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Dignidade da pessoa humana, direitos humanos e sistema carcerário

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PATRÍCIA CRISTINA SZULCZEWSKI

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DIREITOS HUMANOS E SISTEMA CARCERÁRIO

Três Passos 2014

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PATRÍCIA CRISTINA SZULCZEWSKI

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DIREITOS HUMANOS E SISTIMA CARCERÁRIO

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora: MSc. Ester Eliana Hauser

Três Passos (RS) 2014

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Dedico este trabalho a todas as pessoas especiais que fazem parte da minha vida e que de uma forma ou outra me apoiaram durante estes anos na minha caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, pela vida, força e coragem.

A minha família que é meu porto seguro, meus irmãos Cristiano, Alcides Neto, Rafhaela e Amandha, meu pai, Alcides Szulczewski Filho que mesmo distante sempre foi um pai preocupado com minha educação e meu bem estar, a minha mãe Janir Terezinha Herrmann que com sua ternura me encheu de carinho e amor.

A meu namorado Rodolfo Mathias Dalcin que sempre me incentivou aos estudos, se fez presente nos momentos mais felizes da minha vida e me trouxe muita paz e serenidade para que, com isto, eu pudesse fazer minhas escolhas pessoais com tranquilidade e concluir minha jornada acadêmica com êxito.

A minha orientadora Ester Eliana Hauser pela sua dedicação e disponibilidade.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, minha muito obrigada!

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“A dignidade humana está em vossas mãos: conservai-a.”

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise de como se deu o surgimento dos direitos humanos e sua posterior evolução e desenvolvimento ao longo do tempo até chegar aos dias atuais, demonstrando a integração destes direitos na Constituição brasileira de 1988 e quais são as garantias penais e processuais que eles proporcionam. Avalia o conceito do princípio de dignidade da pessoa humana relacionando-o com os direitos humanos que estão elencados no texto legal. Dispõe dados do presente nível de encarceramento nas prisões contemporâneas. Aborda brevemente os problemas encontramos dentro das penitenciárias, com estatísticas atualizadas, que vem causando dificuldades para que se possa alcançar o objetivo final da pena, ou seja, a ressocialização do apenado. E a partir desses problemas procura identificar a aplicabilidade, ou não, dos direitos humanos e do princípio da dignidade dentro do sistema carcerário, levantando o desrespeito com o cidadão preso que a falta de efetivação destes princípios pode causar.

Palavras-Chave: Dignidade. Direitos Humanos. Aplicabilidade. Sistema Carcerário.

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ABSTRACT

This present paperwork of monographic research shows an analysis of how it aroused human rights and its subsequent evolution and development through time until nowadays, demonstrating the integration of these rights at Brazilian Constitution of 1988 and what are the penal and procession guarantee which they provide. It evaluates the concept of principle of dignity of the human relating it with the human rights that are casted in legal text. It arranges data of present level of imprisoning in contemporary jails. It approaches briefly the problems found in the prison, with up-to-date statistics, which are causing difficulties to try to reach the final goal of sentence, in other words, resocialization of the prisoner. Starting from these problems looks to identify applicability, or not, the human rights and of the principle of dignity in the prison system, boosting the disrespect with the arrested citizen that lack the effective of these principle can cause.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...09

1 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O PAPEL DOS DIREITOS HUMANOS NOS ESTADOS COMTEMPORÂNEOS...12

1.1 A Consolidação normativa dos direitos humanos: antecedentes históricos...12

1.2 Direitos humanos e direitos fundamentais...16

1.3 A dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais na Constituição brasileira de 1988...21

1.4 Os direitos humanos e as garantias penais...24

2 SISTEMA CARCERÁRIO E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA...29

2.1 A prisão como pena e a expansão do cárcere no mundo contemporâneo...29

2.2 O sistema penitenciário brasileiro: dados estatísticos...34

2.3 A execução penal no Brasil...37

2.3.1 A perspectiva normativa...38

2.3.2 A realidade operacional...46

2.4 As garantias penais e a função punitiva nos Estados Democráticos de Direito: considerações sobre a ilegitimidade da execução penal no Brasil...52

CONCLUSÃO...60

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INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como tema o princípio da dignidade humana, os direitos humanos e o sistema carcerário e busca analisar em que medida tais direitos são protegidos no âmbito do sistema penitenciário brasileiro.

A realidade das prisões no Brasil é lamentável. Existem inúmeros problemas, como a falta de vagas e o desrespeito aos direitos dos presos, isso acaba desencadeando a não observância do princípio da dignidade do cidadão que está confinado e a não efetivação dos seus direitos humanos que são consagrados constitucionalmente sob a forma de direitos fundamentais. Tais problemas criam a incompatibilidade da execução da pena com seu objetivo final e consequentemente gera a não ressocialização do indivíduo.

Diante desta realidade o estudo busca responder questionamentos como: Qual é a eficácia, no âmbito do sistema carcerário brasileiro, das garantias encontradas na Constituição Federal de 1988, notadamente a garantia da dignidade da pessoa humana? É possível falar em ressocialização do apenado? A função da pena se compatibiliza com a ideia de dignidade humana e com os direitos fundamentais da pessoa presa?

Apesar da Constituição Federal de 1988 ser prolixa e trazer um rol extenso de garantias fundamentais, tanto penais como processuais penais, na realidade essas garantias não tem eficácia, ou seja, são apenas idealizadas e não tem efetividade prática.

A ressocialização e a reinserção, na sociedade, do indivíduo que cometeu a infração e cumpriu com sua obrigação, frente ao Estado, é vista como a finalidade principal da pena,

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mas essa finalidade, infelizmente, não é efetivada, pelo fato do sistema carcerário não ter mecanismos eficazes para atingir esse objetivo.

A relevância deste tema se faz impar entre os estudantes de direito e todos os indivíduos da sociedade, pois uma pessoa que fica confinada, em um local sem dignidade, sem direitos humanos, sem o mínimo de respeito, não terá condições de se relacionar em harmonia com os demais quando deixar a prisão.

O trabalho busca diversas fontes de consulta, baseando-se na Constituição Federal de 1988, em estatísticas atualizadas colhidas dentro das penitenciárias e em obras renomadas.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento é especialmente a pesquisa bibliográfica, complementada por artigos, textos e legislação.

Para desenvolver o estudo, no primeiro capítulo será apresentado o tema dos direitos humanos desde seus antecedentes históricos, analisando, sua evolução e desenvolvimento no decorrer dos anos, as declarações de direitos e as gerações de direitos. Nele far-se-á referência ao processo de consolidação, positivação, dos direitos humanos como direitos fundamentais nas constituições contemporâneas e se abordará o conceito de dignidade humana, baseando-se em diversos autores e relacionando as garantias penais e processuais presentes na Constituição Federal de 1988, dando ênfase aos princípios da legalidade, da jurisdicionalidade e demonstrando, ao mesmo tempo, que os mesmos representam limites ao poder de punir conferido ao Estado.

Na sequência, no segundo capítulo, são apresentados dados reais do sistema carcerário, trabalhados em porcentagem para melhor compreensão e visualização, destacando a quantidade de presos, quantos trabalham, o número de vagas por preso, sua idade e escolaridade, assim como os crimes com mais incidência entre outro critérios considerados relevantes para o estudo. Posteriormente será trabalhada a Lei de Execução Penal, em relação aos direitos e deveres do preso, mesclando com os consagrados na Constituição Federal de 1988, destacando o sistema progressivo adotado pela legislação brasileira e salientando a função ressocializadora da pena. Será também destacada a realidade operacional do cárcere, demostrando com base em notícias, históricas e atualizadas, a falta de dignidade do preso dentro das penitenciárias. Por fim, será demostrada a ilegitimidade da execução penal no

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Brasil, que traz a crise presente no sistema carcerário que pode ser conceituado como ineficaz e falho, com fundamentando em princípios constitucionais e na realidade encontrada dentro dos presídios.

