do comportamento: os registros escritos de níveis de consumo energético, no nosso caso de interesse atual).

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5) Pode-se resumir, então, que não estamos mais diante de uma proposta da Psicologia tradicional que acredita (como, por vezes, assim podem crer muitos leigos) que a “conscientização” da população mediante campanhas de esclarecimento seja suficiente para conseguir substanciais mudanças de comportamento. A título de exemplo, observe-se que não funcionam completamente quaisquer das campanhas de “conscientização”, embora se tenha uma mudança parcial de comportamento: por exemplo, de combate à dengue (estamos todos “conscientizados” de que se não cuidarmos dos recipientes com água “parada”, ocorrerá a reprodução do aedes egipty, aumentará a probabilidade de contaminação, etc. – a população, apesar de

“conscientizada” pelas campanhas, não atua concretamente pró-mudança);

no combate à AIDS (os efeitos de uma “conscientização” têm sido duradouros apenas na medida em que consequências concretas são tornadas muito visíveis para a população – a punição é a própria possibilidade de morte); as campanhas anti-tabaco (antes, dizer que fumar fazia mal à saúde tinha quase nenhum efeito, porque tratava de que

“provavelmente as pessoas teriam problemas de saúde se fumassem”;

depois disso, com as campanhas mostrando, nos maços de cigarro, quase

“simbolicamente”, os efeitos via estampas nos maços de cigarro, diminuíram um pouco mais os fumantes; entretanto, talvez apenas medidas que exponham os fumantes às consequências reais, imediatas e concretas do comportamento de fumar possam implicar efeitos mais drásticos nas estatísticas); do mesmo modo, todos estamos “conscientes” da importância de uma série de medidas que as agências responsáveis pela produção e distribuição fazem em relação à eficiência energética. Isso constitui uma parte importante do empreendimento a ser feito, mas é apenas parte da tarefa. “Saber” ou “estar consciente” de que é necessário economizar água, petróleo, energia elétrica, embora importante, é seguramente insuficiente para conduzir a população usuária a uma ação concreta de comportamentos pró-sociais de conservação. Planejar e garantir consequências para os comportamentos implicados é condição indispensável num adequado planejamento de práticas culturais.

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6) Sabemos que eficiência energética implica um esforço articulado:

naturalmente, o desenvolvimento de novas tecnologias de produção energética e a melhoria dos materiais e técnicas de transmissão constituem providências altamente relevantes; naturalmente, o desenvolvimento e aplicação dos conhecimentos técnico-científicos em novas estratégias de exploração de recursos naturais, com a produção de energia limpa e com preservação das condições ambientais que, no futuro, serão imprescindíveis para a sobrevivência da espécie humana e de todas as demais espécies são igualmente importantes. Sabemos, portanto, que muitas variáveis têm implicações para a eficiência energética. Uma parte dessas variáveis está implicada, inevitavelmente, nos determinantes do COMPORTAMENTO HUMANO. Ou seja, uma meta a ser cumprida, pesquisada, experimentada, com criação de novas tecnologias e com o desenvolvimento de PROGRAMAS DE ATUAÇÃO concretos é o dos delineamentos culturais, que devem alimentar e consubstanciar teoricamente e tecnologicamente as políticas públicas do setor energético.

Em outras palavras, trata-se de um investimento de custo compatível com seus prováveis resultados, no curto e longo prazo.

7) De modo sucinto, intervenções e pesquisas com esse novo instrumental teórico-tecnológico implicam, entre várias outras providências de planejamento detalhado e sistemático: a) seleção dos comportamentos a serem afetados (por exemplo, comportamentos típicos de conservação de energia, como os já sobejamente elencados nas cartilhas e manuais das agências); b) investigação científica direta sobre quais as consequências ambientais capazes, numa dada população, de ser funcionais para a instalação, manutenção e/ou mudança dos comportamentos arrolados (por exemplo, bônus para trocas; novos tipos de lâmpadas; redução de custo de conta ou benefícios semelhantes; reforçamento social; reconhecimento público, etc.); c) Programação de contingências: estabelecimento prévio das condições e ocasiões nas quais os comportamentos serão aferidos, o

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consumo será registrado, as consequências serão liberadas, os resultados serão divulgados, o follow up será aplicado.

8) Observe-se, também, que estamos falando de programação das consequências para os comportamentos pró-eficiência energética. Ao fazê- lo, deveremos estar muito atentos para um aspecto importante: a relação temporal entre comportamento e consequências. Consequências imediatas são importantes para manutenção de certo ritmo de “produção” (fluxo comportamental), mas a finalidade principal de nosso interesse são as consequências de longo prazo. Para facilmente compreender através de um exemplo: todos sabemos que a coleta seletiva de lixo conduz a consequências de longo prazo que implicam a preservação ambiental, qualidade do ar, da terra, de todos os recursos naturais que, por sua vez, trazem consequências para a higiene, saúde, preservação das fontes naturais de condições para a sobrevivência da espécie humana. No entanto, o ser humano não é capaz, via de regra, de se comportar apenas por vislumbrar e “compreender” o sentido das consequências de longo prazo; precisa, objetivamente, receber as consequências de curto prazo (negativas e temporárias para o jogar o papel de bala na rua, para o deixar de selecionar o lixo no cotidiano; positivas para os comportamentos apropriados e inversos, de selecionar e reciclar o lixo, de economizar energia elétrica, etc.); ou seja, para cada unidade comportamental (que designamos como resposta na Análise do Comportamento) e, em conjunto, para todo o repertório comportamental (constituído por esse conjunto de respostas ou por conjuntos de classes de respostas). Assim, o Delineamento de práticas culturais para a eficiência energética precisa ser pensado contemplando consequências de longo prazo e, inevitavelmente e conforme sobejamente já demonstrado via experimentação, as consequências imediatas para o comportamento de nosso interesse.

