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Produção de conhecimento em arquivologia: análise da produção científica docente nos cursos de Arquivologia da UNIRIO, UFSM e UFF

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTES E CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE ARQUIVOLOGIA

LEANDRO COELHO DE AGUIAR

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM ARQUIVOLOGIA: análise da produção científica docente nos cursos de Arquivologia da

UNIRIO, UFSM e UFF

NITEROI 2013

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LEANDRO COELHO DE AGUIAR

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM ARQUIVOLOGIA:

ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOCENTE NOS CURSOS DE ARQUIVOLOGIA DA UNIRIO, UFSM E UFF

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Arquivologia do Departamento de Ciência da Informação, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Arquivologia.

Orientador: Prof. Dr. Vitor Manuel Marques da Fonseca

NITEROI 2013

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A282p Aguiar, Leandro Coelho de.

Produção de conhecimento em Arquivologia: análise da produção científica docente nos cursos de Arquivologia da UNIRIO,

UFSM e UFF / Leandro Coelho de Aguiar. – 2013. 90 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Vitor Manuel Marques da Fonseca.

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Arquivologia) -

Universidade Federal Fluminense, Departamento de Ciência da Informação, 2013.

Obras citadas: f. 84-88.

1. Arquivologia. 2. Produção Científica. 3. Curso de Arquivologia. I. Fonseca, Vitor Manuel Marques da. II. Universidade Federal Fluminense. Departamento de Ciência da Informação. III. Titulo.

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LEANDRO COELHO DE AGUIAR

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM ARQUIVOLOGIA:

ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOCENTE NOS CURSOS DE ARQUIVOLOGIA DA UNIRIO, UFSM E UFF

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Arquivologia do Departamento de Ciência da Informação, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Arquivologia.

Aprovado em março de 2013.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________________________ Prof. Dr. VITOR MANUEL MARQUES DA FONSECA – Orientador

UFF

_________________________________________________________________________ Profª Dra. LÍDIA SILVA DE FREITAS

UFF

_________________________________________________________________________ Profª Ma. MARGARETH DA SILVA

UFF

Niterói 2013

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Dedico este trabalho a pessoa que escolhi para fazer parte da minha vida, à minha esposa, Renata Regina Gouvêa Barbatho.

Juntos, rumo ao “PQ 1A”. Dedico também, aos meus pais e ao meu irmão.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Vitor Manuel Marques da Fonseca pelo seu empenho e carinho com que me recebeu como seu orientando e por saber, nos momentos certos, cobrar os resultados, assim como, trazer palavras de serenidade em tempos de desespero.

A todos os professores e funcionários da Coordenação do Curso de Arquivologia e do Departamento de Ciência da Informação, que sempre se mostraram solícitos às minhas questões e necessidades, tanto acadêmicas quanto burocráticas. Agradeço em especial às professoras Margareth da Silva e Lídia Silva de Freitas por aceitarem fazer parte da banca examinadora desse meu trabalho.

Por fim, agradeço aos colegas de curso, que muitas das vezes contribuíram substancialmente para que eu concluísse com êxito as disciplinas, e aos amigos do dia-a-dia que estiveram presentes nos momentos de lazer, dos quais não me permitiram enlouquecer.

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EPÍGRAFE

Para bem compreendermos a natureza da Ciência precisamos observar a maneira como os cientistas se comportam uns com os outros, como se organizam e como transmitem as informações entre si.

Jonn Ziman, 1979

A Arquivologia só alcançará a condição de uma disciplina científica se forem realizados investimentos na pesquisa como estratégia de produção de conhecimento [...] Trata-se, portanto, da construção de uma cultura científica.

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RESUMO

Esta pesquisa tem a finalidade de analisar a produção científica do atual corpo docente dos três mais antigos cursos de Arquivologia do país: da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (RJ), da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e da Universidade Federal Fluminense (RJ). Trata-se de um universo de 35 docentes que, amparados pela estruturas das universidades, por instrumentos do Estado, contribuem na constituição de um ambiente propício ao crescimento do saber arquivístico no Brasil. Pretende-se mapear e caracterizar a produção desses docentes, identificando os respectivos projetos de pesquisas, trabalhos apresentados e publicados, identificando e analisando o tipo de publicação, mudanças e tendências dentro do período de cinco anos (2008 a 2012). A hipótese deste trabalho é a de que o grau de cientificidade da Arquivologia está ligado à divulgação da pesquisa cientifica. Nesse sentido a produção dos docentes da área tem relevância especial por ser produto de profissionais acadêmicos envolvidos com a Arquivologia. As fontes principais serão os currículos dos docentes disponíveis na Plataforma Lattes do CNPq

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ABSTRACT

This research aims to analyze the scientific production of the current professors of the three oldest courses of Archival Science in the country: at the UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro (RJ), Universidade Federal de Santa Maria (RS) and the UniversidadeFederal Fluminense (RJ). It comprises 35 teachers who, supported by the structures of universities, by State mechanisms, contribute to the creation of an environment conducive to the growth of Brazilian archival knowledge. The aim is to map and characterize the scientific production of theses professors, identifying the respective research projects, papers presented and published, identifying and analyzing the type of publication, changes and trends within the period of five years (2008 to 2012). Our working hypothesis is that the degree of scientificity of Archival Science is linked to the performance of disseminating scientific research. In this sense the production of the professors has special relevance, because it is the product of academic professionals involved with Archival Science. The main sources are those professors’ curricula, available in the CNPq’s Lattes Platform

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO, p. 13 2. CIÊNCIA, UNIVERSIDADE E ESTADO: A CONSTRUÇÃO DO

CONHECIMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIAIS, p. 16 2.1 Ciência e sociedade, p. 16 2.2 Universidade, pesquisa e sociedade, p. 19 2.3 Universidade no Brasil, p. 20 2.4 O Estado e as agências reguladoras e de fomento á pesquisa, p. 24 2.4.1 O CNPq e a Plataforma Lattes, p. 26 2.4.2 Capes e o sistema Qualis, p. 28 3. A CONSTITUIÇÃO DO SABER ARQUIVÍSTICO NO BRASIL, p. 32 3.1 Do conhecimento prático ao conhecimento científico, p. 32 3.2 Panorama brasileiro, p. 35 3.3 A consolidação do campo de saber científico, p. 39 3.4 Panorama atual dos três primeiros cursos de Arquivologia do Brasil, p. 44 3.4.1 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, p. 44 3.4.2 Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, p. 45 3.4.3 Universidade Federal Fluminense – UFF, p. 46 4. CARACTERIZAÇÃO DO CORPO DOCENTE PESQUISADOS, p. 48 4.1 A constituição de um ambiente de saber científico, p. 48 4.2 A formação multi e transdisciplinar do professor de Arquivologia, p. 56 5 ANÁLISE DA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DOS DOCENTES, p. 63 5.1 Projetos de pesquisa e publicações em periódicos e livros, p. 63 5.2 Diálogos com os pares: apresentações e divulgação de trabalhos acadêmicos, p. 71 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS, p. 79 OBRAS CITADAS, p. 84 ANEXOS, p. 89

ANEXO I Quadro cronológico dos marcos históricos da institucionalização do campo

arquivístico no Brasil, p. 89

ANEXO II Listagem dos professores selecionados como universo pesquisado, p. 90

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Carga horária e dedicação exclusiva, f. 51 Figura 2 - Enquadramento funcional, f. 53

Figura 3 - Grau de formação acadêmica, f. 53

Figura 4 - Tempo de docência na universidade atual, f. 55 Figura 5 - Áreas de formação acadêmica na graduação, f. 58

