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ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL

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Academic year: 2021

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ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL

PROFESSOR: DANIEL VIEGAS RIBAS FILHO

2013_02

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ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL EM CONTABILIDADE

SUMÁRIO

1. OBJETO E OBJETIVO DA ÉTICA ... 3

2. CONCEITO DE ÉTICA ... 11

3. O CAMPO DA ÉTICA ... 16

4. FONTES DAS REGRAS ÉTICAS ... 24

5. COMPORTAMENTO ÉTICO ... 26

6. CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL ... 37

7. O PROFISSIONAL E O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO ... 39

8. ÉTICA E QUALIDADE ... 47

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Ética é a disciplina que dispõe sobre o comportamento humano adequado e os meios de implementá-lo, levando-se em consideração os

entendimentos presentes na sociedade.

1. OBJETO E OBJETIVO DA ÉTICA

A convivência em sociedade conduz as pessoas a travarem entre si grande número de relacionamentos. Esse quadro tem por base a necessidade de se atingirem determinados objetivos, os quais podem ser de natureza individual ou coletiva.

Tais relacionamentos são influenciados por aspectos ligados ao comportamento humano que, por sua vez, recebe influencia das crenças e valores que cada pessoa carrega. É neste contexto que podem surgir conflitos entre as pessoas envolvidas nestes relacionamentos sociais, visto que é comum a busca de objetivos antagônicos.

Um exemplo é uma pessoa que adentra uma loja a procura de um aparelho eletrodoméstico e certamente na mesma encontrara alguém com o objetivo de vender eletrodomésticos. Para que ambos objetivos concretizem-se é essencial um relacionamento entre as partes.

No exemplo temos pessoas com objetivos opostos e surgirão questões relacionadas ao produto tais como: marca, preço, condições de pagamento e entrega. Na discussão para resolução de tais questões cada lado assumira uma posição e um comportamento próprio dentro daquilo que acredita ser certo e justo para a situação; assim os objetivos individuais só serão atingidos caso as pessoas cheguem a um ponto de um entendimento comum.

Esta situação é comum em nossa sociedade e requer decisões simples, já outras questões de caráter coletivo requerem discussões mais complexas. O principal desafio destas questões é encontrar um “ponto de entendimento”,

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eliminando ou atenuando o conflito de interesses que envolve as pessoas em cada situação.

Para que haja uma convivência pacifica no âmbito de cada sociedade faz-se necessário que cada pessoa, dentro das fronteiras delimitadas por suas crenças e valores, assuma comportamentos tais que respeitem seus semelhantes naquilo que é de seu direito.

O Homem em Sociedade

Desde seu nascimento e em toda sua existência o homem vive em sociedade. O termo sociedade pode ser definido de várias maneiras, sempre em função do contexto no qual ele encontra-se inserido. Tome-se a seguinte definição:

“integração verificada entre duas ou mais pessoas, que somam esforços para que determinados esforços sejam alcançados.”

A integração entre pessoas só se torna possível a partir do momento em que exista um relacionamento estabelecido entre as mesmas, ou seja, viver em sociedade significa a manutenção de relacionamentos entre os membros que a compõem.

Muitos e de diversas naturezas são os relacionamentos estabelecidos no cotidiano do ser humano. Partindo do relacionamento primário que envolve pais e filhos, é possível enumerar diversos outros que podem ocorrer na escola, no trabalho, no lazer, na religião.

Cada um destes relacionamentos tem uma razão particular para existir e, naturalmente, busca objetivos específicos. Podemos então olhar cada um deles como uma sociedade particular.

A quantidade de relacionamentos existentes entre os membros de determinada sociedade torna complexa a vida em comum. Em principio essa complexidade reside no fato de uma mesma pessoa fazer parte de várias sociedades que

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É de se notar que a participação de cada pessoa em determinada sociedade tanto pode acontecer por escolha própria (torcer por um time) como pode advir de um fato relacionado à natureza (constituição de família), ou ainda por uma imposição normalmente de caráter legal (forças armadas).

Deve ser lembrado ainda que o fato de cada tipo de sociedade ter um motivo especifico para existir e objetivos próprios para perseguir não significa que as sociedades existam independentemente umas das outras. Na verdade existe um inter-relacionamento direto e constante entre diversos tipos de sociedades, ou seja, os objetivos de cada uma delas para serem atingidos depende do relacionamento que a sociedade mantém com as demais.

Todos os tipos de sociedades podem ser vistos como uma sociedade mais ampla, limitada por fronteiras geográficas tais como vilas, bairros, cidades, estados e países. Sociedades deste tipo têm seus próprios objetivos, entre os quais se destacam a conservação dos costumes e bem estar de seus habitantes, dentre outros.

Todas estas sociedades estão relacionadas entre si de alguma forma, inclusive no que diz respeito aos países. Com base nesta visão ampliada todos os homens formam uma única sociedade, a sociedade dos habitantes terrestres, sendo as demais sociedades derivadas desta.

Independente de sua vontade cada homem esta obrigado a conviver com os demais e esta convivência transcende fronteiras entre as pessoas, isto porque, para atender seus anseios ao longo de sua vida, cada pessoa em particular e a sociedade na qual ela convive esta obrigada a manter relacionamentos com as demais.

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Ética e Valores

Ao nascer cada pessoa tem seu “berço” que lhe serve como primeira referência na vida e sobre a vida e é representado pelo conjunto de referências que o cercam, entre as quais estão: família, raça, religião, país.

Parte destas condições iniciais pode ser alterada ao longo da existência enquanto outra parte lhes acompanhara ao longo de toda vida. É importante lembrar que estas condições estarão influenciando as pessoas em todo momento.

Adicionalmente às condições que a cercam, cada pessoa recebe desde cedo um conjunto de informações a respeito da vida, informações estas que tratam de assuntos a respeito da sociedade e que abrangem questões ligadas à justiça social entre os homens.

Nos primeiros anos a pessoa não possui discernimento suficiente para entender de forma completa as informações que lhe são passadas, e por isso ela simplesmente aceita aquela informações. Com o passar do tempo esta situação de passividade diminui à mediada que as pessoas recebem tais informações elas apreendem a analisá-las e aceita-las ou não.

Como é de se esperar, o comportamento das pessoas é fortemente influenciado pelas condições que cada uma tem a seu redor, da mesma forma que pelas condições adicionais que recebe pela vida afora.

Afirmar que cada pessoa tem sua visão própria da vida significa dizer que elas atribuem valores diferentes para fatos; significa que cada um tem sua própria reação e seu próprio comportamento diante de um mesmo fato.

O fato de pessoas distintas apresentarem comportamentos distintos diante de situações iguais, nem sempre implica que exista uma parte “certa” e outra “errada”. Significa tão somente que cada parte tem sua visão da própria vida

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Vale destacar que o comportamento das pessoas não é estável, em face das modificações sofridas nas condições que acompanham cada pessoa durante a vida. Não é imutável também em virtude da capacidade que cada uma tem de analisar e entender as informações que lhes são passadas, caso em que pode modificar seus valores e transformar seu comportamento.

Uma visão clara da diferença entre valores das pessoas, e em conseqüência dos comportamentos, pode ser vista naquilo que diz respeito ao atendimento de suas necessidades no dia-a-dia.

É próprio do ser humano buscar satisfazer a uma série de necessidades como alimentar-se, vestir-se, abrigar-se. Essas necessidades têm seu atendimento diretamente atrelado às condições que os cercam em cada fase da vida.

