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Muito bem conceituam esta tese os doutrinadores Antonio Carlos de Araujo Cintra, Ada Pelegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, a saber:

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3 A Jurisdição pode ser caracterizada como o Poder de dizer o Direito. Em verdade, em nível dou-trinário, várias teorias buscam conceituar a jurisdição, apresentando teses divergentes acerca do tema. Ocorre que, além de estar caracterizada como um poder, a jurisdição poderá ser entendida como uma função, uma atividade derivada diretamente da soberania estatal.

Uma primeira teoria classifica a Jurisdição como atuação da vontade da Lei. É a chamada Teoria Objetiva. Para parte da doutrina, a jurisdição seria a função do Estado de fazer atuar a vontade da lei. A função de fazer atuar a vontade concreta do direito objetivo. Seria a aplicação do direito objetivo no caso concreto. Chiovenda afirma que a atuação da vontade da lei, no caso de jurisdição, se dará pela partici-pação do juiz, típica jurisdição, atividade substitutiva.

Muito bem conceituam esta tese os doutrinadores Antonio Carlos de Araujo Cintra, Ada Pele-grini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, a saber:

“E assim, através do exercício da função jurisdicional, o que busca o Estado é fazer com que se atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito substancial. Em outras palavras, o escopo jurídico da jurisdição é a atuação (cum-primento, realização) das normas de direito substancial (direito objetivo)” (Teoria Geral do Processo, 24ª edição, pg. 149)

De outra banda, alguns doutrinadores sustentam a teoria de que a Jurisdição é a fonte produ-tora de Coisa Julgada. Adeptos a esta visão, Allorio, Liebman e Calamandrei. A crítica a esta teoria reside no fato de que não seria todo ato jurisdicional capaz de gerar coisa julgada, como a tutelar cautelar, os procedimentos de jurisdição voluntária, entre outros.

Para uma terceira corrente, a Jurisdição é a função do Estado de justa composição da lide, vi-são sustentada por Carnelutti. Nesta linha, a jurisdição pressupõe um embate, a pretenvi-são resistida, a lide propriamente dita. Na clássica lição de Carnelutti – para a existência de lide ou litígio é necessário que ocorra “um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”.

“A função jurisdicional só atua diante de casos concretos de conflitos de interes-ses (lide ou litígio) e sempre na dependência da invocação dos interessados, por que são devedores primários destes à ordem jurídica e a aplicação voluntária de suas normas nos negócios jurídicos praticados.” (Citação de Humberto Theodor Ju-nior, Curso de Direito Processual Civil, Volume I, Editora Forense, p. 39)

Importa colacionar a visão de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery que afirmam em sua obra Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 11ª edição, pg. 176, que “Em-bora seja atividade típica do Poder Judiciário, a jurisdição pode, excepcionalmente, ser exercida pelo Poder Legislativo”, nos termos do art. 52, I e II da CF, quando da competência do Senado Federal para o julgamento do Presidente e do Vice-Presidente nos crimes de responsabilidade. Seria uma excepcional função jurisdicional afeta ao Poder Legislativo.

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Nos primórdios do desenvolvimento social, a justiça de mão própria, a vingança privada, a deno-minada ‘autotutela’, caracterizava-se como o meio de solução de conflitos de interesse. Com o desenvol-vimento do conceito de Estado e a atração de diversos monopólios para este, a soberania estatal atraiu para si o monopólio da criação, aplicação e interpretação do direito. Desta feita, com a vedação da auto-tutela, surge o conceito da tutela jurisdicional, ‘o poder de dizer o direito com definitividade em substi-tuição à vontade das partes’, própria da soberania estatal.

Cumpre salientar que com a atração deste monopólio da tutela jurisdicional, o Estado nem sem-pre foi eficiente na solução dos conflitos, em razão de sua morosidade. Nesta linha, começou, nos últi-mos anos, um incentivo muito grande aos chamados mecanisúlti-mos de autocomposição, com a aproxima-ção das partes, objetivando a soluaproxima-ção dos conflitos de uma maneira célere e efetiva, inserindo-se a me-diação como uma de suas principais técnicas.

Neste diapasão, de igual forma, surge a arbitragem, apresentando na doutrina grande divergên-cia acerca de sua natureza jurisdicional. A arbitragem é regulamentada pela Lei Federal 9.307/96. O principal questionamento reside no ponto de ter a arbitragem natureza jurisdicional ou contratual – cláusula compromissória e compromisso arbitral. Para uma teoria, a arbitragem é jurisdição, exercida por particulares com a autorização do Estado. Para outra tese, a arbitragem não é jurisdição, uma vez que pode ocorrer controle por parte do Poder Judiciário, por exemplo, na hipótese de nulidade da sen-tença arbitral, bem como a execução forçada, de igual forma, necessitaria da participação do Poder Judiciário. A jurisdição somente poderia ser exercida por pessoa investida na autoridade de juiz – juiz natural –, sendo a jurisdição indelegável. Predomina em nosso sistema jurídico a natureza contratual da arbitragem, seria, portanto, um equivalente jurisdicional.

1.1. CARACTERÍSTICAS

Podem ser citadas como características da jurisdição, além da chamada unidade ou unicidade do poder jurisdicional, outras virtudes que acabam por delinear o caminho da jurisdição, senão vejamos:

1.1.1. Inércia: A jurisdição é inerte e necessita ser provocada. A prestação jurisdicional é efetiva somente quando solicitada. Nesta linha, a jurisdição necessita ser ‘provocada’, sendo do cidadão, e não do juiz, a iniciativa de movimentar ou não movimentar o Poder Judiciário, conforme preceitua o Códi-go de Processo Civil/73 em seus diversos artiCódi-gos:

CPC/73:

Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por im-pulso oficial.

Art. 2º Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o inte-ressado a requerer, nos casos e forma legais.

Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da par-te.

Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi demandado.

Exceção a ser considerada, resta positivada nos arts. abaixo indicados do CPC/73:

Art. 989. O juiz determinará, de ofício, que se inicie o inventário, se nenhuma das pessoas mencionadas nos artigos antecedentes o requerer no prazo legal.

Art. 1.129 (exibição de testamento), art. 1.142 (herança jacente) e art. 1.160 (arre-cadação de bens de ausentes) todos do CPC/73.

