REUNIÕES CIENTÍFICAS
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA SECÇÂO DE NEURO-PSIQUIATRIA
Sessão ordinária — 5 , fevereiro, 1944
PRESIDENTE : DR. PAULO PINTO PUPO
Paraplegia por tumor intradural. Laminectomia. Cura (com apresentação do doente), Dr. J. P . Marcondes de Souza.
O A. relata u m caso de paraplegia espasmódica n o qual, inicialmente,
foi diagnosticado mal de P o t t dorsolombar. A radiografia com lipiodol, punção raquidiana e o e x a m e do líquido céfalo-raquidiano m o s t r a r a m sinais de bloqueio raquidiano por t u m o r . A p ó s laminectomia evidenciou-se u m t u m o r
do t a m a n h o de u m a uva ao nível da 8.ª v é r t e b r a dorsal, j u n t o à face
poste-rior da medula, t e n d o sido facilmente separado com espátula. O e x a m e anátomo-patológico diagnosticou u m g r a n u l o m a t e l a n g i e c t a s i a . O A. c h a m a a a t e n ç ã o p a r a a raridade da localização deste g r a n u l o m a , que alguns autores
consideram c o m o forma de passagem e n t r e neoplasia e inflamação crônica, e para a sinonimia de botriomicoma, que n ã o deve ser empregada, pela con-fusão que pode causar com a botriomicose animal. P a r a terminar, foi apre-sentado o doente, perfeitamente curado.
Neurocirurgia nos Estados Unidos. Dr. A. de Mattos Pimenta.
O A. a p r e s e n t a as impressões gerais de u m a viagem e discute certos p r o b l e m a s neurocirúrgicos de maior atualidade. Descreve s u m a r i a m e n t e a viagem e estadia no I n s t i t u t o N e u r o l ó g i c o de N o v a York, o n d e freqüentou o Serviço de Stookey e T . P u t n a m , atual diretor. Classifica a organização do I n s t i t u t o N e u r o l ó g i c o como ideal p a r a estudo e t r a t a m e n t o das moléstias nervosas. Relata as visitas aos I n s t i t u t o s de Chicago e M o n t r e a l onde t r a -b a l h a m Bailey, O l d e -b e r g , Penfield, e organizados como o de N . Y o r k . D a Clínica M a y o t r o u x e as melhores impressões da o r g a n i z a ç ã o e do nível cien-tífico. A seguir descreve o Hospital da Universidade de Michigan, onde fez estágio, p e r t e n c e n d o ao "staff" neurocirúrgico c o m o assistente do Prof. M a x Peet. C h a m a a t e n ç ã o para a alta p a d r o n i z a ç ã o dos hospitais americanos e para a caraterística do trabalho em equipe das diversas especialidades. De modo geral, os serviços se dividem em clínica e cirurgia, e dentro desta divisão não há separação das especialidades; apenas os doentes são preferencialmente localizados. C o n s t i t u e m exceção os serviços de tisiologia, o I n s t i t u t o N e u r o -Psiquiátrico, a maternidade, a clínica infantil. Elogia o serviço de enferma-gem, descreve as finalidades e atividades do serviço social e sua colaboração no s e g u i m e n t o p ó s - o p e r a t ó r i o . O arquivo é geral para todo o hospital; u m a secção m a n t é m e m dia as observações e a classificação do n u m e r o s o m a t e
A p ó s decrever o serviço neurocirúrgico do D r . P e e t e de seus assistentes K a h n , W o o d s e List, passa a considerar diversos p r o b l e m a s neurocirúrgicos. Considera, em primeiro lugar, a semiología clínica e os processos paraclínicos, evidenciando particularidades tais c o m o : uso rotineiro da p u n ç ã o lombar com m a n o m e t r i a o b r i g a t ó r i a ; uso do oxigênio p a r a pneumencefalografias e ven-t r i c u l o g r a m s ; uso de a r subdural como meio diagnósven-tico e ven-terapêuven-tico e n e s ven-t e último caso com a m e s m a significação do p n e u m o t ó r a x em tisiologia, n o
in-túito de evitar aderências c e r e b r o m e n í n g e a s . O uso das mielografias gasosas está se intensificando, devido a a l g u n s a c r e d i t a r e m na a ç ã o irritante do lipiodol como corpo e s t r a n h o . R e l a t a ainda o incremento, no meio
neu-rocirúrgico, do e m p r e g o da arteriografia cerebral.
