• Nenhum resultado encontrado

Sociabilidades Urbanas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Sociabilidades Urbanas"

Copied!
128
0
0

Texto

(1)

Sociabilidades

Urbanas

Revista de Antropologia e Sociologia

Publicação do Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções

Universidade Federal da Paraíba (Campus I – João Pessoa)

Ano II Número 5 Julho de 2018 ISSN 2526-4702

(2)

Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia

GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Universidade Federal da Paraíba

Publicação Quadrimestral do GREM/UFPB n° 5 – Julho de 2018 – Ano II

ISSN 2526-4702

Conselho Editorial

Cláudia Turra Magni (UFPEL); Cornelia Eckert (UFRGS); Gabriel D. Noel (Argentina - UNSAM); João Martinho Braga de Mendonça (UFPB); Jussara Freire (UFF); Lisabete Coradini (UFRN); Luís Roberto Cardoso de Oliveira (UNB); Luiz Antonio Machado da Silva (UERJ); Luiz Gustavo P. S. Correia (UFS); Maria Cláudia Pereira Coelho (UERJ); Maria Cristina Rocha Barreto (UERN); Pedro Lisdero (Argentina - CONICET); Roberta Bivar Carneiro Campos (UFPE); Rogério de Souza Medeiros (UFPB); Simone Magalhães Brito (UFPB).

EDITORES

Raoni Borges Barbosa (UFPB/GREM)

(3)

Expediente

http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/ Sociabilidades Urbanas ISSN 2526-4702

Editores: Raoni Borges Barbosa e Mauro Guilherme Pinheiro Koury

Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia é uma revista

acadêmica do GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções. Tem por objetivo debater as questões de formação do self e de culturas emotivas nas sociabilidades urbanas contemporâneas na perspectiva teórico-metodológica das Ciências Sociais, sobretudo a antropologia e a sociologia.

The Urban Sociabilities - Journal of Anthropology and Sociology is an academic journal of GREM - Research Group on Anthropology and Sociology of Emotions. It aims to discuss the issues of self and emotive cultures formation in contemporary urban sociabilities in the theoretical-methodological perspective of Social Sciences, especifically with de anthropology and sociology.

Secretaria Sociabilidades Urbanas. E-Mail: socurbsgrem@gmail.com

O GREM é um Grupo de Pesquisa vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba.

GREM is a Research Group at Department of Social Science, Federal University of Paraíba, Brazil.

Endereço / Address:

Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia [Aos cuidados de Raoni Borges Barbosa]

GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções

Departamento de Ciências Sociais/CCHLA/UFPB CCHLA / UFPB – Bloco V – Campus I – Cidade Universitária CEP 58 051-970 · João Pessoa · PB · Brasil

Ou, preferencialmente, através do e-mail: sociabilidadesurbanas@cchla.ufpb.br Or, preferentially, by e-mail: sociabilidadesurbanas@cchla.ufpb.br

(4)

ISSN 2526-4702

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia / GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções / Departamento de Ciências Sociais /CCHLA/ Universidade Federal da Paraíba – v. 2, n. 5, Julho de 2017.

João Pessoa – GREM, 2017. (v.1, n.1 – Março/Junho de 2017) - Revista Quadrimestral ISSN 2526-4702

Antropologia – 2. Sociologia – 3. Antropologia Urbana – 4. Sociologia Urbana – Periódicos – I. GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções. Universidade Federal da Paraíba

BC-UFPB CDU 301 CDU 572

(5)

Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia é uma revista acadêmica do GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções. Tem por objetivo debater as questões de formação do self e de culturas emotivas nas sociabilidades urbanas contemporâneas na perspectiva teórico-metodológica das Ciências Sociais, sobretudo a antropologia e a sociologia.

Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia se propõe o esforço de construção de uma rede acadêmica de discussão e reflexão sobre o urbano contemporâneo, em especial o brasileiro, de uma perspectiva interacionista e figuracional da antropologia e sociologia, de modo a enfatizar o exercício de análise da cidade enquanto comunidade paradoxal e espaço societal de intenso conflito entre cultura objetiva e subjetiva na qual emerge a individualidade moderna.

O fazer antropológico e sociológico se direciona, nesta proposta teórico-metodológica, para o esforço de observação e análise da formação da cultura emotiva, dos códigos de moralidade e do self de atores sociais situados como agências criativas e produtoras de um espaço interacional e intersubjetivo urbano específico.

Problematiza, portanto, a dimensão processual da construção e desconstrução das cadeias de interdependência que se manifestam socialmente enquanto objetificação de conteúdos subjetivos trocados pelos atores sociais.

As consequências desta exigência teórico-metodológica podem ser percebidas na preocupação, quando do fazer etnográfico e da observação micro-orientada das formas e conteúdos sociais, do registro das tensões e dos vínculos de solidariedade e conflito entre os interactantes no formato de encontros, pertença, confiança, traição, medos, angústias, vergonhas, ressentimentos, humilhações, sofrimento, e ainda todo um conjunto extenso de emoções e gramáticas morais que perfazem as práticas e o imaginário cotidiano e ordinário dos atores sociais na cidade.

Estas emoções revelam, entre outros, as disputas morais e os códigos de moralidade em jogo nos sistemas de posição que organizam as fronteiras e hierarquias simbólicas e materiais entre as unidades interacionais sob análise.

A agenda teórico-metodológica e os interesses temáticos abrigados na proposta de publicação da Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia vem sendo amadurecidos em uma rotina de pesquisa de quase quatro três décadas desenvolvida no GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções, cujas linhas de pesquisa, atualmente, são as seguintes: Emoções e Consumo; Emoções e Sociabilidades Urbanas; Emoções, Moralidade e Gênero; Estudos Teóricos em Antropologia e Sociologia das Emoções.

Nas palavras de Koury (A Antropologia e a sociologia das emoções no Brasil:

breve relato histórico do processo de consolidação de uma área temática. Trabalho

apresentado no II Simpósio Interdisicplinar de Ciências Sociais e Humanas da UERN, 2014.), fundador e coordenador do GREM:

―O GREM tem por objetivo a compreensão e análise da emergência da individualidade e do individualismo no Brasil urbano contemporâneo. Enfatiza a questão da formação das emoções, enquanto cultura emotiva, e desenvolve estudos e pesquisas sobre o processo de formação e experiência sobre emoções específicas em sociabilidades dadas. Assim, o processo de luto e da morte e do morrer; dos medos; das formas de sociabilidades e das etiquetas sociais que envolvem as relações de amizade; dos processos de ressentimento e humilhação; e das formas de estabelecimentos de laços de confiança e desconfiança entre as camadas médias e periféricas no urbano brasileiro, faz parte do núcleo de interesse do GREM. As pesquisas desenvolvidas e em desenvolvimento no GREM se debruçam sobre as imagens e suas representações na

(6)

conformação do homem comum urbano brasileiro. Debruça-se, também, sobre as redundâncias, as ambivalências e as ambiguidades do ato executado ou expresso, sobre os silêncios, sobre os discursos e narrativas fragmentados, sobre os gestos e tique que, invariavelmente, acompanham um diálogo ou uma informação e, às vezes, ampliam, modificam ou contextuam para além das frases ditas e dos sentidos do quer expressar. Tratam, enfim, da cultura emotiva e as redes morais que se formam nela e através dela‖.

Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia parte também da experiência acumulada nos quinze anos de publicação sobre emoções da RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, fundada e editada por Mauro Koury e sediada no GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia das Emoções.

Neste ínterim, Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologias se situa em uma tradição acadêmica de pesquisas e reflexões em antropologia e sociologia sobre o indivíduo, o social e a cultura da perspectiva das emoções, de modo a enfatizar esta proposta no campo das sociabilidades urbanas.

EDITORES Raoni Borges Barbosa (UFPB/GREM) Mauro Guilherme Pinheiro Koury (UFPB/GREM)

(7)

NORMAS PARA OS AUTORES

1. A Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia, ISSN 2526-4702, é uma publicação quadrimestral do GREM – Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções, com lançamentos nos meses de março, julho e novembro de cada ano.