9) Note-se, naturalmente, que embora essa possibilidade (behavior management) de atuação esteja bastante avançada do ponto de vista

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conceitual, sua tecnologia está em fase de consolidação. Trata-se de um desenvolvimento científico bastante inovador e que, ao ser aplicado em projetos apoiados pelas agências, estará testando estratégias que, bem sucedidas, visam multiplicar-se e transformar-se em políticas públicas consolidadas para o setor.

10) Note-se, paralelamente, que os desenvolvimentos mais recentes de uma tecnologia para os delineamentos culturais (que implicam intervenções sistematicamente planejadas para contingenciar comportamento humano em situações sociais concretas, como a de busca de eficiência energética) oferecem exemplos na literatura científica contemporânea que, em paralelo, tornam transparente a potencialidade desses novos instrumentos de ação.

Breve contextualização da Análise Comportamental da Cultura

A Análise Comportamental da Cultura é um empreendimento marcado por duas etapas bastante distintas:

(1) a primeira, reportado à obra científica de B. F. Skinner (1904-1990), composta de mais de 250 trabalhos, entre artigos, livros, capítulos de livros, entrevistas e material similar, todos voltados à criação, disseminação e consolidação do que o autor designa como uma ciência do comportamento: a Análise do Comportamento, propriamente dita.

Essa ciência skinneriana se estabeleceu a partir de uma grande ênfase dada pelo autor na pesquisa experimental, que nesse caso busca, pautada na técnica metodológica do delineamento de sujeito único, estabelecer quais as variáveis determinantes do comportamento dos organismos vivos, sob diferentes condições. Nesse sentido, Skinner denominou esse empreendimento de Análise Experimental do Comportamento, uma vez que buscou, principalmente, a utilização de animais de laboratório, em sua fase inicial de pesquisa (anos 30 a 60), pela facilidade de controle de variáveis estranhas e pela possibilidade

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de uma manipulação segura dos valores das variáveis independentes estudadas, de modo a produzir conhecimento consistente dos valores das variáveis dependentes examinadas (o comportamento como objeto de estudo, via de regra). A pesquisa experimental acumulou dados por longo período de tempo e gerou diversos princípios essenciais à Análise do Comportamento: reforço, punição, modelagem, modelação, esquemas de reforçamento, esquiva, fuga, discriminação e muitos outros. Esses princípios foram testados com humanos em inúmeras situações e os resultados parecem ter consolidado sua validade para a descrição e explicação de ampla gama de comportamentos em situações diversas. A ciência do comportamento sempre esteve acompanhada de um arcabouço epistemológico bastante consistente, uma filosofia de ciência que Skinner designou de Behaviorismo Radical, que constitui, tipicamente, a filosofia que embasa a ciência que é a Análise do Comportamento. Para além dos princípios testados em situações experimentais diversas, portanto, os dados de pesquisa apontam uma lógica permanente entre as diversas situações: a seleção pelas consequências. Essa lógica implica, de modo simplificado, que grande parte do comportamento dos organismos é instalada e consolidada em função das relações desses organismos com seu ambiente (químico, físico, biológico e social). Ou seja, os comportamento se estabelecem, se extinguem, mudam sua frequência ou topografia em função das consequências que produzem no ambiente. A literatura histórica mostra a criação do Behaviorismo (clássico) em função do trabalho de J. B. Watson (demarcado na sua seminal publicação do “manifesto behaviorista” em 1913 – Psychology as the behaviorist views it) e depois aperfeiçoado por B. F. Skinner a partir de suas publicações e todo sua produção científica entre 1930 e 1990. O legado maior de Skinner passa a ser a lógica da seleção por consequências, constatada em milhares de experimentos com outros animais da escala filogenética e com humanos em inúmeras situações.

Naturalmente, Skinner é conhecido também pela reclassificação que

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faz, pós-Pavlov, do comportamento em dois tipos fundamentais:

respondente e operante, sendo o primeiro afeto às ações reflexas e transmitidas filogeneticamente pelas respectivas espécies e o segundo pautado por ações diretas sobre o ambiente, afetando-o e sendo afetado por este. Skinner se deteve no estudo do comportamento operante, que abrange a grande maioria de nossas ações no cotidiano, sendo tipicamente associado, no jargão leigo, a verbos de ação (caminhar, fazer, brincar, verbalizar, correr, escrever, falar e milhares de outras possibilidades, cuja topografia e funcionalidade são modeladas conforme a história particular de cada indivíduo). Importante frisar, para os propósitos que nos ocupam no momento (a instalação, mudança ou consolidação de práticas culturais – comportamentos das pessoas em situação coletiva – dirigidas à eficiência na utilização de energia elétrica), que Skinner, desde cedo e durante toda a sua carreira (por exemplo, em sua novela utópica Walden Two, de 1948, assim como no seu Ciência e Comportamento Humano, de 1953 e em diversos artigos e outros livros), em buscar a generalidade dos princípios que descobriu para situações típicas das interações sociais humanas. Em outros termos, declara consistentemente em sua obra seu propósito indiscutível de encontrar maneiras pelas quais, através de um exame científico do comportamento, pudesse derivar formas de controle comportamental que levassem a resultados construtivos e que buscassem uma organização social efetivamente voltada para o bem- estar geral e a justiça social). Nessa perspectiva, a filosofia behaviorista radical, a partir de Skinner, propõe três níveis de variação e seleção dos comportamentos: a) nível filogenético (comporto pelo repertório transmitido entre os membros da espécie – tipicamente reflexos no comportamento respondente); b) nível ontogenético (composto pelo repertório elaborado nas interações do indivíduo com seu ambiente, mas não resultante de herança genética; trata-se do repertório derivado da seleção pelas consequências presentes no cotidiano das pessoas, o que lhes permite comportar-se de modo tipicamente individual em cada

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situação, mas sempre sob a mesma lógica válida para todos, ou seja, o controle decorrente dos efeitos do comportamento sobre o ambiente); c) nível cultural (composto não mais pelo repertório individualmente modelado, mas pelo repertório interdependente das pessoas em situações coletivas de ação, ou seja, no contexto das práticas culturais (reconhecido no jargão comum como comportamento “social). Por sua absoluta importância para a questão da conservação de energia elétrica (e para todas as situações e instâncias onde práticas culturais mais sustentáveis, efetivas e pró-sociais sejam requeridas), é neste terceiro nível de seleção e variação que se propõe que se priorizem pesquisas, disseminação do conhecimento e intervenções concretas via políticas públicas cientificamente subsidiadas, visando otimizar a variável

“comportamento humano” no contexto aqui examinado.