Passa, em seguida, a analisar a diferença clínica e p r o g n o s t i c a dos t u m o r e s na idade aduta e na infância. E x p õ e a situação atual do t r a t a m e n t o
cirúr-gico dos gliomas. Discute a questão dos t r a t a m e n t o s cirúrcirúr-gico e radioterápíco nos a d e n o m a s da hipófise. A respeito dos t r a u m a s craniomedulares diz que, g r a ç a s aos t r a t a m e n t o s de choque e à a ç ã o das sulfas, h á tendência a
intervenções mais precoces e mais a m p l a s ; especialmente nos casos de t r a u -mas medulares, onde a d r e n a g e m contínua da bexiga explica, em g r a n d e parte, o sucesso cirúrgico.
Relata o interesse de certas clínicas n o problema do hidrocéfalo, as di-versas operações preconizadas ,embora n ã o tivesse voltado entusiasmado com os resultados observados. Descreve as operações de secção do piramidal, da alça lenticular e descorticação, c o m o m é t o d o s de t r a t a m e n t o do difícil problema do t r e m o r parkinsoniano.
A respeito do problema da dor, c o m e n t a as neuralgias do trigêmeo, nas quais a ressecção seletiva r e t r o g a s s e r i a n a é a rotina. A c o r d o t o m i a é de indicação freqüente, h a v e n d o ainda t r a b a l h o s i n t e r e s s a n t e s a respeito da sistematização do feixe espinhotalâmico.
A s s u n t o de todos os dias nas clínicas neurocirúrgicas n o r t e - a m e r i c a n a s é a hérnia do núcleo pulposo. T o d o s casos de ciática crônica, após estu-dos sistematizaestu-dos, são encaminhaestu-dos à laminectomia exploradora, e s ã o tais os resultados obtidos, que os cirurgiões prescindem cada vez mais do
e m p r e g o da mielografia. P r o c e s s o terapêutico b e m difundido é a leucotomia e a lobotomia de Muniz, p o r é m n a d a há de novo a respeito de sua explicação terapêutica. A cirurgia da hipertensão arterial ainda se acha na
fase de discussão e experimentação, t e n d o evoluído g r a ç a s aos estudos de Peet, os quais permitem, nos casos bem indicados, u m b o m p r o g n ó s t i c o .
Sessão ordinária — 6, março, 1944
Semiología endocrina da hipófise. Métodos e interpretações. Prof. J.
Igná-cio Lobo. (conferência).
A s insuficiências da função s o m a t o t r ó p i c a são apreciadas a t r a v é s da m e -d i -d a -da e s t a t u r a e -dos -diâmetros vertexpúbis e pubicoplantar. Urna esta-t u r a e x esta-t r e m a m e n esta-t e reduzida j á é u m indício de que o n a n i s m o é de o r i g e m endocrina, m a s n ã o basta de per si p a r a g a r a n t i r a n a t u r e z a hipofisária da deficiência. N e m m e s m o a c o n s e r v a ç ã o das p r o p o r ç õ e s s e g m e n t a r e s con-firma a suspeita. Só o e m p r e g o dos o u t r o s m é t o d o s poderá esclarecer o c a s o : assim, por exemplo, o e x a m e radiológico da articulação do p u n h o m o s -t r a r á que a ossificação es-tá normal ou levemen-te a -t r a z a d a e se o pacien-te já tiver idade superior a 20 anos, ver-se-á que as epífises se c o n s e r v a m aber-tas. A genitalia é s e m p r e muito reduzida, do tipo infantil, pois o n a n i s m o hipofisário se a c o m p a n h a s e m p r e de insuficiência da função g o n a d o t r ó p i c a da hipófise. O nível m e n t a l é n o r m a l . A resposta ao t r a t a m e n t o h o r m o n a l específico é muito i n g r a t a por não se dispor de preparações ativas. Estes dados diferenciam o n a n i s m o hipofisário: 1.°) do n a n i s m o tireóideo, em que a idade óssea é sempre m u i t o mais a t r a s a d a , a t r a s o este mais acentuado do que o c o r r e s p o n d e n t e a t r a s o do c r e s c i m e n t o ; em que, além disso, existe g r a n d e baixa do nível m e n t a l e a r e s p o s t a a o t r a t a m e n t o h o r m o n a l é satis-fatória pelo m e n o s p a r a o "déficit s o m á t i c o ; 2.°) do n a n i s m o distrófico, em que a curva do crescimento e a evolução da genitalia são s e m p r e m e l h o r e s ; 3.°) do nanismo gonadal, em que o desenvolvimento da genitalia até é p r e -coce; 4.°) do n a n i s m o acondroplástico, em que o c o m p r i m e n t o do t r o n c o é n o r m a l , ao passo que o dos m e m b r o s é m u i t o reduzido.
