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Publicado por:

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

URL

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URI:http://hdl.handle.net/10316.2/26071

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28-Jan-2021 13:40:26

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(2)
(3)

dos rendimentos

I

"

O Imposto

Único de Rendimento Pessoal"

(Um comentário)

A publicação no "Boletim de Ciências Económicas" de uma Lição de Finanças Públicas proferida pelo Professor Teixeira Ribeiro, em Outubro de 1987, subordinada ao terna "O Imposto Único de Rendimento Pessoal", veio a dar ori-gem a um "complemento" dessa Lição pela pena (ou pela máquina) de Amôal Almeida e igualmente publicado no referido Boletim, Vol. XXII, sob o título "Desigualdades e Progressividade" .

A clareza da aula de Teixeira Ribeiro - característica a que, como justamente nota Amôal Almeida, há muito nos habituou - vem reforçada pela forma como se estrutura em torno de três temas essenciais, colhidos no art. 107.0

da Constituição: (i) a unicidade do imposto; (ü) a progressividade da taxa; (li) a familiaridade.

(4)

Ao abordar o segundo tema - a progressividade da taxa do imposto - somos, de imediato, advertidos que a progres-sividade não "é consequência necessária do objectivo da diminuição das de igualdades", objectivo esse claramente enunciado no já referido art. 107. o da CRP.

É neste contexto que o Professor Teixeira Ribeiro nos apresenta a sua ideia central: a desigualdade na distribuição do rendimento deve medir-se pela diferença entre os rendimentos, antes e depois do imposto, e não pela respectiva relação.

o

contributo de Aníbal Almeida insere-se no último aspecto referido. Partindo do enunciado "literário", apoiado num exemplo numérico, que nos é dado por Teixeira Ribeiro, Aru'bal Almeida apresenta-nos uma expressão matemática com a qual põe "o problema em equação". Utilizando essa expressão, podemos determinar com rigor o modo como varia a diferença entre rendimentos, dependendo ela da relação entre as taxas do imposto aplicável. Mais concretamente, pode proceder-se à verificação precisa da afirmação de Teixeira Ribeiro segundo a qual um imposto regressivo só não faz diminuir a diferença entre rendimentos quando a taxa decresce

"na mesma ou maior proporção do que aquela em que aumenta a matéria colectável".

Mas tudo isto supõe, obviamente, a aceitação da proposta central de Teixeira Ribeiro segundo a qual a desigualdade sempre se deve avaliar pela diferença entre rendimentos. Mais exactamente, uma diminuição ou aumento da diferença abso-luta entre dois quaisquer rendimentos deve ser interpretada como uma diminuição ou aumento da desigualdade na dis-tribuição.

Este novo desenvolvimento à volta da mesma questão fez-me relembrar as dúvidas que senti aquando da leitura do

(5)

texto da Lição do Professor Teixeira Ribeiro. Por isso mesmo, resolvi retomar as breves notas que então arquivei e tecer as considerações que se seguem.

*

Comecemos por rever o argumento de Teixeira Ribeiro, cuja apresentação se baseia em dois exemplos.

Suponha-se a existência de dois contribuintes (A) e (B)

com rendimentos iniciais de, respectivamente 100 e 1000. Se admitinnos agora que sobre eles incidem impostos de tipo diferente o resultado é o seguinte:

Imposto Progressivo 10% Proporcional 10% Regressivo 10% QUADRO I Rendimento A 100 90 20% 90 10% 90 5% Diferença B B-A 1000 900 800 710 900 810 950 860

Pode ver-se como qualquer dos tipos de imposto con-segue diminuir a diferença inicialmente existente entre os rendimentos de (A) e de (B).

É neste ponto que Teixeira Ribeiro conclui: "Como se vê, em qualquer dos casos a diferença - e portanto a desigual-dade - diminui." (grifei)

Em defesa deste ponto de vista, dá-nos, em nota, um novo exemplo com o qual pretende mostrar que a desigualdade na distribuição deve aferir-se pela diferença entre rendimentos e não pela respectiva relação.