Novo Código de Processo Civil: art.738 (herança jacente – o juiz procederá; art. 744 (arrecadação de bens do ausente - o juiz mandará)

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5 Esta inércia derivando no princípio da congruência restou solidificada no Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) que assim preceitua:

CPC/2015:

Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso ofici-al, salvo as exceções previstas em lei.

Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe ve-dado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.

Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem co-mo condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.

Desta feita, a atuação do juiz fica limitada pela iniciativa da parte – aos pedidos formulados pela parte. Importante ressaltar que a composição entre as partes poderá ocorrer sem a provocação do Poder Judiciário, fato próprio das relações contratuais e negócios jurídicos. Igualmente, provocado o Poder Judiciário, estabelecida a demanda, poderá ocorrer a chamada “transação” no curso do processo, sendo causa de sentença com resolução do mérito nos termos do art. 269, III do CPC.

Art. 269. Haverá resolução de mérito: (...) III - quando as partes transigirem;

O Novo Código de Processo Civil insere no sistema uma “política pública de solução de confli-tos”, ao fomentar a conciliação, a mediação e a autocomoposição, vejamos:

Art. 3º (...)

§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. Política Pública de Solução de Conflitos

§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: (...)

III - homologar:

a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconven-ção;

b) a transação;

c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.

Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, em sua obra “Novo Código de Processo Civil Comentado”, Revista dos Tribunais, p. 96-97, assim referem:

“O novo Código tem como compromisso promover a solução consensual do litígio, sendo uma das suas marcas a viabilização de significativa abertura para a autonomia privada das partes – o que se manifesta não só no estímulo a que o resultado do processo seja fruto de um consenso das partes (art. 3º, §§ 2º e 3º, CPC), mas também na possibilidade de estruturação contratual de determinados aspectos do processo (negócios processuais, art. 190, CPC, e calendário processual, art. 191, CPC)”.

Tipificação do que já restava estabelecido na Resolução n. 125 do CNJ. Estruturação do CPC ten-dente à conciliação, estímulo à autocomposição.

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1.1.2. Secundária e Substitutiva: A jurisdição não é originária, não é original, mas secundária. A-tua em um segundo momento, diante de casos concretos de conflitos de interesses. Nesta linha, impõe ao autor o dever de provar o seu interesse de agir, a necessidade e utilidade de recorrer ao Poder Judici-ário.

Neste mesmo sentido, diz-se a jurisdição como substitutiva, pois estaria substituindo a vontade das partes e aplicando no caso concreto a vontade da lei. O artigo 466-A do Código de Processo Civil de 1973 revela de plano esta característica, que resta reproduzida na Lei de 2015:

CPC/73:

Art. 466-A. Condenado o devedor a emitir declaração de vontade, a sentença, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida. CPC/2015:

Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sen-tença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá to-dos os efeitos da declaração não emitida.

Por fim, algumas outras características seriam agregadas à jurisdição, tais como indivisibilidade, indelegabilidade, declaratória de direitos, imparcialidade, entre outras, que fundamentam o conceito doutrinário de jurisdição. Ressalte-se que, pela letra da lei, não há conceituação e sequer elenco de características postos no Código de Processo Civil.

1.2. MODALIDADES DE JURISDIÇÃO

Acerca das modalidades da jurisdição, assim dispõe o artigo 1º do Código de Processo Civil de 1973:

Art. 1º A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece.

A Jurisdição Voluntária está prevista do art. 1.103 ao 1.210 do Código de Processo Civil de 1973 e do art. 719 ao art. 770 do Código de Processo Civil de 2015. Pela teoria clássica (dominante), na jurisdição voluntária, o juiz realiza a gestão pública de interesses privados. Não há lide, mas negócio jurídico processual que necessita a chancela do Estado por meio de sua jurisdição. Torna eficaz o negócio desejado pelos interessados, sendo correta a denominação de ‘procedimento de jurisdição voluntária’. Ex.: nomeação de tutores, nas alienações de bens de incapazes, entres outros. (cfe. Humberto Theodoro Junior, Curso de Direito Processual Civil, Volume I, Editora Forense)

Ainda, Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery afirmam em sua obra Código de Pro-cesso Civil Comentado e Legislação Extravagante, 11ª edição, pg. 176:

“Também denominada pela doutrina majoritária de jurisdição graciosa ou, ainda, de ‘administração pública de interesses privados’, a jurisdição voluntária vem regulada no CPC, arts. 1103 a 1210. É jurisdição somente na forma. Não é jurisdição

pu-ra porque o juiz não diz o direito substituindo a vontade das partes, mas ppu-rati- prati-ca atividade integrativa do negócio jurídico privado administrado pelo Poder Judiciário. Esse negócio jurídico, contudo, não tem validade se não integrado pelo juiz, donde é lícito concluir não ser voluntária esta jurisdição, mas sim forçada. Nela não há processo, mas procedimento; não há lide, mas contro-vérsia; não há partes, mas interessados; não incide o princípio dispositivo, mas sim o inquisitório; não há legalidade estrita, pois pode o juiz decidir por eqüidade (CPC, art. 1.109)”.

Na Jurisdição Contenciosa a atividade é jurisdicional, há a presença de lide (controvertido), chama-se de processo, há a presença de partes, produz coisa julgada e tem como critério de julgamento a legalidade.

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2.1 HABEAS CORPUS NO PROCESSO CIVIL

Esta ação constitucional tem aplicabilidade prática no processo civil, nos dois casos de ataque à liberdade da pessoa do executado, permitidos por lei civil, quais sejam execução de alimentos e deposi-tário infiel. Quanto ao deposideposi-tário infiel, aplica-se, atualmente, a Súmula Vinculante nº 25 do STF que assim preceitua:

SÚMULA VINCULANTE 25 DO STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

2.2 MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL E COLETIVO

Conforme preceitua a ordem constitucional dada pelo art. 5°, LXIX:

“Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por Habeas Corpus ou Habeas Data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autorida-de pública ou agente autorida-de pessoa jurídica no exercício autorida-de atribuições do Poautorida-der Público.”

Remédio Constitucional em desfavor de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica que e-xerça atribuições do Poder Público. Aplica-se ao Mandado de Segurança o disposto no art. 5°, inciso LXIX, da Constituição Federal, bem como as disposições constantes na Lei n° 12.016/2009. É ação civil de rito sumário especial – sumariedade do procedimento – prova pré-constituída. Também chamado de ação mandamental, expede ordem para cumprimento imediato.

