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Mosteiro de Tibães: estudo arqueológico do claustro do refeitório

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Academic year: 2021

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Luís Fernando de Oliveira Fontes

Arqueólogo / Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho

Cristina Augusta F.C. Mesquita Guimarães

Arqueóloga / colaboradora da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho

Francisco José Silva de Andrade

Arqueólogo / colaborador da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho

Mosteiro de Tibães: estudo arqueológico do claustro do refeitório

1. Introdução

No cumprimento do que consagram as Cartas e Convenções internacionais respeitantes à conservação e restauro de monumentos e sítios, o mosteiro de São Martinho de Tibães tem vindo a ser objecto, desde 1992 e no âmbito do amplo projecto de intervenção promovido pelo Instituto Português do Património Arquitectónico, de trabalhos arqueológicos diversos, dos quais resultou um vasto acervo documental, que é também já património a conservar e que incorpora mais de 5.000 fotografias (diapositivos e negativos), cerca de 600 desenhos de pormenor com registo de vestígios de construções e de mais de 2.000 contextos estratigráficos. Recolheu-se diverso espólio, em que se destacam algumas peças cerâmicas completas e mais de 25.000 fragmentos de cerâmica de diversas produções, desde o século XI ao século XX.

Entre as inúmeras zonas objecto de intervenção arqueológica, o Claustro do Refeitório foi uma área que mereceu especial atenção, proporcionando dados relevantes para a caracterização arquitectónica do mosteiro e para a compreensão da sua evolução. Para além da escavação de mais de cinquenta sondagens, referenciadas a uma quadrícula orientada pelos eixos do edifício e com uma malha base de 2x2 metros, procedeu-se à identificação, inventário e acondicionamento de todos os elementos arquitectónicos soltos que aí se acumulavam desde o incêndio de 1894 e posterior transformação do espaço em terreiro agrícola.

A limpeza dos entulhos superficiais permitiu identificar com rigor o traçado e alinhamento das paredes principais e secundárias, bem como a modulação das arcarias do claustro ao nível do rés-do-chão, a partir dos restos de paredes e/ou alicerces e das marcas de assentamento das bases das colunas.

Mas interessava também confirmar a organização funcional dos espaços do claustro descrita na documentação, designadamente o refeitório, que lhe deu o nome, bem como perceber a sequência construtiva e verificar se existiam vestígios anteriores. O estudo do sistema hidráulico que serviu o claustro constituiu igualmente um dos objectivos da intervenção arqueológica.

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São os resultados desses trabalhos de escavação e de inventário que se apresentam a seguir, naturalmente de forma sintética mas suficientemente demonstrativa do contributo da arqueologia para o adequado desenvolvimento do projecto arquitectónico de recuperação.

2. Das escavações

Fig.1 – Planta do Claustro do Refeitório com indicação das zonas de escavação arqueológica. (desenho Luís Fontes e Clara Rodrigues)

No lado Sul os cortes escavados confirmaram a localização do refeitório seiscentista, que se estendia da cozinha até à porta que actualmente liga o claustro à horta pelo lado Sul, fazendo-se o acesso por uma porta na confluência com a ala poente, onde fazendo-se identificaram os rasgos de

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assentamento de dois degraus. Um lavatório antecedia esta entrada no refeitório percebendo-se, na parede poente, um negativo do seu saque. Uma porta interior, em arco de volta perfeita, ladeada por dois armários embutidos na parede, fazia a ligação directa à cozinha, do lado Oeste, através da sala dos fogões ou ante-cozinha (remodelada em 1713 - ADB FMC, Tibães, Livros do

Depósito, 580).

Da organização do espaço interior do refeitório conservam-se parte do poderoso pavimento central em lajes de granito, dispostas em espinha, que se estendia a todo o comprimento da sala, rodeado pelos lados Norte, Este e Sul por um degrau mais elevado. Nas paredes restam algumas mísulas de granito que suportavam os assentos dos bancos, sendo as costas destas as próprias paredes, revestidas até meia altura por um lambril de azulejos policromos (colocação registada no ano de 1677 - ADB FMC, Tibães, Livros do Depósito, 568). Embutido a meio da parede Sul localiza-se o púlpito, com uma pequena janela rasgada para o exterior, ao qual se acedia por três estreitos degraus.