Figura 6 - Área de formação na graduação por período de obtenção do título, f. 59 Figura 7 - Áreas de formação acadêmica no mestrado, f. 59

Figura 8 - Área de formação no mestrado por período de obtenção do título, f. 60 Figura 9 - Áreas de formação acadêmica no doutorado, f. 60

Figura 10 - Área de formação no doutorado por período de obtenção do título, f. 61 Figura 11 – Total de projetos de Pesquisa iniciados, f. 64

Figura 12 – Total de livros publicados ou organizados, f. 66

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Cursos de Arquivologia reconhecidos no Brasil, f. 38 Tabela 2 - Quantidade de docentes por Universidade, f. 48 Tabela 3 - Última atualização dos Lattes dos professores, f. 49 Tabela 4 - Carga Horária e Regime de Dedicação Exclusiva, f. 50

Tabela 5 – Experiência profissional paralela ou anterior a docência, f. 52 Tabela 6 - Enquadramento funcional, f. 52

Tabela 7. Grau de formação acadêmica, f. 54

Tabela 8 - Período de entrada do docente nos Cursos, f. 56 Tabela 9 - Área de formação acadêmica, f. 57

Tabela 10 - Projetos de Pesquisas iniciados, f. 64 Tabela 11 - Concentração de projetos iniciados, f. 65 Tabela 12 - Livros publicados ou organizados, f. 65 Tabela 13 - Livros publicados, f. 66

Tabela 14 - Produção de capítulos de livro, f. 67

Tabela 15 - Concentração da produção de capítulos de livros, f. 68 Tabela 16 - Quantidade de artigos completos publicados, f. 68 Tabela 17 - Concentração de artigos publicados, f. 69

Tabela 18 – Relação dos periódicos Acadêmicos com artigos publicados, f. 69 Tabela 19 – Produção de trabalhos bibliográficos, f. 70

Tabela 20 - Tipo de publicação e autoria, f. 71

Tabela 21 - Produção de textos completos em anais de eventos, f. 72

Tabela 22 - Concentração da publicação de textos completos em anais, f. 73 Tabela 23 - Publicação de resumos em anais de eventos, f. 74

Tabela 24 - Concentração da publicação de resumos em anais, f. 74 Tabela 25 - Tipo de publicação e autoria, f. 75

Tabela 26 - Listagem dos eventos acadêmicos com maior participação docentes, f. 75 Tabela 27 - Apresentação de trabalhos, f. 76

Tabela 28 - Concentração das apresentações de trabalhos, f. 77 Tabela 29 - Participação dos docentes em eventos, f. 78

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1 INTRODUÇÂO

José Maria Jardim (1998) em artigo que se tornou referencia para o estudo da Arquivologia no Brasil, chegou a conclusão de que falta o status de disciplina científica a área, cabendo aos docentes/pesquisadores universitários buscar a construção de uma cultura científica. Esta conclusão, além de ainda permanecer atual, circunda direta e indiretamente o objetivo principal deste trabalho: observar o panorama existente da produção científica entre 2008 e 2012 do corpo docente dos três mais antigos cursos de Arquivologia do país: da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO - (RJ), da Universidade Federal de Santa Maria –UFSM - (RS) e da Universidade Federal Fluminense – UFF - (RJ).

A hipótese que norteia esse trabalho é que o grau de cientificidade e a construção de uma cultura científica na Arquivologia também estão ligados à realização de divulgação de pesquisa cientifica dentro do universo dos docentes universitários. Nesse sentido, a produção dos docentes da área tem relevância especial, por serem produtos de profissionais acadêmicos envolvidos com a Arquivologia.

O recorte espacial baseou-se na escolha do corpo docente dos três cursos de Arquivologia mais antigos do Brasil, criados em meados da década de 1970, pela importância destas escolas no campo arquivístico nacional e por terem professores com reconhecimento nacional e internacional. Desse recorte espacial resultou-se um total de 35 docentes efetivos e em atividade.

O recorte temporal de cinco anos - 2008 a 2012 - foi definido em decorrência de três fatores. Primeiro pelos acontecimentos recentes da Arquivologia como área de conhecimento científico: a realização em 2010 da Primeira Reunião Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia –REPARQ –; e a criação em 2012 do Primeiro Programa de Pós-Graduação em Gestão de Documentos e Arquivos na UNIRIO.

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O Segundo fator foi o reconhecimento de que tais acontecimentos marcantes não podem ser compreendidos somente pelo momento de concepção, tornando-se importante observar o seu contexto anterior, em outras palavras, a culminância desses projetos são frutos de ações que o antecedem e que também precisam ser observadas. Assim sendo, cabe observar, no caso dessa pesquisa, a produção de conhecimento que se antecedeu à constituição desses marcos, observando tendências e características.

O terceiro, e último fator relevante para o recorte temporal levou em consideração o limite de tempo desta pesquisa, por ser um trabalho de conclusão de curso de uma graduação. Assim sendo, diante do universo de 35 docentes e da tipologia das fontes a serem analisadas - os currículos Lattes - chegou-se a um limite temporal ideal de cinco anos, entre 2008 e 2012.

O levantamento da listagem dos docentes ocorreu por meio do contato com os departamentos e pelos sites dos cursos. Já a análise da produção científica, ocorreu pelos currículos Lattes, sistema de meta-dados da Plataforma Lattes, disponível no site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A metodologia utilizada foi de análise quantitativa e qualitativa das fontes, se fazendo pertinentes devido à tipologia do currículo Lattes. Em primeiro lugar, por abranger um grande aglomerado de dados, de conjuntos informacionais, assim classificando-os e tornando-os inteligíveis quantitativamente. Em segundo lugar, buscando aprofundar na complexidade de fenômenos e processos particulares e específicos de grupos mais ou menos delimitados.

Primeiramente foram feitos levantamentos, acerca dos docentes das instituições, junto aos seus respectivos departamentos. Em seguida foram obtidos os currículos Lattes dos mesmos, disponíveis na internet através da Plataforma Lattes, partindo então para as análises quantitativas e qualitativas destas fontes.

As informações levantadas e posteriormente analisados, dos currículos Lattes foram relacionadas a produção e participação do docente na área de arquivologia, como por exemplo, informações sobre a sua formação, especialização e produção científica (projeto de pesquisa, apresentações e publicações de trabalhos), assim como acerca dos tipos e características dos eventos, publicações e linhas de pesquisas. No decorrer da pesquisa, foi necessário construir outro banco de dados, que não a base Lattes, para facilitar a mensuração e análise das informações.

O trabalho ficou dividido em quatro capítulos principais e mais as considerações finais.

No primeiro capítulo busca-se pensar a própria idéia de “cientificidade”. O que seria e quais as características de uma “disciplina” e de uma “cultura científica”? Pensando nos

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grupos coletivos produtores de um conhecimento e de um ambiente científico em nossa sociedade, paira outra questão: qual seria o papel da universidade? E por fim, refletindo acerca dos “investimentos na pesquisa”, qual o papel do Estado, das suas agências e dos mecanismos já existentes de regulamentação, fomento e controle dos investimentos nesta produção de conhecimento científico no Brasil?

No segundo capítulo busca-se observar a constituição do saber arquivístico no Brasil, passando pela mudança de paradigma de um conhecimento prático para um conhecimento científico. A consolidação do campo de saber científico através do papel das instituições arquivísticas, das associações e, mais recentemente, e é este o foco desse trabalho, o papel dos acadêmicos dentro dos cursos de graduação, por fim contextualizar histórica, administrativa e pedagogicamente os três cursos de Graduação que compõe o universo dos docentes analisados.

