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153 153 De acordo com a Súmula 45 do Superior Tribunal de Justiça, este princípio aplica-se também nos

casos de reexame necessário. Entendemos que o disposto nesta súmula foi recepcionado pelo novo diploma legal.

17.1.8. Princípio da fungibilidade: o NCPC, seguindo a mesma linha do CPC/73, não positiva de forma genérica o princípio da fungibilidade. No tocante a este aspecto, importante ressaltar que este princípio foi expressamente previsto apenas no CPC/39 (artigo 810). Em que pese a inexistência de positivação expressa, o NCPC previu duas hipóteses de fungibilidade. A primeira delas, já reconhecida amplamente pela jurisprudência das Cortes Superiores, diz respeito à fungibilidade entre o recurso de embargos de declaração e o agravo interno, prevista no artigo 1.024, § 3°. A segunda, de difícil aplicação prática, significando uma grande inovação, refere-se à fungibilidade entre recurso especial e recurso extraordinário e vice-versa, prevista nos artigos 1.032, 1.033 e 1.034. Observa-se que, nas duas hipóteses de aplicação do princípio da fungibilidade, previstas pelo novo diploma legal, não há problema algum quanto ao prazo, que poderia ser um entrave, de acordo com o entendimento dominante à luz do CPC/73, pois o recurso de embargos de declaração tem um prazo menor (5 dias, de acordo com o artigo 1.023) do que o recurso de agravo interno (15 dias, de acordo com o artigo 1.021, § 2°). Em contraparti- da, tanto o recurso especial quanto o extraordinário, continuam tendo o mesmo prazo de 15 dias (artigo 1.030).

Nos demais casos, entendemos bastante complicado que se possa aplicar o princípio da fungibili- dade, principalmente diante da taxatividade das hipóteses previstas para o cabimento do recurso de agravo de instrumento (artigo 1.015 do NCPC). Ou seja, a interposição do recurso de apelação nas hipó- teses previstas para o cabimento do agravo de instrumento implica em erro grosseiro, o que afasta a possibilidade de aplicação desse referido princípio. Do mesmo modo, a interposição de agravo de ins- trumento quando seria o caso de apelação, também se configura evidente erro grosseiro.

17.2 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO

Os recursos cíveis são precedidos do exame dos requisitos de admissibilidade (específicos a cada um dos recursos em espécie). A ausência de qualquer dos requisitos de admissibilidade acarreta o não conhecimento do recurso, que impede a análise do mérito.

17.2.1. Requisitos de admissibilidade: de acordo com a classificação tradicional da doutrina, os requisitos de admissibilidade se dividem em intrínsecos e extrínsecos.

17.2.1.1. INTRÍNSECOS

a) Cabimento: este requisito tem relação com os princípios da taxatividade, unicidade e fungibili- dade. Isto significa dizer que cada provimento jurisdicional, via de regra, é atacado através de um único recurso que poderá modificá-lo. Entretanto, não apenas os recursos modificam decisões judiciais, mas também os chamados sucedâneos recursais. Tratam-se de formas autônomas de impugnação que a lei não confere a natureza de recurso, mas que também modificam decisões judiciais. São exemplos de sucedâneos recursais: mandado de segurança, pedidos de reconsideração, reclamação, ação rescisória, correição parcial, etc.

b) Legitimação para recorrer: têm legitimação para interpor o recurso, as pessoas elencadas no artigo 996 do NCPC. São elas: as partes, os terceiros prejudicados e o Ministério Público. Para que os terceiros possam interpor recurso, deverão demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que

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possa discutir em juízo como substituto processual (parágrafo único do artigo 996).

O Ministério Público tem legitimação para recorrer nos processos em que for parte ou naqueles

em que atuar como fiscal da ordem jurídica. Em se tratando da interposição de recurso adesivo, discute- se se o Ministério Público teria ou não legitimação para a interposição do mesmo, naqueles casos em que atuar como fiscal da ordem jurídica, considerando que não é parte. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – que entendemos que possa continuar sendo aplicada à luz do artigo 997 do NCPC –, nega legitimação ao Ministério Público para recorrer nesta hipótese:

Recurso Especial – Ministério Público – Legitimidade – O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, seja como parte ou fiscal da lei. Os recursos são os mesmos de que dispõem as partes. A única ressalva decorrer do ar- tigo 500 do CPC, quanto ao recurso adesivo. (REsp 6795/SP, Segunda

Turma, Ministro Relator Luiz Vicente Cernicchiaro, Data do Julgamento 17/12/1990, DJ 04/03/1991)

c) Interesse em recorrer: tem relação com o binômio, necessidade/utilidade, que nada mais é do que a sucumbência. Ou seja, rigorosamente, para que a parte tenha interesse em interpor qualquer recurso, deverá ter tido algum prejuízo. Todavia, há casos em que a parte vencedora – que não sucumbiu em nenhum dos pedidos – continua tendo interesse recursal. No âmbito das ações individuais, podemos exemplificar com a extinção do processo sem resolução do mérito. Neste caso, o réu é vencedor. Entre- tanto, a extinção do processo sem resolução do mérito, produz apenas coisa julgada formal, o que signi- fica dizer que a ação poderá ser ajuizada novamente. Logo, o réu terá interesse em recorrer com a finali- dade de buscar a improcedência da ação, com a extinção do processo com resolução de mérito e, conse- quentemente, a coisa julgada material. Neste caso, não poderá mais ser demandado.

Do mesmo modo, nas ações coletivas julgadas improcedentes por insuficiência de provas, o réu, que é o vencedor continuará tendo interesse em recorrer ( e, inclusive, interpor embargos de declara- ção). Nos termos do artigo 103 do Código de Defesa do Consumidor e do artigo 16 da Lei da Ação Civil Pública, a sentença de improcedência por insuficiência de provas, produz apenas a coisa julgada formal (“coisa julgada secundum eventum probationes”). Logo, a ação coletiva poderá ser ajuizada novamente, havendo interesse por parte do réu em interpor recurso contra a sentença de improcedência por insufi- ciência de provas, prolatada em uma ação coletiva.

Como se pode observar, o réu foi vencedor em ambos os exemplos acima explicitados, mas con- tinuará tendo interesse recursal. O interesse recursal reside em conseguir a coisa julgada material

d) Ausência de fato extintivo ou impeditivo do direito de recorrer: Como exemplo de fato extin- tivo, temos a renúncia ao direito de recorrer. Já, de fato impeditivo, a desistência. A parte apenas renun- cia a recurso ainda não interposto e desiste de recurso já interposto. Tanto a renúncia quanto a desistên- cia, são sempre unilaterais, prescindindo de concordância da parte contrária (artigo 998 e 999 do NCPC). Inicialmente, cabe mencionar que o Ministério Público e a Fazenda Pública não podem renunciar ao direito de recorrer, considerando a indisponibilidade dos interesses por esses entes respectivos tute- lados.

Por outro lado, o NCPC, no artigo 998, parágrafo único, positivou a possibilidade de desistência do recurso que vier a ser escolhido como paradigma, no caso de recursos repetitivos. Todavia, a desis- tência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela que seja objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.

Há várias outras discussões em torno da renúncia, a seguir elencadas:

a) será possível a renúncia ao direito de recorrer, antes da decisão judicial? É comum essa prática em acordos. Na petição de acordo, antes da decisão judicial de homologação, muitas partes cos- tumam renunciar ao direito de recorrer. Entendemos ser possível a renúncia prévia, por se tratar de direito disponível, consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça – que entendemos

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