2. A Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia tem por editores: Raoni Borges Barbosa e Mauro Guilherme Pinheiro Koury.

3. A Sociabilidades Urbanas pode ser lida inteiramente, de forma gratuita, no site http://www.cchla.ufpb.br/grem/sociabilidadesurbanas/.

4. Todos os artigos apresentados aos editores da Sociabilidades Urbanas serão submetidos à pareceristas anônimos conceituados para que emitam sua avaliação. 5. A revista aceitará somente trabalhos inéditos sob a forma de artigos, entrevistas, traduções, resenhas e comentários de livros. Exceto nos casos de dossiês e autores convidados ou artigos que o Coordenador do Dossiê ou o Conselho Editorial achar importante publicar ou republicar.

6. Os textos em língua estrangeira, quando aceitos pelo Conselho Editorial, serão publicados no original, se em língua espanhola, francesa, italiana e inglesa, podendo por ventura vir a ser traduzido.

7. Todo artigo enviado à revista para publicação deverá ser acompanhado de uma lista de até cinco palavras-chave e Keywords que identifiquem os principais assuntos tratados e de um resumo informativo em português, com versão para o inglês (abstract), com 300 palavras máximas, onde fiquem claros os propósitos, os métodos empregados e as principais conclusões do trabalho.

8. Deverão ser igualmente encaminhados aos editores dados sobre o autor (filiação institucional, áreas de interesse, publicações, entre outros aspectos).

9. Os editores reservam-se o direito de introduzir alterações na redação dos originais, visando a manter a homogeneidade e a qualidade da revista, respeitando, porém, o estilo e as opiniões dos autores. Os artigos expressarão assim, única e exclusivamente, as opiniões e conclusões de seus autores.

10. Os artigos publicados na revista serão disponibilizados apenas on-line.

Toda correspondência referente à publicação de artigos deverá ser enviada para o e-mail da Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia:

sociabilidadesurbanas@cchla.ufpb.br. Regras para apresentação de originais

1. Os originais que não estiverem na formatação exigida pela Sociabilidades Urbanas não serão considerados para avaliação e imediatamente descartados.

2. Os artigos submetidos aos editores para publicação na Sociabilidades Urbanas deverão ser digitados em Word, fonte Times New Roman 12, espaço duplo, formato de página A-4. Nesse padrão, o limite dos artigos será de até 30 páginas e 8 páginas para resenhas, incluindo as notas e referências bibliográficas.

(8)

3. Citações com mais de três linhas, no interior do texto, devem se encontrar em separado, sem aspas, com recuo de 1 cm à direita, fonte Times New Roman 11, normal, espaçamento entre linhas duplo; e espaçamento de 6x6.

4. O arquivo deverá ser enviado por correio eletrônico para o e-mail sociabilidadesurbanas@cchla.ufpb.br.

Notas e remissões bibliográficas

1. As notas deverão ser sucintas e colocadas no pé-de-página.

2. As remissões bibliográficas não deverão ser feitas em notas e devem figurar no corpo principal do texto. Sociabilidades Urbanas - Revista de Antropologia e Sociologia, ISSN 1234-5678, v. 1, n. 1, abril de 2017 ISSN 2526-4702.

3. Da remissão deverá constar o nome do autor, seguido da data de publicação da obra e do número da página, separados por vírgulas, de acordo com o exemplo 1: Exemplo 1: Segundo Cassirer (1979, p.46), a síntese e a produção pelo saber...

4. Usa-se o sobrenome do autor, quando no interior do parêntese, em letras maiúsculas, conforme o exemplo 2: Exemplo 2: O eu que enuncia "eu" (BENVENISTE, 1972, p.32)... .

Referências

1. As referências bibliográficas deverão constituir uma lista única no final do artigo, em ordem alfabética.

2. Deverão obedecer aos seguintes modelos: a) Tratando-se de livro:

 sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;

 título da obra (em itálico):

 subtítulo, (também em itálico);

 nº da edição (apenas a partir da 2ª edição);

 local de publicação, seguido de dois pontos (:);

 nome da editora;

 data de publicação.

Exemplo: BACHELARD, Gaston. La terre et les rêveries de la volonté. Paris: Librairie José Corti, 1984. 1.

b) Tratando-se de artigo em revistas:

 sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;

 título do artigo sem aspas;

 nome do periódico por extenso (em itálico);

 volume e nº do periódico (entre vírgulas);

 páginas do artigo: (p. 15-21);

(9)

Exemplo: CAMARGO, Aspásia. Os usos da história oral e da história de vida: trabalhando com elites políticas. Revista Dados, v. 27, n. 1, p.1-15, 1984. 2.

c) Tratando-se de artigo em coletâneas:

 sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;

 título do artigo;

 In:

 nome do autor ou autores da coletânea seguido por (Orgs);

 título e subtítulo da coletânea em itálico;

 nº da edição (a partir da 2ª edição);

 local da publicação seguido de dois pontos (:);

 nome da editora;

 páginas do artigo;

 ano da publicação.

Exemplo: DIAS, Juliana Braz. Enviando dinheiro, construindo afetos. In: Wilson Trajano Filho (Org.). Lugares, pessoas e grupos: as lógicas do pertencimento em perspectiva internacional. 2ª edição. Brasília: ABA Publicações, p. 47-73, 2012.

d) Tratando-se de artigos em revistas online:

 sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;

 título do artigo sem aspas;

 nome do periódico por extenso (em itálico);

 RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 15, n. 44, agosto de 2016 ISSN 1676-8965 volume e nº do periódico (entre vírgulas);

 páginas do artigo, se houver: ( p. 15-21);

 data da publicação

 Endereço do site

 Quando se deu a consulta.

Exemplo: FERRAZ, Amélia. Viver e morrer. Revista online de

comunicação, v. 10, n. 20, p. 5-10.

www.revistaonlinedecomunicação.com.br (Consulta em: 20.06.2015). e) Tratando-se de teses, dissertações, tccs e relatórios:

 sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido do nome;

 título da obra (em itálico)

 subtítulo, (também em itálico);

 Tese; Dissertação, etc.;

 local de publicação, seguido de dois pontos (:);

 nome do Programa e Universidade;

 Ano

Exemplo: BARBOSA, Raoni Borges. Medos Corriqueiros e vergonha cotidiana: uma análise compreensiva do bairro do Varjão/Rangel. Dissertação. João Pessoa: PPGA/UFPB, 2015

(10)

Nota geral para as referências

1. Artigo, livro, coletânea, ensaio com mais de um autor: com até dois autores:

 Sobrenome do autor principal (em letras maiúsculas), seguido do nome e ponto e vírgula(;)

 A seguir, o nome e sobrenome do segundo autor. 2. Artigo, livro, coletânea, ensaio com mais de dois autores:

 Sobrenome do autor principal (em letras maiúsculas), seguido do nome e, após, et al.

Quadros e Mapas

1. Quadros, mapas, tabelas, etc. deverão ser enviados em arquivos separados, com indicações claras, ao longo no texto, dos locais onde devem ser inseridos.

2. As fotografias deverão vir também em arquivos separados e no formato jpg ou jpeg com resolução de, pelo menos, 100 dpi.

Norms to manuscripts’ presentation

The Urban Sociabilities – Journal of Anthropology and Sociology is a review published every Mach, July and November with original contributions (articles and book reviews) within any field in the Sociology or Anthropology of Emotion. All articles and reviews will be submitted to referees. Every issue of Urban Sociabilities will contain eight main articles and one to three book reviews. All manuscripts submitted for editorial consideration should be sent to GREM by e-mail: raoniborgesb@gmail.com.