Uma caleira de paredes e cobertura de lajes de xisto passava a meio do refeitório no sentido Este/Oeste, sob o pavimento, drenando a humidade do subsolo (mas os problemas da humidade no refeitório mantinham-se em 1761-64, data em que os registos das obras documentam a construção de um dreno exterior junto à parede do refeitório - ADB FMC, Congregação de S. Bento, 113 Tibães, Estado de 1764, fl.15).

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No lado Norte do claustro, única zona onde ainda se conserva o pavimento original da galeria, as escavações permitiram definir o perfil topográfico do subsolo e confirmar a sobreposição da construção seiscentista a restos de construções anteriores, que foram demolidas para permitir a fundação dos alicerces das paredes do século XVII no solo natural, relevando a grande profundidade destes, que no topo nascente da ala atingem cerca de quatro metros, obrigando a um grande aterro para elevar os pavimentos ao nível do pátio do claustro.

Das construções anteriores definidas por escassos restos de alicerces, que a relação estratigráfica e o espólio associado permitem atribuir aos séculos XV e XVI, podem destacar-se as características construtivas de alvenaria grosseira e os alinhamentos aproximadamente paralelos e ortogonais aos grandes eixos do edificado tardo medieval, o que sustenta a interpretação de corresponderem a instalações de planta indefinível anexas à zona claustral, que vieram a ser eliminadas pelas reedificações posteriores.

A sedimentação correlacionada é composta por aterros de demolição e de construção, distinguindo-se ainda um piso térreo associado às obras do século XVII e, no topo, uma espessa camada negra de carvões, cinzas e materiais construtivos calcinados, correspondente ao incêndio que em 1894 destruiu parte significativa do mosteiro.

Porém, o dado mais interessante proporcionado pelas escavações nesta zona, foi o de que a parede setentrional do claustro do refeitório preexistia à construção deste, correspondendo essa parede à fachada meridional do mosteiro quinhentista. Efectivamente, no canto Nordeste, onde confluem as alas Norte e Este, percebe-se bem que as paredes desta encostam à parede Norte, o mesmo se verificando ao nível dos alicerces.

Fig. 3 – Pormenor do cunhal exterior nordeste do Claustro do Refeitório, evidenciando adossamento da construção e diferenças de aparelho. (foto Luís Fontes)

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Igualmente significativo é o facto de a parede Norte do claustro do refeitório apresentar um aparelho completamente distinto das restantes paredes do claustro. Com 0,70 metros de espessura, é de aparelho misto de alvenaria e cantaria granítica que aproveita blocos de tipologia românica, muitos deles ostentando sigla de canteiro, dispostos em fiadas horizontais não muito regulares e juntas preenchidas com argamassa e cascalho. Datável do século XVI, esta parede foi acrescentada na parte superior, no século XVIII, numa espessura ligeiramente menor, com alvenaria irregular de blocos e cascalho de xisto e granito e argamassa saibrosa.

O espólio recolhido nesta zona expressa bem a longa sequência da ocupação, identificando-se produções cerâmicas variadas, que incluem fabricos medievais e modernos da região, entre os quais domina a louça vermelha e preta, bem como fabricos dos centros produtores do Porto, Coimbra, Lisboa e Alto Alentejo.

Fig. 4 – Jarro de cerâmica vermelha “tipo Niza” (séculos XVI – XVII).

(Ref.MSMT92/CR.B=202=; MRADDS 204-94. desenho Fernando Barbosa e foto Luís Fontes)

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Na ala nascente colocaram-se a descoberto a totalidade dos compartimentos, que haviam ficado soterrados sob os escombros da demolição que sucedeu ao incêndio de 1894. As paredes foram desmontadas até pouco mais de 0,30 metros acima dos pavimentos, que aqui se conservaram por se desenvolverem a uma cota rebaixada em relação à cota do pavimento das galerias do claustro, para onde se abriam as portas, cujas soleiras também se conservaram.

Numa primeira fase, os pavimentos terão sido térreos em todos os compartimentos. Numa segunda fase, os pavimentos foram elevados, mantendo-se na metade setentrional um piso térreo e na metade meridional uma solução de pavimento em tijoleira.