Na escala de valores de uma família de baixa renda, o valor atribuído às necessidades básicas certamente encontra-se em patamar superior ao do valor atribuído às necessidades menos imediatas, como lazer. Esse quadro é diferente quando a escala de valores é de uma família de alta renda, cujas necessidades básicas já estão supridas.

Como é natural, quanto maior o distanciamento verificado entre as condições de vida das pessoas certamente maior será a diferença no que se refere ao conjunto de informações a respeito da vida recebido de forma individual, da mesma forma que diferente serão as necessidades a que cada uma busca atender de maneira mais imediata, ou seja, maior será o distanciamento de seus valores.

Um exemplo é que determinadas sociedades veneram alguns tipos de animais como se deuses fossem. Para esse tipo de sociedade é inconcebível o sacrifício destes animais, fato este que não tem nenhum significado em outras sociedades. Para o primeiro tipo de sociedade o valor atribuído ao animal é superior ao valor atribuído pelo segundo tipo de sociedade, que enxerga aquele

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animal tão somente como um simples animal e às vezes como fonte alternativa de alimento.

As diferenças verificadas entre as pessoas provocam o aparecimento de conflitos no meio da sociedade, uma vez que colocam frente a frente pessoas que buscam atingir vários objetivos e que enxergam a vida através de seus valores.

Ética e Formas de Conduta

O fato das pessoas fazerem parte de uma mesma sociedade não implica que elas sejam iguais, isto é, que pensem da mesma forma, que acreditem nas mesmas coisas e que individualmente busquem o mesmo objetivo, que desejem atender as mesmas necessidades. Cada pessoa carrega seus próprios valores e suas próprias crenças. É natural, adicionalmente a constatação de que cada sociedade tem seus interesses próprios, cada pessoa tem seus interesses particulares.

A perseguição de objetivos diferentes por parte de pessoas que se comportam de maneira desigual, isto é, a busca de interesses distintos, intra e inter-sociedades, conduz ao surgimento de conflitos de interesses, algumas vezes entre indivíduos, outras entre indivíduos e a sociedade, o que significa que em determinados momentos as pessoas precisam decidir qual interesse atender em primeiro plano, qual comportamento adotar diante de determinadas situações ou, de outro modo, decidir o que é justo, o que é certo, o que é errado, o que é bom, o que é ruim.

Tais conflitos de interesses em várias situações, em face do comportamento adotado pelas pessoas, individualmente ou pelas sociedades como um todo, podem trazer como conseqüências prejuízos capazes de atingir tanto quem assumiu o comportamento em defesa de seus interesses, como quem teve seu interesse contrariado.

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O cotidiano nos apresenta muitas situações nas quais, em virtude das decisões tomadas, dos comportamentos assumidos e dos interesses contrariados prejuízos individuais ou coletivos são causados, exemplos:

 Carro que avança um sinal vermelho;  Funcionário que aceita um suborno;  Marginal que realiza um assalto;

 Briga entre torcidas de times adversários;

 Proibição de pessoas de determinada raça de freqüentar um local;  Guerra entre dois povos.

Ainda que o ser humano seja obrigado a viver em sociedade, tal convivência nem sempre é pacifica, sendo tão mais difícil quanto maiores forem os conflitos de interesses nela existentes. Vale lembrar que quanto maior for a distancia existente entre as condições de vida de cada segmento da sociedade, mais complexa se torna a solução para tais conflitos.

A questão que se coloca é: o que é direito quando o interesse de determinada pessoa contraria o de outra, isto é, o que é certo ou errado?

Todos esses problemas tão presentes em qualquer sociedade, e relacionados com o comportamento das pessoas, podem ser apontados genericamente como problemas ligados à Ética.

Sociedade e Ética

Entender os conflitos existentes entre as pessoas, buscando suas razões, como resultado direto de suas crenças e valores, e com base nisto estabelecer tipos de comportamentos que permitam a convivência em sociedade, é o objetivo de estudo da Ética.

Da mesma forma que para o homem se torna necessária à convivência em sociedade para alcançar seus objetivos particulares, para cada sociedade é

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imprescindível à presença da Ética, sem a qual fica difícil sua própria sobrevivência.

De modo que, é de se esperar que a Ética esteja na base de toda e qualquer norma que dite comportamentos a serem seguidos. Tal regra torna-se tão significativa quanto maior for o numero de participantes de uma determinada sociedade.

A Ética tem por objeto o comportamento humano no interior de cada sociedade. O estudo deste comportamento com o fim de estabelecer os níveis aceitáveis que garantam a convivência pacifica dentro das sociedades e entre elas constitui o objetivo da Ética.

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2. CONCEITO DE ÉTICA

De forma simplificada pode se definir o termo Ética como um ramo da filosofia que lida com o que é moralmente bom ou mau, certo ou errado. Pode se dizer que Ética e “Filosofia da Moral” são sinônimos.

Esta definição apesar de parecer simples, na realidade trata-se de um conceito complexo, pois engloba juízos de valor não tão fáceis de ser aplicados.

O uso popular do termo Ética tem diferentes significados, um deles é que Ética diz respeito aos princípios de conduta que norteiam um individuo ou um grupo de indivíduos.

Os filósofos se referem à Ética para denotar o estudo teórico dos padrões de julgamento morais inerentes às decisões de cunho moral, tal como os físicos usam o termo física para aludir a investigação entre os campos de força e os meios materiais.

Entretanto a reflexão ética não pode pretender converter os agentes sociais em indivíduos éticos, mas pode instrumentaliza-los para que decidam consequentemente, de acordo com o que a coletividade espera deles.

A Ética representa uma tomada de posição ideológico-filosofica que remete aos interesses sociais envolvidos. Assim dependendo da posição dos agentes, pode se ter mais de uma posição ética segundo a ótica de cada um.

Um caso a ser mencionado é o da bomba atômica, do ponto de vista dos EUA, das tropas combatentes e dos fabricantes, a produção e lançamento desta bomba sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki constituíam uma atitude ética. É claro que tal posição não era compartilhada pelos japoneses nem pelas entidades oposicionistas da sociedade civil norte-americana. O que era ético para alguns agentes coletivos não era para tantos outros.

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A Ética

A palavra Ética tem como base etimológica a palavra grega ethos.

Ethos significa domicílio, moradia humana: maneira de ser habitual, o caráter ou disposição interna da vontade.

A ética, como morada humana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser humano está sempre tornando habitável a casa que construiu para si.

Contando uma história: “O Carpinteiro”

Um velho carpinteiro, que construía casas, estava pronto para se aposentar. Ele informou ao chefe seu desejo de sair da indústria da construção e passar mais tempo com sua família, ele ainda comentou que sentiria falta do salário, mas estava mesmo decidido a se aposentar.

A empresa não seria muito afetada pela saída do carpinteiro, no entanto, o chefe estava triste em ver um bom funcionário partindo. De qualquer modo, pediu ao carpinteiro para que trabalhasse em mais um projeto, como um favor pessoal.

O carpinteiro não gostou do pedido, mas acabou concordando, porém, foi fácil ver que ele não estava entusiasmado com a idéia, pois ele prosseguiu fazendo um trabalho de segunda qualidade e usando materiais inadequados. Foi uma maneira negativa de este terminar sua carreira.

Quando o carpinteiro concluiu o projeto, seu chefe veio fazer a inspeção da casa construída e, depois lhe deu as chaves e disse: “Essa é sua casa, ela é meu presente para você”.