Manuscripts and book reviews typed one and half space, should be submitted to the Editors by e-mail, with notes, references, tables and illustrations on separate files. The author's full address and the institutional affiliation should be supplied as a footnote to the title page. Manuscripts should be submitted in Portuguese, English, French, Spanish and Italian, the editors can translate articles to Portuguese (Sociabilidades Urbanas´s main language) in the interest of the journal. Articles should not exceed 30 pages double-spaced, including notes and references. Reviews should not exceed 8 pages double-spaced and notes and references included.

(11)

SUMÁRIO

Os homens comuns pobres na expansão do núcleo urbano de João Pessoa, PB: a periferização

da cidade ... 15

O Método de “Observação Participante” no Estudo de Pequenas Comunidades ... 29

Um breve comentário sobre a Sociologia urbana de Max Weber ... 39

Os tempos da pesquisa de campo: o trabalho do etnógrafo e cultura emotiva numa comunidade costeira ... 55

Conceitos-chave: Cultura ... 63

Processos de construção identitária em relação com o lugar: o caso do Sítio Engenho Velho ... 69

Maridos e Esposas em uma Vila Mexicana: Um Estudo de Conflito de Papel ... 79

“No garimpo o cabra tem que ser macho”: elaborações da masculinidade no garimpo ... 89

Percepções sobre a periferia: Uma releitura da pesquisa da Fundação Perseu Abramo (2017) ... 97

Antropologia Urbana e Antropologia das Sociedades Complexas no Brasil: possíveis olhares sobre a obra de Gilberto Velho ... 107

Laudos antropológicos em perspectiva: Uma resenha ... 113

Pertença e Medo: Etnografias urbanas sob a ótica da Antropologia das Emoções ... 115

Medo, esperança e as políticas de rua ... 123

(12)
(13)
(14)
(15)

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Os homens comuns pobres na expansão do núcleo urbano de João Pessoa, PB: a periferização da cidade. Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia, v2, n5, p. 15-28, julho de 2018. ISSN 2526-4702.

ARTIGO

http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/

Os homens comuns pobres na expansão do núcleo urbano de João

Pessoa, PB: a periferização da cidade

Common poor men in the expansion of the urban nucleus of João Pessoa, PB: the peripherization of the city

Mauro Guilherme Pinheiro Koury Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar a expansão da cidade de João Pessoa, capital do estado, durante o século XX rumo ao mar e ao desbravamento dos caminhos ao sul e oeste da capital. Não tem a pretensão de realizar um estudo histórico e urbanístico da cidade, seu âmbito é discutir nesse contexto de expansão o momento singular vivido localmente que permitiu que pessoas comuns, pobres, chegassem a ocupar espaços ainda esmos da cidade, e como foram pensadas nos projetos urbanísticos de modernização conservadora que teve lugar nos primeiros quarenta anos do século XX e sua periferização. Palavras-chave: João Pessoa, modernização da cidade, ofensiva civilizadora, homens comuns pobres, processo de periferização

Abstract: This article aims to present the expansion of the city of João Pessoa, state capital, during the 20th century towards the sea and the clearing of the roads to the south and west of the capital. It does not pretend to carry out a historical and urban study of the city, its scope is to discuss in this context of expansion the singular moment lived locally that allowed ordinary people, poor, to occupy spaces still we are of the city, and as they were thought in the projects conservative modernization that took place in the first forty years of the twentieth century and its peripherization. Keywords: João Pessoa, modernization of the city, civilizing offensive, poor common men, peripherization process

Este artigo objetiva apresentar a expansão da cidade de João Pessoa, então cidade da Parahyba1, capital do Estado, rumo ao mar e a desbravar os caminhos ao sul e a oeste da capital. Não tem a pretensão de realizar um estudo histórico e urbanístico da capital2, seu âmbito é discutir nesse contexto de expansão este momento singular vivido localmente que permitiu que homens comuns pobres chegassem a ocupar espaços ainda esmos da cidade, e como foram pensadas nos projetos urbanísticos de modernização conservadora que teve lugar nos primeiros quarenta anos do século XX.

1

De agora em diante será utilizada apenas a sua nominação atual: João Pessoa. 2

Vários estudos indicam que a modernização da capital, de um lado, cedia a pressões pela reforma higienística-sanitarista do capital internacional nos países de terceiro mundo, para inclusão ou continuidade dos portos nacionais à vinda de navios mercantes para circulação de produtos; de outro lado, pela influência da transferência de capital advindos dos grandes proprietários de terra do interior do estado e comerciantes, principalmente ligados a agroindústria algodoeira, que se deslocavam do interior para fixarem residência na capital do estado (Ver, entre outros, KOURY, 2017; LAVIERI & LAVIERI, 1999; MELO, 2001; DIEB e MARTINS, 2017; COUTINHO, 2004; MAIA, 2000; FERRAZ e DUAYER, 1985, entre outros).

(16)

Lembrar aqui, rapidamente, que o meio rural passava também por processos de modernização, com a crescente vinda de pequenos agricultores e trabalhadores sazonais expulsos do campo pela seca ou pela reconfiguração agrícola, ou expulsos de suas moradias na cidade por conta da expansão do ímpeto modernizador da década de 1920 e seguintes, na cidade de João Pessoa, e no Estado. Muitos foram se conhecendo no processo de vinda e assentamento na capital. Caminho por onde os seus destinos se cruzaram e possibilitou que suas trajetórias individuais se transformassem em um percurso comum ao assumirem, juntas, trançar a constituição de um campo singular de resistência para permanência no espaço urbano em expansão da cidade e, aqui, especificamente, no local em que se ergueria o bairro da Torre da capital.

Nesse processo de resistência e luta esses homens comuns pobres construíram uma rede de sociabilidade, uma cultura emotiva e um campo moral que conformaram vínculos estreitos em suas vidas, uma memória comum, e projetos e projeções de individualidade de cada um nesse trajeto de ocupação e adaptação ao modo de vida da e na cidade. Outros se perderam no processo; outros tantos depois de tentarem se fixar na capital seguiram por novos caminhos migratórios para a região sudeste, para a região norte, ou para outros estados próximos.

Este artigo esboça o universo da periferização da cidade de João Pessoa a partir da expulsão da pobreza urbana local dos espaços destinados à modernização urbana, ou da chegada à cidade, de migrantes pobres, expulsos do campo ou de outras periferias urbanas. Não tem intenção de contar uma história da cidade, mas de situar o leitor ao clima expansionista e modernizador do desenho urbano de João Pessoa, e como os homens comuns pobres foram sentidos e acolhidos nesse processo.

A expansão do núcleo urbano da cidade de João Pessoa: o bairro da Torre

O bairro da Torre, como o primeiro bairro planejado no projeto expansionista da capital, é o ponto de partida. No período entre 1885 e 1923, de acordo com Melo (2001, p. 9), o crescimento da cidade foi significativo. A cidade de João Pessoa começava a avançar sobre as áreas adjacentes ao núcleo urbano original, formando os bairros de Jaguaribe, em 1910, e Torre, em 1920 e, um pouco mais tarde, o bairro de Cruz das Armas.

Dois vetores significativos para a expansão da cidade em direção ao leste e ao sudeste, de acordo com Melo (2001, p. 9) baseado em Walfredo Rodriguez (1994), nesse esforço de expansão da capital, foram a Estrada da Imbiribeira, atual Avenida Ruy Carneiro, em direção ao leste e rumo ao litoral; e as Estradas dos Macacos, atual

(17)

Avenida Pedro II, e a do Jaguaribe, atual Avenida Almeida Barreto, em direção ao sudeste. Ainda, de acordo com Melo (2001, p. 9):

O primeiro vetor se desenvolveu graças à abertura da Ferrovia Tambaú (entre 1906 e 1907), assim como da estrada de rodagem que unia essa localidade à capital, e à construção da Usina Termoelétrica da Cruz do Peixe... inaugurada em 1912; o segundo foi beneficiado com as obras para a construção do reservatório do Buraquinho e da usina de abastecimento de água de João Pessoa, iniciadas em 1910 e inauguradas em 08 de abril de 1911 pelo presidente João Machado.