U m e x a g e r o da função s o m a t o t r ó p i c a acarreta, d u r a n t e o período de
crescimento, um g i g a n t i s m o longitudial que se diferencia do g i g a n t i s m o eunucóide p o r q u e neste a genitalia n ã o se desenvloveu, e a medida pubicoplantar se apresenta m u i t o avantajada. A hiperfunção s o m a t o t r ó p i c a q u a n d o ocorre
depois que as epífises ósseas estão soldadas, acarreta o conhecido quadro da acromegalia, no qual se encontra, além do crescimento das extremidades, p r o -liferações ósseas justa-articulares d e m o n s t r á v e i s pelo e x a m e radiográfico: nesta afecção é freqünte o aparecimento de hiperglicemia e, às vezes, até de ver-dadeiro diabete ocasionado p o r um excesso de h o r m ô n i o diabetógeno, secre-t a d o pelas m e s m a s células eosinófilas da hipófise ansecre-terior. A secre-t é o presensecre-te u ã o foi possível d e m o n s t r a r , em ensaios biológicos, a presença de u m excesso de h o r m ô n i o de c r e s c i m e n t o nos líquidos orgânicos, talvez porque a c o n c e n t r a ç ã o
dele n ã o seja suficiente p a r a induzir u m a resposta positiva nos animais hipofisectomizados. É possível que a c h a m a d a hiperostose frontal interna t a m b é m seja ocasionada por u m a hiperfunção hipofisária, pelo m e n o s transitória, e
com reatividade particular do efetuador periférico. N ã o d a m o s g r a n d e im-portância, p a r a apreciação das hiperfunções hipofisárias, à medida da a ç ã o especifico-dinámica, porque o a u m e n t o desta n ã o é de t o d o c o n s t a n t e .
U m a p r o d u ç ã o m a i o r do ou dos h o r m ô n i o s metabólicos n a hipófise só encontrou t r a d u ç ã o a t é hoje nos diabéticos que a c o m p a n h a m o gigantismo
ou a acromegalia. Talvez t a m b é m a l g u m a s formas de diabetes insulino-resistentes e n c o n t r e m sua explicação na existência de u m a hiperfunção absoluta ou relativa da hipófise anterior.
É de se n o t a r que só os h o r m ô n i o s s o m a t o t r ó p i c o s e metabólicos da hipófise possuem u m a ação geral sobre o o r g a n i s m o , isto é, u m a ação que se realiza sem a mediação necessária de o u t r a s glândulas de secreção interna. A l t e r a ç õ e s da função lactogênica da hipófise se t r a d u z e m , quando há deficiência, por hypogalactia; q u a n t o à hiperfunção, existem alguns casos r a r o s de secreção láctea fora do período n o r m a l de lactação.
E x i s t e ainda u m q u a d r o de m i x e d e m a pituitário ocasionado por déficit de "harmonio tireotrópico, e que só pode ser diferenciado do m i x e d e m a tireóidio, p o r q u e naquele a a d m i n i s t r a ç ã o de tireoglobulina a g r a v a os fenômenos o r g â -nicos por a c e n t u a r a insuficiência supra-renal concomitante.
A s deficiências da função g o n a d o t r ó p i c a da hipófise, q u a n d o concomitan-tes a u m a deficiência da função somatotrópica, originam o já citado n a n i s m o hipofisário, e quando n ã o a c o m p a n h a d a s por u m a p e r t u r b a ç ã o do crescimento, e n g e n d r a m o quadro da distrofia adiposogenital ou do eunucoidismo.
A etiología hipofisária da primeira das afecções é indicada pelos três fatos s e g u i n t e s : 1 ) a presença de obesidade, devida, n ã o p r o p r i a m e n t e a u m dis-túrbio da hipófise, mas a u m disdis-túrbio das regiões vizinhas do diencéfalo; 2 ) pelo achado, em alguns casos, de alterações rumoráis ( t u m o r cromófobo da própria glândula p i t u i t a r i a ) ; 3 ) pela reatividade efetiva desta áfecção ao t r a -t a m e n -t o com g o n o d o -t r o p i n a coriônica.