O carpinteiro ficou muito surpreso. Que pena! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa ele teria feito tudo diferente.

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Pense nisso: “A vida é um projeto que você mesmo constrói”. Suas atitudes e escolhas de hoje estão construindo a “casa” que você vai morar amanhã.

A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é um elemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui um senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas.

Existem sempre comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e errado, do bem e do mal. Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações sempre têm relação com as matrizes culturais que prevalecem em determinadas sociedades e contextos históricos.

A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundamentada nas idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz.

O estudo da ética talvez tenha se iniciado com filósofos gregos há 25 séculos atrás. Hoje em dia, seu campo de atuação ultrapassa os limites da filosofia e inúmeros outros pesquisadores do conhecimento dedicam-se ao seu estudo. Sociólogos, psicólogos, biólogos e muitos outros profissionais desenvolvem trabalhos no campo da ética.

Ao iniciar um trabalho que envolve a ética como objeto de estudo, consideramos importante, como ponto de partida, estudar o conceito de ética, estabelecendo seu campo de aplicação e fazendo uma pequena abordagem das doutrinas éticas que consideramos mais importantes para o nosso trabalho.

Relação com a Filosofia

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A palavra filosofia é de origem grega, sendo ela composta por duas outras palavras: Philo e Sophia.

Philo: deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre iguais.

Shofia: quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio.

Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber, bem como o filósofo é aquele que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.

Atribui-se ao Filósofo grego Pitágoras que viveu no século V a.C a “invenção” da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens, seres imperfeitos, limitados podem desejá-la, ou amá-la tornando-se o filósofo.

A Filosofia até hoje guarda o sentido de busca do saber por inteiro, busca da “inteireza” do saber que se revela a reflexão filosófica. Em outras palavras, filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos.

Quando estamos filosofando?

Quando tomamos a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem havê-los investigados e compreendidos.

Filosofar é dar sentido à experiência

“Não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é próprio do homem como tal”. Isso significa que as questões filosóficas fazem parte do cotidiano de todos nós.

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A Filosofia surge no momento em que o pensar é posto em causa, tornando-se objeto de reflexão.

Refletir (reflectare em latim) significa “fazer retroceder”, “voltar atrás”. Portanto, refletir é retomar o próprio pensamento, pensar o já “pensado”, voltar para si mesmo e colocar em questão o que já é e conhece.

Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e expressamos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.

A atitude filosófica inicia-se indagando: O que é? Como é? Por que é?

Dirigindo ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação e a origem de todas as coisas.

Já a reflexão filosófica indaga: Por quê? O quê? Para quê?

Dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humana para conhecer e agir.

Onde está a necessidade da Filosofia?

A necessidade da Filosofia está no fato de que, por meio da reflexão, a Filosofia permite ao homem ter mais de uma dimensão, além da que é dada pelo agir imediato no qual o “homem prático” se encontra mergulhado.

Portanto, a Filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade de que só o homem tem de superar a situação dada e não escolhida. Pela transcendência, o homem surge como ser de um projeto, capaz de liberdade e de construir o seu destino.

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3. O CAMPO DA ÉTICA

Os dilemas morais surgem como conseqüência do comportamento dos indivíduos. Estão, assim, diretamente relacionados com o cotidiano de cada sociedade, o que nos permite afirmar que um mesmo comportamento pode ser visto por uma sociedade como desprovido de moral, enquanto em outra sociedade pode ser considerado como moralmente aceito.

Se, por exemplo, no meio de nossa sociedade, uma pessoa resolve sair à rua sem roupa, certamente terá seu comportamento condenado e reprimido. Todavia em uma tribo indígena localizada no meio da floresta amazônica o ato seria visto com naturalidade.

Da mesma forma que entre sociedades distintas, no seio de uma mesma sociedade, é comum pessoas diferentes enxergarem determinado fato através de óticas diferenciadas, muitas vezes conflitantes.

Exemplificando, é normal em nossa sociedade a condenação do ato de roubar; não obstante isso, um chefe de família pode acreditar que possa fazê-lo em virtude das privações por que passa sua família, e justificar-se sobre este pretexto.

A existência de um dilema moral implica que a ação de determinado individuo, ou mesmo a ação de um grupo de indivíduos, contrariou aquilo que genericamente a maioria da sociedade acredita ser o comportamento adequado para aquela situação.

Deve ser lembrado que a definição de um comportamento moral adequado para uma situação qualquer nem sempre é pacífica. Tome-se, por exemplo, a clássica história de Robin Hood. Caso alguém queira analisá-la apenas por suas ações como saqueador, certamente enxergara ali um comportamento que apresenta ausência de ética.

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Por outro lado, se o mesmo comportamento for analisado em função do motivo que o conduziu àquelas ações, o sofrimento do povo em conseqüência da tirania do soberano, é possível que aquele comportamento seja visto como ético.

Da mesma forma que este exemplo, muitas situações apresentadas no cotidiano ensejam uma discussão sobre ética. O caso do chefe de família que se obriga a roubar para assegurar o sustento de sua família, já mencionado, é um exemplo típico desta situação.

Função da Ética

A história da humanidade nada mais é do que o retrato da ação das pessoas através do tempo. Essa história teve, e certamente ainda terá, seu rumo alterado, seja de maneira brusca, seja paulatinamente através dos tempos.

Pode-se afirmar que as pessoas mudam de comportamento ao longo de suas vidas. Essas alterações são resultado de vários fatores, dentre eles, uma nova descoberta tecnológica, uma epidemia de largas proporções, ou a ascensão ao poder de uma nova vertente de pensamento.

É de se entender que quando ocorrem mudanças no rumo da humanidade ou mesmo de uma sociedade composta por um agrupamento menor de pessoas, como habitantes de um país, tais alterações ocorrem em nível das pessoas. Desse modo as mudanças no âmbito de uma sociedade só acontecem caso a maior parte das pessoas que a compõem assumam novos hábitos de vida.

No plano individual, uma pessoa pode alterar seu comportamento, refletindo essa mudança em suas ações, independentemente de qualquer mudança ocorrida nas demais pessoas da sociedade.

A capacidade de imprimir alterações no curso da própria vida esta relacionada com a capacidade de raciocinar, a qual permite ao ser humano escolher, com

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base em sua própria experiência de vida, qual o caminho a seguir e em qual momento a rota deve ser alterada.

As modificações no modo de agir representam tão somente um aspecto pratico no cotidiano das pessoas. Como é de se esperar, elas não ocorrem sem razões que as sustentem, que representam um aspecto conceitual, relacionado com a justificação de crenças e valores que cada pessoa tem da vida. Deve ser lembrado, ainda, que o ser humano ao mesmo tempo em que se mostra racional, a ponto de refletir sobre a sua vida, mudando o rumo até então dado à mesma, ele carrega uma carga muito grande de sentimentos, que podem conduzi-lo a irracionalidade.

Ambos os fatores, racionalidade e sentimento, provocam alterações nas crenças e, por conseguinte, nos valores que cada pessoa traz consigo. O passo seguinte, portanto, é representado pela mudança das ações, refletindo um novo comportamento, que pode apresentar um caráter temporário ou definitivo.

Quando por exemplo um país se envolve em uma guerra, os habitantes desse país estão assumindo um comportamento que normalmente condenam em tempo de paz, qual seja, matar seus semelhantes.