O bairro da Torre, assim sendo, faz parte desse conjunto de ideias que orientaram o processo de expansão do núcleo urbano da cidade de João Pessoa, nos finais dos anos de 1920. A vinda da elite rural para a capital, e a pouca oferta de residências locais, bem como a demanda pela higienização dos espaços urbanos pelo capitalismo em remodelação, fez acelerar e dar urgência a necessidade de ampliação e embelezamento e organização estética e arquitetônica da cidade (KOURY, 1986, 2005, 2008 e 2017).

O bairro da Torre se encontra situado a sudeste do Centro Antigo da cidade, e surge no cenário da capital a partir de um loteamento planejado. O bairro da Torre, no seu início, foi planejado para atender a uma demanda de classes médias altas e altas, mas, com a abertura da Avenida Epitácio Pessoa, ligando o Centro à Praia, essas famílias mais abastadas se dirigiram em direção ao mar, ocupando o bairro dos Estados e a orla (SILVEIRA, 2004).

O bairro da Torre, deste modo, terminou sendo ocupado pelas classes médias e por uma população pobre vinda do campo para a cidade3, ou expulsas de suas moradias na capital por conta do processo de higienização e embelezamento urbano local (KOURY, 1986). Esta população pobre, residente no urbano, expulsa do Centro da

3A seca de 1877, segundo Mariz (1978, p. 22), foi ―a seca mais mortífera e desorganizadora de nossa história...‖ levas de pessoas comuns, pobres, saiam de suas cidades no sertão e se deslocavam para regiões da Zona da Mata, do Brejo, do litoral [e, principalmente] ―... concentravam-se em maior quantidade na capital...‖, nas áreas menos atingidas pela falta de chuva. O ―... êxodo e o consequente morticínio que se produziram... dizimavam os retirantes... O Campo da Boa Sentença, na capital superlotou de defuntos...‖, mas, levas e levas de retirantes continuavam a chegar e buscar onde se estabelecer. Após a terrível seca de 1877, outras se seguiram: as secas de 1900, 1903, 1904, 1915 e 1919 (CARNEIRO, 1999), em todas elas uma nova onda de migrantes enchiam a cidade da Parahyba e os cemitérios locais, e de todo o Estado. A cidade pequena se encheu de casas de pau-a-pique e telhados palha. Mendigos enchiam as ruas,

atemorizando e enojando a população, que clamava por uma solução para o problema. Com a chegada da república, os primeiros pensamentos para a modernização da cidade, se organizaram para a necessidade de um ordenamento das ruas, para a precisão de um controle da pobreza urbana local, e tornaram-se quase um imperativo a circular nos jornais e discursos de governantes e das elites (KOURY, 2017) que afluíam como empreendedores morais (BECKER, 2008) em uma cruzada moral (GUSFIELD, 1986) urgente no sentido de uma ofensiva civilizadora (REGT, 2017) para salvar a cidade da falência moral que parecia sobre ela se abater. É nesse contexto que se pode entender o ímpeto modernizante da cidade nos anos de 1920, e a modernização conservadora (MOORE Jr, 1966), nela ocorrida.

(18)

cidade, em modernização, vai ocupando um sistema de vilas que vão sendo construídas ao longo do bairro4, ou junto às levas de trabalhadores vindas do interior do Estado, preenchendo espaços vazios e não considerados no projeto de loteamento planejado para o bairro, como encostas e zonas de risco próximas ao Rio Jaguaribe.

A Torre, assim, foi um produto planejado do processo de expansão da capital do Estado da Paraíba, e se conformou abrigando moradores das classes médias e pobres. A construção das primeiras habitações no bairro, segundo Scocuglia (1999), foi obra da Fundação da Casa Popular, FCP, com recursos de institutos especializados na construção de moradias populares.

Entre as décadas de 1920 e 1940, e até perto dos anos de 1960, assim, ocupava uma área das mais longínquas do centro urbano da capital. As dificuldades de ida e vinda ao Centro, nos primeiros anos de sua existência, o colocavam como um bairro distante, pobre e com inúmeras carências no que diz respeito a transporte, abastecimento de água, traçado de ruas, limpeza urbana entre outros (SILVA, 1999, 2000).

A localização do bairro da Torre, durante as décadas de 1940 e 1960, tinha como limites a oeste, a Lagoa dos Irerês; a sudeste, o Vale do Rio Jaguaribe; e a sudeste, a Estrada dos Macacos. A Avenida Dom Pedro II, era ainda restrita ao bairro do Centro (NEGRÃO, 2012, p. 66), entre 1960 a 1970 ela é projetada em direção ao sul da cidade, margeando o bairro da Torre, onde antes era a Estrada dos Macacos. A margem esquerda do Rio Jaguaribe, compõe, por fim, o limite sul do bairro.

Nos anos de 1920, a Avenida Dom Pedro II ainda não existia e o caminho existente era conhecido por Estrada dos Macacos. Já nos anos de 1950, a Estrada dos Macacos passou a ser chamada de Rua das Palmeiras, e no final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970 foi construída a Avenida Dom Pedro II que ligaria o sudeste e o sul da capital ao Centro da cidade (Figuras 1 e 2 abaixo). A avenida sendo um dos pólos

4

As vilas foram comuns à paisagem do bairro da Torre entre as décadas de 1930 a 1960 e, ainda fazem parte do cenário local, cedendo, porém, pouco a pouco à especulação imobiliária que toma conta da cidade. Silva (2000, p. 113) faz uma interessante narrativa sobre o bairro da Torre e ―suas vilas habitadas por famílias de trabalhadores de baixa renda, além de casas de palha e mocambos espalhados pelo interior do bairro‖. Em um artigo anterior, ela vai além à descrição sobre a paisagem bucólica do bairro trazida pelas antigas vilas. De acordo com Silva (1998, p. 31), ―As vilas são resíduos de um tipo de moradia que remonta à gênese do bairro... A moradia na Torre sempre esteve voltada para atender a uma população empobrecida, oriunda do interior do Estado, que migrava para a cidade expulsa de suas terras pelas constantes estiagens, como também por questões políticas ligadas à luta pela posse da terra... Esse tipo de moradia abrigava também uma classe trabalhadora empobrecida, desempregada, empurrada para os subúrbios da cidade. Ou ainda, moradores do próprio bairro, filhos de antigos moradores, que casavam e não queriam se afastar das suas famílias indo morarem em lugares mais distantes. Quase sempre são casas conjugadas, com uma porta de entrada e uma janela na frente, possuindo às vezes um pequeno terraço...‖.

(19)

de ligação dos novos nucleamentos urbanos, situados a sudeste e sul do Centro da capital, passando pelos bairros da Torre, Castelo Branco, até o campus da Universidade Federal da Paraíba e, daí, para os novos bairros que começavam a surgir, como o dos Bancários, Água Fria, Mangabeira, Valentina de Figueiredo ao sul, e a oeste, os bairros de Varjão/Rangel, Cristo Redentor, Geisel, e outros (LOPES, 2013).

Figura 1 – Estrada dos Macacos em 1910 – Fonte: Coutinho (2009, p. 30).

Figura 2 - Avenida Dom Pedro II, João Pessoa, Paraíba, 2015 – Fonte: Foto anônima.

Nas décadas seguintes, o bairro da Torre passa por um processo de reurbanização e, a partir dos anos de 1980, de um bairro eminentemente habitacional, com características rurais, passa a ser majoritariamente comercial e de serviços. Tornou-se em um centro novo expandido da capital, muito embora alguns moradores de áreas mais carentes ainda têm resistido a sair do lugar.