Os dois últimos capítulos tratam-se da pesquisa empírica envolvendo a análise dos currículos Lattes dos 35 docentes. No terceiro capítulo, busca-se caracterizar de corpo docente pesquisado, observando o tipo de vinculo entre os docentes e as respectivas universidades, assim como a formação e especializações, atentando para a concepção tradicionalmente vista da Arquivologia, como uma área multi e transdisciplinar.

Por fim, no último capítulo, se dará a análise da produção de conhecimento na Arquivologia desses docentes, observando inicialmente os projetos de pesquisa, passando pelos diferentes tipos de publicações, participações em eventos acadêmicos, e diálogos com os pares.

Nas considerações finais busca-se retornar ao debate do problema, confrontando-o com os resultados obtidos nas diferentes etapas da pesquisa e assim buscando observar se a hipótese inicial foi ou não confirmada. Também são feitos indicativos a novos estudos, que possam buscar ou aprofundar temas aqui discutidos ou até mesmo temas não analisados, mas que, em algum momento, foram apontados por este trabalho.

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2. CIÊNCIA, UNIVERSIDADE E ESTADO: A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIAIS

2.1 CIÊNCIA E SOCIEDADE

O filósofo John Ziman (1979, p. 17), em Conhecimento Público, propõe uma pergunta que é uma das tônicas principais de seu trabalho: “O que é a Ciência?”. Para ele a Ciência é “uma das categorias que fazem parte do comentário intelectual que o Homem faz sobre o seu próprio Mundo”.

Cabe ressaltar o fato de que para ele a ciência é “uma das categorias”, havendo assim outras categorias que contribuem na compreensão do mundo humano, pontuando-as: como a Religião, a Arte e a Filosofia entre outras, mas chama atenção que a ciência possui faculdades específicas que a diferencia das outras categorias, já que se trata de “um produto consciente da humanidade, com suas origens históricas bem documentadas, um escopo e um conteúdo bem definidos”. (ZIMAN, 1979, p. 17-18)

Mas quais seriam os atributos específicos da ciência? Para tal resposta, Ziman (1979, p. 18-21) enumera quatro definições que, em sua concepção, são as mais comuns e socialmente aceitas: ciência como “domínio do meio-ambiente”; ciência como “estudo do Mundo Material”; ciência como “Método Experimental”; e ciência como a “verdade através de inferências lógicas baseadas em observações empíricas”. Não buscando apontar definições verdadeiras ou falsas, o filósofo ratifica que não há uma supremacia de qualquer destas definições e que a maioria dos cientistas adotam um ou mais destes pontos de vistas de acordo com seus interesses.

Para o autor, e é o ponto que mais nos interessa para esta reflexão, a ciência tem como característica principal, ser uma atividade social. Assim sendo, a construção de uma cultura científica depende da sociedade científica que a constrói.

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Para bem compreendermos a natureza da Ciência precisamos observar a maneira como os cientistas se comportam uns com os outros, como se organizam e como transmitem as informações entre si. O jovem cientista não estuda lógica formal, mas aprende, por imitação e experiência, uma série de convenções que personificam sólidas relações sociais. [...] ele aprende a fazer o seu papel num sistema em que o conhecimento é adquirido, testado e finalmente transformado em propriedade pública (ZIMAN, 1979, p. 25)

Corroborando com o pensamento de Ziman, podemos observar o que dizem outros dois importantes especialistas dos aspectos sociais da ciência. Primeiro, Mora, em A divulgação da ciência como literatura (2003, p. 7-12), para quem a ciência é uma criação humana, e por isso social, cujos resultados repercutem em todos os âmbitos da sociedade. Mas ressalta, “é uma atividade que diz respeito à sociedade toda, ainda que ela, na divisão de tarefas, transfira a responsabilidade dessa atividade a uns poucos”. Já Bourdieu, em Os usos sociais da ciência (2004, p. 21), reconhece o caráter social da ciência, mas chama atenção para um fator importante, que “é preciso escapar à alternativa da ‘ciência pura’, totalmente livre de qualquer necessidade social, e da ‘ciência escrava’, sujeitas a todas as demandas político-econômicas”.

Assim sendo, qual seria o objetivo social da ciência? Neste caso torna-se interessante a reflexão de Lopes, em Ciência e liberdade (1998, p. 62-65), que observou uma nítida divisão: de um lado, os países desenvolvidos onde a ciência cresceu junto do progresso material e intelectual “que ao mesmo tempo alicerçavam sua estrutura econômica e seu desenvolvimento material”; do outro, os países em desenvolvimento, que, devido ao pouco desenvolvimento científico, ao quais faltou “a alavanca fundamental para realizarem o progresso nos termos que caracterizam as civilizações modernas”.

Esta concepção, de “dois mundos científicos”, foi apresentada pelo próprio Lopes (1998, p. 80-86) na “Conferência Internacional sobre aplicações da Ciência e Tecnologia às Áreas menos Desenvolvidas”, realizada na sede da ONU em 1963, com o título “A ciência e os países em desenvolvimento”, onde salientou uma importante ação a ser realizada pela comunidade científica.

Todos estão de acordo sobre a importância de uma melhor reformulação da política e dos programas de pesquisas em cada país [...]. É obvio que devemos encontrar mais vigorosos instrumentos para combater, por exemplo, o analfabetismo e as doenças [...] devemos oferecer-lhes, de igual modo, trabalhos, torná-las economicamente úteis aos seus países e dar-lhes meios para industrializar e utilizar os seus recursos naturais (LOPES, 1998, p. 80-81).

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Assim, de acordo com as advertências de cada um dos autores acima, observa-se que a própria idéia da ciência como construção social, esbarra em questões políticas, sociais e econômicas, resultando na criação de elites e abismos científicos. De fato, segundo Bourdieu

(2004, p. 34),

[...] o mundo da ciência, como o mundo econômico, conhece relações de força, fenômenos de concentração do capital e do poder ou mesmo de monopólios, relações sociais dominantes que implicam uma apropriação dos meios de produção e de reprodução, conhece também lutas que, em parte, têm por móvel o controle dos meios de produção e reprodução.

Retornando a concepção de que a Ciência é uma atividade social, um ponto torna-se importante: como seria formada esta coletividade que contribui na construção da cultura científica? Pensar na coletividade da ciência remete a dois caminhos, que Ziman (2003, passim) descreve como o da ordem da “comunidade e comunicação” e o da ordem das “instituições e autoridades”. O primeiro, cabendo principalmente às associações, grupos de pesquisas e de interesses comuns, através de seus eventos, publicações e até mesmo do “colégio invisível”. O outro caminho dessa coletividade é a própria construção do ambiente de ação científica, estruturas organizacionais burocráticas que possuem objetivos bem específicos para a ação científica1. O autor conclui que em sua maioria os cientistas modernos trabalham para organizações burocráticas - como universidades, serviços públicos e empresas industriais – que de uma forma ou de outra, acabam sofrendo pressões e influência do mercado ou questões políticas.

O foco de reflexão a partir desse momento passa a ser especificamente a universidade, assim como observar, qual seu objetivo enquanto espaço de ação científica e quais as influências que sofre da sociedade em geral2.

1 Cabe ressaltar o entendimento da idéia de “ação científica”. Não que a comunicação não seja ação da pesquisa, mas entende-se aqui como a ação, o trabalho empírico de pesquisa, a coleta, organização e análise de dados e informações.

2 No final deste capítulo será dada atenção às ações do Estado e seus mecanismos de regulamentação, fomento e controle de pesquisas, por exemplo, no Brasil, a CAPES e o CNPq. A questão sobre as “comunidade e

comunicação” será tratada ao longo do trabalho, mas de forma mais direta na Arquivologia, por exemplo, observando as comunidades a qual o universo pesquisado faz parte, e o tipo de comunicação que costumam utilizar.