O envolvimento de um país em uma guerra pode ocorrer em virtude de varias razões, tais como defesa própria, agressão fundamentada em um motivo qualquer, defesa de terceiros. Quaisquer que sejam os motivos que levam um país a guerra, é certo que caberá sempre uma discussão a respeito da validade dos valores que sustentam esses motivos e da moral ou falta dela nas ações assumidas pelos que participam dos conflitos.

Essa discussão ganha maior relevância à medida que possa influir no sentido de evitar que ocorram novos conflitos da mesma natureza, com todas as atrocidades e prejuízos que eles acarretam.

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A historia contemporânea nos traz o exemplo de alguns presidentes de nações democráticas que em virtude do comportamento antiético no exercício do poder foram obrigados a renunciar, antecipando assim o final de seu mandato. Entre eles figuram o ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, devido ao caso “Watergate”, e o ex-presidente do Brasil Fernando Collor de Mello.

Este fato torna-se ainda mais relevante se levado em consideração pelos eleitores em pleitos futuros. A sociedade brasileira, com a renuncia de Fernando Collor de Mello, passou a dedicar atenção maior a respeito do comportamento dos políticos, suas relações dentro do poder e fora dele.

Da mesma forma que nos exemplos citados, que envolvem nações inteiras, problemas de comportamento menos relevantes são encontrados no cotidiano por qualquer pessoa. Assim é comum ouvirmos falar em pessoas que dirigem embriagadas, empresas que lesam seus clientes, policiais envolvidos com bandidos.

Quando nos referimos aos problemas de comportamento humano estamos adentrando o campo da ética e discutindo problemas éticos.

Neste contexto a Ética tem como função essencial a tarefa de investigar a realidade dentro da qual cada momento da história foi vivido e explicar os valores que conduziram a determinado tipo de comportamento.

Ainda que não se possa esperar da ética uma correção dos atos praticados no passado, não se pode desprezar suas contribuições no sentido de, a partir do entendimento do passado, evitar a aceitação de comportamentos não éticos no futuro.

Os problemas relacionados com o comportamento do ser humano encontram-se inencontram-seridos no campo de preocupações da Ética. Ainda que não torne os indivíduos “moralmente perfeitos” a Ética tem por função investigar e explicar o comportamento das pessoas ao longo das várias fases da história.

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Essa função apresenta-se como de grande relevância, tanto no sentido de se entender o passado, quanto de servir como parâmetro para a fixação de comportamentos padrões, aceitos pela maioria visando diminuir o nível de conflitos de interesses dentro da sociedade.

Problemas Morais e Problemas Éticos

A ética não é algo superposto à conduta humana, pois todas as nossas atividades envolvem uma carga moral. Idéias sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido definem a nossa realidade.

Em nossas relações cotidianas estamos sempre diante de problemas do tipo:

 Devo sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que posso mentir?

 Será que é correto tomar tal atitude?

 Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida?

 Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal de trânsito vermelho?

 Os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens?

Essas perguntas nos colocam diante de problemas práticos, que aparecem nas relações reais, efetivas entre indivíduos. São problemas cujas soluções, via de regra, não envolvem apenas a pessoa que os propõe, mas também a outras pessoas que poderão sofrer as conseqüências das decisões e ações, conseqüências que poderão muitas vezes afetar uma comunidade inteira.

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O homem é um ser no mundo que só realiza sua existência no encontro com outros homens, sendo que, todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas.

Nesta convivência, nesta coexistência, naturalmente têm que existir regras que coordenem e harmonizem esta relação. Estas regras, dentro de um grupo qualquer, indicam os limites em relação aos quais podemos medir as nossas possibilidades e as limitações a que devemos nos submeter. São os códigos culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo nos protegem.

Diante dos dilemas da vida, temos a tendência de conduzir nossas ações de forma quase que instintiva, automática, fazendo uso de alguma "fórmula" ou "receita" presente em nosso meio social, de normas que julgamos mais adequadas de serem cumpridas, por terem sido aceitas intimamente e reconhecidas como válidas e obrigatórias.

Fazemos uso de normas, praticamos determinados atos e, muitas vezes, nos servimos de determinados argumentos para tomar decisões, justificar nossas ações e nos sentirmos dentro da normalidade.

As normas de que estamos falando têm relação como o que chamamos de valores morais. São os meios pelos quais os valores morais de um grupo social são manifestos e acabam adquirindo um caráter normativo e obrigatório.

A palavra moral tem sua origem no latim "mos"/"mores", que significa "costumes", no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. Notar que a expressão "bons costumes" é usada como sendo sinônimo de moral ou moralidade.

A moral pode então ser entendida como o conjunto das práticas cristalizadas pelos costumes e convenções histórico-sociais. Cada sociedade tem sido caracterizada por seus conjuntos de normas, valores e regras. São as prescrições e proibições do tipo "não matarás", "não roubarás", de cumprimento obrigatório. Muitas vezes essas práticas são até mesmo

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incompatíveis com os avanços e conhecimentos das ciências naturais e sociais.

A moral tem um forte caráter social, estando apoiada na tríade cultura, história e natureza humana. É algo adquirido como herança e preservado pela comunidade.

Quando os valores e costumes estabelecidos numa determinada sociedade são bem aceitos, não há muita necessidade de reflexão sobre eles. Mas, quando surgem questionamentos sobre a validade de certos costumes ou valores consolidados pela prática, surge a necessidade de fundamentá-los teoricamente, ou, para os que discordam deles, criticá-los.

Como podemos entender então o conceito de ética?

A ética, tantas vezes interpretada como sinônimo de moral aparece exatamente na hora em que estamos sentindo a necessidade de aprofundar a moral. Geralmente a ética apoia-se em outras áreas do conhecimento como a antropologia e a história para analisar o conteúdo da moral. Seria o tratamento teórico em torno da moral e da moralidade.

Uma disciplina originária da filosofia, há muito discutida pelos filósofos de todas as épocas e que se estende a outros campos do saber como teologia, ciências e direito.

Ética e Moral

Alguns diferenciam ética e moral de vários modos:

1. Ética é princípio, o moral trata de aspectos de condutas específicas.

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4. Ética é filosofia da moral, a moral é conduta.

5. O Moral é regra. Ética é questionamento: Por quê?

Um exemplo a ser mencionado é:

A lei moral judaica proíbe comer carne de porco, e certos indianos não comem carne de vaca.

A Ética diz: se estiver faminto mate o porco e mate a vaca e coma, pois o princípio da vida está acima das leis morais e religiosas.

Ética =

ethos

Moral =

mos

Princípios Universais

(pressão interna)

Regras p/ as ações coletivas

(pressão externa)

Reflexão e Valores

Hábitos e Costumes

A ética pressupõe análise e reflexão antes do agir. Toda existência

tem o lado da alteridade, isto é, da dimensão do OUTRO.

Ética =

ethos

Moral =

mos

Princípios Universais

(pressão interna)

Regras p/ as ações coletivas

(pressão externa)

Reflexão e Valores

Hábitos e Costumes

A ética pressupõe análise e reflexão antes do agir. Toda existência

tem o lado da alteridade, isto é, da dimensão do OUTRO.

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4. FONTES DAS REGRAS ÉTICAS

O fato de se considerar a Ética como expressão única do pensamento correto implica a idéia de que existem certas formas de ação preferíveis a outras, às quais se prende, necessariamente, um espírito julgado correto. Tomando-se por base esta definição, existiria uma natureza humana “verdadeira” que seria a fonte primeira das regras éticas.

Essa natureza humana verdadeira seria aquela do homem sadio e puro, em que habitariam todas as virtudes de caráter integro e correto. Toda ação do homem ético seria uma ação ética (universalidade da ética).