(20)

De acordo com Silveira, (2004, p. 149), ―a implantação do Parque Solon de Lucena transformou a mataria primitiva da lagoa em algo merecedor de referência especial‖. Segundo Coutinho (2004, p. 58), foi na gestão de Castro Pinto (1912-1916) que se ampliou a preocupação com soluções tecnossanitárias para a cidade de João Pessoa, e se organizou um projeto, através da contratação do escritório de engenharia de Saturnino de Brito5, para promover reformas infraestruturais para suprir a demanda e propor soluções visando o controle do abastecimento de água, esgoto sanitário, águas pluviais, ocupação do solo, sistemas construtivos, habitações populares, espaços e edifícios públicos, orientação e insolação. ―O projeto para a Cidade da Parahyba [de Saturnino de Brito, na gestão Castro Pinto] previa [, além,] a formulação de traçados [de] viários radiais e a arborização de parques e praças, promovendo o melhoramento da qualidade do ar‖ (COUTINHO, 2004, p. 58).

A cidade de João Pessoa inicia, neste período, um grande projeto de reforma e modernização, e um projeto de expansão do seu núcleo urbano, que dariam conteúdo ao discurso modernizador da cidade. As operações sobre a malha da cidade se desenvolveram de forma intensiva e determinaram alterações profundas nos hábitos e costumes locais, modificando os lugares e a vida cotidiana dos moradores (MAIA, 2005).

Os homens comuns pobres e a periferização da cidade

Este grande projeto de reforma e modernização orientou a revitalização das vias já existentes, preocupou-se com o embelezamento público, melhoria de infraestrutura e ordenamento urbano. Ao lado de melhorias infraestruturais, promoveu, também, desapropriações e demolições de espaços considerados não apropriados ou condizentes com a nova ordem civilizatória da cidade6, que se situavam no caminho da abertura de vias e obstaculizavam a reordenação urbana e sua expansão.

Nos dois casos, a preocupação do discurso modernizador da cidade, em sua ofensiva civilizadora (REGT, 2017), se preocupou, de um lado, não apenas em assegurar uma melhoria situacional urbana para os cidadãos moradores da cidade. Mas, também, de outro lado, buscou controlar a pobreza na cidade que ameaçava as já então precárias estruturas urbanas da capital, com a sua presença, em número cada vez maior, devido à modernização do sistema agropecuário do Estado, que colocava uma crescente

5

Considerado um dos fundadores da engenharia sanitária no Brasil. 6

(21)

leva de trabalhadores para a capital, fora as levas de migrantes expulsos, anualmente, das suas pequenas propriedades, por causa das periódicas secas que os atingiam.

Junto à modernização e revitalização da malha urbana da capital, se desenvolveu um sistema eficiente de controle dos homens pobres urbanos, em termos de segregação social e expulsão para as zonas mais afastadas da cidade que se queria modernizar. Isto se deu através de planejamentos para construções de moradias populares no lado oeste e sul da cidade; assim como de criação de um código de disciplinamento da mão de obra, e controle sobre velhos, doentes e órfãos, com a construção de asilos de mendicidade, orfanatos e prisões, para aqueles avaliados sãos, mas, de fora do sistema disciplinar para o trabalho. Os considerados perigosos e contaminadores da normalidade normativa do lugar (KOURY, 1986, 2017).

Desde o final dos anos de 1910 e, principalmente, durante toda a década de 1920, passando pelas décadas de 1930 e 1940, existem relatos de levas espontâneas de migrantes pobres vindos do interior do Estado. Estes pobres se assentavam em espaços periféricos da cidade e distantes dos interesses imobiliários locais. Esta população pobre ocupava, sobretudo, os espaços vazios e de acesso difíceis aos processos de urbanização em andamento, ou seja, os espaços desprezados pela ação modernizadora de expansão da malha urbana da cidade. Adentrava pelas lacunas deixadas pelo ímpeto modernizador e situadas próxima aos mangues e fundos de vales, encostas e várzeas de rios, ou nas beiras de estradas nas zonas mais afastadas da cidade que ―ligavam João Pessoa ao Recife (Cruz das Armas) e João Pessoa ao interior (Rua da República) na altura da ponte sobre o Rio Sanhauá, ou levavam à Mata do Buraquinho (Estrada dos Macacos)‖ (DANTAS, 2003, p. 62).

Outro caminho de estabelecimentos de moradias precárias, nas encostas e depressões desconsideradas pela especulação imobiliária da época, era o percurso da estrada conhecida como ladeira do Varjão. Atravessando o Rio Jaguaribe, e transpondo a grande várzea no lado oeste da Mata do Buraquinho. Esses caminhos para as áreas depreciadas e desconsideradas até então pelos projetos urbanísticos e da especulação urbana da cidade foram entradas por onde os homens pobres sozinhos, ou com famílias, ou compondo um conjunto de famílias, se estabeleciam na capital, ou em suas ―beiradas‖.

Ocupavam, portanto, os locais mais afastados do núcleo urbano de então, e lá se estabeleciam. Nesses locais a população pobre compunha comunidades com características rurais, junto a mangues, depressões, fundos de vales e encostas dos rios e

(22)

na extensa Mata Atlântica que formava os limites da cidade e impunha obstáculo ao seu crescimento (MAIA, 1994, 2000).

A questão da moradia pelas levas crescentes de uma população pobre recém chegada à cidade originou uma série de ocupações de espaços vazios, sem interesse à expansão modernizadora da cidade. Espaços com enormes problemas socioambientais, e em situações de conflito com os possíveis proprietários – sejam privados, ou estatais.

Tais impactos se verificavam na medida em que se dava o avanço para o leste, oeste e o sul da capital, e em que conjuntos habitacionais iam surgindo e, entre eles, espaços vazios iam se produzindo e ocupados mais tarde pela população pobre, de um lado. Ou, de outro lado, quando os avanços da expansão modernizadora da cidade iam loteando áreas onde já habitavam comunidades de homens pobres, os retirando à força ou através da compra barata de suas moradias, os fazendo adentrar mais e mais em regiões de difícil urbanização e ocupar esses espaços deixados pela especulação imobiliária entre os novos conjuntos habitacionais que iam se formando. Cabe aqui lembrar que os conjuntos habitacionais de João Pessoa deixaram de ser denominados conjuntos para se chamarem bairros, apenas em 1998, através do projeto de Lei nº 1574, de 04 de setembro deste mesmo ano.

As situações de risco, de precariedade, de vulnerabilidade e de conflitos nas áreas originadas pelas ocupações dos pobres urbanos, no decorrer dos anos, iam se tornando mais graves durante o inverno. Períodos de fortes chuvas, que provocavam (e provocam) desmoronamentos de barreiras, inundações dos rios como, por exemplo, nas margens do Rio Jaguaribe e do Rio Timbó entre outros, com a destruição de moradias, e deixando um rastro de tragédia com uma grande parcela de moradores flagelados, quando não provocavam a morte física de pessoas ou de famílias inteiras.

O termo flagelado é usado ‗tecnicamente‘ para designar as vitimas de catástrofes ambientais, que passam necessidade por causa de calamidades como secas, quedas de barreiras e enchentes. Os moradores de áreas de grande risco ou flagelo na cidade de João Pessoa e no estado em geral são periodicamente atingidos por enchentes, durante o inverno, sendo transportados para locais improvisados em estádios ou escolas públicas, ou pelo fenômeno das secas periódicas que atingem a região, principalmente no sertão do Estado, os obrigando a deixarem sua terra em busca de trabalho e sobrevivência em outro local.

Na cidade de João Pessoa, de acordo com Silveira et al (2008), os trajetos urbanos apontam que a periferia no sentido físico da capital se ajustam à periferia no

(23)

sentido social, quase sempre representados pelos pobres urbanos. Entre os anos de 1920 a 1940, o remodelamento urbano da cidade de João Pessoa (KOURY, 2017) dirigiu, segundo Dieb e Martins (2017, p. 8), o seu crescimento para duas frentes ou eixos de expansão principais: as Avenidas Epitácio Pessoa e Cruz das Armas.

De acordo com as autoras, as décadas de 1930 e 1940 a expansão modernizadora da cidade caminhou por dois eixos centrais. O primeiro se dirigiu para a abertura da Avenida Epitácio Pessoa, a o segundo eixo encaminhou-se para a abertura da Avenida Cruz das Armas. O primeiro eixo dirigido para a margem esquerda do Rio Jaguaribe e em direção a orla marítima ―foi dirigida aos mais ricos‖, que mudavam as suas residências do Centro da cidade para a área leste da capital. O segundo eixo, segundo as autoras, ―estruturou a ocupação da porção sul da cidade e da bacia do Rio Jaguaribe.

