• Nenhum resultado encontrado

– PósGraduação em Letras Neolatinas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "– PósGraduação em Letras Neolatinas"

Copied!
135
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

PREDICAÇÕES COM O VERBO TORNARE EM ITALIANO SOB UMA ANÁLISE FUNCIONALISTA

FABRICIA DE ALMEIDA DE SOUSA

(2)

PREDICAÇÕES COM O VERBO TORNARE EM ITALIANO SOB UMA ANÁLISE FUNCIONALISTA

Por

FABRICIA DE ALMEIDA DE SOUSA

Aluna do Curso de Mestrado do Programa de Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Italiana)

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

(3)

F

OLHA DE APROVAÇÃO

PREDICAÇÕES COM O VERBO TORNARE EM ITALIANO SOB UMA ANÁLISE FUNCIONALISTA

Fabrícia de Almeida de Sousa

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).

Examinada por:

___________________________________________________________________________ Presidente, Professora Doutora Annita Gullo

___________________________________________________________________________ Professora Doutora Maria Maura Cezario – PPG Lingüística – UFRJ

___________________________________________________________________________ Professor Carlos da Silva Sobral – UFRJ

___________________________________________________________________________ Professora Doutora Maria Franca Zuccarello – UERJ, Suplente

___________________________________________________________________________ Professora Doutora Maria Lizete dos Santos – UFRJ, Suplente

(4)

F

ICHA CATALOGRÁFICA

. Sousa, Fabrícia de Almeida de.

Predicações com o verbo tornare em italiano sob uma análise funcionalista / Fabrícia de Almeida de Sousa – Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Letras, 2012.

135f. : 30 cm

Orientadora: Annita Gullo

Dissertação (mestrado) – Faculdade de Letras , Departamento de Letras Neolatinas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012.

Referências Bibliográficas: f. 128-132

(5)

R

ESUMO

PREDICAÇÕES COM O VERBO TORNARE EM ITALIANO SOB UMA ANÁLISE FUNCIONALISTA

Fabrícia de Almeida de Sousa

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Italiana)

Nesta pesquisa, objetiva-se descrever e analisar as propriedades sintático-semânticas de predicações com verbo tornare em variados textos orais e escritos, de sincronia atual, do

italiano standard e, com isso, intenta-se, também, atestar a polifuncionalidade desse verbo no sistema lingüístico. Acredita-se que tornare é usado com configurações distintas da lexical

básica, ou seja, a de predicador – com que exprime movimento no espaço geográfico e, então, projeta até dois argumentos internos locativos (ponto de origem/partida e ponto de destino) e argumento externo agente (entidade controladora do mundo biopsicofisicossocial que se desloca no espaço). Com base nos pressupostos, sobretudo do funcionalismo lingüístico, especificamente nos que se referem (i) à formação de predicadores e à configuração de expressões lingüísticas da Teoria da Gramática Funcional (DIK, 1997) e (ii) ao processo de mudança chamado de gramaticalização (HEINE et alii (1993) e HOPPE (1993)), define-se e explica-se o emprego lexical básico de tornare, como verbo predicador, a natureza de suas

extensões semânticas de verbo predicador, e alguns de seus usos, de verbo predicador a verbo (semi-) auxiliar. O corpus será constituído a partir de dados orais coletados do programa C-ORAL-ROM e de dados escritos coletados nos jornais Corriere della Sera e La Repubblica. Coletar-se-ão os diversos contextos contendo predicadores simples ou complexos e usos a serem testados quanto à avaliação subjetiva.

Palavras-chave: gramaticalização, polifuncionalidade, auxiliaridade, verbo tornare.

(6)

A

BSTRACT

PREDICAÇÕES COM O VERBO TORNARE EM ITALIANO SOB UMA ANÁLISE FUNCIONALISTA

Fabrícia de Almeida de Sousa

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Abstract da dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Italiana)

This study aims to describe and analyze the syntactic-semantic properties of the verb predications tornare in various oral and written texts, of current synchrony, Italian standard and, therefore, an attempt is also made to attest the multifunctionality of this verb in the linguistic system. It is believed that tornare is used with different configurations of the basic lexical, in other words, as a predicate - which expresses movement within the geographic space and then protrudes up to two internal locative arguments (point source / departure and destination point) and agent external argument (a controlling entity of the biopsychophysicalsocial world which moves in space). Based on the assumptions, especially the functional language, specifically what refers to (i) predicate formation and configuration of linguistic expressions of the Theory of Functional Grammar (DIK, 1997) and (ii) the process of change called grammaticalization ( HEINE et al (1993) and HOPPE (1993)), sets up and explains the basic lexical tornare usage as a predicate verb, the nature of its semantic extensions as a predicate verb, and some of its uses, as a predicate verb or a (semi-) auxiliary verb. The corpus will be defined in oral data from the C-ORAL-ROM program and written data from the newspapers Corriere della Sera and La Repubblica. It will be collected different contexts containing simple or complex predicates and their usage to be tested according to the subjective evaluation.

Kew-words: grammaticalization, multifunctionality, auxiliary, verb tornare.

(7)

Mãe e pai (In memorian

)

Dedico este trabalho

àqueles enviados por DEUS

para me ensinar a amar,

a ter esperança

e a lutar pelos meus sonhos.

Ensinaram-me sempre

a transformar as grandes dificuldades

em bênçãos.

(8)

A

GRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus e a Jesus Cristo, meu Senhor e Salvador, por me dar a vida e a verdadeira paz, por me dar amor incondicional e por sempre estar à minha frente, mesmo quando eu não sei por onde seguir.

Ao meu pai, Joaquim, que fez a grande viagem, mas antes de partir me deixou uma grande herança que ninguém nunca poderá me tirar, o meu saber. Pai, eu te amo e sinto muito a sua falta.

À minha mãe, Marylene, por depositar confiança em mim, mesmo em momentos em que nem eu mesma acreditava que poderia alcançar meus objetivos, por estar sempre ao meu lado nos fracassos e nos sucessos, por me mostrar que o mundo pode ser muito maior do que podemos imaginar,

À minha irmã e grande amiga, Fabiane, por me encorajar a continuar a jornada acadêmica, por me dar seu amor e sua amizade nos momentos mais difíceis e por ser uma irmã tão especial.

Ao meu noivo, Fábio, que participou de todas as etapas da minha história acadêmica, desde o processo de seleção para o vestibular até o presente momento, por me amar e me incentivar, por torcer pelo meu sucesso e por ter paciência comigo nos momentos mais estressantes dessa caminhada.

Ao meu sogro e minha sogra, tio Círio e tia Lourdinha, por sempre me acolherem em sua casa com todo carinho do mundo, por me darem atenção, afeto e força nos momentos difíceis.

A meus avós (In memorian), meus tios e primos pelos momentos de descontração e alegria.

Ao amigo Jordane, por me fazer rir nos priores momentos e me dizer sempre que a vida é muito fácil.

(9)

Aos professores do departamento de neolatinas Sônia Reis, Cláudia Fátima, Maria Lizete, Andrea Lombardi e, em especial, ao professor Carlos Sobral, por ter contribuído para a minha formação acadêmica e profissional e enriquecido meu conhecimento.

Aos professores Mario Martelotta (In memorian) e Maria Maura Cezario, pelas valiosas considerações e orientações sobre funcionalismo e o processo de gramaticalização.

À professora Márcia do Santos Machado Vieira, por ter me ajudado a dar os primeiros passos em trabalho de pesquisa, ter me orientado na iniciação científica e sido tão solícita em me ajudar a aprofundar conhecimentos sobre funcionalismo, gramaticalização e auxiliaridade.