Acerca da legitimidade ativa, afirma-se que qualquer pessoa que tenha sido lesada ou tenha so-frido ameaça de lesão ao seu direito líquido e certo a possui. Pode ser pessoa física ou jurídica. Impetran-te: qualquer pessoa que tiver seu direito “líquido e certo” violado ou houver justo receio de sofrer tal violação, mediante ilegalidade ou abuso de poder de autoridade, desde que este direito não seja ampa-rado por habeas corpus ou habeas data, pode impetrar mandado de segurança. Pode ser pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. A jurisprudência reconhece que até mesmo organismos sem personalidade jurídica, na defesa de suas prerrogativas institucionais. Por exemplo, Prefeito, Câmara de Vereadores, Câmara dos Deputados, Presidente da República, Governador, entre outros.

No pólo passivo, estará a autoridade que praticou a ilegalidade ou abuso de poder, violando di-reito líquido e certo. Pessoa física investida de poder de decisão. Não deverá ser prioritariamente o mero executor, mas o prolator da decisão. A autoridade aqui, será autoridade pública, representantes, órgãos de partidos políticos, administradores de entidades autárquicas, dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público.

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É a chamada Autoridade Coatora, conforme dispõe o artigo 6°, §3º da Lei n° 12.016/09: “conside-ra-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática”.

Art. 1º. §1º Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representan-tes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribui-ções.

§ 2º Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial pratica-dos pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público.

Ressalte-se que a autoridade coatora não será a pessoa jurídica ou o órgão a que pertence e ao qual seu ato é impugnado em razão do ofício. A pessoa jurídica deverá ingressar dentro do prazo para as informações, como litisconsorte do impetrado.

“Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:

I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;

II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, in-gresse no feito;”

A respeito do assunto, mencionamos a Teoria da Encampação. Essa teoria se aplica nos casos em que a autoridade superior hierarquicamente não se limita a informar sua ilegitimidade passiva, mas adentra no mérito da ação, tornando-se legítima para figurar no pólo passivo da demanda. Neste senti-do, trazemos a jurisprudência do STJ (ARE 696434 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julga-do em 30/10/2012): “A primeira preliminar merece ser rejeitada porque, conforme entendimento recen-te do STJ, na espécie aplica-se a recen-teoria da encampação, uma vez que a autoridade apontada como coato-ra, ao prestar suas informações (fls. 177/180), não se limitou a negar sua ilegitimidade e defendeu o mérito do ato impugnado, requerendo a denegação da segurança, assumindo, com isso, a legitimatio ad causam passiva (neste sentido RMS 21508/MG, rel. Min. Luiz Fux – 1ª Turma – DJ 12.05.2008 p.1)”.

Litisconsórcio Passivo Necessário - Na visão da obra de Hely Lopes Meirelles, Arnold Wald e Gil-mar Ferreira Mendes, “Mandado de Segurança e Ações Constitucionais”, há formação de litisconsórcio passivo necessário entre a autoridade coatora e a pessoa jurídica a que está vinculada, a saber: “É litis-consórcio necessário, não se identificando com o impetrado, mas sofrendo os efeitos da sentença que vier a ser proferida”.

Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe apelação. § 1o Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao

duplo grau de jurisdição.

§ 2o Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer.

§ 3o A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada

provi-soriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar.

Conforme previsão do art. 5º da Lei 12.016/09, importa colacionar as hipóteses de não cabimen-to do Mandado de Segurança, a saber:

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9 1) de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução: Não há obrigatoriedade de postular na esfera administrativa. Utilizando o recurso com efeito suspensivo, ter-se-á que aguardar seu julgamento. Inadmissível a concomitância de recurso administrati-vo e mandado de segurança. “Carência do direito de ação” – STF, MS n. 24.511-DF.

2) de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo: Inadmissível Mandado de Se-gurança como substitutivo recursal, sendo hipótese de aplicação da Súmula 267 do Supremo Tribunal Federal. Admite-se a possibilidade do Mandado de Segurança para conferir efeito suspensivo ao recurso que não o tenha, desde que interposto o recurso cabível – STF, RTJ 81/879. Requerimento de concessão de liminar dando efeito suspensivo ao recurso até o julgamento. É de se observar que, no que tange aos efeitos do recebimento da apelação, cabe agravo de instrumento dirigido diretamente ao tribunal, forte no art. 523, §4º do CPC. O Superior Tribunal de Justiça vem admitindo a impetração de Mandado de Segurança contra atos irrecorríveis do relator do Agravo de Instrumento, quando este converte em Agra-vo Retido – STJ, RMS n. 22.847 – MT.

3) de decisão judicial transitada em julgado: A coisa julgada é atacável por Ação Rescisória, sendo aplicável no presente caso a Súmula 268 do Supremo Tribunal Federal.

Por derradeiro, importa referir que não é vedada a utilização de Mandado de Segurança contra ato disciplinar e ato de dirigente de estabelecimento particular sempre que realizem atividades delega-das do Poder Público. Atos de gestão comercial, realizados no interesse interno e particular da empresa ou instituição, não cabem Mandado de Segurança.

Conforme afirma a obra “Mandado de Segurança e Ações Constitucionais” de Hely Lopes Meirel-les e outros, pág. 49:

“Assim, quando o diretor de uma escola particular nega ilegalmente uma matrícula, ou a empresa pública ou mista comete uma ilegalidade no desempenho da atribui-ção delegada, cabe segurança. Mas, quando tais entidades, por seus dirigentes, re-alizam atividade civil ou comercial, estranha à delegação, respondem perante a Jus-tiça como particulares desvestidos de autoridade pública, e por isso só se sujeitam às ações comuns, excluído o mandamus”.

No que tange à arbitragem, o terceiro que anuiu à arbitragem e dela não participou poderá impe-trar Mandado de Segurança.

Procedimento: É ação documental destinada a proteger direito líquido e certo de pessoa física ou jurídica. É uma garantia do mais alto grau, pois trata-se de remédio constitucional.

a) Não há fase destinada à instrução probatória. b) Necessária a existência de prova pré-constituída.

c) Direito Líquido e Certo: “está se exigindo que esse direito se apresente com to-dos os requisitos para seu reconhecimento e exercício no momento da impetração. Em últi-ma análise, direito líquido e certo é direito comprovado de plano”.1

Art. 4o Em caso de urgência, é permitido, observados os requisitos legais, impetrar

mandado de segurança por telegrama, radiograma, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada.

