U
NIVERSIDADEC
ATÓLICA DEB
RASÍLIAP
RÓ-R
EITORIA DEP
ÓS-G
RADUAÇÃO EP
ESQUISAM
ESTRADO EME
CONOMIA DEE
MPRESASDETERMINANTES DA OFERTA DE TRABALHO DA MULHER CASADA: O CASO BRASILEIRO
MARCELODE OLIVEIRA SOUZA
ORIENTADOR: PROF. DR. ADOLFO SACHSIDA BRASÍLIA – NOVEMBRO/2002
MARCELO DE OLIVEIRA SOUZA
DETERMINANTES DA OFERTA DE TRABALHO DA MULHER CASADA: O CASO BRASILEIRO
ORIENTADOR: PROF. DR. ADOLFO SACHSIDA
BRASÍLIA
2002
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ... 1
2 REVISÃO DA LITERATURA ... 3
2.1 Modelo de oferta de trabalho da família ... 4
2.2 Modelo de alocação do tempo ... 9
2.3 Modelos de oferta de trabalho com empregos heterogêneos ... 11
2.4 Modelos de oferta de trabalho dinâmicos 2.4.1 com salários exógenos ... 14
2.4.2 com salários endógenos ... 29
2.5 Trabalhos empíricos aplicados à oferta de trabalho de mulheres . 46 3 METODOLOGIA ... 57
4 ANÁLISE DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS ... 59
5 RESULTADOS EMPÍRICOS ... 61
6 CONCLUSÃO ... 70
DEDICATÓRIA
À minha esposa,
Solange,
que no período do curso
foi pai e mãe dos nossos filhos,
pela compreensão, incentivo,
paciência e companheirismo .
Aos meus filhos,
Rafael e André,
que nesse período dediquei
tão pouca atenção,
pela alegria, carinho e amor
que me transmitem.
Aos meus pais,
Marizes e Sue,
por me ajudarem a
AGRADECIMENTOS
Ao Banco do Brasil S.A., pela política de investimento no
aprendizado do seu corpo de funcionários que me possibilitou a
participação do curso.
Aos administradores da Unidade Reestruturação de Ativos
Operacionais, Edson Atsumi Tanigaki, Eduardo Nascimento de Souza,
Geraldo Castilho, Brás Ferreira Machado e Denys Cornélio Rosa., pela
oportunidade de enriquecer os meus conhecimentos e melhorar minha
qualificação profissional.
Aos professores Francisco Galrão Carneiro, Adolfo Sachsida,
Paulo Roberto A. Loureiro, Ivan R. Gartner, Jaime J. Orillo, Tito
Belchior e Tânia S. Morvan, pelos ensinamentos transmitidos.
Ao meu orientador Adolfo Sachsida, um agradecimento especial,
por todo apoio, orientação e críticas recebidos na confecção da
dissertação.
Ao professor Paulo R. A. Loureiro , um agradecimento especial,
pela grande força na obtenção dos dados, manuseio do aplicativo
estatístico e orientações na confecção da dissertação.
Aos colegas de curso, em especial os colegas Odilon, Jaimilton,
Áurea, Márcio, Cida, Duda, Marcos, Fernando e Adriano, pelas valiosas
orientações durante o período do curso que contribuíram para o meu
aprendizado.
Aos colegas da Unidade Reestruturação de Ativos Operacionais do
RESUMO
RESUMO – Este trabalho tem por objetivo identificar as principais
variáveis que determinam a participação das mulheres casadas no
mercado de trabalho brasileiro. Para atingir este objetivo, será estimado
um modelo de regressão probabilística utilizando dados de corte. Os
dados que serão utilizados no estudo serão obtidos na PNAD – Pesquisa
Nacional por Amostragem Domiciliar –, referentes ao ano de 2001. Os
resultados demonstraram que a mulher ser da raça branca, possuir mãe
viva, ter filhos com idade inferior a 6 anos e residir a região norte ou
nordeste do país aumenta a probabilidade de não participação no
mercado de trabalho. Por outro lado, variáveis relacionadas ao capital
humano tais como educação e experiência bem como o fato de residir na
região sul ou sudeste, aumentam a probabilidade de participação. A
existência de filhos com idades entre 7 e 17 anos e residir na região
central do país influencia diferentemente a probabilidade de participação
de mulheres casadas e solteiras. As casadas aumentam a probabilidade
de participação se residem na região central e reduzem a probabilidade
de participação se possuem filhos com idades entre 7 e 17 anos, com as
solteiras ocorre exatamente o oposto, aumentam a probabilidade de
participação se possuem filhos com idades entre 7 e 17 anos e reduzem a
probabilidade de participação se residem na região central.
ABSTRACT
ABSTRACT – This work objectives to identify the most important
variables that influence the married women participation in Brazilian
labor market. In order to reach this goal, it will be estimated a probit
model using cross-sectional data. The data will be obtained in the PNAD
– National Research of Sample Residence – for the year of 2001. The
results show that be white, have mother alive, have children younger
than 6 years old and live in Brazil’s north or northeast regions increase
the probability of non participation in the labor market of the married
women. Nevertheless, the variables connected to human capital –
education and experience – as well as to live in the south or southeast,
increase the probability of participation in the labor market of the
married women. The existence of children older than 7 years old and
younger than 17 years old and live in the center region of the country
influence in two different ways married and single women. Living in the
center region increase the probability of participation of the married
women and reduce the probability of participation of the single women.
Having children older than 7 years old and younger than 17 years old
reduce the probability of participation of the married women and
increase the probability of participation of the single women.
I. INTRODUÇÃO
A participação da mulher na força de trabalho tem aumentado ao
longo das últimas décadas em praticamente todo o mundo. Del Boca,
Locatelli e Pasqua (2000) observaram que nos últimos 30 anos, nos
países da união européia, o número de mulheres que entraram no
mercado de trabalho cresceu consideravelmente. Enquanto a taxa de
homens empregados caía de 91% para 76% a partir de 1965, a das
mulheres empregadas subia de 40% para 60%. De acordo com as
mesmas autoras, entre o período de 1965 a 1997, a taxa de participação
masculina no mercado de trabalho italiano foi reduzida em 15%
enquanto a feminina aumentou em 11,4%. A mesma questão – elevação
da participação feminina no mercado de trabalho - pode ser observada
nos trabalhos de outros pesquisadores1.
O crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho
também é igualmente observado no Brasil. Barros, Jatobá e Mendonça
(1995) observaram que a taxa de participação feminina no mercado de
trabalho brasileiro cresceu cerca de 13% entre 1950 e 1980, alcançando
40% nos anos 90. Lavinas (2001) constata que a taxa de atividade das
mulheres tem crescido nos últimos 20 anos, em particular das cônjuges
com filhos. No caso brasileiro, a inserção da mulher no mercado de
trabalho também tem sentido melhoras em termos qualitativos. De
acordo com Barros, Corseuil, Santos e Firpo (2001), as mulheres tem
tido acesso a postos de trabalho que são melhores e que, anteriormente,
Lavinas (2001) enumera razões para o crescimento da participação
feminina no mercado de trabalho brasileiro ao longo das últimas
décadas. Em primeiro lugar, o processo de reestruturação produtiva
iniciado na década de 90, decorrente da abertura comercial efetuada no
governo Collor e mantida no governo Fernando Henrique Cardoso,
afetou intensamente o emprego no setor industrial, onde predomina a
participação masculina. Outro fator que proporcionou a elevação da
participação feminina foi a expansão do setor de serviços. As mulheres
participam fortemente deste setor e segundo Lavinas, Amaral e Barros
(2000), nas atividades relacionadas a saúde, ensino, administração
pública e serviços pessoais ocupam mais de 70% dos postos de trabalho.
Finalmente, uma última razão que incentivou o crescimento do emprego
feminino foi a flexibilização do mercado de trabalho e a precarização das
relações trabalhistas, aumentando o trabalho por conta própria e a
informalidade nas relações de trabalho.
Poucos trabalhos tem sido desenvolvidos para estudar as
modificações econômicas no Brasil que tem levado ao aumento da
participação feminina no mercado de trabalho. Até a década de 80, o
foco estava nos entraves à participação produtiva feminina e nos
diferenciais de gênero. Atualmente, os entraves são pouco relevantes no
cenário brasileiro e as mulheres tem sido mais beneficiadas pela oferta
de postos de trabalho. Essa tendência, mulheres mudando suas
estratégias de vida, acumulando funções de mães e esposas com as
funções de trabalhadoras, parece ser irreversível. Razões de natureza não
econômicas tais como a busca da autonomia e da igualdade podem estar
determinando estas alterações comportamentais. Desta forma, como a
1
figura da mãe vai estar ausente do lar por pelo menos oito horas por dia
durante todos os dias do ano, faz-se necessário estudar essas mudanças e
propor novas políticas sociais.
Este trabalho tem o objetivo de identificar as principais variáveis
que determinam a participação das mulheres casadas no mercado de
trabalho brasileiro..
A metodologia empregada consiste em uma regressão
probabilística com dados de corte. Os dados utilizados no estudo foram
obtidos na PNAD – Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar –,
referentes ao ano de 2001.
O trabalho está estruturado da seguinte forma: além desta
introdução, a segunda seção apresenta uma revisão da bibliografia
relevante disponível sobre o assunto; na terceira seção está a
metodologia utilizada; na quarta seção está a análise descritiva das
variáveis; em seguida são relacionados e discutidos os resultados
empíricos; e a última seção esta destinada à conclusão do trabalho.
II. REVISÃO DA LITERATURA
A teoria econômica possui vários modelos que são ou podem ser
aplicados no estudo da oferta de trabalho da mulher casada.
Killingsworth e Heckman (1986), cujo trabalho norteará este capítulo,
Inicialmente serão considerados os modelos estáticos2, onde tópicos como a oferta de trabalho da família, alocação do tempo e trabalhos
heterogêneos, aparecem como assuntos de especial interesse.
II. 1 Modelos estáticos
II. 1.1 Modelo de oferta de trabalho da família
As ações adotadas pelos membros das famílias com relação a
horas de trabalho, participação e etc., parecem estar correlacionadas com
o nível e a tendência da oferta de trabalho das mulheres. Desta forma o
estudo do impacto dessas ações passa a ser bastante útil para a análise
da oferta de trabalho feminino.
No modelo convencional de oferta de trabalho da família, a
família maximiza uma função de preferência dada por
(
C)
U
U
L
L
m, ,...,
1
= , (1)
onde Li é o tempo disponibilizado para o lazer do membro da família “i”
e C é uma cesta de bens consumidos pela família. Esta função esta
sujeita a restrição do orçamento da família que é dado pela função
H
W
i i iR
PC ≤ +
∑
(2)2
onde P é o preço de uma cesta de bens, R é o montante de renda exógena
recebida pela família, Wi e Hi são , respectivamente, o salário e as horas
de trabalho do indivíduo “i” no período. O tempo T , que representa o
tempo total disponível, é o resultado da soma do tempo gasto no
trabalho e no lazer, isto é, T=Li+Hi.
As condições de primeira ordem para maximizar a função de utilidade
sujeita a restrição orçamentária são
∑
+ =i
W
iH
iR
PC , (3)
, 0 ,
0 〉 → =
≥
−
W
H
U
i µ i com i (4), 0 = − P
U
c µ (5)onde µ é o multiplicador de Lagrange, Uc é a derivada parcial com
respeito a C e Ui é a derivada parcial com respeito a Li. A diferenciação
total das equações 3 e 5 produzem os seguintes resultados para qualquer
par i e j de membros da família quando todos os membros trabalham:
, − = F F d d
F
H
F
W
L
i j ij ji µ (6)
,
F dR
d
L
F
i
i =
−
(7), + = F C F dP
d
L
F
F
i iC
onde Fi e Fij são, respectivamente, os cofatores dos elementos -Wi e Uij
- da matriz Hessiana Orlada F, que representa a matriz de segundas
derivadas da função de utilidade,
U
U
U
U
U
U
W
U
U
U
W
W
W
C C m C C
C m m
m m
m
C m
m
P
P
F
... ...
... ...
... ... ...
... .... 0
1 1
1 1
1 1 1
1
−
−
=
−
−
−
−
(9)
O primeiro termo do lado direito da equação (6) representa o
efeito substituição cruzada compensado no lazer de i decorrente de uma
aumento no salário de j, com a renda exógena R sendo ajustada para
manter a utilidade da família constante. Este termo irá produzir um
resultado positivo ou negativo se o tempo de lazer dos membros da
família i e j forem bens substitutos ou complementares, respectivamente.
O primeiro termo da equação (8) representa o efeito renda compensado
no lazer do membro da família i, decorrente de um aumento no preço dos
bens P. Este efeito será positivo ou negativo, se C e Li forem substitutos
ou complementares, respectivamente. O segundo termo do lado direito
das equações (6) e (8) e o termo solitário da equação (7), representam o
efeito renda. O aumento na renda exógena irá aumentar o lazer de “i” se
o lazer for um bem normal e reduzirá se o lazer for considerado um bem
inferior para a família.
Este modelo apresenta propriedades, tais como, homogeneidade
homogêneas de grau zero nos salários, renda exógena e preços - lazer e
consumo dependem da renda real, não existe ilusão monetária) , simetria
(o efeito de substituição cruzada entre dois membros da família são
iguais, Fij=Fji), negatividade (implica que todo o efeito substituição
próprio no lazer decorrente de uma mudança do salário é negativo,
Fii/
|
F|
<0) e que a matriz dos efeitos substituição próprio e cruzado énegativa definida, porém, é necessário lembrar que o modelo só é válido
se todos os membros da família trabalham.