Para além do caminho de ligação Centro-Praia, que corresponde à frente ou eixo de expansão com a construção e abertura da Avenida Epitácio Pessoa, o caminho de abertura em direção à zona sul da cidade se deu também em duas direções: a primeira direção, ou frente de expansão, perpetrou em direção ao sudeste da cidade, com a construção do bairro da Torre, e a continuidade da Avenida Dom Pedro II sobre a antiga Rua das Palmeiras, conhecida anteriormente como Estrada dos Macacos, chegando até a margem direita do Rio Jaguaribe.

Junto a esse ímpeto modernizador da cidade se seguiu, entre os anos de 1920 e 1940, prosseguindo pelas décadas seguintes, a chegada de levas de homens pobres. Esses adentram e ocupa uma extensão virgem da Mata do Buraquinho7, situada no município de João Pessoa, próxima a então Estrada dos Macacos, hoje Avenida Pedro II. Uma área próxima a várzea esquerda do Rio Jaguaribe, ainda com densa mata e com grande depressão, formando barreiras instáveis e inseguras para moradia. Anos mais tarde, o esforço modernizador avança e atravessa o Rio Jaguaribe, concretizando o avanço para a zona sul.

Com a configuração e montagem do campus I da Universidade Federal da Paraíba, nos anos de 1960 e a criação dos loteamentos que serviram para a construção

7

Depois considerada reserva florestal de Mata Atlântica. A Mata do Buraquinho foi ao longo do século XX sendo destruída para dar margem ao crescimento da cidade de João Pessoa. Em 28 de agosto de 2000, foi criado o atual Jardim Botânico, localizado na Mata do Buraquinho, no lado direito, no sentido cidade – zona sul, da Avenida Pedro II. Desde o ano de 2004, contudo, o Jardim Botânico passou a ser titulado de Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Em 2014 foi instituído o ‗Refúgio da vida silvestre Mata do Buraquinho‘, através do Decreto Estadual n. 35.195 de 23 de julho de 2014. O Refúgio, com uma área equivalente a 517,80 hectares, tem os seus limites a leste e sul pela BR-230, ao norte pela Avenida Dom Pedro II, e a oeste pelos bairros do Cristo Redentor, Varjão e Jaguaribe, todos inseridos no município de João Pessoa/PB. (EGITO, 2005; CAVALCANTI, 2013).

(24)

do Conjunto Castelo Branco I, II e III, nas terras da Fazenda São Rafael (MARTINS e MAIA, 2015), pertencente ao Estado. Logo após, nos anos de 1970, se concretiza a expansão para a zona sul, com a construção dos conjuntos Jardim Cidade Universitária, Anatólia, Bancários, Mangabeira e Valentina de Figueiredo; e ao sudoeste, o bairro de Cristo Redentor, destinado a professores e funcionários da UFPB e segundos e terceiros escalões de funcionários públicos ligados aos governos estadual e municipal, que conformará o formato atual do Bairro do Varjão/Rangel (KOURY, 2017a).

Este novo formato do bairro Varjão/Rangel se figura através do agrupamento dos moradores de várias de ocupações espontâneas, oriundos de antigas comunidades espalhadas pela grande várzea do Rio Jaguaribe entre os anos de 1920 a 1960. O doloroso processo de desapropriação que vai se dando quando da montagem do loteamento que originará o bairro do Cristo Redentor, os vai forçando cada vez mais para o resto de Mata Atlântica que vai sobrando no surto expansionista, e terminam se agrupando em um pequeno triângulo apertado entre o bairro emergente de Cristo Redentor e a Mata do Buraquinho que, um pouco mais tarde, comporá os limites leste do Jardim Botânico da cidade, no que restou da antiga Mata Atlântica local (KOURY, 2014b, 2016 e 2017; MAIA, 1994 e 2000).

A segunda frente caminhou no sentido oeste-sul da capital, com a Avenida Cruz das Armas, que corta o bairro de Cruz das Armas no sentido do Distrito Industrial da cidade. Esta segunda frente tinha como objetivo não só o de abrir um caminho de acesso mais rápido aos Estados ao sul da capital, mas também de alojar a população mais pobre da cidade. Populações estas deslocadas do centro da cidade de João Pessoa para áreas consideradas menos nobres e periféricas da urbe (MARTINS e MAIA, 2015, p. 188), ou vindas do interior do Estado da Paraíba, com as reformulações porque passava a estrutura agrária local e as intermitentes secas no sertão do Estado.

Nos finais da década de 1960 e durante toda a década de 1970 em diante, de acordo com Negrão (2012), essas duas frentes de expansão são retomadas, concretizando o novo desenho urbano da cidade. Através delas se amplia o processo de segregação da população pobre local, os deslocando cada vez mais para os novos bairros na zona sul e oeste da capital ou para lugares de acesso e urbanização difíceis.

Esta população urbana pobre em deslocamento, pelas desapropriações e destruição de suas moradias pelo surto modernizador da cidade caminhou em direção ao sudeste do Centro da cidade. De um lado, foi movida pelo surgimento do loteamento que conformou o bairro da Torre e, de outro lado, em demandas espontâneas de

(25)

moradores deslocados do Centro da cidade que adentravam a periferia da cidade, ocupando pedaços da Mata Atlântica e chegando até as margens do Rio Jaguaribe.

Associou-se a esse movimento de deslocamento populacional, ainda, as levas de migrantes vindos do interior do Estado. Migrantes estes que se dirigiram no sentido sudoeste do núcleo central da capital, ultrapassando o bairro do Jaguaribe e indo para além das margens do Rio Jaguaribe, para uma área conhecida por Varjão, à margem esquerda do rio e para o interior da Mata do Buraquinho (KOURY, 2014; BARBOSA, 2015).

(In) conclusão

A ―precisão de morada‖ pela população de baixa renda, - como assim nomeou um interlocutor que vive no bairro da Torre há mais de 50 anos8, - deu origem a invasões e ocupações de espaços vazios e sem interesse à expansão modernizadora da cidade. Espaços estes que, em sua grande maioria faziam os novos ocupantes se deparar com ambientes com enormes problemas de risco ambiental, e em situações de conflito com os possíveis proprietários – sejam privados, ou estatais.

Esta população pobre - sucedida de levas de migrantes do interior do Estado da Paraíba expulsos de seus locais de vida por causa das secas periódicas que assolam o sertão, ou por causa da expansão e modernização do agronegócio, passando por cima dos pequenos proprietários, os obrigando a migrar, e diminuindo o emprego no Estado e na região como um todo, ou ainda de comunidades pobres expulsas de seus locais de moradia na cidade pela reurbanização das áreas onde habitava, - ocupou os espaços periféricos da cidade de João Pessoa. O que criou um problema social a ser trabalhado pelos diversos empreendedores morais da cidade seja estes pelas pressões da elite local, seja pela mídia que denunciava a fragilidade do projeto civilizacional implantado na capital e no estado, denunciando a cidade como sitiada por tipos sociais perigosos e conclamando o governo a aumentar a segurança e o controle social, ao mesmo tempo em que a disciplinar a pobreza local a afastando dos centros mais dinâmicos da urbe e organizando as suas entradas e saídas locais (KOURY, 2017a).