(6)

QUADR II

Rendimento Diferença Relação

A B B-A B/A

100 1000 900 10

500 4000 3500 8

Por e te exemplo eríamo levados a concluir que "a de i-gualdade é diferença e não relação",já que, e as iro não fosse, quando o rendimentos passam de 1 00 para 500 e de 1 000 para 4000 "teria de admitir- e que aquela [de igualdade] é maior no momento inicial do que no último, quando sucede obviamente o

cOtltrário." (grifei)

Ora, ao meu olhos, esta conclusão óbvia não surge como tal. Toma-se, por isso, neces ário testar o exemplo apresentado de modo a determinar se, com efeito, ele representa a

ilus-tração de um caso de aumento da desigualdade.

Retomemos, então, o Quadro II. O que nele se faz é

apresentar dois rendimento iniciais ba tante desiguais - um

é décuplo do outro -, procedendo-se depois à multiplicação de cada um dele por um factor diferente. O rendimento de

(A) é multiplicado por 5 e o de (B) por 4. Ao fazer esta multi-plicação, o Professor Teixeira Ribeiro apresenta como

evi-dência que o aumento da diferença entre os rendimentos prova uma maior desigualdade na repartição. Seguindo esse

racio-cínio, se repetíssemos a operação e a diferença voltasse a

aumentar, mais urna vez tínhamos de concluir que a

desi-gualdade também tinha aumentado. Vamo então levar esta lógica até ao fim. Multipliquemos sucessivamente os

rendi-mentos de (A) por 5 e os de (B) por 4. Preste-se atenção ao quadro seguinte.

(7)

QUADRO III

Rendimentos Diferença ReI.

Ax5 Bx4 B-A B/A O 100 1000 900 10 1 500 4000 3.500 8,00 2 2500 16000 13.500 6,40 3 12.500 64.000 51.500 5,12 4 62.500 256.000 193.500 4,09 5 312.500 1.024.000 711.500 3,27 6 1.562.500 4.096.000 2.533.500 2,62 7 7.812.500 16.384.000 8.571.500 2,09 8 39.062.500 65.536.000 26.473.500 1,67 9 195.312.500 262.144.000 66.831.500 1,34 10 976.562.500 1.048.576.000 72.013.500 1,07 A-B 11 4.882.812.500 4,194.304.000 688.508.500

Se a desigualdade fosse a diferença e não a relação, ela teria aumentado do período O para o período 1. O mesmo iria acon-tecendo de cada vez que efectuássemos uma multiplicação dos rendimentos idêntica à primeira. Como pode comprovar-se pela coluna que assinala a diferença entre os rendimentos (A) e (B), essa diferença vai sempre aumentando, enquanto na coluna da direita podemos ver que a relação vai sempre diminuindo. No décimo período a diferença atingiria o valor máximo de 72.013.500. Teríamos então de dizer que, ao passar de período para período, estavamos perante um processo cumulativo de acentuação das desigualdades. Mas uma tal conclusão é logicamente impossível. Como pode afirmar-se que o aumento da diferença é sinónimo de maior desigualdade quando, chegados ao décimo primeiro período, o rendimento

(8)

de (A) se toma maior que o de (B)? Seria paradoxal que, por um lado, a de igualdade na repartição estivesse continuamente a aumentar - porque aumenta a diferença - e, por outro, esse mesmo processo conduzi se a que o rendimento pressuposta-mente em desvantagem - o de (A) - acabasse por se tomar maior que o de (B). Este resultado final só é compreensível se admitirmos que a de igualdade, em vez de se ir acen-tuando, vai, pelo contrário, diminuindo, tal como resulta do comportamento da relação entre os dois rendimentos. Daí que a diferença entre os rendimentos não possa ser tomada como elemento aferidor da de igualdade.