Heckman (1971) estudou os efeitos da oferta de trabalho em
famílias onde ambos o marido e a mulher trabalhavam e famílias em que
o marido trabalhava e a esposa não. Neste estudo considerava que as
famílias observavam os mesmos níveis de preços e recebiam os mesmos
salários. Com base nestas premissas chegou as seguintes conclusões:
• nas famílias onde o marido trabalhava e a esposa não trabalhava, o
efeito substituição compensado do homem era menor do que nas
famílias onde ambos trabalhavam;
• se o tempo de trabalho em casa da esposa e o consumo fossem bens
substitutos (complementares), o efeito renda no consumo seria maior
(menor) nas famílias onde ambos os esposos trabalhassem;
• o efeito substituição cruzada ou compensada na demanda da família
por bens decorrente de um aumento no salário dos homens, seria
menor (maior) nas famílias em que apenas os homens trabalhassem e
que o lazer de um dos esposos fosse um bem substituto em relação
aos bens de mercado enquanto para o outro esposo fosse um bem
O modelo de oferta de trabalho da família assume que as decisões
dos membros da família são o resultado da otimização de uma função de
utilidade da família bem definida. Existem suposições que suportam
essa afirmação, alguns argumentam que os membros da família ajustam
suas preferências às do chefe da família ou que existe transferência de
recursos dentro da família , isto é, um membro da família se preocupa
com o outro, de maneira que o consumo do membro j afeta a utilidade
do membro i. Em sentido oposto, existem críticas para cada uma dessas
suposições de maneira que outros pesquisadores buscaram alternativas a
esse modelo.
Em uma outra abordagem, Leuthold (1968) desenvolveu um modelo
onde cada membro da família maximizava sua utilidade individual,
assumindo que essa dependia apenas do lazer do próprio indivíduo e do
consumo da família, isto é
) ,
( C
U
U
L
i
= (10)
esta equação está sujeita a mesma restrição orçamentária de (2).
Neste modelo a oferta de trabalho e o lazer de um membro da
família não afetam diretamente a utilidade dos outros membros da
família, mas sim indiretamente através do impacto que causam em C.
Desta forma, uma mudança no salário de j produz um efeito na renda
familiar que leva a uma mudança na oferta de trabalho de i que é
necessariamente negativa (considerando que o lazer seja um bem
normal). As principais diferenças entre este modelo e o modelo de
conhecimento do sinal mas não da magnitude do efeito renda indireto,
enquanto no modelo anterior se obtinha a magnitude mas não o sinal do
efeito substituição cruzada.
Finalmente, uma última alternativa para o estudo da oferta de
trabalho da família são os modelos de barganha do comportamento da
família. Estes modelos tratam a decisão dos membros da família com
base na teoria dos jogos e três de suas características são dignas de nota.
Primeira, eles tratam alternativas ao casamento tanto quanto o
comportamento dentro da família (podem ser usados em análises de
casamento e divórcio). Segunda, permite tratar separadamente a
distribuição da renda exógena por membro da família que pode alterar o
poder de barganha e, portanto, o comportamento dos membros da
família. Terceira e última, alguns modelos de barganha possuem
algumas das propriedades do modelo da utilidade da família tais como,
homogeneidade e simetria.
II.1.2 Modelos de alocação do tempo
A hipótese fundamental desta teoria desenvolvida Becker (1965) é
que os membros da família não são consumidores de bens de consumo e
lazer mas, sim, de commodities (Zi) que eles produzem utilizando bens
de consumo (Ci) e tempo como insumos. As commodities são
produzidas através da combinação de bens de consumo e tempo, de
acordo com as regras de minimização de custos da teoria tradicional da
firma. As commodities são produzidas em quantidades determinadas de
maneira a maximizar uma função utilidade de um conjunto de
recursos são mensurados pela chamada “renda total” que representa a
soma da renda monetária e da renda perdida ou renunciada devido ao uso
do tempo e dos bens para obter utilidade, enquanto o preço das
commodities são medidos pela soma dos custos dos bens e tempo
utilizados na sua produção.
Neste modelo a função utilidade da família assume a seguinte
forma:
) ,..., (
1
Z
Z
NU
U = (11)
onde Zi, por sua vez, é dada pela função de produção da família,
) ,..., ,
,...,
( 1
1
C
L
L
C
f
Z
i zi i mii
i= (12)
onde Cci é o montante do c-ésimo bem de consumo devotado à
produção da iésima commodity e Lki é o montante de tempo do
k-ésimo membro da família devotado à produção da commodity Zi. Como
dito anteriormente, a maximização da utilidade está sujeita a restrição do
orçamento da família (2).
Killingsworth e Heckman (1986) enumeram várias vantagens
desta abordagem, sendo que a principal delas reside no fato de que o
modelo possibilita tratar os diversos usos do tempo em atividades fora do
mercado de trabalho, permitindo análises bastante detalhadas do
comportamento dos membros da família nestas atividades. O modelo
que é freqüentemente ignorado, isto é, o modelo enfatiza que tanto os
preços dos bens quanto o valor dos salários afetam decisões sobre
trabalho, lazer e consumo. Em adição sugere idéias para especificar a
forma funcional do modelo de oferta de trabalho empírico. Por último,
este tipo de modelo proporciona uma ferramenta útil para analisar uma
variedade de fatores que podem afetar a oferta de trabalho, como por
exemplo, a melhoria tecnológica de bens consumidos pela família tais
como: fogões, geladeiras, etc.
Por outro lado, se o modelo de alocação do tempo representa um
grande avanço na análise do tempo gasto fora do mercado de trabalho,
seu potencial para contribuir com a compreensão do tempo gasto no
mercado de trabalho não deve ser exagerado. O modelo de oferta de
trabalho da família não aborda questões referentes ao tempo despendido
em atividades fora do mercado de trabalho, porém, virtualmente todas as
predições do modelo de alocação do tempo sobre oferta de trabalho
podem ser derivadas usando o modelo convencional.
II1.3 Modelos de oferta de trabalho com empregos
heterogêneos
As mulheres alteraram substancialmente sua participação no
mercado de trabalho em termos quantitativos e, também, qualitativos
durante o século 20, o que sugere que a heterogeneidade do trabalho
pode ajudar a compreender a questão da oferta de trabalho das mulheres.
Esta compreensão pode ser importante em análises de “cross-section” de
padrões de oferta de trabalho, pois quando o trabalho é heterogêneo as
não descrever um esquema de oferta de trabalho, mas sim representar um
“locus” de oferta de trabalho. Isto é, um esquema de oferta de trabalho
mostra o quanto um indivíduo está disposto a ofertar trabalho a cada
nível de salário oferecido, permanecendo as demais variáveis iguais,
enquanto um “locus” de oferta de trabalho mostra as combinações de
horas de trabalho e salários que um dado indivíduo escolheria em
conjunto com outros atributos do trabalho, tais como: “fringe benefits”,
condições de trabalho, etc.