1 Hely Lopes Meirelles

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§ 2o O texto original da petição deverá ser apresentado nos 5 (cinco) dias úteis

se-guintes.

§ 3o Para os fins deste artigo, em se tratando de documento eletrônico, serão

ob-servadas as regras da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil.

Petição inicial: A petição inicial que deverá preencher os requisitos da lei processual, será apre-sentada em 2 vias e os documentos, que instruírem a primeira, deverão ser reproduzidos, por cópia, na segunda.

Art. 6o A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei

processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.

Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:

I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a se-gunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;

II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa ju-rídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, que-rendo, ingresse no feito;

III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja fi-nalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

Liminar – art. 7o, II da Lei do MS:

Relevância da Fundamentação;

Risco de ineficácia da medida, caso deferida.

Da decisão que denega liminar, cabe agravo de instrumento.

Art. 7º. § 1o Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar

caberá agravo de instrumento

Art. 7º. § 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a

com-pensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenien-tes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qual-quer natureza.

Art. 8o Será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar ex officio ou

a requerimento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impetrante cri-ar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixcri-ar de promover, por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem.

A inicial será desde logo indeferida quando não for caso de mandado de segurança, lhe faltar algum dos requisitos ou quando decorrido o prazo decadencial, forte no art. 10 da Lei 12.016/09.

Art. 10. § 1o Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação

e, quando a competência para o julgamento do mandado de segurança couber ori-ginariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá agravo para o órgão com-petente do tribunal que integre.

§ 2o O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da petição

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11 Do despacho de indeferimento caberá recurso de apelação. Findo o prazo de 10 dias para a prestação de informações e ouvido o representante do Ministério Público dentro de 10 dias, os autos serão conclusos ao juiz, independente de solicitação da parte, para a decisão, a qual deverá ser necessa-riamente proferida em 30 dias, consoante art. 12, parágrafo único.

- PECULIARIDADES:

SUSPENSÃO DA SEGURANÇA

Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do res-pectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua interposição.

§ 1º Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo a que se refere o caput deste artigo, caberá novo pedido de suspensão ao presidente do tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário.

§ 2º É cabível também o pedido de suspensão a que se refere o § 1º deste artigo, quando negado provimento a agravo de instrumento interposto contra a liminar a que se refere este artigo.

§ 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o jul-gamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo.

§ 4º O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo liminar se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a urgência na con-cessão da medida.

§ 5º As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única de-cisão, podendo o presidente do tribunal estender os efeitos da suspensão a liminares supervenientes, mediante simples aditamento do pedido original.

RECURSO – COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS

Art. 16. Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá ao relator a ins-trução do processo, sendo assegurada a defesa oral na sessão do julgamento. Parágrafo único. Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida liminar caberá agravo ao órgão competente do tribunal que integre.

Art. 18. Das decisões em mandado de segurança proferidas em única instância pe-los tribunais cabe recurso especial e extraordinário, nos casos legalmente previstos, e recurso ordinário, quando a ordem for denegada.

LIMITAÇÃO DA COISA JULGADA FORMAL

Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.

INEXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Art. 25. Não cabem, no processo de mandado de segurança, a interposição de em-bargos infringentes e a condenação ao pagamento dos honorários advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de litigância de má-fé.

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TRAMITAÇÃO PREFERENCIAL

Art. 20. Os processos de mandado de segurança e os respectivos recursos terão prioridade sobre todos os atos judiciais, salvo habeas corpus.

§ 1º Na instância superior, deverão ser levados a julgamento na primeira sessão que se seguir à data em que forem conclusos ao relator.

§ 2º O prazo para a conclusão dos autos não poderá exceder de 5 (cinco) dias.

DO PRAZO DECADENCIAL

Prazo decadencial de 120 dias contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

O Mandado de Segurança Coletivo, por sua vez, resta estabelecido no art. 5º, LXX da Constituição Fede-ral, assim preceituando:

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcio-namento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

De regra, possui o mesmo rito e disciplina legal do Mandado de Segurança Individual, sendo pon-to diferencial relevante apenas a legitimidade para a sua impetração.

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autoriza-ção especial.

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limita-damente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.

Neste tópico, cumpre ressaltar que o art. 22 trata da chamada coisa julgada ‘ultra partes’, benefi-ciando ou não, os membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.

§ 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações

indi-viduais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título indivi-dual se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.

Importa referir a visão da obra de Hely Lopes Meirelles, acerca do tema da competência de jul-gamento do Mandado de Segurança, a saber:

“A competência para julgar mandado de segurança define-se pela categoria da au-toridade coatora e pela sua sede funcional [...]. Para a fixação do juízo competente em mandado de segurança não interessa a natureza do ato impugnado; o que im-porta é a sede da autoridade coatora e sua categoria funcional, reconhecida nas normas de organização judiciária pertinentes. (in Mandado de Segurança, 31ª edi-ção, Malheiros Editores, págs. 75 e 77)”.

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13 O STJ já decidiu que “A competência para conhecer do mandado de segurança é fixada em razão da sede funcional da autoridade coatora”. (CC 60.560/DF, Rel. Min. Eliana Calmon, Primeira Seção, DJ 12/2/2007). Também a respeito do assunto, já se manifestou o STJ no seguinte sentido: “1. Na linha de orientação desta Corte Superior, em se tratando de mandado de segurança, a competência para proces-samento e julgamento da demanda é estabelecida de acordo com a sede funcional da autoridade apon-tada como coatora e a sua categoria profissional, o que evidencia a natureza absoluta e a improrrogabili-dade da competência, bem como a possibiliimprorrogabili-dade de seu conhecimento ex officio. (...) 3. Considerando que o mandamus deve ser processado e julgado pelo juízo competente em relação ao local correto da sede funcional da autoridade apontada como coatora, evidencia-se a competência do Juízo Suscitante para apreciar a ação mandamental em questão”. (CC 41.579/RJ, Rel. Min. Denise Arruda, Primeira Seção, DJ 24/10/2005, p. 156).