(10)
(11)

Esta pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – (2010/03 – 2012/02)

S

UMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2. REVISÃO DA LITERATURA ... 20

2.1 Descrição do verbo tornare em algumas gramáticas... 24

2.2. Descrição do verbo tornare em obras lexicográfica... 27

2.3. Observações específicas sobre tornare... 31

3. REFERÊNCIAL TEORICO... 32

3.1. Aspectos relativos ao funcionalismo... 33

3.2. Enfoque funcionalista sobre predicação... 40

3.3. Processos de gramaticalização... 53

3.3.1. Gramaticalização de verbos auxiliares... 61

3.3.1.1. Estágios de gramaticalização de verbos... 65

3.4.Enfoque funcionalista de categorização linguística... 72

3.5. Polissemia verbal: extensões semânticas por meio de metáfora e metonímia 74 4. ASPECTO METODOLÓGICO... 77

4.1. Procedimentos da análise... 80

5. POLIFUNCIONALIDADE DE TORNARE... 83

5.1. Distribuição dos dados pelas categorias funcionais ... 85

5.2. Verbo predicador... 89

5.2.1. Verbo predicador pleno... 89

5.2.2. Verbo predicador não-Pleno... 97

(12)

5.3. Verbo (semi-)auxiliar... 109

5.4. Verbo suporte... 120

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 123

7. BIBLIOGRAFIA... 128

(13)

ÍNDICE DE QUADROS, TABELAS, FIGURAS E GRÁFICOS

QUADROS

Quadro 1: Tipos de estado de coisas 50

Quadro 2: Parâmetros semânticos do estado de coisas na predicação (Cf.

ESTEVES, 2008:67) 51

Quadro 3: Combinações de aspectos para a definição dos estados de coisas 52

Quadro 4 : Distribuição geral dos textos pesquisados e dos dados coletados no

corpus oral. 78

Quadro 5 : Distribuição geral dos textos pesquisados e dos dados coletados no

corpus escrito. 79

Quadro 6 : caracterização do estado de coisas das predicações básicas com

tornare. 93

Quadro 7 : Preposições que podem ser utilizadas com o verbo tornare. 96

Quadro 8 : Parâmetros e propriedades responsáveis pela semi-auxiliaridade de

certos emprego de TORNARE. 119

TABELAS

Tabela 1: Os principais esquemas de eventos que funcionam como fontes para as categorias gramaticais de tempo e aspecto, conforme Heine (1993, p. 31). 63

FIGURAS

Figura 1: Modelo de interação verbal da Gramática Funcional de Dik (1997:8-9,

v.1) 41

Figura 2: Sistema de regras de expressões 45

Figura 3: Modelo global da Gramática Funcional de DIK (1981, 1997) 47

Figura 4: Formação de going to designador de tempo futuro, através de um continuum configurado pelos pólos source (origem) e target (alvo); (Heine, 1993, p. 49).

(14)

Figura 5: Implicações morfossintáticas e fonológicas do processo de mudança

verbo > auxiliar. 66

Figura 6: Cadeias de gramaticalização de verbos, segundo Travaglia (2002). 71

GRÁFICOS

Gráfico 1 : Distribuição dos 403 dados de TORNARE pelas categorias funcionais às quais esse item se vincula no corpus do italiano escrito em análise.

86

Gráfico 2 : Distribuição dos 327 dados de TORNARE como verbo predicador. 86 Gráfico 3 : Distribuição dos 257 dados da modalidade escrita nas categorias

funcionais encontradas 88

Gráfico 4 : Distribuição dos 146 dados da modalidade ORAL nas categorias

(15)

1. INTRODUÇÃO

Muitos termos da língua são passíveis de alterações/adequações morfossintáticas ou semânticas, devido, principalmente, à necessidade do falante em pleno ato comunicativo. Essas alterações, que consistem em novas funções e/ou novos sentidos, originam-se de situações em que o emissor, a fim de ser compreendido totalmente, faz uso de alguns recursos, muitas vezes não estruturais, para estabelecer a comunicação, ou apenas dar mais relevo ou enfatizar algum elemento pertencente ao discurso.

O verbo tornare, um verbo frequente na língua italiana, pode ser considerado

representante desses itens lexicais flexíveis, pois apresenta características sintático-semânticas diferentes da considerada primária - verbo predicador pleno com o seu sentido básico de movimento no espaço geográfico e como verbo “cópula/de ligação” ou “auxiliar (aspectual incoativo)”. O estudo dos verbos, no que concerne a mudança de categoria de verbo predicador a verbo auxiliar ou a verbo suporte (quando acompanhado por um nome), assim como o seu processo de gramaticalização, está despertando o interesse de muitos pesquisadores. Estudos como os de BRAGANÇA (2008), COELHO (2006) e VIEIRA (2001) refletem sobre a gramaticalização e a mudança categorial de alguns verbos.

Nesta pesquisa, descreve-se o comportamento semântico-sintático de empregos do verbo tornare, apresentando-se categorias funcionais em que o mesmo pode ser inserido.

Traçando, assim, o seu comportamento polifuncional, em diferentes contextos de produção nas modalidades escrita e falada do Italiano standard. Focalizam-se, neste trabalho, aspectos da gramaticalização de empregos de tornare, em sua trajetória de verbo predicador pleno

(16)

da anterior que manifestam extensões de sentido) a verbo instrumental, ou melhor, a verbo semi-auxiliar. Com base na descrição do comportamento multifuncional desse verbo, pretende-se deslindar sua configuração lexical básica, a natureza de suas extensões semânticas e definir e explicar a trajetória de alteração categorial de alguns de seus empregos.

Após a descrição das predicações de que tornare participa e a categorização desse

item, a pesquisa centra-se nas predicações em que esse item lexical revela algum grau de gramaticalização, estudando-se as propriedades que tornare assume ao se comportar como

verbo semi-auxiliar (escrito posteriormente Vsemi-auxiliar), verificando-se os parâmetros responsáveis pelo processo de transferência desse item linguístico de Vpredicador a Vsemi-auxiliar e averiguando-se graus de integração entre os componentes que se aliam na composição de predicadores complexos.

O objetivo geral desta dissertação é descrever os usos de tornare no italiano

contemporâneo, de Vpredicador pleno a Vsemi-auxiliar, investigando a natureza de cada categoria. Como objetivos específicos, tem-se: (i) apresentar como se configuram sintaticamente predicações com tornare registradas no corpus que se constituiu com base em

produções escritas da variedade do italiano standard; (ii) evidenciar as categorias funcionais às quais tal item verbal participa; (iii) mostrar a produtividade dessas categorias em contextos comunicativos; (iv) explicitar parâmetros de auxiliaridade responsáveis pela transferência do verbo tornare da categoria de verbo predicador para a categoria de verbo gramatical, que auxilia a formação de predicadores complexos; e (v) então, identificar as propriedades que

empregos desse verbo têm quando se associam à categoria de semi-auxiliar e o que traduzem as predicações com predicadores complexos por ele formadas.

Espera-se, em última instância, reunir subsídios para que se possa ajudar a obter uma

(17)

didáticas e científicas e, assim, se possa oferecer contribuição para o tratamento de temas como categorização verbal, auxiliaridade.

Um pressuposto teórico que fundamenta este estudo é a concepção de língua como um sistema de unidades e regularidades linguísticas acionadas em decorrência de propósitos comunicativos. Consequentemente, este estudo norteia-se por orientações do paradigma funcionalista. Adere-se a essa perspectiva por entender que cada uso de tornare depende de

fatores comunicativos específicos, já que no processo interacional, a existência de uma cooperação entre emissor e destinatário acarreta possíveis adaptações linguísticas.