J á o eunucoidismo não se pode dizer se é s e m p r e devido a u m a alteração primária da hipófise ou da g ô n a d a : talvez a r e s p o s t a ao t r a t a m e n t o ou a dosagem de g o n a d o t r o p i n a na urina possam, em alguns casos, diminuir as d ú v i d a s .
A s alterações da função g o n a d o t r ó p i c a que se processam na idade adulta em indivíduos a t é e n t ã o normais, se caraterizam n ã o mais p o r r e g r e s s õ e s morfológicas, m a s por u m a b a i x a m e n t o ou p e r d a da função gonádica. Deve-se assinalar que todos os m é t o d o s de exame direto que d e m o n s t r e m este abai-x a m e n t o da função n ã o indicam, de per si, se o déficit é primitivo das g ô n a d a s ou da hipófise. P a r a esclarecer este estado só dispomos da d e t e r m i n a ç ã o da •
excreçã o urinaria das g o n a d o t r o p i n a s . Se o distúrbio fôr primitivo das g ô -nadas, o teor de h o r m ô n i o g o n a d o t r ó p i c o na urina estará a u m e n t a d o , caso c o n t r á r i o êle estará diminuído ou será nulo.
P o d e r á t a m b é m servir de indício de o r i g e m hipofisária da afecção a simultaneidade de u m o u t r o distúrbio de n a t u r e z a evidentemente hipofisária, como é o caso, por exemplo, das a m e n o r r é i a s que se instalam na acromegalia o u estados acromegalóides. N ã o deve s u r p r e e n d e r esta dificuldade de distin-ção etiológica em vista das relações recíprocas que p r e n d e m a hipófise e as g ô n a d a s entre si.
Da m e s m a forma as afecções que se caraterizam p o r inversão dos carac-t e r e s sexuais secundários, muicarac-to mais c o m u n s n a m u l h e r d o que no h o m e m
(voz grave, hirsutismo, hipertrofia do clitoris, etc.) s ã o devidos Q U a u m a r r e n o b l a s t o m a do ovário ou a u m t u m o r ou simples hiperplasia da c ó r t e x supra-renal. N e s t a última eventualidade é às vezes possível que a hiper-plasia da c ó r t e x seja secundária a um a d e n o m a basófilo da hipófise anterior
(ou, pelo menos, a alterações citológicas} e assim nos defrontamos com a debatida questão de saber-se quando estas s í n d r o m e s adrenogenitais são de origem córtico-supra-renal ou quando constituem a síndrome de Cushing. H á alguns dados sintomatológicos que, q u a n d o presentes (osteoporose, por exemplo) a p o n t a m a etiologia hipofisária e outros, como a hipertensão a r t e -rial, que, quando ausentes, p õ e m - n a em cheque, mas a v e r d a d e é que u m m é t o d o semiológico s e g u r o para distinguir entre as duas possíveis causas
n ã o existe, m o r m e n t e nos casos de caraterização incompleta. E m tese, ter-se-ia que pensar que a dosagem de h o r m ô n i o s g o n a d o t r ó p i c o s pudesse auxiliar n a diferenciação; entretanto, os dados a t é hoje a c u m u l a d o s a tal respeite n a d a
p e r m i t e afirmar.
O s casos de p u b e r d a d e precoce na mulher, q u a n d o não devidos a u m t u m o r de células g r a n u l o s a s d o ovário, são de o r i g e m hiporfisária.
F i n a l m e n t e , u m a insuficiência global de todas as funções da hipófise
an-terior acarreta o quadro da caquexia hipofisária ou doença de Simmonds, quase sempre muito difícil de ser diferenciada da anorexia nervosa. A não ser os casos em que aquela se instale após um parto, parece que a
Sessão extraordinária — 21, março, 1944
Lesão completa dos plexos lombar e sacro por seminoma. Drs. Oswaldo
Lange, J . M. Taques Bittencourt e Romeu Cuócolo Sobrinho.
Este trabalho será publicado, na íntegra, no próximo número desta revista.
Patologia e terapêutica da ansiedade. Revista sumária do problema. D r .