Para fazer uma contraprova bastaria multiplicar o rendi-mento de (A) por 4 e o de (B) por 5. É claro que, por mais que prolongássemos os cálculos nunca o rendimento de (A) alcançaria o de (B). Pelo contrário, estariam cada vez mais afastados. A repartição seria, então, mais desigual. Não porque a diferença aumentasse - já que também no caso anterior vimos isso acontecer - mas porque a respectiva relação era agora crescente.

Comparar as diferenças absolutas levava-nos a dizer que a diferença passa de 900, no período O, para 72.013.500 e que, portanto, a desigualdade tinha aumentado; comparar as dife-renças relativas conduz à afirmação de que no período

°

o rendimento de (B) era 900% mais elevado que o de (A), enquanto no período 10, é apenas 7% maior.

Há, porém, um terceiro caso ainda não considerado. E se os rendimentos forem multiplicados por um factor comum? Será que então a diferença avaliará a desigualdade? Vejamos um novo quadro.

(9)

QUADRO IV

Rendimentos Diferença ReI.

Ax5 B x5 B-A B/A

O 100 1000 900 10 1 500 5000 4.500 10 2 2500 25000 22.500 10 3 12.500 125.000 112.500 10 4 62.500 625.000 562.500 10 5 312.500 3.125.000 2.812.500 10 6 1.562.500 15.625.000 14.062.500 10 7 7.812.500 78.125.000 70.312.500 10 8 39.062.500 390.625.000 351.562.500 10 9 195.312.500 1.953.125.000 1.757.812.500 10 10 976.562.500 9.765.625.000 8.789.062.500 10

Será que com este exemplo é evidente que estamos perante um caso de acentuação das desigualdades? Numa primeira aproximação seríamos talvez tentados a dizer que sim. Quando a diferença passa de 900 para quase 9 milhares de milhões sentimo-nos atraídos pela dimensão deste valor e é por isso que talvez alguém dissesse que no período 10 a desigual-dade é maior que no período O, não obstante a relação entre os rendimentos ser constante. Mas estamos a ser levados por uma aparência que resulta da comparação entre valores absolutos muito afastados entre si e sem os integrar numa qualquer lógica económica. Ora veja-se, com o auxilio de uma pequena est6ria, o que sucede quando os valores de partida são mais aproxima-dos e os resultaaproxima-dos interpretaaproxima-dos à luz de comportamentos económicos facilmente admissíveis.

(A) e (B) são duas crianças que frequentam a escola primá-ria. (A) recebe uma mensalidade de 100$00, (B) uma de 110$00. A diferença é de 10$00. Com estas mensalidades (A)

(10)

compra 10 caramelo e (B) 11. Todo e taremo de acordo que

aqui e tá repre entada uma pequena de igualdade entre os dois

rendimento . Admita-s que a crianças já cresceram e

fre-quentam agora o 10.0

ano do ensino ecundário. (A) recebe

como men ali da de 1000 00 e (B) 1100$00. A diferença

pas-ou a er de 100. E taremo perante um aumento da

desigual-dade relativamente a ituação inicial? Parece que não. Com e e rendimento (A) vai 10 vezes ao cinema enquanto (B)

con egue ir 11 veze . O aumento ab oluto da diferença já não

no urge como particularmente significativo. Se, finalmente,

e admitir que os jovens ão agora dois competentes

profissio-nais e que (A) recebe mensalmente 100. $00 e (B) 110.0 $

a diferença passa a er de 10.000. Podemos concluir que

quando crianças - em que a diferença de rendimentos era de

10 - e tavam numa po ição mais igualitária do que agora - em que a diferença é de 10.000? O rrúnimo que se poderá dizer é que não é evidente que assim eja.