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1 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O PAPEL DOS DIREITOS HUMANOS NOS ESTADOS COMTEMPORÂNEOS

O presente capítulo apresentará o surgimento dos direitos humanos, sua evolução no tempo, sua transformação em direitos fundamentais, ou seja, a respectiva consolidação na Constituição, juntamente com o conceito de dignidade humana, também relacionado ao que se encontra consagrado no texto legal e ainda os direitos humanos numa perspectiva voltada as garantias penais.

1.1 A Consolidação normativa dos direitos humanos: antecedentes históricos

Ao discutir as condições políticas da emergência dos direitos do homem Gilmar Antonio Bedin (2000, p. 19) observa que, ao contrário do que normalmente se pensa, a noção de que os homens possuem direitos é muito recente, tendo sido construída somente na modernidade a partir do Século XVIII. Tal fato representou uma enorme ruptura com o pensamento até então construído, especialmente porque, até aquele momento histórico, os homens eram vistos apenas como detentores de deveres.

Deste modo, o surgimento dos direitos humanos, para Lilith Abrantes Bellinho (2014, p. 4) aconteceu a partir do momento em que “se analisou o nascimento espiritual do ser humano [...] E foi no período axial que foram instituídos os grandes princípios e diretrizes fundamentais de vida presentes até hoje.”

Para Bellinho (2014, p. 5) historicamente,

[...] diversos documentos contribuíram para a concretização dos direitos humanos como antecedentes das declarações positivas de direitos. Porém, esses documentos não eram cartas de liberdade do homem comum, mas sim, contratos feudais escritos nos quais o rei comprometia-se a respeitar os direitos de seus vassalos.

Como demonstra o autor os direitos humanos vieram se desenvolvendo lentamente com o passar dos anos, desde os feudos.

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[...] como marco teórico o pós 2ª Guerra Mundial, na qual ocorreram as grandes violações de direitos humanos tendo em vista as atrocidades cometidas nesse período. A partir de então, os direitos humanos passaram a ser uma grande questão de interesse da comunidade internacional, e não mais somente do Estado [...]

Norberto Bobbio (1992, p. 49) também observa que “somente depois da Segunda Guerra Mundial é que esse problema passou da esfera nacional para a internacional envolvendo [...] todos os povos.”

A primeira ideia que se tinha, era de que o Estado vinha antes das pessoas, isso precisou mudar acontecendo uma inversão para que se pudesse começar a falar em direitos e não tão somente em deveres do homem. Sobre a questão dispõe Bedin (2000, p. 35, grifo do autor):

A nova perspectiva ou o novo modelo, inaugurado com as inversões anteriormente referidas, ao contrario, se coloca, entre outros motivos, por defender que as partes são anteriores e superiores ao todo, do ponto de vista dos governados, ou seja, ex parte populi. Daí, portanto, possuir como temas essenciais a questão do indivíduo, da igualdade, do contrato e da soberania popular.

Esta inversão da perspectiva de analise das relações politicas é fundamental, pois estabelece um divisor de águas entre as sociedades tradicionais e a sociedade moderna. Além disto, constitui-se, no que se refere ao mundo jurídico, na condição de possibilidade da existência dos direitos do homem. Sem esta inversão, portanto, não há como se falar em direitos do homem, mas simplesmente em deveres.

O autor nos mostra que foi necessária essa troca, colocando as partes numa posição anterior a do Estado para que surgissem os direitos do homem num contexto onde só existiam deveres.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão datada em 26 de agosto de 1789 é a mais conhecida e tem grande relevância por ter inspirado as demais declarações de direitos. O fato de ter sido a mais famosa não quer dizer que ela foi a primeira declaração disponível, “não foi ela a que mais cedo veio à luz: foi a Declaração dos Direitos editada pela Virgínia em 12 de junho de 1776 [...]”, conforme Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2012, p. 37-38).

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Se do ângulo doutrinário a Declaração é a renovação do pacto social, o seu preâmbulo é bastante claro ao apontar a finalidade última e o objetivo imediato do tento. A finalidade é, em última análise, proteger os direitos do Homem contra os atos do Governo, e é expressa a menção ao Poder Legislativo e ao Poder Executivo. O objetivo imediato é de caráter pedagógico: instituir os indivíduos de seus direitos fundamentais, “recordando-os” deles.

Dispõe o autor que o objetivo é lembrar os cidadãos de seus direitos e a finalidade é proteger do poder que o governo tem em mãos.

Para Bellinho (2014, p. 14) atualmente o conceito de direitos humanos foi inserido a partir “da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993.”

Em relação às gerações de direitos, Bedin (2000, p. 43) entende que “a primeira geração de direitos surgiu com as Declarações de Direitos de 1776 (Declaração da Virgínia) e de 1789 (Declaração da França) e pode ser denominada de direitos civis ou liberdades civis clássicas.”

Segundo Bedin (2000, p. 43):

[...] estes direitos estabelecem um marco divisório entre a esfera pública (Estado) e a esfera privada (sociedade civil). Esta distinção entre a esfera pública e a esfera privada – é bom ressaltar – é umas das características fundamentais da sociedade moderna, e é a partir dela que se estrutura o pensamento liberal e o pensamento democrático.

Assim fica entendido que os direitos civis vieram trazendo uma separação entre o público e o privado, e buscando proteger, para Bedin (2000, p. 43): “a) as liberdades físicas; b) as liberdades de expressão; c) a liberdade de consciência; d) o direito de propriedade privada; e) os direitos da pessoa acusada; f) as garantias dos direitos.”

Os direitos políticos são considerados a segunda geração de direitos, embasando dispõe Bedin (2000, p. 56):

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A vinculação, [...] entre direitos civis e direitos políticos, no entanto, não nos deve impedir de compreender a especificidade de cada uma dessas gerações de direitos. A primeira, como vimos, se caracteriza ou se distingue pelo fato de os direitos por ela abrangidos serem considerados direitos negativos, ou seja, direitos estabelecidos contra o Estado. A segunda geração de direitos, por outro lado, se caracteriza ou se distingue pelo fato de os direitos por ela compreendidos serem considerados direitos positivos, isto é direitos de participar no Estado.

Conforme expõe o autor, por mais que a segunda geração seja vista como continuidade da primeira, não pode se perder a distinção dos conceitos de cada uma. Os direitos políticos são: “a) direitos ao sufrágio universal; b) direito de constituir partidos políticos; c) direito de plebiscito, de referendo e de iniciativa popular”, de acordo com Bedin (2000, p. 57).

Na terceira geração de direitos nos deparamos com o dever que o Estado tem para com o cidadão. Bedin (2000, p. 62) ensina que são “os direitos que tornam o Estado devedor dos indivíduos, particularmente dos indivíduos trabalhadores e dos indivíduos marginalizados.” José Afonso da Silva (1993) citado por Bedin (2002, p. 63) classifica que são direitos desta geração “a) os direitos relativos ao homem trabalhador; b) os direitos relativos ao homem consumidor.”

Já a quarta geração de direitos, que seriam os direitos de solidariedade, conforme Paulo Bonavides (1993) (apud BEDIN, 2000, p. 73), “[...] não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Têm primeiro por destinatário o gênero humano [...]”

