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UNIVERSIDADE FEEVALE PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM DIVERSIDADE CULTURAL E INCLUSÃO SOCIAL MESTRADO EM DIVERSIDADE CULTURAL E INCLUSÃO SOCIAL

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PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM DIVERSIDADE CULTURAL E INCLUSÃO SOCIAL

MESTRADO EM DIVERSIDADE CULTURAL E INCLUSÃO SOCIAL

IASMINI BELLAVER DAMBROS

JUVENTUDES E APRENDIZAGEM PROFISSIONAL: UM ESTUDO SOBRE POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO PRODUTIVA E SOCIAL DE JOVENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIOECONÔMICA EM CAXIAS DO SUL/RS

NOVO HAMBURGO 2019

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IASMINI BELLAVER DAMBROS

JUVENTUDES E APRENDIZAGEM PROFISSIONAL: UM ESTUDO SOBRE POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO PRODUTIVA E SOCIAL DE JOVENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIOECONÔMICA EM CAXIAS DO SUL/RS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social como requisito final para obtenção do título de Mestre em Diversidade Cultural e Inclusão Social.

Orientadora: Prof.ª Drª Ana Luíza Carvalho da Rocha

NOVO HAMBURGO 2019

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Gostaria de agradecer, primeiramente ao meu marido, Samuel, pela paciência, continência e amor que me foram dedicados. Certamente teu apoio é o que me impulsiona a buscar sempre mais. Obrigada por dividir comigo a tua história, e me ajudar a construir a minha.

A Professora Dr.ª Ana Luíza Carvalho da Rocha, a qual tem me orientado neste percurso acadêmico, da teoria à prática, com uma escuta empática e considerações que me guiaram não somente no decorrer da pesquisa e elaboração desse trabalho, mas também no meu fazer profissional, lapidando meu olhar etnográfico.

À professora examinadora interna Dr.ª Dinorá Terezza Zucchetti, que ao longo do processo de mestrado apresentou temas de extrema relevância para reflexão sobre as questões de diversidade e inclusão.

Ao professor examinador externo, Dr. Giovani Antonio Scherer, o qual contribuiu de forma importantíssima para a qualificação desta pesquisa, sugerindo temas, autores e obras que auxiliaram a dar um recorte teórico atual a essa dissertação.

Às colegas de mestrado, as quais aos poucos tornaram-se parceiras de pesquisa, que em suas diferenças e semelhanças sempre me acompanharam, socializando conhecimentos, dividindo frustrações e agregando a esses anos de pós-graduação ótimos momentos.

À família de origem e ampliada, bem como às amizades de longa data, que souberam compreender o afastamento do convívio sociofamiliar, e apoiaram das mais diversas formas meu percurso nesta jornada de conhecimento.

Às instituições que me permitiram realizar a pesquisa, interagindo com os jovens no dia a dia de trabalho na FAS, em especial no CRAS Sudeste, e na Lefan, na figura da Coordenadora pedagógica Selma, sempre disponível e solícita, fornecendo informações e apoiando a pesquisa.

E por fim, agradeço aos jovens participantes, os quais foram minha inspiração para a realização dessa dissertação, compartilhando comigo suas trajetórias e me permitindo auxiliá-los na ressignificação de suas vivências.

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A pesquisa desenvolvida a qual dá corpo a esta dissertação teve como pano de fundo a aprendizagem profissional enquanto possibilidade de inclusão laborativa e social de jovens em vulnerabilidade socioeconômica. Para tanto, pesquisou-se a efetivação do programa de aprendizagem profissional realizado pela Legião Franciscana de Apoio aos Necessitados – Lefan, instituição sediada em Caxias do Sul – RS. Assim, ao longo da pesquisa, para uma melhor compreensão do contexto, se fez fundamental conhecer a cidade, território onde os jovens vivenciam suas experiências e trajetórias, bem como a rede socioassistencial a qual perpassa a vida destes jovens e em muitos casos fomenta a inserção em programas de aprendizagem profissional. Com a finalidade de conhecer o contexto destes jovens e o universo pesquisado, foi realizada uma pesquisa etnográfica, por meio da qual, com a convivência em um ambiente de aprendizagem profissional, foi possível entrar em contato com diversas temáticas ligadas as questões de mercado de trabalho, escolarização, questões de vulnerabilidades relacionadas à renda, violência urbana, convívio com situações de tráfico de drogas, entre tantos outros fatores que foram passíveis de análise. Para tal aproximação, foram propostos grupos de reflexão, a partir dos quais os jovens puderam expressar seus pensamentos, vivências e desejos. A partir dos apontamentos de tais diálogos formais e informais com os jovens, escritas do diário de campo, e análise de dados institucionais, além de dados de pesquisas nacionais e legislações, é que o texto deste estudo foi formado, compreendendo como o processo de aprendizagem profissional se dá em muito além de mera inclusão produtiva, mas também como inclusão social e ressignificação das vivências de vulnerabilidade para tais jovens.

Palavras-chave: Juventudes. Aprendizagem Profissional. Primeiro Emprego. Vulnerabilidade

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The research developed which gives substance to this dissertation had as background the professional learning as a possibility of labor and social inclusion of young people in socioeconomic vulnerability. In order to do so, it was investigated the implementation of the professional apprenticeship program carried out by the Franciscan Legion of Support to the Needy - Lefan, an institution based in Caxias do Sul - RS. Thus, throughout the research, for a better understanding of the context, it became fundamental to know the city, territory where young people experience their experiences and trajectories, as well as the socio-social network that permeates the lives of these young people and in many cases fosters participation in professional learning programs. In order to know the context of these youngsters and the universe researched, an ethnographic research was carried out, through which, with the coexistence in a professional learning environment, it was possible to get in touch with several themes related to the labor market, schooling, issues of vulnerability related to income, urban violence, living with situations of drug use, among many other factors that could be analyzed. For this approach, reflection groups were proposed, from which young people could express their thoughts, experiences and desires. From the notes of such formal and informal dialogues with young people, written from the field diary, and analysis of institutional data, as well as data from national surveys and legislations, is that the text of this study was formed, understanding how the learning process professional development occurs far beyond merely productive inclusion, but also as social inclusion and resignification of experiences of vulnerability for such young people.

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Figura 1: CRAS Sudeste – fachada ... 33

Figura 2: Lefan, fachada e interior ... 40

Figura 3: Perfil jovem aprendiz ... 44

Figura 4: Localização geográfica de Caxias do Sul ... 111

Figura 5: Jovens e seus estilos de vestimenta ... 140

Figura 6: Uniforme completo Lefan ... 143

Figura 7: Uniforme Lefan x estilos juvenis ... 145

Figura 8: Alunos da Lefan representando a instituição em evento externo ... 146

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Quadro 1: Comparativo entre dados de Caxias do Sul e do Cadastro Único ... 28 Quadro 2: Apresentação dos integrantes do grupo de jovens do CRAS ... 35 Quadro 3: Escolaridade x defasagem dos integrantes do grupo de jovens do CRAS ... 75 Quadro 4: Escolaridade x repetências dos jovens do curso de Aprendizagem Profissional Lefan .... 76 Quadro 5: Comparativo dos anos 2005 a 2017 de contratação de aprendizes profissionais . 129 Quadro 6: Comparativo entre estados do percentual de contratação de aprendizes profissionais ... 131 Quadro 7: Comparativo entre a renda per capta familiar e a contribuição do jovem ... 169 Quadro 8: Comparativo entre jovens que desejam e não desejam a efetivação ... 176

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Acessuas Trabalho - Programa Nacional de Promoção do Acesso ao Mundo do Trabalho. BPC - Benefício de Prestação Continuada.

CAGED - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. CEFETs – Centros Federais de Educação Profissional Tecnológica CIEE RS - Centro de Integração Escola Empresa.

CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas.

CMAS - Conselho Municipal de Assistência Social. CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social. CNH - Carteira Nacional de Habilitação.

CNSS - Conselho Nacional de Serviço Social.

COMAI - Comissão Municipal de Amparo à Infância. COMJUVE - Conselho Municipal da Juventude. CRAS - Centro de Referência da Assistência Social.

CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social. CTPS - Carteira de Trabalho e Previdência Social.

DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis. ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente EF - Ensino Fundamental.

EJA - Educação de Jovens e Adultos. EJUV - Estatuto da Juventude

EM- Ensino Médio.

FAS - Fundação de Assistência Social de Caxias do Sul. FEBEM - Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor. FMAS - Fundo Municipal de Assistência Social.

FNAP - Fórum Nacional de Aprendizagem Profissional. FOGAP - Fórum Gaúcho da Aprendizagem Profissional. FUNABEM -Fundação de Bem-Estar do Menor.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. LBA - Legião Brasileira de Assistência

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira Lefan - Legião Franciscana de Apoio aos Necessitados.

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LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social. MSE - Medidas Socioeducativas

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego.

MTPS - Ministério do Trabalho e Previdência Social.

NEPAS - Núcleo de Estudos Permanentes de Assistência Social. NOB - Norma Operacional Básica

OIT - Organização Internacional do Trabalho. ONG’s - Organizações Não Governamentais.

PAIF - Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família. PCD - Pessoa Com Deficiência.

PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. PEC - Proposta de Emenda Constitucional

PIB - Produto Interno Bruto.

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. PNAS - Política Nacional de Assistência Social.

PROEJA– Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação de Jovens e Adultos

PROEP – Programa de Expansão da Educação Profissional

PRONATEC - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. PSB - Proteção Social Básica.

PSE - Proteção Social Especial.

RAIS - Relação Anual de Informações Sociais.

SCFV - Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.

SDETE - Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego. SINAJUVE - Sistema Nacional de Juventude.

SINAN - Sistema Nacional por Agravos de Notificação. SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. SMH - Secretaria Municipal de Habitação.

SMHAS - Secretaria Municipal de Habitação e Ação Social. SNJ - Secretaria Nacional da Juventude

SPA - Substância Psicoativas.

SUAS - Sistema Único da Assistência Social. SUS – Sistema Único de Saúde

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APRESENTAÇÃO ... 13

MINHA DESCOBERTA DO OLHAR ETNOGRÁFICO ... 17

ETNOGRAFIA EM MEIO A GRUPOS DE REFLEXÃO ... 18

JUVENTUDES E SUAS PLURALIDADE ... 22

ALGUNS PRESSUPOSTOS DA PESQUISA ... 27

INTRODUÇÃO ... 33

OS CAMINHOS DE UMA PESQUISA ETNOGRAFIA: A EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE JOVENS NO CRAS (O PRÉ-CAMPO) ... 33

1.1 TECENDO OS PERCURSOS DE UMA PESQUISA DE CAMPO ... 33

1.2 O UNIVERSO DA PESQUISA E OS JOVENS APRENDIZES DA LEFAN ... 37

1.3 DESENHANDO O PERFIL DOS JOVENS INTERLOCUTORES DA PESQUISA ... 43

1.4 EXCLUSÃO EM UM CENÁRIO DE POLÍTICA PÚBLICA INCLUSIVA: OS JOVENS DESLIGADOS DO PROGRAMA ... 49

CAPÍTULO II EXCLUSÃO, POBREZA E DESIGUALDADES SOCIAIS, APONTAMENTOS ... 54

2.1 DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL E OS PROCESSOS DE EXCLUSÃO SOCIAL ... 56

2.2 MERITOCRACIA E DESIGUALDADE COMPETITIVA ... 58

2.3 TRABALHO INFANTIL E VULNERABILIDADE ... 62

2.4 RISCO E PRECARIEDADE NO TRABALHO DE JOVENS E CRIANÇAS ... 65

2.5 FORMAÇÃO ESCOLAR, EMPREGABILIDADE E JUVENTUDES ... 72

2.6 HISTÓRICO DO ENSINO TÉCNICO COMO DISCIPLINADOR PARA A JUVENTUDE POBRE BRASILEIRA ... 77

CAPÍTULO III JUVENTUDES EM VULNERABILIDADE SOCIOECONÔMICA: SUJEITOS DE DIREITOS? UM PERCURSO HISTÓRICO ... 84

3.1 O ESTATUTO DA JUVENTUDE E OS DIREITOS DOS JOVENS PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ... 87

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3.4 O TRÁFICO DE DROGAS COMO INCLUSÃO LABORAL PARA OS JOVENS .... 103

3.5 JUVENTUDES E SELETIVIDADE PENAL ... 108

CAPÍTULO IV JUVENTUDES EM VULNERABILIDADE SOCIOECONÔMICA E POLÍTICAS PÚBLICAS EM CAXIAS DO SUL ... 111

4.1 PERCURSO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: DO NACIONAL AO LOCAL ... 114

4.2 O TRABALHO EM PAIF – SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA ... 119

4.3 SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS E SUA RELEVÂNCIA NOS TERRITÓRIOS DE MAIOR VULNERABILIDADE SOCIAL ... 121

4.4 AS ARTICULAÇÕES ENTRE A REDE SOCIOASSISTENCIAL ... 123

CAPÍTULO V APRENDIZAGEM PROFISSIONAL E INCLUSÃO SOCIAL, A EXPERIÊNCIA NA LEFAN ... 126

5.1 LEI DE COTAS – EXPECTATIVA X REALIDADE ... 129

5.2 FÓRUNS DE APRENDIZAGEM PROFISSIONAL ... 133

5.3 PROGRAMA DE APRENDIZAGEM PROFISSIONAL DA LEFAN ... 135

5.4 APRENDIZAGEM PROFISSIONAL ENQUANTO PROCESSO CIVILIZATÓRIO . 137 CAPÍTULO VI A INCLUSÃO PRODUTIVA NAS AÇÕES GOVERNAMENTAIS E A “FALA NATIVA” ... 147

6.1 PRECARIZAÇÃO DOS VÍNCULOS LABORAIS E DESEMPREGO JUVENIL ... 150

6.2 O MERCADO DE TRABALHO EM CAXIAS DO SUL ... 153

6,3 A EXPECTATIVA FRENTE AO PRIMEIRO EMPREGO, SOB O PONTO DE VISTA DO “NATIVO” ... 157

6.4 O LUGAR DO DINHEIRO E AS FORMAS DE SOLIDARIEDADE NA VIDA EM FAMÍLIA ... 164

6.5 JOVENS APRENDIZES E A EXPERIÊNCIA LABORAL ... 171

6.6 O OLHAR DOS JOVENS APRENDIZES SOBRE SUAS MUDANÇAS AO LONGO DO CURSO ... 176

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REFERÊNCIAS ... 184

ANEXO I ... 197

APÊNDICE A – Questionário de Auto Identificação ... 198

APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido ... 199

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APRESENTAÇÃO

É fundamental que eu me apresente enquanto pesquisadora, descrevendo os atravessamentos que o tema sofreu a partir das minhas experiências acadêmicas e laborais, culminando desta forma na construção desta pesquisa.

Me formei em psicologia em 2015 e logo no primeiro mês como psicóloga formada iniciei meu trabalho na Fundação de Assistência Social de Caxias do Sul – FAS, direcionada para atuar no Centro de Referência da Assistência Social – CRAS Sudeste, o qual somente veio a ser inaugurado em 2016, e desse modo, nos meses que antecederam sua abertura, atuei no CRAS Oeste e no CRAS Centro, locais onde ocorreram meus primeiros contatos com questões de vulnerabilidade socioeconômica, compreendendo seus processos e seu caráter transgeracional, nos diferentes territórios do município, percebendo dessa forma que, mesmo este sendo um município reconhecido nacionalmente pelo desenvolvimento socioeconômico, há números expressivos de população em situação de vulnerabilidade socioeconômica, população esta, com a qual, até então havia tido pouquíssimo contato.

Desse modo, perceber a psicologia enquanto prática para além da sala de aula, e principalmente, para além da atuação na clínica, foi meu primeiro desafio já que pouco me recordo de ter estudado a psicologia em sua atuação nas políticas públicas, e em especial na Política de Assistência Social, tendo em vista que quando falava-se de psicologia nos contextos de políticas públicas, estes assuntos limitavam-se a pensar em contextos de saúde ou escolares, e de forma extremamente superficial.

