• Nenhum resultado encontrado

4. CARACTERIZAÇÃO DO CORPO DOCENTE PESQUISADOS, p

4.1 A constituição de um ambiente de saber científico, p

Como já foi mencionado, o universo pesquisado nesta pesquisa configura-se de 35 docentes dos três mais antigos cursos de graduação em Arquivologia do Brasil que estão divididos de acordo com o quadro abaixo.

Tabela 2 - Quantidade de professores por Universidade

IES Docentes* N % UNIRIO 14 40.0 UFSM 11 31.4 UFF 10 28,6 Total 35 100

Fonte: elaboração própria, com base nas informações fornecidas pelos departamentos e pelos sites dos departamentos. * O calculo levou em conta apenas os efetivos em atividade e desconsiderou os contratos substitutos.

Observa-se na tabela dois uma quantidade maior de docentes, 40%, no curso da UNIRIO. Esta superioridade numérica pode ser explicada pela situação atual que se encontra hierárquica e administrativamente o curso e o departamento dentro da universidade. O curso de Arquivologia da UNIRIO está ligado diretamente à Escola de Arquivologia, que por sua vez está subordinada diretamente ao Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCHS. Assim, dos três corpos departamentais pesquisados, o da UNIRIO é o único que não faz parte de um Departamento de Ciência da Informação, estando estruturado hierarquicamente logo abaixo do CCHS, sob o nome de Departamento de Processos Arquivísticos. Tal situação hierárquica pode contribuir para o número de professores dentro do Departamento e, consequentemente, ajuda a explicar esse fato.

Por outro lado, o fato da UFF possuir o menor número de docentes, explica-se pelo fato do Curso de Arquivologia está hierárquica e administrativamente ligado ao Departamento de Ciência da Informação, como Coordenação de Arquivologia, juntamente com a Coordenação de Biblioteconomia. O corpo docente desses dois cursos é o mesmo, existindo professores que lecionam disciplinas específicas ao Curso de Arquivologia, específicas ao Curso de Biblioteconomia e comuns aos dois cursos. Como já mencionado anteriormente, o processo de escolha dos docentes da UFF deu-se de forma diferente, partindo daqueles que lecionam disciplinas específicas de Arquivologia e aqueles que explicitam em seus currículos Lattes algum envolvimento com Arquivologia.

A principal fonte utilizada para mapear este universo pesquisado foi o currículo Lattes de cada um dos docentes. Para seguir um rigor metodológico, todos os currículos foram coletados na plataforma Lattes e salvos numa mesma data, 27 de dezembro de 2012. A criação desse marco temporal tem como objetivo salvaguardar a pesquisa de possíveis atualizações desses currículos, o que poderia invalidar as informações e, consequentemente, a própria pesquisa, tendo em vista que o currículo Lattes não mostra quando e quais foram as atualizações realizadas, mostrando apenas a data da última atualização, como observado na tabela abaixo.

Tabela 3 - Última atualização dos Lattes

Período Por Universidade TOTAL

Unirio UFSM UFF

N % N % N % N % 7 a 12/2012 8 57,2 8 72,7 9 90 25 71,4 1 a 6/2012 1 7,1 2 18.2 1 10 4 11,4 7 a 12/2011 2 14,3 0 0 0 0 2 5,7 1 a 6/2011 0 0 0 0 0 0 0 0 7 a 12/2010 0 0 0 0 0 0 0 0 1 a 6/2010 0 0 1 9,1 0 0 1 2,9 7 a 12/2009 1 7,1 0 0 0 0 1 2,9 1 a 6/2009 2 14,3 0 0 0 0 2 5,7 Total 14 100 11 100 10 100 35 100

Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes.

* As informações dos currículos Lattes foram coletadas e salvas no dia 27 de dez. de 2012.

Do total de 35 docentes, 82,8% tiveram seus currículos atualizados em 2012, sendo 71,4% no segundo semestre de 2012. Este dado não é impressionante, pelo contrário, analisando inversamente, impressionante é observar que 17,2% dos docentes não atualizaram

seus currículos Lattes nos últimos doze meses, chegando a ter currículos, três casos, com a última atualização em 2009.