Também aqui se reutilizaram materiais construtivos, designadamente uma laje com inscrição sepulcral, a servir de degrau junto à soleira da porta do compartimento central. Esta laje, do tipo das que se identificaram na zona do Coristado, terá sido colocada na sequência da remodelação do pavimento da igreja (colocado no triénio 1728-31- ADB FMC, Tibães, Livros do

Depósito, 585 e Congregação de S Bento, 112 Tibães, Estado de 1731, fls. 19v., 20r.), coincidindo com

diversas obras de beneficiação que na década de 70 do século XVIII se realizaram no claustro do refeitório (ADB FMC, Tibães, Livros do Depósito, 598 e 599 e Congregação de S. Bento, 112 Tibães, Estados de 1773 e 1776).

O achado de grandes quantidades de pregos e de tijolos de formato rectangular, rasgados em “v” num dos lados menores, para encaixe nos prumos de madeira, significa que no piso superior haveria divisórias interiores em taipa de rodízio.

Fig. 5 – Perspectiva do compartimento correspondente à nitreira seiscentista, no canto Sudoeste do claustro. (foto Luís Fontes)

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No topo meridional da ala colocou-se integralmente a descoberto a nitreira seiscentista que servia as “secretas” do canto do dormitório sobre a horta, reconstruídas em 1737-39 (ADB FMC, Tibães, Livros do Depósito, 597 e Congregação de S. Bento, 112 Tibães, Estados de 1740). Esta nitreira, de planta quadrada, desenvolve-se num plano rebaixado em relação ao jardim do claustro, apresentando-se como uma espécie de sub-cave, de construção muito cuidada, que inclui um pavimento de lajes graníticas dispostas em fiadas regulares, sobreposto por um balcão perimetral, que é interrompido, no canto Sudoeste e a meio da parede nascente, por dois pequenos vãos estruturados para circulação das águas de limpeza. Uma pequena porta, no lado nascente, garantia o acesso pelo exterior, para limpeza. Após o incêndio de 1894, esta porta foi encerrada por uma parede e a nitreira foi aterrada com entulhos da demolição do claustro.

Na zona central da ala identificou-se parte de uma canalização com orientação e pendor Oeste/Este, que fazia o vazamento das águas pluviais do jardim do claustro para o exterior, através de um vertedor que ainda se conserva visível na fachada nascente. Formada por duas paredes paralelas de alvenaria, fundo em tijoleira de secção em “U” e coberta de lajes de pedra, esta canalização foi construída em simultâneo com as paredes da ala, que atravessa, correspondendo portanto ao sistema original seiscentista de drenagem do claustro.

Sob a edificação e sedimentação do primeiro quartel do século XVII, encontraram-se restos de um alicerce em alvenaria grosseira, implantado numa vala rasgada na rocha base. Ligeiramente desalinhado em relação ao alicerce das paredes do claustro seiscentista, que em parte o sobrepôs e em parte destruiu, este alicerce correlaciona-se com outros vestígios de alicerces identificados na ala norte, que interpretamos como correspondentes a anexos da edificação monástica tardo medieval e quinhentista.

Fig. 6 – Prato de faiança com “armas” da Congregação Beneditina Portuguesa pintadas a azul (século XVIII). (Ref.MSMT92/CR.C1=071=;MRADDS 142-94. desenho Fernando Barbosa e foto Luís Fontes)

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Fig. 7 – Estátua de Santa Escolástica em terracota (século XVIII). (Ref.MSMT92CR.C2=067=;MRADDS 452-93. foto: Luís Fontes)

Entre o espólio recolhido na sedimentação associada, destacam-se um prato de faiança setecentista com o brasão da ordem beneditina portuguesa e uma estátua de Santa Escolástica em terracota, do século XVIII. Se admitirmos que esta imagem de Santa Escolástica seria a de um dos retábulos existentes na escada de aparato que ao centro da ala Norte, ligava os claustros do cemitério e do refeitório ao piso superior, poderemos datá-la do triénio da construção da escada: 1725-27 (ADB FMC, Tibães, Livros do Depósito, 584 e Congregação de S. Bento, 112 Tibães Estado de 1728).