Assim, minha ânsia por ampliar meu conhecimento teórico sobre a atuação da psicologia no contexto da política de Assistência Social me levou a leituras de manuais técnicos e trabalhos científicos sobre tal temática, visando preencher essa lacuna da falta da orientação acadêmica para atuar nestes espaços. Desde o início da minha atuação enquanto psicóloga da Política de Assistência, senti que deveria aliar a prática com a teoria, e desse modo optei por iniciar uma especialização em Gestão Social: Políticas Públicas, Redes e Defesa de Direitos a qual ampliou meu olhar não somente sobre a Política de Assistência Social na qual me encontrava atuando, mas também sobre a importância da articulação entre as diferentes políticas públicas as quais atendem de forma fragmentada e descontinuada a mesma população.

Percebendo que as questões de vulnerabilidade socioeconômica eram as principais questões que levavam os usuários a buscar atendimento no CRAS, os quais em sua maioria encontravam-se em situação de desemprego e dessa forma não conseguiam garantir a própria subsistência, passei a desenvolver grande interesse pela inclusão produtiva, temática essa que

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se fazia presente no diálogo com a maior parte dos usuários atendidos, tornando-se algo natural e diário. Assim, passei a ministrar quinzenalmente a Oficina do Emprego, no CRAS Sudeste, a qual destinava-se a apresentar informações sobre escolarização, orientando sobre a importância da educação, formas de retomar a educação básica por meio da Educação de Jovens e Adultos – EJA, divulgando cursos, orientando sobre a busca por emprego para além de apenas entregar o currículo, orientando também sobre a confecção deste currículo, informando aspectos importantes da entrevista, sobre documentação civil, esclarecendo outras inúmeras dúvidas básicas para a inclusão produtiva que os usuários apresentavam.

Tais oficinas mostraram-se efetivas, tanto pela procura, quanto pelos feedbacks positivos de usuários que informavam sobre a relevância dos assuntos debatidos, sobre os quais nunca haviam sido informados, além de receber notícias de usuários que faziam questão de informar meses após a presença na oficina que haviam conseguido emprego formal.

Assim, na especialização, direcionei meu olhar sobre as ações de inclusão produtiva no município de Caxias do Sul evidenciando dessa forma como tais ações, e a Proteção Social Básica, na qual me encontrava vinculada, atuam de forma desarticulada. Vislumbrando ainda o quanto a possibilidade de articulação entre as políticas públicas, permitiria atingir de forma mais efetiva o objetivo de ambas, garantindo o acesso à qualificação profissional e acesso ao emprego formal.

Ainda, cursando a especialização, cada vez mais interessada em aprofundar meu conhecimento acadêmico sobre a inclusão produtiva, iniciei concomitantemente no programa de Mestrado em Educação, porém ao longo do primeiro semestre identifiquei que meu interesse não era exclusivamente sobre a educação, e que aquele programa muito provavelmente não me auxiliaria a ampliar meu olhar sobre as questões sociais, questões de vulnerabilidade socioeconômica e as questões de inclusão/exclusão presente nas relações sociais que se estabelecem no município estudado.

Assim, busquei um programa de pós-graduação que pudesse atender esta minha necessidade de compreender melhor os processos de inclusão/exclusão, as questões de direitos humanos e as questões sociais e culturais que perpassam as relações. Escolher o Programa de Pós-graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social foi uma busca gratificante, mesmo com todas as dificuldades de deslocamento, tendo em vista que a Universidade Feevale se localiza em município distinto, a mais de duas horas de minha moradia, gerando desta forma uma necessidade de reorganização em todos os campos da minha vida.

Sempre estive muito decidida em aprender mais e aplicar conhecimentos obtidos no meio acadêmico no dia a dia, agregando-os ao meu fazer profissional. Ao longo de todo esse

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processo de atuação profissional e busca por conhecimento sobre a área de atuação surgiram oportunidades que agregaram em muita a minha pesquisa. O primeiro convite foi recebido em 2017 para elaborar um programa municipal de inclusão produtiva para jovens beneficiários do Programa Bolsa Família, o qual foi elaborado para a implementação na proteção social básica e na proteção social especial do município de Caxias do Sul, sendo aprovado pela FAS, porém nunca saiu do papel, estando em processo licitatório, esquecido em meio às burocracias de uma instituição pública.

O segundo convite recebido ainda em 2017 foi para representar a proteção social básica no então grupo de trabalho de aprendizagem profissional de Caxias do Sul o qual veio a se tornar o Fórum Regional de Aprendizagem Profissional de Caxias do Sul no início de 2018. A presença neste fórum permitiu minha inserção neste grupo destinado a discutir questões sobre aprendizagem profissional ampliando meus conhecimentos sobre tal área e me colocando em contato com diversos profissionais que atuam nas instituições formadoras e em órgãos governamentais que se relacionam com esta política pública, como a Coordenadoria da Juventude e o Ministério do Trabalho, além de conhecer as legislações sobre a aprendizagem profissional, os avanços e as dificuldades em sua implementação no município. Tal o contato me fez direcionar meu olhar sobre a aprendizagem profissional a qual tornou-se parte fundamental do meu foco de pesquisa.

Também em 2018 um terceiro convite me foi proposto, o de representar a FAS no Conselho Municipal da Juventude, tornando-me desta forma uma conselheira municipal da juventude, com o objetivo de elaborar o Plano Municipal da Juventude de Caxias do Sul, e com isso estudar, analisar, elaborar, discutir e propor planos, projetos e programas, em prol da juventude a nível municipal, de forma articulada com as demais políticas públicas e instituições públicas e privadas que atendem a população jovem no município.

Tais convites oportunizaram a obtenção de valiosas experiências e conhecimentos que venho agregando ao meu fazer profissional e que me motivaram cada vez mais a dar continuidade, tornando desta forma a distância geográfica e os malabarismos para conciliar a rotina semanal de trabalho e estudos, dificuldades superadas com alegria e entusiasmo. Assim, nesses anos articulando a elaboração de oficinas, palestras, grupos de atendimento coletivo e atendimentos individuais, contato com as demais políticas públicas e encaminhamentos, além de diversas questões burocráticas, reuniões e evoluções nos prontuários dos usuários, somadas estas experiências práticas com o conhecimento adquirido por meio de aulas, inserção no grupo de pesquisa, elaboração de artigos e presença em eventos científicos como congressos e seminários, foi possível perceber o quanto estas ações se complementaram e permitiram reconhecer as teorias na prática, percebendo as situações vivenciadas e relatadas não só como

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eventualidades, mas sim como processos complexos nos quais os jovens em condição de vulnerabilidade estão envolvidas

Outro ponto que gostaria de destacar, portanto, é a questão da interdisciplinaridade pois encontro-me em um programa de pós-graduação com tais características. Minha formação básica se deu em psicologia assim, os processos subjetivos dos sujeitos comumente são meu foco de atenção. Porém, minha atuação profissional, utilizando-me dos pressupostos da psicologia social, muito me aproximou do fazer do serviço social, compreendendo as questões de vulnerabilidade e atuando na garantia de direitos.

A busca por referenciais teóricos para compreender melhor tais sujeitos, a partir das indicações acadêmicas me fizeram compreender ainda que os sujeitos pesquisados encontravam-se integrados a uma sociedade, essa que por sua vez é o objeto de estudo da sociologia, e ainda, de forma mais aprofundada estes sujeitos pertenciam a uma cultura dentro dessa sociedade complexa, e essa cultura é estudada pela antropologia, área da qual minha orientadora neste percurso de mestrado, Professora Doutora Ana Luiza Carvalho da Rocha, contribuiu imensamente para a minha compreensão.

Meus estudos sobre as questões da aprendizagem profissional perpassam ainda o campo do direito, tendo em vista as legislações que dão base para tais questões trabalhistas e de direito ao trabalho. Ainda, a pedagogia se faz presente em todos os processos educativos que envolvem a aprendizagem profissional, da educação básica ao ensino técnico. Dessa forma, compreendo que este objeto de pesquisa se adéqua de forma mais efetiva neste programa de pós-graduação interdisciplinar, tendo em vista que tal assunto não pode ser tratado apenas por um único viés, pois tornar-se-ia fragmentado.