Edmur de Aguiar Whitaker.
O A. faz considerações sumárias acerca da patologia e terapêutica da ansie-dade. Esquematiza uma classificação das manifestações ansiosas baseada nas várias afecções ou estados mórbidos que a desencadeiam. Estuda o tratamento da an-siedade pelo hipossulfito de magnesio, referindo-se a numerosos casos que observou pessoalmente e em colaboração com Fausto Guerner. A s conclusões, baseadas cm cerca de 90 casos, são favoráveis; entretanto, precisa as indicações do hipossulfito de magnesio e mostra como seus efeitos parecem completar-se, em certos casos, com outras práticas terapêuticas. A conclusão final é de que, nos casos indicados, para a remoção da ansiedade, o hipossulfito de magnesio figura como agente valioso, quer como adjuvante, quer como a principal terapêutica.
O valor da reação de Steinfeld na paralisia geral progressiva. Drs. J o ã o
Batista dos Reis e Ciríaco Amaral Filho.
Os AA., durante vários anos. estudaram o valor da reação de Steinfeld nos paralíticos gerais da Colônia " F r a n c o da R o c h a " , secção de neurossífilis do Hospital de Juquerí. O número de casos estudados foi de 413, sendo que 260 eram agudos, isto é, pacientes que ainda não haviam sido submetidos a trata-mento especializado, e os demais eram crônicos. E m muitos doentes observados foram colhidas diversas amostras de liquor, nos diversos períodos de evolução da moléstia, para se estudar as modificações observdas no decurso terapêutico e tentar tirar uma dedução do valor prognóstico da referida reação. Apresentam, afinal, as seguintes conclusões: 1) a reação de Steinfeld mostra-se, nos casos agudos de paralisia geral e taboparalisia, positiva em elevada porcentagem ( 9 1 % ) ; nos casos crônicos, entretanto, esta positividade é muito menor ( 4 2 % ) , predomi-nando as reações negativas. 2) A dedução prognostica, baseada na reação de Steinfeld, ainda não está demonstrada de modo claro; entretanto, nosso estudo sugere que a negatividade da reação de Steinfeld em casos agudos de paralisia geral oferece um prognóstico favorável enquanto a sua positividade persiste em exames seriados é indício de mau prognóstico. 3) A observação da diminuição òa intensidade da reação ou a sua negativação após tratamento não informa de modo evidente sobre a melohria do quadro mental que sofre evolução variada. 4) Estudando a influência do tratamento (malária ou quimioterapia) verificamos que, por vezes, há uma reativação, isto é, aumento de intensidade da reação, para depois decrescer ; na maioria dos casos, a reação tende à negatividade após trata-mento, havendo casos não influenciados em que a reação persiste positiva na dose de 1 c.c. de liquor. 5) O estudo comparativo entre a evolução das reações de
Steinfeld e de Wassermann, em exames seriados, demonstrou que a reação da Steinfeld acompanha geralmente, com menos sensibilidade, a reação de Wassermann, sendo absoluta raridade demonstrar-se o fato contrário, isto é Steinfeld positiva em doses menores que a Wassermann. 6) Em relação à causa do óbito
Sessão ordinária — 13, abril, 1944
Psicanálise e honorários médicos. Dr. Paulo Lentino.
Baseado em 2 1 observações consignadas no registro de sua clínica particuar. o autor comenta os complexos de inferioridade que se instalam nos pacientes par-ticulares nos quais o tratamento psicanalítico é feito gratuitamente, e as dificul-dades que daí decorrem para o médico.
Sobre a leucotomia de Egas Monis. Técnica e resultados. Dr. Antonio
Carlos Barreto.
Este trabalho será publicado, na íntegra, no próximo número desta revista.
CENTRO DE ESTUDOS FRANCO DA ROCHA
Sessão ordinária — 21, janeiro, 1944
PRESIDENTE: DR. FRANCISCO TANCREDI
Considerações a propósito de um caso de afasia (com apresentação do doente).
Drs. Paulo Pinto Pupo e Mario Robortella.
Os AA. fazem, inicialmente, um apanhado geral sobre o conceito atual das afasias, começando com um retrospecto sobre a integração normal da função f]a
linguagem e estudando a seguir os seus aspectos anatômico, fisiológico e psico-lógico. Adotam a classificação das afasias em afasias de expressão e de com-preensão, considerando aqueles distúrbios apráxicos específicos para a linguagem articulada e englobando nestas os diversos tipos de afasias com perturbações do reconhecimento simbólico da linguagem e da própria linguagem interior. Repu-tam esta classificação bastante simples e de incontestável valor didático e clínico.