Este dado torna-se relevante tendo em vista a importância estratégica do currículo Lattes na divulgação e organização do conhecimento científico, como já mencionado no capítulo anterior. Cabe ressaltar que não há nenhuma lei que obrigue aos docentes universitários a possuírem currículo Lattes, mas há obrigatoriedade junto aos órgãos de fomento - qualquer docente do ensino superior no Brasil que queira ingressar na pesquisa com recursos de órgãos de fomento público ou privado deve possuir seu currículo atualizado.

Por se tratar de três instituições federais de ensino é possível observar uma característica proveniente da ação do Governo Federal de financiar a pesquisa nas Universidades Federais e fortalecendo o ambiente acadêmico: o regime de Dedicação Exclusiva - DE.

Tabela 4 - Carga Horária e Regime de Dedicação Exclusiva

Universidade 20h 40h com DE 40h sem

DE N % N % N % UNIRIO 0 0 11 37,9 3 75,0 UFSM 0 0 11 37,9 0 0 UFF 1 100 7 24,2 1 25,0 TOTAL 1 100 29 100 4 100

Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes

* Um professor não foi contabilizado neste calculo por não ter tal informação em seu currículo Lattes.

Rousseau e Couture (1998) e Jardim (1999) escreveram acerca da constituição de um ambiente propício para essa construção de saber científico. Cabe observarmos algumas características que ajudam a compreender a relação da existência de mecanismos administrativos e a disponibilidade de tempo com a constituição desse ambiente e a produção de conhecimento, entre as quais, observar o enquadramento funcional, a carga horária de trabalho e o regime de dedicação exclusiva desses docentes.

Mesmo existindo na academia críticas ao regime de D.E.47, o fato é que em algumas áreas, como nas Ciências Humanas e Sociais, tal regime contribui na criação de grupos majoritários de pessoas comprometidas com a instituição e com a construção do

47

Para melhor compreender este debate, ver o artigo “O regime de dedicação exclusiva nas universidades”. Blog Luis Nassif Online em 6/mar./ 2013. <http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-regime-de-dedicacao- exclusiva-nas-universidades>

conhecimento acadêmico. No caso dos três cursos de Arquivologia, observa-se que 85% dos docentes possuem quarenta horas com D.E.

Figura 1 - Carga horária e dedicação exclusiva

3% 85% 12% 20h sem DE - 1 40h com DE - 29 40h sem DE - 4 TOTAL - 34

Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes.

* Um docente não foi contabilizado neste calculo por não ter tal informação em seu currículo Lattes.

Presume-se que o docente com regime de dedicação terá mais tempo de dedicar-se, não apenas ao ensino, mas também à pesquisa, à produção e à divulgação do conhecimento produzido. O fato da grande maioria dos docentes analisados estarem neste regime contribui para o entendimento de que há, pelo menos em tese, um ambiente propício para a produção de conhecimento teórico.

Cabe ressaltar que nesta pesquisa não questiona-se a importância das 40h e DE, mas apenas considera que além de haver quem tenha esse perfil, também interessaria aos cursos na área a existência de professores que mantivessem vínculos com trabalho nas áreas, não possuindo, assim, DE nem tendo 40 na Universidade.

É importância de ter no corpo docente dos cursos de Arquivologia não apenas professores dedicados à pesquisa teórica, mas também aqueles com experiência prática no fazer arquivístico, permitindo assim uma interlocução de conhecimento a partir da experiência, da prática e da técnica. Todavia um empecilho a essa interlocução é a dedicação exclusiva, tendo em vista que a grande maioria dos atuais docentes possui tal regime, o qual, nos concursos para professor universitário em instituições federais, vem sendo o regime preferido para contratação.