Além disso, Lafer (1991) e Bonavides (1993) citados por Bedin (2002, p. 74) selecionam os direitos de solidariedade como sendo “a) direitos ao desenvolvimento; b) direito ao meio ambiente sadio; c) direito à paz; d) direito à autodeterminação dos povos.”

Nas palavras de Ferreira Filho (2012, p. 76, grifo do autor), os principais direitos de solidariedade são “o direito à paz, o direito ao desenvolvimento, o direito ao meio ambiente e o direito ao patrimônio a dispor deles próprio (direito à autodeterminação dos povos) e o direito à comunicação.”

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Em síntese, em relação a toda história da evolução dos direitos humanos Fábio Konder Comparato citado por Sidney Guerra (2012, p. 94) observa que:

[...] a parte mais bela e importante de toda a História: a revelação de que todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza. É o reconhecimento universal de que, em razão dessa radical igualdade, ninguém – nenhum indivíduo, gênero, etnia, classe social, grupo religioso ou nação – pode afirmar-se superior aos demais.

Nas belas palavras do autor chega-se a conclusão de que apesar das diferenças, todos os seres humanos merecem o mesmo respeito independente de suas origens e classificações.

1.2 Direitos humanos e direitos fundamentais

Para Bobbio (1992, p. 17) o conceito de direitos humanos encontra dificuldades por ter definições tautológicas, assim “direitos do homem são os que cabem ao homem enquanto homem” a expressão fica vaga, ou limitada a dizer algo sobre o estudo como “direitos do homem são aqueles que pertencem, [...] a todos os homens, ou dos quais nenhum homem pode ser despojado”, nas palavras de Bobbio (1992, p. 17), percebe-se que o conceito não consegue ser específico.

Já o conceito de direitos humanos, para Vieira Andrade (2014) (apud BORGES, 2014),

na visão filosófica ou jusnaturalista que numa primeira perspectiva passou a considerar os direitos humanos, eles foram recebidos pelo direito natural e considerados como direitos de toda e qualquer ser humano a qualquer tempo e lugar, vistos como imexíveis, absolutos. Este conceito era o aceito numa perspectiva anterior ao Estado, e não desapareceu, pois toda vez que há uma dificuldade para se aplicar os direitos humanos elencados no texto legal ele vem como norte orientador.

Com a evolução dispõe Andrade (2014) (apud BORGES, 2014 grifo do autor) que:

Numa segunda perspectiva, impulsionada pelos efeitos do pós guerra (II Grande Guerra), os direitos humanos são concebidos como direitos de todas as pessoas, em

todos os lugares, sendo declarados, pactuados e convencionados para serem

promovidos e protegidos no âmbito da comunidade internacional, numa visão

universalista ou internacionalista. E numa terceira perspectiva, os direitos humanos

são entendidos como direitos das pessoas ou de certas categorias de pessoas, num

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direitos positivos, constitucionalizados, tornando-se, assim, por meio da consagração constitucional, direitos fundamentais, caracterizando uma visão

constitucionalista de tais direitos. Hoje, impulsionados por esse movimento

constitucionalista, já não existem notícias de constituições que não apresentam disposições que destaquem os direitos fundamentais como direitos humanos

constitucionalizados.

Para João Batista Herkenhoff (1994) (apud BORGES, 2014, grifo do autor) atualmente direitos humanos são “aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua natureza humana, pela dignidade que a ele é inerente.”

Selma Regina Aragão (2000) (apud BORGES, 2014, grifo do autor), também na busca de uma definição para o que são os direitos humanos dispõe que “os direitos em função da natureza humana, reconhecidos universalmente pelos quais indivíduos e humanidade, em geral, possam sobreviver e alcançar suas próprias realizações.”

Já Maria Victória Benevides (1994) (apud BORGES, 2014, grifo do autor) entende que:

[...] os direitos humanos são aqueles direitos comuns a todos os seres humanos, sem

distinção de raça, sexo, classe social, religião, etnia, cidadania política ou julgamento moral. São aqueles que decorrem do reconhecimento da dignidade intrínseca a todo ser humano. Independente do reconhecimento formal dos poderes públicos – por isso são considerados naturais ou acima e antes da lei -, embora devam ser garantidos por esses mesmos poderes.

Ferreira Filho (2012, p. 49) explica em seu livro que a busca por um fundamento sólido para os direitos do homem não é uma tarefa fácil:

Para os adeptos do direito natural não há dificuldades na resposta. O fundamento de tais direitos é a natureza humana.

Mas para os que renegam essa doutrina, a resposta é mais difícil (ao menos para os que não fogem à questão, alegando ser ela metajurídica...).

Para uns, esses direitos baseiam-se numa experiência comum às sociedades contemporâneas, o que é insustentável porque, por um lado, nem todas elas creem em direitos fundamentais, por outro, a prática é antes a negação que a afirmação desses direitos.

Para outros – e entre eles parecem encontrar-se os redatores da Declaração Universal de 1948 – constituem “um ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações”. O que vem refletir uma visão otimista do progresso e da história como marcha em sentido determinado.

E disto não se está longe das teses – fora da moda, politicamente incorretas mas subjacente ao pensamento de muitos autores – que invocaram a civilização, ou os povos cultos, como modelo.

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Percebe-se que para uns o fundamento dos direitos humanos está na própria natureza, outros se baseiam, ao contrário, numa visão historicista, afirmando que os direitos humanos são frutos das experiências passadas, havendo contradições, e ainda alguns acreditam que seriam a busca da humanidade.

Os direitos fundamentais que encontramos nas constituições contemporâneas e na Constituição Federal de 1988 são os direitos humanos evoluídos e integrados aos textos legais. Desta forma, segundo Darcísio Corrêa (2010, p. 29):

Se a justificação filosófica dos direitos humanos busca uma base extrassocial que lhes garante um certo caráter de universalidade, os direitos fundamentais representam sua constitucionalização, reconhecendo nessas exigências ético-politicas de maior abrangência um caráter de juridicidade. Ao se constitucionalizarem em determinado Estado Democrático de Direitos, passam a ser assumidos como referência norteadora das ações da coletividade politica.

Assim fica esclarecido pelo autor, que a partir do momento que os direitos humanos foram consagrados em uma constituição assumiram um posicionamento jurídico e se firmam como direitos fundamentais.

Bonavides (1998) (apud BORGES, 2014, grifo do autor) entende que:

quem diz direitos humanos, diz direitos fundamentais, e quem diz estes diz aqueles, sendo aceitável a utilização das duas expressões indistintamente, como sinônimas. Porém, afirma que razões de vantagem didática recomendam, para maior clareza e precisão, o uso das duas expressões com leve variação de percepção, sendo a fórmula direitos humanos, por suas raízes históricas, adotada para referir-se aos direitos da pessoa humana antes de sua constitucionalização ou positivação nos ordenamentos nacionais, enquanto direitos fundamentais designam os direitos humanos transladados para os espaços normativos.

O autor demostra que os direitos fundamentais são os direitos humanos consolidados nos textos legais. Fica claro que quando os direitos humanos se positivaram nas Constituições passaram a assumir a forma de direitos fundamentais, assim esses temas estão tão entrelaçados que podem ser vistos como sinônimos um do outro e são usadas diferenciações para melhor entendimento.

Já nas palavras de J. J. Gomes Canotilho (2002) (apud BORGES, 2014, grifo do autor):

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Direitos humanos e direitos fundamentais são termos utilizados, no mais das vezes,

como sinônimos. Entretanto, segundo a origem e o significado, podem ter a seguinte distinção: direitos do homem são direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos (dimensão jusnaturalista-universalista): direitos fundamentais são os direitos do homem, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espacio-temporalmente. Os direitos humanos arrancariam da própria natureza humana e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal: os direitos fundamentais seriam os direitos objetivamente vigentes numa ordem jurídica concreta.