(2) a segunda etapa do desenvolvimento científico da Análise Comportamental da Cultura tem seu ponto de partida acontecendo recentemente (por volta de 1986), mediante literatura pioneiramente liderada por S. Glenn, que propõe alguns novos conceitos compatíveis com a obra de B. F. Skinner. Glenn cria e explora o significado do conceito de metacontingências, que se aplica a situações sociais complexas. Nesse sentido, segue-se a Skinner, que já trabalhava com o conceito de contingências, quando propõe o paradigma da tríplice relação de contingências. Uma contingência, para Skinner, é um descritor das instâncias relacionais de um comportamento: dito de outro modo, a maneira pela qual, especificamente, um comportamento está relacionado com os eventos antecedentes e consequentes à sua ocorrência pode ser considerado uma contingência. Para Glenn, diferentemente do que propõe Skinner, no caso dos comportamentos complexos em situações de grupo, acontece um entrelaçamento entre comportamentos e contingências, de maneira que se estabelece – em bases variáveis – uma interdependência entre os comportamentos de diversas pessoas, representados pelas chamadas práticas culturais.

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Instalar novas práticas culturais (a prática cultural da conservação de energia elétrica, neste caso) em um número grande de comunidades, ampliando a abrangência do novo repertório entre componentes de diversos grupos, é meta das políticas públicas. Todavia, ainda para além desses pressupostos, os achados científicos em Análise do Comportamento têm mostrado outras facetas importantes dos projetos de Delineamentos Culturais a serem levadas em conta. Uma delas, fundamental, constitui-se no desafio para uma compatibilização efetiva entre consequências de curto e de longo prazo. Ou seja, os achados de laboratório de Skinner e os achados de Glenn e colaboradores em situações culturais típicas, têm demonstrado que esperar que as pessoas mudem seu comportamento (por exemplo, de típico

“desperdício” para um “uso parcimonioso” de recursos naturais) pelo simples fato de que elas “sabem” que é importante economizar e usar cautelosamente os recursos naturais, é uma grande ilusão já explicitada pelos dados científicos de estudo do comportamento. Em outras palavras, “estar consciente de” não é o mesmo que ou não implica necessariamente “fazer”. Como vários estudos controlados já demonstrados (exemplo interessante pode ser visto na pesquisa de Hori, 2010, entre estudantes de Engenharia Ambiental, sobre a discrepância entre “conscientizar-se” e “fazer, de fato” economia em várias situações práticas de utilização de recursos naturais), a conciliação entre consequências de curto e longo prazo precisa estar presente nos projetos de delineamentos culturais, sob pena de que, faltando tal articulação, os efeitos das políticas públicas implementadas no setor serão certamente falíveis e trarão apenas resultados moderados gerados pela simples “informação” e ausência de contingências que clarifiquem as consequências imediatas e de longo prazo para os comportamentos requeridos.

Uma breve revisão da literatura nacional sobre delineamentos culturais

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Alguns exemplos do uso da unidade conceitual de metacontingências proposta por Glenn já começam a se tornar clássicos da literatura científica na área. Entre aqueles da produção nacional, Todorov (1987) estudou o efeito da prescrição de consequências que afetam o comportamento coletivo, mediante a identificação de regras que preveem as oportunidades para a emissão ou proibição de emissão de certos comportamentos, bem como as eventuais sanções para comportamentos não aprovados pela sociedade. Noutro estudo, desenvolvido por Todorov e Carneiro (2003), com relação ao Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA foi considerado como uma fonte de prescrições analisáveis mediante metacontingências, uma vez que esse documento legal descreve comportamentos possíveis e necessários para diferentes segmentos e classes sociais, assim como, especificamente, pais ou responsáveis e crianças e adolescentes alcançados pela legislação. O objetivo central do ECA, naturalmente, é a proteção dos direitos de crianças e adolescentes e, nesse sentido, o estudo de Todorov e Carneiro (2003) seguiu adiante nessa ótica e revelou vários dados interessantes, entre eles que contingências completas e contingências incompletas foram analisadas, entendendo-se as primeiras como cobrindo todos os termos de uma relação funcional e as segundas deixando de dar conta de um dos termos da tradicional tríplice relação de contingências. Mais da metade das contingências especificadas no texto do ECA constituem contingências incompletas. Parte desses exemplos mostra que a perspectiva de Glenn (2003a, 2003b), de modo recorrente, explicita que as origens e a evolução da biologia humana não podem ser completamente explicadas sem recorrer a alguns princípios funcionais, em adição às leis que descrevem os processos químicos e físicos;

do mesmo modo, o comportamento coletivo aprendido não poderia ser explicado sem se recorrer à explicação da origem e da evolução das culturas.