Importa referir que, diferentemente da parede Norte, as restantes paredes do claustro, levantadas no primeiro terço do século XVII (ADB FMC, Tibães, Livros do Depósito,

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535-536-537-538), são de alvenaria mista de granito e xisto, miolo de cascalho e argamassa saibrosa e juntas largas preenchidas com argamassa. Com uma espessura de 0,60 metros, incorpora abundantes blocos de médias dimensões, regulares e com uma face afeiçoada, cuja origem será o povoado fortificado romanizado das Caldas, conforme diversos carretos registados na documentação (embora se refiram a obras de meados do século, relativas provavelmente à zona do Noviciado, não é excessivo admitir que também se tenham realizado para a obra do claustro do refeitório - AMS, Mosteiro de Tibães, Livro de Obras 1654-61). As superfícies das paredes foram revestidas com rebocos de argamassa e com painéis de azulejos, registando-se a colocação destes cerca de 1630 (ADB FMC, Tibães, Livros do Depósito, 538).

Fig. 8 – Vista parcial do Claustro do Refeitório na fase de escavação do sistema hidráulico. (foto Francisco Andrade)

No amplo terreiro correspondente ao jardim do claustro escavaram-se cerca de 30 quadrados de 2x2 metros, com uma distribuição orientada para a descoberta do embasamento do desaparecido chafariz central e de troços diferenciados das canalizações de abdução e drenagem de águas, bem como para a identificação de vestígios dos canteiros que ornamentavam os quadrantes do jardim do claustro.

Na zona central colocou-se a descoberto a totalidade do embasamento do chafariz, confirmando-se a sua planta quadrangular. Trata-se de um sólido alicerce em alvenaria de blocos de xisto e de granito e argamassa de cal, sobre o qual assentavam os degraus e as lajes do fundo do chafariz. Ao centro conserva-se a caixa granítica de entrada de água, com perfuração vertical circular, evidenciando-se na face superior a fractura do encaixe do pé do chafariz.

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Originalmente a água era aduzida por cano de manilhas tubulares de cerâmica (alcatruzes), que atravessava o maciço do embasamento, entrando pela base da caixa granítica central. Esta canalização veio a ser substituída, no século XVIII, por cano de chumbo, que sobrepôs o maciço entrando na base do pé do chafariz. Uma e outro entravam no chafariz pelo lado Sul.

Próximo do limite meridional do maciço conserva-se uma caixa granítica de saída de água, com perfuração vertical, no topo da qual se observam ainda restos de uma manilha cerâmica tubular. Por aqui se faria o vazamento total do tanque do chafariz, através de tubagem também de manilhas tubulares de cerâmica, que segue para Sul paralelamente à tubagem de abdução.

Nas restantes quadrículas dispersas pelo pátio do claustro colocaram-se a descoberto vários troços de canalizações, de diferentes épocas e de tipologias e funções distintas. Ainda que provisoriamente, podem individualizar-se os seguintes tipos de canalizações:

I – Canalização de abdução e vazamento de água ao chafariz central, em tubagem cerâmica, formada por manilhas tubulares de secção circular (alcatruzes), com uniões macho-fêmea seladas por argamassa fina de cal. Uma apresenta reforço em anel granítico toscamente afeiçoado e com perfuração central circular, selando-se as juntas com argamassa fina de cal. Outra não apresenta anel granítico. Correm as duas a par, entre paredes laterais de contenção formadas por uma única fiada em alvenaria grosseira, envoltas em camada de argamassa de cal e protegidas com fragmentos de telha de meia-cana. Não se identificaram caixas de derivação e/ou de verificação. Datável do primeiro quartel do século XVII.

II – Canalização de abdução (?) de água ao chafariz central, em tubagem cerâmica, formada por manilhas tubulares de secção circular, com uniões macho-fêmea seladas com argamassa fina de cal. Recoberta por saibro xistento, corre em galeria formada por duas paredes paralelas em alvenaria, que suportam uma cobertura de espessas lajes de granito. Não se identificaram caixas de ligação e/ou de verificação. Datável do século XVII. III – Canalização de drenagem, em caleira pétrea formada por elementos de xisto de secção em “U”, com juntas seladas por argamassa argilosa. É delimitada por duas paredes paralelas de alvenaria e coberta por lajes poligonais de xisto. Não se identificaram caixas de ligação e/ou de verificação. Datável do século XVII.