As orientações teórico-metodológicas específicas constituem-se com base em orientações relativas ao estudo do processo de gramaticalização, à configuração de predicações e de predicadores complexos e ao conceito de categorização radial (de TAYLOR, 1995) baseado numa rede de semelhanças e dissimilaridades entre as categorias percebidas e na possibilidade de estas abrangerem elementos exemplares/prototípicos e elementos não-exemplares. A opção por esse enfoque contribui para a elucidação de fenômenos de mudança linguística ao propiciar subsídios para a investigação do trânsito de formas/expressões linguísticas do léxico para o sistema gramatical, por motivações semântico-discursivas. A gramaticalização é a passagem de palavras lexicais a palavras gramaticais. Para descrever o processo de gramaticalização, que compreende a transposição categorial do verbo tornare,

num continuum de auxiliarização, de verbo predicador (categoria com comportamento lexical responsável pela projeção da estrutura argumental de uma predicação) a verbo instrumental, recorreu-se a parâmetros descritos por Hopper (1991) e por Heine et alii (1993) e ainda a critérios de auxiliaridade apresentados, entre outros, por Machado Vieira (2004).

(18)

auxiliaridade, segundo Machado Vieira (2004), é utilizado para nomear o comportamento instrumental que uma unidade verbal pode desempenhar num continuum de sentidos/usos na

língua.

Os auxiliares expressam conceitos gramaticais relacionados com o estado temporal (tempo), o contorno temporal (aspecto) e o tipo de realidade (modo). Para Heine, os auxiliares são gramaticalizações de conceitos complexos, que ele chama de esquemas de eventos (esquemas cognitivos que envolvem uma proposição e dois participantes, em geral). Então, o termo auxiliaridade, segundo Machado Vieira (2004), é utilizado para nomear o comportamento instrumental que uma unidade verbal pode desempenhar num continuum de

sentidos/usos na língua.

Para a descrição de aspectos das predicações com tornare e da configuração de

predicadores complexos, recorreu-se a orientações da Teoria da Gramática Funcional de S. Dik (1997) quanto à estruturação de predicações nucleares e à formação de predicadores

Investir na pesquisa da polifuncionalidade e da gramaticalização de tornare sob a

perspectiva funcionalista propiciará subsídios às descrições funcionalistas que lidam com o trânsito de formas ou expressões linguísticas do léxico para o sistema gramatical Será possível conhecer como, de fato, se emprega frequentemente tornare no Italiano: suas categorias

funcionais mais produtivas e os sentidos que as predicações com tais recursos traduzem. Com o conhecimento da realidade de uso do verbo tornare no italiano standard será

possível, entre outras metas, colaborar para que se atualizem descrições lexicográficas e gramaticais e ajudar os alunos a entenderem como são formadas as predicações verbais com verbos desse tipo em italiano.

(19)
(20)

2. REVISÃO DA LITERATURA

Percebe-se que alguns itens da literatura linguística, tanto gramatical quanto lexicográfica, apenas descrevem tornare como um verbo predicador1, ou seja, único (ou

principal) responsável pela projeção de argumentos e pela configuração semântica e estrutural destes, conforme afirma Dik (1997) ao dizer que o verbo é o elemento nuclear da predicação, como se observa no exemplo:

(Exemplo 1 ) “La brigata alpina Julia Mlf è tornata a casa dopo sei mesi.” [Italiano escrito, jornal “La repubblica”, 10 de janeiro de 2011] – O grupo de amigas Julia Mlf voltou para casa depois de seis meses.

e também como verbo “cópula/de ligação” ou “auxiliar (aspectual incoativo)”, como no exemplo:

(Exemplo 2 ) “Il cielo è tornato sereno.” .” [Italiano oral, Corpus de língua italiana espontânea - C-ORAL-ROW] – O céu ficou/se tornou sereno.

Normalmente, a descrição sobre tornare está em dicionários. Nas obras lexicográficas,

o verbo tornare, além de ser descrito com base em conjuntos de acepções mais ou menos

numerosas (a depender da obra em análise), é frequentemente caracterizado como verbo predicador: transitivo direto, intransitivo, transitivo direto e indireto e de cópula. Em alguns dicionários como Zingarelli (2000), encontramos esse verbo descrito como bitransitivo e

1 Nesta dissertação, emprega-se o termo predicador para indicar formas verbais plenas (predicadores simples),

(21)

transitivo circunstancial. Além dessas, existem outras denominações consideradas pelos dicionaristas.

Entende-se que as diferentes acepções e configurações sintáticas das predicações com

tornare resultam de empregos distintos desse item, muitos deles rotulados de predicadores

não-plenos e, portanto, distintos dos que se vinculam à categoria de verbo predicador/verbo pleno (em geral, a única categoria lexical admitida pelos dicionaristas). Em alguns dos dicionários consultados também há referência à atuação do verbo tornare em perífrases

verbais, nas quais atua como verbo fraseologico2 e não mais com o estatuto de verbo

pleno/predicador. Entretanto, nesses dicionários poucas são as propriedades desse uso apresentadas.

Já nas gramáticas consultadas, são pouquíssimas as observações sobre o verbo tornare

encontradas. Na maioria das acepções atribuídas a esse item verbal, ele aparece como “verbo

fraseologico aspectual” que indica “repetição de um evento” sem portar a idéia de frequência.

E somente uma gramática, a de Dardano e Trifone (2007), faz alusão ao verbo tornare como

verbo predicador com o preenchimento de dois argumentos internos, um de origem e outro de destino. A classificação dos termos circunstanciais previstos para o emprego de tornare

indicando movimento no espaço geográfico é outro aspecto de divergências entre os autores: alguns o consideram verbo intransitivo, outros o consideram verbo transitivo; ainda, nesta alternativa, identificam-se divergências entre os autores, já que alguns o descrevem como verbo de dois lugares, e outros, como verbo de três lugares.

Visto que, em geral, o uso de tornare não é citado em outras categorias funcionais e

mesmo quando é abordado como verbo pleno, não se esmiúçam as possibilidades de configuração semântico-sintática desse item lexical, entende-se que é necessário fazer um estudo aprofundado do comportamento do mesmo. É importante descrever as configurações

2 verbo fraseologico é aquele que se une a outro verbo, formando um único predicado, em forma de perífrase.

(22)

sintático-semânticas de construções com o verbo tornare e as funções a que esse item pode

servir e, com isso, averiguar o quadro de usos desse verbo. Para tanto, estuda-se a polifuncionalidade de tornare e sua (semi-) gramaticalização em alguns contextos,

descrevendo-se funcionalmente seus usos, bem como o processo de gramaticalização no qual esse verbo se envolve.

Em uma das partes desta dissertação, focalizam-se as diferentes funções3que esse item lexical assume, a partir do cotejo de seus empregos com o da categoria de verbo predicador pleno;

(Exemplo 3 ) “Sono uscita lunedì scorso e sono tornata a casa solo questa mattina.” [Italiano oral, Corpus de língua italiana espontânea - C-ORAL-ROW] – Saí segunda passada e voltei para casa somente esta manhã.

no entanto pressupõe-se que tornare é produtivamente usado com configurações

distintas da configuração prototípica de predicador pleno – com que exprime movimento no espaço geografico e, então, projeta um argumento externo (entidade do mundo biossocial que se desloca no espaço de um ponto a outro) e até dois argumentos internos locativos (ponto de origem e ponto dedestino no espaço). Podendo aparecer também como verbo predicador não-pleno,

(Exemplo 4 ) “non so bene ... ma penso che subitamente torneremmo tutti all'epoca della pietra” [Italiano oral, Corpus de língua italiana espontânea - C-ORAL-ROW] – Não sei bem ... mas acho que rapidamente voltaremos todos a época da pedra

(23)

já que é um verbo que designa uma ação muito vaga (deslocamento no espaço); e por isso seja suscetível a uma mudança semântica, associando-se a contextos discursivos diversos. E chegando-se até a delimitação de funções com certo valor instrumental, como verbo semi-auxiliar.