Para tanto, Glenn considera que não parece ser suficiente levar em conta apenas as condições sob as quais são aprendidos os comportamentos individuais: uma análise em outro nível precisaria ser formulada e aí se insere a ideia de metacontingências como ferramenta conceitual importante para a descrição das relações funcionais implicadas entre práticas culturais, suas

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consequências e a probabilidade de sua sobrevivência no transcurso da atual e das próximas gerações. Embora a aprendizagem social pelos seres humanos não requeira novos processos além da seleção pelas consequências, Glenn assinala que em virtude da complexidade do processo de análise, a elaboração de diagramas descritivos das relações entre o comportamento dos indivíduos em seu convívio comunitário é instrumento útil para identificação de cada instância relacional e sua função. Glenn (2003b) não rejeita a possibilidade de que exista uma tendência inata nos seres humanos a imitar aquilo que seus congêneres fazem, mas frisa que é a preservação e retenção seletiva de comportamentos imitados que torna plausível a evolução cultural.

Em outro artigo, Glenn (2004) examina o princípio operante de seleção pelas consequências como protótipo definitivo da seleção cultural e o papel do ambiente social como elemento crucial para o surgimento do fenômeno cultural. As contingências operantes individuais são comparadas com as contingências de seleção cultural que ela designa metacontingências. Glenn frisa que as relações resultantes desses dois tipos de seleção contribuem para a formação de redes de relação responsáveis pela organização social. Para Glenn (2004), quando se “somam” os efeitos das contingências individuais e coletivas, constituindo-se as redes de relações cujo impacto é decisivo para a vida humana e a sobrevivência das culturas, tem-se o que é designado como macrocontingências, que não envolvem o nível cultural de seleção necessariamente, mas que têm suas funções ampliadas e ainda mais complexas quando organizadas para as funções do processo de seleção de consequências na dimensão das práticas culturais.

De Skinner e Glenn, parece possível saber que estamos diante de unidades conceituais distintas, mas que não são incompatíveis. Ao contrário, completam-se e parecem poder ser instrumentos úteis para aperfeiçoar o aporte da Análise do Comportamento e do Behaviorismo Radical às questões sociais complexas, mediante análise funcional criteriosa das práticas culturais.

Seus respectivos convites à ação dos analistas parecem irrecusáveis, ainda

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que tenhamos que nos defrontar com um trabalho preliminar de sistematização do uso de contingências e metacontingências em delineamentos culturais e de real experimentação cultural, a partir da realidade próxima. Para tanto, parece adequado endossar e ampliar o esforço de Andery, Micheletto e Sério (2005), no sentido de organizar o conjunto de princípios, descrever os principais conceitos e, agora, no contexto deste convênio, dimensionar a sequencia de passos típicos a serem executados na área de planejamento cultural.

A resposta positiva ao chamado de Skinner e Glenn implica trabalho metódico, criterioso e que, certamente, não pode se restringir aos achados dos pesquisadores individualmente. Implica, igualmente, práticas culturais no contexto da comunidade científica de analistas e requer buscar respostas a cada qual das tarefas a serem enfrentadas, para uma posterior articulação e busca de consequências aparentemente comuns a tal comunidade: relações interpessoais igualitárias e culturas amparadas nos melhores critérios de justiça social.

Algumas questões importantes no contexto das metacontingências começam a ser tratadas na literatura brasileira. Um artigo conceitual bastante relevante foi publicado por Andery, Micheletto e Sério (2007). Nele, são examinados os conceitos de metacontingências e contingências entrelaçadas, de especial importância para a definição de projetos. Discutem-se, nesse artigo, alguns dos aspectos que devem ser considerados para que a Análise do Comportamento possa, efetivamente, assumir o estudo de fenômenos “sociais”

como parte de seu objeto de investigação. As autoras ressaltam as palavras diretas de Skinner ressaltando um convite ao estudo e intervenção em práticas culturais. Em seguida, conceituam comportamento social (“o comportamento de duas ou mais pessoas, uma em relação à outra ou [dessas pessoas] em conjunto, em relação a um ambiente comum”, ressaltando que há um componente social (exemplificado pelo comportamento de uma das pessoas) na contingência, seja como contexto ou agente determinante da consequência.

Em seguida, as autoras definem prática cultural segundo a posição mais

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recente (1991) de Sigrid Glenn e dizem que ela “envolve a repetição de comportamento operante análogo entre indivíduos de uma dada geração e entre gerações de indivíduos”. As práticas culturais são selecionadas e repetidas por apresentarem um “efeito sobre o grupo”, efeito ou produto esse em comum, que é produzido pelo conjunto de comportamentos dos membros do grupo.

No tocante à diferença entre comportamento social e prática cultural, as autoras citam Glenn para afirmar que as práticas culturais contêm comportamentos individuais, mas não se reduzem a eles, da mesma forma que os comportamentos não se reduzem a um conjunto de fenômenos físico- químicos. Com base nessa distinção de objeto de estudo, apresenta-se a necessidade de uma unidade de análise diferente da tríplice contingência e duas possíveis unidades analíticas – contingências entrelaçadas e metacontingências – são apresentadas.

As autoras apresentam diagramas representativos das contingências entrelaçadas (imitação, troca recíproca, entrelaçamento que exige contingências sociais de “suporte”) e metacontingências (quando, de algum modo, o produto agregado – que é dependente de contingências entrelaçadas – retroagir sobre elas, selecionando-as). As diferenças entre contingências entrelaçadas e metacontingências enquanto unidades de análise distintas parecem se fazer necessárias no contexto atual da literatura, porque a primeira unidade não inclui a identificação de um produto agregado (efeito coletivo) que seleciona os comportamentos entrelaçados (os quais são mantidos, nesse caso, por consequências individuais); ao passo que na metacontingência se descreve uma prática cultural na qual as interações produzem consequências para cada um deles individualmente e, além disso, o conjunto de comportamentos produz um produto agregado que pode ou não ter um efeito comportamental. Dito de outro modo, a metacontingência seria a unidade mais apropriada para descrever a interdependência entre contingências

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entrelaçadas e produto agregado que retroage no entrelaçamento ou conjunto de contingências.

