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A influência da mídia no processo penal

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A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO PROCESSO PENAL:

A INFORMAÇÃO EM DETRIMENTO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Florianópolis 2011

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A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO PROCESSO PENAL:

A INFORMAÇÃO EM DETRIMENTO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel. Orientador: Prof. Gustavo Noronha Ávila, Msc.

Florianópolis 2011

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A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO PROCESSO PENAL:

A INFORMAÇÃO EM DETRIMENTO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo Curso de Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 2 de dezembro de 2011.

______________________________________________________ Professor e orientador Gustavo Noronha Ávila, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Professora Maria Lucia Pacheco Ferreira Marques, Dra.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Professor Élio Amorim.

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Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, 7 de novembro de 2011.

______________________________________ Deivid Willian dos Prazeres

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fornecido durante esta árdua jornada acadêmica e, principalmente, por nunca terem deixado de acreditar em mim.

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Agradeço à Universidade do Sul de Santa Catarina, por ter possibilitado a concretização deste sonho.

Ao meu professor e orientador Gustavo Noronha Ávila e à professora Maria Lúcia Pacheco Ferreira, por aguçarem o meu senso crítico e me mostrarem uma visão muito mais humana sobre o Direito Penal.

Aos amigos da 2ª Vara Federal Criminal da Subseção de Florianópolis/SC, pela oportunidade de estagiar com pessoas tão maravilhosas com as quais muito aprendi.

Aos amigos do Escritório de Advocacia Santana, Brasil & de Bona, pelos preciosos conselhos, pelas experiências compartilhadas e, principalmente, por todo o conhecimento que até hoje me é transmitido.

Ao mestre Jorge Alencar Paixão de Bairros, por guiar-me nos primeiros passos dessa longínqua e eterna caminhada.

Aos demais amigos, em especial Aryane Regina da Rosa, por caminharmos sempre juntos desde o princípio.

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O presente trabalho analisa a influência exercida pelos meios de comunicação no processo penal, cuja atividade contribui significativamente para a violação de um direito constitucionalmente garantido a todos os acusados, qual seja o de ser presumido inocente até que o Estado consiga comprovar o contrário. Para buscar entender a atual postura usualmente adotada pelos instrumentos midiáticos, realizou-se uma breve análise sobre a trajetória dos meios de comunicação pela história da humanidade, na qual foram avaliados os diversos aspectos da referida atividade, conferindo-se atenção especial ao amargo momento experimentado pela mídia durante a vigência dos regimes ditatoriais outrora instalados no Brasil. Analisados individualmente e confrontados dois princípios constitucionais de vital importância para a manutenção de qualquer regime democrático, constatou-se que o exercício abusivo da liberdade de informação, com a exposição inadequada do sujeito passivo do processo penal, importa não só na violação do corolário constitucional da presunção de inocência como também num resgate do primitivo e até então extinto sentimento de vingança individualizada. Ao final, buscando demonstrar a realidade prática da problemática aqui estudada, foi realizada uma pesquisa de campo por meio de uma série de questionários que foram enviados aos editores responsáveis pelas principais empresas jornalísticas de Santa Catarina. Com a referida pesquisa, foi possível contextualizar a atividade dos veículos informacionais catarinenses com tudo que foi abordado ao longo desta monografia.

Palavras-chave: Imprensa. Evolução histórica. Brasil. Censura. Sensacionalismo. Processo penal. Liberdade de expressão. Presunção de inocência.

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1 INTRODUÇÃO...10

2 A ATIVIDADE MIDIÁTICA...12

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS...12

2.2 IMPRENSA NA HISTÓRIA DO BRASIL...15

2.2.1 Era Vargas: A criação da censura. ...16

2.2.2 Golpe Militar de 1964: A mordaça mais violenta...18

2.2.3 O Regime Democrático: Liberdade à Imprensa ...22

2.3 IMPRENSA CONTEMPORÂNEA...23

2.3.1 O espetáculo legitimado ...25

3 CONFLITO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS...28

3.1 O PROCESSO PENAL...28

3.1.1 Liberdade de Informação, Expressão e Imprensa...30

3.1.2 Presunção de Inocência ou Não-Culpabilidade ...34

3.2 A INFORMAÇÃO EM DETRIMENTO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA...38

3.2.1 Recomendações para compatibilização destes princípios...44

4 ANÁLISE DA SITUAÇÃO EDITORIAL DE SANTA CATARINA...47

4.1 METODOLOGIA DE PESQUISA...47

4.2 JORNAL DA MANHÃ...49

4.3 JORNAL DIÁRIO CATARINENSE...50

4.4 JORNAL HORA DE SANTA CATARINA...52

4.5 JORNAL NOTÍCIAS DO DIA...53

4.6 JORNAL DIARINHO...55

4.7 JORNAL GAZETA DE JOINVILLE...56

4.8 JORNAL PALAVRA PALHOCENSE...58

4.9 JORNAIS QUE NÃO RESPONDERAM O QUESTIONÁRIO...59

4.9.1 Jornal De Santa Catarina ...60

4.9.2 Jornal A Tribuna ...60

4.9.3 Jornal O Correio Do Povo ...60

4.9.4 Jornal A Notícia ...61

4.10 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A PESQUISA REALIZADA...61

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APÊNDICE A – Questionário aplicado...76

APÊNDICE B – Relatório dos contatos telefônicos realizados...77

APÊNDICE C – Organograma...79

APÊNDICE D – Questionário respondido/Jornal da Manhã...80

APÊNDICE E – Questionário respondido/Diário Catarinense...82

APÊNDICE F – Questionário respondido/Hora de Santa Catarina...85

APÊNDICE G – Questionário respondido/Notícias do Dia...87

APÊNDICE H – Questionário respondido/Diarinho...90

APÊNDICE I – Questionário respondido/A Gazeta de Joinville...92

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1 INTRODUÇÃO

A indústria da informação tem ocupado cada vez mais espaço no meio social, motivo pelo qual há quem ouse hoje inclusive defini-la como um quarto poder paralelo àqueles originalmente imaginados por Montesquieu, cujo rol encontra-se insculpido no art. 2º da nossa Constituição Federal.

Em virtude da sua imensurável força sobre a sociedade, os veículos informacionais foram por muito tempo objeto de cobiça de vários governantes, que, quando não os administravam diretamente, tolhiam sua liberdade para que estes permanecessem sempre sob controle. Após libertar-se das amarras impostas pelos governos tiranos, a mídia passa a agir na sociedade de maneira livre e, infelizmente, descontrolada.

Legitimada por um povo que aparenta não compreender as conseqüências negativas dos atos por eles praticados, como a formação de padrões comportamentais e a injeção de pensamentos fabricados na mente do cidadão comum, os meios de comunicação exercem a cada dia que passa mais influência sobre a atividade jurisdicional, atropelando com o exercício de sua atividade inúmeras garantias asseguradas a todos os jurisdicionados pelo Diploma Constitucional vigente, entre elas, especificamente, aquela que será adiante devidamente analisada: a presunção de inocência.

É diante desse fato que surgiu o tema estudado neste trabalho, qual seja a influência exercida pela mídia sobre a jurisdição criminal, cujo objetivo consiste, em primeiro lugar, na demonstração da maneira como a atividade midiática contribui à violação ao direito que todo jurisdicionado tem de, ao longo da instrução processual, ser considerado presumidamente inocente e, por fim, no arrolamento de algumas hipóteses para solução da controvérsia apresentada.