Uma vez que esses outros atributos podem ser substituídos por
salários ou, mesmo, podem variar dentro da amostra, não se pode esperar
que o “locus” da oferta de trabalho seja capaz de produzir muita
informação sobre os parâmetros estruturais da esquema de oferta de
trabalho. Por outro lado, simplesmente incluir esses atributos na função
de oferta de trabalho pode, também, produzir problemas pois esses
atributos também são variáveis de escolha. Para exemplificar essas
questões, vamos considerar as seguintes regressões:
e jJ kX cR bW a
H = + + + + + (13)
u kX cR bW a
H = + + + + (14)
onde, H significa a quantidade de horas de trabalho, W é o salário, R a
renda exógena, X corresponde ao capital humano e, J as variáveis de
trabalho que podem denotar alguma característica de trabalho contínua
ou algum indicador discreto de um trabalho específico. Os termos e e u
representam o termo de erro e u pode ser escrito da seguinte forma
Ajustando a equação (13) por mínimos quadrados não obteremos
estimativas consistentes do parâmetro j porque J é endógeno ( J é
escolhido de acordo com H), da mesma forma, como diferenças em J são
acompanhadas de diferenciais de salários compensatórios, W também se
torna uma variável de escolha, logo, o parâmetro b, também, pode ficar
viesado. As escolhas de J dependem dos elementos de X (como
escolaridade, idade, etc), logo, em geral, os elementos de X e o termo de
erro e estão correlacionados, o que produz estimativas viesadas do
parâmetro k . Desta forma, o estudo de casos levando em conta a
heterogeneidade de trabalhos pede uma revisão das estratégias de
estimação.
Ajustando a equação (14) por mínimos quadrados poderá levar a
obter estimativas viesadas de todos os parâmetros. Estimativas dos
parâmetros da equação (14) não podem ser considerados estimativas dos
parâmetros da equação (13). Exemplificando, o parâmetro b na equação
(14) não incorpora somente o efeito da mudança do salário na oferta de
trabalho mas, também, o efeito de uma mudança em J na oferta de
trabalho, considerando que J e W estão correlacionados.
A questão que fica é que no caso de trabalhos heterogêneos, horas,
salários e características de trabalho são todos escolhidos
endogenamente. Mesmo se as estimativas dos parâmetros da equação
(13) fossem consistentes, estas estimativas apenas se refeririam à escolha
de horas de trabalho dada a escolha de características de trabalho J. Elas
não revelariam nada sobre como mudanças exógenas estariam associadas
com mudanças no conjunto de variáveis endogenamente escolhidas H, W
nas horas trabalhadas de uma mudança na renda exógena, com W e J
mantidos constantes, mas, geralmente, uma mudança em R levará a
mudanças em W e J gerando efeitos indiretos em H.
Apesar de sua potencial importância para a análise da oferta de
trabalho, pouco tem sido feito para incorporar a questão da
heterogeneidade dos trabalhos nos modelos formais de oferta de
trabalho. A maior parte dos estudos onde tem sido considerada a questão
da heterogeneidade de trabalhos tem abordado o assunto diferenciais
salariais compensatórios.
II.2 Modelos dinâmicos
Os modelos dinâmicos3 se subdividem em duas categorias: os
modelos que consideram que os salários são obtidos exogenamente e os
modelos em que os salários são determinados endogenamente.
II.2.1 Modelos de oferta de trabalho dinâmicos com salários
exógenos
Mincer (1962) foi pioneiro na introdução de idéias de natureza
dinâmica no estudo da oferta de trabalho. Seu trabalho incluiu noções de
tomada de decisão durante o ciclo da vida e a distinção entre
componentes permanentes e transitórios da renda, salários, etc.
3
Killingsworth e Heckman (1986), produziram um modelo formal
embutindo os conceitos apresentados por Mincer (1962) reinterpretando
o modelo de oferta de trabalho estático em termos do tempo do ciclo de
uma vida. Como o período utilizado naquele modelo é de tamanho
indeterminado pode-se assumir que as variáveis U, C, T, H, L, W e P
possam ser interpretadas como variáveis de toda a vida. A única variável
a sofrer alguma alteração é a variável R que passa a representar o total de
ativos que o indivíduo possui inicialmente. No modelo assume-se, por
simplificação, que a taxa de juros de mercado é igual a zero. É
introduzida a variável e - representando o gosto ou a produção da
família - que afeta a utilidade U e é independente de outras variáveis.
Isto é,
) , , (C L e U
U = (15)
Está implícito que o tempo de lazer em diferentes datas são
substitutos perfeitos, o mesmo ocorrendo para bens de consumo em datas
diferenciadas. A restrição orçamentária é a mesma do modelo estático
para um único período. O modelo não assume que o salário “W” seja
constante durante a vida do trabalhador e, sim, que o salário da vida do
trabalhador representa uma média dos salários obtidos pelo trabalhador
durante toda a sua vida.
Para exemplificar suponha que o período de ciclo de vida seja
igual a T e que os salários reais obtidos pelo trabalhador em cada período
estejam em ordem decrescente de valor, isto é, w1>...>wT. Nesta
situação, como no modelo estático, o indivíduo irá trabalhar em pelo
menos um período se o salário de mercado exceder o salário de reserva
ou sombra.
0 )
, , ( ) , , (
) , , (
> → ≤
=S R T e ∗ H e
T R
e T R
w
U
U
C
L (16)
O número de períodos k que indivíduo irá trabalhar pode ser
estabelecido da seguinte forma:
) 1 ( ) , , ( )
(k ≥S R T e ≥w k+
w (17)
Da equação (17), deduz-se que o número total de períodos
trabalhados, k, é uma função de e, da riqueza inicial R e do salário
marginal w(k),
] , , ), (
[w k R T e k
k = (18)
onde k e w(k) são definidos como oferta de trabalho e taxa de salário,
respectivamente.
A porção de todos os períodos que o indivíduo devota ao trabalho
durante toda a sua vida, aqui chamado de h, pode ser escrito como h=k/T
e como k é uma função de w(k), R e e, como visto na equação (18), h
pode ser também expresso da seguinte forma:
] , ), ( [w k R e h
Uma dificuldade prática deste modelo é que para sua estimação é
necessário o conhecimento de dados sobre a oferta de trabalho durante
todo o ciclo da vida dos indivíduos. Utilizando-se do trabalho de Mincer
(1962) é possível encontrar uma forma de se contornar o problema.
Assumindo que o tempo de trabalho durante o ciclo da vida é aleatório e
que os indivíduos trabalham em algum ponto de suas vidas. Os
parâmetros de (19) podem ser estimados substituindo a variável h que é
não observável por uma variável Z que mede a participação em uma data
específica – Z pode ser obtido através de dados de cross-section, por
exemplo. A equação para Z pode ser escrita da seguinte forma:
erro de termo R
k w Z
Z = [ ( ), ]+ (20)
As estimativas de Z podem ser utilizadas como estimativas de h e
pode-se calcular o efeito não compensado sobre a oferta de trabalho de
uma mudança permanente no salário dZ[w(k),R]/d[w(k)] e o efeito renda
Z{dZ[w(k),R]/dR}.