Acerca do regime de exclusividade, do universo pesquisado, cinco docentes (15%) não possuem D.E. Destes cinco, dois, um com quarenta horas e o um de vinte horas, trabalham em instituições arquivísticas. Além disso, a tabela cinco ajuda a pensar esta relação de experiências pré-ingresso dos professores no exercício docente, em que dezesseis, dos 35 docentes – já incluindo neste calculo os dois não D.E. – disseram possuir experiência em alguma instituição arquivística ou já prestaram consultoria arquivística.

Torna-se importante futuramente observar se esta interlocução entre teoria e prática está sendo realizada de forma satisfatória dentro da academia.

Tabela 5 – Experiência profissional paralela ou anterior a docência

ATIVIDADE UNIRIO UFSM UFF TOTAL

Não informado 6 7 2 16

Docência 2 4 6 12

Trabalho arquivístico/ técnico 8 3 5 16

Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes.

Há casos de docentes que possuem experiência tanto na docência quanto em trabalhos arquivísticos/técnico.

Observando a tabela seis e a figura dois, acerca do enquadramento funcional, do total dos docentes que disponibilizam a informação, a maioria, 55%, é de adjuntos, seguidos de 36% de assistentes e apenas 6% de associados e 3% de titulares. Cabe ressaltar que para ser professor assistente o docente deve ter inicialmente o título de mestre e para o enquadramento como adjunto o docente deve possuir o título de doutor.

Tabela 6 - Enquadramento funcional

Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes.

* Foi excluída a coluna “AUXILIAR” por não possui nenhum caso.

** Foram excluídas do calculo 2 docentes por não possuírem tais informações em seus currículos Lattes.

UNIVERSIDADE ASSISTENTE ADJUNTO ASSOCIADO TITULAR TOTAL

N % N % N % N % N

UNIRIO 6 50 5 27,8 2 100 0 0 13

UFSM 3 25 8 44,4 0 0 0 0 11

UFF 3 25 5 27,8 0 0 1 100 9

Figura 2 - Enquadramento funcional 36% 55% 6% 3% ASSISTENTE - 12 ADJUNTO - 18 ASSOCIADO - 2 TITULAR - 1 TOTAL 33

Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes.

* Foi excluída a coluna “AUXILIAR” por não possui nenhum caso.

** Foram excluídas do calculo 2 docentes por não possuírem tais informações em seus currículos Lattes.

Comparando as informações acima com a figura três, observa-se que 26% dos mestres estão se doutorando, isso quer dizer que em pouco tempo o percentual de doutores passará de 50% para 76%.

Figura 3 - Grau de formação acadêmica

Mestre

Doutorando Doutor

Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes.

Tabela 7. Grau de formação acadêmica

IES

Grau de formação acadêmica

Mestre Doutor Doutorando Pós-doc. Livre-docência

N % N % N % N % N %

UNIRIO 2 25,0 5 55,6 6 35,3 1 16,7 1 100

UFSM 5 62,5 1 11,1 5 29,4 1 16,7 0 0

UFF 1 12,5 3 33,3 6 35,3 4 66,6 0 0

Total 8 100 9 100 17 100 6 100 1 100

Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes.

* Neste calculo dividiu-se em duas colunas: os mestres e os mestres com doutorado em andamento (doutorando).

** Pós-doutorado e Livre-docência não são graus acadêmicos, mas entraram aqui como forma de compor a idéia de formação acadêmica de acordo com as diretrizes seguidas pelos docentes no currículo Lattes 48.

Além de observar um provável crescimento, ao longo dos próximos anos, do número de doutores, a tabela sete do grau de formação acadêmica dos docentes possibilita observar que seis, dos nove atuais doutores buscaram dar continuidade da formação acadêmica através da especialização com o pós-doutoramento, sendo que dois desses casos já possuem mais de um pós-doutorado. O que faz notar, tanto nos mestres quanto nos doutores, a procura pela qualificação.