Existem, ainda, normas de caráter diverso e até mesmo oposto à idéia da universalidade da ética: as relacionadas à forma ideal universal e comum do comportamento humano, expressa em princípios validos para todo pensamento são. Esta seria a segunda fonte das regras éticas.

O termo ética pode assumir diferentes significados, conforme o contexto em que os agentes sociais estão envolvidos. Assim, existe a ética dos negócios, a ética na profissão do contador.

A terceira fonte de normas éticas seria a conseqüência da busca refletida dos princípios do comportamento humano. Assim, cada significado do comportamento ético tornar-se ia objeto de reflexão por parte dos agentes sociais. Essa seria a procura racional das razões da conduta humana.

A quarta fonte de regras ética seria a legislação de cada país, ou de foros internacionais, ou mesmo os códigos de ética empresarial e profissional.

A quinta fonte de normas éticas vem dos costumes e exprime a excelência daquilo que “na parte irracional é acessível aos apelos da razão”.

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Ora, a qualificação bom/mau supõe que aquele que assim julga escolheu agir assim. Um homem não escolhe suas paixões: ele não é então responsável por elas, mas somente pelo modo como faz com que elas se submetam a sua ação. É deste modo que os outros o julgam sob o aspecto ético, isto é, apreciando seu caráter. Um juízo ético seria simplesmente impossível se não houvesse como regular as paixões.

Em suma, podemos afirmar que as fontes das regras éticas podem ser divididas em cinco categorias:

1. A natureza humana “verdadeira”;

2. A forma ideal universal do comportamento humano, expressa em princípios validos para todo pensamento sadio;

3. A busca refletida dos princípios do comportamento humano; 4. A legislação;

5. Os costumes.

Essa relação não tem o consenso dos estudiosos. Na opinião de alguns filósofos não existiriam duas naturezas humanas, uma verdadeira e outra falsa, mas só uma.

Segundo outros autores, a própria realidade social seria fonte maior das regras éticas, porquanto ela influencia o comportamento das pessoas, mostrando-lhes ao longo da vida e que é certo e o que é errado.

A reflexão do cotidiano das pessoas ao longo de suas vidas irá indicar, com clareza, quais as origens do comportamento socialmente aceito, o comportamento ético.

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5. COMPORTAMENTO ÉTICO

Diariamente, as pessoas deparam com cenas nas quais a falta de ética pode ser facilmente visualizada. Implica dizer que, diante de determinadas situações, as pessoas apresentam um comportamento que contraria as normas estabelecidas pela sociedade. Tais cenas podem ser vistas em qualquer ambiente, como ruas, escolas, repartições públicas, templos religiosos.

A rigor, nem mesmo se faz necessário que alguém esteja fora de sua moradia para presenciar cenas nas quais regras éticas são quebradas. Os meios de comunicação, especialmente a televisão, retratam cotidianamente estas cenas, seja na forma de acontecimentos reais, seja na forma de ficção.

Da mesma forma que independem de local, as regras éticas são desrespeitadas dentro de qualquer sociedade, não importando seu tipo, natureza ou objetivo que busca alcançar. Muitas vezes, a ausência de ética é percebida no seio de uma família, outras vezes em empresas.

As regras que regem a ética em qualquer sociedade, estejam elas definidas de maneira formal ou não, são estabelecidas tendo-se por base uma situação qualquer e contemplam o comportamento considerado adequado dos participantes da sociedade diante de tal situação.

Pode-se afirmar, portanto, que a pratica de qualquer ato que desrespeite uma regra estabelecida e aceita pela sociedade, independente de sua natureza, representa falta de ética.

O ato de sonegar o Imposto de Renda, além de representar uma transgressão às regras fiscais, é um ato desprovido de ética. No mesmo sentido, quando alguém assalta um banco, além de crime penal, essa pessoa agiu de forma antiética.

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portanto, que à medida que uma dessas regras é violada, o infrator fica sujeito a algum tipo de penalidade, mesmo que seja tão-somente uma condenação moral.

As pessoas, sem exceção, são colocadas constantemente diante de situações nas quais elas têm de decidir entre cumprir ou quebrar uma regra. É provável que neste momento dois fatores pesem na decisão: o beneficio que a violação da regra proporcionara; e o custo de sofrer a penalidade que será imposta pela quebra da regra.

Como é normal na natureza humana, algumas pessoas farão opção, em determinadas situações, pela obediência às regras, enquanto outras optarão pelo descumprimento das mesmas. Neste contexto, outra questão pode ser colocada: o que leva uma pessoa a preservar, ou não, os valores éticos de uma sociedade da qual faz parte?

Risco e Chance

Qualquer sociedade organizada não pode prescindir de um conjunto de regras que normatize o convívio de seus participantes. Tal conjunto de regras terá sua extensão determinada em função do tamanho e da natureza da própria sociedade, assim como dos níveis de relacionamento nela existentes.

Ainda que convivendo em uma mesma sociedade, nem sempre os interesses particulares de uma pessoa convergem para o interesse dos demais participantes da sociedade. Daí a importância de regras que fixem as fronteiras do relacionamento interpessoal, que devem ser respeitadas quando cada pessoa busca atender a seus próprios interesses.

Da mesma forma que no interior das sociedades, o relacionamento de duas ou mais sociedades, sejam elas grandes ou pequenas, não podem dispensar um conjunto de regras que balizem seu cotidiano.

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Em outras palavras, pode-se afirmar que nenhuma sociedade pode abdicar de um conjunto de “regras de convivência”, conjunto este que induza ao respeito entre seus participantes e assegure o direito dos mesmos. Tal observação é valida também no que se refere ao relacionamento existente entre duas ou mais sociedades. Vale ressaltar que, no caso de uma dessas regras não ser observada, certamente surgirão prejuízos, seja para as pessoas, seja para a sociedade.

No liminar da historia humana as sociedades configuravam-se sob a forma de tribos nas quais o papel a ser desempenhado pelos componentes era bem definido: os homens asseguravam a sobrevivência, o que significa dizer a caça e a segurança, enquanto as mulheres asseguravam o bem estar da família e a organização do lar.

Considerando-se os conhecimentos do ser humano naquela época, especialmente no que diz respeito aos meios de sobrevivência, era natural também que cada tribo-sociedade tivesse seu próprio território de atuação, nos limites do qual todos os problemas deveriam ser solucionados. A invasão deste território por outra tribo significava a quebra de uma regra de convivência e, quase sempre, o inicio de uma guerra.

Daquela época até os dias atuais, as sociedades evoluíram e surgem novas regras de convivência a cada dia.

Atualmente, considerado o grau de complexidade dos relacionamentos existentes, intra e inter-sociedades, para que se compreenda o conjunto de regras que regem seu cotidiano, torna-se necessário que elas sejam segregadas em função de algum fator, tal como natureza, objetivo, competência de quem as determina, abrangência.

Certamente, um dos primeiros critérios deveria ser a segregação destas regras, segundo sua natureza, entre formais e informais. As regras formais são aquelas escritas, emitidas por quem de direito para tanto. Como exemplo desse

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Já as regras informais têm origem na própria cultura da sociedade, não são escritas, mas ainda assim são observadas pela maioria das pessoas tornando habito como: auxiliar um deficiente da visão a atravessar a rua, ceder o próprio assento para uma pessoa idosa, cumprimentar as pessoas conhecidas.