IV – Canalização de abdução de água aos chafarizes centrais dos claustros do refeitório e do cemitério, em tubagem de chumbo, pontualmente assente em elementos pétreos e com caixas graníticas de ligação/verificação. Segue dentro de galeria formada por duas

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paredes paralelas de alvenaria. Datada de 1780-82 (ADB FMC, Tibães, Livros do Depósito, 601; Congregação de S. Bento, 112 Tibães, Estado de 1783, fl. 10v.).

V – Canalização de vazamento do chafariz central, em tubagem cerâmica, formada por manilhas tubulares de secção circular, com uniões macho-fêmea seladas com argamassa fina de cal. Segue dentro de galeria formada por duas paredes paralelas de alvenaria grosseira e é recoberta com argamassa e fragmentos de telhas de meia-cana. Não se identificaram caixas de derivação e/ou de verificação. Datável de 1780-82, por associação com a canalização de chumbo.

VI – Canalização de vazamento do lavatório que antecede a entrada no refeitório, em tubagem cerâmica, formada por manilhas tubulares de secção circular, com uniões macho-fêmea seladas com argamassa fina de cal. Tem caixas graníticas de ligação/derivação. Segue dentro de galeria formada por duas paredes paralelas de alvenaria irregular, que recebem as lajes poligonais da cobertura. Datável do primeiro quartel do século XVII.

Fig. 9 – Plano Final do quadrado M10, evidenciando diferentes tipos de canalizações. (foto Francisco Andrade)

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3. Do inventário

Os trabalhos de inventário, classificação, registo gráfico e fotográfico e acondicionamento dos elementos arquitectónicos e epigráficos do Mosteiro de São Martinho de Tibães também foram feitos pela equipa de arqueologia e tiveram por objectivos: a) proceder ao resgate e arrumação de todos os elementos arquitectónicos e epigráficos avulso, que se dispersavam por várias dependências do edifício; b) elaborar uma base de dados que registasse as características de cada uma das peças, de acordo com um conjunto de descritores de identificação, de referenciação locativa e de classificação tipológica e crono-cultural.

Todos os elementos foram limpos e fotografados, identificando-se cada peça individualmente com um número, atribuído de forma sequencial de 1 a “n”, em cada um dos conjuntos arquitectónico e epigráfico, distinguidos pelas letras A e E. Assim, cada peça foi identificada com uma chapa de alumínio aparafusada numa das faces menos expostas, onde se indicou, para além do acrónimo do sítio (MSMT – Mosteiro São Martinho Tibães) a letra do respectivo conjunto e o número atribuído (A 0013 ou E 058).

Procedeu-se depois ao preenchimento da respectiva ficha de caracterização, sendo que se formatou uma ficha para o inventário dos elementos arquitectónicos e outra para o inventário das epígrafes e letreiros.

Os registos gráficos dos elementos arquitectónicos seleccionados foram feitos sobre papel milimétrico, às escalas 1/10 e 1/5, sendo a última mais utilizada para os elementos com decoração. As epígrafes foram todas objecto de decalque directo sobre plástico cristal.

Procedeu-se ainda ao acondicionamento em paletes PVC de todos os elementos arquitectónicos e epígrafes que se encontravam deslocados. Cada palete também foi numerada e identificada com uma chapa de alumínio onde constava a respectiva numeração (1/55 paletes).

Toda a informação recolhida foi ordenada em suporte informático, através da criação de uma BD / Base de Dados (aplicação Microsoft Access 2000), que permite gerir com rapidez e eficácia uma pesquisa ordenada da informação. Através da BD pode-se aceder a cada elemento sobre a forma de um formulário, onde é possível observar as características de cada um, bem como as fotografias e desenhos.

Os elementos arquitectónicos que se considerou possuírem valor de modelo e valor museológico, ficaram armazenados na zona técnica. Os restantes foram acondicionados em paletes PVC e colocados num local da cerca próximo do caminho de saída para o portão dos Anjos.

Do total de 930 elementos arquitectónicos contabilizados no inventário, 766 peças são provenientes do Claustro do Refeitório. Destas, 362 correspondem a lajes graníticas de pavimento, de formato geral quadrangular e/ou rectangular. Conforme se ilustra na tabela a

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seguir, os restantes 402 elementos arquitectónicos correspondiam a um conjunto diversificado de tipos, dominando claramente as cornijas, depois os entablamentos e aduelas e em terceiro lugar as ombreiras e lintéis. Estes e praticamente todos os outros elementos revelam grande uniformidade técnico-estilística, devendo estar em relação directa com o local de proveniência, pois trata-se de peças que integravam as estruturas construtivas do claustro do refeitório, desde o remate superior das paredes até às pavimentações e da guarnição de vãos de portas e janelas até às arcarias.