A pesquisa sobre Juventudes e Aprendizagem Profissional: um estudo sobre possibilidades de inclusão produtiva e social de jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica em Caxias do Sul visa, assim, (1) compreender como transcorre a inserção efetiva de jovens em programas de aprendizagem profissional; (2) analisar as suas efetivas possibilidades de inclusão social a partir do estudo da trajetória social de tais jovens e (3) refletir sobre suas implicações para a ressignificação e a superação da vulnerabilidade socioeconômica e social vivenciada por eles.

Ainda, ao longo de todo esse processo como mestranda, e psicóloga inserida na política pública de Assistência Social, recebi o convite para ministrar algumas disciplinas no Bacharelado de Psicologia da Faculdade Anhanguera, sendo uma das disciplinas lecionadas a de Desenvolvimento Humano II, a qual contemplava as fases do ciclo vital, da adolescência ao envelhecimento. Assim, ao longo da busca por referenciais teóricos para elaboração das aulas e para a construção da dissertação, tornou-se fundamental a compreensão da juventude

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enquanto tema multifacetado, o qual não deve ser compreendido apenas pela ideia da transição entre a infância e a vida adulta. A juventude é plural e dessa forma deve ser compreendida em sua pluralidade como juventudes, pois não há só uma forma de vivenciar esta etapa, diferindo-se em muito a partir de questões culturais, econômicas, de gênero, de etnia, entre tantas outras questões que fazem com que esta etapa do desenvolvimento seja percebida de formas diferentes para os diferentes sujeitos que nela se encontram.

MINHA DESCOBERTA DO OLHAR ETNOGRÁFICO

Ao iniciar o mestrado uma das poucas certezas que eu tinha era de que gostaria de trabalhar com a juventude e com a inclusão produtiva. Foi ao longo do processo de construção da dissertação, participando das orientações e do Grupo de Pesquisa Metropolização e Desenvolvimento Regional, espaços onde pude perceber que o meu fazer profissional em muito se relacionava com a etnografia, tendo em vista que a convivência do pesquisador junto ao grupo social a ser estudado é um dos pressupostos deste método, a partir do qual a coleta de dados está diretamente associada a prática no trabalho de campo. As questões das juventudes sempre me encantaram, acredito que por me sentir ainda muito jovem essa aproximação com o público estudado ampliou meu interesse e minha facilidade em dialogar com os sujeitos da pesquisa, jovens, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, os quais buscam a partir da inclusão no mercado de trabalho uma forma de romper com o processo de vulnerabilidade transgeracional.

Demorei muito tempo também para compreender o que é o processo etnográfico, percebendo por fim que este já se fazia presente no meu fazer profissional por meio do olhar, da escuta, das anotações e das percepções, como identificado na obra “Etnografia: Saberes e Práticas” de Rocha e Eckert (2008):

pesquisa etnográfica constituindo-se no exercício do olhar (ver) e do escutar (ouvir) impõe ao pesquisador ou a pesquisadora um deslocamento de sua própria cultura para se situar no interior do fenômeno por ele ou por ela observado através da sua participação efetiva nas formas de sociabilidade por meio das quais a realidade investigada lhe apresenta.

Aprimorar meus procedimentos de pesquisas já adquiridos através do método etnográfico e ler etnografias realizadas no campo da antropologia, como a “Sociedade de Esquina” de William Foote Whyte, me fez perceber alguns equívocos que cometi ao início desta pesquisa no esforço de transpor para um formato rígido e isento de subjetividade as percepções, as falas e as anotações, tentando apresentar um distanciamento entre pesquisador

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e objeto preciso e cirúrgico, maquiando desta forma a naturalidade das relações que se estabeleciam. Assim, retomo novamente a obra de Rocha e Eckert (2008):

O(a) antropólogo(a) não pode se transformar em nativo(a), submergindo integralmente ao seu ethos e visão de mundo, tanto quanto não pode aderir irrestritamente aos valores de sua própria cultura para interpretar e descrever uma cultura diferente da sua própria (o que consiste no etnocentrismo), sob pena de não mais ter as condições epistemológicas necessárias à produção da etnografia.

Gilberto Velho (1978) em sua obra “Observando o familiar” apresenta ainda a relevância de se manter uma distância mínima entre pesquisador e sujeitos da pesquisa, a fim de garantir as condições necessárias de objetividade da pesquisa. Aprendi desta forma a ver o meu envolvimento nestas relações deixando claro para mim e para pesquisados e leitores da pesquisa o que é meu e o que é do outro. Assim, abandonei o distanciamento demasiado, abrindo espaços para que os sujeitos da pesquisa pudessem se sentir enquanto colaboradores, e não apenas sujeitos observados, compartilhando minhas percepções ao longo dos encontros, e permitindo que eles confirmassem ou refutassem tais percepções. Assim, foi possível reconhecer o outro e sua subjetividade, e tentar apresentá-lo de forma natural, sem recursos artificiais que mascaram tais relações.

A partir do momento em que parei de tentar traduzir minhas percepções e os fatos que aconteciam para uma linguagem que suponha eu era a “acadêmica correta”, e passei a escrever acompanhando o fluxo de meus pensamentos, apresentando minha subjetividade, a escrita tornou-se mais fácil e fluida, assim como permitiu sentir-me mais conectada com a pesquisa, e não tão desconfortável como até então estava, tentando vestir uma roupa de pesquisadora que não me cabia, e que me deixava deslocada interna e externamente. Gilberto Velho (1978) pontua que para que se possa conhecer certas dimensões de uma determinada sociedade, torna-se necessário uma vivência prolongada onde seja possível que o pesquisador veja com olhos imparciais a realidade ali apresentada, tendo em vista que existem aspectos de uma cultura que não são explicitados em sua superfície, exigindo deste modo um esforço maior e mais aprofundado de observação e empatia por parte do pesquisador.

ETNOGRAFIA EM MEIO A GRUPOS DE REFLEXÃO

Tendo em vista que a pesquisa de campo etnográfico consiste no estudo do Outro, como uma alteridade, sempre objetivando conhecê-lo, compreende-se deste modo que a observação participante em Antropologia se traduz nesta aprendizagem de olhar o Outro para conhecê-lo, e ao fazermos isto, também buscamos nos conhecer melhor (ROCHA; ECKERT, 2008). Assim, a ideia de utilizar a metodologia de grupos reflexivos, somada a experiência

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etnográfica se deu de forma natural, tendo em vista que ao longo da graduação em psicologia, e na atuação profissional, sempre considerei os grupos reflexivos como uma ferramenta muito valiosa no processo de conhecer o outro.

Os grupos reflexivos, conforme postulado por Zimerman e Osório (1997), caracterizam-se por ser uma espécie de grupo operativo, com o objetivo de elaborar tensões por meio da reflexão. Deste modo, a característica que mais diferencia esta modalidade grupal, se comparado com a de grupos terapêuticos, seria o fato de não visarem o tratamento, e sim uma orientação acerca das ansiedades de seus membros. Para Osório (2003) os grupos de reflexão, têm por finalidade desenvolver habilidades reflexivas nos membros, favorecendo o pensamento e reflexão a partir do compartilhamento de experiências individuais.

A palavra reflexão sugere ainda a característica principal do espelho assim, o grupo atua como uma galeria de espelhos, onde cada um pode refletir-se nos demais bem como perceber seu reflexo neles. O coordenador em de grupo, em especial um grupo de jovens, deve ter capacidade de acolher as necessidades, anseios e angústias dos membros do grupo compreendendo-as e ajudando-os a dar um sentido, um nome, para poder devolvê-las adequadamente de acordo com a capacidade de cada membro em conseguir significá-las. É imprescindível que haja paciência por parte do coordenador em todas as intervenções, respeitando o ritmo singular pois, cada participante necessita de um tempo inicial para que reduza sua ansiedade. Assim, o mesmo poderá adquirir confiança no grupo, formando, dessa forma, um vínculo para uma efetiva integração (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997).