A análise de fenômenos sociais, nessa perspectiva, não exigirá do analista do comportamento um novo conjunto ou corpo de princípios ou um novo modelo explicativo-causal; no entanto, exigirá o reconhecimento de que esses fenômenos têm algumas propriedades especiais. Nesse sentido, são apresentadas algumas características especiais dos fenômenos sociais, destacando-se: (a) enquanto ambiente social, seja como estímulos antecedentes (por exemplo, quais dimensões do contexto discriminativo social controlam cada resposta? Que mudanças no contexto social antecedente podem sinalizar oportunidade para mudanças de comportamento social?) ou como consequências (por exemplo, a variabilidade do agente reforçador social, a dificuldade de mudanças comportamentais controladas por reforçamento social); (b) os elementos constitutivos das contingências entrelaçadas (participantes e as diferentes formas de como os estímulos e consequências sociais estão presentes no entrelaçamento) e (c) o comportamento verbal relacionado à manutenção das contingências entrelaçadas (o comportamento verbal como chave da complexidade da instalação e manutenção de várias práticas culturais complexas, pois considerando o potencial do comportamento verbal para controlar respostas nunca emitidas anteriormente entende-se o quanto as contingências verbais de suporte ampliam a extensão do controle social de uma prática cultural).

Ao final, são abordadas diferentes alternativas metodológicas para o estudo dos fenômenos sociais via Análise do Comportamento. As autoras reconhecem que o tema metodológico da análise social comportamentalista merece maior destaque e listam superficialmente métodos e estratégias aos quais os pesquisadores têm recorrido: interpretação (por exemplo, descrição e inferência de efeitos coletivos produzidos por uma determinada prática);

experimentos naturais (que são apontados como solução para o problema do controle experimental e do tempo para experimentos na área de Psicologia);

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experimentos de campo (pesquisa em contexto de aplicação) e métodos experimentais que reproduzam ou constituam análogos de práticas culturais em laboratório (opção defendida pelas autoras como importante foco de estudos que elucidem questões da análise cultural).

Embora esse texto traga importantes elucidações conceituais, a contribuição da representação de práticas culturais em diagramas, oferecido pelas autoras, ressalvando caracterizar-se como tentativa importante, não inclui todas as descrições específicas de como proceder à análise e identificar os elementos constituintes apontados, revelando uma importante lacuna de tecnologia e metodologia da análise cultural. Nesse sentido, a partir dessa literatura, uma vez mais justifica-se a execução de projetos para constituição e consolidação de estratégias de atuação consistentes na área de eficiência energética.

Martone e Todorov (2007) também trouxeram significativa contribuição à caracterização do conceito de metacontingência e à lógica dos delineamentos culturais. O objetivo do artigo mencionado é apresentar o desenvolvimento do conceito de metacontingência. Ao tentar descrever parte das complexas relações comportamentais que ocorrem no terceiro nível de variação e seleção, o conceito de metacontingência nos coloca frente a importantes questões conceituais e metodológicas com implicações diretas sobre a análise de contingências sociais, seja ela experimental ou não. Por exemplo, duas questões intrinsecamente relacionadas, uma conceitual e outra metodológica, são exemplos da importância e pertinência do desenvolvimento de estudos experimentais e descritivos sobre metacontingências: o problema da unidade de análise no nível cultural e, em se tratando de análise experimental, a variável crítica a ser manipulada no sentido de produzir, em condições controladas de laboratório, a seleção de um entrelaçamento específico de muitos comportamentos ao longo do tempo, desencadeando a transmissão do que Glenn & Malott (2004) denominam de “linhagem cultural” (ou culturante, em analogia a operante).

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Os autores retomam o modelo explicativo de seleção pelas consequências da Análise do Comportamento para facilitar o pleno entendimento de metacontingência. Ao apresentar o terceiro nível, de seleção cultural, os autores citam as dimensões controladoras do comportamento social, o controle por sistemas/grupos/agências sociais e, finalmente, citam que a relação existente entre os entrelaçamentos dos comportamentos de indivíduos e os efeitos que tais entrelaçamentos produzem sobre o ambiente social e não social e, ainda, a continuidade, através de várias gerações de indivíduos, desses entrelaçamentos e de seus efeitos, constituem uma prática cultural ou uma “linhagem cultural”. Citam Skinner (1981), na explicação do terceiro nível de seleção, que é constituído pela seleção de tais práticas culturais: “é o efeito sobre o grupo e não as consequências reforçadoras aos indivíduos membros do grupo, o responsável pela evolução da cultura”. Em seguida, os autores passam para a identificação de três formulações subsequentes à ideia de metacontingência primeiramente apresentada por Sigrid Glenn no artigo Metacontingencies in Walden II, de 1986 (ex: a democratização do Brasil nas “Diretas Já”, quando um número muito grande de operantes produziu um efeito coletivo, um produto agregado, sem função selecionadora previamente estabelecida):

1) Ênfase no processo seletivo do entrelaçamento de muitos operantes e, consequentemente, na transmissão de padrões comportamentais através do tempo (ex: prática de alfabetização, cujo produto – maior número de pessoas alfabetizadas – seleciona a prática através do tempo, mesmo que inúmeros operantes sejam controlados imediatamente por consequências individuais independentes);

2) A descrição das funções de diferentes efeitos ambientais produzidos pelo entrelaçamento (ex: a existência de um ambiente receptor – o público que frequenta um restaurante – para quem o produto agregado – a comida – de um entrelaçamento de contingência – operantes de garçons, cozinheiros,

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administrador, etc. – têm um efeito selecionador do entrelaçamento – continuar frequentando o restaurante);

3) Diferenciação entre processos de variação e seleção de muitos operantes semelhantes que ocorrem em nível individual (relações de macrocontingência) e processos de variação e seleção que ocorrem em nível cultural (relações de metacontingência). No caso da macrocontingência, o comportamento semelhante de muitos indivíduos – motoristas dirigem alcoolizados – não pode ser considerado uma unidade funcional única, passível de ser selecionada e propagada por um efeito coletivo (o qual existe, como alto índice de mortes no trânsito devido ao álcool, mas que não retroage selecionando qualquer prática). A prática cultural em questão congrega comportamentos funcionalmente e topograficamente semelhantes que não precisam, necessariamente, estar relacionados uns aos outros – motoristas dirigem sob influência do álcool geralmente de maneira independente uns dos outros, dirigem sob controle de consequências individuais. Apesar de intervenção que diminua o produto agregado – mortes no trânsito – e diminua a frequência dessa prática – menos motoristas que dirigem alcoolizados, o lócus de mudança ainda é o comportamento individual.