Assim nota-se pelas palavras do autor que os direitos fundamentais são os direitos humanos garantidos nas Constituições.

Sobre direitos humanos dispõe Perez Luño (1990) (apud BORGES, 2014, grifo do autor):

[...] que os direitos humanos sejam entendidos como sendo um conjunto de

faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humana, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional.

Ao passo que os direitos humanos foram declarados, com o decorrer dos anos, e positivamos nas Constituições dos Estados, começaram a ser chamados de direitos fundamentais, ensina Rogério Greco (2011, p. 50).

Assim conforme Gerhard Oestreich (apud GRECO, 2011, p. 50) “direitos fundamentais seriam os direitos humanos reconhecidos, formalmente, nos textos constitucionais.”

Ferrajoli (apud GRECO, 2011, p. 51, grifo do autor) nos fornece,

[...] uma definição teórica, puramente formal ou estrutural, de „direitos fundamentais‟: são „direitos fundamentais‟ todos aqueles direitos subjetivos que correspondem universalmente a „todos‟ os seres humanos enquanto dotados do

status de pessoas, de cidadãos ou pessoas com capacidade de atuar.

Deste modo, percebe-se que os direitos humanos estão estritamente relacionados com os seres humanos, nasceram para garantir uma humanização entre os povos.

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Anteriormente os direitos humanos eram visto apenas como direitos naturais, não tinham uma formalidade, ou seja, eles não eram positivados no texto legal e o cidadão para evitar o abuso do poder do Estado tinha que usar da sua força e resistência, atualmente, “com a transformação dos direitos humanos em direitos fundamentais [...], esse direito de resistência foi eliminado”, pois surgiram as garantias fundamentais que amparam os indivíduos, conforme Greco (2011, p. 51).

Ao abordar os direitos fundamentais especificamente nas Constituições brasileiras Ferreira Filho (2012, p. 121) dispõe que:

Todas as Constituições brasileiras, sem exceção, enunciaram Declarações de Direitos. As duas primeiras contentaram-se com as liberdades públicas, vistas claramente como limitações ao Poder. Todas, a partir de 1934, a estas acrescentaram, na Ordem Econômica, os direitos sociais. A atual já prevê pelo menos um dos direitos de solidariedade.

Nota-se que o autor afirma que em todas as Constituições brasileiras havia direitos humanos. A vigente Constituição brasileira traz um rol extenso de direitos fundamentais, dispõe Ferreira Filho (2012, p. 121-122, grifo do autor) que:

A Constituição de 1988 apresenta algumas variações em relação ao modelo tradicional, seguido pelas anteriores.

Em primeiro lugar, ela enumera os direitos e garantias fundamentais logo num Título II, antecipando-os, portanto, à estruturação do Estado. Quis com isso marcar a preeminência que lhes reconhece. Em segundo lugar nesse Título II, no capítulo inicial enumera o que chama de “direitos e deveres individuais e coletivos”, enquanto no seguinte trata dos “direitos sociais”, para nos subsequentes reger as questões concernentes à nacionalidade, aos direitos políticos e, a final, aos partidos

políticos. Mas em terceiro lugar, deve-se registrar que noutros pontos da

Constituição são apontados direitos fundamentais, como é o caso da seção relativa às

limitações do poder de tributar.

Os direitos humanos positivados trazem uma segurança de que devem ser respeitados, e para Ferreira Filho (2012, p. 91) “o constitucionalismo [...] tem por objetivo principal assegurar os direitos fundamentais contra o Poder.”

Conforme Ferreira Filho (2012, p. 91):

No seu nascedouro, reagia ele contra a prepotência dos monarcas e os seus abusos. Hoje, ainda, tem ele de encarar o Estado como um potencial inimigo, procurando evitar que os integrantes de seus órgãos se afastem do respeito aos direitos do Homem. [...] a separação dos Poderes, da qual decorre um sistema de freios e contrapesos, constitui ela própria uma garantia desses direitos. A experiência,

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todavia, demonstra que os Poderes, especialmente o Legislativo e o Executivo, podem tornar-se violadores dos direitos fundamentais.

O autor demonstra que os direitos são uma proteção contra o poder do Estado, são limites para que nada saia do controle, para que o poder não seja absoluto.

Vislumbra-se, deste modo que os direitos humanos, a partir do seu reconhecimento normativo, passam a ser envoltos por uma proteção jurídica, pois se violados serão restaurados pelo Estado porque “uma vez reconhecidos, cabe ao Estado restaurá-los coercitivamente se violados, mesmo que o violador seja órgão ou agente do Estado” conforme Ferreira Filho (2012, p. 49).

1.3 A dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais na Constituição Brasileira de 1988

O conceito de dignidade se fundamenta no valor do cidadão, ou seja, é o seu valor mínimo, de acordo com Ingo Wolfgang Sarlet (2004, p. 40) é “o valor próprio que identifica o ser humano como tal.”

Para Sarlet (2011, p. 49) o conceito de dignidade humana não é simples e específico, deste modo uma definição clara do que seria esse princípio não é fácil de se obter, da mesma forma é difícil se encontrar um conceito satisfatório do que é a dignidade. Apesar disso, o autor elabora uma proposta de conceituação, levando em consideração sua dimensão negativa (defensiva) e positiva (prestacional).

Dispõe Sarlet (2004, p. 59-60):

Temos por dignidade humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover a participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

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[...] a dignidade da pessoa humana é uma locução tão vaga, tão metafísica, que embora carregue em si forte carga espiritual, não tem qualquer valia jurídica. Passar fome, dormir ao relento, não conseguir emprego são, [...] situações ofensivas à dignidade humana.

Conforme Michael Sachs (apud SARLET, 2011, p. 50):

[...] no caso da dignidade da pessoa, diversamente do que ocorre com as demais normar jusfundamentais, não se cuida de aspectos mais ou menos específicos da existência humana (integridade física, intimidade, vida, propriedade, etc.), mas sim, de uma qualidade tida como inerente ou como preferem outros, atribuída a todo e qualquer ser humano, de tal sorte que a dignidade [...] passou a ser habitualmente definida como constituindo o valor próprio que identifica o ser humano como tal, definição esta que, todavia, acaba por não contribuir muito para uma compreensão satisfatória do que efetivamente é o âmbito de proteção da dignidade, na sua condição jurídico-normativo. [...] não restam dúvidas de que a dignidade é algo real, já que não se verifica maior dificuldade em identificar claramente muitas das situações em que é espezinhada e agredida, [...]

Sarlet (2004, p. 62) explica que salvo algumas exceções “a dignidade da pessoa humana passou a ser reconhecida expressamente nas Constituições, notadamente após ter sido consagrada pela Declaração Universal da ONU de 1948.”

O princípio da dignidade humana está elencado na Constituição Federal de 1988 trazendo consigo a ideia de que a pessoa humana foi pressuposto para que o Estado viesse a existir. Assim de acordo com Sarlet (2004, p. 65):

Consagrado expressamente, no título dos princípios fundamentais, a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do nosso Estado democrático (e social) de Direito (art. 1º, inc. III, da CF), o nosso Constituinte de 1988 – a exemplo do que ocorreu, entre outros países, na Alemanha -, além de ter tomado uma decisão fundamental a respeito do sentido, da finalidade e da justificação do exercício do poder estatal e do próprio Estado, reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em função da pessoa humana, e não o contrário, já que o ser humano constitui a finalidade precípua, e não meio de atividade estatal.