O método de abordagem utilizado será o dedutivo, partindo-se de uma premissa geral para uma específica, da qual serão extraídas as conclusões do trabalho. Será realizada uma pesquisa exploratória baseada, inicialmente, numa análise bibliográfica e documental e, por fim, no levantamento de dados.

Para descobrir a causa e justificar o problema relatado, no primeiro capítulo será estudada a atividade da mídia levando-se em consideração os seus principais aspectos ao longo da história, conferindo-se atenção especial à sua trajetória ao longo dos regimes autoritários instalados no Brasil e ao modo como ela tem sido desenvolvida atualmente. Na mesma oportunidade, serão apontados os principais motivos pelos quais os meios de

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comunicação hoje, em sua grande maioria, optam por noticiar fatos de maneira cada vez mais sensacionalista.

Já no segundo capítulo, será examinada a influência exercida pelos mecanismos de comunicação em massa nos procedimentos criminais, realizando-se uma abordagem sobre dois princípios constitucionais cujos conteúdos encontram-se intimamente relacionados com a atividade desenvolvida pelos referidos instrumentos, quais sejam a liberdade de informação e expressão e a presunção de inocência. Para que isso seja possível, será realizado um estudo isolado – mesmo que de maneira breve – sobre cada um dos princípios anteriormente comentados. Serão colacionadas ainda nesse mesmo capítulo algumas sugestões apresentadas por parte da doutrina para solucionar a problemática aqui exibida.

Vislumbrando contribuir ainda mais com o estudo, será realizada, no terceiro capítulo, uma retrospectiva sobre a pesquisa de campo desenvolvida nesta monografia – na qual foi realizada uma série de questionamentos aos responsáveis por diversos editoriais catarinenses – de modo que seja possível contextualizar a forma como as empresas jornalísticas deste estado têm realizado sua atividade com tudo que será abordado ao longo deste trabalho.

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2 A ATIVIDADE MIDIÁTICA

Neste capítulo será analisada a atividade midiática levando em consideração os seus principais aspectos ao longo de sua história, conferindo-se atenção especial a sua trajetória ao longo dos regimes autoritários instalados no Brasil e ao modo como ela tem sido desenvolvida nos dias atuais. Serão apontados, ainda neste capítulo, os principais motivos que levam os veículos de informação a noticiar os fatos de maneira cada vez mais sensacionalista.

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Partindo-se dos ensinamentos filosóficos de Aristóteles e São Tomás de Aquino1,

é possível afirmar que o homem é um ser sociável por natureza, que se diferencia dos outros animais em virtude da sua capacidade de comunicar-se pela fala.

Em conclusão lógica, tem-se que a comunicação é inerente ao próprio indivíduo, sendo imprescindível, portanto, para o desenvolvimento de sua própria existência humana.

No início dos tempos, quando os homines sapientes se reuniam em volta do fogo para fugir do frio que os assolava, surgia o clima propício para que os primeiros vocábulos fossem propalados2.

A criação da palavra e a difusão do diálogo com os seus pares foram determinantes à alteração do destino dos homens3, pois estes fatores foram imprescindíveis para que a humanidade formasse o que hoje conceituamos como organismo social.

Por meio da interação com os seus pares, o homem abdicou de sua própria individualidade, abandonando aos poucos o que Hobbes costumava definir como o seu próprio estado de natureza, para só assim poder assinar o pacto social retratado por Rosseau e viver harmoniosamente em sociedade.

1 FORTES, Wanessa Mota Freitas. Sociedade, direito e controle social. Disponível em:< http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8675>. Acesso em: 08 set. 2011. 2 GOMES JUNIOR, Luiz Manoel et al. (Org.). Comentários à Lei de Imprensa: Lei 5.250/1967 - Artigo por Artigo. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2007. p. 42

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Por este motivo, o professor e historiador Geoffrey Blainey afirma em seu best-seller que a fala é, sem dúvidas, o maior invento já verificado na história da civilização humana, sendo responsável, sobretudo, pelo despertar da própria humanidade4.

O problema surge quando este poderoso mecanismo inventado pelo homem passa a ser utilizado para satisfação egoísta de alguns indivíduos.

Jacir Casagrande e Tade-ane Amorim5 afirmam em sua obra que um dos grandes

problemas atualmente discutidos pela ciência sociológica é a estratificação social. A sociedade, desde os primórdios, é dividida, em resumo, em dois grandes grupos sociais, quais sejam os dominantes e os dominados.

A história da humanidade evidencia a insaciável busca pelo poder, cuja propriedade não é absoluta e exige constante manutenção. Por este motivo, os integrantes do poderoso grupo social dominante, ao perceber o perigo que a comunicação entre os homens representava ao seu próprio domínio, passaram a restringi-la com o fim de evitar eventuais alterações no modelo de sociedade que o beneficiava.

A comunicação gera conhecimento que, por sua vez, é responsável por despertar no indivíduo o senso crítico para tudo aquilo que o cerca. Pessoas cujo conhecimento é limitado são inevitavelmente mais propensas à dominação.

Assim, o grupo social dominado, em razão da ganância da classe dominante, permaneceu por muito tempo prisioneiro de sua própria ignorância, em situação semelhante àquela ilustrada na parábola Alegoria da Caverna, escrita pelo filósofo grego Platão.

É neste momento em que, dada a necessidade de inversão do referido quadro social, surgem os meios de comunicação em massa para ampliar os sentidos, o conhecimento e o entendimento dos fatos que circundam a vida cotidiana do homem6.

Segundo Estela Cristina Bonjardim7, antes do surgimento dos referidos meios de

comunicação, “o homem viveu períodos de rigorosa regulamentação repressiva da manifestação do pensamento, seja ela escrita ou não”.

É por isso que, segundo a autora, a atividade midiática, ou seja, aquela desenvolvida por intermédio dos meios de comunicação em massa, representa a verdadeira expressão da liberdade de um povo8.

4 BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. 2ª ed. São Paulo: Fundamento Educacional, 2010. p.12

5 CASAGRANDE, Jacir L.; AMORIM, Tade-ane de. Sociologia. Palhoça: Unisul, 2007. p.74

6 VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2003., p.26 7 BONJARDIM, Estela Cristina. O acusado, sua imagem e a mídia. São Paulo: Max Limonad, 2002. p.52 8 BONJARDIM, Estela Cristina. O acusado, sua imagem e a mídia. São Paulo: Max Limonad, 2002. p.52

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A atividade midiática hoje, em grande parte dos países, é dotada de liberdade e independência funcional em virtude de algumas legislações de caráter transnacional.

Tais prerrogativas encontram-se previstas, por exemplo, no art. XIX da Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada em 10 de dezembro de 1948 pela Assembléia Geral das Nações Unidas, da qual a República Federativa do Brasil é signatária, que assim dispõe9:

Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

De acordo com Estela Cristina Bonjardin, a Declaração foi fundamental para sedimentar a idéia de que nenhuma forma de governo possui a legitimidade para subtrair do povo o direito de ser livremente informado10.