(Exemplo 5 ) “banchieri & divorzi E le strade di Bazoli e Geronzi tornarono a dividersi All' interno della partita Telecom si è consumata anche una piccola sfida tra due banchieri.” [Italiano escrito, Jornal “La repubblica”, 10 de dezembro de 2010] – banchieri & divorzi E le strade di Bazoli e Geronzi voltaram a se dividir no meio da partida Telecon...

Passando pela categoria de cópula/de ligação.

(Exemplo 6 ) “Dopo tinto, l`abito torna nuovo. [Italiano oral, Corpus de língua italiana espontânea - C-ORAL-ROW] – Depois da tingida, a roupa fica nova.

Com o intuito de formar uma base consistente de análises e descrições sobre tornare e

(24)

2.1 Descrição do verbo tornare em algumas gramáticas

Pesquisas em obras gramaticais possibilitam identificar o modo como gramáticos classificam os verbos. A partir dessa análise, vê-se que a maioria mantém uma visão tradicional sobre comportamento verbal e raras vezes mencionam o verbo tornare em sua

categorização.

O conceito de verbo nas obras pesquisadas4 difere em função do grau de aprofundamento do assunto no enfoque dado a aspectos semânticos ou sintáticos que constituem essa categoria. Em Dardano e Trifone (2007), encontra-se uma definição para verbo - unidade de significado categorial que se caracteriza por um molde pelo qual organiza o falar e expressa um fato, um acontecimento: o que se passa com os seres - que, talvez, ficaria mais clara se, com o auxílio de exemplos, houvesse a explicação do que se entende por um “significado categorial”. O gramático menciona a existência de verbos que possuem significado amplo e vago, considerando-os ou verbos de cópula ou verbos auxiliares que acompanham formas nominais de infinitivo, gerúndio ou particípio e formam com estes locuções verbais. Além disso, expõe as seguintes categorias que existem de verbos: predicativi (predicativos), copulativi (de ligação), ausiliari (auxiliares), servili (modais), fraseologici, causativi (causativos), performativi. Tornare não aparece em qualquer

consideração do autor quanto a verbo, o que faz com que o leitor, tendo em vista as definições de categorias tratadas nessa obra, considere-o como predicativo, somente como “verbo” em construções com tornare + origem + destino (por exemplo: Tornare da Milano a Roma.) Tornare em construções resultativas (Dopo Il lavagio é tornato come nuovo.) e como

“auxiliar” (tornare a discutere).

(25)

Quanto às características do verbo pertencente a um predicado nominal, esse autor menciona que esse signo léxico passa por esvaziamento semântico, esvaziamento que se cumpre com o auxílio de um nome (substantivo ou adjetivo). Além disso, esse tipo de predicado apresenta a particularidade de concordar o predicativo em gênero e número com o sujeito, como em: “as meninas são belas”. Comenta que o signo linguístico que aparece na função de núcleo costuma ser um nome – substantivo ou adjetivo – e apresenta como exemplos apenas de estruturas com verbos de ligação. Apesar de adotar essa ótica, não aborda outras estruturas às quais se podem associar propriedades semelhantes que também poderiam ser vinculadas à definição dada, se, com base nesta, se levasse em conta que tais verbos também são semanticamente esvaziados, ainda que não completamente, e que o nome adjacente é o centro semântico do predicador complexo (verbo-nominal).

Flora (1971) utiliza, inicialmente, o critério semântico para a definição de verbo: expressa um fato, um acontecimento: o que se passa com os seres. Comenta que é a parte da oração mais rica em variações de forma ou acidentes gramaticais; não fornece, contudo, exemplos para fundamentar essa explicação, o que pode deixar o leitor um tanto confuso ao analisar frases como, por exemplo, “Compro um tavolinetto ”, em que é possível perceber a presença de mais acidentes gramaticais de forma no substantivo “tavolinetto”, devido ao acréscimo do sufixo “etto” do que no verbo “comprare”, composto apenas da desinência número-pessoal “o”. Ao continuar sua explicação, o autor comenta que o papel dos acidentes gramaticais é fazer com que o verbo exprima cinco idéias: modo, tempo, número, pessoa e voz.

(26)

não pode ser considerado algo “que se passa”, um “acontecimento representado no tempo”, mas apenas um estado. O autor também recorre ao aspecto sintático ao afirmar que o verbo possui função obrigatória de predicado e esclarece que nem todo núcleo de predicado é verbo, pois adjetivos e substantivos também podem desempenhar essa função.

Ao tratar dos verbos plenos, o autor utiliza um aspecto semântico, denominando-os núcleos semânticos da oração, ou seja, núcleos lexicais plenos, caracterizados por determinadas propriedades de seleção semântica (número de argumentos e respectivo papel temático) e sintática (categoria de cada argumento e relação gramatical que assume na oração). E assim como os outros autores, não menciona o verbo tornare em suas definições.

Serianni (1999) descreve os verbos de forma mais abrangente, além de fornecer um número maior de exemplos verbais, com verbos distintos. Ele admite mais funções verbais e, por isso, divide-os em subclasses, a saber: principais, copulativos, impessoais, modais, fraseológicos e auxiliares (que ratifica a visão geral), além dos exemplos de verbos que acompanha um nome, dando suporte ao mesmo, como por exemplo “Tornare a galla” .

Entre outros comentários, o autor afirma que é preciso “classificar os verbos com base nas suas correspondências parafrásticas”, isto é, uma classificação motivada a partir de uma perspectiva analítica baseada na correspondência de verbos simples com expressões verbais complexas.

De todas as gramáticas pesquisadas, com certeza, Dardano e Trifone (2007) é a que mais fornece subclassificações para designar um tipo de verbo. Apesar de os gramáticos tratarem das categorias verbais “principal”, “auxiliar” e “ligação” (ou “cópula”), os mesmos não classificam tornare em nenhuma dessas categorias.

(27)

determinado verbo. Além disso, o fato de sintetizarem as categorias verbais faz com que os falantes tenham uma visão errônea (ou incompleta) sobre verbo, imaginando existir somente as categorias citadas nas gramáticas.

2.2. Descrição do verbo tornare em obras lexicográficas

A presente seção tem como objetivo averiguar as acepções de tornare descritas pelos

lexicógrafos nos dicionários de língua Italiana. As obras lexicográficas constituem uma importante base de descrição de significados e aplicações de tornare, Por isso, Com essa

consulta, conseguiremos entender melhor as extensões de sentido do nosso verbo.

Para tal pesquisa fizemos uso de verbetes de dicionários, encontrados em: SPINELLI (1983), SABATINI (2008), DEVOTO (2005), entre outros.

Notamos que os valores de tornare veiculados pelas obras lexicográficas são

semelhantes, apesar de haver algumas complementações superficiais que diferenciam tais valores. Quanto ao número de acepções encontradas na pesquisa, podemos dizer que há uma grande variação e um grande número de acepções encontrado nos dicionários. Em relação à organização dessas acepções nas descrições dos lexicógrafos, percebemos que uns as separam por aspectos sintáticos, outros por aspectos semânticos. Para explicar as diferentes significações, os dicionaristas recorrem a verbos sinônimos e/ou frases que exemplificam o sentido da acepção.

A maioria dos verbetes tem como primeira acepção de tornar no sentido de tornar,

(28)

Ex. 3: oggi non tornerò a casa; quando torni in ufficio?; torna presto stasera!; non torno a cena ( La Reppublica)

Ex. 4: vado qui all’angolo e torno (DEVOTO 2005) Ex. 5: Torno sul posto. (SABATINI, 2008)

São muitos os significados atribuídos ao verbo tornare, os quais se atualizam a

depender do contexto em que o verbo se encontrar. Seguem abaixo os significados que mais aparecem registrados nas obras lexicográficas.