Se pretendessemo fixar-nos na diferença e voltar a expressá-la em bens adquiríveis por cada um deles, não creio que fize e entido, em tennos económicos, afinnar que (A) pode agora comprar 10.000 caramelos e (B) 11.000 e, a partir

daqui, dizer que a desigualdade era anterionnente de 1 cara-melo e é agora de 1.000. A alteração dos padrões de consumo, implícita no aumento dos rendimentos, impõe que se pense

num exemplo que seja compatível com eles. POcllamos então dizer que a desigualdade entre eles é representada por dois

jantares no restaurante com a fanúlia (se ela não for muito numerosa!). Numa aferição económica, não será esta

desi-gualdade equivalente a um caramelo entre crianças?

Concluir pela similitude económica das duas situações

- enquanto crianças e adultos - é equivalente a considerar a relação entre os respectivos rendimentos. Com efeito, essa relação manteve-se sempre constante (1,1).

(11)

Pela minha parte, opto por retirar a conclusão que a desigualdade entre (A) e (B) se manteve constante a todos os níveis de rendimentos, não obstante o permanente aumento da diferença entre eles. O elemento que então surge como medi-dor da desigualdade é a relação entre rendimentos.

Vamos ver o problema ainda por um outro ângulo. Se o aumento ou diminuição da diferença é inal de

aumento ou diminuição da desigualdade, então a manutenção da diferença quer dizer manutenção da desigualdade. Admi-ta-se o seguinte exemplo no qual se introduz um elemento

dinâmico: o crescimento do rendimento global.

No momento Tl, para um rendimento total de 100, (A)

recebe 60 e (B) 40. Em T2, se o rendimento subir para 1000 - e a fim de manter a diferença - (A) passa a receber 510 e (B) 490. Se o rendimento se elevar, em T3, a 10.000, (A) recebe

5010 e (B) 4990. A diferença de 20 foi, portanto, sempre mantida. Devemos então concluir que a desigualdade inicial permaneceu constante? Por outras palavras, aceitando como

boa a tese segundo a qual a desigualdade é diferença, devíamos

afirmar o seguinte:

A repartição do rendimento será tão desigual quando

(A) pode adquirir mais 33,3% de bens do que (B) - em Tl -como quando só consegue comprar mais 0,39% do que (B) -em T3.

Eu não subscreverei uma tal afinnação.

Somos, assim, mais uma vez, afastados da ideia segundo a

qual é a diferença entre rendimentos que denota o grau de

desigualdade na repartição. E no mesmo movimento, vamos ao encontro da tese que afirma devermos avaliar a desigualdade pela relação entre rendimentos.

(12)

*

Até este ponto apenas foram comparadas as variações de dois rendimentos findo um dado período. Neste pressu-posto, parece-me que a avaliação da igualdade na reparti-ção recorrendo à relação entre os rendimentos conduz a resultados mais satisfatórios do que os obtidos utilizando as diferenças. Esta conclusão ressalta claramente do último exem-plo apresentado. O critério que tenho por mais correcto baseia-se na consideração das percentagens relativas da quan-tidade de bens que cada um dos receptores dos rendimentos pode adquirir.

No entanto, para maior rigor, o problema da igualdade na repartição deve ser colocado de uma forma ligeiramente dife-rente. Isto não invalida a conclusão que tirei mas antes a repõe num outro contexto.

Na verdade, no problema da repartição do rendimento nacional começa-se por considerar aquilo que está a ser objecto de repartição, i.e., a totalidade do rendimento gerado e depois avalia-se a forma como ele se reparte pelos mem-bros da sociedade em análise. O próprio conceito de repar-tição supõe o estudo do modo como as parcelas do rendi-mento são atribuídas a cada membro, ou conjunto de mem-bros, da sociedade. É sabido que podemos ainda considerar a repartição tanto sob o ponto de vista funcional como pessoal. Dado que, no caso vertente, o que está em causa são os efeitos produzidos por um imposto directo sobre o rendimento, é a repartição pessoal aquela que ora nos inte-ressa.