DECISÕES RELEVANTES SOBRE MANDADO DE SEGURANÇA:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPOSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO INDIVIDU-AL DE SENTENÇA COLETIVA POR PESSOA NÃO FILIADA À ASSOCIAÇÃO AUTORA DA AÇÃO COLETIVA. O servidor não filiado não detém legitimi-dade para executar individualmente a sentença de procedência oriunda de ação coletiva - diversa de mandado de segurança coletivo - proposta por associação de servidores. De fato, não se desconhece que prevalece na jurisprudência do STJ o entendimento de que, indistintamente, os sin-dicatos e associações, na qualidade de substitutos processuais, detêm le-gitimidade para atuar judicialmente na defesa dos interesses coletivos de toda a categoria que representam; por isso, caso a sentença coletiva não tenha uma delimitação expressa dos seus limites subjetivos, a coisa julga-da advinjulga-da julga-da ação coletiva deve alcançar tojulga-das as pessoas julga-da categoria, legitimando-as para a propositura individual da execução de sentença. Contudo, não pode ser ignorado que, por ocasião do julgamento do RE 573.232-SC, sob o regime do artigo 543-B do CPC, o STF proferiu decisão, com repercussão geral, vinculando horizontalmente seus magistrados e verticalmente todos os demais, reiterando sua jurisprudência, firmada no sentido de que "as balizas subjetivas do título judicial, formalizado em a-ção proposta por associaa-ção, é definida pela representaa-ção no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial". À luz da interpretação do art. 5º, XXI, da CF, con-ferida por seu intérprete maior, não caracterizando a atuação de associa-ção como substituiassocia-ção processual - à exceassocia-ção do mandado de segurança coletivo -, mas como representação, em que é defendido o direito de ou-trem (dos associados), não em nome próprio da entidade, não há como reconhecer a possibilidade de execução da sentença coletiva por membro da coletividade que nem sequer foi filiado à associação autora da ação co-letiva. Assim, na linha do decidido pelo STF, à exceção do mandado de se-gurança coletivo, em se tratando de sentença de ação coletiva ajuizada por associação em defesa de direitos individuais homogêneos, para se beneficiar do título, ou o interessado integra essa coletividade de filiados (e nesse caso, na condição de juridicamente interessado, é-lhe facultado tanto dar curso à eventual demanda individual, para ao final ganhá-la ou perdê-la, ou então sobrestá-la, e, depois, beneficiar-se da eventual coisa julgada coletiva); ou, não sendo associado, pode, oportunamente, litis-consorciar-se ao pleito coletivo, caso em que será recepcionado como parte superveniente (arts. 103 e 104 do CDC). É oportuno frisar que, em-bora o mencionado leading case do STF não tenha deixado claro se a sen-tença coletiva pode vir a beneficiar aqueles que se filiam à associação posteriormente - tema de repercussão geral número 499, que será dirimi-do por ocasião dirimi-do julgamento dirimi-do RE 612.043-PR -, não há dúvidas de que a sentença coletiva, prolatada em ação de rito ordinário, só pode

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ciar os associados. Por último, a título de oportuno registro, cabe ressaltar que a legitimação concorrente, prevista no art. 82, IV, do CDC para defesa coletiva de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos de con-sumidores e das vítimas, é manifestamente impertinente ao caso em e-xame, pois o dispositivo restringe essa hipótese de atuação às associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e "que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos direitos protegidos pelo Código consume-rista". REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/6/2015, DJe 4/8/2015.

DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. TERMO INICIAL DO PRAZO DECADENCIAL PARA IMPETRAR MS CONTRA ATO ADMINISTRA-TIVO QUE EXCLUI CANDIDATO DE CONCURSO PÚBLICO. O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança no qual se discuta regra editalícia que tenha fundamentado eliminação em concurso público é a data em que o candidato toma ciência do ato ad-ministrativo que determina sua exclusão do certame, e não a da publi-cação do edital. Precedente citado: EREsp 1.266.278-MS, Corte Especial, DJe 10/5/2013. REsp 1.124.254-PI, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 1º/7/2014.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESISTÊNCIA DE MANDADO DE SEGURAN-ÇA. O impetrante pode desistir de mandado de segurança sem a anuên-cia do impetrado mesmo após a prolação da sentença de mérito. Esse entendimento foi definido como plenamente admissível pelo STF. De fato, por ser o mandado de segurança uma garantia conferida pela CF ao parti-cular, indeferir o pedido de desistência para supostamente preservar inte-resses do Estado contra o próprio destinatário da garantia constitucional configuraria patente desvirtuamento do instituto. Essa é a razão por que não se aplica, ao processo de mandado de segurança, o que dispõe o art. 267, § 4º, do CPC ("Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação."). Precedentes citados do STF: RE 669.367-RJ, Pleno, DJe 9/8/2012; e RE-AgR 550.258-PR, Primeira Turma, DJe 26/8/2013. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Cal-mon, julgado em 10/12/2013.

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL ADMITIDA. PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. PEDIDO DE DESISTÊNCIA DEDUZIDO APÓS A PROLAÇÃO DE SENTENÇA. ADMISSIBILIDADE. “É líci-to ao impetrante desistir da ação de mandado de segurança, indepen-dentemente de aquiescência da autoridade apontada como coatora ou da entidade estatal interessada ou, ainda, quando for o caso, dos litis-consortes passivos necessários” (MS 26.890-AgR/DF, Pleno, Ministro Celso de Mello, DJe de 23.10.2009), “a qualquer momento antes do tér-mino do julgamento” (MS 24.584-AgR/DF, Pleno, Ministro Ricardo Le-wandowski, DJe de 20.6.2008), “mesmo após eventual sentença concessi-va do ‘writ’ constitucional, (…) não se aplicando, em tal hipótese, a norma inscrita no art. 267, § 4º, do CPC” (RE 255.837-AgR/PR, 2ª Turma, Ministro Celso de Mello, DJe de 27.11.2009). Jurisprudência desta Suprema Corte reiterada em repercussão geral (Tema 530 - Desistência em mandado de segurança, sem aquiescência da parte contrária, após prolação de senten-ça de mérito, ainda que favorável ao impetrante). Recurso extraordinário provido. (RE 669367, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 02/05/2013, ACÓRDÃO E-LETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014)

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2.3 HABEAS DATA

Conforme determina a Constituição Federal em seu artigo 5º, LXXII, conceder-se-á "habeas-data": para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de

registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo.