1. Riportarsi, dirigersi verso il luogo da cui si era partiti: Oggi non tornerò a casa.

2. Tornare all'antico, ripristinare abitudini, usi del passato

3. Tornare a galla, riemergere; fig. diventare nuovamente d'attualità

4. Tornare al punto di partenza, tornare daccapo, partire nuovamente dall'inizio; fig. non aver fatto alcun progresso

5. Tornare in vita, al mondo, resuscitare; fig. riprendere i sensi 6. Tornare in sé, riprendere i sensi; fig. ravvedersi

7. fam. Tornare a bomba, riprendere l'argomento principale di un discorso dopo una divagazione

8. Andare nuovamente nel luogo dove si è già stati: tornerà presto in ospedale; le rondini sono tornate

9. Tornare a gola, di cibo non ancora digerito 10. fig. Tornare alla carica, reiterare una richiesta

11. Tornare sui propri passi, desistere dal compiere un'azione, dal perseguire un proposito

12. Venire via da un luogo dopo avervi compiuto un'azione: sono tornato tardi da scuola; siamo appena tornati da teatro; è tornato da Palermo

13. Ripresentarsi, ricomparire: gli è tornata la tosse; mi sono tornate quelle macchie sulla faccia

(29)

15. Tornare in mente, ripresentarsi alla memoria: gli tornò in mente quel suo vecchio amico

16. fig. Riprendere a fare qualcosa che era stato interrotto: dopo la riparazione, il motore è tornato a funzionare; dopo quella prova di amicizia tornò ad avere fiducia in lui; la ruota torna a girare

17. Tornare su qualcosa, rifletterci, riesaminarla di nuovo: vorrei t. su quel problema irrisolto

18. Essere di nuovo come in precedenza: t. sano, bello; dopo la pulitura i vetri sono tornati trasparenti; la tovaglia è tornata pulita

19. Risultare, riuscire correttamente, senza errori; quadrare: non mi tornano i conti

20. Corrispondere: tutto torna secondo i nostri desideri

21. Tornare bene, tornare male, ass. tornare, non tornare, di abito, stare bene, stare male: questa gonna ti torna molto bene

22. ass. Non mi torna, non sono persuaso, non sono d'accordo: quello che ha detto non mi torna

23. non com. Tornare conto, essere di profitto, di vantaggio 24. lett. Volgersi: t. a vantaggio

25. Riuscire: t. opportuno; una pausa mi tornerebbe comoda

26. Risolversi: l'allegria tornò in amarezza

27 tosc. Andare ad abitare, a risiedere: torna in piazza Maggiore; tornerò di casa in campagna

28. lett. Ricondurre, riportare; restituire: tornami quel vaso intatto

29. lett. Girare, volgere, voltare: tornò il viso, lo sguardo dall'altra parte

A maioria das acepções de tornare relaciona-se à sua atuação como verbo predicador,

seja verbo predicador pleno ou verbo de copula. Alguns dicionaristas listam usos de construções com o verbo tornare, SABATINI (2008), por exemplo, diz-nos que tornare pode

(30)

presentarsi, manifestarsi di nuovo: mi è tornata la fame.), verbo transitivo (Volgere qlco. in una direzione), verbo cópula (Ridiventare in un certo modo, assumere di nuovo una data condizione: torna. bambino, torna calmo.)

Vale destacar que, quanto ao uso de “tornare + a + V infinitivo”, SABATINI (2008), não registra essa possibilidade de construção, do verbo tornare ligado a um verbo no

infinitivo auxiliando-o e atribuindo um estado de reinício de coisa. Diferente do autor SPINELLI (1983), que cita alguns exemplos desse verbo junto a um verbo no infinitivo, unidos pela preposição a, porém também não o considera como um verbo auxiliar.

A análise das diversas obras lexicográficas permitiu-nos observar a gama de significados que tornare possui e as diversas estruturas sintáticas em que pode aparecer.

Como observamos, tornare tem sua função de predicador, mas também pode exercer papel de

verbo auxiliar, e até verbo-suporte, componente de expressões cristalizadas, dentre outros usos. Por conta das diversas acepções semânticas e usos sintáticos de tornare, notamos que tal

verbo é bastante produtivo na língua italiana, tornando-se o conjunto de predicações com tal item um campo fértil para investigação, o que nos motiva em nossa pesquisa e análise.

Apesar disso, as obras lexicográficas deixam a desejar quando só citam exemplos do verbo tornare como (semi)-auxiliar e alguns como possível verbo-suporte, mas não dizem a

(31)

2.3. Observações específicas sobre tornare

Ao se estudar o verbo tornare, percebe-se que este é um termo polissêmico, visto que

apresenta diferentes possibilidades de significados e funções. Apresentado tradicionalmente como verbo transitivo e de cópula, vê-se que esse item lexical atua num continuum, podendo

ser categorizado funcionalmente. Essas possibilidades de categorias resultam do fato de

tornare ser um verbo polifuncional, já que é possível encontrar usos vinculados a categorias

como Vpredicador (pleno ou não-pleno), Vcópula, Vsuporte e verbo com valor instrumental (semi-auxiliar).

As gramáticas que serviram de base para esta pesquisa (cf. bibliografia) não mencionam o verbo tornare em suas categorizações. A ausência da categorização de tornare

(32)

3. REFERÊNCIAL TEÓRICO

A hipótese fundamental desta dissertação é a de que tornare pode ser usado com

diferentes funções morfossintáticas, semânticas e/ou discursivas, é necessário investigar o que leva tal verbo a assumir esses possíveis papéis, considerando o fato de que esse elemento verbal é, originalmente, um VPREDICADOR (significado de “movimento no espaço geográfico”) ou VCÓPULA (liga o sujeito a uma característica). Tendo em vista essa hipótese, assume-se que a criatividade humana desencadeada por fatores de natureza interacional e sócio-comunicativa tenha relevância considerável no que concerne às alterações de função e sentido sofridas por tornare, além, evidentemente, de fatores internos à língua.

Assim sendo, esta dissertação vincula-se ao paradigma do Funcionalismo Linguístico, com base em orientações relativas ao processo de gramaticalização, à configuração de predicações e de predicadores complexos e ao conceito de categorização (de Taylor, 1995) baseado numa rede de semelhanças e dissimilaridades entre as categorias percebidas e na possibilidade de estas abrangerem elementos exemplares/prototípicos e elementos não-exemplares. A opção por esse enfoque contribui para a elucidação de fenômenos de mudança linguística ao propiciar subsídios para a investigação do trânsito de formas/expressões linguísticas do léxico para o sistema gramatical, por motivações semântico-discursivas.

O Funcionalismo tem-se mostrado um importante paradigma para estudos que buscam conhecer os fenômenos linguísticos que ocorrem em situações efetivas de uso da língua, incluindo aspectos tais como variação, mudança, dentre outros.

Com base em Heine et alii (1991), descreve-se a cadeia de gramaticalização referente à trajetória de tornare(de verbo-predicador a verbo-suporte) e, com base nos parâmetros de

(33)

recorre-se à Teoria da Gramática Funcional de Dik (1997) para fundamentar a descrição dos estados de coisas expressos pelas ocorrências com esse verbo.

Trabalhar-se-á, também, com os critérios de auxiliaridade, apresentados por Machado Vieira (2004), para nomear o comportamento instrumental que uma unidade verbal pode desempenhar num continuum de sentidos/usos na língua.

3.1. Aspectos relativos ao funcionalismo

Na Teoria Funcionalista, concebe-se a linguagem como um fenômeno mental e primariamente social (sócio-cognitivo)5; uma Entidade não-autônoma (“não existe em si e por si”; “existe em virtude de seu uso para o propósito de interação social”) – correlacionada determinada por fatores sócio-comunicativos e/ou (sócio-)cognitivos. Nessa corrente teórica, importa explicar as regularidades observadas no uso com base no exame das circunstâncias discursivas em que se dão as estruturas linguísticas e seus contextos prototípicos. Desta maneira, tudo na língua pode ser explicado basicamente pela referência ao modo como é usada/funciona.