Em nosso ordenamento jurídico, as referidas premissas encontram fundamento em diversos dispositivos da Constituição Federal vigente, possuindo amparo especial no rol de direitos e garantias fundamentais, especificamente nos incisos IV, IX e XIV do artigo 5º do Diploma Constitucional, que assim dispõem11:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; [...]

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

[...]

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Em que pese a primordial importância das prerrogativas conferidas aos meios de comunicação em massa, é necessário observar que os direitos supracitados não são absolutos,

9 ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal Dos Direitos Humanos, de 10 de

dezembro de 1948. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>.

Acesso em: 03 set. 2011.

10 BONJARDIM, Estela Cristina. O acusado, sua imagem e a mídia. São Paulo: Max Limonad, 2002. p. 56 11 BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal da República Federativa do Brasil de1988. Brasília, DF. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 03 set. 2011.

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merecendo serem sempre sopesados com as demais garantias previstas no texto constitucional.

Por óbvio, a liberdade conferida à imprensa não lhe faculta exercer sua atividade de maneira abusiva, atropelando gratuitamente outros direitos individuais garantidos a todos os cidadãos, como por exemplo, a presunção de inocência, que será devidamente abordada no próximo capítulo deste trabalho.

Antes de prosseguirmos com a análise do comportamento atual dos meios de comunicação em massa, é salutar trazer a colação um breve intróito sobre a história da imprensa no território brasileiro.

2.2 A IMPRENSA NA HISTÓRIA DO BRASIL

Maria Helena Rolim Capelato afirma que a atividade midiática surgiu tardiamente no Brasil12. Segundo a autora, a imprensa era ausente no início da história de nosso país, principalmente, em virtude dos altos índices de analfabetismo e da constante interferência da Coroa Portuguesa, fatos estes que impediram naquela época sua consolidação em terras tupiniquins.

Livre, em tese, da interferência direta de Portugal após a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, a nação brasileira dava os primeiros passos rumo a um país livre, onde os meios de comunicação em massa timidamente começavam a aparecer.

A imprensa brasileira do período republicano, cuja trajetória é devidamente explorada nas obras de Maria Helena Rolim Capeleto13 e Nelson Werneck Sodré14, possui

peculiaridades que merecem a produção de um trabalho acadêmico próprio, por especialistas da respectiva área, motivo pelo qual aqui serão abordados apenas os pontos mais marcantes de sua história, especificamente aqueles relacionados aos períodos ditatoriais vivenciados pelo Brasil.

12 CAPELETO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994. p. 38. 13 CAPELETO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994. 14 SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.

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2.2.1 Era Vargas: A criação da censura

Em meados de 1930, as estruturas da República seriam balançadas pelo período que ficou conhecido na história como a Era Vargas, tempos em que a nação brasileira experimentaria a amarga experiência de ser administrada por um governo autoritário.

Durante a época em que esteve na Presidência, Getúlio Vargas foi responsável por diversas medidas repressivas contra a imprensa, que buscavam, sobretudo, a constante manutenção de sua política governamental ditatorial.

Ao referido governante é atribuída, especialmente, a criação de um instituto malévolo que, mesmo já tendo sido expurgado do nosso ordenamento jurídico pela Constituição Federal de 1988, continua até os dias de hoje causando arrepios em diversos segmentos do jornalismo brasileiro: a censura.

A Carta Constitucional outorgada por Getúlio Vargas em 1937 assim dispunha em seu artigo 122, “15”15:

Art. 122 - A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

15) todo cidadão tem o direito de manifestar o seu pensamento, oralmente, ou por escrito, impresso ou por imagens, mediante as condições e nos limites prescritos em lei.

A lei pode prescrever:

a) com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a censura prévia da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, da radiodifusão, facultando à autoridade competente proibir a circulação, a difusão ou a representação;

Legitimado pelo dispositivo constitucional supracitado, é criado em 1939, por meio do Decreto-Lei nº 1.91516, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em

substituição aos antigos órgãos governamentais de publicidade, cujas atividades se resumiam no exercício da censura e do controle de todos os meios de comunicação do país e na

15 BRASIL. Constituição (1937). Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937. Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm>. Acesso em: 04 set. 2011.

16 BRASIL. Decreto-Lei nº 1.915, de 27 de Dezembro de 1939. Cria o Departamento de Imprensa e

Propaganda e dá outras providências. Presidência da República, Rio de Janeiro, RJ. Disponível em:

<http://www2.camara.gov.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-1915-27-dezembro-1939-411881-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 04 set. 2011.

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divulgação das principais atividades do governo brasileiro de acordo com os interesses do regime vigente na época: o Estado-Novo17.

Segundo Rejane Araújo, por contar com maior amplitude de ação e maior autonomia que os departamentos que o antecederam, em virtude de sua ligação direta com a Presidência da República, o DIP tornou-se o órgão coercitivo máximo da liberdade de pensamento e expressão durante o Estado-Novo e o porta-voz autorizado do referido regime tirano18.

Por este motivo, “as relações do DIP com a imprensa caracterizaram-se sempre pela ocorrência de numerosos atritos”19. Como exemplo disso tem-se o registro, em 1940, da

intervenção direta do DIP no jornal O Estado de São Paulo, cuja administração ficou aos cuidados do referido departamento governamental até o fim do Estado Novo20.

A censura exercida pela DIP foi intensificada em 1940, quando foram instalados no território brasileiro os Departamentos Estaduais de Imprensa e Propaganda (DEIP), que possuíam, em suma, as mesmas atribuições do Departamento Nacional21.

Enfraquecido pelo término da Segunda Guerra Mundial, o Estado-Novo chegava ao fim, sepultando consigo todos os principais órgãos cerceadores de liberdade criados durante a vigência do governo de Vargas22.

Dessa forma, o DIP foi extinto em 1945, por meio do Decreto-Lei nº. 7.58223, abrindo um perigoso precedente que, anos mais tarde, seria utilizado para controlar a imprensa sob a égide de um novo governo autoritário: a Ditadura Militar.

17 ARAÚJO, Rejane. DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E PROPAGANDA (DIP). In: ABREU, Alzira Alves de et al. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 04 set. 2011.

18 ARAÚJO, Rejane. DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E PROPAGANDA (DIP). In: ABREU, Alzira Alves de et al. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 04 set. 2011.

19 ARAÚJO, Rejane. DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E PROPAGANDA (DIP). In: ABREU, Alzira Alves de et al. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 04 set. 2011.

20 ARAÚJO, Felipe. Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Disponível em:

<http://www.historiabrasileira.com/era-vargas/departamento-de-imprensa-e-propaganda-dip/>. Acesso em: 05 set. 2011.

21 ARAÚJO, Rejane. DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/DIP>. Acesso em: 05 set. 2011.

22 ARAÚJO, Rejane. DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E PROPAGANDA (DIP). In: ABREU, Alzira Alves de et al. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/> Acesso em: 05 set. 2011.

23 BRASIL. Decreto-Lei nº 7.582, de 25 de Maio de 1945. Extingue o Departamento de Imprensa e

Propaganda e cria o Departamento Nacional de Informações. Presidência da República, Rio de Janeiro, RJ.

Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-7582-25-maio-1945-417383-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 05 set. 2011.