Esta abordagem também sofre com algumas dificuldades. A
primeira diz respeito à mensuração do salário marginal w(k), para se
utilizar essa abordagem é necessário determinar qual salário dentre
todos os que o indivíduo receberá durante toda sua vida útil deverá
assumir a forma do salário marginal definido na equação (17). Outra
dificuldade é que a utilização de Z como um instrumento para a
obtenção das medidas dos efeitos substituição e renda somente é
apropriada quando a oferta de trabalho de toda a vida dos indivíduos (H
ou h) é positiva, porém, é provável que existam pessoas que nunca
trabalho utilizando expressões como a equação (20) não produzirão
evidências úteis dos efeitos renda e substituição4.
Vale observar que este modelo não pode ser escrito como uma
função de um salário permanente ou, alternativamente, como uma função
de ambos os salários permanente e transitório. Além disso, esse modelo
não produz prontamente uma expressão para horas trabalhadas em um
dado período t, H(t).
Para prosseguir a partir deste ponto, faz-se necessário a utilização
do modelo formal de comportamento durante o ciclo da vida com os
salários exógenos sumarizados por Pencavel (1986). O modelo considera
D + 1 períodos distintos durante o ciclo da vida, com D sendo conhecido
e fixado. A função utilidade tem a seguinte forma:
∑ +
=
−
= D
o t
t
t L t C u
U
(
1
s
)
[ ( ), ( )], (21)onde C(t) e L(t) são o consumo do indivíduo no tempo t de um
composto de bens de consumo e o lazer, respectivamente, s é a taxa
subjetiva do indivíduo de preferência de utilização do tempo e u é a
função utilidade de um único período e é estritamente côncava. A função
utilidade é maximizada sujeita à restrição do orçamento de todo o ciclo
da vida e é definida como:
∑ +
=
−
≥ −
+ D
t
t
t C t P t H t W
A
r
0
0 )] ( ) ( ) ( ) ( [ )
0
(
(
1
)
(22)4
onde, A(0) são os ativos iniciais do indivíduo, r é a taxa de juros de
mercado, P(t), W(t) e H(t) são os níveis de preço, taxa de salário e horas
de trabalho, respectivamente, durante o período t. Formando o
Lagrangeano temos que,
∑
+
∑ +
= = − − − + + = D t D t t t t C t P t H t W A v t L t C uL
s
r
0 0 )]} ( ) ( ) ( ) ( [ ) 0 ( { )] ( ), (
[
(
1
)
)
1
(
(23)onde v é o multiplicador de Lagrange. As condições de primeira ordem
são,
0 ) ( )
(
(
1
)
)
1
(
− ==
+
s
−u
t v+
r
− P tL
C tt
C (24)
0 ) ( , 0 ) ( )
(
(
1
)
)
1
(
− ≥ > → ==
+
s
−u
t v+
r
− W t com H tL
L tt
L (25)
∑ +
= − = − + = D t tv A
r
W t H t P t C tL
0 0 )] ( ) ( ) ( ) ( [ ) 0(
(
1
)
(26)onde,
u
(t)i é a derivada parcial do período t da função utilidade u com
respeito a i (= C(t) ou L(t)). É importante observar que a equação (25)
leva em conta a possibilidade do indivíduo não trabalhar no período t. A
variável v – que pode ser interpretada como a utilidade marginal dos
ativos iniciais no ponto ótimo do indivíduo - é endógena para o
indivíduo assim como C(t) e L(t). Definindo v(t) como:
v s r
t
onde v(t) é a utilidade marginal dos ativos no período t, as equações (24)
a (26) podem ser simplificadas para:
0 ) ( ) ( )
(t −v t P t =
u
C (28)0 ) ( , 0 ) ( ) ( )
(t −v t W t ≥ com > → H t =
u
L (29)∑
= − − = + + D t t t C t P t H t W r A 0 0 )] ( ) ( ) ( ) ( [ ) 1 ( ) 0( (30)
Este modelo se preocupa com as características do plano de
equilíbrio de toda a vida do indivíduo para as variáveis H(t), L(t), C(t) e
o valor sombra dos ativos iniciais v. Este plano é formulado para um
dado conjunto de salários, preços e para um dado nível de ativos iniciais
A(0). Assim, mudanças nas variáveis exógenas levarão a diferentes
escolhas. Assumindo uma solução interior para o problema, isto é, que o
indivíduo oferece horas de trabalho para todo t, a equação (29) pode ser
escrita como uma igualdade. Calculando o diferencial total do sistema
onde uij(t), i, j=C(t),L(t), é a segunda derivada parcial da função
utilidade do período t com relação a i e j, e d(t)=uCC(t)uLL(t)−uCL(t)2 >0
pela concavidade de u. Os termos entre colchetes nas equações (31) e
(32) que são multiplicados por dv(t) são negativos uma vez que C(t) e
L(t) são bens normais no sentido estático para um período. Os termos
multiplicados por dP(t) e dW(t) são negativos pela concavidade de u. As
equações acima mostram como diferenças em v(t), W(t) e P(t) em uma
data específica levam a diferenças no consumo e no lazer naquela data t.
As equações (31) e (32) podem ser utilizadas para demonstrar o
efeito sobre o incremento líquido da riqueza em qualquer tempo t’
decorrente de alguma alteração na variável W(t), mantidos constantes
v(t’) e P(t’), sendo dv(t’)=dP(t’)=0
) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )] ( ) ( ) ( ) [( ) ( ) ( t Y t H t dW t dC t P t dW t dL t W t H t dW t C t P t H t d t dW t da LV + = − − = − = (33) t t t dW t da ≠ =0, ' ) ( ) ' ( (34)
onde YLV é positivo considerando que o lazer é um bem normal no
sentido estático. Desta forma, com v(t) e P(t) constantes um aumento em
W(t) aumentará a adição ao valor líquido do período t, considerando que
L(t) é normal. Uma vez que v(s) e P(s) são constantes, um aumento em
observado uma mudança em W(t) mudará L(t), C(t) e, também, v(t). É
plausível admitir que um indivíduo que recebe um alto salário em
qualquer data t pode vir a considerar a acumulação de ativos menos
desejável gastando-o mais livremente e, por conseqüência, reduzindo o
seu v. De outra forma, se um aumento em W(t) não for compensado por
uma redução de v o indivíduo acumulará ativos em excesso contrariando
a restrição orçamentária. Logo, a resposta correta a um aumento de W(t)
é uma redução de v(t). Para ver porque, vamos considerar o efeito em
a(t) de um aumento em v(t),
) ( / )} ( ) ( ) ( 2 ) ( ) ( ) ( ) ( { ] ) ( ) ( )[ ( ] ) ( ) ( )[ ( ) ( ) ( 2 2 t d t u t P t W t u t P t u t W t dv t dC t P t dv t dL t W t dv t da CL LL
CC − +
− = − − = (35)
o resultado desta equação é positivo pela concavidade de u. Reduzindo v
– que reduzirá v(t) pela equação (27) – a(t) será reduzido,
contrabalançando o aumento em a(t) decorrente do aumento em W(t)
dado pelas equações (33) e (34). Desta forma, outras coisas sendo
iguais, um maior W(t) supõe um menor v, isto é, dv/dW(t)<0 . Isto posto,
e considerando a equação (27), um maior W(t) também supõe um menor
v(t’) em todas as datas t’.