Segundo Rocha e Eckert (2008), com base no aprendizado da leitura etnográfica, ao entrar em campo, visa-se sair do lugar de “mal necessário”, tornando-se um provocador de questões pontuais sobre o cotidiano das pessoas e dos sociais grupos pesquisados, convidando-os a refletir sobre o sentido de suas vivências. A partir deste diálogo e das interrelações que se estabelecem, o(a) etnógrafo(a) participa dos acontecimentos ordinários da vida dos indivíduos e/ou dos grupos, atuando em sua transformação, fomentando entre os sujeitos o desafio de refletir conjuntamente sobre si mesmos.

Baremblitt (1986) enfatiza que um dos papéis do coordenador é o de facilitar o pensamento dos membros a refletir sobre suas ansiedades básicas, a partir da sinalização de situações que são manifestadas, interpretando a partir daí a causa subjacente. As experiências individuais devem ser ouvidas pelo grupo visando que os outros participantes se sintam autorizados a trocar experiências entre si, promovendo identificações.

Osório (2003) postula que o campo grupal é uma entidade transpessoal onde os fenômenos que ocorrem neste meio dependem da interação entre os sujeitos integrantes do grupo. O indivíduo passa a perceber o grupo como uma referência para sua própria

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identidade, essa referência é criada a partir do sentimento de pertença subjetiva a um grupo. Tal sentimento contribui para que os membros se sintam e atuem como grupo, possibilitando a sua identificação (MARTINS, 2003).

Ainda, é fundamental que se saliente a necessidade de fazer uma discriminação adequada entre os valores e ideais do coordenador (relativização/estranhamento) em contraponto daqueles advindos dos participantes do grupo. Assim, o coordenador não deve se apropriar do espaço mental do outro, impondo seus próprios valores e expectativas tendo em vista que os membros podem apresentar os mais diferentes pensamentos, histórias de vida e formas de se colocar no mundo e estas questões proporcionam transferências (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997). Para o caso da Antropologia, refiro-me aqui ao tema do etnocentrismo e seus efeitos sobre a compreensão das alteridades:

A prática etnográfica tem por desafio compreender e interpretar tais transformações da realidade desde seu interior. Mas, sabemos também, que toda produção de conhecimento circunscreve o trajeto humano. Assim o ofício de etnógrafo pela observação participante, pela entrevista não-diretiva, pelo diário de campo, pela técnica da descrição etnográfica, entre outros, coloca o(a) cientista social, o(a) antropólogo(a), mediante o compromisso de ampliar as possibilidades de reconhecimento das diversas formas de participação e construção da vida social. (ROCHA; ECKERT, 2008)

Em decorrência, essa dissertação tem como meta fornecer os resultados à comunidade onde atuo profissionalmente de forma a subsidiar a formulação, operacionalização e avaliação de políticas públicas voltadas para a inclusão produtiva de jovens, bem como dos programas de aprendizagem profissional já existentes.

A proposta do estudo se concentrou na realização de uma pesquisa de campo que envolveu três etapas, a primeira considerada como pré-campo, foi realizada com jovens no espaço do CRAS do território de residência destes, jovens estes que não estavam vinculados ao mercado de trabalho e ansiavam pela primeira oportunidade formal. A segunda etapa, considerada enquanto campo, foi realizada com jovens em processo de aprendizagem profissional da Lefan, os quais já haviam cursado a parte teórica do curso, e encontravam-se inseridos nas empresas realizando a prática profissional. A terceira e última etapa constituiu-se enquanto uma retomada do campo, não mais no espaço da Lefan, pois os jovens já eram egressos do curso de aprendizagem, e sim nos espaços frequentados pelos jovens, visando conhecer suas trajetórias após a conclusão do curso.

Assim, a pesquisa acompanhou a trajetória de diferentes jovens ao longo do processo de inserção laboral, compreendendo as suas condições de vida a partir da observação participante do seu processo de aprendizagem, registrando as observações da pesquisadora, os relatos dos jovens e seus testemunhos no diário de campo e caderno de anotações. A base da

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pesquisa de coleta de dados é o método etnográfico, composto por inúmeros procedimentos e técnicas, como o levantamento de dados de pesquisa, tanto quantitativa quanto qualitativa, pautados na observação direta das práticas dos jovens, uma forma privilegiada para que se possa entrar em contato com os saberes de determinado grupo social (ROCHA; ECKERT, 2008).

Informações específicas sobre os parceiros da pesquisa (os jovens em formação) foram coletadas por meio de entrevista não diretiva além daquelas coletadas ao longo dos grupos reflexivos, visando identificar possíveis ressignificações sobre a situação de vulnerabilidade social1 vivenciada por eles, mas sempre focada na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais e institucionais, o contexto em que o tema a pesquisado está inserido e as associações entre as variáveis.

Para complementar o processo de compreensão do fenômeno das aprendizagens profissionais e jovens em condição de vulnerabilidade foi utilizada a pesquisa documental2, com coleta e análise de dados indiretos, inclusive os disponibilizados nos sites oficiais de órgãos governamentais e iniciativa privada que atuam na área. Para a coleta de informações relativas ao Município de Caxias do Sul, foram analisados documentos disponibilizados pela FAS e pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego – SDETE.

Para a análise de ações de aprendizagem profissional para esse estudo foram coletadas informações junto a Lefan, onde a pesquisa se concentrou. Sendo assim, os parceiros da pesquisa foram jovens, vinculados ao Programa de Aprendizagem Profissional da Lefan no município de Caxias do Sul, em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Foram avaliadas as variáveis sociodemográficas como idade, sexo, escolaridade e vulnerabilidade socioeconômica. Sobre as razões da escolha desta instituição, vou discorrer mais adiante, no corpo da dissertação.

Em termos de logística, foram realizados encontros com os jovens, na sede Lefan dentro dos horários regulares de frequência no curso, tendo sido ofertado a inserção no grupo de reflexão sobre as temáticas de inclusão e exclusão social, espaço social onde foram coletadas informações sobre a formação profissional a partir do diálogo com os jovens. O “contrato” com os meus interlocutores foi acompanhando da leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, presente no Apêndice B, no qual a pesquisadora comprometia-se com a preservação da identidade e total sigilo sobre os dados coletados 1 Vulnerabilidade relaciona-se à exposição a contingências e tensões e às dificuldades de lidar com elas.

Nesse sentido, pode ser uma condição dos indivíduos e grupos frente a acontecimentos de diversas naturezas: ambientais, econômicas, fisiológicas, psicológicas, legais e sociais (MDS, 2013, p. 26).

2 De acordo com Marconi e Lakatos (2017, p. 190) a definição de pesquisa documental é: “... tomar

como fonte de coleta de dados apenas documentos, escritos ou não, que constituem o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ter sido feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois”.

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acerca da vida e do cotidiano de tais jovens na família e na instituição, onde a pesquisa foi realizada. Da mesma forma, garantia-se aos entrevistados que estes poderiam desistir ou se recusar a coleta de dados a qualquer momento da entrevista, sendo que tal ocorrência não comprometeria a integridade da pesquisa.

Ao final da experiência de grupos de reflexão com os aprendizes da Lefan, os jovens foram convidados a participar da última etapa da pesquisa, a qual se constituiu em uma entrevista individual após a conclusão do curso, objetivando verificar como se deu a trajetória laboral dos jovens egressos. Deste modo, os jovens interessados forneceram seus contatos. Seis meses após a conclusão do curso foi efetivado o contato com estes jovens, sendo possível realizar quatro entrevistas devido à disponibilidade destes. Das entrevistas, uma se deu no domicílio da jovem, uma se deu na escola onde a jovem estuda, e as outras duas, devido a dificuldades dos jovens, foram realizadas por meio de contato eletrônico, todos locais sugeridos pelos jovens, prezando por ter esse contato posterior em um local que lhes fosse familiar, com o consentimento dos responsáveis. Importante ressaltar que todos os encontros e entrevistas foram transcritos e submetidos à análise de dados e conteúdo ao longo de todo o processo de pesquisa.