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2.2.2 Golpe Militar de 1964: A mordaça mais violenta

As estruturas da República se estabilizavam novamente. Uma nova Constituição Federal era promulgada pela Assembléia Constituinte em 194624. A nação brasileira

começava finalmente a experimentar a Democracia quando foi abruptamente surpreendida por uma sucessão de atos que instituiria no país um novo regime ditatorial, registrado na história como o Golpe Militar de 1964.

Regido por ocupantes de altas patentes das Forças Armadas Brasileiras, o referido período foi berço de inúmeros atos atentatórios à liberdade da imprensa nacional, os quais serão sucintamente descritos a seguir, de acordo com a respectiva ordem cronológica.

Em 13 de junho de 1964 foi criado, por meio da Lei 4.341/64, o Serviço Nacional de Informações, cuja finalidade era “superintender e coordenar nacionalmente as atividades de informação e de contra-informação, em particular aquelas de interesse para a segurança nacional”25.

O referido órgão governamental exercia influência contra qualquer espécie de manifestação de pensamento, uma vez que os seus agentes eram responsáveis por capturar informações contrárias ao regime instaurado de diversos setores do país para denunciá-las aos governantes da época, para que fossem tomadas as medidas que estes julgassem convenientes. A atividade desempenhada pelo SNI foi alvo de investigações em 1982, quando lhe foi imputada a participação no misterioso assassinato do jornalista e escritor brasileiro Alexandre von Baumgarten26.

O SNI foi extinto pela Medida Provisória nº. 150/9027, expedida pela então presidente Fernando Collor, cujo conteúdo foi posteriormente ratificado por meio da Lei 8.028/9028.

24 BRASIL. Constituição (1946). Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>. Acesso em: 06 set. 2011.

25 KORNIS, Mônica. SERVICO NACIONAL DE INFORMAÇÃO (SNI). In: ABREU, Alzira Alves de et al.

Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em:

<http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 06 set. 2011.

26 KORNIS, Mônica. SERVICO NACIONAL DE INFORMAÇÃO (SNI). In: ABREU, Alzira Alves de et al.

Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em:

<http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 06 set. 2011.

27 BRASIL. Medida Provisória nº. 150, de 15 de Março De 1990. Dispõe sobre a organização da Presidência

da República e dos Ministérios, e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, DF. Disponível

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Durante o Regime Militar, vigorou por determinado tempo no país a Constituição de 1946, cujo conteúdo foi consideravelmente modificado, seja por meio dos Atos Institucionais expedidos ou mesmo por Emendas Constitucionais, tudo para atender os interesses dos governantes da época.

Objetivando legitimar a institucionalização da “Revolução Militar”, o governo organiza uma comissão de juristas para elaborar o projeto que se tornaria a nova Constituição Federal.

Concluídos os trabalhos da referida comissão, o Presidente da República determina, por meio do Ato Institucional nº. 4, a convocação extraordinária do Congresso Nacional para deliberação e promulgação do aludido projeto29. Entrava em vigor, a partir

deste momento, a Carta Constitucional de 1967.

Foram reproduzidos nesta Carta alguns dos dispositivos previstos na Constituição Republicana de 1946, entre eles, especialmente, aqueles atinentes à possibilidade do uso da censura.

Dispunha o art. 209, Parágrafo Único, I da Constituição de 194630:

Art. 209 - Durante o estado de sítio decretado com fundamento em o nº I do art. 206, só se poderão tomar contra as pessoas as seguintes medidas

[...]

Parágrafo único - O Presidente da República poderá, outrossim, determinar: [...]

I - a censura de correspondência ou de publicidade, inclusive a de radiodifusão, cinema e teatro;

Similar redação foi trazida pela Constituição de 1967, em seu art. 152, §2º, alínea “e”31:

Art. 152, § 2º - O Estado de sítio autoriza as seguintes medidas coercitivas: [...]

28 BRASIL. Lei nº 8.028, de 12 de abril de 1990. Dispõe sobre a organização da Presidência da República e

dos Ministérios, e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8028.htm>. Acesso em: 06 set. 2011.

29 REIS, Antônio Carlos Konder. CONSTITUIÇÃO DE 1967. In: ABREU, Alzira Alves de et al. Dicionário

Histórico-Biográfico Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em:

<http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 03 set. 2011.

30 BRASIL. Constituição (1946). Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>. Acesso em: 06 set. 2011.

31 BRASIL. Constituição (1967). Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1967. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao67.htm>. Acesso em: 06 set. 2011.

(21)

e) censura de correspondência, da imprensa, das telecomunicações e diversões públicas;

Em que pese possuírem texto praticamente idêntico nos dispositivos supracitados, as duas Constituições diferenciavam-se, basicamente, pelas hipóteses em que o mencionado Estado de Sítio poderia ser decretado.

O Diploma Constitucional de 1946 permitia a sua decretação em duas circunstâncias (art. 206, CRFB/1946): nos casos de comoção intestina grave ou de fatos que evidenciem estar a mesma a irromper e nos casos de guerra externa.

Já a Carta de 1967, por sua vez, permitia a decretação da referida situação (art. 152, CRFB/1967) nos casos de grave perturbação da ordem ou ameaça de sua irrupção e nos casos de guerra.

A subjetividade do conceito de ordem pública permitiu a utilização exacerbada do referido instituto na vigência do Regime Militar. A censura naquela época era, portanto, legitimada constitucionalmente.

Antes mesmo da vigência do referido Diploma Constitucional, foi sancionada a Lei 5.250/67, que ficou vulgarmente conhecida como a Lei de Imprensa, cujo objetivo, segundo Antônio Costella, “era regular vários aspectos concernentes ao tema”32.

A lei em comento continuou a vigorar em nosso ordenamento jurídico até meados de 2009, quando foi declarada inconstitucional na íntegra, por meio da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental-ADPF nº. 13033, pelo Supremo Tribunal Federal,

ao argumento de que o seu conteúdo não havia sido abarcado pela Constituição Republicana de 1988.

A censura aos meios de comunicação, assim como na Constituição de 1967, era possibilitada no texto da Lei 5.250/67, que assim dispunha em seu art. 1º34:

32 COSTELLA, Antônio. Lei de Imprensa. In: ABREU, Alzira Alves de et al. Dicionário Histórico-Biográfico

Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 06

set. 2011.

33 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Argüição de Descumprimento Fundamental nº 130. Relator: Min. Ayres Britto. Brasília, 9 de fevereiro de 2009. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=130&classe=ADPF&codigoClasse= 0&origem=JUR&recurso=0&tipoJulgamento=M>. Acesso em: 06 set. 2011.

34 BRASIL. Lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967. Regula a liberdade de manifestação do pensamento e de

informação. Presidência da República, Brasília, DF. Disponível em:

(22)

Art . 1º É livre a manifestação do pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada um, nos têrmos da lei, pelos abusos que cometer.

[...]

§ 2º O disposto neste artigo não se aplica a espetáculos e diversões públicas, que ficarão sujeitos à censura, na forma da lei, nem na vigência do estado de sítio, quando o Govêrno poderá exercer a censura sôbre os jornais ou periódicos e emprêsas de radiodifusão e agências noticiosas nas matérias atinentes aos motivos que o determinaram, como também em relação aos executores daquela medida.

A utilização do referido instituto, além de legitimada pela Constituição vigente à época, possuía a partir de então o devido amparo infraconstitucional.