É notório o aumento quantitativo do ensino superior ocorrido nos últimos anos, tanto em números de instituições superiores quanto em de cursos de graduação e pós-graduação. O processo não é diferente na Arquivologia, onde o número de cursos de graduação cresceu de forma significativa. Hoje, são dezesseis cursos por todo o território nacional, sendo a metade desses, criada nos últimos dez anos. Tal crescimento no campo acadêmico é reflexão do momento favorável para a academia, devido às políticas de investimento em ciência e tecnologia, possibilitando a expansão, não apenas das estruturas físicas, como também, na qualificação profissional de seus docentes.

Diante deste panorama de crescimento quantitativo e qualitativo do corpo docente, cabe observar o tempo em que estes docentes estão vinculados à universidade, pois esta análise possibilita observar se está havendo uma renovação desse corpo docente. A figura quatro e a tabela oito indicam o período de entrada dos docentes nos respectivos cursos de Arquivologia que integram hoje.

48

Livre-docência. No Brasil a livre-docência é um concurso de habilitação à livre-docência. A partir da Lei n. 5.802/72 é que passou a ser obrigatório o Título de doutor para concurso de Livre-docência, com esta mudança. A livre-docência praticamente desapareceu, dado que o doutor já é professor-adjunto e pode, havendo vaga, prestar concurso para professor titular. Ou seja, a livre-docência perdeu seu sentido. Existindo apenas em algumas Universidades. http://www.infoescola.com/educacao/livre-docencia/

Figura 4 - Tempo de docência na universidade atual

* Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes.

*Um professor não foi contabilizado neste calculo por não ter tal informação em seu currículo Lattes.

É possível observar o aumento da entrada de docentes nos últimos quatorze anos. Dos 35 docentes efetivos e atualmente ativos, quase 59% entraram nas respectivas instituições de 2000 para cá, sendo a década de 2000 a 2009 aquela com a maior entrada, quinze docentes ao todo. Porém, se a análise é proporcional, a última década representa o período com maior entrada, pois somente nos primeiros três anos (2010-2012) ocorreram cinco novos ingressos.

Este crescimento do corpo docente nos últimos anos pode ser entendido como resultado do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Este plano, instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, tem como principal objetivo a expansão da educação superior, inclusive com o crescimento do corpo docente das universidades (BRASIL. DECRETO Nº 6.096/07, 2013).

Todavia, não é possível afirmar que o número de docentes era maior ou menor em momentos anteriores. Em outras palavras, é pouco provável que entre 1977 e 1999 tenham entrado apenas quatorze professores nestes três cursos, pois estes dados não mostram o período de entrada dos docentes que já saíram. Os dados aqui apresentados possibilitam apenas perceber que está havendo uma renovação desse corpo docente.

5

15

6 6

2

Tabela 8 - Período de entrada do docente nos Cursos

PERÍODO UNIRIO UFSM UFF* TOTAL*

# % # % # % # % Década de 1970/1979 0 0 2 18,1 0 0 2 6.0 Década de 1980/1989 4 28,6 0 0 2 22,2 6 17.6 Década de 1990/1999 2 14,3 4 36,6 0 0 6 17,6 Década de 2000/2009 5 35,7 5 45.3 5 55,6 15 44,1 Década de 2010/2019** 3 21,4 0 0 2 22,2 5 14,7 Total 14 100 11 100 9 100 34 100

Fonte: elaboração própria, com base nos currículos Lattes.

* Um professor da UFF não foi contabilizado neste calculo por inexistir essa informação em seu currículo Lattes. ** Até a data de recolhimento da informação: 27 de dez. de 2012.

O corpo docente que mais se renovou nos últimos anos foi o da UFF, no qual mais de 77,8% dos professores atuais ingressaram após o ano de 2000. Já a UNIRIO teve 57% de renovação do seu corpo de professores. Por outro lado, observa-se na UFSM um corpo docente mais antigo, em que nesse mesmo período, ingressaram 45,3% do atual corpo docente. Cabe ressaltar que a UFSM é a única que possui docentes em atividade ingressados em fins da década 1970, ou seja, no período de fundação e estruturação do curso.

4.2 A FORMAÇÃO MULTI E TRANSDISCIPLINAR DO PROFESSOR DE