Sintetizo desta forma que o interesse pelo estudo e pesquisa na área de Diversidade Cultural e Inclusão Social, em especial em relação a juventudes e aprendizagem profissional foi influenciado diretamente pela mescla entre as teorias estudadas e as oportunidades de atuação profissional que surgiram no caminho após a graduação em psicologia. Ainda, como incentivo decisor para o interesse na linha de pesquisa em inclusão social e políticas públicas, enfatizo minha atuação no CRAS Sudeste de Caxias do Sul, órgão de execução dos serviços da Política de Assistência Social, onde percebia diariamente que a grande maioria dos usuários encontram-se em situação de vulnerabilidade socioeconômica por não se enquadrar nas atuais exigências do mercado de trabalho formal, sendo que tal situação pode ser identificada nas diferentes gerações dentro do mesmo núcleo familiar, tornando essa, em muitos casos, uma questão de vulnerabilidade transgeracional, sendo uma preocupação para os jovens pertencentes a tais famílias, os quais em muitos casos buscam opções de trabalho que enquadram-se em trabalho infantil e apresentam riscos à saúde e segurança destes jovens.

JUVENTUDES E SUAS PLURALIDADES

O Brasil apresenta atualmente 51 milhões de jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos sendo essa a maior população de jovens da história do país. A juventude brasileira é diversificada, sofre fortes impactos devido a desigualdades sociais, econômicas, políticas e

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culturais existentes em todo o território nacional (SNJ, 2018). Contudo, Perondi e Vieira (2018) ao analisar dados demográficos, informam que na atualidade, o número de jovens na realidade brasileira é expressivo, porém, em relação as projeções para o futuro, tem-se um percentual em decréscimo significativo para as próximas décadas, sendo assim, dar atenção à questão dos jovens brasileiros torna-se especialmente relevante neste momento.

Há de se fazer uma diferenciação legal entre o perfil etário o qual representa a infância, a adolescência e a juventude. Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, apresenta em seu segundo artigo a distinção entre criança, sendo esta, para fins legais, o indivíduo com idade de até doze anos incompletos, e o adolescente, o indivíduo com idade entre doze e dezoito anos. Em relação aos jovens, sua delimitação de idade se apresenta no primeiro artigo do Estatuto da Juventude – EJUVE, Lei nº 12.852, de 05 de agosto de 2013, o qual dispõe que são considerados jovens os indivíduos com idade entre quinze e vinte e nove anos.

Na etapa da juventude, definições e experimentações de possibilidades nas mais diferentes esferas da vida se fazem presentes, afetando de tal modo a identidade do sujeito. Pontua-se ainda que o contexto histórico e cultural, onde o jovem vivencia suas experiências, inserido em uma sociedade dinâmica, a qual permeia suas vivências e significações. Cabe destacar que a psicologia, área de estudo em que fiz minha iniciação acadêmica, trabalha com o conceito e adolescência, abordando questões biopsicossociais, em especial dando foco nas mudanças corporais desencadeadas a partir da puberdade, somadas as significações sociais as quais vão moldando o sujeito em sua subjetividade. Assim, a questão do luto pela perda do corpo infantil, a aceitação do corpo em transformação, somado a maturidade sexual deste corpo, a reorganização dos desejos, afetos e identificações, bem como as modificações no padrão de relacionamento entre o sujeito e os pais, superando a dependência destes, em busca de autonomia, e a filiação no grupo de amigos com interesses em comum ganha destaque no estudo e compreensão desta etapa (MOREIRA; ROSÁRIO; SANTOS, 2011).

Pontua-se que mesmo sendo utilizados popularmente como sinônimos, a adolescência e a juventude se aproximam, mas não se equivalem. O conceito de adolescência, o qual percebe o indivíduo em suas transformações biopsicossociais, como já apresentado, difere-se do conceito de juventude, o qual é referido por León (2005) como uma categoria social, política, histórica, econômica, territorial, cultural e relacional, variando conforme o momento sócio histórico. Assim, no Brasil quando busca-se indicar os processos que marcam esta etapa da vida, marcada pela puberdade, questões comportamentais e emocionais, e o impacto destas na subjetividade do ser humano, utiliza-se da terminologia adolescência. Já, quando deseja-se referir à categoria social ou geração no contexto histórico por exemplo, utilizam a

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terminologia juventude. Deste modo, neste trabalho são empregados os termos jovens e juventudes, para fazer referência aos sujeitos que compuseram a pesquisa, tendo em vista que se buscou compreendê-los em seu contexto sócio histórico, percebendo-os como atores no espaço público.

Salienta-se ainda que a juventude e seu conceito é tema de debates entre autores, apresentando-se como uma categoria moderna. Pais (2003) apresenta a ideia de que atualmente percebe-se um prolongamento da condição juvenil, referindo-se a processos de escolarização com maior duração, e a postergação da entrada no mercado de trabalho. Ainda, compreende que a juventude apresenta diversas facetas, não sendo compreendida apenas como uma etapa biológica, sendo deste modo um fenômeno sociocultural complexo. Bourdieu (1983) no texto “Juventude é apenas uma palavra” refere que o conceito de juventude diz respeito a uma construção social, histórica, cultural e relacional, por meio da qual ao longo dos processos históricos e sociais que marcam as distintas épocas, vão adquirindo concepções diferentes.

Assim, a terminologia “juventudes” vem sendo empregada por diferentes autores visando salientar as diferenças entre os jovens, sejam estas diferenças relacionadas a distribuição de renda, gênero, raça, crenças, ou outros tantos fatores que podem influenciar as vivências desses sujeitos. Não se pode perder de vista que assim como os jovens muito se diferenciam, muitos são os aspectos em que podem se aproximar, como em formas de expressão, gostos, lazer, desejos e medos. Peralva (1997) apresenta a juventude como uma condição social, perpassada pelo desenvolvimento físico, alterações psicológicas, sendo diferente para cada indivíduo tendo em vista questões geográficas, religiosas, de gênero, de classes sociais, de culturas, entre outros fatores. Scherer (2018a, p. 256) refere que:

O emprego da palavra “juventudes” torna-se fundamental para demarcar essa pluralidade. Isto é: mesmo compreendendo que existe uma necessidade de determinar uma faixa etária, especialmente no que se refere ao desenvolvimento de políticas públicas, é necessário reconhecer a pluralidade existe nesse segmento social, uma vez que não existe uma única juventude homogênea, mas diversas juventudes com necessidades e demandas distintas.

Fica claro que o conceito de juventude não pode ser considerado como significativo para descrever e analisar uma fase de transição entre a infância e a vida adulta, mas está relacionado a um conjunto de transformações que gerarão um impacto em toda a vida do sujeito social em sua fase adulta e produtiva, a partir de relações, referências, compreensões, e simbolizações que se dão nessa etapa.

Nas modernas sociedades complexas, urbanas e industriais, os jovens das diferentes camadas sociais vivenciam de forma diferenciada uma forte pressão sociofamiliar para que se

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responsabilizem pelo desempenho de atividades no âmbito do lar, dos estudos, e até mesmo da vida laboral, papel que muitas vezes não se sentem preparados para desempenhar. Segundo Erikson (1987), tal etapa do ciclo vital é compreendida como Identidade versus confusão de identidade, sendo descrito como um período em que a identidade do jovem está em transformação, e os papéis sociais são experienciados e questionados.

O julgamento e comparações sociais são uma preocupação constante na vida dos jovens, fazendo muitas vezes com que eles fiquem confusos em relação a sua própria identidade e encontrem-se perdido na identificação dos papéis sociais que deve assumir. Nesta etapa os jovens costumam filiar-se a grupos de mesma faixa etária, estabelecendo novas relações interpessoais por meio de pares de iguais como canal para a expressão de emoções, dúvidas e incertezas próprias dessa fase (ERIKSON, 1987, ABERASTURY; KNOBEL, 1981).