A matéria encontrse regulamentada na Lei 9.507/97, que dispõe que o requerimento será a-presentado ao órgão ou entidade depositária do registro ou banco de dados e será deferido ou indeferi-do no prazo de quarenta e oito horas, senindeferi-do que a decisão será comunicada ao requerente em vinte e quatro horas.

Conforme estabelece a Lei 9.507/97, é hipótese de concessão do habeas data:

A) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de cará-ter público;

B) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

C) para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável. No que se refere à petição inicial, esta deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Có-digo de Processo Civil de 1973 (art. 319 do CóCó-digo de Processo Civil de 2015), sendo apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda. A peti-ção inicial deverá ser instruída, ainda, com prova: da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão; da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° da lei 9.507/97 ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão.

Art. 9° Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique o coator do conteúdo da petição, entregando-lhe a segunda via apresentada pelo impetrante, com as có-pias dos documentos, a fim de que, no prazo de dez dias, preste as informações que julgar necessárias.

Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, quando não for o caso de habeas data, ou se lhe faltar algum dos requisitos previstos nesta Lei.

Parágrafo único. Do despacho de indeferimento caberá recurso previsto no art. 15. Art. 11. Feita a notificação, o serventuário em cujo cartório corra o feito, juntará aos autos cópia autêntica do ofício endereçado ao coator, bem como a prova da sua en-trega a este ou da recusa, seja de recebê-lo, seja de dar recibo.

Art. 12. Findo o prazo a que se refere o art. 9°, e ouvido o representante do Ministé-rio Público dentro de cinco dias, os autos serão conclusos ao juiz para decisão a ser proferida em cinco dias.

Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz marcará data e horário pa-ra que o coator:

I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de registros ou bancos de dados; ou

II - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos assentamen-tos do impetrante.

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Art. 14. A decisão será comunicada ao coator, por correio, com aviso de recebimen-to, ou por telegrama, radiograma ou telefonema, conforme o requerer o impetrante. Parágrafo único. Os originais, no caso de transmissão telegráfica, radiofônica ou te-lefônica deverão ser apresentados à agência expedidora, com a firma do juiz devi-damente reconhecida.

Art. 15. Da sentença que conceder ou negar o habeas data cabe apelação. Parágrafo único. Quando a sentença conceder o habeas data, o recurso terá efeito meramente devolutivo.

Art. 16. Quando o habeas data for concedido e o Presidente do Tribunal ao qual competir o conhecimento do recurso ordenar ao juiz a suspensão da execução da sentença, desse seu ato caberá agravo para o Tribunal a que presida.

Art. 17. Nos casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos demais Tri-bunais, caberá ao relator a instrução do processo.

Art. 18. O pedido de habeas data poderá ser renovado se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito.

Art. 19. Os processos de habeas data terão prioridade sobre todos os atos judiciais, exceto habeas-corpus e mandado de segurança. Na instância superior, deverão ser levados a julgamento na primeira sessão que se seguir à data em que, feita a distri-buição, forem conclusos ao relator.

Parágrafo único. O prazo para a conclusão não poderá exceder de vinte e quatro horas, a contar da distribuição.

Art. 20. O julgamento do habeas data compete: I - originariamente:

a) ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do Presidente da República, das Me-sas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da Uni-ão, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de Ministro de Estado ou do próprio Tribunal;

c) aos Tribunais Regionais Federais contra atos do próprio Tribunal ou de juiz fede-ral;

d) a juiz federal, contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de compe-tência dos tribunais federais;

e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na Constituição do Estado; f) a juiz estadual, nos demais casos;

II - em grau de recurso:

a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a decisão denegatória for proferida em ú-nica instância pelos Tribunais Superiores;

b) ao Superior Tribunal de Justiça, quando a decisão for proferida em única instân-cia pelos Tribunais Regionais Federais;

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d) aos Tribunais Estaduais e ao do Distrito Federal e Territórios, conforme dispuse-rem a respectiva Constituição e a lei que organizar a Justiça do Distrito Federal; III - mediante recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previs-tos na Constituição.

Art. 21. São gratuitos o procedimento administrativo para acesso a informações e retificação de dados e para anotação de justificação, bem como a ação de habeas data.

DECISÃO RELEVANTE SOBRE O ‘HABEAS DATA’ NO STF:

“Habeas data” e informações fazendárias - 1 O “habeas data” é a garan-tia constitucional adequada para a obtenção, pelo próprio contribuinte, dos dados concernentes ao pagamento de tributos constantes de siste-mas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais. (...) O Colegiado afirmou que o “habeas data” seria ação constitucional voltada a garantir o acesso de uma pes-soa a informações sobre ela, constantes de arquivos ou bancos de dados de entidades governamentais ou públicas (CF, art. 5º, LXXII, a). Estaria à disposição dos cidadãos para que pudessem implementar direitos subje-tivos obstaculizados, alcançáveis por meio do acesso à informação e à transmissão de dados. A sua regulamentação legal (Lei 9.507/1997) de-monstraria ser de caráter público todo registro ou banco de dados con-tendo informações que fossem ou que pudessem ser transmitidas a ter-ceiros, ou que não fossem de uso privativo do órgão ou entidade produ-tora ou depositária dessas informações. A lei não teria por objetivo ne-gar a seu próprio titular o conhecimento das informações que a seu res-peito estivessem cadastradas junto às entidades depositárias. Pretende-ria, na verdade, restringir a divulgação a outros órgãos ou a terceiros. No caso, o Sincor registraria os dados de apoio à arrecadação federal ao ar-mazenar os débitos e créditos existentes acerca dos contribuintes. En-quadrar-se-ia, assim, no conceito mais amplo de arquivos, bancos ou re-gistros de dados, entendidos em sentido “lato”, para abranger tudo que dissesse respeito ao interessado, direta ou indiretamente. Os legitimados ativos para a propositura da ação seriam pessoas físicas e jurídicas, nacio-nais e estrangeiras. Em relação aos contribuintes, seria assegurado o di-reito de conhecer as informações que lhes dissessem respeito em bancos de dados públicos ou de caráter público, em razão da necessidade de pre-servar seu nome, planejamento empresarial, estratégia de investimento e, em especial, a recuperação de tributos pagos indevidamente, entre ou-tras. Assim, essas informações não seriam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária, mas diriam respeito ao próprio con-tribuinte. Seria diferente se fossem requeridas pelos contribuintes infor-mações sobre o planejamento estratégico do órgão fazendário, a ensejar o desprovimento do recurso. Entretanto, os extratos atinentes às anota-ções constantes do Sincor e outros sistemas informatizados de apoio à ar-recadação federal, quanto ao pagamento de tributos federais, não envol-veriam a hipótese de sigilo legal ou constitucional, uma vez requeridos pe-lo próprio contribuinte, sobre dados próprios. Nesse sentido, dever-se-ia entender como possível a impetração do “habeas data” de forma a es-clarecer à pessoa física ou jurídica os valores por ela pagos a título de tributos ou qualquer outro tipo de pagamento constante dos registros da Receita Federal ou qualquer outro órgão fazendário das entidades