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2.2 UNIVERSIDADE, PESQUISA E SOCIEDADE.

Pode-se compreender que a finalidade principal de uma universidade é a criação de “conhecimento novo” através da pesquisa científica, a procura dos princípios e mecanismos que conduzam à inovação tecnológica, os estudos literários e as especulações filosóficas, a criação artística, a investigação em todos os domínios da ciência e da cultura. (LOPES, 1998, p. 36-44)

Tais finalidades têm como foco servir ao desenvolvimento social com inovações em diferentes setores da vida, por exemplo, o econômico, o social e o cultural. Tanto que alguns dos critérios de controle e avaliação existentes se baseiam na qualidade e pertinência social das pesquisas realizadas e no seu mérito, revelado em suas publicações, em conferencias e preleções. Assim sendo, eliminada a pesquisa e a construção do “conhecimento novo” como função primeira da universidade, está será no dizer de Lopes (1998, p. 213-216), uma universidade de segunda categoria, que não prestará senão um ensino rotineiro, uma educação sem vitalidade.

Todavia, cabe ressaltar uma questão importante, para a qual já se chamou a atenção, em relação aos usos sociais da ciência e ao papel das universidades na criação de conhecimento e sua aplicabilidade social em diferentes contextos históricos e sociais – o que Lopes (1998, p. 90) chamou de “hiato científico” entre as nações “desenvolvidas” e as “em desenvolvimento”. Um fator importante nessa diferença histórica acaba sendo a ação do Estado junto das universidades. Pode-se observar, por exemplo, o caso da América Latina, casos de interferências e pressões políticas, muitas das vezes resultando na falta de apoio financeiro e de políticas publica de desenvolvimento da pesquisa, até mesmo em setores estratégicos.

Retomando a questão da função das universidades na sociedade, recorre-se normalmente a analogia do tripé - ensino, pesquisa e extensão - para se falar das funções das universidades. Diante destas três categorias entrelaçadas, podem-se identificar três modelos que coexistem na universidade: “como um lugar de pesquisa, da prática de pesquisa e de ensino da pesquisa, básica e aplicada”; “como uma espécie de agente prestador de serviços”; e “como um lugar privilegiado de preparação para o exercício de profissões” (MORAES, 1998, passim).

Diante dessa característica, dependendo da área de atuação, de acordo com Moraes (1998, passim), muitos pesquisadores acabam possuindo relações mais intensas com o “mercado” e a prestação de serviço, e não comprometendo com a universidade de modo

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integral. Ratifica-se assim a importância da “prática da pesquisa e ensino da pesquisa”, mas qual o papel do professor universitário “que não está constantemente investigando e informando-se a respeito de problemas e novidades de sua disciplina”?

Cabe ressaltar que a visão neste trabalho não é de uma universidade voltada apenas para questões sociais e de desenvolvimento humano e cultural (visão muito difundida para países em desenvolvimento), ou de uma universidade, aliada unicamente a setores produtivos em detrimento a questões sociais globais, como transferência de conhecimento entre diferentes sociedades (visão difundida para países desenvolvidos). Neste caso, o que nos interessa, é observar a universidade em seu papel fundamental e básico, como já foi descrito inicialmente, na produção de conhecimento, e, a sim, dependendo de cada construção sociocultural, fazer-se uso deste conhecimento. Neste caso, não cabe descrever um modelo certo ou errado, mas cabe descrever as múltiplas possibilidades de ação e uso das universidades.

O foco neste momento será observar as ações da universidade, e do Estado como agente social e financiador, na produção e no uso social desse conhecimento. O que Clark Kerr3 (apud TEIXEIRA, 2005, p.197) nomeia de multiversidade, sem cair numa possível ilusão utópica de universidade perfeita, mas sim uma “universidade da sociedade industrializada, integrada na sociedade, no seu comércio, na sua indústria, nos seus serviços, na sua arte e no seu desenvolvimento global” (TEIXEIRA, 2005, p.197).

2.3 UNIVERSIDADE NO BRASIL

A formação das universidades no Brasil, assim como nas mais diversas sociedades modernas, possuiu características e influências específicas dos debates sobre a própria noção de nação, cidadania e desenvolvimento. Ou seja, a escolha dos modelos e estruturas de universidades formuladas historicamente no Brasil refletiu desde seu início, as questões debatidas na própria concepção de Estado a que se queria construir. Como descreveu Anísio Teixeira, em Ensino superior no Brasil (2005, p. 235),

3 Anísio Teixeira não cita qual seria a obra de Clark Kerr que ele citou. Kerr foi reitor da Universidade da Califórnia e autor de obras, como por exemplo: Os usos da universidade, traduzido por Débora Cândida Dias Soares e publicada em 1982 pela Editora da Universidade Federal do Ceará, neste livro há um artigo intitulado “multidiversidade”.

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[...] o modo pelo qual o ensino superior e instituiu no Brasil, como fenômeno histórico não foi resultado de acidentes, como julgam, mas adaptações conseqüentes às condições e as possibilidades sociais então estabelecidas.

Traçando um breve panorama histórico da institucionalização do ensino superior e universitário no Brasil, pode-se entender que sua edificação chegou ao Brasil junto com dom João VI, através das primeiras escolas e cursos superiores4. Todavia, a primeira universidade em solo brasileiro só foi criada em 1920, a Universidade do Rio de Janeiro, através da uma justaposição das Faculdades de Medicina, Direito e Engenharia5. Para Teixeira (2005, p. 163), a universidade que nasceu no Brasil em 1920 “presidiu a formação da cultura no Brasil: um centro de rígido treino de mente e de formação profissional” e que nasceu com um século de atraso às novas conspirações universitárias, como por exemplo, a Universidade de Humboldt de Berlim (Alemanha), “dedicada à pesquisa, à descoberta do conhecimento científico e ao serviço comunidade, à complexa sociedade moderna”.

Esta concepção atrasada de universidade perpetuou-se mesmo depois da proclamação da república. Fato mudado apenas na década de 1930, com o Decreto 19.851, de 11 de abril de 1931, instituindo o regime universitário e depois o estatuto das universidades brasileiras, resultando na criação da Universidade de São Paulo (1938), sendo esta a primeira a ser criada e organizada segundo as novas normas do regimento universitário. As demais universidades, até então, tinham se organizado pela simples incorporação dos cursos existentes e autônomos. (TEIXEIRA, 2005, p. 45-48).

Somente na década de 1960 é que ressurge o debate de uma nova idéia de universidade, baseada agora da Lei de Diretrizes e Bases em 1961, mesmo ano da criação da Universidade de Brasília - UnB. Todavia observa-se que tal anseio não se confirma. Se para Lopes (1998, p. 45-48), em entrevista a véspera da criação da UnB (1962), esta nova universidade representava uma oportunidade única de modernizar a universidade brasileira, dezessete anos depois, ele deixa a entender que seus anseios não se concretizaram ao publicar o texto Ciência e a universidade no terceiro mundo: a experiência frustrada do Brasil (1998, p. 122-143), mostrando seu descontentamento com o rumo do ensino universitário escolhido para o Brasil.

Acerca dessa “experiência frustrada”, Anísio Teixeira, oito anos depois da criação da UnB, descreve que “ao lado dessa nova universidade continua a expansão do ensino superior

4Para aprofundamento no tema e compreender os cursos criados com a chegada de dom João VI ao Brasil e suas ramificações e mudanças de nomes ao longo da história ver: TEIXEIRA, 2005.