Outro critério de segregação das regras existentes em uma sociedade seria segundo a competência de quem as estabelece, entre coercivas e facultativas. As primeiras, para que sejam obrigatórias, precisam ser escritas, portanto, formais. As facultativas normalmente estão ligadas ao relacionamento social das pessoas, aos “bons modos” como, por exemplo, falar baixo, vestir-se de maneira adequada ao ambiente.

A existência de uma regra qualquer, independentemente de sua natureza e da competência de quem a elabora, não garante por si só que os objetivos sejam alcançados. Desse modo, é de se esperar que para cada regra exista uma “penalidade” estipulada para quem a desobedecer.

Para determinados tipos de regra, como leis, a penalidade é de fácil visualização e entendimento por todos. Assim, caso alguém sonegue impostos, por exemplo, se sujeita a todas as sanções previstas na lei tributaria. Quando a pessoa é agredida física ou moralmente, o agressor fica sujeito às penalidades previstas na lei penal.

Para outros tipos de regras nem sempre a penalidade é clara, todavia, ela existira sempre. Se, por exemplo, alguém vai a uma festa de gala vestido de maneira inadequada, certamente esta pessoa será preterida pelos demais participantes da festa e talvez não mais receba convites para festas similares. Estas serão suas punições.

No mesmo sentido, quando alguém não respeita os idosos, passa a ser considerado, pelas demais pessoas, como uma pessoa sem educação, sem caráter.

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Independentemente das características de cada uma, essas regras visam organizar a sociedade, assegurando o bem geral, a segurança da mesma, uma convivência pacífica entre seus componentes. Ainda assim, problemas de varias ordens continuam a existir nas sociedades, fato este que indica que regras, não obstante as penalidades, não estão sendo observadas.

Diante do exposto, a questão que pede uma resposta é: considerando as regras, seus objetivos e as penalidades a elas inerentes, por qual motivo elas não são observadas em sua integra, ou seja, quais as razões que levam as pessoas a desrespeitá-las?

Dois são os caminhos que conduzem à resposta que se busca: o primeiro relaciona-se com o surgimento de novas oportunidades para que uma regra seja desrespeitada; o outro caminho diz respeito a seu custo que é a penalidade imposta em virtude da quebra da regra.

Em relação ao primeiro dos caminhos, a constatação de que se uma regra foi quebrada é porque a oportunidade para tal se apresentou, ainda que óbvia, requer analise atenciosa. Alguém pode alegar que o ser humano sente certa satisfação ao quebrar uma regra. Todavia, não se pode esquecer que toda vez que uma chance de se quebrar uma regra ocorre é porque um conflito de interesses esta, no mesmo momento, ocorrendo.

Ninguém sonega um imposto pelo simples prazer de sonegar. Existira sempre uma razão individual que sustentara o ato praticado como: “o imposto é injusto considerando o meu nível de renda”, “o governo aplica mal os recursos arrecadados”, “as pessoas mais ricas não pagam, por que eu tenho de pagar?”.

No mesmo sentido, quando alguém agride outra pessoa é porque em face de um motivo qualquer, se sentiu ultrajada, ou ainda, quando alguém não cede o assento para uma pessoa idosa é porque tem outro motivo, ou não enxerga na pessoa idade suficiente para que ela tenha prioridade.

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Em resumo, cada vez que uma oportunidade se apresenta e uma regra é quebrada, é porque o transgressor tem um motivo que julga suficientemente forte para quebrá-la. Considerando que o ser humano tem uma vocação para colocar seus interesses à frente do interesse das demais pessoas e da própria sociedade, é fácil de entender que oportunidades de quebrar regras sempre existirão em grande quantidade e em praticamente qualquer tipo de relacionamento que exista na sociedade.

Se, conforme mencionado, toda vez que alguém desrespeita uma regra esta agindo em beneficio próprio, colocando seus interesses a frente dos interesses de seus pares e da própria sociedade, esta pessoa deve considerar em sua decisão, também, a penalidade imposta pela quebra das regras. Isto conduz ao segundo dos caminhos apontados para responder à questão anteriormente colocada: o custo.

Quando alguém se dispõe a quebrar uma regra, mesmo tendo consciência de que pode sofrer uma penalidade, provavelmente esse alguém julga que o risco de ser apanhado não é significativo e, ainda que seja, o beneficio obtido em virtude da quebra da regra é maior do que o ônus da penalidade.

Diante deste quadro, seria de supor que um dos caminhos que estimularia o cumprimento da regras seria estabelecer mecanismos de controles eficientes e penalidades pesadas, de modo que grande parte daqueles que descumprem tais regras de sintam atemorizados.

Qualquer que seja a sociedade em foco e, dentro desta, qualquer que seja o nível de relacionamento mantido, ainda que totalmente balizado por regras, haverá sempre oportunidades para que tais regras sejam quebradas. Isto porque existira sempre alguém disposto a assumir os riscos das penalidades impostas àqueles que desrespeitam as normas.

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Risco e Chance na Profissão

Ao longo da historia, o desenvolvimento do ser humano tem sido impulsionado por sua busca incessante em atingir dois objetivos: conhecer a si próprio, e suprir suas necessidades. Estes continuam vivos até hoje.

À medida que persegue estes objetivos, a espécie humana acumula conhecimento e desenvolve-se. O progresso do conhecimento humano é algo que desafia a imaginação e que pode ser visto em todos os campos do conhecimento humano, da medicina à informática, da tecnologia ao lazer.

Muitos foram os fatores que influenciaram o desenvolvimento do conhecimento humano ao longo da historia e, ainda hoje, continuam a influenciá-lo. Entre eles temos o fator “especialização”.

Se, no inicio, o homem sabia tão pouco sobre si e sobre a terra em que habitava, com o passar do tempo esta tarefa se tornou impossível. A cada nova descoberta, mais era preciso descobrir, e o cominho encontrado foi dividir a missão.

Temos então, neste contexto, o surgimento de segmentos especializados em conhecimentos, ou seja, profissionais especializados, como médicos, advogados, contadores. Cada um deles tem preocupações limitadas por campo de conhecimentos e destinadas a atender necessidades especificas.

Dentro destas especializações, foram surgindo outras, novas, cujo objetivo era explorar campos e necessidades mais especificas. Assim temos médicos cardiologistas, contadores auditores, advogados tributaristas. A partir das novas especializações chega-se a outras como cardiologistas especializados em um único tipo de doença, auditores especializados em instituições financeiras, tributaristas especializados em um único tipo de tributo.

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respeito ao comportamento ético dos profissionais, ela traz consigo algumas particularidades que podem acarretar prejuízos para a sociedade ou para quem necessita de um especialista.

Imagine-se, por exemplo, que alguém apresentando sintomas de enfarte no miocárdio, procura um hospital e, lá chegando, encontra tão somente um médico especialista em outro ramo da medicina. A partir daí algumas situações podem ser visualizadas:

a) o médico atende com sucesso o paciente salvando-lhe a vida; b) o médico atende ao paciente, mas este não sobrevive;

c) o médico recusa-se a atender ao paciente por este não ser um caso dentro de sua especialidade.

Quanto à situação (a) nenhum comentário adicional necessita ser feito. No que se refere à situação (b) no mínimo duas questões merecem ser levantadas: se tivesse sido atendido por um especialista o paciente teria sobrevivido? e houve erro no atendimento? Quanto à situação (c), independentemente do destino do paciente uma questão merece ser respondida: o médico agiu corretamente ao não atender ao paciente?