A seguir apresentam o paciente que, anteriormente à moléstia, foi d e bom desenvolvimento intelectual e de regular cultura geral. Sempre foi homem de grande atividade em negócios, até que em setembro último foi acometido de um distúrbio circulatório encefálico que acarretou instalação progressiva de uma hemi-plegia direita com predominância braquial, e de uma afasia total (dt compreensão e de expressão). Além disso, distúrbios sensitivos no membro superior direito, distúrbios apráxicos frustos e hemianopsia lateral direita. Reações serológicas para lues fortemente positivas. O exame do líquido cefalo-raquidiano revelou ligeira hipercitose e hipertensão de 35 mm. (Claude), estando o doente sentado.
O exame pneumoencefalográfico revelou dilatação assimétrica dos ventrículos laterais, com predominância do ventrículo lateral esquerdo em sua porção parietoccipital. Diagnóstico: arterite luética com trombose de ramo cortical da silviana. Síndrome de lesão cortico-subcortical do lobo parietal esquerdo. A hemiplegia
Fizeram o estudo detalhado das perturbações da linguagem e instituíram o reaprendizado intensivo como terapêutica. Os fenômenos afásicos regrediram sen-sivelmente, apresentando o paciente, em novembro último, desordens acentuadas da linguagem interior e da articulação das palavras, sendo que atualmente já consegue compreender em grande parte o que se lhe diz conseguindo também manter conversação, achando-se, entretanto, ainda perturbada a expressão verbal de modo acentuado. Alexia e agrafia persistem. Escreve séries inteiras de nú-meros e as lê, não conseguindo escrever núnú-meros isolados, quando solicitado para
isso, e nem mesmo 1er números isolados. Os fenômenos de parafasia e jargonofasia são ainda relativamente numerosos em sua expressão verbal. A o lado disso, o paciente mantém íntegro o seu intelecto, possui todo o acervo dos
co-nhecimentos adquiridos em sua vida, reconhece e avalia adequadamente o seu estado de afasia, está perfeitamente orientado no tempo e no meio e consegue andar sozinho pelas ruas de S. Paulo, sem se perder ou se equivocar. Mantém boa iniciativa e normal afetividade. O indivíduo se comporta como pessoa normal em terra estrangeira — perdeu somente a capacidade de se comunicar com seus semelhantes por meio de símbolos da linguagem.
Afasia de tipo particular num paciente de "doença de Alzheimer" (com apre-sentação do doente). Dr. Anibal Silveira.
Trata-se de um paciente de 62 anos de idade, internado no ano anterior no Hospital de Juqueri. N ã o são conhecidos pormenores sobre a história clínica nem os dados heredológicos, mas o comportamento objetivo e os sintomas clínicos são típicos da doença de Alzheimer. N o quadro releva notar: 1) acentuada carência de iniciativa, do tipo da do lobo frontal; satisfatória capacidade para avaliar a própria situação bem como para orientar-se em relação ao meio ; ex-pressão em geral extremamente perturbada — salvo quanto à mímica. 2) reações afetivas aparentemente sem alteração, apesar do aparente embotamento ; normal capacidade de autocondução objetiva. O déficit de expressão constitui a nota prin-cipal do quadro, sendo mesmo eventualidade r a r a : consiste em agramatismo no sentido de perda de um elemento de prosódia — o substantivo. Daí resulta o r e c u r s o a perífrases, que se t o r n a m intermináveis para o paciente, que não consegue vencer aquele obstáculo na locução verbal. O s m o d i s m o s de lin-g u a lin-g e m verbal e as expressões afetivas a c h a m - s e p l e n a m e n t e conservadas. N ã o se n o t a m o u t r o s distúrbios focais, c o m o agrafia intrínseca, alexia, apraxia m o t o r a ou ideomotora.
N e n h u m a a l t e r a ç ã o do líquido cefalo-raquidiano no período atual. Foi
feito o diagnóstico clínico de doença de Alzheimer, com lesões parietotemporais como primitivas, e frontais c o m o secundárias, de repercussão.