O ser humano é visto como anterior ao Estado e também como fundamento para o exercício do poder.

No Brasil, especificamente, é preocupante o desrespeito com a dignidade humana e com os direitos humanos, conforme Guerra (2012, p. 112),

[...] embora haja uma preocupação significativa com os direitos humanos no Brasil e com a valorização da dignidade da pessoa humana, na medida em que estão

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tutelados e declarados no texto constitucional, infelizmente observamos a violação contínua dos referidos direitos e o aviltamento da dignidade humana.

O princípio da dignidade da pessoa humana impõe um dever de abstenção e de condutas positivas tendentes a efetivar e proteger a pessoa humana. É imposição que recai sobre o Estado de respeitá-lo, proteger e promover as condições que viabilizem a vida com dignidade.

A dignidade é uma qualidade intrínseca da pessoa humana que não pode ser afastada de quem quer que seja. Não se pode cogitar, [...], que uma determinada pessoa esteja despida dessa qualidade, ainda que seja um ser considerado repugnante pela sociedade [...]

O autor deixa claro que a dignidade não pode ser retirada de ninguém, por pior que o cidadão seja ele está protegido por esse princípio. É dever do Estado, disponibilizar mecanismos para que as pessoas possam viver dignamente, protegendo e respeitando a sua dignidade. O que assusta é o fato de ser este princípio tão importante e ao mesmo tempo tão desrespeitado na prática.

Para ofertar uma vida considerada digna, o legislador, no Brasil, não fica preso apenas aos direitos fundamentais expressos na Constituição Federal de 1988, ao contrário, está autorizado, pelo próprio texto constitucional, a se basear em direitos encontrados fora da Constituição, como aqueles elencados em tratados internacionais, para com isso chegar o mais próximo possível da efetiva dignidade humana, ensina Guerra (2012, p. 113).

Para Guerra (2012, p. 113-114) o fato dos direitos humanos terem sidos violados no decorrer dos anos, ao longo da evolução histórica, trouxe a ideia de reconstrução destes direitos e o impulso veio depois da Segunda Guerra Mundial, a internacionalização acabou induziu o legislador a dar ênfase aos direitos fundamentais dentro da Constituição e consequentemente aumentar o respeito à dignidade da pessoa humana.

Conforme Guerra (2012, p. 107):

[...] o reconhecimento e proteção da dignidade da pessoa pelo direito, resulta justamente de toda evolução do pensamento humano a respeito do que significa este ser humano e de que é a compreensão do que é ser pessoa e de quais os valores que lhe são inerentes que acaba por influenciar ou mesmo determinar o modo pelo qual o direito reconhece e protege esta dignidade.

O autor salienta que a dignidade vem protegida pelo direito, por exemplos históricos vivenciados com o decorrer da evolução humana.

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1.4 Os direitos humanos e as garantias penais

O princípio da legalidade está consagrado no artigo 5º da Constituição Federal de 1988 determinando que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”

Pode-se conceituar este princípio como sendo “a espinha dorsal do Estado de Direito, e, através dele, podemos entender que a liberdade é a regra; e a sua restrição, a exceção”, dispõe Greco (2011, p. 54). Este princípio age como limitador do poder e como esclarecedor ao povo, do que é permitido e o que é proibido, ensina Greco (2011, p. 54).

Para Bonavides (apud GRECO, 2011, p. 55):

O princípio da legalidade nasceu do anseio de estabelecer na sociedade humana regras permanentes e válidas, que fossem obras da razão, e pudessem abrigar os indivíduos de uma conduta arbitrária e imprevisível da parte dos governantes. Tinha-se em vista alcançar um estado geral de confiança e certeza na ação dos titulares do poder, evitando-se assim a dúvida, a intranquilidade, a desconfiança e a suspeição, tão usuais onde o poder é absoluto, onde o governo se acha dotado de uma vontade pessoal soberana [...]

Já para Ferreira Filho (2010, p. 133):

A fórmula vem do Espírito das leis, por intermédio do artigo 5º da Declaração de 1789. Neste, porém preferiu-se enunciar o princípio, de modo inverso: “Tudo o que não é proibido pela lei não pode ser impedido, e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordenar”.

No pensamento filosófico do século XVIII, a referência à lei era referencia à justiça. Sim, porque não se admitia houvesse lei – digna desse nome – que não fosse expressão da justiça, do Direito.

Assim, esse princípio significa, ao nascer, que a conduta do homem há de ser regida pelo justo (que se identifica ao racional e ao natural).

Em relação ao princípio da legalidade em matéria penal dispõe Greco (2011, p. 56) que “na seara penal evidencia-se, ainda mais, a importância do principio da legalidade. A lei é a única fonte do Direito Penal quando se quer proibir ou impor condutas sob a ameaça de sanção”, pois tudo que o cidadão não estiver impedido de praticar é visto como permitido na esfera penal.

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A essência do constitucionalismo e do garantismo [...], reside precisamente no conjunto de limites impostos pelas constituições a todo poder, que postula como consequência uma concepção e equilíbrio entre poderes, de limites de forma e de substância a seu exercício, de garantias dos direitos fundamentais, de técnicas de controle e de reparação contra suas violações.

Assim, nesse Estado Constitucional e democrático de direito é que encontramos o fundamento de validade do ius puniendi, bem como suas limitações. É um Estado em que os direitos humanos deverão ser preservados a qualquer custo.

O autor afirma que as garantias encontradas em nosso texto legal tem a finalidade de evitar que o Estado abuse do poder que é posto pelo povo em suas mãos.

Greco (2011, p. 58) entende que o princípio da legalidade tem várias funções em matéria penal sendo elas: “[...] proibir a retroatividade da lei penal [...] proibir a criação de crimes e penas pelos costumes [...] proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas [...] proibir incriminações vagas e indeterminadas [...]”

Em relação ao princípio da igualdade a primeira noção básica que surge é de que todos são iguais perante a lei, Milagros Otero Parga (apud GRECO, 2011. p. 67) dispõe que:

De fato, esta união entre justiça e igualdade procede já da filosofia aristotélica. Nela se atribuíam dois significados à Justiça, isto é, como legalidade e como igualdade, entendendo que a máxima expressão da justiça como igualdade é dar a cada um aquilo que lhe corresponde. Ao mesmo tempo, o filósofo distinguia entre justiça cumulativa ou numérica, que dá a todos por igual, e distributiva, que persegue, por outro lado, a proporcionalidade. Isto é, dar a cada um segundo as suas circunstâncias. Como isso estava claramente estabelecendo a possibilidade de realizar justiça outorgando um trato desigual a todos os seres humanos, quando a situação concreta assim o aconselhasse.

Assim igualdade é dar a cada um o que é seu, dando a todos de forma igual. Da mesma forma é olhar a realidade do cidadão para que se consiga chegar a um nível de igualdade entre os desiguais.

Os princípios penais encontrados no texto legal tem a finalidade de impedir que o Estado seja abusivo no exercício de seu poder, todos eles buscam fundamentação diretamente na dignidade da pessoa humana, segundo Greco (2011, p. 111-112).

Greco (2011, p. 112-113), classifica os princípios limitadores do ius puniend como sendo:

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a)princípio da intervenção mínima; b)princípio da lesividade; c) princípio da adequação social; d) princípio da legalidade; e) princípio da individualização das penas; f) princípio da proporcionalidade; g) princípio da responsabilidade pessoal; h) princípio da limitação das penas; i) princípio da culpabilidade; j) princípio da igualdade; k) princípio da justicialidade; l) princípio da liberdade.