Dentro da mesma situação imagine-se que o médico de plantão seja um cardiologista. Suponha-se que no momento do atendimento o paciente faleceu. Certamente questões do tipo “houve negligência?” e “houve erro médico” serão colocadas.

No meio contábil muitas situações análogas podem acontecer e, ainda que não envolvendo o risco direto de vidas humanas, também são passíveis de discussão.

Tome-se como exemplo a situação de uma empresa falida. Suponha-se que a decretação de falência ocorreu logo depois do encerramento de um exercício com simultânea divulgação das demonstrações contábeis acompanhadas do parecer dos auditores independentes, emitido sem nenhuma ressalva.

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A primeira pergunta que vem a tona em situações dessa natureza é: a emissão do parecer dos auditores independentes observou todas as regras determinadas pelos órgãos competentes?

Outra situação seria aquela de uma empresa cujos administradores procuraram seguir corretamente todas as normas fiscais e, de repente, recebe uma autuação do fisco em face de irregularidades em sua contabilidade. A pergunta seria: onde estava o contador?

Caso se queira resumir todas essas questões em uma única questão, é de se perguntar: qual regra deixou de ser observada?

É claro que qualquer profissional, independentemente de sua especialização, esta sujeito a cometer um erro ainda que busque com total esmero cumprir todas as regras aplicáveis.

Quando a pessoa necessita da atuação de uma profissional especialista em determinado ramo de atividade, na maior parte dos casos fica totalmente dependente daquele profissional, isto porque não conhece a atividade e, portanto, não consegue avaliar se seu trabalho esta sendo realizado da forma que se espera. Em outras palavras, muitas vezes a pessoa não consegue avaliar se as regras estão sendo cumpridas adequadamente.

Considerando-se a posição privilegiada que cada profissional especializado tem no momento em que atua, ou seja, considerando ser ele “o senhor da verdade” em seu campo de atuação, é de se entender que as oportunidades para desrespeitar as regras surgem em maior numero de vezes.

Naturalmente este fato não implica que ele aproveitara todas as oportunidades que se apresentam para praticar a má ação, até porque, apesar da especialização, os riscos continuam a existir e nenhum profissional, por mais especializado que seja, é único em seu campo de atuação. Isto quer dizer que

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Vale ressaltar que as profissões têm suas regras próprias a serem seguidas e, portanto, também suas próprias punições. No caso dos contadores, as penalidades ficam por conta do Conselho Federal de Contabilidade, dos Conselhos Regionais de Contabilidade e da Comissão de Valores Mobiliários.

Como se percebe, os profissionais especializados, como os contadores, têm em seu cotidiano as mesmas chances e riscos que qualquer outro integrante da sociedade. Adicionalmente estes profissionais contam com as chances que lhes são proporcionadas pela especialização. Em contrapartida, assumem tanto os riscos normais, como qualquer cidadão, quanto os riscos advindos das regras estabelecidas pelos órgãos reguladores da profissão.

Disposição de Proteger Valores Éticos

Toda e qualquer sociedade guarda seus próprios valores e, portanto sua própria ética. Significa dizer que nenhuma sociedade é desprovida de ética, mesmo que esta não seja reconhecida como ética por outras sociedades.

Apesar da presença da ética em todas as sociedades, em algumas delas as situações nas quais a ética é afrontada surgem com maior freqüência. Tal fato demonstra que determinadas sociedades conseguem proteger seus valores éticos com menor ou maior intensidade do que outras.

Algumas sociedades tentam proteger seus valores éticos através de punição, esta pode até coibir a transgressão dos valores éticos, contudo não significa sua extinção, nem mesmo representa o melhor caminho para tal. Ainda que a punição represente um risco, para o infrator, no momento em que o beneficio da transgressão superar o custo da penalidade a violação dos valores será concretizada.

A proteção dos valores éticos deve representar uma decisão que a sociedade precisa tomar em conjunto e jamais uma imposição de cima, ou seja, para que os valores éticos sejam preservados é necessário que a maior parte de seus

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participantes assim deseje, que seja educada para tal, que aceite e, mais importante, que exercite esta proteção a todo instante.

O exercício pleno dos valores éticos, que significa sua proteção irrestrita, só ocorrera de forma satisfatória a partir da compreensão por parte dos componentes da sociedade dos benefícios que isso traz.

Outro fator relevante para qualquer sociedade que deseje proteger seus valores éticos é o papel do líder. Assim sendo, para que todas as pessoas compreendam, exercitem e aceitem a proteção dos valores éticos, é de fundamental importância assistir ao exemplo dos líderes. Dificilmente, algum valor será preservado pela sociedade se não for preservado por seus líderes.

Certamente, o convívio em sociedade trará benefícios gerais a partir do momento e que todos estejam dispostos a proteger os valores éticos. Para tanto, é necessários que estes valores sejam claros, amplamente difundidos e válidos para todos.

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6. CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL

Um código de ética pode ser entendido como uma relação das praticas de comportamento que se espera que sejam observadas no exercício da profissão. As normas do código de ética visam o bem estar da sociedade, de forma a assegurar a lisura de procedimentos de seus membros dentro e fora da instituição.

Um dos objetivos de um código de ética profissional é a formação da consciência profissional sobre padrões de conduta.

Os princípios éticos podem existir naturalmente, por consenso na comunidade, bem como podem apresentar-se na forma escrita, o código de ética. Esse, todavia, torna os princípios éticos obrigatórios aos praticantes, tornando possível que seja assegurada sua observância.

Um código de ética contém asserções sobre princípios éticos gerais e regras particulares sobre problemas específicos que surgem na prática da profissão.

Nenhum código de ética consegue abarcar todos os problemas que aparecem quando do exercício da profissão. Ele deve, por isso, ser suplementado com opiniões de órgãos competentes.

Apesar de o código de ética profissional servir para coibir procedimentos antiéticos, este não é seu principal objetivo. Seu objetivo primordial é expressar e encorajar o sentido de justiça e decência em cada membro do grupo organizado.

Um código de ética deve indicar um novo padrão de conduta interpessoal na vida profissional de cada trabalhador que esteja exercendo qualquer cargo na organização.

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O Código de Ética do Profissional do Contador

Além de servir como guia a ação moral, o código de ética profissional possibilita que a profissão de contador declare seu propósito de:

 cumprir as regras da sociedade;  servir com lealdade e diligencia;  respeitar a si mesma.

O objetivo do código de ética para o contador é habilitar esse profissional a adotar uma atitude pessoal, de acordo com os princípios éticos conhecidos e aceitos pela sociedade.

O código de ética profissional do contador contém princípios éticos aplicáveis a sua profissão. Em resumo, tais princípios dizem respeito à:

a) responsabilidade, perante a sociedade, de atuar com esmero e qualidade, adotando critério livre e imparcial;

b) lealdade, perante o contratante de serviços, guardando sigilo profissional e recusando tarefas que contrariem a moral;

c) responsabilidade com os deveres da profissão (aprimoramento técnico e inscrição nos órgãos de classe);

d) preservação da imagem profissional, mantendo-se atualizado em ralação as novas técnicas de trabalho, adotando, igualmente, as mais altas normas profissionais de conduta o contador deve contribuir para a difusão dos conhecimentos próprios da profissão;

e) o respeito aos colegas deve ser sempre observado.

Todo profissional e, principalmente, o contador, experimenta situações diferenciadas e provocadoras em seu dia-a-dia, ocasionando dilemas morais e colocando à prova seus valores éticos, exigindo, assim, sólida formação moral e preparo psicológico, embora a conduta esperada, ou seja, a atitude que deve adotar, esteja formalizada no Código de Ética da profissão.