Deve notar-se ainda o elevado número de elementos de canalização, reveladores do profundo revolvimento a que o subsolo foi sujeito, em relação com o abandono do edifício e consequentes saques de pedra e de canalizações de chumbo.

Fig.10 – Planta geral dos vestígios arqueológicos identificados no Claustro do Refeitório. (desenho de Luís Fontes e Clara Rodrigues)

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Fig.11 – Restituição da planta seiscentista do piso térreo do Claustro do Refeitório (desenho de Luís Fontes e Clara Rodrigues)

4. Considerações finais

Os trabalhos arqueológicos permitiram esclarecer a planimetria original do claustro do refeitório, evidenciando a compartimentação das alas nascente e sul, destacando-se nesta o refeitório, que conserva cerca de um terço da pavimentação lajeada.

Recomendou-se que a organização espacial destas duas alas fosse mantida, através da conservação dos pavimentos existentes e com restauro parcial do alinhamento das paredes interiores (apenas para definir as paredes nos pequenos troços onde estas desapareceram).

No refeitório, recomendamos ainda a desmontagem do alicerce contemporâneo que o rasgou transversalmente no topo poente, pois trata-se um elemento espúrio, construído já no século XX por iniciativa dos proprietários particulares, que desqualifica o conjunto

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arquitectónico e que impede a leitura integral e harmónica do espaço do refeitório, em especial na sua zona de ligação com a ante-cozinha.

Porque constitui um elemento fundamental para a compreensão da circulação original, recomendou-se também a recolocação dos dois degraus de acesso do claustro ao refeitório, pois conservam-se os negativos.

Na banda Nordeste do claustro, sob os alicerces seiscentistas, identificaram-se vestígios associáveis à edificação tardo medieval. Apesar de, do ponto de vista científico, serem importantes, no sentido em que permitem caracterizar edificações anteriores, estas ruínas são vulgares, não possuindo qualquer monumentalidade ou riqueza arquitectónica. Considerou-se, por isso, que não justificavam ficar visíveis nem qualquer acção de valorização.

No terreiro central, os dados proporcionados pelo conjunto das sondagens efectuadas no sistema hidráulico revelaram uma complexa sobreposição de canalizações de abdução e vazamento de águas, correspondentes às diversas redes que funcionaram entre o primeiro quartel do século XVII e os finais do século XIX.

O relativo bom estado de conservação das redes hidráulicas detectadas e as suas diversidades tipológica e qualidade construtiva, justificam a ponderação da eventual conservação e valorização de um troço seleccionado, no quadro do projecto arquitectónico de recuperação em curso.

Fontes e Bibliografia A. Fontes Manuscritas

(ADB FMC)

ARQUIVO DISTRITAL DE BRAGA, Fundo Monástico Conventual - Congregação de S. Bento de Portugal, Estados dos Mosteiros, 112. Tibães, 1632-1780 (faltam vários anos).

ARQUIVO DISTRITAL DE BRAGA, Fundo Monástico Conventual - Congregação de S. Bento de Portugal, Estados dos Mosteiros, 113. Tibães, 1783-182.

ARQUIVO DISTRITAL DE BRAGA, Fundo Monástico Conventual - Tibães S. Martinho, Livros do Depósito, 535, 536, 537, 538, 568, 569, 570, 577, 580, 584, 585, 586, 587, 593, 597, 598, 599, 601.

(AMS)

ARQUIVO MOSTEIRO DE SINGEVERGA, Mosteiro de Tibães, Livro de Obras (1654-1661).

B. Fontes Impressas

ARAÚJO e SILVA (1985), António de Sousa e Armando B. Malheiro – Inventário do Fundo

Monástico Conventual, Arquivo Distrital / Universidade do Minho, Braga.

C. Bibliografia

FONTES, Luís Fernando de Oliveira – São Martinho de Tibães. Um sítio onde se fez um Mosteiro. Ensaio em Arqueologia da Paisagem e da Arquitectura. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico, 2005.

Referências

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