No caso da metacontingência, se faz possível a descrição de relações comportamentais complexas que envolvem comportamentos de muitos indivíduos, os resultados ambientais da interação desses indivíduos e necessariamente a transmissão de padrões comportamentais através do tempo (ou seja, o efeito selecionador do produto agregado sobre o entrelaçamento de contingências).

Para cada uma dessas discussões dos acréscimos conceituais que o conceito de metacontingências passou, os autores apresentam um diagrama representativo útil para a compreensão dos conceitos reformulados ao longo do tempo. Nesse sentido, esse artigo busca demonstrar o refinamento conceitual

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recente na área de análise cultural, procurando solucionar parte do problema conceitual próprio de uma área em desenvolvimento e ascensão.

Para Naves e Vasconcelos (2008), a família é um grupo social importante na vida de um indivíduo, ao promover sua socialização e assegurar a sua inserção em grupos sociais mais amplos, tais como os do Estado, Política, Educação e Religião. As autoras contextualizam o conceito de família de acordo com o momento histórico e considerações da Antropologia e da Psicologia. No conceito de família enquanto grupo de pessoas vinculadas por relações afetivas e/ou de consanguinidade que desenvolvem padrões de interação e possuem uma história de convivência que justifica tais padrões, destacam-se os três níveis de variação e seleção: o filogenético (consanguinidade/hereditariedade), o ontogenético (história dos operantes com subprodutos afetivos entre os membros) e o cultural (padrões de reforçamento social mantidos pelo agrupo atual com replicação da prática por membros da família). As autoras consideram que o conceito de metacontingência tem sido reconhecido como uma ferramenta útil para a análise das práticas culturais e é formada pelas contingências comportamentais entrelaçadas, pelo produto agregado originado a partir desse entrelaçamento e pelo sistema receptor que seleciona tais práticas culturais. Após uma breve revisão do desenvolvimento desse conceito, o artigo analisou duas práticas culturais presentes nas famílias brasileiras: o uso de práticas educativas parentais aversivas e a valorização ou desvalorização de determinados membros dentro da família. Observou-se que para uma análise mais ampla do comportamento de um indivíduo, é necessário considerar a transmissão e manutenção das suas práticas culturais.

Em relação ao que pode ser destacado como contribuição para a discussão dos problemas e lacunas da análise social, as autoras reafirmam a utilidade do conceito de metacontingência para auxiliar as análises culturais.

Em relação aos estudos de famílias, as autoras ressaltam que o conceito pode ajudar a identificar variáveis presentes em grupos e agências sociais (Estado, Mídia, Religião, Escola, Ciência, Economia) que controlam as interações dos

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membros da família brasileira, assim como tais agências sociais têm função receptora e selecionadora de muitas práticas culturais recorrentes em gerações familiares, como práticas educativas aversivas (por exemplo, reprodução de padrões de punições físicas e desvalorização em relação aos filhos sob controle dos modelos de educação das gerações anteriores presentes na maioria das famílias brasileiras, bem como o produto agregado dessa prática que gera diferentes formas de contracontrole – leis como o ECA – que não têm sido suficientes para mudar a reprodução de tal prática cultural). As autoras apresentam como recurso metodológico para essa e outras análises sobre práticas culturais familiares um levantamento histórico e revisão bibliográfica de diversas áreas sobre família – história do papel da paternidade e maternidade, desvalorização das crianças e mulheres, desenvolvimento de leis, dados estatísticos em geral sobre esses e temas similares. As autoras apontam que pouco se tem feito para o avanço da análise comportamental das práticas culturais e, dessa forma, defendem como solução para os problemas metodológicos que os primeiros estudos devem ser realizados em pequenos grupos dentro da sociedade, a partir de estudos observacionais e interpretativos das contingências comportamentais entrelaçadas dentro de sistemas culturais menores, para depois se avançar para a experimentação.

Com a metodologia empregada e discussão bibliográfica as autoras chegam à conclusão de que práticas educativas coercitivas foram desenvolvidas por diversas agências de controle e se mantiveram ao longo do tempo, de modo que, atualmente, essa prática pode ser mantida ou não dependendo da agência de controle envolvida. Ressaltam que interações entre os membros familiares pode ser um objeto de estudo rico de informações que contribuem para a especificação de contingências comportamentais entrelaçadas e, consequentemente, acerca da identificação do produto agregado originado dessas consequências.

Uma boa revisão crítica do “novo” conceito de metacontingência foi desenvolvida por Gusso e Kubo (2007). Trata-se de uma resenha crítica do

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livro Metacontingências: comportamento, cultura e sociedade, organizado por J.C. Todorov, R.C. Martone e M.B. Moreira, publicado em 2005 pela Editora ESETec. Os autores comentam que apesar do conceito de metacontingências ter completado 21 anos em 2007, a necessidade ou relevância do mesmo para o estudo dos fenômenos sociais ainda não foi completamente demonstrada. No texto, os autores ressaltam que:

-Glenn, 1986: Metacontingências em Walden II – embora a autora, nesse texto não ofereça definição clara e precisa sobre o conceito, traz muitos exemplos daquilo que vem a chamar, pela primeira vez, de metacontingências.