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tatais (...) c) as informações seriam inúteis como prova de eventual pa-gamento indevido, a ser utilizada no âmbito de ação de repetição de in-débito, em face de seu caráter provisório; d) o “habeas data” seria des-necessário para a obtenção das informações acerca dos seus débitos tri-butários e pagamentos realizados, posto que o contribuinte deveria tê-los em sua contabilidade; e e) o risco para a ordem administrativa de-corrente do efeito multiplicador de eventual precedente no sentido do cabimento do “habeas data” na hipótese.. (RE 673707/MG, rel. Min. Luiz Fux, 17.6.2015, grifo nosso)

2.4 AÇÃO POPULAR

Encontra previsão na Constituição Federal, no art. 5º, inciso LXXIII, bem como regulamentação pela Lei 4.717/65.

A Ação Popular visa a defesa dos interesses da coletividade, perante os gestores do patrimônio público. Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades au-tárquicas, de sociedades de economia mista, de sociedades mútuas de seguro nas quais a União repre-sente os segurados aurepre-sentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cin-qüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subven-cionadas pelos cofres públicos. Pela ação popular são tutelados interesses difusos ou coletivos pertinen-tes aos cidadãos brasileiros, à coletividade.

Três requisitos constitucionais devem ser observados para intentar a Ação Popular:

a. a condição de cidadão brasileiro; (pessoa física, pessoa jurídica não está legitimada)

b. a ilegalidade do ato a invalidar;

c. a lesividade do ato para o patrimônio público.

Consideram-se patrimônio público para os fins referidos na ação popular, os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico.

Legitimidade Ativa: qualquer cidadão poderá figurar no pólo ativo da ação popular. Pessoa

jurídi-ca, portanto, não poderá ser legitimada ativa. A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda. É facultado a qualquer cidadão habili-tar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.

Legitimidade Passiva: contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem

au-torizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportu-nidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo. Qualquer pessoa, beneficiada ou responsável pelo ato impugnado, cuja existência ou identidade se torne conhecida no curso do processo e antes de proferida a sentença final de primeira instância, deverá ser citada para a integração do contraditório, sendo-lhe restituído o prazo para contestação e produção de provas.

Súmula 101 STF “O mandado de segurança não substitui a ação popular” Súmula 365 STF “Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular”

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19 A pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente. O Ministério Público funciona com custos legais ou prossegue com a ação se o Autor desistir.

O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias, prorrogáveis por mais 20 (vinte), a requerimento do interessado, se particularmente difícil a produção de prova documental, e será comum a todos os inte-ressados, correndo da entrega em cartório do mandado cumprido, ou, quando for o caso, do decurso do prazo assinado em edital.

A sentença tem força constitutiva e condenatória, uma vez que, sendo procedente a ação popu-lar, a sentença decretará a invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os responsáveis pela sua prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva contra os funcionários causadores de dano, quando incorrerem em culpa.

A sentença incluirá sempre, na condenação dos réus, o pagamento, ao autor, das custas e demais despesas, judiciais e extrajudiciais, diretamente relacionadas com a ação e comprovadas, bem como o dos honorários de advogado.

Sendo o valor da lesão provado no curso da causa, será indicado na sentença. Dependendo de avaliação ou perícia, será apurado na execução.

Quando a lesão resultar da falta ou isenção de qualquer pagamento, a condenação imporá o pa-gamento devido, com acréscimo de juros de mora e multa legal ou contratual, se houver. Quando a lesão resultar da execução fraudulenta, simulada ou irreal de contratos, a condenação versará sobre a reposi-ção do débito, com juros de mora.

A parte condenada a restituir bens ou valores ficará sujeita a sequestro e penhora, desde a prola-ção da sentença condenatória. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga omnes", exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer cida-dão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal. Da sentença que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo. Das decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento. Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da ação e suscetíveis de recurso, poderá recorrer qualquer cidadão e também o Ministério Público.

Quando o réu condenado perceber dos cofres públicos, a execução far-se-á por desconto em fo-lha até o integral ressarcimento do dano causado, se assim mais convier ao interesse público. A ação popular prescreve em 5 (cinco) anos, contando-se da data de publicação do ato.

DECISÕES RELEVANTES SOBRE A ‘AÇÃO POPULAR’ NO STF:

Direito Constitucional e Processual Civil. Ação popular. Condições da a-ção. Ajuizamento para combater ato lesivo à moralidade administrativa. Possibilidade. Acórdão que manteve sentença que julgou extinto o pro-cesso, sem resolução do mérito, por entender que é condição da ação popular a demonstração de concomitante lesão ao patrimônio público material. Desnecessidade. Conteúdo do art. 5º, inciso LXXIII, da Consti-tuição Federal. Reafirmação de jurisprudência. Repercussão geral reco-nhecida. (...). (ARE 824781 RG, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, julgado em 27/08/2015, grifo nosso ).

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AÇÃO POPULAR – AJUIZAMENTO CONTRA A PRESIDENTE DA REPÚBLICA – FALTA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – REGIME DE DIREITO ESTRITO A QUE SE SUBMETE A DEFINIÇÃO CONSTI-TUCIONAL DA COMPETÊNCIA DA CORTE SUPREMA – DOUTRINA – PRECE-DENTES – AÇÃO POPULAR NÃO CONHECIDA – RECURSO DE AGRAVO IM-PROVIDO. – Não compete ao Supremo Tribunal Federal processar e jul-gar, originariamente, ação popular ajuizada contra a Presidente da Re-pública. Precedentes. – A ação popular não se qualifica como sucedâneo dos instrumentos de controle concentrado de constitucionalidade nem viabiliza o exame “in abstracto” de situações jurídicas formadas sob a égide da legislação em vigor. (Pet 5859 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 25/11/2015, grifo nosso).