Tais problemas e debate público entre os empreendedores morais da cidade e do Estado se ampliaram na medida em que se dava o aumento populacional da cidade9. A

8

Informação recolhida para uma pesquisa maior sobre Medos corriqueiros: a construção social da semelhança e da dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na

contemporaneidade. (Projeto de Pesquisa. João Pessoa: GREM, 2002). 9

A cidade de João Pessoa cresceu lentamente da sua fundação até a entrada do século XX. Em 1900 a população da cidade era estimada em 36.793 habitantes, passando na década de 1920 a 52.990 e pulando

(26)

parte sul da capital é hoje considerada ―uma cidade dentro da cidade‖, ocupada por classes médias de renda variável de acordo com a área ocupada, e de uma população móvel composta de estudantes de universidades locais, e muitos enclaves de pobreza e pobreza extrema. Estas áreas onde camadas médias se instalaram e um comércio e um setor serviços se ampliaram, desde os anos de 1980, já se sentem acuadas e já clamam, através de empreendedores morais locais, uma solução para a pobreza urbana, principalmente pela denúncia do aumento de violência local. O crescimento da especulação imobiliária desses hoje bairros já inicia um novo processo de periferização, adquirindo à força terrenos antes considerados degredados e sem valor, e ocupados pela pobreza que não deixa de crescer e ocupando o lugar com prédios para a classe média.

Para finalizar, sem qualquer tentativa de conclusão ou proposta de solução, a cidade hoje é considerada uma das capitais mais violentas do país, e de uma desigualdade econômica e social das mais altas. As taxas de desemprego aumentam, e a pobreza cada vez mais se encontra estigmatizada e alvo de ações policiais e discursos de segurança e cruzadas morais de controle social.

Referências

BARBOSA, Raoni Borges. Medos Corriqueiros e Vergonha Cotidiana: Um Estudo em

Antropologia das Emoções. Recife: Editora Bagaço; João Pessoa: Edições do GREM,

série Cadernos do GREM, v. 8, 2015.

BECKER, Howard. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

CARNEIRO, Joaquim O. As Secas na Paraíba. Jornal A União, 15 de agosto de 1999. CAVALCANTI, Rodrigo Gomes. A influência da Mata do Buraquinho sobre a

qualidade da água do Rio Jaguaribe. TCC. João Pessoa: Bacharelado em Ciências

Biológicas - UFPB, 2013.

COUTINHO, Marco Antonio Farias. Evolução urbana e qualidade de vida: o caso da

Avenida Epitácio Pessoa. Dissertação. João Pessoa: Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal da Paraíba, 2004.

COUTINHO, Marco Antonio Farias. Evolução urbana e qualidade de vida: o caso da

Avenida Epitácio Pessoa. Dissertação. João Pessoa: Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal da Paraíba, 2004.

DANTAS, Maria Auxiliadora C. A comunidade do Timbó (João Pessoa – PB): análise

socioambiental e qualidade de vida. Dissertação. Recife: Programa de Pós-Graduação

em Gestão e Políticas Ambientais / Universidade Federal de Pernambuco, 2003.

vinte anos depois, nos anos de 1940 para 135.333 habitantes. Nos anos de 1970, quando há um novo

processo de expansão da capital e se estabelece os caminhos mais consolidados da periferização dos espaços urbanos, a população de João Pessoa atinge 230.546 habitantes, chegando em 1990 a 497.214 e em 2017 com a estimativa de 811.598 habitantes. Com o espaço metropolitano atingindo a estimativa de 1.282.227.

(27)

DIEB, Marília de A.; Paula Dieb Martins. O Rio Jaguaribe e a história urbana de João Pessoa, Paraíba: da harmonia ao conflito. In: Anais do XVII ENANTUR, São Paulo, 2017. https://is.gd/g1HVIA [Consultado em 18 de julho de 2017].

EGITO, Maria Jacy Caju do. Expansão urbana e meio ambiente: representação social

dos agentes da construção civil em João Pessoa, Paraíba. Dissertação.

PRODEMA/UFPB, 2005.

FERRAZ, Sônia e DUAYER, Juarez. Pesquisa, Produção e Consumo da Habitação e o

Mercado Imobiliário em João Pessoa. João Pessoa, Depto Arquitetura-UFPB, 1985.

GUSFIELD, Joseph R. Symbolic crusade: status politics and the American temperance

movement. 2nd ed., Illinois: University of Illinois Press, 1986.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. De que João Pessoa tem medo? Uma análise a

partir da antropologia das emoções. Série de livros Cadernos do GREM n6, João

Pessoa: EdUFPB/Edições do GREM, 2008.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Etnografias Urbanas sobre Pertença e Medos na

Cidade. Estudos em Antropologia das Emoções. Coleção Cadernos do GREM n. 11.

Recife: Bagaço, João Pessoa: Edições GREM, 2017.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Medos Corriqueiros e Sociabilidade. João Pessoa: EdUFPB / Edições do GREM, 2005.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Quebra de Confiança e Conflito entre Iguais:

cultura emotiva e moralidade em um bairro popular. Coleção Cadernos do GREM, v. 9.

Recife: Editora Bagaço; João Pessoa: Edições do GREM, 2016.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Solidariedade e conflito nos processos de interação cotidiana sob intensa pessoalidade. Etnográfica, v18, n3, p. 521-549, 2014. KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Trabalho e disciplina. Os homens pobres nas cidades do Nordeste: 1889-1920. Francisco Foot Hardman et al. Relações de trabalho e

relações de poder: mudanças e permanências. Fortaleza: Imprensa Universitária, p.

134-149, 1986.

KOURY, Mauro. Cultura Emotiva e Sentimentos de Medo na Cidade. Documentos de

Trabajo del CIES (Centro de Investigaciones y Estudios Sociológicos), n. 08, Buenos

Aires: ESE Editora, julio 2017a.

LAVIERI, João Roberto & LAVIERI, Beatriz. ―Evolução da estrutura urbana recente de João Pessoa – 1960 a 1986‖. Textos UFPB-NDIHR, n. 29, 1999.

LOPES, Boas V. João Pessoa, capital da Paraíba: em meio a uma das maiores Mata Atlântica urbana do Brasil. Revista OKARA. Geografia em debate, v7, n2, p. 292-300, 2013.

MAIA, Doralice S. O campo na cidade: necessidade e desejo. Um estudo sobre

subespaços rurais em João Pessoa. Florianópolis: UFSC, 1994.

MAIA, Doralice S. Tempos lentos na cidade: Permanências e Transformações dos

Costumes Rurais em João Pessoa – PB. Tese. São Paulo: USP, 2000.

MAIA, Doralice. A rua e a cidade: geografia histórica, morfologia e

cotidiano. Relatório de pesquisa. João Pessoa: Departamento de Geografia / UFPB –

CNPq, 2005.

(28)

MARTINS, Paula Dieb; Doralice S. Maia. A produção do espaço e da paisagem da Avenida Epitácio Pessoa, João Pessoa – PB. Revista Eletrônica do Centro

Interdisciplinar de Estudos sobre a Cidade. V. 7, n. 10, jan /ago 2015.

MELO, Antonio Sergio Tavares de (Coord.). Os aglomerados subnormais dos vales do

Jaguaribe e do Timbó: Análise geoambiental e qualidade do meio ambiente. Relatório

de Pesquisa. João Pessoa: Unipê, 2001.

MOORE JR., Barrington. Social origins of dictatorship and democracy: lord and peasant in the making of the modern world. Hardmondsworth: Penguin, 1966.

NEGRÃO, Ana Gomes. Processo de produção e reprodução da cidade, Um estudo sobre as estratégias evolutivas ao longo dos espaços estruturados pelo corredor da Avenida Dom Pedro II, JP-PB. Dissertação. João Pessoa: UFPB, 2012.

REGT, Ali de. Ofensiva civilizadora: do conceito sociológico ao apelo moral. RBSE

Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 16, n. 47, p. 137-153, Agosto de 2017.

http://www.cchla.ufpb.br/rbse/DeRegtKouryArtTrad.pdf [Consultado em 04 de Agosto de 2017].

RODRIGUEZ, Walfredo. Roteiro sentimental de uma cidade. 2ª edição, João Pessoa: A União, 1994.

SCOGUGLIA, Jovanka Baracuhy. A política do BNH no Brasil pós-64 e seus reflexos

na expansão urbana de João Pessoa. João Pessoa: EdUFPB, 1999.