Assim todos estes princípios segundo a classificação doutrinária do autor são limites ao direito de punir do Estado.

Entre os diversos princípios consagrados no texto da constituição destaca-se o princípio da jurisdicionalidade. Tal princípio determina que ninguém será punido sem antes ser submetido ao devido processo legal.

Assim a Constituição Federal de 1988 define no seu artigo 5º, inciso LIV que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Esse dispositivo é uma garantia de que primeiro o indivíduo será submetido a um processo justo para correta verificação do que ocorreu na realidade, ou seja, primeiro entende-se os fatos, tendo o cidadão o direito de se defender, para depois de uma analise detalhada, segura e precisa, buscando sempre a verdade real, se chegar a uma conclusão do ocorrido e a partir desta aplicar as consequências devidas.

A Constituição Federal de 1988 também consagra no seu inciso LVII, do referido artigo 5º que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.”

Desta forma fica explícito que primeiro é preciso um processo dentro dos moldes legais para posteriormente aplicar a pena. Na prática, muitas vezes, acontece à inversão desta lógica, há casos, por exemplo, em que o preso comete um delito e pelo simples fato de ser iniciado inquérito as autoridades retiram-lhe os seus benefícios, como o livramento condicional, entre outros que podem ser concedidos, conforme Schmidt (2007, p. 231).

Para que o princípio da jurisdicionalidade tenha eficácia é preciso um processo justo com direito ao contraditório e a ampla defesa, direito que está elencado na Constituição Federal de 1988 no seu artigo 5º, inciso LV, dispondo que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla

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defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”, portanto, é assegurado constitucionalmente a todos se defender e contradizer os fatos apresentados.

Segundo Schmidt (2007, p. 230), é assegurado constitucionalmente,

[...] nos processos judiciais e administrativos, o direito a ampla defesa, ou seja, mesmo no caso de se admitir a absurda hipótese de a natureza da execução penal se administrativa - e não judicial -, ainda assim o juiz seria obrigado a, na ausência de defensor público na cidade, nomear advogado para representar o apenado do curso da execução. Isso não ocorre na prática. Na imensa maioria dos processos de execução é o próprio apenado, de próprio punho [...] quem postula saídas temporárias, remições, progressão de regime, livramento condicional, ou quando muito, o administrador do estabelecimento prisional é quem solicita o reconhecimento dos direitos.

Desta forma, dispõem o autor que todos têm direito a ampla defesa. Assim se na comarca onde tramita o processo não houver defensoria pública para fazer a devida defesa do cidadão, direito este previsto constitucionalmente, o juiz deve nomear um defensor dativo para que faça as vezes do defensor e o acusado tenha assegurado seu direito, mas como visto, nas palavras do autor, na prática isso não acontece e muitas vezes o próprio cidadão faz a sua defesa, ficando assim nitidamente prejudicado para exercer seu direito com plenitude.

A Constituição Federal de 1988 também traz princípios que defendem a dignidade humana frente a abusos Estatais sendo eles encontrados no artigo 5º, incisos X, XLVI, XLVII, XLIX:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Baseando-se no exposto pode-se afirmar que a intimidade do cidadão é uma garantia constitucional, assim como a individualização da pena.

O devido processo legal, se aplicado corretamente, respeitando, o contraditório e a ampla defesa e verificado que é devida a pena pode o Estado restringir a liberdade do infrator, retirar-lhe bens, aplicar multas, impor prestações sociais no lugar da pena privativa de

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liberdade ou suspender e interditar direitos, essas são as penas lícitas que o Estado pode aplicar.

A Constituição também elenca as penas que o Estado não pode aplicar para evitar abusos sendo elas, a pena de morte, a perpétua, o trabalho obrigatório, o banimento e as consideradas cruéis.

Como se viu a trajetória histórica de positivação dos direitos humanos foi longa, tendo culminado com a consolidação normativa destes, sob a forma de direitos fundamentais, em grande parte das constituições contemporâneas ocidentais. No Brasil a consolidação normativa dos direitos humanos deu-se, de forma efetiva, com a Constituição de 1988, que elevou a ideia de dignidade humana à condição de valor fundamental do Estado brasileiro.

Tendo como referência a consagração de tais direitos e a consolidação da dignidade humana como principio estruturante do Estado Democrático de Direito, no segundo capítulo o trabalho direciona o estudo para a origem e a evolução da pena e da prisão como pena, como funcionava, como era vista e conceituada, abordando o fenômeno da expansão dos níveis de encarceramento na atualidade e os seus reflexos para os direitos humanos do apenado.

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2 SISTEMA CARCERÁRIO E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Neste capítulo será abordada a origem da pena de prisão, suas fases e expansão, bem como serão apresentados dados do site do Ministério da Justiça, sobre a evolução da população carcerária no decorrer dos anos, e feita uma análise mais aprofundada destes dados, tendo por base a pesquisa realizada em 2012. A partir dela serão apresentados números referentes à população carcerária brasileira, sobre condições de execução das penas privativas de liberdade, sobre números de vagas por preso, sobre trabalho prisional, condições de educação dentro do cárcere, caracterizando assim o perfil da massa carcerária brasileira.

Serão apresentados os direitos e deveres dos presos elencados na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Execução Penal (LEP), mostrando com fatos históricos e atuais relatados em jornais, o desrespeito aos direitos do preso. O capítulo será finalizado com uma análise do que é um Estado democrático de direito e como deve se realizar a função punitiva nestes Estados, em especial a execução das penas privativas de liberdade, com o objetivo de se demonstrar os níveis de ilegitimidade e de violação dos direitos humanos existentes na atualidade.

2.1 A prisão como pena e a expansão do cárcere no mundo contemporâneo

Pode-se dizer que a pena surgiu junto com o homem, assim afirma Ester Eliana Hauser (2014, p. 5) que,

a história da repressão penal pode ser confundida com a história da própria humanidade. Tal afirmação apóia-se no fato de que o homem sempre revidou a qualquer tipo de comportamento que colocasse em risco sua própria existência. Pode ser encontrada aqui a origem da pena e também sua essência: a pena nasce com o homem e é reação ou vingança contra todo e qualquer comportamento indesejado. A princípio esta reação é exercida pelo próprio ofendido ou pelo seu grupo familiar (vingança privada), não guardando qualquer critério de proporcionalidade entre a ofensa e a reação ou revide.

O surgimento da pena também se fundamentou na religião, pois, conforme Hauser (2014, p. 5):

A origem da pena também é ligada ao pensamento mágico ou religioso. Não podendo explicar os fenômenos ou acontecimentos que fugiam ao cotidiano os homens primitivos passaram a atribuí-los a entes sobrenaturais que, segundo eles, premiavam ou castigavam a comunidade pelo seu comportamento. O homem

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primitivo muitas vezes punia para proteger-se da ira dos deuses, aos quais atribuía os fenômenos naturais maléficos. Tudo aquilo que ultrapassava o seu conhecimento e que alterava sua vida normal era visto como obra de influências sobrenaturais. Fenômenos como a chuva, o trovão, a seca, a tempestade e que exerciam influência sobre a vida de cada um e de toda a comunidade eram atribuídos a estas entidades e, por isso, era necessário adequar a conduta humana para obter desses seres benevolência e proteção.

Pimentel (1985, p. 10) (apud HAUSER, 2014, p. 5) ensina que “a pena surgiu como uma necessidade sentida pelos grupos humanos primitivos de responder, satisfatoriamente, às entidades superiores ofendidas pelo infrator.”