-Martone e Banaco, 2005 – A imprensa como agência e ferramenta de controle social – Os autores fazem a análise do controle comportamental exercido pelas agências de comunicação e as repercussões desse controle em uma cultura, assim como explicam as relações entre os níveis de análise comportamental e cultural. Os autores demonstram, com os recursos da análise comportamental, que o jornalismo imparcial não existe. Concordam em que noticiar, relatar, apresentar informações são comportamentos e, logo, são controlados por variáveis que devem ser conhecidas pelo público.

-Vichi, 2005 – No texto Igualdade ou desigualdade: manipulando um análogo experimental de prática cultural em laboratório – O autor demonstra a possibilidade de estudar em laboratório o que seria uma prática cultural, com o objetivo de avaliar o quanto metacontingência é um conceito que auxilia na visibilidade acerca da seleção de práticas culturais. Entretanto, com base nas definições desse artigo, os autores da crítica encontram um problema conceitual e metodológico, qual seja: qual a diferença precisa entre comportamento social e prática cultural? Isso é apontado como uma questão importante na medida em que os trabalhos da área apresentam muitas contradições conceituais.

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-Andery, Micheletto e Sério, 2005 – A análise de fenômenos sociais:

esboçando uma proposta para a identificação de contingências entrelaçadas e metacontingências e Andery e Sério, 2005 – O conceito de metacontingências:

afinal, a velha contingência de reforçamento é insuficiente? – Tais publicações apresentam de forma sintética as noções de “comportamento social”, “prática cultural”, “cultura” e “metacontingência”, que são centrais para o tipo de análise que tem sido realizada sob o nome de metacontingência. São boas referências para análise de fenômenos culturais em relação aos principais conceitos e diagramas utilizados, embora não fique evidenciada a diferença, com clareza de procedimentos, o que cabe respectivamente à análise comportamental e à análise cultural – ou seja, o mesmo problema conceitual e metodológico ressaltado anteriormente: dificuldade de definir o que é explicado pelo comportamento social e o que é explicado como uma prática cultural, assim como reafirma a lacuna de como proceder à análise cultural.

Os problemas conceituais apontados nesse texto, entre análise comportamental ou cultural, ou ainda, entre comportamento social e prática cultural, foram pouco discutidos em trabalhos posteriores a essa publicação e parece ainda não haver consenso na literatura sobre essa distinção, assim como sobre o procedimento de análise e intervenção cultural. Exemplos de problemas conceituais levantados pelos autores da crítica: leis são metacontingências ou descrevem metacontingências: Metacontingências descrevem práticas culturais ou são sinônimo das mesmas? O que é fundamental para o conceito de prática cultural? O que é fundamental no conceito e na diferença entre metacontingência e macrocontingência?

Além de comentários sobre os textos já mencionados, os autores enfatizam que seria possível uma intervenção em práticas culturais apenas com o conceito de contingências, ou seja, estabelecer de que forma as contingências são organizadas de maneira a atingir uma meta planejada ou descrever práticas culturais e controle de agências sociais. Enfatizam que a noção de metacontingência não tornará um novo campo de análise possível;

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poderá, talvez, aperfeiçoar as análises e sínteses culturais. Portanto, a meta dos analistas do comportamento, para esses autores, é encontrar e delimitar o quanto o conceito de metacontingência pode tornar as análises sociais mais eficientes.

Todorov e Moreira (2004), sinalizam que o estudo do comportamento em sociedades foi relegado por quase 50 anos, apesar das reiteradas propostas de Skinner considerando sua importância. Na década de 1980, Sigrid Glenn criou o conceito de metacontingência, que contribui como importante ferramenta para a descrição e análise do comportamento social. Neste artigo são apresentados alguns estudos envolvendo metacontingências e discute-se o papel do analista do comportamento no desenvolvimento de temas que abordam questões sociais, incluindo análise e modificação de práticas culturais. O artigo inicia a análise explicando que muitas de nossas práticas culturais trazem prejuízos à vida das pessoas, e que apesar dos grandes progressos técnicos e científicos, não há suficiente preocupação sobre o gasto dos recursos naturais ou com a excessiva poluição das águas e do ar, e menos ainda mecanismos de controle do uso da violência, seja por pessoas, por organizações ou por países. O autor aponta que a Análise do Comportamento tem considerável potencial para lidar com essas questões, mas que esse potencial tem sido pouco utilizado, apesar das contribuições de B.F. Skinner sobre a análise social e cultural como um componente fundamental do Behaviorismo Radical. É indicado que a ciência do comportamento tem se dedicado a resolver problemas principalmente de indivíduos, ainda que em organizações ou instituições, muitas vezes vítimas de um mau planejamento cultural, mas sem um instrumental teórico explícito que se aplicasse ao comportamento de grupos sociais. Nesse sentido é apontada uma autora que tem papel de destaque nesses estudos, Sigrid Glenn, que considerou que estudar sociedades e práticas culturais tendo como instrumento a contingência tríplice pode não significar êxito total, pois corremos o risco de reduzir a análise a um ponto que não mostra como se deu a evolução e a manutenção da prática em estudo. Ela apresentou o conceito de metacontingências definido

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como: “uma unidade que descreve as relações funcionais entre classes de operantes, cada classe associada a uma contingência tríplice diferente, e uma consequência de longo prazo, comum a todos os operantes na metacontingência”. Os comportamentos operantes dos membros do grupo formam um conjunto de ações coordenadas, geralmente chamado de prática cultural, que se relaciona a um ambiente comum aos membros. Práticas culturais envolvem o comportamento operante de grupos de pessoas que compõem a sociedade. Os autores também apresentam a denominação dada por Glenn à metacontingências cerimoniais e tecnológicas, e concluem afirmando que entende-se que o conceito de metacontingência amplia o campo de estudo da Análise do Comportamento, resgatando a preocupação de Skinner sobre planejamento cultural, já discutida em "Ciência e Comportamento Humano". Dizem ainda que “o desenvolvimento do conceito de metacontingência mostra a importância da realização da pesquisa básica, mas enfatiza o valor dos resultados desta pesquisa no estudo social.”