5 Universidade do Rio de Janeiro, que em 1837 passa a se chamar Universidade do Brasil, mudando finalmente em 1965 para Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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dentro dos moldes anteriores, que a Lei de Diretrizes e Bases não chegara a modificar” (TEIXEIRA, 2005, p. 195-204).

A atual Lei de Diretrizes e Bases – LDB6 define e regulariza o sistema educacional no Brasil, incluindo o ensino superior e o papel das universidades. No Artigo 43 (BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996), são enumeradas as finalidades do ensino superior no Brasil:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;

V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;

VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.

Acerca do papel das universidades no ensino superior, observa-se que no Artigo 52 (BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases, 1996) diz que as universidades possuem caráter “pluridisciplinares”, voltado para a “produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional”. Na teoria, através da comparação das diferentes versões da LDB, pode-se supor que os objetivos das universidades sofreram importantes mudanças, ficando mais próxima de uma universidade nos moldes da Universidade de Humboldt de Berlim, visando contribuir nas soluções das questões da sociedade moderna.

As universidades brasileiras hoje possuem inúmeras unidades e serviços abertos à sociedade em geral, como por exemplo, as bibliotecas, museus, centros de documentação, arquivos e bancos de informação, grupos de teatro, música e dança, orquestras sinfônicas, galeria de artes, estações de rádio e TV, escolas de extensão, escritórios, clínicas, assessorias

6 A primeira versão da Lei de Diretrizes e Bases foi formulada em 1961, seguida por uma nova versão em 1971 que durou até a formulação da versão atual, em 1996.

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empresariais e muitas outras atividades que envolvem o conceito de multiversidade (VELOSO7, 1991 apud MORAES, 1998).

Dentro desta perspectiva múltipla de ação, cada vez mais ganha importância, na contramão do pesquisador solitário, a idéia de pesquisa coletiva, e os espaços como os laboratórios, centros e núcleos de pesquisa, fortalecendo a idéia de comunidade. Outro importante ponto de reflexão é a participação de instituições de fomento aliadas as instituições de regulamentação e controle das ações.

No Brasil estes órgãos de fomento, em sua quase totalidade, estão nas mãos do Estado, como, por exemplo, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (Capes) e, no caso do Rio de Janeiro, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Sem falar nas ações, ainda pequenas, mas em número crescente, das parcerias das universidades com as agencias privadas de financiamento, em sua maioria, voltada para o mercado, envolvendo a busca por melhorias técnicas no setor produtivo e de qualificação de mão-de-obra.

Todas estas mudanças e inferências de setores estatal e privado na ação das universidades são vistas com desconfianças por alguns especialistas. Marilena Chauí (1999) vai chamar de “Universidade Operacional” 8, apodando a posição da universidade unicamente no setor de prestação de serviços e da sua reduzida autonomia na administração dos próprios recursos e na produção de conhecimento.

Vários sãos os problemas ligados a estas mudanças, como por exemplo: a pressão das agencias reguladoras e de fomento que os pesquisadores reféns por financiamento e até mesmo, diante de múltiplas tarefas, o pesquisador que passa a adquirir status de “administrador acadêmico”, deixando o ensino de lado, chegando a priorizar outras atividades mais “rentáveis” como a consultoria privada. (WOLFF9

, 1993 apud MORAES, 1998).

Cabe ressaltar que nesta relação entre universidade e Estado, um problema que normalmente ronda a relação vem justamente da fragilidade do Estado diante de gestões e questões políticas. Lopes publicou em 1998 na revista Ciência e Sociedade do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas - CBPF - um artigo denominado “Universidade e ciência: as ameaças do Governo Federal” onde ele relata a adoção de medidas radicais de corte de verbas para as universidades públicas federais, dificultando “ao florescimento das

7 VELOSO, Jacques (org). Universidade pública, política, desempenho, perspectivas. Campinas: Papirus, 1991, pp. 24-25.

8 Título do artigo.

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universidades públicas, ao futuro da ciência no Brasil e até a sua sobrevivência” (1998, p. 281).

Um exemplo recente dessa dependência das universidades de ações, ou a falte de ações em alguns casos, por parte do governo é o próprio REUNI. Trata-se do projeto do governo Federal de expansão da educação superior no Brasil, que instituiu pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – Reuni10. Não entrando no mérito do programa, a questão que mais importa aqui é que este ele é um exemplo de como as ações políticas educacionais no Brasil ficam a mercê de um governo para outro. Tendo em vista que as instituições federais de ensino ficaram longo período, de governos anteriores, sem investimentos, sendo necessário criar programas emergenciais, tendo em vista que a atual estrutura universitária não comporta a demanda de mão de obra qualificada necessária ao país.

2.4 O ESTADO E AS AGENCIAS REGULADORAS E DE FOMENTO Á PESQUISA

Como já mencionado anteriormente, a responsabilidade na promoção do desenvolvimento das instituições de ciência e tecnologia em nosso país coube ao Estado. Cabe assim refletir sobre as políticas de Estado para a ciência e tecnologia, pois estas estão diretamente ligadas às estratégias de atuação e, consequentemente, às questões orçamentárias. Observando a própria trajetória histórica do fazer científico no Brasil pode-se observar tais interferências “extra-científicas”.

Com o início da República a produção científica fica polarizada em duas regiões, Rio de Janeiro e São Paulo. Em São Paulo, onde “as instituições paulistas que passam, cada vez mais, ao primeiro plano” buscava-se assumir o papel de liderança nas atividades científica e educacional no Brasil, com a criação, por exemplo, do Instituto Butantã e a Faculdade de Medicina. Todavia, faltava neste momento uma base social mais ampla onde a política cientifica e educacional pudesse se assentar. No Rio de Janeiro, “capital cultural” do país, onde os grandes problemas eram discutidos e as grandes políticas eram idealizadas, graças às escolas politécnicas ocorreu uma “visão totalmente nova a respeito da natureza da atividade de pesquisa e da organização da vida universitária”. Campo propício para a fundação da

10

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6096.htm. Acesso em: 15 jan. 2013.

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Academia Brasileira de Ciência (1917), o Instituto de Manguinhos, e a Universidade do Rio de Janeiro (1920) (SCHWARTZMAN, 1982, passim).

Entretanto, com a Revolução de 1930, ocorre uma reviravolta. Resultando na construção da Universidade de São Paulo, como já fora descrito anteriormente, a primeira nas novas concepções de universidade moderna.

Enquanto no Rio a centralização e burocratização que irradia do poder central minam progressivamente todas as tentativas de organização de uma atividade científica e universitária mais autônoma e independente [...] é para São Paulo que se transfere o centro das preocupações com uma universidade de novo tipo, que pudesse ter um papel significativo e próprio no desenvolvimento do país (SCHWARTZMAN, 198211).

Ratifica-se assim o entendimento de que no Brasil ocorreram estas relações do Estado na institucionalização da pesquisa científica e na constituição das agencias publicas de fomento e desenvolvimento de ensino e pesquisa universitária.

Devido a esta dependência de investimento na produção científica no Estado brasileiro, a institucionalização das agencias públicas de regulamentação, fomento e controle da prática científica tiveram papel fundamental na formação da cultura científica e universitária em nosso país (FERRO; SILVA, 2010, p. 2). As principais agências federais de fomento e controle são: o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq -, a Agencia Brasileira de Inovação (antiga Financiadora de Estudos e Projetos) - FINEP -, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP -, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES -, o Fundo Tecnológico do Banco Nacional de Desenvolvimento - BNDES FUNTEC - e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT. Alguns estados da Federação possuem também agencias financiadora, no caso do Rio de Janeiro sendo a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ - e em São Paulo, a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP.