Conforme Abramo (2005), há de se fazer uma diferenciação entre condição juvenil e situação juvenil, a qual especifica que condição juvenil está ligada especificamente a etapa do ciclo vital que se estende entre a infância e a idade adulta, com as devidas características deste período, onde o sujeito vai das mudanças corporais típicas da puberdade, com a necessidade de proteção sociofamiliar, até as dimensões do mundo adulto, com a capacidade de reprodução, auto sustento e tomada de decisão. Enquanto a dimensão da situação juvenil diz respeito a como a condição juvenil é vivenciada, levando em conta as diferenças socioculturais, entre tantas outras que perpassam as vivências deste jovem. Assim a autora pontua que a condição juvenil é uma realidade a todos os jovens, ao passo em que a situação juvenil, por levar em conta as diferenças de vivências e realidades, pode ser diferenciada a cada jovem. Conforme a autora Regina Novaes:

Os limites de idade não são fixos. Para os que não tem direito à infância, a juventude começa mais cedo. E, no outro extremo – com o aumento de expectativas de vida e as mudanças no mercado de trabalho –, uma parte “deles” acaba por alargar o chamado “tempo da juventude” até a casa dos 30 anos. Com efeito, qualquer que seja a faixa etária estabelecida, jovens com idades iguais vivem juventudes desiguais (2006, p. 105).

Perondi e Vieira (2018) em seu texto “A construção social do conceito de juventudes”, apresentam uma sistematização das quatro principais abordagens pelas quais os jovens são percebidos na atualidade, e que são relevantes para o caso aqui analisado, sendo as que seguem:

1. Juventude como etapa preparatória: a qual prima pela ideia de que na juventude os indivíduos devem ser preparados para o futuro, sendo esta uma etapa de preparação e formação, em um vir a ser para o mundo adulto. Assim,

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nesta abordagem a juventude é percebida como uma fase de transição, sendo bastante limitada tendo em vista que desconsidera o presente em benefício da promessa do futuro, estigmatizando os jovens como imaturos.

2. Juventude enquanto problema: estando muito presente no imaginário social e retroalimentada pelos noticiários, focalizando esta etapa como a fase das drogas, gravidez precoce, desemprego e irresponsabilidade. Tal abordagem também se mostra limitada pois apenas cria estereótipos dos jovens como problemáticos, culpabilizando os mesmos pelos problemas sociais dos quais também são vítimas.

3. Juventude como modelo: bastante empregada pelo mercado de consumo, utilizando a juventude como modelo cultural, instigando crianças, adultos e idosos a buscar a aparência e os estilos de vida juvenis como desejos de consumo, objetificando os jovens como se esta fosse a fase a ser eternizada. Tal visão também se mostra falha, a medida em que apenas aponta as características idealizadas de tal etapa.

4. Juventude como sujeito de direitos: considera os jovens como sujeitos integrais, porém os quais se encontram em uma fase singular para o seu desenvolvimento pessoal e social, valorizando suas potencialidades e compreendendo suas demandas próprias. Tal abordagem é muito recente tendo em vista as legislações e políticas públicas para a juventude implementadas a poucos anos no país, as quais ainda estão em processo de consolidação.

Cabe destacar que nas últimas duas décadas a concepção sobre a juventude em muito se modificou, passando a ser pensada para além de uma fase de transição, ou uma delimitação de faixa etária, e sim, sendo analisados na lógica de sujeitos de direitos, foco de políticas públicas específicas, autores de uma cultura juvenil própria, a partir de uma construção social, história e cultural. Deste modo, neste trabalho o foco de compreensão das juventudes se dá pela abordagem de juventude como sujeitos de direitos, fugindo do clichê de perceber a juventude como etapa preparatória, como em muito se percebe nas políticas públicas voltadas para a inserção laboral.

Salienta-se ainda que, nesta pesquisa há um recorte juvenil específico sendo investigado, os jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica, residentes em territórios periféricos, com acesso deficitário a serviços públicos, e que buscam a partir da

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inserção em um curso de aprendizagem profissional uma vinculação laboral visando superar as situações de vulnerabilidades vivenciadas, buscando sua inclusão social. Deste modo destaca-se que:

Um jovem que vive na periferia urbana terá demandas distintas de um jovem que vive nos bairros com melhores acessos. Compreender a pluralização da palavra “juventudes” não significa simplesmente ter um cuidado semântico em uma redação textual, mas, especialmente, indica a necessidade de reconhecer a complexidade de um segmento social que precisa ser reconhecido em suas múltiplas particularidades, sem se descolar da totalidade na compreensão do elemento que caracteriza as juventudes: a construção de processos de autonomia, que vêm se fazendo cada vez mais complexos diante da realidade atual (SCHERER, 2018b, p. 54).

ALGUNS PRESSUPOSTOS DA PESQUISA

A pesquisa parte do pressuposto de que a inserção de jovens pertencentes a famílias de camadas populares, moradoras de grandes centros urbanos industriais do país, em programas de aprendizagem profissional pelos órgãos governamentais como parte de suas políticas públicas para as juventudes podem favorecer a construção de novas trajetórias de vida, uma vez que tais programas, por seu caráter educativo e profissionalizante, tem contribuindo de forma significativa para a superação da situação de vulnerabilidade social vivenciada por eles e suas famílias. Da mesma forma, a pesquisa apoia-se na hipótese de que tais programas podem auxiliar no processo de rompimento do ciclo de vulnerabilidade intergeracional que em muitos casos está instalado no histórico de suas famílias.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Contínua informam que em 2017, ano no qual o país possuía 207,1 milhões de habitantes, destes, compunham o mercado de trabalho brasileiro 89,1 milhões de pessoas, as quais estavam em vinculação laboral com 14 anos ou mais de idade. Desta totalidade, 10% da população considerada com os maiores rendimentos detinham 43,3% da massa de rendimentos do país, em contrapartida, a parcela dos 10% com menores rendimentos detinham apenas 0,7% dessa massa. Ainda, no Brasil em 2017 o rendimento médio per capta mensal foi de R$1.271. Outro fator a se destacar foi o de no ano de análise, 13,7% dos domicílios brasileiros recebiam transferência de renda referente ao Programa Bolsa Família (IBGE, 2017). Deste modo, analisando tais dados, pode-se identificar a desigualdade na distribuição de renda presente em nossa sociedade.

Em relação a vulnerabilidade socioeconômica, em especial de jovens no município pesquisado, o quadro 1 mostra um comparativo entre os dados gerais do município de Caxias do Sul, com base nos dados coletados no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, com estimativas referentes ao ano de 2018, em relação aos dados coletados por meio

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do sistema do Cadastro Único, em relação a população cadastrada no sistema em Caxias do Sul até julho de 2018.

O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (Cadastro Único) é um instrumento de identificação e caracterização socioeconômica das famílias brasileiras de baixa renda, que pode ser utilizado para diversas políticas e programas sociais voltados a este público. Por meio de sua base de dados, é possível conhecer quem são, onde estão e quais são as principais características, necessidades e potencialidades da parcela mais pobre e vulnerável da população (MDS, 2017, p. 5)

Salienta-se que conforme a normativa do Cadastro Único, famílias consideradas em situação de vulnerabilidade social são aquelas com renda familiar mensal de até meio salário-mínimo por pessoa ou até três salários salário-mínimos de renda familiar total mensal, sendo considerado um mapa o qual representa as famílias mais pobres brasileiras, sendo definido como uma ferramenta essencial para o Sistema Único de Assistência Social, e utilizado também por demais políticas públicas.

A partir do quadro 1 é possível identificar que a vulnerabilidade socioeconômica se faz presente em maior percentual na população jovem do município, 16,92%, sendo considerados jovens de 15 a 24 anos, cadastrados no cadastro único, com renda per capta familiar de até meio salário mínimo nacional. Esse percentual é ainda mais alto no grupo de mulheres jovens 18,36%.

Quadro 1: Comparativo entre dados de Caxias do Sul e do Cadastro Único

Fonte: Site IBGE (2018) e Dados fornecidos pelo sistema do Cadastro Único de Caxias do Sul.

Com base na alarmante desigualdade social em que a população brasileira se encontra, como pode ser percebida pelos dados apresentados, somados às reflexões teóricas de Castel (2013) em “As transformações da questão social”, Martins (2008) em “A sociedade vista do abismo” e Souza (2015) em “A tolice da inteligência brasileira”, para citar apenas alguns dos autores e obras consultadas ao longo da construção desta pesquisa, e na possibilidade de contribuir para o rompimento do ciclo de vulnerabilidade socioeconômica ainda na juventude, proporcionando novos horizontes e principalmente, favorecendo a emancipação social de tais indivíduos, que surge o questionamento: Pode a inserção em programas de aprendizagem

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profissional ampliar para os jovens as possibilidades de inclusão social e contribuir para a ressignificação da situação de vulnerabilidade social vivenciada no município de Caxias do Sul?