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O Código de Ética do Profissional do Contador foi instituído pelo Decreto-Lei 1.040, de 21.10.69 e aprovado pela Resolução CFC nº 803/96, de 10.10.96, com alterações nas Resoluções CFC nºs. 819/97, de 20.11.97, 942/02, de 30.08.2002, e 950/02, de 29.11.02. Atualmente possui a seguinte estrutura:

C CAAPPÍÍTTUULLOOII -- DDOOOOBBJJEETTIIVVOO C CAAPPÍÍTTUULLOOIIII -- DDOOSSDDEEVVEERREESSEEDDAASSPPRROOIIBBIIÇÇÕÕEESS C CAAPPÍÍTTUULLOOIIIIII -- DDOOVVAALLOORRDDOOSSSSEERRVVIIÇÇOOSSPPRROOFFIISSSSIIOONNAAIISS C CAAPPÍÍTTUULLOOIIVV -- DDOOSSDDEEVVEERREESSEEMMRREELLAAÇÇÃÃOOAAOOSSCCOOLLEEGGAASSEEÀÀCCLLAASSSSEE C CAAPPÍÍTTUULLOOVV -- DDAASSPPEENNAALLIIDDAADDEESS C CAAPPÍÍTTUULLOOVVII -- DDAASSDDIISSPPOOSSIIÇÇÕÕEESSGGEERRAAIISS

7. O PROFISSIONAL E O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO

A ética é uma importante fonte de diretrizes do homem. Ela o condiciona a impor limites a si próprio, de modo continuo, de forma a manter o equilíbrio necessário para a vida em sociedade.

O Papel do Contador na Sociedade

O contador desempenha papel relevante na analise e aperfeiçoamento da ética na profissão contábil, pois sempre esta a volta com dilemas éticos, nos quais deve exercer, na plenitude de sua soberania, seu papel de profissional independente.

A ética profissional, longe de debilitar a posição social da empresa, fortalece-a.

A respeito de acatar todos os procedimentos contábeis referidos nas leis, foi ouvido no interior de uma empresa o seguinte contra-argumento: “Ora, mas meus concorrentes na dão importância à contabilidade da empresa. Além de

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utilizar não-contadores para fazer e analisar balanços, meus concorrentes costumam apresentar resultados fictícios, sem constituir as necessárias provisões. Quando não apresentam resultados é porque constituíram provisões em excesso ou porque interpretaram, segundo seus interesses, determinada norma legal. Por que nós, então, vamos arcar com o ônus financeiro e político de uma contabilidade correta? Por que arcar com a desvantagem competitiva em relação à concorrente, de evidenciar todo e qualquer fato econômico-financeiro que altere a posição da empresa?”

Esse argumento é falho e pode ser assim analisado:

O fato de os concorrentes não darem importância à contabilidade da empresa não mostra evidencia de ser esta a posição correta. Ao contrario a pratica mostra o quanto a contabilidade é útil no acompanhamento da posição econômico-financeira das empresas, na avaliação de seu desempenho e na divulgação de informações.

A hipótese de a concorrente utilizar-se de não contadores para elaboração e analise de suas demonstrações possibilita duas interpretações do ponto de vista da ética:

 Se o profissional que ela utiliza não é contador, mas é familiarizado com a técnica contábil reconhecidamente aceita, tal não se configura falta de ética. Este profissional não poderá, no entanto, assinar referidas demonstrações, por determinação de normas que regem o exercício da profissão;

 Se a concorrente utilizada de profissional ou equipe não qualificada, tal se configura falta de ética profissional, pois estará demonstrando incompetência . a competência profissional é principio ético que deve nortear os procedimentos de elaboração do balanço.

A hipótese aventada de que os concorrentes apresentam resultados fictícios, sem constituírem as necessárias provisões deve ser mais bem formulada. Com base em que se faz tal afirmação? O parecer da auditoria independente acusou o fato? Houve ressalvas no parecer da auditoria? O balanço será republicado?

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apresentasse falsos resultados, este fato justificaria o mesmo procedimento pela empresa reclamante? Correriam elas os mesmos riscos, na fiscalização pelos órgãos arrecadadores de impostos?

A hipótese sobre a manipulação dos resultados pelos concorrentes, através da constituição de provisões em excesso ou da interpretação enviesada da lei, carece igualmente de provas. A não ser que o reclamante mantivesse um serviço de acompanhamento sofisticado de concorrentes, ele não poderia afirmar e, muito menos, provar a hipótese acima. Mas, também admitindo-se que tal afirmação seja responsavelmente formulada, o concorrente de fato não atende ao regime de competência de exercícios e à confrontação de receitas e despesas, é de se perguntar: Deve o reclamante maldizer-se de sua sorte enquanto empresário ético?

O fato do concorrente não constituir as provisões necessários ou de constituí-las em excesso, distorcendo o resultado, é problema legal e ético do concorrente, que arca com todas as responsabilidades do ato fraudulento. Essas responsabilidades incluem: ressalvas no parecer de auditoria, republicação de balanços, autuação pelos órgãos arrecadadores, publicidade negativa, demissão etc. “Maquiar” balanços é pratica combatida, não estando no repertório do bem profissional. Não existe, pois nível para comparação entre o reclamante ético e o concorrente desonesto.

O ônus financeiro da desvantagem competitiva a que se refere o reclamante, na verdade, não existe. Isso porque é difícil comprovar a prática dos atos ilícitos, bem como mensurar suas vantagens. De qualquer forma, supondo-se praticados os procedimentos ilegais, eles têm o grave poder deletério de institucionalizar o vício do procedimento errado, gerando uma cultura nociva a ser difundida por aqueles funcionários que dele têm conhecimento.

O importante a enfatizar é que os princípios éticos não são mera figura de retórica, à moda em determinadas épocas. São preceitos que a sociedade acolhe como verdadeiros e a eles legitima.

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Conceitos Relacionados com Dilemas Éticos

O profissional de contabilidade enfrenta inúmeros dilemas éticos no cotidiano do exercício de sua profissão. Essas situações críticas situam-se nas esferas dos conceitos de dever, direito, justiça, responsabilidade, consciência e vocação.

O dever corresponde à obrigação de oferecer, realizar ou omitir algo diante do direito de alguém. A obrigação de um contador é de realizar os serviços de natureza contábil da instituição, com qualidade dentro de determinado prazo. Tal obrigação é um dever desse profissional e um direito da empresa.

O direito é a contrapartida do dever. É tudo aquilo que uma pessoa pode exigir de quem lhe deve.

A justiça tem por axioma dar a cada pessoa o lhe corresponde, permitir que possua o que lhe é de direito. Ela e a principal virtude da ética.

A responsabilidade é a capacidade de entendimento do direito e do dever que acompanha o exercício de qualquer atividade. Assim, ao realizar um trabalho, a pessoa percebe ter assumida uma obrigação, seja de executar bem um serviço, seja de cumprir um prazo para sua conclusão.

A consciência é uma regra moral que motiva a pessoa a agir de determinada forma, em vez de outra. A consciência age como o “juiz interno” que influencia na tomada de decisão.

A vocação é a tendência (baseada nas aptidões) de uma pessoa de dedicar-se a determinada profissão. Essa inclinação favorece a qualidade dos serviços que ela presta, já que é mais difícil para a pessoa dedicar-se àquilo de que não gosta.

Referências

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