0 ] ) ( [ ' ] ) 1 ( ) 1 ( [ ] ) ( ][ ) ' ( [ ) ( ) ' ( < + + = = − t dW dv s r t dW dv dv t dv t dW t dv t (36)
Finalmente, a redução de v(t’) levará a um aumento do lazer L(t’) para
] ) ( ) ' ( ][ ) ' ( ) ' ( ) ' ( ) ' ( ) ' ( [ ] ) ( ) ' ( ][ ) ' ( ) ' ( [ ) ( ) ' ( t dW t dv t d t u t P t t W t dW t dv t dv t dL t dW t dL CL CC
u
− = = (37)Muitos estudiosos tem focado os efeitos de mudanças no salário
permanente e transitório na oferta de trabalho. O salário permanente W(t)
é definido como o valor presente do fluxo futuro dos salários do
indivíduo recebido no período de tempo t=0 até o período t=D, com D
representando o ano da morte do indivíduo, traduzindo em termos
matemáticos
∑
= − + = D t tP r W t
W 0 ) ( ) 1
( . (38)
Uma dificuldade dessa abordagem, facilmente observável, é a
mensuração do salário permanente do indivíduo, que pressupõe o
conhecimento do fluxo futuro de salários de toda a vida do indivíduo. O
salário transitório em t corresponde a diferença entre o salário atual W(t)
o salário permanente Wp.
P
W t W t
w( )= ( )− (39)
Uma discussão que se trava na literatura é se variações no salário
permanente ou transitório afetam a oferta de trabalho. Segundo um ponto
de vista, as horas de trabalho e a participação da força de trabalho em
qualquer período t depende somente do salário permanente. A outra
renda de toda a vida e no custo de oportunidade do tempo, levando aos
efeitos substituição e renda, enquanto, uma mudança no salário
transitório em uma data t afeta o custo de oportunidade do tempo apenas
naquela data gerando um efeito substituição, não supõe qualquer
mudança no poder de compra de longo prazo (não gera efeito renda).
Para avaliar se mudanças no salário transitório levam a alterações
na oferta de trabalho, Heckman e Killingsworth (1986) criaram uma
situação com duas mulheres, A e B, iguais em todos os aspectos,
inclusive no salário permanente, com exceção às taxas de salário que
eram diferentes em duas datas, t* e t’ - de forma que seus salários
transitórios nestas duas datas w(t*) e w(t’) também fossem diferentes.
Sendo dW(t*) e dW(t’) as diferenças entre as taxas de salário de A e B
nos momentos t* e t’, respectivamente.
Pelas equações (38) e (39) e pelo fato de A e B terem o mesmo
salário permanente, podemos escrever que
0 ) ' ( ' ) 1 ( *) ( )
1
( +r −t*dW t + +r −t dW t = (40)
Assumindo que dW(t*)>0, isto é, o salário de A é maior que o
salário de B no tempo t*, então,
0 *) ( )
1 ( ) '
(t = −r −(*−')dW t <
dW t t (41)
Considerando que o salário de B nos tempos t* e t’ fossem iguais
mulheres mantinham o mesmo salário permanente, A teria que apresentar
uma variação positiva do salário transitório no período (t*) e uma
negativa em (t’).
Pelas equações (30), (33), (34), (40) e (41) pode ser deduzido o
efeito v constante no valor presente da acumulação dos ativos de A
decorrente do salário transitório de A na data t* e t’
(
1)
(*){ (*) ( *) ( ') ( ')) ' ( )] ' ( / ) ' ( [ ' ) 1 ( *) ( *)] ( / *) ( [ ) 1 ( * * t Y t H t Y t H t dW r t dW t dW t da r t dW t dW t da r dz LV LV t t t − − + + = + + + = − − (42)
Se A e B tivessem o mesmo valor de v a diferença nos fluxos dos
salários transitórios produziriam diferenças na acumulação de ativos de
A e B. Logo, de maneira geral, o valor v de A será diferente do valor v de
B. O valor v de A será maior ou menor que o de B dependendo de o sinal
do lado direito da equação (42) ser negativo ou positivo,
respectivamente. Se o lazer for um bem normal no sentido estático, com
base na equação (32), as diferenças nos valores v implicarão em um
efeito v variável negativo ou positivo no lazer de A (relativo ao lazer de
B) em todas as datas t. Ainda com base em (32), o salário transitório
positivo (negativo) de A em t* (t’) terá um efeito v constante negativo
(positivo) no tempo de lazer de A, relativo ao tempo de lazer de B, em t*
e (t’).
Em geral, então, mesmo diferenças no salário transitório
produzirão diferenças no lazer e na oferta de trabalho. O salário
transitório positivo de A, dW(t*), embora tenha um efeito v constante
apresentará um efeito v variável positivo ou negativo na oferta de
trabalho de A, relativo a B, em t*, dependendo do sinal do lado direito da
equação (42) .
Para estudar as situações em que não houver uma solução interior
para o problema, isto é, um período t’’ em que as horas de trabalho
sejam iguais a zero, os autores desenvolveram um novo exercício
considerando que a mulher B trabalhava em t’ e não trabalhava em t*, A
e B tinham o mesmo salário permanente como definido em (21) e A
tinha um salário transitório negativo (positivo) em t’ (t*),
respectivamente, como dado por (41). Então B,
), ' ( / ) ' ( )] ' ( ), ' ( [ / )] ' ( ), ' (
[C t L t u C t L t W t P t
uL C = (43)
*). ( / *) ( ] *), ( [ / ] *), (
[C t T u C t T W t P t
uL C ≥ (44)
Considerando o comportamento de A, um aumento positivo
suficientemente grande no salário transitório dW(t*) poderia superar o
seu salário de reserva (termo a esquerda de (44)) fazendo com que ela
viesse a trabalhar. A participará a força de trabalho enquanto B não
participará embora ambos tenham o mesmo salário permanente. No
tempo t’, A tem um salário transitório negativo mas isso não implica que
por essa razão venha a trabalhar menos horas que B. Com base na
equação (32), um salário transitório negativo de A, dW(t’), aumenta o
lazer de A em t’ devido ao efeito v constante, este aumento de L(t’) reduz
a acumulação de ativos de A em t’ e isto reduz L(t’) devido ao efeito v
variável. Uma versão da equação (42) para A será
)} ' ( ) ' ( ){ ' ( ' ) 1
( r dW t H t Y t
dZ = + −t + LV (45)
Como dW(t’)<0, dz será negativo uma vez que lazer em t* é um bem
normal no sentido estático. Portanto, A terá um maior v. O aumento em
v(t’) terá um efeito v variável negativo no lazer de A em t’ que pode
compensar o efeito v constante positivo no lazer L(t’) resultante de
dW(t’)<0. Logo o resultado desta mudança é indeterminado.