Devido a importância atual, a abrangência de suas ações de regulamentação, controle e fomento, serão destacadas aqui o papel do CNPq e a CAPES, assim alguns de seus mecanismos técnicos de ação, respectivamente, a Plataforma Lattes e o sistema Qualis Revista e Qualis Livro.

Tanto a Capes quanto o CNPq possuíram papel fundamental na consolidação da ciência e tecnologia no Brasil, sendo criadas no bojo das reflexões durante o pós-guerra, tendo

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em vista o momento social vivido no segundo governo Vargas com um projeto de construção de uma nação desenvolvida e independente. A ênfase à industrialização pesada e a complexidade da administração pública trouxeram à tona a necessidade urgente de formação de especialistas e pesquisadores (FERRO; SILVA, 2010, p. 17), principalmente em áreas estratégicas como a física nuclear. Todavia, devido a este caráter político, observou-se que ao longo da história estas duas instituições passaram por inúmeros altos e baixos em relação ao papel de cada uma, o que ste refletiu diretamente nas verbas e autonomia de gastos.

Foi somente em meados da década de 1970 que o Estado “incentivou uma ação coordenada entre a Capes e o CNPq, ao definir o papel deste como órgão fomentador da pesquisa e o da Capes como órgão de apoio à formação e ao aperfeiçoamento de pessoal”, de modo a eliminar indefinições, conflitos de interesses, ações desordenadas e duplicações de esforços (FERREIRA; MOREIRA, 2002, p. 21-22).

2.4.1 CAPES E O SISTEMA QUALIS REVISTA E QUALIS LIVRO

A Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior foi criada também em 1951, inicialmente, com o título de Comissão, destinada a promover o aperfeiçoamento do pessoal de nível superior. Em 1974 passa a ser uma Coordenação e em 1992, após ser quase extinta pelo governo Collor, foi aprovada a transformação da agência em Fundação, possibilitando uma reestruturação da mesma no cenário nacional de fomento a pesquisa. A Fundação tem como missão desempenhar o papel fundamental na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todo o país12. As suas atividades são agrupadas em cinco linhas de ação:

- avaliação da pós-graduação stricto sensu; - acesso e divulgação da produção científica;

- investimentos na formação de recursos de alto nível no país e exterior; - promoção da cooperação científica internacional.

- indução e fomento da formação inicial e continuada de professores para a educação básica nos formatos presencial e a distância (BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. “História e Missão” 13).

A participação da CAPES foi fundamental na institucionalização da pós-graduação no Brasil na década de 1970. A Capes é o único órgão público do país “que se ocupa

12 Em 2007, passou também a atuar na formação de professores da educação básica, ampliando o alcance de suas ações na formação de pessoal qualificado no Brasil.

13

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exclusivamente da pós-graduação, já agora em seu sentido lato, de ensino para graduados, [...] ainda coopera, realisticamente, para a realização de cursos de atualização e nivelamento” (LOPES14, 1972 apud FERRO; SILVA, 2010, p. 4).

Um importante mecanismo da CAPES é o sistema de avaliação, que serve de instrumento para a comunidade universitária na busca de um padrão de excelência acadêmica. Os resultados da avaliação servem de base para a formulação de políticas para a área de pós-graduação, bem como para o dimensionamento das ações de fomento - bolsas de estudo, auxílios e apoios.

Além do sistema de avaliação dos programas de pós-graduação, também há o sistema Qualis, que,

[...] é o conjunto de procedimentos para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. Tal processo foi concebido para atender as necessidades específicas do sistema de avaliação e é baseado nas informações fornecidas por meio do aplicativo Coleta de Dados. Como resultado, disponibiliza uma lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção. A estratificação da qualidade dessa produção é realizada de forma indireta. Dessa forma, o Qualis afere a qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos e anais de eventos. (BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. “Qualis” 15)

O sistema Qualis é composto por dois grupos de avaliação: o Qualis Periódico e o Qualis Livro. O primeiro, busca avaliar os periódicos científicos nacionais e internacionais. A classificação desses periódicos é anual e é realizada por comissões dentro de cada área. Esses veículos são enquadrados em estratos indicativos da qualidade - A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C. Uma Característica importante, por dar valor a especificidade de cada área, é que um mesmo periódico pode ser classificado em mais de uma área de conhecimento e pode receber diferentes avaliações. Esta característica torna-se pertinente, pois os critérios de avaliação mudam de uma área para outra, tendo em vista especificidades próprias (BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. “Qualis” 16).

O Qualis Livro, ainda está em processo de finalização, mas já possui um Roteiro para Classificação de Livros, criado pelo Conselho Técnico-Científico da Educação Superior em agosto de 2009. Cabe a este roteiro “estabelecer critérios comuns para qualificar a produção

14 LEITE, C. B. A pós-graduação e o papel da Capes. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, DF, v. 58, n. 128, p. 352-358, 1972.

15 Disponível em: http://www.capes.gov.br/avaliacao/qualis. Acesso em: 15 jan. 2013. 16 Disponível em: http://www.capes.gov.br/avaliacao/qualis. Acesso em: 15 jan. 2013.

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intelectual veiculada através de livros, e a partir dele, estabelecer orientações para a avaliação trienal”. A preocupação com a qualidade da publicação de livros torna-se pertinente devido ao fato de em várias áreas de conhecimento, os livros constituem a principal modalidade de veiculação científica e que comportam singularidades frente aos periódicos. Cabe ressaltar que este tipo de avaliação não existe em nenhum outro lugar no mundo (BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. “Qualis” 17).

Todo este mecanismo visa refletir a importância das ações destas agencias de regulamentação, fomento e controle da pesquisa e ensino universitário, assim como seus mecanismos técnicos de ação visando o amadurecimento do fazer científico no Brasil, principalmente, tendo em vista o objetivo desse trabalho: que é observar a produção científica do corpo docente dos três mais antigos cursos de Arquivologia do país e, assim sendo, observar a atuação desses docentes junto dessas agencias e mecanismos.

2.4.2 O CNPQ A PLATAFORMA LATTES

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico criado pela Lei n 1.310 de 15 de janeiro de 1951 é uma agência vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Tem como um dos principais objetivos de estimular o desenvolvimento da investigação científica e tecnológica nos mais diversos domínios do conhecimento, através do fomentar a pesquisa científica e tecnológica e incentivar a formação de pesquisadores brasileiros. Como órgão de fomento à pesquisa, compete ao CNPq participar na formulação, execução, acompanhamento, avaliação e difusão da Política Nacional de Ciência e Tecnologia, especialmente:

 promover e fomentar o desenvolvimento e a manutenção da pesquisa científica e tecnológica e a formação de recursos humanos qualificados para a pesquisa, em todas as áreas do conhecimento;

 promover e fomentar a pesquisa científica e tecnológica e capacitação de recursos humanos voltadas às questões de relevância econômica e social relacionadas às necessidades específicas de setores de importância nacional ou regional;

 promover e fomentar a inovação tecnológica;

 promover, implantar e manter mecanismos de coleta, análise, armazenamento, difusão e intercâmbio de dados e informações sobre o desenvolvimento da ciência e tecnologia;

 propor e aplicar normas e instrumentos de apoio e incentivo à realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento, de difusão e absorção de conhecimentos científicos e tecnológicos;

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 promover a realização de acordos, protocolos, convênios, programas e projetos de intercâmbio e transferência de tecnologia entre entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais;

 apoiar e promover reuniões de natureza científica e tecnológica ou delas participar;  promover e realizar estudos sobre o desenvolvimento científico e tecnológico;  prestar serviços e assistência técnica em sua área de competência;

 prestar assistência na compra e importação de equipamentos e insumos para uso em atividades de pesquisa científica e tecnológica, em consonância com a legislação em vigor; e

 credenciar instituições para, nos termos da legislação pertinente, importar bens com benefícios fiscais destinados a atividades diretamente relacionadas com pesquisa científica e tecnológica (CNPq. Competências18).