Nesse enfoque, é importante observar a forma como os usuários da língua interagem social e comunicativamente em atividades e situações diversas, cabendo aos linguistas essa tarefa. Esses estudiosos não descartam quaisquer possibilidades de uso, mas, levando em conta que é por meio de novos usos linguísticos que se podem estudar as possibilidades da língua, procuram entender o surgimento de novos fenômenos linguísticos. Para tanto, tenta-se explicar os princípios e regras que regem as expressões utilizadas, com o propósito de se conseguir analisar a estrutura da sentença em sua totalidade.

5 Apesar de os funcionalistas priorizarem a linguagem como fenômeno social, isso não significa que eles

(34)

Segundo Martelotta & Áreas (2003: 20), “a língua não pode ser analisada como objeto autônomo, mas como uma estrutura maleável, sujeita a pressões oriundas das diferentes situações comunicativas, que ajudam a determinar sua estrutura gramatical”.

Dentre as diferentes perspectivas funcionalistas, a adotada nesta dissertação é a de Simon Dik (1981, 1997), considerada “moderada” pelo fato de analisar a estrutura linguística no âmbito dos níveis semântico e pragmático, reconhecendo que uma análise da língua não deve ser realizada somente funcional e formalmente, mas também considerando a forma e a motivação do falante.

Givón (apud Martellota et alii 2003: 28) apresenta um grupo de premissas que

caracterizam a visão funcionalista da linguagem: i) A linguagem é uma atividade sociocultural;

ii) A estrutura serve a funções cognitivas e comunicativas; iii) A estrutura é não-arbitrária, motivada, icônica;

iv) Mudança e variação estão sempre presentes;

v) O sentido é contextualmente dependente e não-atômico; vi) As categorias não são discretas;

vii) A estrutura é maleável e não-rígida; viii) As gramáticas são emergentes;

ix) As regras de gramáticas permitem algumas exceções.

Os funcionalistas voltam-se, então, para a multifuncionalidade dos itens linguísticos. O termo função, recorrente na Escola Linguística de Praga, não é de fácil interpretação.

Segundo Halliday (1973; apud NEVES, 1997), na visão funcionalista:

(35)

maiores, mas ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos, servindo a certos tipos universais de demanda, que são muitos e variados. (NEVES, 1997, p.8)

Na gramática funcionalista também há interesse na descrição de tendências gerais identificadas em diferentes línguas, visto que nela se encontram o geral e o específico. A Gramática Funcional holandesa de Dik (1989), por exemplo, mostra-se preocupada com o estudo tipológico das línguas, com a descrição de universais de funcionamento das línguas. Por tal motivo, que a Gramática Funcional pode ser entendida como uma teoria geral da organização gramatical das línguas.

Segundo Dik (1997), o trabalho de desenvolver a apresentação de uma gramática funcional é bastante desafiador, já que é necessário lidar com as expressões linguísticas no contexto de uso e decompor sua complexidade até chegar aos blocos básicos de sua construção. Os predicadores constituem o bloco de construção mais básico do nível morfossemântico (em oposição ao fonológico) da organização linguística. Alguns pressupostos importantes relacionados à formação de predicadores e considerados para um modelo de gramática funcional são:

- Todos os itens lexicais da língua são analisados como predicadores. - As frases constroem-se a partir de predicadores.

- A propriedade de ser predicador é uma propriedade adquirida numa estrutura.

- Todos os predicadores são semanticamente interpretados como designadores de propriedades e relações. (...)

- Todos os predicadores básicos são listados no léxico. O léxico contém, então, o conjunto de predicadores básicos da língua.

- Predicadores não são considerados como elementos isolados para serem inseridos em estruturas geradas independentemente; eles são considerados como parte de estruturas chamadas predicate frames

(36)

- Os argumentos são elementos essenciais para a boa-formação da estrutura em que ocorre um predicado.

- Os marcos predicativos não possuem qualquer ordem linear. A ordem na qual são apresentados (predicadores primeiro e posições de argumentos depois) é puramente convencional.

- O critério fundamental para a distinção entre argumentos e modificadores de um predicado é de ordem semântica com alguma modificação sintática.

- Os modificadores caracterizam-se, de um ponto de vista sintático, pelo fato de, ao contrário dos argumentos, poderem ser omitidos de uma frase sem quaisquer restrições e sem que daí resulte agramaticalidade (DIK,1997:59 e 61, v.1)

O funcionalismo tem seu interesse primário no uso, no funcionamento efetivo das formas/expressões linguísticas: na relação sistemática entre as formas/expressões linguísticas e suas funções em uma língua; nas relações entre a língua e as diversas modalidades de interação sócio-comunicativa. Para tanto, Dik pauta seus objetivos em dois princípios:

(i) Uma teoria da linguagem não deveria mostrar somente as regras e princípios subjacentes à construção das expressões linguísticas, e sim, deveria tentar, na medida do possível, explicar essas regras e princípios em termos de suas funcionalidades em relação às maneiras como são usadas.

(ii) Ainda que em si mesma uma teoria de expressões linguísticas não seja o mesmo que uma teoria de interação verbal, é natural requerer que ela seja elaborada, de modo que possa mais fácil e realisticamente ser incorporada a uma teoria pragmática de interação verbal mais ampla. (Dik, 1997, v.1, p. 4).23

Entre os temas presentes em estudos funcionalistas, vale destacar alguns que interessam mais especificamente a esta pesquisa. São eles: estruturação de predicações nucleares e formação de predicadores complexos e processo de gramaticalização.

(37)

“Caracterizar o funcionalismo é uma tarefa difícil, já que os rótulos que se conferem aos estudos ditos “funcionalistas” mais representativos geralmente se ligam diretamente aos nomes dos estudiosos que os desenvolveram, não a características definidoras da corrente teórica em que eles se colocam. Prideaux (1994) afirma que provavelmente existem tantas versões do funcionalismo quantos linguistas que se chamam funcionalistas, denominação que abrange desde os que simplesmente rejeitaram o formalismo até os que criam uma teoria. A verdade é que, dentro do que vem sendo denominado – ou autodenominado – “funcionalismo”, existem modelos muito diferentes”.

Moura Neves (1997) percebe que alguns estudiosos simplesmente consideram seus trabalhos funcionalistas pelo fato de rejeitarem o formalismo, sem levarem em conta as contribuições que aquela escola trouxe para a linguagem, como, por exemplo, a integração da pragmática na teoria gramatical.

Sabendo disso, esclarece-se que, nesta pesquisa, se adota o funcionalismo de orientação moderada, que entende a língua como um instrumento de interação social entre os falantes, cujo principal objetivo é a relação comunicativa; ou seja, a partir do momento em que emissor e interlocutor se comunicam, a língua cumpre seu papel.

Considera-se que a atividade comunicativa não se estabelece ao acaso, mas é regida por algumas normas, regras, que constituem o sistema linguístico. Para tal estudo, esta dissertação se fundamenta na conjugação de orientações de enfoques funcionalistas. Pauta-se na proposta da Gramática Funcional de Simon Dik (1981, 1997), referente à formação e à

expressão de predicados/predicadores complexos e à estruturação de predicações. Para análise do comportamento sintático-semântico das categorias funcionais de tornare, bem como da

trajetória desse item lexical (de Vpredicador a verbo instrumental) recorre-se aos parâmetros do processo de gramaticalização de Hopper (1991), Heine et alii (1991) e Heine (1993).