Este método conduz à determinação das fracções do dimento global que cabem a cada classe diferenciada de ren-dimento. Ou seja, a igualdade ou desigualdade na repartição tem em linha de conta a quota do produto total que cabe a cada

(13)

classe de rendimento. Enquanto, há pouco, foi apenas compa-rada a relação entre dois rendimentos, agora vai analisar-se a relação que existe entre cada rendimento e o rendimento/ / produto total.

Ora tal procedimento é justamente o utilizado pelas Curvas de Lorenz e coeficientes de Gini. São estes instru-mentos, e acima de tudo a metodologia por eles usada, que pennitem saber quais os verdadeiros efeitos dos vários tipos de impostos e das respectivas taxas.

Se comparannos o posicionamento das classes de ren-dimento em períodos sucessivos e verificannos que uma delas (a de mais baixo rendimento) vai conseguindo uma parcela maior do rendimento global, enquanto outra fica com uma parcela menor, dir-se-á que neste caso a desigualdade

dimi-nulU.

*

Para tennos um exemplo mais proxuno da realidade, vamos, então, começar por supor uma determinada repartição do rendimento entre uma população de 10 pessoas. Mantendo os valores dados por Teixeira Ribeiro, suponhamos, para o caso (1), que, inicialmente, 6 pessoas recebem um rendimento de 100 cada uma e 4 pessoas têm um rendimento individual de 1000. No caso (2), os rendimentos dessas mesmas pessoas passam para 500 e 4000. Utilizando o método de acumula-ção de rendimentos e da populaacumula-ção (de ora em diante refe-renciada como contribuintes) pode construir-se o seguinte quadro:

(14)

QUADRO V

ontribuinte Rendimento % do rendimento total (a umulado) (acumulado) (1) (2) (1) (2) O O O 0,00 0,00 1 100 500 2,17 2,63 2 200 1000 4,34 5,26 3 300 1500 6,52 7,89 4 400 2000 8,69 10,52 5 500 2500 10,86 13,15 6 600 3000 13,04 15,78 7 1600 7000 34,78 36,84 8 2600 11000 56,52 57,89 9 3600 15000 78,26 78,94 10 4600 19000 100,00 100,00

Para uma mesma população de 10 pessoas, o rendimento global no caso (1) é de 4600. Um contribuinte com rendi-mento de 100 recebe, portanto, 2,17% do rendirendi-mento global enquanto cada um do que têm um rendimento de 1000 se apropria de 21,73% do valor global (relação 10). Agregando

os valore , temos que a 60% dos contribuintes - os de menores

rendimentos - cabem 13% e aos restantes 40% cabem 87% do

rendimento total (relação 6,69).

No caso (2), em que os rendimentos menores são agora de 500 e os mais elevados de 4000, o rendimento total é de 19000. Nesta hipótese, cada contribuinte de entre os de menor rendimento recebe 2,6% do total, e a cada um dos de mais elevado rendimento cabe agora 21% (relação 8). Agregando novamente todos os valores, ao conjunto de contribuintes de mais baixo rendimento (60%), afluem 16% do total, enquanto para os 40% restantes vão 84% (relação 5,25).

(15)

Parece claro que, ao elevarem-se os rendimentos, a posição relativa dos contribuintes de menores rendimentos -e de cada um deles - melhorou relativamente à situação

anterior. A fracção do produto total que lhes cabe aumentou

mais que o rendimento global. Daí que consigam agora ter ao eu dispor uma fatia maior dos bens produzidos. Se sobre estes

dados construirmos uma Curva de Lorenz, podemos verificar

que ela denota uma diminuição no grau de desigualdade na repartição (ver Fig.i). Este método, embora não proceda ao

relacionamento directo dos rendimentos entre si, conduz aos

mesmos resultados que obtivemos quando isso foi feito.