O contexto de criação do CNPq está relacionado diretamente com o debate internacional sobre energia nuclear, principalmente da participação do Brasil na Comissão de Energia Atômica das Nações Unidas entre 1946 e 1948, que oficializa a idéia da criação de um Conselho sobre energia atômica, projeto que foi abandonado pelo governo. Em 1951 foi criado o Conselho Nacional de Pesquisa (atual CNPq), “um órgão de supervisão que se apresenta como um Estado-Maior da Ciência, da Tecnologia e da Indústria”, capaz que orientar os rumos de forma segura dos trabalhos de pesquisa científicas e tecnológicas no país (ROMANI, 1982, p. 87).

Inicialmente o CNPq ficou encarregado especificamente dos assuntos relativos à energia atômica no Brasil, fato que foi se modificando com o passar do, onde foi ampliando o campo de ação para outras áreas científicas. Esta maior abrangência possibilitou “oferecer ao cientista condições mínimas de dedicação integral ao trabalho de pesquisa, assim como suscitar no estudante a vocação pela carreira de pesquisador” (ROMANI, 1982, p.92).

Atualmente, o CNPq possui duas importantes frentes de ação. A primeira, ligada a promoção e fomento financeiro o desenvolvimento científico e tecnológico e a capacitação de recursos humanos, podendo ser: em forma de bolsas, tendo em vista a formação de recursos humanos e à pesquisa, sendo oferecidas 41 modalidades de bolsas; e em forma de auxílios, que compreende equipamentos, materiais de consumo e bibliográfico, assim como auxilio de serviços de natureza técnica ou especializada, realizações e participações de eventos científicos e publicações de trabalhos entre outros (BARBATHO, 2011, p. 46).

Outra importante frente de ação do CNPq está ligada a implantação de mecanismos de coleta, análise, armazenamento, difusão e intercambio de dados e informações sobre o desenvolvimento científico e tecnológico, destacando-se a Plataforma Lattes, que integra o Currículo Lattes, o Diretório de Grupos de Pesquisa e o Diretório de Instituições. Esses três recursos possibilitam ações “estratégica não só para as atividades de planejamento e gestão,

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mas também para a formulação das políticas do Ministério de Ciência e Tecnologia e de outros órgãos governamentais da área de ciência, tecnologia e inovação.” (CNPq, Plataforma Lattes19).

A Plataforma Lattes, nesta pesquisa, vai além da concepção de um exemplo de mecanismos utilizado pelo CNPq, mas trata-se também da principal fonte utilizada nesta pesquisa, pois armazena o currículo do universo aqui analisado, de 35 docentes. Assim sendo cabe um aprofundamento desse mecanismo.

Observa-se a importância do Lattes na organização, armazenamento e difusão de informações científicas, que é hoje adotado pela maioria das instituições de fomento, universidades e institutos de pesquisa do país, e de acordo com o próprio CNPq: “tendo em vista sua riqueza de informações e sua crescente confiabilidade e abrangência, se tornou elemento indispensável e compulsório à análise de mérito e competência dos pleitos de financiamentos na área de ciência e tecnologia”. (CNPq, Plataforma Lattes20).

Este projeto iniciou-se da década de 1980 com a preocupação de implantar “um formulário padrão para registro dos currículos dos pesquisadores brasileiros”, seu nome é em homenagem ao cientista Cesare Lattes (CNPq, Plataforma Lattes21).

Trata-se de um “conjunto de sistemas computacionais do CNPq que visa a compatibilizar e integrar as informações em toda interação da Agência com seus usuários”, buscando assim a racionalização e o aprimoramento da qualidade das informações da produção de conhecimento no país (CNPq. Plataforma Lattes22).

A sua abrangência informacional, permite que a Plataforma seja adotada por todas as áreas do conhecimento e o registro da “vida progressiva e atual dos pesquisadores sendo elemento indispensável à análise de mérito e competência dos pleitos apresentados a Agência”. Além disso, sua ampla adoção permiti maior transparência e confiabilidade às atividades, já que estão expostas na internet. (BARBATHO, 2012, p. 53)

Alguns problemas ainda permeiam o uso da Plataforma Lattes. Primeiro os técnicos, mas que ainda hoje são aos poucos superadas. A Plataforma vem passando por várias reformulações ao longo dos anos, buscando facilitar o preenchimento dos formulários e a pesquisa dos usuários, cabe ressaltar o empenho, pois em 2005 foi criada uma Comissão para Avaliação do Lattes, composta por pesquisadores de diferentes áreas, para promover o

19

Disponível em: http://Lattes.cnpq.br/. Acesso em: 27 dez. 2012. 20 Ibdem.

21 Ibdem.

22

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aperfeiçoamento da ferramenta. O outro problema volta-se as falhas humanas envolvendo os equívocos dos cientistas no preenchimento da base ou a não atualização das informações (CNPq. Plataforma Lattes23; BARBATHO, 2011).

No entanto, e apesar desses problemas técnicos e humanos, a Plataforma Lattes é reconhecida internacionalmente, sendo mencionada pela diretoria do Programa Ciência da Ciência e Política de Inovação, da Fundação Nacional da Ciência dos Estados Unidos, no periódico Nature, como um “exemplo de banco de dados completo e altamente qualificado” (BARBATHO, 2011, p. 54).

Entre as informações existentes consta: dados pessoais, formação acadêmica e titulação, atuação profissional, linha de pesquisa, projetos de pesquisa, áreas de atuação, prêmios, produção bibliográfica e participação em eventos, orientações e bancas. Atualmente o sistema abriga mais de 1,6 milhões de currículos, sendo que destes, pouco mais de 100 mil são doutores e quase 75 mil são mestres (CNPq. “Dadas e Estatísticas” 24).

23

Disponível em: http://Lattes.cnpq.br/. Acesso em: 27 dez. 2012

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3. A CONSTITUIÇÃO DO SABER ARQUIVÍSTICO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL

3.1 DO CONHECIMENTO PRÁTICO AO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Realizando uma leitura dos trabalhos que discutem a história da Arquivologia, entendemos que a arte de organizar da documentação oficial surge junto com as primeiras organizações sociais dentro do aparelho administrativo do Estado. Os primeiros arquivos na antiguidade reuniram já ingredientes que tornaram parâmetros e que ainda hoje são defendidos pela Arquivologia, tais como a existência de aspectos orgânicos, além de cuidados com a identidade e a autenticidade dos próprios documentos.

Por um longo tempo foi este o alicerce do fazer arquivístico, como entendeu Weber (WEBER25, 1979 apud FONSECA, 2005, p. 38), para quem o trabalho e a administração do Estado moderno se baseiam em documentos escritos. Por este motivo é que serão os “burocratas dos papéis” os primeiros a discutirem acerca das melhores práticas e métodos de organizar a documentação, tendo como objetivo o maior controle do Estado sobre a sociedade. Isso significa dizer que o que conhecemos como Arquivologia, nasceu de um conhecimento prático dentro da máquina estatal, como um mecanismo de ordem e controle da sociedade (FONSECA, 2005, p. 38).