Quanto à delimitação das extensões de sentido/uso de tornare, utiliza-se o conceito de

(38)

complexos (unidade lexical com função predicante que resulta da integração de Vsuporte e elemento não-verbal) em função da observação do seu comportamento e das propriedades que os aproximam ou os afastam daquelas que pertencem à categoria considerada “prototípica”, o que gera o conhecimento de categorias intermediárias, que têm elementos com comportamento híbrido, isto é, elementos que partilham propriedades com elementos de uma e outra categoria. No que diz respeito ao papel de frequência de tornare quanto a sua

gramaticalização, recorre-se a Bybee (2003), no que diz respeito à configuração da associação da frequência de uso para a mudança categorial.

Antes de tratar de alguns pressupostos da linguagem, ressalta-se que o desenvolvimento de uma Gramática Funcional (doravante escrita GF) está relacionado à tentativa de se explicar a natureza da linguagem a partir de um critério funcional, considerando que as noções funcionais têm um papel fundamental nos níveis sintático, semântico e pragmático. Dessa forma, sabe-se que o objetivo da GF é verificar os meios pelos quais as línguas naturais se desenvolvem.

A escola funcionalista não admite a idéia de se estudar a língua de modo autônomo, mas procura investigá-la inserida no discurso, em situações comunicativas. Por isso, por ser, ao mesmo tempo, dinâmica e funcional, a língua possui uma instabilidade entre forma e função que faz com que a mesma seja passível de transformação. Por esse motivo, recorre-se a Nichols (1984:100), no que diz respeito ao conceito de função como “propósito” e “contexto” (function e context), isto é, a língua serve aos propósitos comunicativos e seleciona

(39)

levando em conta que é por meio de novos usos linguísticos que se podem estudar as possibilidades da língua, procuram entender o surgimento de novos fenômenos linguísticos. Para tanto, tenta-se explicar os princípios e regras que regem as expressões utilizadas, com o propósito de se conseguir analisar a estrutura da sentença em sua totalidade.

Dentre as diferentes perspectivas funcionalistas, a adotada nesta dissertação é a de Simon Dik (1981, 1997), considerada “moderada” pelo fato de analisar a estrutura linguística no âmbito dos níveis semântico e pragmático, reconhecendo que uma análise da língua não deve ser realizada somente funcional e formalmente, mas também considerando a forma e a motivação do falante.

Segundo a corrente funcionalista, o termo “função” corresponde ao papel que a língua desempenha na vida do homem, ou seja, à finalidade com que este utiliza a linguagem. Segundo esse modelo teórico, o uso da língua ajuda a entender a estrutura desta, propondo uma relação entre sociedade e língua.

Ressalta-se que o uso concreto da língua, ou seja, o discurso, não pode ser visto separadamente da gramática. Esta não é independente, pois é formada de modo convencional, mais ou menos regular, resultado de uma experiência física e social. A gramática, embora seja previsível quanto ao seu procedimento convencional, no que diz respeito aos meios pelos quais utiliza para padronizar e limitar determinadas estruturas, não se estabiliza por completo, pois está num continuum e se adapta às mudanças linguísticas. Isso significa que, a depender

(40)

diferentes possibilidades de formas das estruturas linguísticas. O discurso é, portanto, a funcionalidade da língua.

3.2. Enfoque funcionalista sobre predicação

Dik (1981, 1997) compreende a língua, primeiramente, como instrumento de interação social entre os indivíduos, tendo como principal objetivo o estabelecimento da comunicação. Para esse autor, o que mais interessa ao funcionalismo é o êxito com que os falantes conseguem se comunicar através das expressões linguísticas. Logo, pode-se dizer que a GF

interessa-se pela descrição das línguas naturais, tendo em vista que esta pode ser analisada funcionalmente, preocupando-se com a organização das regras linguísticas dentro das estruturas em que aparecem, e considerando em sua análise as diferentes relações funcionais.

As regras da GF se fundamentam em dois itens: função e categoria. Esta concebe as

propriedades internas dos constituintes, já aquela diz respeito às relações entre os constituintes com relação aos tipos de sentenças em que aparecem. Essas relações funcionais são tratadas em três níveis distintos: sintaxe, semântica e pragmática (que pretendem dar conta da sentença por inteiro), explicados mais adiante.

O estudo funcionalista pretende analisar a forma como os falantes utilizam sua língua materna, o modo como falam e desenvolvem as regras que formam as expressões linguísticas. Para tanto, aconselha-se a aplicação de dois princípios que têm explicação funcional (cf. DIK, 1997:4, v. 1):

(41)

em termos da sua funcionalidade com relação aos meios de utilização pelos quais essas expressões são utilizadas;

(ii) Embora, em si mesma, uma teoria do sistema linguístico não seja o mesmo que uma teoria do uso da língua, é natural a exigência de que ela seja concebida de tal forma que possa ser concretamente incorporada mais fácil e realista a uma teoria pragmática de interação verbal de caráter mais abrangente.

Partindo do princípio de que a língua serve à interação comunicativa, diz-se que a língua natural do falante faz parte de sua competência comunicativa. Dessa forma, os usuários não apenas transmitem e recebem informações entre si, eventualmente, mas mudam algumas informações pragmáticas através da interação verbal. Significa dizer que a interação verbal é uma atividade desenvolvida em conjunto, de forma estruturada e trabalhada entre interlocutores. Estruturada por ser regida de regras e normas, e trabalhada entre interlocutores porque se precisa de, pelo menos, dois participantes para haver interação comunicativa. Sendo assim, os usuários se utilizam da interação verbal para formarem as expressões linguísticas.

Utilizando-se dessa teoria, este trabalho visa a descrever as regras de formação das expressões linguísticas com tornare.

A seguir, é mostrado o modelo de interação verbal representado por Dik (1997:8-9, v.1):

(42)

Através do modelo de Dik (1997), nota-se que o emissor e o destinatário possuem alguma quantidade de informação pragmática. Quando o emissor diz algo ao destinatário, tenta modificar a PD. Para tanto, é necessário formular uma intenção comunicativa, um plano mental que modifique a PD no destinatário. O que o emissor deseja é formular sua intenção comunicativa de forma a alcançar seu objetivo, ou seja, de modo que o destinatário entenda. Para isso, o emissor tentará antecipar a interpretação que o destinatário atribuirá à expressão linguística, de forma a reconstruí-la, para, então, alcançar seu propósito.

O destinatário, no entanto, tenta reconstruir a intenção comunicativa do emissor, através da interpretação da expressão linguística. A depender da interpretação que o destinatário fizer, poderá haver modificação em sua informação pragmática, correspondendo à intenção do emissor. Quando este não consegue se fazer claro, há uma interpretação equivocada por parte do destinatário.

Salienta-se que a intenção do emissor e a interpretação do receptor são mediadas pela expressão linguística, que é feita em uma “escala de explicitação”, isto é, quando houver pouca diferença entre a intenção comunicativa e o conteúdo semântico da expressão linguística é porque a intenção comunicativa foi codificada de modo explícito, já se houver grande diferença entre a intenção comunicativa e o conteúdo semântico da expressão linguística, significa que aquela foi codificada de modo implícito. Pelo que foi explanado, disse que cabe ao destinatário a interpretação da expressão da língua, que se estabelece em virtude da intenção comunicativa do emissor.