Para finalizar este tópico, voltaremos a Mincer (1962) para
apresentar o modelo onde a renda de outros membros da família e não os
salários será separada em componentes permanentes e transitórios. Na
realidade Mincer estava interessado na situação em que o indivíduo
recebia uma renda exógena em cada período t, Z(t), de outras fontes de
recursos que não fossem o trabalho ou os ativos. Rescrevendo a restrição
orçamentária
∑
= − + − = + + D t t t C t P t H t W t Z r A 0 0 )] ( ) ( ) ( ) ( ) ( [ ) 1 ( ) 0( (46)
asssume-se que Z(t) é exógena e por essa razáo não produz nenhuma
mudança relevante na análise. Fazendo da forma como sugerido por
Mincer, podemos definir uma variável renda permanente Zp como o
montante de uma anuidade Zp que quando recebida em cada período de
tempo t, variando de 0 até D, apresentaria valor presente igual ao valor
presente de Z(t), isto significa que
∑
∑
= = − − = + + D t D t t P t t Z r Z r 0 0 ) ( ) 1 ( ) 1então, as rendas transitórias e permanentes seriam dadas por
∑
∑
= − = − + + = D t t D t t P r t Z r Z 0 0 ) 1 ( ) ( ) 1 ( (48) P Z t Z tz( )= ( )− (49)
assim, (30) e (46) podem ser escritas como
∑
= − + − = + + D t P t t C t P t H t W Z r A 0 0 )] ( ) ( ) ( ) ( [ ) 1 ( ) 0( (50)
A abordagem de Mincer não sofre das dificuldades em dividir os
salários em transitórios e permanentes. Como pode ser observado nas
equações (46) e (50), a equação de restrição orçamentária pode ser
escrita em termos da renda exógena atual, Z(t), ou da renda exógena
permanente Zp. Com base nas equações (46), (48), (49) e (50) pode-se
observar que o comportamento do indivíduo depende apenas da renda
exógena permanente e não da renda transitória z(t). Mincer destaca que
em situações em que existam restrições no mercado de crédito ou
inflexibilidade de curto prazo no consumo da família, não somente a
renda permanente poderá afetar a oferta de trabalho mas, também, a
renda transitória. De qualquer maneira, segundo Killingsworth e
Heckman (1986) pouco tem sido feito para se estudar as idéias
II – 2.2 Modelos de oferta de trabalho dinâmicos com salários
endógenos
Killingsworth e Heckman (1986) produzem, a partir de um modelo
do ciclo da vida convencional , um modelo mais concreto aplicável a
oferta de trabalho das mulheres, introduzindo uma nova variável m(t)
que representa a mudança de gosto da mulher no tempo. De maneira
que, um grande m(t) denota um grande gosto por lazer. Os autores
iniciam o modelo definindo que os ganhos da mulher em cada data t,E(t),
é dado por
)] ( ), ( [ )
(t E H t K t
E = (51)
onde H(t) são as horas de trabalho na data t e K(t) é o estoque de capital
humano na data t. Onde a taxa de variação de K(t), ( )
. t
K , é dada por
) ( )] ( ), ( ), ( [ ) ( . t qK t K t G t I i t
K = − (52)
onde I(t) e G(t) são tempo e os bens gastos com a acumulação de capital
humano pela mulher na data t e q representa a taxa de depreciação de K.
A inclusão de K(t) na equação implica que K é um insumo para sua
própria produção.
A função de utilidade dinâmica pode ser escrita como
∫
−=D st
dt t K t L t m t C u e U 0 . )] ( ), ( ), ( ), (
Desta forma, a função utilidade U corresponde ao valor presente
do fluxo de utilidades u (descontado a taxa s, que representa a taxa pela
qual o indivíduo avalia os montantes futuros) recebidas em cada instante
t, com t variando do tempo 0 ao fim da vida D. A inclusão de K(t) na
função utilidade significa que o capital humano contribui para o bem
estar tanto diretamente quanto indiretamente. Existem duas restrições
para que a função de utilidade possa ser maximizada. A primeira
restrição é que o tempo disponível, T, em cada momento é alocado entre
investimento I(t), lazer L(t) e horas de trabalho H(t), então
) ( ) ( )
(t L t H t
I
T = + + (54)
é necessário esclarecer que H(t) em (51) e (54) se refere ao tempo
devotado ao trabalho. Neste modelo, o tempo gasto no trabalho pode
também envolver o tempo de investimento (treinamento em serviço). A
taxa de salário é geralmente definida como o salário médio horário, isto
é, para obtê-la os ganhos são divididos pelo número de horas gastas no
trabalho. Desta forma, podemos definir W(t) como sendo
)] ( ) ( /[ ) ( )
(t E t I t H t
W = + (55)
A segunda restrição é o orçamento dinâmico. Para simplificar,
assume-se que o mercado de capitais é perfeito e se pode emprestar e
tomar emprestado qualquer quantia a taxa de mercado r em qualquer
tempo. A restrição orçamentária dinâmica pode ser escrita da seguinte
∫
− ≥ += D −rt
dt t C t P t E e A D A 0 0 )] ( ) ( ) ( [ ) 0 ( )
( (56)
Para facilitar as análises os autores ignoraram os investimentos em
bens G(t) e introduziram a assunção de neutralidade para a variável K(t),
desta forma, qualquer incremento em K reduziria igualmente L, H e I.
Desta maneira as equações (51) a (53) poderiam ser escritas da seguinte
forma: ), ( ) ( )
(t kH t K t
E = (57)
), ( )] ( ) ( [ ) ( . t qK t K t I i t
K = − (58)
∫
−=D st
dt t K t L t m t C u e U 0 , )] ( ) ( ) ( ), (
[ (59)
onde pode-se pensar k como sendo a taxa de aluguel do capital humano
que se assume ser constante durante todo o tempo por simplificação. Na
função de investimento bruto (função de produção do capital humano) é
excluído o investimento em bens e assume-se que a primeira e segunda
derivadas apresentam sinal positivo e negativo (i’>0, i’’<0),
respectivamente, com base na presunção de retornos positivos porém
decrescentes de IK na produção de incrementos ao estoque de capital
humano. Se I=0 nenhum incremento é feito em K. A função utilidade
assume-se ser côncava e crescente em seus dois argumentos [C e mLK].