Para Fonseca (2005), a importância da “revolução arquivística” origina-se do fato dela ter ocorrido juntamente com a revolução liberal francesa iniciada no fim do século XVIII, tendo em vista que uma administração foi criada para cobrir toda a rede de repartições públicas e sua produção documental. Pela primeira vez o Estado reconheceu sua responsabilidade em relação aos cuidados com o patrimônio documental por ele produzido, bem como afirmou o direito público de acesso aos arquivos.

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Antes do século XIX, cabia ao arquivista o serviço da organização dos arquivos para fins administrativos; a partir do século XIX, a Arquivologia passa a ser entendida como uma área auxiliar à História. Com o século XX, o crescimento da idéia de sociedade da informação favoreceu a emergência desse saber como disciplina específica. Para Malheiros et alii (1998) os arquivos, a partir da década de 1980, passam a ser vistos como parte de um sistema de informação, aproximando a Arquivologia das Ciências da Informação - é o início da fase científica da Arquivologia.

Na realidade a visão dos autores portugueses reflete uma tendência muito específica e que se espalhou no Brasil em boa parte dos cursos de graduação em Arquivologia e na Tabela de Áreas do Conhecimento - TAC - do CNPq, a concepção da Arquivologia ligada, e sub-categorizada hierarquicamente, à Ciência da Informação26. Esta concepção de Arquivologia não é unânime, recebe críticas e atualmente há uma tentativa de ser revista, principalmente junto a TAC e o CNPq. O fato é que muitos dos cursos de graduação em Arquivologia, sendo o caso de dois dos três cursos a serem analisados nesta pesquisa, fazem parte dos Departamentos de Ciência da Informação em suas respectivas instituições.

Retomando ao debate, Fonseca e Jardim (1999) observaram no Brasil a partir da década de 1950 e 1960 uma mudança, tímida e lenta, onde o “pensar arquivístico” deixa de ser monopólio apenas dos funcionários administrativos do Estado, direcionando tais prerrogativas também à academia. É nesta perspectiva que Couture et alii (1999) relataram que a criação dos cursos de graduação em Arquivologia teria sido o grande marco definidor dos rumos da pesquisa na área, propiciando uma cultura de produção de conhecimento arquivístico. A atividade de pesquisa não necessita apenas de dinheiro e cérebro, mas exige também uma cultura, um ambiente e um meio que favoreça ao máximo seu resplendor.

Foi dentro da academia que se propagou o discurso cientificista da Arquivologia e que, para além de uma gestão do documento (suporte), deveria realizar a gestão informacional desses documentos. Tais mudanças apontam para um novo horizonte da área, daí brotando a idéia de que o arquivo agora não é apenas uma máquina do poder do Estado, mas ao contrário, onde o “pensar arquivístico” hoje, mas do que nunca, ajuda a pensar a sociedade.

No entanto, essa posição é questionada, tendo em vista, que para a sociedade a Arquivologia continuou sendo um trabalho essencialmente braçal na organização de papeis “velhos e mortos”, ou pior, documentos que sequer sabem o que são e para que servem. Tais

26

Disponível em: http://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimento. Acesso em: 27 dez. 2012.

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questionamentos fazem-nos pensar: será que realmente se está produzindo conhecimento científico? Será que os cursos de Arquivologia estão produzindo algum conhecimento socialmente reconhecido? E por fim, será que dentro da academia o pensar arquivístico está realmente ligado ao fazer arquivístico?

Em 2008 realizei uma breve análise nos currículos Lattes dos docentes do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense27, onde se constatou que: dos 23 docentes relacionados no site do Departamento de Ciência da Informação (curso de Arquivologia e de Biblioteconomia), apenas sete possuíam projeto de pesquisa em andamento, ligados a UFF e/ou particulares, envolvendo o fazer arquivístico ou bibliotecônomico. Cabe ressaltar que onze eram doutores, nove mestres e três especialistas e que apenas dois não possuíam regime de dedicação exclusiva.

Jardim (1999) apresentou, em fins da década de 1990, algumas reflexões importantes para pensarmos a produção de conhecimento arquivístico. Ele verificou a inexistência de periódicos exclusivos à Arquivologia no Brasil, o que acabava por refletir num grave problema de comunicação científica no campo. Percebeu também uma média anual de publicação de artigos, comunicações e relatos de experiências entre autores nacional extremamente baixa e concentrada, sendo 35% dos autores, predominantemente docentes universitários, responsáveis por quase 60% dos trabalhos. Por outro lado, apesar do predomínio de docentes universitários na publicação de trabalhos, o número total estava aquém do desejado, refletindo a quase inexistência de pesquisa nos cursos de Arquivologia. E finalmente, apontou a baixa quantidade de graduados da área com trabalhos publicados, conotando talvez, uma falha na formação proveniente pelo não contato com pesquisas científicas.

Couture, Martineu e Ducharme (1999) sinalizaram também em 1999 na França essa mesma problemática, deixando evidente que este pequeno número de pesquisas acadêmicas deve-se à deficiência numérica de pesquisadores, além da natureza ainda marginal das atividades de pesquisa e das dificuldades de se obter financiamento institucional. Todavia, a pesquisa realizada em 2008, com os docentes do Departamento de Ciência da Informação da UFF, refuta a explicação dos canadenses, tendo em vista que mesmo com o alto número de doutores e de regime de dedicação exclusiva no departamento, o número de pesquisa realizada era baixo.

27 Pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2008 como trabalha final da disciplina Fundamentos Arquivísticos II, ministrada pela então professora Lúcia Veloso, no curso de Arquivologia pela UFF.

(35)

Será que os baixos números de docentes envolvidos com pesquisas acabam por refletir na produção científica? Como está hoje essa produção de conhecimento arquivístico, quais são as temáticas mais comuns? Qual o envolvimento desses docentes com os eventos de comunicação científica? Estas e muitas outras perguntas se fazem pertinentes.

Como podemos observar, há pouco mais de dez anos atrás, a Arquivologia enquanto campo científico era alocado perifericamente, não constituindo o foco central, ou seja, as discussões atinham-se muito mais ao percurso da profissão arquivística do que à Arquivologia como um campo científico (JARDIM, 1999).

Todavia algumas ações mais recentes buscam contribuir nesta mudança, por exemplo, as duas edições da Reunião Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia –REPARQ - que, além de reunir e consolidar os debates voltados ao ensino e pesquisa tem o objetivo de criar a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia. Outra importante conquista foi a criação do primeiro programa de pós-graduação em Arquivologia, o Programa de Pós-Graduação em Gestão de Documentos e Arquivos – PPGARQ - da Escola de Arquivologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.

Assim sendo, esta pesquisa busca mapear a produção de conhecimento arquivístico dos docentes ativos e atuantes dos três cursos de graduação em Arquivologia mais antigos do Brasil, Universidade Federal de Santa Maria (RS), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (RJ) e Universidade Federal Fluminense (RJ).

3.2 PANORAMA BRASILEIRO

Silva e Orrico (2011), ao apresentarem um mapeamento dos discursos explicativos sobre a trajetória de constituição do campo da Arquivologia no Brasil, remontam ao período da criação do Arquivo Nacional em 1838 e

[...] nas duas iniciativas da instituição, de 1911 e 1960, dos cursos de diplomática e depois de arquivo; no papel do DASP e da FGV na modernização do Estado; no movimento associativo da década de 1970; no projeto de modernização do Arquivo Nacional nos anos de 1980; e, na configuração do campo a partir de 1991 com os cursos universitários e as leis da profissão e dos arquivos. (SILVA; ORRICO, 2011, p. 1)

A institucionalização do campo arquivístico no Brasil que vem ocorrendo ao longo dos anos pode ser descrito em quatro grandes momentos: primeiro momento, com a criação e ação

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