A GF de Dik (1981, 1997) se preocupa com a estrutura interna da oração, levando em

(43)

que, a partir dele, toda a oração possa ser desenvolvida. Por isso, apresentam-se abaixo, alguns pressupostos relativos à formação de predicadores:

· todos os itens lexicais são analisados como predicados; · diferenciam-se categorias ou subcategorias de predicados, segundo suas propriedades formais e funcionais (muitas línguas possuem, pelo menos, predicados verbais (V), nominais (N) e adjetivais (A), e outros subtipos nessas categorias);

· as categorias básicas de predicado “Verbo, Nome e Adjetivo” são definidas em termos de suas funções primárias: V = tem primariamente função predicativa/predicante, é o predicado principal da predicação; N = tem função de designar entidades, é o primeiro elemento com função restritiva/delimitadora (first restrictor) numa estrutura de termo, é o núcleo de

um termo; A = tem primariamente função atributiva/modificadora, é o segundo elemento restritivo (second restrictor) numa estrutura de termo;

· os predicados podem ser básicos (quando não existe, sincronicamente, regra de formação de predicados produtiva, segundo a qual possam ser formados) ou derivados (resultantes de regras de formação de predicados);

· todos os predicados básicos estão contidos no léxico da língua;

· os predicados, considerados como partes de estruturas chamadas marcos predicativos (predicate frames), já

apresentam uma espécie de informação/indicação do que pode ser associado a eles na estruturação de predicações (uma definição de significado e uma estrutura formal básica);

· cada marco predicativo especifica aspectos básicos do predicado: sua forma lexical, sua categoria sintática (elemento Verbal, Adjetival, Nominal); sua valência, ou seja, o número de argumentos exigidos pelo predicado (x1, x2, xn); as restrições de seleção (as condições necessárias para a inserção dos termos que ocuparão as posições argumentais) que o predicado impõe aos seus argumentos;

(44)

postulates), por meio dos quais o predicado se relaciona

semanticamente a outros predicados da língua (se esses “postulados de significado” contribuem para a especificação completa do significado do predicado, podem ser denominados definições semânticas

meaning definitions”);

· Já os predicados derivados têm seu significado

especificado pela regra de formação de predicados; · os predicados derivados também consistirão em marcos predicativos (derivados);

· a ordem de apresentação dos marcos predicativos (primeiro, o predicado e, depois, os argumentos) é apenas uma convenção, visto que a ordem real será definida apenas no nível das regras de expressão. (DIK, 1997:59 e 61, v. 1)

As suposições quanto aos termos para o modelo de uma gramática funcional são as seguintes:

· distinguem-se termos básicos, que são os elementos básicos contidos no léxico de uma língua, e termos derivados (derived terms), resultantes de regras de

formação de termos;

· regras de formação de termos produzem estruturas de termos segundo o esquema (wxi: ji (xi): j2(xi): ... jn (xi)) – em que "w" simboliza um ou mais operadores de termo (determinante, número, quantificador), "xi" representa o referente-alvo e cada "j (xi)" é uma predicação aberta em relação a x1 (j atua como um elemento que restringe x1); · a ordem imposta à estrutura de termos, conforme o esquema anteriormente referido, reflete a ordem “semântica” segundo a qual os vários operadores e especificadores/restritores (restrictors) contribuem para

a definição do referente-alvo e não a ordem de realização linguística, já que esta será determinada por regras de expressão;

· a forma dos termos varia – há desde itens lexicais simples, como pronomes ou nomes, até sintagmas extremamente complexos;

(45)

contêm, respectivamente, predicações, proposições ou atos de fala. (DIK, 1997:61, v. 1)

Segundo Dik (1997), é o sistema de regras de expressões (que determina a forma, a prosódia e a ordem dos constituintes da estrutura profunda) que possibilita a exposição das expressões linguísticas, que por sua vez se formam através da estrutura subjacente de cláusula. Para o linguista, toda oração deve ser descrita de acordo com essa estrutura. Veja abaixo, a referida estrutura feita por Dik (1997:67, v.1):

Figura 2: Sistema de regras de expressões

Sabe-se que os operadores e satélites podem não aparecer. Quando isso ocorre a oração não apresenta uma estrutura complexa como a descrita acima, logo as posições vazias devem ser marcadas por “Ø”.

Ao falar em predicação nuclear, imagina-se que determinados termos funcionarão como argumentos de certos predicados, preenchendo-os. Por termo, entendem-se argumentos

que podem se referir a qualquer entidade no mundo. Já o predicado designa as relações

existentes entre os termos. Dessa forma, a predicação nuclear existirá a partir do momento em que os termos preencherem as suas casas argumentais.

Os predicados constituem-se como básicos ou derivados. É considerado básico

(46)

lexemas simples (verbais, adjetivais ou nominais) que têm sentido pleno. Denominam-se predicados derivados aqueles que resultam de um processo produtivo, que se constituem por regras de formação.

As expressões linguísticas que têm comportamento sintático-semântico contêm o que se denomina de “marco predicativo”, que deve proporcionar algumas informações acerca do predicado, tais como:

(i) sua forma léxica;

(ii) a categoria sintática a que pertence; (iii) o número de argumentos que requer;

(iv) as restrições de seleção que o predicado estabelece sobre seus argumentos;

(v) as funções semânticas que realizam os argumentos. (DIK, 1981:34)

É através da predicação nuclear que são descritas as relações semânticas de certas expressões linguísticas. A predicação nuclear apresenta propriedades tradicionais definidas por relações semânticas e sintáticas. Ela pode se ampliar através de satélites (entidades que

possuem o mesmo status informacional dos argumentos, como por exemplo, o tempo, a causa

e a finalidade), apresentando estrutura interna semelhante a dos termos.

As funções pragmáticas contribuem essencialmente para a análise das regras linguísticas. Sendo assim, é importante entender como elas se diferenciam. Primeiramente, há na predicação duas funções pragmáticas, tanto internas quanto externas. Como função externa tem-se o tema, que especifica o universo do discurso com respeito ao qual a predicação subsequente se apresenta como pertinente; e o apêndice, que apresenta, como uma idéia adicional da predicação, informação destinada a esclarecê-la. Já como função interna,

(47)

As funções descritas acima marcam o status informacional dos constituintes em uma

(48)

Figura 3: Modelo global da Gramática Funcional de DIK (1981, 1997)

A construção das predicações é a base para que a gramática funcional descreva as expressões linguísticas. É preciso entender que na estrutura geral das predicações existe diferença entre predicação nuclear e predicação expandida. Como predicação nuclear

Imagem

Tabela 1: Os principais esquemas de eventos que funcionam como fontes para as  categorias gramaticais de tempo e aspecto, conforme Heine (1993, p
Figura 5: Implicações morfossintáticas e fonológicas do processo de mudança
Figura 1: Modelo de interação verbal da Gramática Funcional de Dik (1997:8-9, v.1)
Figura 2: Sistema de regras de expressões
+6

Referências

Documentos relacionados

As pontas de contato retas e retificadas em paralelo ajustam o micrômetro mais rápida e precisamente do que as pontas de contato esféricas encontradas em micrômetros disponíveis

Ainda quanto à exploração de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, a Constituição assegura aos Estados, Distrito Federal, Municípios e órgãos

Contribuições/Originalidade: A identificação dos atributos que conferem qualidade ao projeto habitacional e das diretrizes de projeto que visam alcançá-los, são de fundamental

a) Aplicação das provas objetivas. b) Divulgação dos gabaritos oficiais do Concurso Público. c) Listas de resultados do Concurso Público. Os recursos interpostos que não se

Mecânica Coração Eucarístico Engenharia Mecânica Vaga 30 Comandos Hidráulicos e Pneumáticos Noite 06 2T+4P Engenharia Mecânica Contagem 01 Vaga para as três

Visto que o fator de rotatividade de funcionários no grupo de publicidade da IESol é prejudicial para a organização e sistematização das diferentes produções de comunicação,

Este desafio nos exige uma nova postura frente às questões ambientais, significa tomar o meio ambiente como problema pedagógico, como práxis unificadora que favoreça

A partir do entendimento dos fatores de proteção e dos fatores de risco para esse vínculo e da atuação conjunta dessas variáveis, é possível pensar em políticas para a