Fig. 1 (1) = 100/ 1000; (2) = SOO; 4000 100 80 60 40 20

o

o

20 40 60 80 100 % da população total

(16)

A conclusão a tirar é, portanto, a eguinte:

Quando o rendimentos passam de A=100;B=1000 para A=500; B=4000, a distribuição do rendimento global

implí-cito torna-se mais igualitária embora tenha aumentado a

diferença entre rendimentos.

Optando por esta metodologia, chegamos a um resultado oposto ao apresentado por Teixeira Ribeiro. Se insistíssemos

na diferença teóamos de concluir que, embora recebam uma

maior parcela do produto social, a sua situação era pior que

anteriormente.

*

Apliquemos agora este método das Curvas de Lorenz a

uma situação sinúlar à descrita no Quadro III. No quadro

seguinte são apresentados os rendimentos de 2 contribuintes

mas sem acumular os respectivos valores.

Contrib. (1) A B (2) A B (3) A B (4) A B QUADR.O VI Rendimento % do rendo individual total 100 33,3 200 66,7 250 41,6 350 58,4 550 45,8 650 54,2 1200 50,0 1200 50,0 Rendimento total 300 600 1200 2400

(17)

Os rendimentos iniciais de A e de B foram sendo multi -plicados por factores não constantes, sendo, no entanto, o de A sempre superior ao de B. A duplicação do rendimento glo-bal, de cada caso para o seguinte, foi acompanhada de um crescimento permanente da fracção atribuída ao contribuinte A e correspondente diminuição da de B. Entre (1) e (3) foi mantida a diferença entre os dois rendimentos - 100; no caso (4) essa diferença foi anulada. Se construinnos as respectivas Curvas de Lorenz elas denotam uma diminuição da desigual-dade, de caso para caso, até se obter uma linha de igual repartição - em (4). (ver Fig. 2)

Fig. 2 100 ta

B

B c:l 50 4) .§ "O c:l 4)

...

o "O ~

o

50 100 % da população total

(18)

Se adopta semo o método das diferença , dióamos que a repartição foi empr identicamente desigualitária, de (1) a (3); e adoptarmos o método das Curvas de Lorenz (que tem implícita a relação) ob ervamo uma gradual diminuição da de igualdade até à igualdade absoluta.

Este exemplo permite-me chamar a atenção para um aspecto que, de algum modo, vai ao encontro da tese do Professor Teixeira Ribeiro, em que, com i o, a confinne.

Se fixarmo a atenção no caso (4), podemos ver que não ó aumentou a parcela de A (e diminuiu a de B), como anteriormente, mas também e anulou a diferença. Ora, é evidente que sem a ua redução a O não é possível atingir a igualdade absoluta, quando se parte de uma desigualdade inicial. Também será exacto afumar que (na hipótese de um rendimento total cre cente), perante uma qualquer redução da diferença absoluta entre dois rendimentos, estaremos con-frontado com uma situação de maior igualdade. Mas essa diminuição da diferença apenas indicia uma diminuição certa da relação. Com efeito, o aumento da diferença é compatível quer com um aumento quer com uma diminuição da relação. Mas a redução da diferença só é compatível com uma redução da relação. Por isso, aceitarei que uma redução da diferença é sempre sinónimo de maior igualdade, mas já não concordo que se diga que o aumento da diferença signi-fica sempre maior desigualdade. Isso tanto pode ser verda-deiro como falso.

*

Mas voltemos às premissas que tenho por boas, segundo as quais a medição do grau de igualdade na

(19)

repar-tição se deve fazer tendo em conta um rendimento global

variável que está ser sujeito a repartição. Vejamos, ne se contexto, os efeitos redistributivos dos impostos proporcio-nais, progressivo e regressivos.