SILVA, Regina Celly Nogueira da. As Várias Faces do Uso do Bairro e a Cotidianidade do Morador. Geousp , v3, p. 29-37, 1998.

SILVA, Regina Celly Nogueira da. As singularidades do bairro na realização da

cidade: um estudo sobre as transformações na paisagem urbana do bairro da Torre na cidade de João Pessoa-PB. Dissertação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999.

SILVA, Regina Celly Nogueira da. As singularidades do bairro na realização da cidade.

Geografares, v. 1, n. 1, p. 109-116, jun. 2000.

SILVEIRA, José Augusto R. da et al. Percursos, morfologia e sustentabilidade na cidade de João Pessoa PB. Minha cidade, a9, setembro de 2008. http://zip.net/bktMhK [Consultado em 27 de julho de 2017].

SILVEIRA, José Augusto R. da. Percursos e processo da evolução urbana: o caso da Avenida Epitácio Pessoa na cidade de João Pessoa-Paraíba. Tese. Recife: UFPE, 2004.

(29)

KLUCKHOHN, Florance R. O Método de ―Observação Participante‖ no Estudo de Pequenas Comunidades. Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia, v2, n5, p. 29-38, julho

de 2018. ISSN 2526-4702.

ARTIGO

http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/

O Método de “Observação Participante” no Estudo de Pequenas

Comunidades

10

Florence R. Kluckhohn

Resumo: A procura de ―papéis‖ gerais e especiais, em cujo desempenho se pode ser considerado pelos membros da comunidade com participante de suas atividades e interesses, é a chave para o método da observação participante. Embora se reconheçam algumas desvantagens do método da observação participante, este artigo aponta várias maneiras pelas quais a amplitude, a relevância e a fidedignidade de dados de campo são usualmente aumentados. Sustenta-se que o emprego deste método fornecerá um desejável equilíbrio entre o tipo de investigação mais puramente behaviorista e o tipo que procura alguma compreensão e insight com relação aos significados correntes na comunidade. O investigador, forçado a analisar seus próprios papéis, é de um lado menos ludibriado pelo mito de objetividade completa em pesquisas sociais, e, de outro lado, mais convincentemente posto de sobreaviso contras seus próprios ―biases‖. Palavras-chave11

: observação participante, papéis sociais gerais, papéis sociais especiais, pequenas comunidades, objetividade da pesquisa

No volume VI, N.° 3 de Sociologia, apresentei um relato, por H. D. Willcock, do promissor método de ―observação em massa‖. O seguinte artigo constitui outro comentário, da parte de uma pesquisadora experimentada, sobre outro de nossos mais importantes métodos – o de ―observação participante‖ – muitas vezes empregado com êxito, especialmente por antropólogos e sociólogos de pesquisa. Apareceu este comentário, pela primeira vez, no American Journal of Sociology, Vol. XLVI, N° 3 (novembro de 1940), pgs 331-43, sob o título ―The Participant-Observer Technique in Small Communities‖. Agradeço ao autor, a Herbert Blumer, diretor daquela prestigiosa revista, bem como à Imprensa da Universidade de Chicago pela permissão gentilmente concedida de compartilhar com nossos leitores estas úteis reflexões baseadas na própria experiência de uma ―observação participante‖. – D. P.

A ―observação participante‖ é a co-participação consciente e sistemática, tanto quanto as circunstâncias permitirem, nas atividades comuns de um grupo de pessoas e, se necessário, nos seus interesses, sentimentos e emoções. O propósito deste método é obter dados sobre o comportamento através de contactos diretos, em situações específicas, nas quais a distorção resultante do fato de ser o investigador agente estranho é reduzida ao mínimo12.

10

Este artigo é uma versão consideravelmente abreviada de um manuscrito muito mais extenso publicado na Sociologia - Revista didática e científica v 8, n. 2, 1946.

11

Estas palavras-chave foram incorporadas ao texto original publicado como tradução pela Revista Sociologia.

12

O método aqui definido foi empregado no estudo duma aldeia de língua espanhola, no estado de New Mexico, nos Estados Unidos. Pela natureza das condições gerais, políticas étnicas, de New Mexico, não era aconselhável estudar por métodos diretos essas comunidade – cuja população faz parte duma forte minoria racial que políticos nada escrupulosos têm mantido inflamada por questões étnicas. A princípio,

(30)

Na aplicação deste método é essencial compreender que o observador precisa ser considerado participante não só por ele mesmo, mas pelos membros do grupo a ser estudado. Isto significa que ele precisa obter status na organização social da comunidade, desempenhar seu papel numa constelação de papéis. (Usamos aqui a distinção, feita por Linton, de status como sendo a posição social abstrata cujo aspecto dinâmico é o papel desempenhado)13. Isto não pode ser feito ao acaso, se se deseja empregar com êxito o método. Nossa definição reclama participação consciente e sistemática, vale dizer: o investigador deve examinar seu campo em busca de papéis em cujo desempenho será considerado participante, analisar esses papéis para obter os dados e visões interiores (―insights‖) que eles permitirem e eximiná-los para se tornar consciente dos ―biases‖ que lhes são inerentes.

A procura de papéis, em cujo desempenho se pode ser considerado pelos membros de uma comunidade como participante de suas atividades e interesses, é a chave para o emprego deste método. Uma busca sistemática de tais papéis envolve distinção entre papéis que têm caráter geral e outros de caráter específico. Com este fim, o papel geral a aquele que é desempenhado sem referência a nenhuma pessoas particular. É desempenhado em relação a várias pessoas e, embora se torne parte da relação específica com cada uma dessas pessoas, é também exercido com referência a todas elas. O papel específico é o desempenhado em relação a certa pessoa definida. O papel de uma senhora casada da classe alta, por exemplo, é geral; o de uma dada esposa é específico. As pessoas têm muitos papéis específicos, mas poucos gerais. A maior parte de nossa atenção será dada ao papel geral porque é o papel orientador e, até certo ponto, domina os específicos. Uma senhora da classe média pode desempenha o papel de amiga de uma duquesa e também de uma empregada, mas o papel específico de amiga é bem diferente nos dois caos, por causa dos papéis gerais das três pessoas envolvidas neles.

As características básicas que determinam papéis gerais são condições objetivas tais como sexo, idade, posição numa casta ou classe, e raça. Embora estas características sejam empregadas como pontos de referência de vários modos e por diferentes tipos de organização social, há, como salienta Linton14 as características de acordo com as quais as atividades e atitudes são atribuídas. Uma das atividades assim atribuídas é a atividade ocupacional. E fora do processo de atribuição vêm os papéis ocupacionais gerais, os papéis, por exemplo, de banqueiro, médico, dona de casa, etc.

Esta atribuição ocupacional tem particular interesse para nós quanto ao modo de assumir um papel em pequenas comunidades, o que é o nosso assunto principal. Na pequena comunidade, onde as ocupações provavelmente se distribuem bastante rigorosamente conforme a idade e o sexo, onde as ocupações oferecidas aos indivíduos são relativamente poucas e onde somente certas ocupações são consideradas compatíveis com os interesses da comunidade, a própria atividade ocupacional tende a tornar-se parte o papel geral. Ela não se separa do papel, geral, como tipo especial, no mesmo grau em que poder ser separada em comunidades mais diferenciadas.

foram a conveniência e a defesa própria que instigaram a autora a ser ―observadora-participante‖, mas a

produtividade do método em fornecer informações minuciosas e íntimas sobre as atividades da comunidade sugeriu que uma exposição do assunto poderia ser útil para outros pesquisadores ―de campo‖. Pelo auxílio financeiro na realização do trabalho ―de campo‖, básico para este artigo, é a autora devedora ao Radcliffe College.

13

Ralph Linton, The Study of Man (New York, 1936), pgs. 113 e 114. (Tradução portuguesa, O Homem, publicado como Volume I da Biblioteca de Ciências Sociais dirigida por Donald Pierson para a Livraria Martins, São Paulo, 1943).

14

Referências

Documentos relacionados