Em 1968 é criada a Lei 5.53635, vulgarmente intitulada de Lei da Censura, cujo

conteúdo versava, em suma, sobre os procedimentos que deveriam ser utilizados pelos cidadãos brasileiros para obtenção de um certificado, com o qual poderiam tornar públicos determinados tipos de obras.

Pela mesma lei, foi instituído o Conselho Superior de Censura, a quem competia, de acordo com o artigo 17, rever, em grau de recurso, as decisões finais relativas à censura, submetendo-as ao Ministro da Justiça.

Ainda no mesmo ano, é expedido, em 13 de dezembro, o ato institucional mais significante do Regime Militar, o AI-536.

Marcado por um combate mais acentuado contra a ditadura instalada no país, o ano de 1968 criou o cenário perfeito para que o governo militar providenciasse instrumentos e ações mais rigorosas contra os movimentos opositores que se espalhavam no território brasileiro37.

Segundo Vera Calicchio, “logo após a edição do AI-5, foram presos diversos jornalistas e políticos que haviam manifestado sua oposição ao governo dentro ou fora do Congresso”38.

Ao mesmo tempo, conforme especial disponibilizado no site da Folha de São Paulo39, as emissoras de televisão e de rádio e as redações de jornais passaram a ser ocupadas 35 BRASIL. Lei nº 5.536, de 21 de Novembro de 1968. Dispõe sobre a censura de obras teatrais e

cinematográficas, cria o Conselho Superior de Censura, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www2.camara.gov.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-5536-21-novembro-1968-357799-publicacaooriginal-1-pl.html> Acesso em 06 set. 2011.

36 BRASIL. Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-05-68.htm>. Acesso em 08 set. 2011. 37 D'ARAUJO, Maria Celina. O AI-5. Disponível em:

<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5>. Acesso em: 08 set. 2011.

38 CALICCHIO, Vera. ATOS INSTITUCIONAIS. In: ABREU, Alzira Alves de et al. Dicionário

Histórico-Biográfico Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/>.

(23)

por censores – empregados públicos encarregados de revisar e censurar obras literárias ou artísticas, à época40.

Este seria o golpe mais violento sofrido pela imprensa na história do Brasil. A censura aos meios de imprensa atingia seu ápice a partir da edição do referido ato.

O AI-5 “definiu o momento mais duro do regime, dando poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou como tal considerados”41.

O ato institucional em comento foi extinto em 1978, pela Emenda Constitucional nº. 1142, sendo mantidos, no entanto, os efeitos dele exarados.

Como se vê pelas anotações acima colacionadas, a imprensa sofreu duras represálias ao longo da história do Brasil, principalmente nos períodos acima explicitados. Todas as medidas contra ela tomadas fundamentavam-se, em suma, na manutenção do poder instalado no governo brasileiro.

2.2.3 O Regime Democrático: Liberdade à Imprensa

Após árduas batalhas, em que foram derramados muito sangue, suor e lágrimas, a nação brasileira se liberta do Regime Ditatorial vigente à época e retoma as rédeas da República, resgatando a Democracia em nosso país.

A Constituição Federal de 1988, símbolo maior desta liberdade, passa a arrolar e a proteger em seu texto determinadas garantias fundamentais aos cidadãos brasileiros, de modo que estas nunca mais pudessem ser violadas por eventuais governantes do país enquanto na sua vigência.

39 FOLHA DE SÃO PAULO. O AI-5. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/hotsites/ai5/>. Acesso em: 08 set. 2011. 40 BUENO, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2000. 41 D'ARAUJO, Maria Celina. O AI-5. Disponível em:

<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5>. Acesso em: 08 set. 2011.

42 CALICCHIO, Vera. ATOS INSTITUCIONAIS. In: ABREU, Alzira Alves de et al. Dicionário

Histórico-Biográfico Brasileiro ? Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/>.

(24)

Entre elas, especificamente, encontram-se as já citadas liberdade de expressão e de pensamento (artigo 5º, incisos IV, IX e XIV, da CRFB/1988), cujos enunciados baseiam atualmente toda a atividade de imprensa desenvolvida no Brasil.

Em reforço ao enunciado contido em seu artigo 5º, assim dispõe a Constituição Federal no artigo 22043:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.

§ 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. [...]

Desse modo, extinguiu-se formal e definitivamente a censura aos meios de comunicação do ordenamento jurídico pátrio, possibilitando à Imprensa que agisse livremente em nosso país.

Esta seria a brecha necessária para o início dos problemas que serão adiante explanados neste trabalho.

2.3 IMPRENSA CONTEMPORÂNEA

Atualmente, conforme se demonstrará com mais profundidade em seguida, a atividade desenvolvida pela imprensa tem atropelado diversas garantias previstas em nossa Constituição Federal, entre elas, em especial, aquela que será estudada no próximo capítulo deste trabalho: a presunção de inocência.

Isso, no entanto, não ocorre por acaso. A justificativa para a conduta adotada pela imprensa contemporânea pode ser extraída das raízes de sua própria história.

Nelson Werneck Sodré, ao analisar a história do fenômeno midiático, afirma com propriedade que a Imprensa nasceu juntamente com o Capitalismo e tem se desenvolvido acompanhando as regras ditadas pelo referido sistema44.

43BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal da República Federativa do Brasil de1988. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 03 set. 2011.

(25)

Seguindo os passos de um aparelho econômico que prima pelo lucro45, os meios

de comunicação se tornam grandes conglomerados empresariais46, que passam a buscar

incessantemente pelo capital necessário ao subsídio de suas próprias atividades47.

O problema surge quando a imprensa deixa de exercer sua principal função, a disseminação de informações, cujo conteúdo constitui direito público de todo cidadão48, para

exercer exclusivamente atividade de cunho empresarial em busca de altos montantes financeiros.

Norteada pelo simples "lucrar”, a imprensa, agora empresária, passa a se organizar para sobreviver no disputadíssimo mercado da informação, munindo-se com todas as armas possíveis (notícias, opiniões e atrativos para todos os gostos)49, de modo que possa estar

sempre preparada para combater a constante concorrência50.

De acordo com Nelson Werneck Sodré51, o segredo para o bom desenvolvimento

da imprensa concomitantemente ao sistema capitalista consiste, basicamente, em dois itens: a rapidez com que as informações chegam aos espectadores e o maior número possível de receptores das respectivas informações.

Nesse contexto, vislumbra-se a adesão em massa dos diversos meios de comunicação a praticas cada vez mais sensacionalistas52, como a exploração de títulos espetaculares e a larga cobertura a crimes e outras anomalias sociais53.

Percebendo a eficiência da nova roupagem utilizada, notadamente em virtude da escolha pelo público alvo do entretenimento ao invés da pura e simples informação, a imprensa imerge sua atividade em um gigantesco espetáculo midiático.

Este espetáculo, na lição de Guy Debord54, é responsável pela reprodução de uma

verdadeira fábrica de alienação em massa, na qual os indivíduos passam a produzir e se comportarem da forma como são constante e inconscientemente induzidos.

44 SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p.X 45 SOUZA, Rainer. Origem do Capitalismo. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiag/origem-capitalismo.htm>. Acesso em: 10 set. 2011.