Em relação a pena de prisão e suas origens históricas, destaca-se alguns sistemas de relevante importância no desenvolvimento da pena de prisão, o sistema pensilvânico ou celular e o sistema auburniano. A primeira prisão que adotou a modalidade celular foi norte-ameriaca, com a finalidade de reforma. Em 1790 aplicou-se o “isolamento em uma cela, a oração e abstinência total de bebidas alcoólicas”, nas palavras de Cesar Roberto Bitencourt (2008, p. 125-126), com a finalidade de salvar e ajudar os indivíduos infelizes. O sistema celular sofreu, rapidamente, um fracasso convertendo-se em um regime falido, pelo imenso crescimento da população carcerária, assim dispõe Bitencourt (2008, p. 125-126).

Depois da crise do sistema celular surgiu o sistema auburniano para tentar superar seu fracasso nas palavras de Bitencourt (2008, p. 127):

Em 1796 no governador Jhon Jay, de Nova Iorque, enviou uma comissão à Pensilvânia para estudar o sistema celular. Nsse mesmo ano ocorreram mudanças importantes nas nações penais, substituindo-se a pena de morte e os castigos castigos corporais pela pena de prisão, consequência direta das informações colhidas pela comissão [...] em 1797 foi inaugurada a prisão de Newgate. Como referido estabelecimento era muitos pequeno, foi impossível desenvolver o sistema de confinamento solitário. E, diante dos resultados insatisfatórios, em 1809 foi proposta a construção de outra prisão no interior do Estado para observar o número crescente de delinquentes.

Este sistema auburiano adotava o silêncio absoluto e o trabalho, onde os detentos não podiam conversar entre si, apenas com os guardar em voz baixa e depois de autorizados. Alguns autores criticam esse sistema, Foucault é um deles, ele diz que o sistema não passava de uma estratégia para impor o poder sobre os condenados e não transformá-lo, conforme Bitencourt (2008, p. 128).

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Foi no século XIX que surgiu o sistema progressivo, e foi imposta “definitivamente a pena privativa de liberdade, que continua sendo a espinha dorsal do sistema penal atual”, menciona Bitencourt (2008, p. 130). Com a utilização da pena privativa de liberdade abandonou-se paulatinamente a pena de morte.

Dispõe Bitencourt (2008, p. 130-131):

O apogeu da pena privativa de liberdade coincide igualmente com o abandono dos regimes celular e auburniano e a adoção do regime progressivo. A essência deste regime consiste em distribuir o tempo de duração da condenação em períodos, ampliando-se em casa um os privilégios que o recluso pode desfrutar de acordo com sua boa conduta e o aproveitamento demostrado do tratamento reformador. Outro aspecto importante é o fato de possibilitar ao recluso reincorporar-se à sociedade antes do termino da condenação.

Assim este regime diminui significativamente o rigor da pena e proporcionou um avanço considerável do sistema penitenciário, contrariou os regimes auburniano e celular e deu espaço para que fosse considerada a vontade do recluso não apenas a imposição do poder Estatal, explica Bitencourt (2008, p. 131).

Retomando as origens da pena de prisão e fazendo uma analise mais detalhada na sua evolução e desenvolvimento, pode-se dizer que a prisão era vista como o lugar onde o cidadão, infrator da lei, ficava aguardando para saber qual seria sua punição, e as modalidades de que existiam eram a pena de morte ou as agressões corporais, segundo Greco (2011, p. 143).

Sobre a origem da pena de prisão dispõe Hauser (1997, p. 68-69):

A pena de prisão apresenta-se, a partir do século XIX, como resposta penal ao problema da criminalidade, seu aparecimento, entretanto, data da época mais remota, estando presente já na Antiguidade e na Idade média, como forma de custódia, ou seja, simples contenção e guarda de réus até o momento de seu julgamento ou execução. No final da Idade Média este caráter de pena de prisão vai, aos poucos, sendo transformado, aparecendo em seu lugar a prisão do Estado e a prisão eclesiástica. A prisão do Estado objetivava o recolhimento dos inimigos do poder real, os denominados traidores, para que esses aguardassem a execução da pena aplicada ou para que ficassem detidos temporal ou perpetuamente. A prisão eclesiástica, por sua vez, era destinada aos clérigos e buscava a emenda, o arrependimento, por meio de penitência e oração. Era mais humana, pois abdicava dos suplícios e mutilações de larga utilização durante toda a Idade Média, impondo ao apenado somente o isolamento completo para reflexão. Hoje o mundo da ciência penal afirma, quase que unanimemente, ser a prisão eclesiástica o fundamento da pena privativa de liberdade.

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Esclarece Greco (2011, p. 144):

Na antiguidade, a prisão, a exemplo do que acontecia na China, no Egito, na Babilônia, era um lugar de custódia provisória e tormento. Ali, o acusado era submetido a interrogatórios cruéis, em que o uso da tortura era constante. Procurava-se arrancar do acusado a confissão que o levaria à condenação, a qual, [...] poderia ser penas corporais, aflitivas, ou mesmo a morte, levada a efeito através das mais variadas formas.

Em Roma, havia cárceres que se tornaram célebres pelo terror que infundiam aos condenados que ali eram custodiados provisoriamente, como foi o caso da prisão “Mamertina”, um lugar sem luz, úmido, povoado por insetos e animais peçonhentos, onde a comida era escassa, e os acusados ficavam presos pelos pés em toras de madeira.

Na Idade Média o conceito de prisão continuava o mesmo, era o lugar onde o acusado esperava a pena, que viria futuramente e era corpórea, ensina Greco (2011, p. 146).

Assim a Idade Média para Greco (2011, p. 146-147):

Foi um período no qual se utilizaram os mais terríveis tormentos e em que não se cogitava de cuidar do ser humano de forma digna, uma vez que a própria comunidade onde o acusado se encontrava inserido demandava por um espetáculo de horrores. A multidão se regozijava com o sofrimento, com os gritos do condenado, com a arte com que os torturadores manejavam seus instrumentos. A dor era o combustível que mantinha o público ávido em assistir a essas “distrações públicas”.

Se o destino do réu seria algum trágico sofrimento, como consequência lógica desse raciocínio nunca houve preocupação quanto à sua liberdade cautelar, ou seja, os acusados ficavam, normalmente, presos em lugares fétidos, em masmorras, sem alimentação adequada, privados, muitas vezes, do sol e do próprio ar; enfim, as condições dos cárceres provisórios existentes na Idade Média não se distanciava muito daquilo que conhecemos nos dias de hoje, principalmente em países em fase de desenvolvimento ou emergentes, como ocorre em muitos países da América Latina, a exemplo do Brasil, da Colômbia, Bolívia, do Paraguai, da Argentina etc.

Conforme Greco (2011, p. 148-149), posteriormente veio a Idade Moderna e,

com ela, novos problemas foram surgindo, exigindo respostas imediatas por parte do Estado. A partir do século XVI começou a ganhar força a aplicação das penas privativas de liberdade. Foi o século, também, em que foi aplicada talvez uma das penas mais cruéis até então existentes – a pena de galera.

A pena de galera consistia na utilização de condenados que seriam, normalmente, executados, por já haverem sido sentenciados à morte, bem como daqueles condenados por crimes graves ou prisioneiros de guerra, para trabalhar nas galeras dos navios militares, remando incessantemente e concatenadamente, movidos pelas ameaças e agressões praticadas por aqueles que tinham por obrigação fazer com que os navios deslizassem pelo mar.