2.5 AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Conforme estabelecido pelo artigo 1º da Lei 7.347/1985:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popu-lar, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causa-dos:

l - ao meio-ambiente; ll - ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisa-gístico;

IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. V - por infração da ordem econômica;

VI - à ordem urbanística;

VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos; VIII – ao patrimônio público e social;

Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular preten-sões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Ga-rantia do Tempo de Serviço – FGTS ou outros fundos de natureza institu-cional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.

No que se refere aos direitos difusos, temos como os transindividuais de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato (art. 81, parágrafo único, I, CDC) – dispersos pela sociedade civil como um todo (meio ambiente, consumidor, ordem eco-nômica).

Já os Interesses Coletivos são os transindividuais de natureza indivisível, de que seja titular gru-po, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base (art. 81, parágrafo único, II, CDC).

Os Interesses Individuais Homogêneos situam-se dentro da órbita de cada indivíduo – decorren-tes de origem comum. São divisíveis e seus titulares são determinados. Também podem ser defendidos na Ação Civil Pública, embora a lei não refira expressamente. Isto porque o próprio art. 91 do CDC autori-za a proteção.

Importante referir que o ajuizamento de Ação Civil Pública não impede a propositura de ações individuais sobre a mesma causa de pedir e pedido, nem induz litispendência, conforme entendimento jurisprudencial, a saber:

“1. A existência de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público não impede o ajuizamento da ação individual com idêntico objeto. Desta for-ma, no caso não há ocorrência do fenômeno processual da litispendência,

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21 visto que a referida ação coletiva não induz litispendência quanto às a-ções individuais”. (AgRg no Ag 1400928/RS, Rel. Ministro BENEDITO GON-ÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/12/2011, DJe 13/12/2011). “1. Ajuizada ação coletiva atinente a macro-lide geradora de processos multi-tudinários, suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva.” (REsp 1110549/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, SE-GUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2009, DJe 14/12/2009).

Súmula 329 STJ: “O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil públi-ca em defesa do patrimônio público”.

“O Ministério Público não tem legitimidade para promover ação civil pública com o objetivo de impedir a cobrança de tributos na defesa de contribuintes, pois seus in-teresses são divisíveis, disponíveis e individualizáveis, oriundos de relações jurídi-cas assemelhadas, mas distintas entre si. Contribuintes não são consumidores, não havendo como se vislumbrar sua equiparação aos portadores de direitos difusos ou coletivos”. (STJ, REsp 82.461).

Questão interessante retratada em concurso de ponta refere-se à possibilidade de ocorrer Ação Civil Pública em face de majoração supostamente abusiva de tarifas, como no caso de transporte coleti-vo. A resposta é afirmativa, isto porque não há que se confundir o conceito de tarifa com o de taxa, tendo esta eminentemente carga tributária. Como tarifa não é tributo, poderá ser ajuizada Ação Civil Pública para aumento abusivo de tarifa de transporte.

A tutela a ser buscada na Ação Civil Pública poderá tanto ser repressiva, como preventiva ou ini-bitória, conforme autorizado pelo art. 3ºda Lei 7.347/85. Na hipótese de condenação, não se tratando de dano indenizatório ao autor, mas sim à coletividade, a indenização pelo dano causado é revertida a fundo especial, com destinação para a reconstituição dos bens lesados, havendo previsão específica na hipótese do art. 13 da Lei 7.347/85, a saber:

Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado rever-terá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comuni-dade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.

§ 1º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em esta-belecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 12.288, de 2010)

§ 2º Havendo acordo ou condenação com fundamento em dano causado por ato de discriminação étnica nos termos do disposto no art. 1º desta Lei, a prestação em di-nheiro reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e será utilizada para a-ções de promoção da igualdade étnica, conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos Con-selhos de Promoção de Igualdade Racial estaduais ou locais, nas hipóteses de da-nos com extensão regional ou local, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)

A presença de medidas indutivas ao cumprimento, igualmente é visualizada na Ação Civil Pública, a saber:

Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a ces-sação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requeri-mento do autor.

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Acerca da competência, assim refere o art. 2º da Lei da Ação Civil Pública:

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocor-rer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

Pela ordem legal, a competência será do foro do local onde ocorrer o dano. Ocorrendo em mais de uma comarca é competente qualquer uma delas, resolvendo-se a questão pela prevenção. Sobre o tema e a extensão dos efeitos há grande debate jurisprudencial.

Na hipótese de Ação Civil Pública que envolva direito do consumidor, aplica-se o art. 93 do CDC que assim dispõe:

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local; II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

A respeito do assunto, importa colacionar:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SERVIÇO POSTAL. ECT. LITISCONSÓRCIO. UNIÃO. NÃO OCORRÊNCIA. ENTREGAS INDIVIDUALIZADAS DE OBJETOS DE COR-RESPONDÊNCIAS EM CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS E VERTICAIS, RESI-DENCIAIS OU COMERCIAIS. ABRANGÊNCIA DA DECISÃO. ALÍNEA "C". DI-VERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADA. 1. No que se prende à abrangência da sentença prolatada em ação civil pública relativa a di-reitos individuais homogêneos, a Corte Especial decidiu, em sede de re-curso repetitivo, que "os efeitos e a eficácia da sentença não estão cir-cunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474, CPC e 93 e 103, CDC)". (REsp 1243887/PR, Rel. Mi-nistro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado sob a sistemática pre-vista no art. 543-C do CPC, DJ 12/12/2011). 2. Desse modo, os efeitos do acórdão em discussão nos presentes autos são erga omnes, abrangendo a todas as pessoas enquadráveis na situação fático-jurídica descrita no julgado, independentemente da competência do órgão prolator. Não fosse assim, haveria graves limitações à extensão e às potencialidades da ação civil pública, o que não se pode admitir. 3. Com relação à alínea "c" do permissivo constitucional, observa- se que o recurso especial não logrou demonstrar o dissídio jurisprudencial porquanto coligiu preceden-tes superados pelo aludido recurso representativo da controvérsia. 4. A-gravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 601.989/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/03/2015, DJe 18/03/2015).

SÚMULA 489 STJ: Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as a-ções civis públicas propostas nesta e na Justiça Estadual.

Referências

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