46 SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4ª edição Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p.X 47 CAPELETO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994. p. 18 48 CAPELETO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994. p. 18 49 SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4ª edição Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p.5 50 CAPELETO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994. p. 18 51 SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999

52 RAMONET, Ignacio. A tirania da comunicação. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. p.66

53 CAPELETO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994. p. 15 54 DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Disponível em:

<http://www.arq.ufsc.br/esteticadaarquitetura/debord_sociedade_do_espetaculo.pdf>. Acesso em 10 set. 2011. p.20

(26)

Alienados, os homens que até então eram livres, passam a ser aprisionados naquilo chamado por inúmeros estudiosos de “massa de manobra”, tornando-se reféns do instrumento que outrora havia lhes libertado: a comunicação.

2.3.1 O espetáculo legitimado

Mesmo com as recentes revoluções tecnológicas, com o advento da internet e a expansão do rápido acesso à informação, o jornal impresso ainda é um meio de comunicação bem utilizado pela população brasileira, em especial pelo povo sulista.

Segundo a pesquisa realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência Nacional (SECOM) no final de 201055, aproximadamente 52,2% da população

entrevistada na Região Sul do país afirmou ler jornais atualmente.

Em que pese a pouca confiabilidade dispensada aos meios de comunicação em geral (71,9%), o jornal aparece em terceiro lugar na lista dos veículos mais confiáveis para se obter informações (11%), perdendo apenas para a televisão (57,7%) e para o rádio (11,4%).

Estas informações, no entanto, não revelam nada muito peculiar. O que causa certo espanto é o resultado da pesquisa em relação ao conteúdo preferido pelos entrevistados nos referidos meios de comunicação.

Infelizmente, o foco da pesquisa, nesse aspecto, restringiu-se ao conteúdo que usualmente é veiculado pelos aparelhos de televisão. No entanto, tais dados podem ser utilizados, ainda que analogicamente, para demonstrar o que se concluirá a seguir.

De acordo com a pesquisa, os telejornais são os programas mais assistidos pela população entrevistada (36,9%), com uma pequena margem de vantagem sobre o segundo lugar, cuja posição é atualmente ocupado pelas telenovelas (31,5%).

O futebol, ícone do país, que traduz verdadeira paixão para a maioria dos brasileiros, ocupa o terceiro lugar na lista apresentada pelos telespectadores, com baixíssimo índice de preferência (7,9%).

55 SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Hábitos De

Informação e Formação De Opinião Da População Brasileira II, Ano 2010. Disponível em:

<http://www.secom.gov.br/pesquisas/2010-12-habitos-ii/2010-12-habitos-de-informacao-e-formacao-de-opiniao-da-populacao-brasileira-ii-sul.pdf>. Acesso em 11 set. 2011.

(27)

Com base nos dados apresentados pela pesquisa, é possível afirmar que a nação brasileira, pela ótica dos telespectadores entrevistados, prefere muito mais uma boa encenação a uma partida de futebol.

Não é por outro motivo que, ressalvadas raríssimas exceções, a maioria dos meios de comunicação brasileiros, incluindo-se aqui os jornais impressos, adotaram a postura criticada na seção anterior para angariar cada vez mais espectadores.

Para satisfazer a lascívia da esmagadora massa de leitores brasileiros, os jornais especializaram-se na produção de bons dramas, com tudo a que esta tem direito, como a análise aprofundada dos personagens envolvidos (mocinhos e vilões), grandes reviravoltas e, claro, quase sempre um belo final feliz.

As reportagens passam a ser produzidas para causar o maior efeito possível no público alvo56, nem que para isso seja necessário cometer exageros, como imergir os leitores

num mar infinito de mentiras escabrosas e histórias fantasiosas57.

Exemplo prático disso é o episódio ocorrido em meados de 1994, que ficou conhecido pela história como “O Caso Escola Base”58, onde a imprensa da época, realizando um julgamento paralelo àquele que originalmente compete ao Poder Judiciário, divulgou tendenciosamente determinados fatos e condenou sumariamente um casal de cidadãos – que sequer foram processados, sendo posteriormente declarados inocentes – pela prática de crimes sexuais envolvendo crianças numa escola da Grande São Paulo.

Muito embora tal conduta tenha repercutido negativamente e gerado inúmeras críticas não só por operadores jurídicos como também por integrantes do próprio meio jornalístico, os meios de comunicação continuam a repetir os erros outrora cometidos em novas oportunidades, como nos recentes “Caso Isabela Nardoni” 59 – onde os pais de uma garota foram acusados e condenados pelo Júri Popular por supostamente a terem defenestrado com vida – e “Caso Eliza Samúdio”60– onde o goleiro de um conhecido time de futebol foi

acusado por supostamente participar do assassínio de sua ex-amante, cujos restos mortais foram utilizados para alimentar os cães de sua propriedade rural.

56 CAPELETO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994. p.17 57 RAMONET, Ignacio. A tirania da comunicação. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 67

58 RIBEIRO, Alex. Caso Escola Base: Os abusos da imprensa. 2. ed. São Paulo: Ática, 2003.

59 R7 NOTÍCIAS. Veja a cobertura completa do caso Eliza. Disponível em: <http://noticias.r7.com/caso-eliza-samudio/#eliza>. Acesso em: 10 out. 2011.

(28)

Em ambos os casos - cujos conteúdos não serão aprofundados neste trabalho, sobretudo em virtude da inexistência de trânsito em julgado em seus processos judiciais - os instrumentos midiáticos exerceram demasiada influência no regular exercício da jurisdição criminal. No primeiro, notadamente pela cobertura realizada pela imprensa, cujo acampamento montado do lado de fora do Fórum de Santana-SP61 exerceu excessiva pressão

sobre os jurados. No segundo, por sua vez, pela exagerada exposição do acusado que antes mesmo da investigação policial ter sido finalizada foi condenado pela mídia como o autor do “mais hediondo crime da história recente do Brasil”62.

Nessa hodierna prática, agindo sob a égide de uma infinita e praticamente inatingível liberdade que hoje lhe é assegurada constitucionalmente, descontrolada, a atividade midiática, objetivando expandir cada vez mais os seus horizontes, extrapola todos os limites e passa a interferir constantemente na prestação da atividade jurisdicional, em especial na esfera processual penal, fato este que será devidamente abordado no próximo capítulo deste trabalho.

61 UOL NOTÍCIAS. Casal Nardoni: policiais, imprensa e curiosos cercam fórum. Disponível em: <http://mais.uol.com.br/view/1765115> Acesso em: 20 out. 2011.

62 VILELA, Everaldo. O caso Eliza Samudio e o sensacionalismo. Disponível em:

<http://www.everaldovilela.com/2010/07/10/o-caso-eliza-samudio-e-o-sensacionalismo/>. Acesso em: 20 out. 2011.

(29)

3 CONFLITO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Neste capítulo será analisada a influência exercida pelos mecanismos de comunicação em massa nos procedimentos criminais, realizando-se uma abordagem nos dois princípios constitucionais cujos conteúdos encontram-se intimamente relacionados com a atividade desenvolvida pelos referidos instrumentos, quais sejam a liberdade de informação e expressão e a presunção de inocência.

3.1 O PROCESSO PENAL

Muito embora seja inegável o avanço vivenciado pela humanidade desde o momento em que optou por viver em conjunto com os seus pares, é sabido que a vida em sociedade, desde os tempos mais remotos, é marcada por inúmeros conflitos.