Sessão ordinária — 25, fevereiro, 1944
Acidentes mecânicos da convulsoterapia. Drs. Celso Pereira da Silva e Paulo
Ferreira de Barros.
O s A A . r e ú n e m todos os casos de acidentes mecânicos da convulsoterapia ocorridos no Hospital de Juqueri num período de 55 meses, isto é, desde maio
de 938, época em que se registrou o primeiro caso de fratura, até dezembro de 1942. Estudam apenas os casos que demandaram o concurso do serviço de radiologia para a sua elucidação, de modo que, na casuística apresentada, estão
naturalmente excluídas as luxações simples, reduzidas pelo próprio médico assistente, sem necessidade do controle radiológico. Os dados estatísticos apre-sentados não têm um caráter de rigor absoluto, porquanto em algumas sessões do Hospital de Juqueri a terapêutica convulsivante não é feita de modo siste-mático, faltando, pois, dados informativos exatos sobre o número de doentes tratados. Em 1.843 pacientes submetidos aos tratamentos convulsivantes (cardiazol e eletrochoque) registraram os AA. os seguintes acidentes: 4 casos de fratura de coluna dorsal pós-cardiazol e 1 pós-eletrochoque; 1 caso de fratura do colo do femur pós-cardiazol; 3 casos de fraturas dos dois colos femurais cardiazol; 1 caso de fratura do ramo horizontal do púbis pós-cardiazol; 2 casos de fratura do úmero pós-pós-cardiazol; 1 caso de fratura do acrômio pós-eletrochoque; 1 caso de fratura da clavícula pós-cardizol; 1 caso de luxação da articulação escápulo-umeral pós-cardiazol. Em resumo,
regis-traram 13 casos de acidentes ostearticulares pós-cardiazolterapia e 3 pós-eletrochoqueterapia. Nos casos observados, os AA. analisam os vários fatores que poderiam ser incriminados como responsáveis pelos acidentes: condições
Sessão extraordinária — 13, março, 1944
Impressões de viagem aos Estados Unidos. Dr. Aloísio Mattos Pimenta.
Esta comunicação é a mesma feita à Secção de Neuro-psiquiatria da
Associação Paulista de Medicina em 5 de fevereiro de 1944.
Síndrome digestiva neuroanêmica. Considerações sobre um caso. Dr. Ernaní
Borges Carneiro.
Sessão ordinária — 22, março, 1944
Psicoses psicógenas. A propósito de dois casos. Drs. André Teixeira Lima e
Francisco Tancredi.
N o primeiro caso, t r a t a v a - s e de u m sentenciado que, pouco após a prática de atos de libidinagem com duas filhas, m e s m o antes da prisão, começou a a p r e s e n t a r alucinações auditivas com o c a r á t e r acusatorio e imperativo, ao lado de fenômenos de a u t o m a t i s m o m o t o r , períodos de excitação psico-motora, tentativas de suicídio, e t c , fenômenos estes que se a g r a v a r a m , a p ó s a prisão. P a s s a d a essa fase de auto-punição, o paciente, por m e c a n i s m o de projeção, c o m p e n s a ç ã o e refúgio, afastouse da realidade, recalcando o delito e e s t a b e -lecendo u m q u a d r o de pseudologia fantástica, na qual ainda se encontra m e r c ê do que d e s a p a r e c e r a m os anteriores fenômenos, estabelecendo-se absoluta calma
intrapsíquica. A p r e s e n t a ainda o paciente raros acessos convulsivos epileptiformes admitidos pelos A A . como de o r i g e m orgânica e por provável dispo-sição hereditária. O segundo caso prende-se a u m paciente jovem, com u m
q u a d r o esquizofrênico, sem d e s a g r e g a ç ã o intelectual, apenas com distúrbios afetivos, em cuja história, bem a p a n h a d a p o r informes seus e de terceiros, pôde ser assinalada a existência de t r a u m a s afetivos, ocorridos na infância e puberdade, criando u m a série de recalques e sintomas neuróticos graves. P o s t e r i o r m e n t e , com o casamento, estabeleceu-se u m a coitofobia, surgindo daí por diante os fenômnos psicósicos, r o t u l a d o s como r e a ç ã o esquizomorfa.
Sessão extraordinária — 27, março, 1944
Angústia — ação psicógena sobre o hipotálamo. Prof. Flamínio Vidal
(do-cente da Universidade de Buenos A i r e s ) . Conferência.