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Dispõe Greco (2011, p. 163, grifo do autor) que “sem dúvida, um dos personagens mais marcantes na história da reforma penitenciária foi John Howard.”

Em 1773, aos 45 anos de idade, Howard foi nomeado sheriff do condado de Bedford, o que fez com que, agora, viesse a familiarizar-se com as misérias das prisões de sua época, os lugares fétidos onde seres humanos eram jogados como se fossem animais, pois uma das sua principais funções era visitar os estabelecimentos carcerários.

Essas visitas periódicas permitiram-lhe um contato direto e intenso com os presos, e fizeram com que o humanista inglês ficasse ainda mais sensibilizado com os problemas que presenciava diariamente, tornando-se, assim, um incansável crítico e defensor da melhora do sistema.

As enfermidades eram uma constante, já que os presos não recebiam tratamento adequado, permitindo, dessa forma, que doenças se alastrassem facilmente nos cárceres. A promiscuidade também era um mal que deveria ser combatido. No entanto, como os encarregados de cuidar dos presos e de vigiá-los não recebiam nenhuma remuneração dos cofres públicos, a situação ficava ainda pior – as cobranças recaíam diretamente sobre os próprios presos, via de regra miseráveis, pertencentes às classes menos favorecidas, que não tinham como pagar e, assim, permaneciam presos indefinidamente, até que acertassem suas contas com aqueles que detinham as chaves da sua cela.

Howard depois de conhecer várias prisões escreveu um livro onde elencou tópicos fundamentais para uma prisão digna, o livro fazia menção à alimentação, higiene, a disciplinas diferenciadas para os presos provisórios e condenados, educação, trabalho e um sistema menos severo, segundo Greco (2011, p. 166).

Pode-se dizer que a pena de prisão teve sua expansão e fortalecimento por influência da produção capitalista. Os camponeses não preparados para trabalhar nas indústrias eram vistos como vagabundos e a pena de prisão que era voltada a tornar os presos aptos para trabalhar no sistema industrial, passou a ser vista como solução para a multidão despreparada para o novo sistema conforme Hauser (1997, p. 70-71).

Assim os fatores históricos que contribuíram para o desenvolvimento da pena de prisão segundo Hauser (1997, p. 73) foram:

[...] econômicos e da necessidade de dominação, expressos fundamentalmente no anseio de dominação do proletariado pela burguesia, que fomentaram o nascimento e desenvolvimento da pena privativa de liberdade. Isso evidencia que a afirmação de que a prisão surge exclusivamente sob o impulso de um ato humanitário e com a finalidade única de alcançar a emenda do delinquente é demasiadamente simplista e presta-se somente a justificar “racionalmente” o controle realizado sobre determinados grupos, pela via do jus puniendi concreto.

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Como mencionado anteriormente, foi só a partir do século XIX que a pena de prisão se firmou, passando a ser vista como a principal sanção para o cidadão que desrespeitasse as leis. A pena de morte e as agressões corporais começaram a perdem força significativamente, passou a se aderir a pena privativa de liberdade e junto com ela as penas restritivas de direitos e de multa, explica Greco (2011, p. 225).

A consequência de ganhar a pena privativa de liberdade o status de pena principal nas palavras de Greco (2011, p. 226-227) foi que:

A superlotação carcerária começou a ser a regra das prisões. Juntamente com ela, vieram as rebeliões, a promiscuidade, a prática de inúmeros crimes dentro do próprio sistema penitenciário, cometidos pelos próprios presos, bem como por aqueles que, supostamente, tinham a obrigação de cumprir a lei, mantendo a ordem do sistema prisional.

A corrupção por parte de agentes carcerários também se tornou comum [...] Os presos voltaram a ser extorquidos, sendo-lhe exigido todo tipo de pagamento para que tivessem direito àquilo que, em tese, seria obrigação do Estado fornecer. Desde o simples papel higiênico, à possibilidade de terem televisores em suas celas, da entrega de bens pessoais feita por seus familiares, enfim, tudo passou a ter um preço a ser cobrado dos presos, o que, obviamente, gerou revoltas que culminaram com a morte de inúmeras pessoas.

A partir do que ensina o autor pode-se afirmar que os problemas encontrados na prisão vêm da falta de dignidade dos confinados, da superlotação, do desrespeito, dos crimes dentro do sistema, trazendo a crise penitenciária.

2.2 O sistema penitenciário brasileiro: dados estatísticos

O Ministério da Justiça disponibiliza anualmente, por meio do site www.ministeriodajustiça.gov.br, dados estatísticos sobre a população prisional brasileira. Além de trazer números absolutos, também são apresentados dados sistematizados sobre o perfil da população carcerária, o número de presos que trabalham, sua escolaridade, o número de vagas e são feitas várias analises. No trabalho os dados serão apresentados em porcentagem para melhor visualização.

É de extrema relevância, para o presente estudo, o destaque da evolução do número de pessoas presas nos últimos anos no Brasil. Tomando como base os anos de 2005, 2007, 2008, 2010 e 2012, pode-se dizer que em 2005 a população carcerária era de 361.402, sendo que a cada 100.000 indivíduos 196 estariam presos. No ano de 2007 a população carcerária era de

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422.373, sendo que a cada 100.000 indivíduos 226 estariam presos. Em 2008 a população carcerária era de 440.013, sendo que a cada 100.000 indivíduos 222 estariam presos. Em 2010 a população carcerária era de 496.251, sendo que a cada 100.000 indivíduos 259 estariam presos. Por fim, no ano de 2012 chegou-se a uma população carcerária de 548.003, sendo que a cada 100.000 indivíduos 287 estariam presos de acordo com o Ministério da Justiça (www.ministeriodajustiça.gov.br).

É visível, conforme o site do Ministério da Justiça (www.ministeriodajustiça.gov.br), que com o decorrer dos anos a população carcerária aumentou significativamente, dados preocupantes se levado em consideração a falta de estrutura para acomodar as pessoas que precisam cumprir pena.

Em relação ao número de vagas dos anos de 1994, 1995, 2003, 2005, 2007, 2009, no decorrer de todos esses anos nunca se teve uma vaga por preso. Tomando como base, para melhor visualização, o ano de 2012, destaca-se que haviam 310.687 vagas para 548.003 presos, o que representava 1,76 presos por vaga, com um déficit de 237.316 vagas de acordo com o Ministério da Justiça. (www.ministeriodajustiça.gov.br).

Os dados acima mencionados mostram a realidade e como se concretiza o desrespeito com o preso, pois se nem ao menos há uma vaga para cada um dos confinados, pode-se imaginar as demais irregularidades que decorrem deste problema.

Quanto ao trabalho prisional é possível perceber que as falhas da estrutura do sistema carcerário estão todas vinculadas, ou seja, uma acaba desencadeando a outra, e a consequênte disso é o sistema ineficaz que está cada vez mais precário e indigno.

Em relação ao trabalho, tomando como base os anos de 2007 e 2012, verifica-se que em 2007 do total de presos condenados apenas 4,1% trabalhavam externamente e 26,5 trabalhavam internamente, totalizando 33,1% dos condenados trabalhavam. Já em 2012, 4,1% dos presos trabalhavam externamente e 17,6 % trabalhavam internamente, totalizando apenas 21,7% dos presos custodiados trabalhavam. Esta realidade é bastante preocupante e demonstra que o trabalho, que é um direito consagrado na Lei de Execuções Penais, cuja finalidade educativa e produtiva é fundamental para o cidadão preso se sentir digno, não vem sendo assegurado plenamente no âmbito do sistema carcerário brasileiro. Os números sobre trabalho

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