São apresentados também alguns estudos envolvendo metacontingências, como a análise da Constituição do Brasil sob o ponto de vista do conceito de metacontingência (Todorov, 1987), e o de Lamal e Greenspoon (1992) que descrevem uma metacontingência que controla a maioria dos comportamentos dos membros do Congresso dos EUA: a metacontingência da reeleição. Discute-se também o papel do analista do comportamento no desenvolvimento de temas que abordam questões sociais, incluindo análise e modificação de práticas culturais. Os autores lembram que esses estudos sobre metacontingências fazem parte de uma pequena amostra do trabalho que os analistas do comportamento começam a fazer em nível social, e que é preciso o aperfeiçoamento destes para que seja possível efetivar estudos sociais relevantes, aproveitando a oportunidade oferecida por verdadeiros experimentos naturais em andamento.

Excelente ensaio teórico é apresentado por Dittrich (2008a). De acordo com o autor, as consequências de práticas culturais retroagem sobre as

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culturas, no sentido de aumentar ou diminuir suas chances de sobrevivência. O livro Colapso, do biólogo e geógrafo norte-americano Jared Diamond, apresenta semelhanças marcantes com a teoria de Skinner, evidenciando que as consequências de práticas culturais têm influência decisiva sobre o destino das culturas. Esse artigo busca detalhar tais semelhanças, argumentando que o livro de Diamond (2007) serve como complemento à teoria skinneriana, pois ilustra com exemplos concretos as afirmações gerais de Skinner sobre a evolução das culturas e, com isso, confere-lhes maior clareza e credibilidade. O artigo considera que um dos aspectos mais interessantes e polêmicos da obra de Skinner é sua interpretação sobre a evolução das culturas, entendendo que a matéria-prima das culturas é o comportamento humano, e que as culturas caracterizam-se por suas práticas. Práticas culturais são conjuntos complexos de comportamentos executados por pessoas que interagem entre si, transformando seus ambientes físico e social. Tais práticas são não apenas modeladas e mantidas pelos membros de uma cultura, mas por eles transmitidas para as gerações seguintes. Elas caracterizam-se por produzir efeitos que retroagem sobre a própria cultura. Ademais, o autor lembra o que Skinner ressaltou, que "é o efeito sobre o grupo, não as consequências reforçadoras para membros individuais, que é responsável pela evolução da cultura". Dittrich aponta que o livro Colapso, de J. Diamond, embora não faça nenhuma referência a Skinner, serve como uma espécie de complemento à teoria skinneriana, ilustrando com exemplos concretos as afirmações gerais de Skinner sobre a evolução das culturas e, com isso, conferindo-lhes maior credibilidade e tornando-as mais facilmente compreensíveis. São apresentadas algumas das várias convergências entre a teoria da evolução cultural de Skinner e as evidências históricas apresentadas por Diamond. Ele aponta alguns fatores (como mudanças climáticas, neste caso, as naturais, ou seja, não influenciadas pelo homem; vizinhança hostil, como guerras, invasões, etc.;

declínio de parcerias comerciais essenciais e, por fim, as respostas da sociedade aos seus problemas ambientais, ou a ausência delas) que, isoladamente ou em conjunto ameaçam a sobrevivência das culturas, sendo que o principal deles é o gerenciamento inadequado dos recursos ambientais

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dos quais depende uma sociedade. Dittrich apresenta a ideia, referenciada tanto por Skinner quanto por Diamond, de que nenhuma cultura está em permanente equilíbrio, que o ambiente físico e as contingências sociais também mudam, e que o fato de uma sociedade existir, sobreviver, não significa que suas práticas tenham valor de sobrevivência. Nesse sentido é discutido que boas culturas não são apenas culturas que sobrevivem, mas culturas com boas perspectivas de sobrevivência – culturas nas quais a permanência de um status quo seja mais do que um feliz acidente, e nas quais o futuro seja uma preocupação constante. Uma cultura torna-se, provavelmente, ainda mais eficiente quando não apenas modifica práticas culturais, mas também reforça entre seus membros a "prática de mudar a prática" em função de suas possíveis consequências no longo prazo, sendo que dois extremos devem ser evitados pelas culturas: "respeito excessivo pela tradição e medo da novidade, por um lado, e mudança excessivamente rápida, por outro." A importância de manter ou modificar práticas culturais é um tema recorrente na obra de Diamond: "Talvez o segredo do sucesso ou fracasso de uma sociedade esteja em saber a quais valores fundamentais se apegar, e quais descartar e substituir por novos quando os tempos mudarem" (2005, p.

518). O "respeito excessivo pela tradição e medo da novidade", em especial, surge como determinante para o colapso de certas culturas. Diante disso Diamond apresenta um exemplo: “A adoção de costumes tipicamente europeus e cristãos entre os colonizadores da Groenlândia acelerou seu declínio, pois alguns destes costumes (na agricultura, na pecuária, na caça e na pesca) simplesmente não se adaptavam às condições ambientais da ilha. O autor aponta também a importância da existência de reforçadores imediatos, argumentando que: “No campo do planejamento cultural, o comportamento precisa ser controlado por consequências de curto prazo para que produza consequências benéficas de longo prazo.” E nessa medida, a utilização de reforçadores imediatos para a produção de comportamentos com consequências favoráveis à sobrevivência das culturas é a própria essência da ideia de planejamento cultural. No tópico: Bem Público e Bem Privado, Longo Prazo e Curto Prazo, Dittrich mostra que parece ser um padrão recorrente que:

Referências

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