Alguns indivíduos, por motivos que fogem do foco da presente pesquisa, resistindo aos conceitos instituídos pelo organismo criado pelo homem, passaram a deturpar a ordem imposta adotando condutas consideradas incompatíveis pela moral e pelos bons costumes daquele conglomerado de pessoas.

Por ter optado abandonar o lado animalesco para exercer sua existência como um ser politizado, o homem é obrigado a suprimir, com todas as suas forças, alguns sentimentos intrínsecos à sua própria natureza, como o insaciável desejo de punir e se vingar pessoalmente destes indivíduos transgressores.

É nesse ínterim que, de acordo com a lição de Aury Lopes Junior63:

O Estado, como ente jurídico e político, avoca para si o direito (e o dever) de proteger a comunidade e também o próprio réu, como meio de cumprir sua função de procurar o bem comum, que se veria afetado pela transgressão da ordem jurídico-penal, por causa de uma conduta delitiva.

63 LOPES JUNIOR, Aury. Introdução Crítica ao Processo Penal: (Fundamentos da Instrumentalidade Constitucional). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p.2

(30)

Em outras palavras, o Estado elimina o sentimento de vingança privada de cada cidadão e invoca para si a tutela penal, exercendo-a por meio de um aparelho pelo qual os infratores são devidamente julgados e punidos: o processo penal.

Portanto, para que esta poderosa prerrogativa - de punir, castigar, sancionar alguém – seja genuinamente exercida é imprescindível a existência prévia deste instrumento processual que, na lição de Aury Lopes Junior, “como instituição estatal, é a única estrutura que se reconhece legítima para imposição de pena”64.

Assim como a civilização humana, o processo penal passou por inúmeras transformações ao longo da história. Na medida em que o homem ia se tornando mais polido, mais civilizadas se tornavam as normas processuais penais da sociedade em que este habitava. Não é por outro motivo que alguns doutrinadores defendem que o referido regramento constitui verdadeiro termômetro65, segundo o qual é possível determinar, dentre

outras coisas, o grau de civilidade de determinado meio social.

No Brasil, especificamente, o processo penal encontra-se regulamentado pelo Decreto-Lei 3.68966, de 1941, cujo nascedouro data da época em que vigorava em nosso país o regime autoritário instituído por Getúlio Vargas - o Estado Novo.

Por vivermos atualmente sob a égide de um Estado Democrático de Direito, é inconcebível que este seja conduzido em inobservância aos dispositivos contidos na Constituição Republicana promulgada em outubro de 198867.

No texto do referido diploma constitucional foram elencadas uma série de garantias instituídas com o fim de frear o autoritarismo inerente à natureza do próprio ente estatal e de proteger o indefeso e hipossuficiente cidadão comum deste poderoso Leviatã.

Dentre as referidas garantias, cujos enunciados compõem princípios norteadores de nosso ordenamento jurídico68, podemos citar, a título exemplificativo, o devido processo

64 LOPES JUNIOR, Aury Celso Lima. O fundamento da existência do processo penal: instrumentalidade

garantista. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 27, 23 dez. 1998. Disponível em:

<http://jus.com.br/revista/texto/1060>. Acesso em: 25 set. 2011.

65 LOPES JUNIOR, Aury. Fundamento, requisito e principios gerais das prisões cautelares. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5060. Acesso em: 29 set. 2011.

66 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941.Brasília, DF. Código de Processo Penal. Presidência da República, Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 18 out. 2011.

67 BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal da República Federativa do Brasil de1988. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 03 set. 2011.

(31)

legal, a razoável duração do processo, a ampla defesa, o contraditório, a necessidade de fundamentação adequada das decisões judiciais, o acesso à justiça, entre diversas outras.

Muito embora possuam primordial função não só ao processo penal como também à vida de cada indivíduo, sérios problemas surgem quando alguma dessas garantias extrapola sua respectiva área de alcance e invade de maneira significativa o campo de atuação da outra.

Objetivando não tornar demasiadamente extensa a presente pesquisa, abordaremos aqui notadamente a problemática derivada do conflito de dois princípios constitucionais hodiernamente debatidos por diversos operadores jurídicos, quais sejam a presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CRFB) e a liberdade de expressão e informação (art. 5º, IV, IX e XIV, CRFB).

Antes de prosseguir com o trabalho, aprofundando o estudo do problema apresentado nesta pesquisa – o conflito entre a liberdade de informação e a presunção de inocência, é imprescindível analisar e tecer rapidamente algumas considerações sobre cada uma dessas garantias, abordando-as individualmente.

3.1.1 Liberdade de Informação, Expressão e Imprensa

Conforme já demonstrado no capítulo anterior, o direito da liberdade de informação e expressão, assim como diversos outros direitos fundamentais (incluindo-se aqui o direito a presunção de inocência), foi violentamente tolhido ao longo da história da humanidade.

Após muita luta, o referido direito passou a ser reconhecido como “uma necessidade primordial do homem que vive em sociedade”69, sendo celebrado em diversos

tratados internacionais como no art. 11 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão70

– de 1789 – e no art. XIX da Declaração Universal dos Direitos dos Homens71– de 1948.

69 VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2003. p. 30 70 ASSEMBLÉIA NACIONAL FRANCESA. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de agosto de 1789. Disponível

em:<http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/direitos-humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf>. Acesso em: 10 out. 2011.

71 ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal Dos Direitos Humanos, de 10 de

dezembro de 1948. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>.

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Em nosso ordenamento jurídico, a liberdade de informação e expressão, como direito e garantia fundamental, encontra-se prevista nos artigos 5º, incisos IV, IX e XIV e 220 e seguintes da Constituição Federal.

Ao abordar o referido princípio em sua obra, Ana Lúcia Menezes Vieira72 atenta

ao fato de que há na doutrina certa preocupação em distinguir o que efetivamente é liberdade de expressão e o que é liberdade de informação. Segundo a autora, há quem entenda que um compreende a divulgação de determinada coisa de modo neutro e imparcial (liberdade de informação), ao passo que o outro compreende a divulgação de alguma coisa com certa carga de subjetividade, o que gera inevitavelmente parcialidade naquilo que é divulgado (liberdade de expressão).

Em que pese a sutil diferença apresentada, entende-se que os referidos princípios possuem conteúdos que se confundem e ao mesmo tempo se complementam, motivo pelo qual, tomando por base o enunciado previsto nos artigos dos tratados supracitados, eles serão trabalhados como se unidade fossem.

De acordo com a lição de José Afonso da Silva, a prerrogativa em análise constitui um direito pessoal que “compreende a procura, o acesso, o recebimento ou a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada um pelos excessos que cometer”73.

O direito em comento – de informar e se manter informado - quando exercido por meio dos instrumentos de comunicação em massa tem seu conceito ampliado, podendo, a partir desse momento, ser denominado simplesmente de direito à liberdade de imprensa74.

A liberdade de imprensa possui elevado valor à sociedade, haja vista que graças a esta prerrogativa os meios de comunicação hoje podem exercer constante vigilância às atividades dos chefes de Estado, coibindo a instalação de novos regimes ditatoriais como tantos outros que com muito sacrifício foram derrubados ao longo da história da humanidade.