QUADRO VII Imposto proporcional (10%)

(Antes do imposto) (Depois do imposto)

Contrib. Rendimento % Rendimento Rendimento % Rendimento

(acum.) (acumulado) Total Total

(acumulado) O O 0,00 O 0,00 100 2,17 90 2,17 2 200 4,34 180 4,34 3 300 6,52 270 6,52 4 400 8,69 360 8,69 5 500 10,86 450 10,86 6 600 13,04 540 13,04 7 1600 34,78 1440 34,78 8 2600 56,52 2340 56,52 9 3600 78,26 3240 78,26 10 4600 100,00 4140 100,00

Voltamos a admitir que seis contribuintes têm um

rendi-mento unitário de 100 e cada um dos restantes quatro um

(20)

Sem imposto, o rendimento global que vai ficar na posse dos contribuintes é de 4600. As percentagens acumu-ladas desse rendimento podem ser lidas na respectiva

coluna.

Se fizermos incidir um imposto de taxa constante

de 10%, o rendimento global disponível passa para 4140.

Como se pode verificar, as percentagens acumuladas,

relativas a esse novo rendimento global, são iguais às

ante-nores.

Isto significa que todos os contribuintes mantiveram as

suas posições relativas enquanto concorrentes ao rendimento

objecto de repartição. Repare-se que quando o Estado lança o

imposto proporcional retira do rendimento global inicial 460.

Sendo assim, o problema da igualdade na repartição só pode

pôr-se relativamente ao rendimento que vai ficar disponível

(4140).

Como se mantêm todas as posições relativas, o imposto

não tem efeitos redistributivos.

É por este facto que um imposto proporcional não

diminui as desigualdades na repartição. Se com estes dados

construíssemos, de novo, Curvas de Lorenz, o resultado seria,

evidentemente, uma sobreposição das curvas, antes e depois do

imposto.

Embora tenha diminuído a diferença entre os

ren-dimentos, os contribuintes estão todos igualmente mais

pobres e, portanto, cada um deles pode adquirir uma

quantidade de bens que é um múltiplo ou fracção

cons-tante do que adquire qualquer outro situado numa

diferente classe de rendimento, ou, o que é o mesmo,

cada um apropria-se de uma fracção constante do

pro-duto.

Vejamos o que sucede com um imposto de taxa

(21)

QUADRO VIII Imposto progressivo (10%-20%)

(Antes do unposto) (Depois do unposto)

Contrib. Rendimento % Rendimento Rendimento % Rendimento

(acum.) (acumulado) total (acumulado) Total

O O 0,00 O 0,00 100 2,17 10% 90 2,40 2 200 4,34 10% 180 4,81 3 300 6,52 10% 270 7,21 4 400 8,69 10% 360 9,62 5 500 10,86 10% 450 12,03 6 600 13,04 10% 540 14,43 7 1600 34,78 20% 1340 35,82 8 2600 56,52 20% 2140 57,21 9 3600 78,26 20% 2940 78,60 10 4600 100,00 20% 3740 100,0

A incidência de um imposto de taxa progressiva, fixada em 10% para rendimentos de 100 e em 20% para rendi-mentos de 1000, provoca uma alteração na repartição. O rendimento disponível, se não houvesse imposto, era de 4600, tal como no quadro anterior. As percentagens permanecem, portanto, as mesmas.

Porém, quando incide o imposto, o rendimento global disponível passa para 3740 e as percentagens acumuladas modi-ficam-se. Preste-se atenção à última coluna.

Antes do imposto, 60010 dos contribuintes recebiam 13,04% do rendimento; depois dele, cabe-lhes 14,43% do novo rendi-mento global disponível. Em contrapartida, ao conjunto dos contribuintes de mais elevado rendimento cabia 86,96% e depois do imposto a sua parcela fica reduzida a 85,57%.

(22)

As urvas d Lorenz daqui re ultantes denotam uma

diminuição na de igualdade da repartição. (Ver Fig. 3).

Fig. 3

Impo to progr ivo 100 O ~

....