Para responder à pergunta inicial da pesquisa, a investigação se ampliou no sentido de acompanhar parte do processo de inserção de jovens em programas de aprendizagem profissional no esforço de compreender como eles experienciavam a formação profissional como campo de possibilidades (VELHO, 1981) de inclusão social e ressignificação da sua situação de vulnerabilidade social em Caxias do Sul. A aproximação com instituições na região, dedicadas a programas de aprendizagem profissional para essa população foi, assim, relevante como parte do processo de pesquisa uma vez que por meio delas é que seria possível identificar as percepções e representações de um grupo de jovens acerca de sua inserção em programas de formação profissional. Tal situação orientou a pesquisa para um levantamento de dados sobre tais instituições e seus programas de oportunidades de inclusão/exclusão social de tais jovens, além das possibilidades da inserção da pesquisadora como coordenadora de grupos de reflexão com os jovens em formação, onde foi possível acompanhar, partir do olhar etnográfico, suas percepções e representações em relação a possibilidade de ressignificação da situação de vulnerabilidade social, num diálogo com os dados da própria instituição sobre esse processo.

Sendo assim, a pesquisa focou parte de suas preocupações no entendimento da aprendizagem profissional enquanto força modificadora do pensar e do fazer humano, a qual considero um pilar estruturante para o indivíduo, e que pode traçar novos rumos primordialmente na juventude. Isto porque em minha atuação profissional tornava-se evidente que tais jovens que são o foco da pesquisa buscam uma oportunidade de reinventar sua trajetória social a partir de suas expectativas de inserção no mundo do trabalho, em especial os jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica, os quais em muitos casos vivenciam uma trajetória social destituída de direitos.

Enxergando por esse prisma é possível afirmar que os condicionantes sociais que delimitam determinada estrutura de transição (processo de mudanças para distintas situações de vida) interferem na constituição das trajetórias sociais dos jovens, na constituição de seus “modos de vida” e na possibilidade que encontram de elaborar seus sentidos de futuro. Se, por um lado, transição serve para fazer referência a um duplo processo que inclui mudanças biológicas próprias do crescimento e os marcos de passagem de determinadas situações de vida a outras (a maternidade ou não maternidade, a inatividade ou vida produtiva etc.), por outro lado, na noção de

trajetória o importante não é a sequência dos distintos marcos característicos da

geração de novos indivíduos adultos, mas sim as posições que o indivíduo ocupa ao longo da sua vida e que caracterizam sua biografia. Reconhecer que os jovens são construtores de suas próprias trajetórias biográficas significa reconhecer também as relações de interdependência dessas mesmas trajetórias com as relações e condicionantes sociais (CARRANO, 2008, p.68)

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A motivação era compreender, “de perto” e de “dentro”(MAGNANI, 2002) a articulação entre a Política Pública de Assistência Social, em especial no que diz respeito à proteção social básica e os programas de aprendizagem profissional, com base em suas normativas legais, pensando a partir desta inter-relação em uma possibilidade de não só perceber a Assistência Social como provedora de recursos mínimos para acesso adequado do indivíduo ao mundo do trabalho mas também, percebendo a inclusão produtiva como ferramenta necessária para a superação das vulnerabilidades sociais, capacitando e empoderando os indivíduos para que estes possam se emancipar de políticas assistenciais.

Importante salientar que assuntos relativos ao uso de substâncias psicoativas – SPA, doenças sexualmente transmissíveis – DST, gestação não planejada, bullying, violência entre jovens, suicídio e depressão, entre tantos outros assuntos que com frequência são associados às juventudes, não foram aprofundadas ao longo deste trabalho. Tal opção se deu buscando fugir da tendência de culpabilizar os jovens pelas vulnerabilidades sociais as quais estão sujeitos pelas escolhas ditas individuais como optar por usar substâncias psicoativas ou optar por ter relações sexuais desprotegidas, por optar em se envolver em situações de risco, como com frequência é apontado pela sociedade e mídia.

Deste modo buscou-se apontar para outras questões sociais que perpassam as trajetórias dos jovens, ampliando o entendimento sobre as questões de desigualdade social que muitas vezes não são percebidas no senso comum social, nem mesmo no pensamento dos próprios agentes de políticas públicas voltadas para a juventude, que tendem a ver o jovem como causador dos próprios problemas ou causador da desordem social. Assim entende-se que os assuntos mencionados já são amplamente discutidos tanto por pesquisas, quanto no meio social. Assim, o enfoque desta pesquisa foi abordar questões pouco discutidas, tanto em ambientes acadêmicos, quanto pelas mídias e sociedade, apontando para as vulnerabilidades em um contexto mais amplo, como a questão dos territórios violentados, o juvenicídio, a questão da seletividade penal e especialmente a questão da precariedade na inserção laboral de jovens, questões estas fundamentais para abandonar a ótica do jovem enquanto problema e perceber os jovens enquanto sujeitos de direitos, direitos estes estão violados como demonstrado ao longo de todo este estudo.

Assim, após me apresentar como pesquisadora, descrevendo as experiências laborais e educacionais que me aproximaram da temática deste estudo, descrever o percurso e os percalços de minha trajetória enquanto aprendiz de etnógrafa, com o desafio de somar a essa experiência os grupos de reflexão, considerando as juventudes em suas pluralidades, visando compreender como os jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica percebem a

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experiência laboral, em especial a aprendizagem profissional, apresento a seguir, a estrutura da dissertação.

Na introdução, considerada o primeiro capítulo, aprofundou-se a descrição dos caminhos da pesquisa etnográfica com os jovens, relatando a experiência de pré-campo realizada no CRAS Sudeste, e após, a experiência de campo realizada na Lefan, a qual, por fim, foi a instituição escolhida para compor a pesquisa. Ainda, são apresentados os jovens participantes do programa de aprendizagem profissional da Lefan, os que permanecem e os que foram desligados.

No segundo capítulo, as temáticas exclusão, pobreza e desigualdades sociais são apresentadas enquanto processo social enraizado na cultura nacional, fazendo uma reflexão sobre a questão da meritocracia e da desigualdade competitiva, passando pelas questões de trabalho infantil e seu impacto na formação escolar e formação profissional, direcionadas para os jovens brasileiros ao longo do percurso histórico do país.

O terceiro capítulo aborda as evoluções em relação às legislações em prol das juventudes, focalizando-se no Estatuto da Juventude e nos direitos legalmente resguardados aos jovens, sendo discutida a discrepância entre o que é disposto enquanto direito e o que se efetiva na realidade brasileira, sendo apresentadas as principais violações de direitos como o juvenicídio, a residência em territórios violentados, a vinculação ao tráfico de drogas e a seletividade penal.

E relação ao quarto capítulo, este apresenta o município de Caxias do Sul enquanto território da pesquisa, descrevendo a trajetória da política pública de assistência social e como se estabelece a rede socioassistencial direcionada aos jovens do município a partir do trabalho dos CRAS e Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV e suas articulações com o programa de aprendizagem profissional em prol da efetivação dos direitos dos jovens.

No quinto capítulo, a aprendizagem profissional é detalhada em suas questões legais e em sua efetivação no cenário brasileiro atual, sendo relatada a experiência de campo realizada na Lefan, abordando o programa de aprendizagem profissional executado na instituição bem como, o programa enquanto processo civilizatório.

Ao longo do sexto capítulo as ações governamentais com foco na inclusão produtiva são apresentadas, sendo evidenciadas ainda as questões de precarização dos postos de trabalho e desemprego juvenil na atualidade do país, com dados nacionais e locais, correlacionando com a fala nativa dos jovens sobre a experiência da aprendizagem profissional, as questões de atuação laboral, a busca por autonomia financeira e auxílio com as despesas domésticas, e como todo esse processo de inclusão produtiva impactou em suas trajetórias.

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