Os termos H(t)K(t), I(t)K(t) e L(t)K(t) referem-se às efetivas horas de
trabalho, investimento efetivo e lazer efetivo, respectivamente. As
financeiros, A, e do capital humano, K, respectivamente. Então, as
condições de primeira ordem para maximizar a função utilidade serão:
, 0 )} ( ) ( ) ( { − = − t P t v t u
e st C (60)
, 0 ) ( , 0 )} ( ) ( ) ( ) ( ) (
{ − ≤ < → =
− t H com t m t K t u t kK t v
e st L (61)
, 0 ) ( , 0 )} ( ) ( ) ( ) ( ) ( ' ) (
{ − ≤ < → =
− t I com t m t K t u t K t i t w
e st L (62)
onde uj(t), j=CouL, é a derivada parcial de u[C(t),m(t)L(t)K(t)] com
respeito a C ou mLK; e ujk(t),k =CouL, é a derivada parcial de uj(t)
com respeito a C ou mLK. Nas equações (60) a (62) os primeiros termos
entres chaves representam o benefício marginal de uma atividade
particular – na (60), consumo, na (61), trabalho, e na (62), investimento -
enquanto os segundos termos representam o custo marginal daquela
atividade. É necessário observar que as equações (61) e (62) levam em
conta “corner solutions” para trabalho e investimento, implicando que, o
custo marginal destas atividades pode ser tão alto relativo ao seu
benefício marginal que impeça a realização da atividade.
Ainda é necessário que sejam observadas outras regras para que o
comportamento ótimo seja atingido. A primeira diz respeito aos ativos,
não devem existir sobras no tempo D, elas não tem nenhuma utilidade
para o indivíduo, logo, os ativos deverão ser iguais a zero em D,
A(D)=0. Em segundo lugar, o valor sombra dos ativos, v(0), e o valor
sombra dos ativos descontado em qualquer data t, v(t), devem ser iguais,
a taxa de desconto é a diferença entre a taxa subjetiva do indivíduo de
) ( )
0
( e ( ) v t
v = −s−r t (63)
observe que (63) leva a
) ( ) ( ) ( . t v r s t
v = − (64)
donde se conclui que se s e r permanecerem constantes, o valor de v em
qualquer data t somente mudará se v(0) mudar.
Completando o modelo formal, o indivíduo compara o valor
sombra do capital humano em qualquer data (t) com o valor do fluxo
descontado dos benefícios futuros que resultaria de uma unidade
adicional de capital humano naquela data, assim, um comportamento
ótimo iria requerer que
∫
∫
− + − − + − = + + = D t L t z q s D t L t z q s Tdz z u z m e dz z I z i z w z kH z v z L z u z m e t w . ) ( ) ( )] ( ) ( ' ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( [ ) ( ) )( ( ) )( ( (65)sendo que os termos após o primeiro sinal de igual representam as três
fontes de benefícios geradas de uma unidade adicional de capital
humano, estas fontes são, respectivamente, lazer efetivo, ganhos no
mercado e investimento efetivo. Com base na equação (65) chegamos a
. ) ( ) ( ) ( )( ( ) ( . T t u t m t w q s t
É necessário se utilizar do equilíbrio dinâmico e da dinâmica
comparativa para se determinar as implicações deste modelo na oferta
de trabalho das mulheres, decisões de investimento em capital humano,
salários e etc. A abordagem do equilíbrio dinâmico é simplificada
assumindo uma solução interior para as variáveis H e I para todo t<D.
Sob esta assunção as equações (61) e (62) se tornam igualdades e as
equações (65) e (66) podem ser escritas como
∫
− + − =D t t z q s kTdz z v e tw( ) ( )( ) ( ) , (67)
kT t v t w q s t
w( ) ( ) ( ) ( )
.
− +
= . (68)
Definindo uma nova variável, x(t)=w(t)/v(t), que pode ser
interpretada como o valor sombra monetário do capital humano no
tempo t e considerando que w(D)=0 as equações (63) até (68) podem ser
manipuladas para produzir
, ) ( ] 1 [ ) ( ) )( ( ) )( ( q r e kT kTdz e t x t D q r D t t z q r + − = = − + − − + −
∫
(69) . ) ( ) ( ) ( ) )( ( . t D q r kTe kT t x q r t x − + − − = − + = (70)Levando em conta a equação (62) e a definição x=w/v – por
supressão não causava confusão - xi’=k -; diferenciando totalmente com
respeito ao tempo, obtemos
− = ' ' ' ) ( . . í i x x K
I . (71)
Observamos que com base nas equações (69) a (71) i depende
somente de IK, o caminho do ciclo da vida de IK é independente de m.
Por (58) observamos que o caminho do ciclo da vida de K também é
independente de m, logo, I=IK/K também é independente de m. Das
equações (69) e (70) observamos que / 0
.
<
x
x durante o ciclo da vida,
como i’/i’’<0 durante o ciclo da vida, o investimento efetivo sempre irá
cair durante o ciclo da vida.
Para considerar o comportamento de equilíbrio de C e LK durante
o ciclo da vida diferenciamos as equações (60) e (61) com respeito ao
tempo – a equação (61) é escrita como uma igualdade assumindo uma
solução interior para H -, então
, / } ] [ ] [ { . . . d mu M m m k u P mu v
C = LL − CL + CL (72)
, / ]} [ ] [ { . . . d Mu u mLKu m P mu k u v K
L = CC − LC + LC LC − CC (73)
onde, d =m2[uCCuLL −(uCL)2], com d>0 pela concavidade de u;
LL L
L dm u mLKu
mu d
M = [ ]/ = + ; e P por simplificação é assumido ser
O caminho do ciclo da vida para C está descrito na equação (72).
O primeiro termo entre colchetes é negativo se o consumo for um bem
normal no sentido estático. Desta forma, se m for igual a zero, o
crescimento de C dependerá apenas do sinal de v. Se v for positivo C
cairá, se v for negativo C aumentará. Com base na equação (64) sabemos
que o sinal de v depende da relação entre s e r. Como parece ser mais
plausível um perfil de consumo crescente ao longo da vida assumimos
que s<r. O caminho do ciclo da vida de C depende também de alterações
no m que é dada pelo segundo termo entre colchetes da equação (72).
Uma vez que uCL >0 o consumo tenderá a ser alto ou crescer em
períodos em que m seja alto ou esteja crescendo, este período poderia ser
interpretado como aqueles em que as mulheres estão grávidas.
Considerando, agora, o caminho do ciclo da vida de equilíbrio do
lazer efetivo, dado pela equação (73), o primeiro termo entre colchetes é
positivo desde que o lazer seja um bem normal no sentido estático. Se
lazer for um bem normal e se s<r de acordo com a equação (64),
durante períodos em que m for constante o lazer efetivo LK aumentará. O
segundo termo entre colchetes será positivo ou negativo dependendo se
o m estiver crescendo ou decrescendo, respectivamente. O lazer efetivo
tende a ser alto durante os períodos em que m(t) está alto ou
aumentando, tais como períodos em que as mulheres estão grávidas.
Com relação ao caminho do ciclo da vida de equilíbrio do lazer L,
notamos anteriormente que o caminho do ciclo da vida de K é