B 60 B Q o .§ -o 40 Q o o-o -o <> 20 O O 20 40 60 80 100 % da população total

Se considerarmos os valores individuais, verifica-se que,

depois do imposto, a cada um dos contribuintes de menores

rendimentos cabe 2,40% - contra 2,17% antes do imposto -e aos de mais elevado rendimento passa a caber

21,39%-contra 21,74% antes do imposto.

Embora, tal como no caso do imposto proporcional, diminua a diferença entre rendimentos, os mais pobres podem

(23)

comprar uma quantidade de ben que é uma fracção crescente

daquilo que compram os mais ricos. Teoricamente, se o

processo fosse sendo repetido, aplicando taxas

adequa-das, o rendimento disponível dos inicialmente mais pobres

podia mesmo tomar-se superior ao dos inicialmente mais

ricos. Seria um caso semelhante à multiplicação dos

ren-dimentos por factores diferentes, atrás apresentado no

Quadro VI.

É por este facto que um imposto de taxa progressiva

altera a repartição num sentido mais igualitário.

Tome-se finalmente o caso teórico de um imposto

regressIVO.

QUADRO IX

Imposto regressivo (10%-5%)

(Antes do imposto) (Depois do imposto)

Contrib. Rendimento % Rendimento Rendimento % Rendimento

(acum.) (acumulado) total (acumulado) Total

O O 0,00 O 0,00 1 100 2,17 10% 90 2,07 2 200 4,34 10% 180 4,14 3 300 6,52 10% 270 6,22 4 400 8,69 10% 360 8,29 5 500 10,86 10% 450 10,36 6 600 13,04 10% 540 12,44 7 1600 34,78 5% 1490 34,33 8 2600 56,52 5% 2440 56,22 9 3600 78,26 5% 3390 78,11 10 4600 100,00 5% 4340 100,00

(24)

Também agora e verifica uma alteração na

reparti-ção. s contribuinte de mais elevado rendimento obtêm,

depois do impo to, 87,56% contra 86,96% anterionnente. Os

de menore rendimento vêm descer a parte que lhes compete.

Ela passa de 13,04% para 12,44%. Estão, portanto, em pior

po ição do que antes.

Tem, as im, de concluir- e que o impo to regressivo provoca uma modificação no padrão di tributivo favorável

às classe de mais elevados rendimentos. (ver Fig.4)

o -o ", 100 80 60 40 20

o

o

Fig. 4 lmpo to regressivo 20 40 60 80 100 % da população total

(25)

Retomando a te e do Professor Teixeira Ribeiro, embora seja verdade que a diferença entre os rendimentos se toma menor por efeito do imposto (1000-100=900; 950-90=860) não me parece exacto daí concluir que a repartição do rendimento seja mais igualitária.

*

Espero, no rrúnirno, ter lançado a dúvida quanto à vali-dade da proposta segundo a qual a desigualvali-dade entre ren-dimentos deve ser aferida pela respectiva diferença.

Embora para o caso português - dado o disposto no art. 107.0

da CRP - não subsista" qualquer questão jundica ou problema de direito", como nos diz Amôal Almeida, não me parece que, em sede teórica, seja defensável afinnar que um imposto proporcional, ou mesmo um regressivo, sejam ins-trumentos capazes de diminuir a desigualdade na repartição do rendimento, que é o que resulta, como corolário, da tese do Professor Teixeira Ribeiro e que ele, de resto, explicitamente nos apresenta.

Segundo o meu convencimento, quando, perante a variação de rendimentos em um determinado período, pre-tendennos saber o que sucedeu ao grau de igualdade na repartição, teremos de tomar como indicador aproximativo a variação da relação entre esses rendimentos. Um aumento da relação indicia um aumento na desigualdade e vice-versa. Para expressar esta ideia de um modo sintético, pode afir-mar-se que a desigualdade na repartição varia no mesmo sentido da relação entre os rendimentos.

CARLOS LARANJEIRO

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