De acordo com a lição de Jayme Weingartner Neto75, a liberdade de expressão e

informação é “imprescindível na formação de uma sociedade verdadeiramente democrática”. Por este motivo, Guilherme Doring Cunha Pereira é categórico ao afirmar que, sobretudo por viabilizarem a aplicabilidade desta importantíssima garantia constitucional, os meios de

72 VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2003. p. 25 73 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 246 74 VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2003. p. 32 75 WEINGARTNER NETO, Jayme. Honra, Privacidade e Liberdade de Imprensa: uma pauta de justificação penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. p. 79/80

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comunicação desempenham ínsita função social, agindo como verdadeiros “guardiões da democracia”76.

No processo penal, especificamente, a garantia constitucional em comento possui demasiada importância por possibilitar maior alcance à publicidade dos atos processuais (artigos 5º, LX e 93, IX, ambos da Constituição Federal), de modo que seja possível a todo cidadão comum exercer controle diário sobre a atividade jurisdicional.

Graças a ela que, por exemplo, é possível fiscalizar se todas as demais garantias constitucionalmente asseguradas aos jurisdicionados têm sido efetivamente aplicadas pelos Órgãos Judicantes na condução dos processos que diariamente lhes são submetidos77.

A liberdade de expressão e informação, ao assumir esse aspecto de extensão à publicidade processual, constitui, segundo Judson Pereira de Almeida, verdadeiro corolário democrático78, uma vez que, sem a presença deste importante princípio no dia-a-dia forense,

correríamos o sério risco de retroceder à época em que, agindo no total desconhecimento do povo, os tiranos instituíam o processo apenas para legitimar e formalizar as suas próprias atrocidades.

Não é por outro motivo que, em reforço aos ensinamentos do referido autor, Rui Barbosa é categórico ao afirmar que a publicidade (em seu conceito amplo) “é o princípio que preserva a justiça de corromper-se”, pois inevitavelmente “todo o poder, que se oculta, perverte-se”79.

Por fim, é salutar lembrar que o direito aqui estudado era regulamentado até meados de 2009 pela Lei 5.250/67, vulgarmente conhecida como Lei de Imprensa, cujo conteúdo, conforme já mencionado no capítulo anterior, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal por meio da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº. 130.

No julgamento realizado pela Suprema Corte Brasileira, decidiu-se, por maioria de votos, que o referido texto legal não foi recepcionado pela Constituição Federal vigente,

76 PEREIRA, Guilherme Döring Cunha. Liberdade e responsabilidade dos Meios de Comunicação. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2002. p.43

77 LOPES JUNIOR, Aury. Introdução Crítica ao Processo Penal: (Fundamentos da Instrumentalidade Constitucional). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p.192

78 ALMEIDA, Judson Pereira de. Os Meios de Comunicação de Massa e o Direito Penal: A Influência da Divulgação de Notícias no Ordenamento Jurídico Penal e no Devido Processo Legal. Ciência &

Desenvolvimento: Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, n. , p.1-9, 27 nov. 2008. Disponível

em: <http://srv02.fainor.com.br/revista/index.php/memorias/article/viewFile/11/26>. Acesso em: 10 out. 2011. 79 BARBOSA, Rui apud DOTTI, René Ariel. A imortalidade e a herança de Ruy Barbosa (final). Disponível em:<http://www.parana-online.com.br/colunistas/149/83459/>. Acesso em: 02 out. 2011.

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haja vista que, por ter sido confeccionada durante o regime militar instaurado no Brasil, a referida lei possuía conteúdo atentatório à liberdade da imprensa.

Muito embora tenha sido extirpada de nosso ordenamento jurídico, a referida lei possuía determinados pontos importantes, como, por exemplo, uma responsabilização mais severa àqueles que eventualmente exercessem de maneira abusiva a prerrogativa aqui comentada (art. 12, Lei 5.250/67). Por este motivo, há quem entenda atualmente necessária nova regulamentação à atividade exercida pelos meios de comunicação.

Conforme noticiado recentemente80, este polêmico e delicado tema – de

regulamentar a atividade midiática e o exercício do direito de liberdade de comunicação e expressão - foi recentemente debatido num congresso realizado pelas lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT), especificamente no dia 4 de setembro de 2011, no qual se defendeu a criação de uma novo marco regulatório à imprensa, em conformidade com a Constituição vigente.

O objetivo desta regulamentação, segundo o presidente nacional do partido, Rui Falcão, não é resgatar a censura outrora exercida aos meios de comunicação, mas sim evitar que estes sejam utilizados para promover jornalismo partidário, bem como destruir o monopólio de informação atualmente exercido por determinados grupos de comunicação81.

Em que pese a discussão ser extremamente recente, o assunto, sobre o qual serão tecidos comentários adiante na conclusão do trabalho, tem rendido calorosas discussões e dividido opiniões para todas as direções.

Realizadas as considerações sobre os principais aspectos da liberdade de expressão, informação e imprensa, passa-se à análise de outro princípio constitucionalmente garantido a todos os cidadãos brasileiros, cujos efeitos são essenciais principalmente no exercício da jurisdição penal: a presunção de inocência.

80 AGÊNCIA BRASIL. Marco regulatório proposto pelo PT não é consenso entre base e oposição. Correio

Braziliense, 05 de setembro de 2011. Disponível em:

<http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2011/09/05/interna_politica,268504/marco-regulatorio-proposto-pelo-pt-nao-e-consenso-entre-base-e-oposicao.shtml>. Acesso em 04 out. 2011. 81CAMAROTTI, Gerson. PT vai realizar seminário para discutir o marco regulatório dos meios de comunicação. O Globo, 06 de outubro de 2011. Disponível em:

<http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/10/06/pt-vai-realizar-seminario-para-discutir-marco-regulatorio-dos-meios-de-comunicacao-925527493.asp>. Acesso em: 10 out. 2011.

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3.1.2 Presunção de Inocência ou Não-Culpabilidade

A presunção de inocência, como princípio e direito fundamental, encontra-se prevista em nosso ordenamento jurídico no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal em vigor, que assim dispõe82:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

Segundo Guilherme de Souza Nucci83, o enunciado deste princípio decorre da

idéia de que toda pessoa nasce inocente, devendo assim permanecer até que o Estado-Juiz, por meio do devido processo legal, consiga comprovar sua culpabilidade.

Por este motivo, Eugêncio Pacelli de Oliveira84 entende errônea a afirmação de

que a inocência seja presumida em virtude deste princípio, uma vez que, sendo esta nata ao ser humano desde o seu nascedouro, deve compor o estado natural do homem e não uma mera presunção.

Consoante ao que foi dito alhures, a garantia em comento, por decorrer da própria essência humana, é indisponível e irrenunciável e merece respeito absoluto por todos os indivíduos.

O princípio em análise possui, no mínimo, duas funções distintas: a inversão do ônus probatório que a partir da persecução criminal passa a incumbir exclusivamente à face acusatória do ente estatal85 e a garantia de que o indivíduo não poderá, sob nenhuma hipótese,

82 BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal da República Federativa do Brasil de1988. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 03 set. 2011.

83 NUCCI, Guilherme de Souza. Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2010. p.239

84 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 7. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. p.32 85 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 4. ed. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2008. p.75

Referências

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